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RESUMO
O autor comenta os aspectos com a temporalidade na adolescência, fazendo
referências à literatura e ao final, comentando alguns aspectos do conto “A Bela
Adormecida” no que diz respeito ao tema do trabalho.
INTRODUÇÃO
Maurício Knobel (6) considera que o adolescente tem uma característica muito especial
em relação ao tempo. Ele escreve:
“Desde o ponto de vista da conduta observável é possível dizer que o adolescente vive
com uma certa desconexão temporal; converte o tempo em presente a ativo como uma
maneira de manejá-lo. No tocante a sua expressão de conduta o adolescente parece viver
em processo primário com respeito ao temporal. As urgências são enormes e às vezes as
postergações são aparentemente irracionais” (6).
“Como defesa, o adolescente espacializa o tempo, para poder manejá-lo vivendo sua
relação como o mesmo como um objeto. Com este tempo – espaço – objeto pode
manejar-se de forma fóbica ou obsessiva, convertendo as situações psicóticas em
neuróticas ou psicopáticas. Se a passagem do tempo é negada, pode-se conservar a
criança dentro do adolescente como um objeto morto-vivo” (6).
“Muitos fatores concorrem para que isto seja assim. A não-presença permanente do
peito, cujas aparições e desaparições não coincidem exatamente com os desejos do
bebê, nem satisfazem a fantasia onipotente de oferecimento incondicional e inesgotável,
vai estabelecendo um princípio de discriminação entre um sujeito que deseja e um
objeto que satisfaz ou frustra. Esse ritmo de aparições e desaparições do peito, que
condiciona ciclos de satisfação e necessidade, junto com os ciclos de sonho-vigília,
contribui para desenvolver a experiência temporal. Ao mesmo tempo, a criança
descobre que a mãe que o gratifica e a mãe que o frustra é uma só. Pode conseguir
integrar, então, as imagens provenientes de diferentes momentos de sua experiência.
Esta integração na figura da mãe no tempo é correlacionada a sua própria integração
temporal” (3).
Esta postulação se completa com outra observação que Leon Grimberg, seguindo a E.
Erikson, faz em seu trabalho “O indivíduo frente a sua identidade”, referindo-se ao
problema do tempo na formação da identidade na adolescência.
“A desconfiança básica frente ao tempo pode ser expressa de diversos modos e às vezes
dá lugar a uma ansiedade persecutória grande. Em todos os casos o tempo deve ser
detido, seja pelo meio mágico da imobilização catatônica ou por meio da morte” (4).
Esta “maldição” foi-lhe dada feita por uma fada velha que não havia sido convidada,
pelos pais da “Bela Adormecida”, para o batizado deste: a fada má disse, então, que a
princesa atravessaria a palma da mão com um fuso e morreria. A princesa foi salva por
uma outra fada que, para remediar a situação, predisse que ela não morreria, “senão
cairia em profundo sono que levaria cem anos, ao cabo do qual viria o filho de algum rei
e a salvaria”.
Embora não seja o objetivo deste trabalho, é importante abordar alguns aspectos
simbólicos: a fada velha que amaldiçoa e a fada boa que salva são aspectos dissociados
da imagem materna e o fuso de fiar que fere a princesa quando ela faz quinze ou
dezesseis anos é uma alusão ao início da eclosão puberal marcada, aqui, pela menarca.
Há no conto, várias outras referências ao tempo. “Os pais da princesa não podiam ter
filhos. Finalmente, a rainha deu a luz a uma filha, quando menos esperava”.
E ainda, ao final:
“Quando ocorreu tudo isto, a fada boa que havia salvado a princesa condenando-a a
dormir por um espaço de cem anos, se achava no reino de Mataquino, há umas 200 mil
éguas de distância: porém em um instante foi avisada por um anão que tinha “botas-de-
sete-léguas”, isto é, botas com as quais se adiantava sete léguas em cada passo. A fada
se pôs em marcha apenas soube da notícia e chegou a cada de uma hora em um carro de
fogo puxado por dragões”.
Estes trechos nos permitem ver como é tratado e vivido o tempo aos “quinze ou
dezesseis anos”: há momentos que demoram “cem anos” e outros em que 200 mil
léguas são percorridas “ao cabo de uma hora”. Predomina, pois, no conto em relação ao
tempo – especificamente – elementos de indiscriminação peculiares à Parte Psicótica da
Personalidade e características de pensamento determinado pelo Processo Primário.
Estes aspectos surgem e desaparecem, cedendo lugar ao Processo Secundário e à
regência da Parte Neurótica da Personalidade, conforme os momentos de flutuações
progressivas ou regressivas, a diferentes níveis do desenvolvimento, que podemos
considerar como normais em todos púbere.
“No relato, “cem anos depois, o filho de um rei que então governada, e que pertencia à
família diferente da princesa, foi por ali caçando... um camponês, já velho, tomou a
palavra e falou assim: faz príncipe, mais de cinqüenta anos, ouvi meu pai que neste
palácio havia uma princesa formosíssima, condenada a dormir um século... Ao escutar
isto o príncipe sentiu arder seu coração com um estranho fogo...”
Cem anos se passaram mas a princesa conserva seus quinze ou dezesseis anos: há, aqui,
uma referência a um tempo interno, necessário às modificações puberais e adolescentes,
o tempo existencial, e um outro, cronológico ou conceitual.
Este conto serve, como muitos outros, para ns fornecer uma idéia a cerca da
temporalidade na adolescência.
* Os estudos de José Bleger sobre a Parte Psicótica da Personalidade se derivam, como ele próprio
esclarece, da Teoria de Relação de Objeto de Melanie Klein e das contribuições de W. Bion (2).
The author makes comments about aspects related to the concept of time in
adolescence, rewiews the literature and finishes commenting some aspects of the
tale “Sleepind Beauty” in reference to the theme of this paper.
BIBLIOGRAFIA