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Bons estudos!
Glossário
Iconografia: repertório de imagens próprio de uma obra, gênero de arte, artista
ou período artístico.
A descoberta da infância
Do início dos anos 1920 até fins dos anos 1930, surgem pesquisadores
que produzem visões diferenciadas sobre o mundo da criança, apropriando-se
gradativamente das concepções psicológicas, para entender e aprender como
atuar com os pequenos.
A partir do fim da Segunda Grande Guerra (1945), a criança começa a ser
entendida como um ser que possui direitos que devem ser respeitados, para
desenvolver-se plenamente. Tal fato é confirmado com a Organização das
Nações Unidas (ONU) que promulga em 1959, a Declaração dos Direitos da
Criança.
Na concepção atual ressalta a criança como possuidora de direitos, que
precisam ser conhecidos para serem respeitados. Há leis que regulamentam as
ações que podem ou não ser realizadas, para que adultos e crianças tenham
conhecimentos desses itens para não terem seus direitos violados. Dessa forma,
é visível que essas mudanças visam proteger e cuidar das crianças para que se
desenvolvam saudavelmente.
Atividade de aprendizagem
Com base na aula apresentada, elabore um breve texto refletindo sobre as
condições de vida da criança no período que ela era considerada adulto em
miniatura.
Aula 2 – O processo histórico da
educação infantil no Brasil
Olá! Seja bem-vindo, seja bem-vinda à segunda aula da disciplina Fundamentos
Teóricos e Metodológicos da Educação Infantil. Durante a aula, você aprenderá
sobre o processo histórico de educação infantil no Brasil. Então, vamos para o
aprendizado?
Glossário
Higienista - médicos especialistas em resguardar a saúde, criando medidas para
a prevenção de doenças.
Glossário
Puericultura - conjunto de noções e técnicas voltadas para o cuidado médico,
higiênico, nutricional, psicológico etc., das crianças pequenas, da gestação até
quatro ou cinco anos de idade.
Glossário
Rezar: fazer uma determinação; dar uma ordem: isto é o que reza a lei.
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Tais ações serão essenciais para oferecer o alicerce necessário para
minimizar os efeitos relacionados à marginalidade para um público desprovido
de assistência, vulnerável e envolto na exclusão social.
Diante desse contexto, a falta de cuidados com as crianças, por diferentes
sujeitos que a negligenciaram, seja em nível familiar, social ou mesmo do
Estado, faz-se necessário proporcionar aos infantes atenção e proteção, e que
lhes sejam concedidos seus direitos fundamentais, minimizando os efeitos
relacionados ao abandono social.
Glossário
Exclusão social: é o distanciamento de uma pessoa ou grupo que esteja em
situação desfavorável ou vulnerável em relação aos demais indivíduos e
grupos da sociedade.
Art. 2º. Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até
doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e
dezoito anos de idade.
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Nesse ponto está evidente a necessidade da ação conjunta de todas as
esferas sociais, para propiciar meios de oportunizar a promoção e defesa dos
direitos das crianças e dos adolescentes.
Vale ressaltar que a família foi a primeira a ser selecionada para
desenvolver tal ação, haja vista que todo o empenho às ações deve ocorrer
preferencialmente nesse âmbito.
Ademais, aponta como direito a convivência familiar, pois é considerada
como essencial para o progresso integral do sujeito.
A proteção à criança e ao adolescente, estabelecida no Art. 70 do Estatuto
da Criança e do Adolescente, consiste em dar proteção à vida e à saúde dessas
pessoas, oportunizar o desenvolvimento harmonioso e condições dignas de
existência. Ademais, o Estatuto reza sobre a atenção despendida para o bem-
estar da gestante e da parturiente, de modo que sejam oportunizados meios para
o desenvolvimento saudável do bebê. Nesse sentido, considera-se o cuidado
com a vacinação, a odontologia e os tratamentos médicos.
Fonte: Istockphoto
Atenção!
O Estatuto da Criança e do Adolescente é um documento importantíssimo em
sua totalidade, pois versa sobre questões específicas da criança e do
adolescente.
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Em relação à liberdade, o art. 15 do Estatuto da Criança e do Adolescente
prevê que a criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à
dignidade como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas
leis. Dessa forma, é inviolável que essas ações sejam respeitadas. No próximo
artigo é tratado de forma específica o direito que rege a liberdade.
II – opinião e expressão;
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psicológico, a cursos ou programas de orientação ou receber
advertência. Tais ações serão encaminhadas pelo Conselho Tutelar.
Esse ponto sofreu alteração após o ensino de nove anos ser promulgado.
Ao Poder Público cabe se adequar para atender à demanda da matrícula na pré-
escola. Talvez seja pelo fato da educação infantil não ser obrigatória que o artigo
56 menciona como responsabilidade dos dirigentes do ensino fundamental
comunicar sobre casos envolvendo maus-tratos. Em nenhum momento se dirigiu
para as instituições que atendem crianças de zero a cinco anos. Dá a entender
que a preocupação recai no Ensino Fundamental, desconsiderando outras
etapas, principalmente a infantil.
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Os artigos mencionados são os mais empregados no âmbito educacional,
principalmente na Educação Infantil.
Você sabia?
Que o ECA coloca o Brasil em posição de destaque entre os demais países do
mundo por ser considerado uma das leis mais avançadas na defesa dos direitos
das crianças e dos adolescentes.
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informações sobre a criança. No entanto, é papel específico das instituições
escolares ampliar as vivências das crianças e enriquecê-las com saberes
diferenciados para expandir suas referências pessoais. Ademais, também é
papel da escola propiciar a integração social, por meio da convivência com seus
pares e com adultos.
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especificidades. Essa abertura oportunizou reflexões acerca de suas nuances
com enfoque na educação. De modo geral, não há dúvidas que o discurso dessa
lei denota progressivos avanços educacionais no Brasil, pois há interesse em
oferecer qualidade no ensino, sem distinguir classes sociais. Tal interesse
observa-se no art. 3º da Lei de Diretrizes e Bases:
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[...] essa lei deixa explícito que às unidades escolares
públicas de educação básicas integradas ao sistema
serão assegurados graus de autonomia pedagógica e
administrativa, além de autonomia financeira, desde que
sejam seguidas as normas gerais de direito financeiro
público (CARTAXO, 2013, p. 168).
a) pré-escola;
b) ensino fundamental;
c) ensino médio;
II – educação superior.
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Dessa forma, a criança é concebida de forma única e, neste sentido,
torna-se necessário pensar no ensino direcionado para a sua faixa etária.
Por isso, a educação infantil foi colocada em destaque, inexistente nas
legislações anteriores, sendo criada a Seção II, do Capítulo II da Educação
Básica, específica para ela, levando em conta as particularidades próprias do
infante e atribuindo significado às ações que consideram o desenvolvimento
integral do sujeito. Tal aspecto pode ser observado no artigo que segue:
Fonte: Shutterstock
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Além disso, é importante propiciar reflexões acerca do processo educativo
que ocorre na creche, para não correr o risco de primar somente pelos aspectos
referentes ao cuidar.
Assim, “O assentado na LDB corre o risco de desconsiderar as ações de
assistência e do cuidado pelo fato de privilegiar o educativo por meio da
escolarização” (NASCIMENTO, 2005, p. 108). Esse posicionamento pode ser
identificado no artigo abaixo:
Glossário
Assentado: que é membro de um assentamento, local onde estão acampados
trabalhadores rurais.
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admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação
infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida em nível
médio, na modalidade normal”.
Desse modo, é possível observar na legislação que o magistério é a
formação mínima exigida ao profissional que atuará na educação infantil e na
primeira etapa do ensino fundamental.
Para os outros níveis, a exigência é o ensino superior, apesar da
LDB/1996 apontar que, se o professor tiver apenas o nível médio, na modalidade
normal, pode lecionar nas etapas referidas. Esse posicionamento dá a entender
que não é necessário diploma para atuar com as crianças pequenas.
Dessa forma, identifica-se com o modo como historicamente a educação
é concebida, ou seja, está intrinsecamente ligada ao fazer doméstico. Por esse
viés, parece que o ensino infantil é desvalorizado, pois não há a necessidade de
utilizar os conhecimentos presentes no mundo acadêmico nesse tipo de
trabalho. “Embora a educação infantil seja parte integrante da educação básica,
sua especificidade é pouco reconhecida, para não dizer que é desconsiderada”
(NASCIMENTO, 2005, p. 107).
Atualmente, a LDB/1996 foca-se na questão específica dos professores e
procura valorizar o profissional, por meio de planos de carreiras, progressão
funcional, aperfeiçoamento contínuo, piso salarial, período reservado para
estudos, planejamento e avaliação dos conteúdos ministrados.
Para promover essa valorização, a legislação estabelece o regime de
colaboração entre União, Estados e Municípios, de modo que haja colaboração
entre eles para a organização de seus sistemas de ensino.
A esse respeito, Nascimento (2005, p. 105) afirma que “A questão, no
entanto, diz respeito à ausência de uma definição precisa das fontes de recursos
que farão com que a educação infantil efetivamente se constitua em um
atendimento de caráter nacional”.
Nesse sentido, notam-se avanços significativos em relação a pontos
sobre a educação infantil na LDB/1996. As suas especificidades denotam o
reconhecimento dessa etapa da educação, principalmente em se tratando do
modo como são expostos pontos importantes na legislação.
Desse modo, a legislação tem o intuito de formar cidadãos, mas há que
ter o cuidado para não escolarizar o ensino infantil, ou voltar-se ao
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assistencialismo. Logo, há a necessidade de trabalhar harmoniosamente com o
cuidar ao mesmo tempo que emprega propostas relacionadas ao educar.
A Constituição Federal de 1988 foi o primeiro documento a apontar a
educação como dever do Estado Brasileiro. Em 1990, o Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), foi criado para nortear novas concepções relacionadas
com a infância. Depois, surgiu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB),
promulgada em 1996, que determina sobre o sistema educacional brasileiro.
Suas orientações concernem ao modo como deve ser conduzido o ensino no
país.
Nesse contexto, notam-se avanços significativos em relação à concepção
relacionada com a criança, principalmente quando se refere às determinações
legais. Da Constituição de 1988 às Leis de Diretrizes e Bases de 1996, é notória
a preocupação em perceber as nuances direcionadas à educação de torná-la
obrigatória, com clareza e equidade para o ensino nacional.
Assim, o caráter doméstico e desprovido de profissionalismo é rechaçado,
ou seja, é orientado para o fazer, o trabalho, pelo viés pedagógico. As leis
mencionadas são referências bibliográficas imprescindíveis para compor seu
acervo profissional e orientá-lo em seu trabalho pedagógico.
Atividade de aprendizagem
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Aula 4 – As Diretrizes e o Referencial Curricular Nacional da
Educação Infantil
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Figura 4.1: Capa da Introdução do Referencial Curricular Nacional
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O termo empregado pelos seus autores é “construtivismo socialmente
determinado”, respaldado no construtivismo do desenvolvimento, do ensino e da
aprendizagem. Muitos pesquisadores, que avaliaram o referencial, comentam
que a sua base teórica é confusa e pouco aprofundada. Algumas vezes, as
abordagens são contraditórias, simplificadas ou até mesmo mal-empregadas.
Tais situações geram problemas de coerência e entendimento,
principalmente por dar a impressão de que o processo de ensino-aprendizagem
tradicional pode ocorrer antes do tempo da maturidade da criança (CERISARA,
2005).
A estrutura do documento apresenta-se da seguinte forma:
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e Brincar, que tratam de vivências relacionadas ao desenvolvimento afetivo e
global e seus esquemas simbólicos.
O terceiro volume intitulado “Conhecimento do Mundo”, é constituído
pelos temas: Artes Visuais; Língua Escrita e Língua Oral; Música; Matemática;
Natureza e Sociedade. As linguagens são escolhidas por representar parte da
produção cultural, enfatizando-se as diferentes linguagens em contato com a
cultura.
No que concerne à divisão em eixos de trabalho e em áreas, é priorizado
o aspecto cognitivo sobre os demais aspectos relacionados ao ser humano,
como ser integrado e único.
Esse rompimento pode levar ao equívoco de trabalhar com o
conhecimento de forma fragmentada, ou então, levar os profissionais da área
que atendem “crianças de 0 a 6 anos a usarem o documento ‘Desenvolvimento
Pessoal e Social’, e aqueles que atendem crianças de 4 a 6 anos o de ‘Ampliação
do Universo Cultural” (CERISARA, 2005, p. 32).
Os conceitos abordados no RCNEI propõem oportunizar práticas que
favorecem o pensar, o sentir e o compreender a realidade na qual a criança está
inserida.
No entanto, a sua estrutura baseia-se no modelo tradicional escolar,
pautado pelo modo instrumental de trabalho dos professores. E em cada eixo, o
documento organiza-se por meio de objetivos, conteúdos, critérios de avaliação
e orientações didáticas.
Assim sendo, os conceitos dessa organização podem levar o professor a
tratar as crianças como pequenos alunos e a exigir o comportamento e a
aprendizagem equivalente ao ensino fundamental, situação essa que fere o
desenvolvimento do infante.
No documento nota-se, ainda, o intuito de tratar a educação infantil da
mesma forma que a do ensino fundamental, ou melhor, foca-se o ensino e o
modo como se trabalha com essa etapa de desenvolvimento.
Contudo, tal concepção é um “[...] retrocesso em relação ao avanço já
encaminhado na educação infantil, de que o trabalho com crianças pequenas em
contexto educativo deve assumir a educação e o cuidado enquanto binômios
indissociáveis, e não o ensino” (CERISARA, 2005, p. 28).
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Logo, nessas concepções há especificidades claras que as distinguem,
mas que não são respeitadas, pois a educação deve focar o respeito às etapas
de desenvolvimento e criar situações lúdicas, prazerosas para que ocorra o
aprendizado pleno do sujeito.
Em vários trechos do texto é possível identificar a terminologia que dá a
impressão do desejo de promover a escolarização do aluno desde os primeiros
dias de vida.
Contudo, o eixo principal refere-se à criança e a todo o seu entorno, que
precisa ser acolhedor e criativo, sem a burocracia e o controle mantido pela
intervenção do adulto.
Quanto ao texto escrito, não há clareza em relação ao interlocutor, ou
seja, para quem foi escrito o documento? Em alguns momentos da leitura, dá a
entender que o destinatário é a equipe gestora, em outros parece que é dirigida
aos professores.
Assim, enfatiza-se a linguagem simplificada e o teor que se assemelha a
receitas que devem ser seguidas, e não promovem reflexões que favorecem o
aprendizado (CERISARA, 2005).
O referencial refere as concepções históricas da criança em um processo
histórico, a princípio destinado às famílias humildes. Anteriormente, o
assistencialismo estava fortemente presente, sendo que esse documento propõe
modificar tal conceito.
Para tanto, são necessárias reflexões sobre a criança e a classe social,
bem como a responsabilidade assumida pelo Estado e pela sociedade. Cerisara
(2005, p. 29), acerca do parecer, considera que:
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vontades e constrói a singularidade de sua história, sem deixar de ser criança,
independentemente de sua condição financeira, histórica, física, ou qualquer
especificidade pertinente a ela.
Fonte: PublicDomainPictures
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Há ainda concepções que concentram as práticas no aspecto emocional,
nesse caso, a cobrança recai sobre os profissionais, que são induzidos a ter a
mesma postura que os pais das crianças.
Em alguns casos, o foco das relações da criança é apenas o adulto, sem
o ampliar para outros contextos. Diante dessas concepções, observa-se um
contraste entre a relação do cuidar e a do educar: ora o cuidado é enaltecido,
num momento, ora o educar é reverenciado, no momento seguinte.
Para tanto, é preciso repensar as concepções de criança, como um sujeito
histórico e social que faz parte de um contexto familiar que, por sua vez, está
inserido em um contexto cultural e histórico.
Assim, além das características comuns às crianças, importa conhecer e
respeitar as particularidades individuais delas, no que se refere à forma única
como sentem e pensam o mundo.
A análise do processo histórico possibilita observar que, inicialmente, as
concepções do cuidar foram predominantes, pois a tônica era colocada no
assistencialismo.
O cuidado estava relacionado com atitudes, auxiliar as crianças nas
tarefas que não desenvolviam sozinhas, proteção, higiene e nutrição. Ora, tais
ações podiam ser executadas por qualquer pessoa, não necessitavam de
profissionalização para realizá-las.
No entanto, o ato de cuidar, entendido como elemento essencial na
interação com a criança pequena, possibilita criar vínculo afetivo.
Ao profissional da educação cabe desvendar as nuances que podem ser
expressas pelo aluno, por meio do cuidado, “principalmente, as necessidades
das crianças que, quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas
importantes sobre a qualidade do que estão recebendo” (RCNEI, 1998, p. 25).
Desse modo, ao perceber as pistas deixadas pelo infante, o professor
consegue perceber suas necessidades e avanços. Ademais, quando demonstra
gentileza ao ser solicitado pelos alunos, revela a importância de se respeitar as
dificuldades e necessidades do próximo.
Tal ação será enraizada no infante, uma vez que, ao aprender com os
exemplos dos adultos, os reproduzirá.
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Apesar da importância do ato de educar, pouco valor é dado ao
profissional que irá atuar nesse âmbito, como se não precisasse de formação
para lecionar para crianças pequenas.
Logo, “[...] não há consenso na área, se deve ser educador ou professor,
mas alguns chamaram a atenção para o fato de que a Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) define que todos os profissionais que atuam com crianças em creches e
pré-escolas deverão ser considerados professores, leigos ou não” (CERISARA,
2005, p. 30).
Percebe-se claramente a abertura de brechas na lei, para que algumas
instituições não tenham cuidados em relação ao grau de exigência na seleção
dos profissionais que atuam na educação infantil.
Dessa forma, percebe-se por meio da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) que
qualquer um pode atuar nessa área, pois é uma função ligada ao convívio
familiar, o que desconsidera a concepção pedagógica ligada ao educar e
reconhece somente o valor relacionado ao cuidar.
Quase sempre, essa visão leva os profissionais que atuam com crianças
a receberem salários inferiores aos demais professores, por não possuírem
formação equivalente à sua área de atuação.
Apesar da formação precária, quando existe, das pessoas que atuam na
área infantil, a instituição escolar e os pais exigem qualidade no trabalho delas,
e espera-se que seja oferecido às crianças conhecimento de qualidade e o
aprendizado seja significativo. A esse respeito, o RCNEI (1998, p.30)
complementa:
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Para isso, é necessário propiciar situações que levem à criatividade e
imaginação da criança, por meio da sua interação com o outro e com objetos
diferenciados, permitindo ampliar o conhecimento social, pedagógico, afetivo e
lúdico.
Nesse sentido, o Referencial (p. 23) explicita que “Na instituição de
educação infantil, pode-se oferecer às crianças condições para as
aprendizagens que ocorrem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações
pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas pelos adultos”
O educar compreende o modo como o professor planeja as atividades,
com o intuito de que seus alunos participem, de forma integrada, das atividades
que contribuem para o aperfeiçoamento de habilidades de relacionamento, ou
seja, aprender a aceitar, respeitar, confiar e interagir com o próximo.
Esse aprendizado volta-se para o âmbito social, logo, o educar integrado
ao cuidar envolve a integração de profissionais de diferentes áreas do
conhecimento. Esse entendimento é corroborado pelo RCNEI (1998, p. 24), ao
complementar que:
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Nesse momento, a criança constrói o conhecimento, e o internaliza por
meio das práticas criadas, amplia sua concepção e vivências relacionadas ao
mundo. Tais contribuições favorecem a formação de crianças felizes e
saudáveis.
Glossário
Ressignificar: atribuir um novo significado a; dar um sentido diferente a alguma
coisa.
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Características das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil
Glossário
Quilombola: pessoa escrava que, sendo privada de sua liberdade, submetida à
vontade de outra pessoa e definida como propriedade, se refugiava no quilombo,
local que abrigava escravos fugidos.
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Com a proposta objetiva-se “[...] estabelecer as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil a serem observadas na organização de
propostas pedagógicas na educação infantil” (DCNEI, 2010, p. 11). Nela é
ressaltada a importância de estar em consonância com as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Básica e com as legislações estadual e municipal,
com vista a tornar a proposta equânime.
As DCNEI regulamentam o espaço de atendimento da educação infantil,
como um local institucionalizado não doméstico, que precisa ser supervisionado,
com regras claras e específicas sobre o local.
A faixa etária atendida nesses ambientes passa a ser de crianças de 0 a
5 anos de idade, no período diurno, parcial, com no mínimo 4 horas diárias e
integrais acima de 7 horas.
Nas DCNEI (2010, p. 12) fica explícito que “É dever do Estado garantir a
oferta de educação infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de
seleção”.
Na resolução referida, a criança é entendida como sujeito histórico e de
direitos, que se desenvolverá por meio de vivências, interações e brincadeiras.
E o currículo passa a ser entendido como uma forma mais abrangente, levando
em conta os conhecimentos prévios provenientes das vivências trazidas pela
criança que serão somados ao conteúdo sistematizado oferecido pela instituição
de ensino. Porém, os conceitos não se anulam e essas duas formas se
complementam para favorecer o aprendizado do sujeito em sua integralidade.
As propostas pedagógicas da educação infantil devem contemplar os
princípios éticos (correspondem ao respeito à identidade e singularidade da
criança, por meio das manifestações culturais, religiosas, etc.), políticos
(concernem ao direito à cidadania, à ordem e à democracia) e estéticos (referem-
se à liberdade de expressão e manifestação cultural).
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A proposta pedagógica precisa oferecer meios, espaços, tempos e
materiais para oportunizar o cuidar em harmonia com o educar, bem como
maneiras para o desenvolvimento integral do sujeito em todas as suas
dimensões, respeitando as singularidades de cada faixa etária, através do
contato com materiais diferenciados e do acesso a locais distintos dentro do
âmbito escolar.
Em relação às especificidades das crianças, sejam elas do campo,
indígenas, ou de qualquer etnia, faz-se necessário respeitá-las e valorizar sua
cultura, sem as expor a situações constrangedoras.
Nas DCNEI o brincar e as interações são fatores importantes relacionados
ao desenvolvimento do sujeito, pois as contribuições dessas atividades
favorecem seu aprendizado. Assim, por meio das brincadeiras, e das inúmeras
situações apontadas, é possível verificar o desenvolvimento do indivíduo.
Tal momento pode ser avaliado, mas não no sentido de promoção,
seleção e classificação. O importante é registrá-lo por meio de fotos, relatórios,
desenhos, etc.
Dessa forma, há subsídios para avaliar o trabalho da instituição e
demonstrar a aprendizagem da criança, propiciando os meios para o seu
desenvolvimento, sem que haja antecipação dos conteúdos relacionados ao
ensino fundamental.
Para a elaboração das DCNEI, foi estabelecida a colaboração mútua com
a Universidade do Rio Grande do Sul, a fim de construir um texto-síntese com
ponto básico, para apresentar a estudiosos da área da educação e depois ser
levado ao debate que aconteceria em audiência pública.
Logo, percebe-se a intenção de elaborar uma proposta que tivesse a
contribuição de conhecedores da área, com o intuito de se pensar em conceitos
relevantes para o ensino dessa faixa etária.
Assim, o Referencial Curricular Nacional (RCNEI), como primeiro
documento da área da educação, surge com o objetivo de romper com o modo
como era entendida a educação infantil, e de atender a demanda das pessoas
que atuavam na área, sendo sua intenção propiciar modificações no que tange
à concepção de infância dentro da instituição de ensino.
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No entanto, alguns pontos divergentes no documento, mostram a
necessidade de mais debates e estudos para avançar, pois essa área está ainda
em construção.
No documento é possível verificar que o Estado se responsabiliza pela
educação infantil, um avanço marcante na história do Brasil que irá promover a
reformulação das concepções assistencialistas, e dar os primeiros passos para
formar o conceito do educar concomitante com o do cuidar.
Ademais, ainda existem alguns pontos que precisam ser revistos, como a
antecipação do ensino fundamental aplicado ao infantil, retirando da criança o
direito de desenvolver-se em sua plenitude, de forma integrada com seus pares
e vivenciar as particularidades próprias da infância.
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNEI), elaboradas por estudiosos
no assunto, surgem como alento ao ensino infantil, ao proporem concepções
mais atuais e maduras sobre o ensino na primeira infância e repensarem o modo
como alguns conceitos e práticas são aplicados no âmbito escolar.
Além disso, orientam reflexões acerca do ensino direcionado à tenra
idade, deixando clara a intenção desse documento em garantir que as
especificidades da educação infantil sejam vivenciadas de forma saudável pelos
pequenos sujeitos.
Atividade de aprendizagem
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Referências
ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC,
2006.
_______. et. al. (Orgs.). Infância e educação infantil. Campinas: Papirus, 1999.
28
OSTETTO, L. E. Saberes e fazeres da formação de professores. Campinas: Papirus,
2008.
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Currículo da professora autora
Grazielle Tavares
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