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ESTRANGEIRA
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Abstract
This article aims to analyze in comparative perspective three short stories from the book A
legião estrangeira, by Clarice Lispector. The chosen short stories were “Os desastres de Sofia”,
“Evolução de uma miopia” e “A legião estrangeira”. They were chose due to the common
subject, childhood, and also due to the situations where the kids dominate the adults, and not
the opposite, as it might be expected. The two girls in the first story and in the last one show
themselves as strong people with controller behaviour. In “Evolução de uma miopia”, the child
– this time, a boy – tends to the same controller aspect, however not as strong as the two girls.
The path of apprenticeship lived by the three children tells apart, in the end, knowledge from
rationality and logic.
Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar em perspectiva comparada três contos do livro A legião
estrangeira, de Clarice Lispector. Escolhemos “Os desastres de Sofia”, “Evolução de uma
miopia” e “A legião estrangeira”, inicialmente pela aproximação temática – a infância – e,
posteriormente, pela inversão do eixo de dominância no conflito entre a criança e o adulto,
este submetido à inesperada superioridade daquela. Especialmente no primeiro e no último
dos três contos analisados, as crianças – duas meninas – apresentam comportamentos de
inclinação controladora. Em “Evolução de uma miopia”, por fim, a criança – desta vez, um
menino – ensaia o almejado controle da situação, embora não o alcance na sua totalidade. Nos
três casos, a trajetória de aprendizagem das crianças termina por separar conhecimento de
razão e lógica.
Texto integral
A observação de Mata é muito útil para a análise dos três contos de Clarice
Lispector. A “fala artificiosa”, distanciada de características da linguagem infantil, é
elaborada “pelo exercício da memória” pela Sofia adulta em “Os desastres de
Sofia”; “pelo exercício (...) da observação” pelo narrador em terceira pessoa de
“Evolução de uma miopia” (narrador este que não é uma criança); e tanto pelo
exercício da memória quanto pelo da observação no caso da narradora adulta,
vizinha da menina Ofélia, em “A legião estrangeira”. Neste último caso, a narradora
rememora, no primeiro plano temporal da narrativa, a época em que conheceu e
observou Ofélia.
Os três contos têm início sob uma perspectiva que marca a relação entre
adulto e criança que será desdobrada no texto. Em “Os desastres de Sofia”, lemos:
A menina, que tinha o “hábito de usar a palavra ‘portanto’ com que ligava as
frases numa concatenação que não falhava” (p. 101), romperá a casca de adulta na
casa da narradora, ao ouvir o pintinho piar na cozinha. A partir desse contato, todo
seu discurso racional, repleto de opiniões formadas, se desfaz. Ao descobrir o
pinto, que, animal que é, está onde ainda não nasceu a linguagem racional humana,
Ofélia renasce para ser criança, como comenta José Américo Pessanha em
Itinerário da Paixão:
— Que é?
— Eu...?
Considerações finais
Referências
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