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“A descoberta da infância” e

“Os dois sentimentos da


Infância”
ARIÈS, Philippe. História social da criança da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1978.
•Inexistência da infância
•Descoberta da infância
•Preocupação sobre a
condução/educação desse período
da vida
Arte grega- Fidelidade aos traços
infantis
• Tudo indica, de fato, que a representação realista
da criança, ou a idealização da infância, de sua
graça, de sua redondeza de formas tenham sido
próprias da arte grega.
• A representação da infância desaparece após o
período Helenístico (época da história
compreendida entre os séculos III e II a.C.).
Infância sem representação
• A arte do inicio do período medieval não representava os
traços físicos próprio as crianças.
• Elas eram representadas como pequenos adultos.
• O período romântico recusa os traços específicos da
infância assim como as épocas arcaicas.
Infância como período de transição
• Isso faz pensar também que no domínio da vida real, e não mais apenas
no de uma transposição estética, a infância era um período de transição,
logo ultrapassado, e cuja lembrança também era logo perdida.
• Ninguém pensava em conservar o retrato de uma criança que tivesse
sobrevivido e se tornado adulta ou que tivesse morrido pequena, No
primeiro caso, a infância era apenas uma fase sem importância, que não
fazia sentido fixar na lembrança; no segundo, o da criança morta, não se
considerava que essa coisínha desaparecida tão cedo fosse digna de
lembrança: havia tantas crianças, cuja sobrevivência era tão problemática.
O sentimento de que se faziam várias crianças para conservar apenas
algumas era e durante muito tempo permaneceu muito forte.
Como daí chegamos às criancinhas de
Versalhes, às fotos de crianças de todas as
idades de nossos álbuns de família?
• A figura do Anjo aos poucos traz de volta a representação da
infância- os anjos já eram crianças crescidas quase
adolescentes.
• Eram retratados também os jovens clérigos
• Lembrando que nesse período não havia escola para
crianças, as crianças eram educadas depois de grandes
“depois que vingavam”
Século XII inicio da representação infantil
como tal- centralidade das figuras bíblicas
• Menino Jesus
• Nossa Senhora menina
• O sentimento encantador da tenra infância permaneceu limitado ao
menino Jesus até o século XIV, quando, como sabemos, a arte italiana
contribuiu para desenvolvê-lo e expandi-lo.
• a origem dos temas do anjo, das infâncias santas e de suas
posteriores evoluções iconográficas remontam ao século XIII.
Era gótica- nudez infantil
• Representação da criança associada a alma.

• A partir do século XIV a imagem da infância sagrada se diversifica,


sempre associada a riqueza e fertilidade.

• Durante algum tempo o realismo sentimental era restrito a


iconografia religiosa, as cenas cotidianas entre mãe e bebe eram
representadas: brinquedos, caricia, colo, troca de fraudas etc.
A criança fora da iconografia religiosa
• As cenas de gênero e as pinturas anedóticas começaram a substituir
as representações estáticas de personagens simbólicas.
• no século XV surgiram dois tipos novos de representação da infância:
o retrato e o putto.
• A criança, como vimos, não estava ausente da Idade Média, ao menos
a partir do século XIII, mas nunca era o modelo de um retrato, de um
retrato de uma criança real, tal como ela aparecia num determinado
momento de sua vida.
O sentimento da criança descartável na
literatura
• Ainda no século XVII, em Le Caqueí de raeeouchée, vemos uma
vizinha, mulher de um relator, tranqüilizar assim uma mulher
inquieta, mãe de cinco “pestes”, e que acabara de dar à luz:
• “Antes que eles te possam causar muitos problemas, tu terás perdido
a metade, e quem sabe todos”. Estranho consolo!”
• Montaigne: “Perdí dois ou três filhos pequenos, não sem tristeza, mas
sem desespero 3I ”,
O sentimento da criança descartável na
literatura
• ou estas de Molière, a respeito da Louison de Le Malade Imaginaire:
“A pequena não conta,”
• A opinião comum devia, como Montaigne, “não reconhecer nas
crianças nem movimento na alma, nem forma reconhecível no cor-
po.”
• Mme de Sévigné relata sem surpresa 23 palavras semelhantes de
Mme de Coetquen, quando esta desmaiou com a notícia da morte de
sua filhinha: “Ela ficou muito aflita, e disse que jamais terá uma outra
tão bonita”.
Citação sobre a falta de apego
• “Esse sentimento de indiferença com relação a uma infância
demasiado frágil, em que a possibilidade de perda é muito grande, no
fundo não está muito longe da insensibilidade das sociedades
romanas ou chinesas, que praticavam o abandono das crianças
recém-nascidas. Compreendemos então o abismo que separa a nossa
concepção da infância anterior à revolução demográfica ou a seus
preâmbulos.”
Desaparecimento do sentimento de
desperdício necessário
• “É notável, de fato, que nessa época de desperdício demográfico se
tenha sentido o desejo de fixar os traços de uma criança que
continuaria a viver ou de uma criança morta, a fim de conservar sua
lembrança, O retrato da criança morta, particularmente, prova que
essa criança não era mais tâo geralmente considerada como uma
perda inevitável. Essa atitude mental não eliminava o sentimento
contrário, o de Montaigne, o da vizinha da mulher que dá à luz e o de
Molière: até o século XVIII, eles coexistiriam. Foi somente no século
XVIII, com o surgimento do malthosianismo e a extensão das práticas
contraceptívas, que a idéia de desperdício necessário desapareceu.”
p. 58
• O retrato das crianças mortas demonstra como o sentimento de
apego e afeição estava sendo criado na sociedade.
• Inscrição no tumulo da filha de Jaime I:
• “Rosula Regia prae-propera Fato decerpta, parentibus e repta, ut in
Christi Rosário rejloreseat.”
• “Rosula Realeza pré-apropriada arrancada pelo Destino, arrebatada
dos pais, para que se glorie novamente no Rosário de Cristo.”
Séc. XVII criança no centro da cena
• A criança agora era representada sozinha e por ela mesma: esta foi a
grande novidade do século XVIL À criança seria um de seus modelos
favoritos.
Contribuição da cristianização para o
sentimento de apego
• Assim, embora as condições demográficas não tenham mudado muito
do século XIH ao XVII, embora a mortalidade infantil se te-
nha'tnantido num nível muito elevado, uma nova sensibilidade atri-
buiu a esses seres frágeis e ameaçados uma particularidade que antes
ninguém se importava em reconhecer: foi como se a consciência co-
mum só então descobrisse que a alma da criança também era imortal.
É certo que essa importância dada à personalidade da criança se
ligava a uma cristianização mais profunda dos costumes,
• “À descoberta da infância começou sem dúvida no século XIII, e sua
evolução pode ser acompanhada na história da arte e na iconografia
dos séculos XV e XVI. Mas os sinais de seu de- senvolvimento
tornaram-se particularmente numerosos e significati- vos a partir do
fim do século XVI e durante o século XVII.” p. 65
• “Ela faz cem pequenas coisinhas: faz carinhos, bate, faz o sinal da
cruz, pede desculpas, faz reverência, beija a mão, sacode os ombros,
dança, agrada, segura o queixo: enfim, ela é bonita em tudo o que faz.
Distraio-me com ela horas a fio **.” Muitas mães e amas já se haviam
sentido assim, Mas nenhuma admitira que esses sentimentos fossem
dignos de ser expressos de uma forma tão ambiciosa. Essas cenas de
infância literárias correspondem às cenas da pintura e da gravura de
gênero da mesma época: são descobertas da primeira in- fância, do
corpo, dos hábitos e da fala da criança pequena.” p. 68
Sentimento da infância
• Sentimento é diferente de afeição
• Na idade média o sentimento da infância era inexistente
• Não havia a consciência sobre a particularidade infantil
• A aparição da representação da criança na arte começa a criar
esses sentimento da infância o “putto”, a criança morta
quando pequena
• A criação de roupas especificas para as crianças faz parte dos
elementos que contribuíram para o sentimento da infância.
Uma vez que na sociedade de classes a imagem visual era
importante.
Sentimento da infância
• “Üm novo sentimento da infância havia surgido, em que a criança, por
sua ingenuidade, gentileza e graça, se tornava uma fonte de distração
e de relaxamento para o adulto, um sentimento que poderíamos
chamar de “paparicaçâo”.
• Os sentimentos não expressos
• “maneira de ser das crianças deve ter sempre parecido encantadora
às mães e às amas, mas esse sentimento pertencia ao vasto domínio
dos sentimentos não expressos.”
Criticas ao sentimento de paparicação
• Assim falava EI Discreto de Balthazar Gratien, um tratado sobre a
educação de 1646, traduzido para o francês em 1723 por um padre
jesuíta ,a . “Só o tempo pode curar o homem da infância e da juventude,
idades da imperfeição sob todos os aspectos.“
• Os moralistas criticavam a paparicação e como ela deixava as crianças
mal educadas tanto as ricas quanto as do povo
• Tentava-se penetrar na mentalidade das crianças para melhor adaptar a
seu nível os métodos de educação. Pois as pessoas se preocupavam
muito com as crianças, consideradas testemunhos da inocência batismal,
semelhantes aos anjos e próximas de Cristo, que as havia amado.
A preocupação com o futuro da criança-
moralidade + probidade
• “familiarizar-se com os próprios filhos, fazê-los falar sobre todas as
coisas, tratá-los como pessoas racionais e conquistá-los pela doçura é
um segredo infalível para se fazer deles o que se quiser. As crianças
são plantas jovens que é preciso cultivar e regar com frequência: al-
guns conselhos dados na hora certa, algumas demonstrações de ter-
nura e amizade feitas de tempos em tempos as comovem e as
conquistam. Algumas carícias, alguns presentinhos, algumas palavras
de confiança e cordialidade impressionam seu espírito, e poucas são
as que resistem a esses meios doces e fáceis de transformá-las em
pes- soas honradas e probas”. A preocupação era sempre a de fazer
dessas crianças pessoas honradas e probas e homens racionais.
Sentimento dos moralistas sobre a infância
• “frágeis criaturas de Deus que era preciso ao mesmo tempo preservar
e disciplinar. Esse senti- mento, por sua vez, passou para a vida
familiar”

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