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Análise do Poema

Aquela cativa, que me tem cativo


Endechas a Bárbara escrava
A üa cativa com quem andava d´amores na Índia chamada bárbara
Tema –
O Amor sentido por Camões (escrava Bárbara);

Assunto –
A descrição da mulher amada (só fisicamente rompe com
o modelo de mulher renascentista);

Estrutura externa – 5 oitavas sem mote


Trovas ou Endechas
TROVA - Poema sem mote em redondilha maior ou menor . Estrofes com múltiplo de 4
versos.
Endecha - cultivada do séc. XVI ao séc. XVIII sem o fundo fúnebre originário. Trata-se
antes de uma composição de tom melancólico e triste. O plural endechas deve-se ao facto
de a cada quadra se atribuir a designação de endecha e o poema ser constituído por mais
de uma estrofe. A famosa composição de Camões «a uma cativa com quem andava de
amores na Índia, chamada Bárbara» é exemplo de endechas apesar de em algumas
edições da Lírica também ser designada de trovas.
Escansão (Métrica):

A/que/la /ca/ti/va,

Cada verso é composto por 5 sílabas métricas, correspondendo a


redondilha menor.

Rima:
O esquema rimático é ABBACDDC,
portanto: interpolada em A e C e emparelhada em B e D

Rima rica maioritariamente; consoante; feminina, grave ou


paroxítona (à exceção dos vv.16, 22, 23, 25, 28, 29 e 32 onde é
aguda, masculina ou oxítona).
DIVISÃO DO TEXTO EM PARTES LÓGICAS

A primeira parte (Descrição física de uma mulher) ainda


distante (aquela) e que cativou o sujeito poético embora seja
diferente dos cânones habituais de beleza (a mulher branca de
cabelos louros):
Fermosa, bela, rosto singular, olhos sossegados, pretos e cansados;
uma graça viva que neles (olhos) lhe mora, pretos os cabelos,
pretidão de Amor, tão doce a figura, leda mansidão, siso, presença
serena, que a tormenta amansa.
A segunda parte (retrato mais moral) com a conclusão na
última estrofe onde se concentra mais a sua inspiração poética e o
seu sofrimento pela sua proximidade (esta (já é conhecida; já a
descreveu)).
Notar os versos 35-36 – ambiguidade da pena: (sofrimento e
escrita (poema – trovas ou endechas))
Analise Estilística do poema
Uso de trocadilhos / Jogo de palavras:
Cativa (escrava)/cativo (prisioneiro por amor) (vv. 1-2 e 36-37)
vivo/viva (1ª e última estrofes) (VV. 3-4 e 39-40
“Pera ser senhora / De quem é cativa” (vv. 19-20)– Escrava ou senhora?
Afinal quem está cativo?
A antítese –
Entre a condição social de dependência (cativa) e a ascendência na
relação amorosa: Senhora ≠ Cativa
Para enaltecer a figura de Bárbara, o sujeito poético usa:
A Comparação –
Que assume até uma dimensão hiperbólica, é também usada para
salientar os dotes físicos da amada e a profundidade dos seus
sentimentos: “ Nunca vi rosa, Nem no campo flores, nem no céu estrelas,
me parecem belas como os meus amores” (vv. 9-12)
Análise Estilística do poema
A Hipérbole –
Que encarece a beleza da amada
“que a neve lhe jura, que trocara a cor” – (vv.27-28)

A personificação -
“Que a neve lhe jura, que trocara a cor” (vv. 27-28)

A adjetivação expressiva e abundante –


suaves, fermosa, belas, singular, sossegado, pretos e cansados,
doce, leda, estranha, serena …
Da figura de Bárbara desprende – se, sobretudo, uma imagem de
doçura e serenidade, conseguida através de uma cuidada
caracterização física e psicológica:
“A suavidade da sua beleza” (vv. 5-8)
“A singularidade do rosto e o sossego do olhar” (vv. 13-14).

Figura que contraria o modelo de mulher renascentista apenas


pelas suas características físicas que fogem ao pré- estabelecidos
cabelo loiro, olhos claros, pele branca.
O retrato psicológico (serenidade, sensatez, maneira de estar
calma e distante) já remete para o retrato deste modelo.
O retrato da mulher em Camões:
Em Camões, a mulher aparece idealizada através de um retrato
físico e espiritual de perfeição equivalente.
A descrição física é, frequentemente, impessoal, anunciando uma
beleza convencional, quase sempre idêntica: olhos claros, cabelos
louros, “tez” branca, faces rosadas.
Psicologicamente, a mulher é caracterizada por uma serenidade
clássica: por vezes fria no acolhimento das homenagens de amor,
possuidora de um “doce” riso, um “gesto brando e sossegado”.
Esta mulher simboliza a teoria platónica do amor ideal e
inacessível, representado a imagem clássica da deusa Vénus.

MULHER RENASCENTISTA / PETRARQUISTA – O AMOR PLATÓNICO


(ver pinturas renascentistas p. 208)
“Aquela cativa, que me tem como
Aquela cativa cativo” - O sujeito poético começa com
que me tem cativo, o jogo de palavras cativa/cativo, que é
porque nela vivo de um certo modo um subjetivo da
já não quer que viva. escravidão do sujeito poético. Se
Eu nunca vi rosa Bárbara é escrava socialmente, o
em suaves molhos, sujeito poético também o é; escravo do
que para meus olhos seu amor.
fosse mais fermosa.
“Eu nunca vi rosa” – Os elementos da
natureza ajudam a traduzir a beleza da
amada.
“Que pera meus olhos, fosses mais
fermosa” – O sujeito poético faz um
elogio a amada, usando a tradicional
hipérbole que superioriza a amada.
“Nem no campo flores, nem no céu estrelas” -
Comparativamente com as flores e/ou as estrelas, a sua
amada é muito mais bela. Note-se que todo o elogio é
pessoal, ou seja, parece ao sujeito poético que a sua amada
Nem no campo flores, tem uma beleza incomparável à beleza da grandiosidade da
nem no céu estrelas Natureza. Está presente uma comparação.
me parecem belas “Como os meus amores” – O Rosto da amada não é muito
como os meus amores. banal é singular/diferente/único, ou seja não corresponde a
Rosto singular, padrões habituais.

olhos sossegados, “Olhos sossegados, pretos e cansados” – Mais uma vezes


pretos e cansados, os olhos são apresentado como um espelho da alma, neste
mas não de matar. caso estão sossegado, o que reforça a ideia de serenidade
na mulher camoniana. Mas logo de seguida, apresenta
características que se opõem ao modelo de mulher “olhos
pretos e cansados”.

“Mas não de matar” – De novo o poeta introduz a


descrição do olhar, descreve este como não fatal, não de
seduzir e de inspirara paixões. Um olhar só capaz de seduzir
para Luís Vaz.
“uma graça viva” – O reforço da graciosidade
Uma graça viva, da mulher que se assemelha ao modelo
que neles lhe mora,
para ser senhora “Para ser senhora, de que é cativa” – Mais
uma vez se joga com as palavras “senhora” e
de quem é cativa. “cativa”, reforçando a ideia de que apesar de
Pretos os cabelos, ser cativa/escrava, domina, é senhora dos
onde o povo vão corações apaixonados.
perde opinião
que os louros são belos. “Pretos os cabelos, onde o povo vão, perde a
opinião, que os louros são belos” – O “povo
vão”, ou seja, a opinião geral e pouco acertada
é de que os cabelos louros são que são belos. O
sujeito poético põe em causa o modelo da
época e substitui – o por outro.
“Pretidão de amor” – Inicia esta oitava
Pretidão de Amor, com uma apostrofe à mulher amada,
tão doce a figura, pondo em destaque precisamente as
que a neve lhe jura características que se opõem ao modelo
que trocara a cor. de mulher da época.
Leda mansidão,
que o siso acompanha; “Tão doce … Leda mansidão … o siso
bem parece estranha, acompanha” – Sucedem – se
mas bárbara não. características psicológicas que se
adequam ao modelo de doçura, ternura,
alegria …

“Mas bárbara não” – Caracteriza de


novo a amada, dizendo desta feita que
não é agressiva, ofensiva (“bárbara”).
“Que a tormenta amansa” – Novamente o
reforço da serenidade. E também a presença
Presença serena da antítese, que põe em destaque as
que a tormenta amansa; contradições amorosas e os conflitos de
nela, enfim, descansa opinião.
toda a minha pena.
“Nela, enfim descansa” – O sujeito poético
Esta é a cativa
encaminha – se para a conclusão de todos
que me tem cativo; este elogios, dizendo que nela se concentra a
e, pois nela vivo, sua inspiração poética e sofrimento.
é força que viva.
“Esta é a cativa …” – “Esta” implica
proximidade, pois agora as características
desta personagem são conhecidas. Logo de
seguida a este verso enunciam – se, de novo,
os 4 primeiros versos.

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