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AUTO DA BARCA DO INFERNO, de Gil Vicente

O Fidalgo (D. Anrique)


Gil Vicente apresenta o Fidalgo com toda a sua vaidade e presunção, «fumoso», ricamente vestido e
seguido de um pajem que lhe soerguia a cauda do manto e lhe transportava uma cadeira de espaldas.

Habituado a gozar de privilégios especiais, o Fidalgo nem sequer pensa que poderá ir para o Inferno. Assim,
para justificar o seu direito a entrar na barca celestial, apresenta apenas ao Anjo, como único argumento, a sua
condição social: «Sou fidalgo de solar/é bem que me recolhais».

Ao Fidalgo, a barca infernal parece-lhe um «cortiço», isto é, uma barca muito ordinária e reles para
transportar um nobre tão poderoso e importante como ele.

O Diabo e o Anjo formulam as suas críticas, que se podem resumir assim: o Fidalgo “viveu a seu prazer”,
fazendo tudo quanto quis, foi tirano e, consequentemente, desprezou o povo.

Com esta “cena”, Gil Vicente não condena só aquele aristocrata mas todos os seus antepassados, como
afirma expressamente o Diabo quando informa o Fidalgo de que passará para o Inferno assim como «passou
vosso pai», isto é, o autor generaliza e condena a nobreza como classe social.

Em síntese…

 Personagem / Classe social: Fidalgo/ nobreza

 Elementos / Simbologia

 Pajem – simboliza a tirania e o desprezo pelos “pequenos” (o povo)


 Cadeira – simboliza poder, o seu estatuto social
 Manto – simboliza a sua riqueza e vaidade (presunção)

 Percurso cénico: Barca do Diabo – Barca do Anjo – Barca do Diabo (onde embarca)

 Caracterização psicológica do Fidalgo

 Vaidoso
 Presunçoso
 Tirano

 Acusações

 Viveu a seu belo prazer.


 Foi tirano, desprezando os mais fracos.
 Foi vaidoso, presunçoso e arrogante.
 Foi infiel.

 Argumentos de defesa

 Deixa na outra vida, quem reze por ele.


 É “Fidalgo de solar” (condição social – nobre).

 Intenção crítica

 Gil Vicente pretende demonstrar a vaidade, a presunção, a tirania e o desprezo da nobreza pelos
mais necessitados. Mestre Gil pretende ainda denunciar a infidelidade conjugal.

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