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AUTO DA BARCA DO INFERNO, de Gil Vicente

O Onzeneiro
Eis uma personagem que, na época de Gil Vicente, conservou algo de
comum com os judeus: a sua paixão pelo dinheiro. O onzeneiro era um
usurário que enriquecia à custa dos altos juros de dinheiro que emprestava
aos necessitados (a quem o Diabo chama, com toda a propriedade, seu
«parente»).
O Onzeneiro apresenta-se em cena com um bolsão que ocupa quase
toda a barca. Contudo, informa-nos que vai vazio, certamente porque não
pudera trazer com ele todos os cruzados que lhe pertenciam. Mas é só neles
que o Onzeneiro pensa e chega a rogar ao Diabo que o deixe voltar ao
mundo dos vivos para ir buscá-los.
No cais, o espaço para além da vida onde todas as almas são julgadas,
esta personagem, contrariamente ao que seria de esperar, apresenta-se
como alguém que nem sequer dispõe de uma moeda para pagar ao
barqueiro.

Em síntese…

 Personagem / Classe social: Onzeneiro/ burguesia

 Elementos / Simbologia

 Bolsão: simboliza a sua ganância, avareza, ambição desmedida e o apego ao dinheiro

 Percurso cénico: Barca do Diabo – Barca do Anjo – Barca do Diabo (onde embarca)

 Caracterização psicológica do Onzeneiro

 Usurário
 Ganancioso, ambicioso, avarento
 Materialista

 Acusações

 “Roubar”, através da cobrança de juros elevados


 Ter o coração cheio de pecados (ambição, maldade, avareza)

 Argumentos de defesa

 Tem muito dinheiro em terra e poderá pagar a passagem.


 O bolsão está vazio.

 Intenção crítica

 Gil Vicente pretende criticar a prática da usura, denunciando o enriquecimento rápido e


fácil, à custa dos mais necessitados.

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