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Resumo
Sarmento (2005) aponta que foi a propagação do saber, a difusão das escolas tendo
como principal foco o ensino das crianças que iniciou o processo de institucionalização
da infância. A construção simbólica em torno da infância é uma demanda da
modernidade, tendo como objetivo a disciplinarização. Este artigo problematiza sobre
os processos simbólicos de controle social e de exercício do poder com relação à criança
em estabelecimentos existentes na passagem do Império para a República. (FOUCAULT,
1993). O foco de análise está centrado nas práticas educativas de três estabelecimentos
de ensino, o Asilo de Santa Teresa, a Casa de Educandos e Artífices e o Jardim-de-
infância Caetano Campos. Observa-se que, mesmo no jardim-de-infância que tinha uma
proposta pedagógica bem definida como base no teórico Friedrich Frobel, as ações
educativas nos estabelecimentos de ensino vinculam-se ao controle de tempo para vida
produtiva da criança, com foco na docilidade do corpo.
1. Infância e escola
mais bem evidenciadas no fim do século XVI e durante o século XVII, quando “(...) os
sinais de seu desenvolvimento tornam-se particularmente numerosos e significativos”.
(p.28). Este período é muito importante, pois se torna um marco para o sentimento 1 em
relação à criança.
Foi na Reforma com o puritanismo que se começou a questionar sobre a
natureza da criança e seu lugar na sociedade, contudo ainda se convivia com diferentes
valores em respeito à criança, haviam aqueles que as consideravam como fardos e as
associavam à encarnação do pecado original, opinião crescente, também, entre os
católicos. Mesmo assim, havia uma corrente que insistia que a criança era merecedora
de atenção e que esta deveria ser preocupação do campo educacional. (Heywood, 2004)
Gagnebin (1997) aponta a existência de duas formas de entendimento sobre
a infância, na primeira “[...] a infância é um mal necessário, uma condição próxima ao
estado animalesco e primitivo, e que como as crianças são seres privados de razão elas
devem ser corrigidas nas suas tendências selvagens, irrefletidas e egoístas.”
(GAGNEBIN, 1997, p. 85). Essa visão possui sua origem no pensamento de Platão e
chega com bastante força na pedagogia cristã e no racionalismo cartesiano. A segunda
visão também originaria em Platão atravessa o renascimento com Montaigne e nos
alcança com os escritos de Rousseau, afirmando que é inútil “encher as crianças de
ensinamentos, de regras, de normas, de conteúdos”. (p. 85). Aqui a educação deveria
ser entendida como um ato de amor em relação ao respeito às faculdades naturais da
criança.
Em ambas perspectivas a palavra infância não se relaciona a certa idade, mas
“[...] àquilo que caracteriza o início da vida humana: a incapacidade, a ausência de
fala (do verbo latim fari, falar, dizer, e do seu particípio presente fants). A criança, o
in-fans, é primeiro aquele que não fala, portanto aquele animal monstruoso”
(GAGNEBIN, 1227, p. 87).
Para Gagnebin (1997) e Monacorda (2002) Jean Jaques Rousseau (1712-
1778) revolucionou a pedagogia com sua representação sobre a infância,
A educação para a criança brasileira neste período era uma proposta que se
desenvolvia em diferentes espaços educacionais, tais como: instituições do tipo
internato para crianças abandonadas e pobres, escolas públicas primárias, escolas
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De acordo com Rizinni (2004), crianças indígenas ou filhos de escravas libertas também
freqüentaram estes estabelecimentos.
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Substituiu a Casa de Recolhimento de Nossa Senhora da Anunciação e Remédio. Oferecia meios para que as
meninas se tornassem futuras mães de família, garantindo seu lugar na sociedade. Obtinham instrução sobre educação
para o lar.
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Instituição onde meninos pobres recebiam instrução primária, musical e religiosa, além de aprenderem ofícios, tais
como: sapateiro, alfaiate, marceneiro, carpinteiro, entre outros
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Criado em 1896, na cidade de São Paulo, anexo à Escola Normal do estado.
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trabalho de oficinas para todos os mais; 11:00 Continuação do trabalho nas oficinas para
todos, inclusive os que freqüentarem as 2ª e 3ª aulas; 12:00 - Jantar e descanso;15:00 -
Trabalho nas oficinas para todos; 16:00 - Aula de música e, depois trabalho nas
oficinas, 18:00- Recreio; 19:00- Estudo e recordações das lições ceia, oração e
recolhimento ao dormitório. Ensino da doutrina cristã, somente nas segundas, quartas e
sextas.( Regulamento da Casa de Educandos Artífices, 1855).
A organização da rotina dentro das instituições já vinha claramente exposta
nos seus regulamentos ou regimentos internos. Ou seja, era uma lei, norma, que não
deveria ser questionada. A execução das atividades, segundo critérios pré-estabelecidos
de acordo com a partição do tempo, servia para orientar não somente as crianças, mas
para estabelecer um melhor controle dos seus movimentos. A função maior era o
adestramento por meio da correta disciplina, para tanto o poder disciplina utiliza-se de
instrumentos.
Na Casa de Educandos Artífices, os alunos eram divididos por seções de
acordo com a idade, e a inspeção deles era realizada por cabos e agentes, estes
escolhidos entre os alunos. (CASTRO, 2007, p. 209).
De acordo com Gondra (2004) o controle da sexualidade estava presente nas
instituições de forma muito clara e fazia parte do modelo higienização discutido pela
classe dos médicos. No caso dos meninos, “[...] era preciso que os alunos fossem
inteiramente separados segundo o grau de sua idade e que não se encontrassem nem nas
refeições, nem nas recreações, nem nas salas dos estudos, e muito menos ainda nos
dormitórios.” (GONDRA, 2004, p, 454). Afirma ainda o autor que o projeto de fundo
dessa política higienista assumida nas instituições, era bem mais amplo e visava à
constituição de uma sociedade moralizadora.
Quadro 2 - Sinais para organização do tempo segundo atividades que deveriam ser desenvolvidas na
Casa de Educandos Artífices.
3 Conclusão
crianças não estarem mais nas ruas ou em casa sem perspectiva de vida, tornava estas
instituições fundamentais para o progresso e organização da sociedade.
REFERÊNCIA