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AGRUPAMENTO DE

CLARA DE RESENDE

TESTE DE AVALIAÇÃO DE PORTUGUÊS 11ºG - abril/2019

A- (60 pontos)
Lê o texto a seguir transcrito. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado.
Em 1801, achamos Domingos José Correia Botelho de Mesquita corregedor em Viseu.
Manuel, o mais velho de seus filhos, tem vinte e dois anos, e frequenta o segundo ano jurídico.
Simão, que tem quinze, estuda humanidades em Coimbra. As três meninas são o prazer e a vida toda do
coração de sua mãe.
O filho mais velho escreveu a seu pai queixando-se de não poder viver com seu irmão, temeroso do
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génio sanguinário dele. Conta que a cada passo se vê ameaçado na vida, porque Simão emprega em
pistolas o dinheiro dos livros, convive com os mais famosos perturbadores da academia, e corre de
noite as ruas insultando os habitantes e provocando-os à luta com assuadas 1. O corregedor admira a
bravura de seu filho Simão, e diz à consternada mãe que o rapaz é a figura e o génio de seu bisavô
Paulo Botelho Correia, o mais valente fidalgo que dera Trás-os-Montes.
10 Manuel, cada vez mais aterrado das arremetidas de Simão, sai de Coimbra antes de férias e vai a
Viseu queixar-se, e pedir que lhe dê seu pai outro destino. D. Rita quer que seu filho seja cadete 2 de
cavalaria. De Viseu parte para Bragança Manuel Botelho, e justifica-se nobre dos quatro costados para
ser cadete.
No entanto, Simão recolhe a Viseu com os seus exames feitos e aprovados. O pai maravilha-se do
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talento do filho, e desculpa-o da extravagância por amor do talento. Pede-lhe explicações do seu mau
viver com Manuel, e ele responde que seu irmão o quer forçar a viver monasticamente.
Os quinze anos de Simão têm aparências de vinte. É forte de compleição 3; belo homem com as
feições de sua mãe, e a corpulência dela; mas de todo avesso em génio. Na plebe 4 de Viseu é que ele
escolhe amigos e companheiros. Se D. Rita lhe censura a indigna eleição que faz, Simão zomba das
genealogias, e mormente do general Caldeirão que morreu frito. Isto bastou para ele granjear a mal-
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querença de sua mãe. O corregedor via as coisas pelos olhos de sua mulher, e tomou parte no desgosto
dela, e na aversão ao filho. As irmãs temiam-no, tirante Rita, a mais nova, com quem ele brincava pue-
rilmente5, e a quem obedecia, se lhe ela pedia, com meiguices de criança, que não andasse com pes-
soas mecânicas.
Finalizavam as férias, quando o corregedor teve um grande dissabor. Um dos seus criados tinha ido
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levar a beber os machos, e, por descuido ou propósito, deixou quebrar algumas vasilhas que estavam à
vez no parapeito do chafariz. Os donos das vasilhas conjuraram contra o criado; espancaram-no.
Simão passava nesse ensejo; e, armado dum fueiro 6 que descravou dum carro, partiu muitas cabeças, e
rematou o trágico espetáculo pela farsa de quebrar todos os cântaros. O povoléu 7 intacto fugira espavo-
rido, que ninguém se atrevia ao filho do corregedor; os feridos, porém, incorporaram-se e foram cla-
30 mar justiça à porta do magistrado.
Domingos Botelho bramia contra o filho, e ordenava ao meirinho-geral que o prendesse à sua
ordem. D. Rita, não menos irritada, mas irritada como mãe, mandou, por portas travessas, dinheiro ao
filho para que, sem detença, fugisse para Coimbra, e esperasse lá o perdão do pai.
O corregedor, quando soube o expediente de sua mulher, fingiu-se zangado, e prometeu fazê-lo
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capturar em Coimbra. Como, porém, D. Rita lhe chamasse brutal nas suas vinganças, e estúpido juiz
de uma rapaziada, o magistrado desenrugou a severidade postiça da testa, e confessou tacitamente
que era brutal e estúpido juiz.
CASTELO BRANCO, Camilo (2016). Amor de Perdição, Capítulo I.

Porto: Porto Editora [pp. 21-24]


1. assuadas: arruaças; algazarras. 2. cadete: soldado ou aluno que cursa escolas de oficiais militares. 3. compleição: constituição do corpo. 4. plebe:
população; ralé. 5. puerilmente: de forma infantil. 6. fueiro: cada um dos paus que se erguem nos lados do leito do carro de bois ou de atrelado. 7.
povoléu: gentalha.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.

1. Com base no excerto, analisa a relação existente entre Simão Botelho e a sua família. (20 pontos)
2. Mostra de que forma se delineia a construção do herói romântico neste momento da ação.(10 pontos)

3. Caracteriza com quatro adjetivos Simão e justifica com expressões textuais. (10 pontos)
4. Descreve e comenta o comportamento do pai e da mãe de Simão, quando este se envolve em conflitos, por
causa do criado. (20 pontos)

B - (40 pontos)
1. Complete as frases seguintes, tendo em conta os teus conhecimentos da vida de Camilo Castelo Branco e
da sua obra “Amor de Perdição”. (30 pontos)

(1. nome do autor da obra que estudaste), nasceu em (2. indicar o ano). Fica orfão de mãe aos (3.indicar a idade) e
de pai aos (4. indicar a idade) . Em criança, depois da morte dos pais, vai viver para (5 indicar lugar), primeiro
com uma (6. relação de parentesco), depois com a irmã. Camilo vive e estuda no (7. local) onde conhece o amor
da sua vida, (8. nome do amor da sua vida), que é obrigada a casar com (9. nome do marido) trinta anos mais
velho. Os dois acabam por fugir e ser acusados de (10), sendo presos na cadeia (11. nome da cadeia) do Porto. É
na cadeia que Camilo escreve (12. nome da obra).
Suicida-se em (13. indicar o ano), em 14.(indicar o local).
As três partes da obra são marcadas pela poderosa frase que Camilo refere na sua introdução: (15. indicar a frase)
De acordo com os princípios românticos, o (16) é a grande linha temática da obra.

C - ( 60 PONTOS)
Lê o texto seguinte.

Ódios
O ódio também é gente. Não são apenas o amor, a paixão e a fraternidade que nos sustentam.
Os ódios são animadores. Dão vinagre à salada da vida. Sem eles, o mundo seria demasiado
oleoso e enjoativo.

Os melhores ódios de todos são os ódios de estimação. Os ódios de estimação são aqueles que
5 adoramos ter. Ao contrário dos ódios naturais, cujas origens e causas são facilmente atribuídas e
justificadas, os ódios de estimação são aversões fortes que carecem absolutamente de razão. Eu
posso odiar o Júlio porque acho que ele é mau, ou que me fez mal. Este é um ódio natural. Em
contrapartida, eu posso odiar o Malaquias,
»
apesar de ele ser bom ou de me fazer bem. Um ódio de estimação é uma repugnância
apaixonada por alguém que não nos fez mal nenhum. É uma amargura que sabe bem,
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um gosto adquirido a contragosto.
Neste aspeto, é mais parecido com o amor do que o ódio natural. Tal como não nos
apaixonamos pelas melhores pessoas, ou por aquelas que mais bem nos fazem, também um ódio
de estimação nasce espontaneamente e não olha a corações. Pode ter-se o maior ódio de estimação
pela Madre Teresa de Calcutá ou pela Maria Leonor. Aliás, as pessoas verdadeiramente boazinhas
são mais frequentemente visadas por ódios de estimação que as más. As almas caridosas, em
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certas circunstâncias, são muito irritantes. […]
Um ódio de estimação […], que é genuíno e sincero, baseia-se muitas vezes em pormenores
irrelevantes. Um queixo ou um nariz conseguem ser afrontosos. Um nó de gravata ou um jeito no
cabelo são, em todos os casos, provocações irresistíveis. Odeia-se um pobre diabo não pelas
coisas das quais é responsável (aquilo que faz mal), mas pelas coisas de que não tem qualquer
20 culpa. Um ódio de estimação distingue-se dos ódios racionais pelo facto de ser tão injusto. E é por
isso que pode ser muito mais violento.
Aqueles que odiamos naturalmente são, por assim dizer, os nossos inimigos. Podemos até
respeitá-los. Aqueles que odiamos por estimação são mais odiosos ainda. Eles nada têm contra nós
e nós desrespeitamo-los totalmente. […]
Os ódios de estimação não fazem mal a ninguém, até porque são socialmente inaceitáveis.
Também é por isso que se estimam e guardam. Não há dermatologia social capaz de resistir a estas
aversões epidérmicas, instintivas e incontroláveis. Os ódios de estimação têm, contudo, uma
função psicológica importante: esgotam os nossos piores instintos, absorvem as nossas avultadas
capacidades para a má vontade e para a misantropia1, e permitem-nos guardar os bons instintos
para os nossos amigos e amores.
CARDOSO, Miguel Esteves (2015). A Causa das Coisas. Porto: Porto Editora

[pp. 214-216, com supressões]

1. misantropia: ódio; aversão ao ser humano.

1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.5., seleciona a opção correta.
Escreve, na folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
1.1. O texto de Miguel Esteves Cardoso é marcado por um tom (7 pontos)
a. apreciativo.
b. moralista.
c. irónico.
d. didático.
1.2. Na introdução do texto apresenta-se uma (7 pontos)
a. identificação dos alvos do ódio natural e do ódio de estimação.
b. reflexão sobre o ódio face a outros sentimentos.
c. distinção entre os diferentes tipos de ódio.
d. exemplificação da dicotomia ódio de estimação / ódio natural.

1.3. Segundo o autor, a distinção entre ódios de estimação e ódios naturais assenta (7 pontos)
a. em valores religiosos.
b. na conceção social.
c. na racionalidade.
d. em aspetos de personalidade.
1.4. De acordo com o autor, ódio natural e respeito são, por vezes, conceitos (7 pontos)
a. coexistentes.
b. contraditórios.
c. complementares.
d. dissociáveis.
1.5. Os ódios de estimação detêm, na vida humana, uma função psicológica (7 pontos)
a. incriminatória.
b. reguladora.
c. social.
d. emocional.

2. Responde aos itens apresentados.


2.1. Explicita o processo de coesão gramatical predominante nas frases seguintes: (20 pontos)

a.Eu odeio o Carlos, porque ele é o meu ex-companheiro.

b. Os rapazes espertos são simpáticos.

c. Esta manhã quando o Jorge acordou não se sentia muito bem.

d. Ela estava cansada e precisava de descanso; por isso decidimos ajudá-la.

2.2. Indica o tempo e modo do verbo sublinhado: (5 pontos)

«Sem eles, o mundo seria demasiado oleoso e enjoativo.»

a.Modo-Condicional/Tempo-Presente------------

b. Modo – Indicativo/ Tempo Pretérito Perfeito----------

c. Modo- Indicativo/ Tempo-Futuro ---------------

D- (40 pontos)
1. O apoio incondicional dos pais aos seus filhos é inquestionável.

Tendo em conta a afirmação anterior, redige um texto de opinião, com 150 e 180 palavras, no qual
fundamentes o teu ponto de vista com dois argumentos e com, pelo menos, um exemplo concreto e
significativo para cada um.
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta integre
elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos algarismos que o
constituam (ex.: /2015/).

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