Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA

PRO - REITORIA DE GRADUAÇÃO - PROGRAD


COORDENAÇÃO DE PROJETOS ESPECIAIS
PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE ROFESSORES

CURSO DE PEDAGOGIA

Discente: IARA SANDRA FERRAZ BRITO

RESENHA: Infâncias; cidades e escolas amigas das crianças;


Educação Infantil a partir das políticas públicas: Conceito e
Obrigatoriedade; A proteção da Infância no Brasil: Uma Visão crítica
das relações intergeracionais.

ITAPETINGA-BA/outubro- 2023
Destaca-se que a escola deve garantir o direito da educação a todo e
qualquer cidadão independentemente do pertencimento étnico-racial, sua
crença religiosa ou posição política. Com isso, a escola como uma instituição
social tem a obrigatoriedade de incluir no seu currículo as relações étnico-
raciais e a educação fornecer materiais didáticos apropriados para que o
educador possa trabalhar com essas questões na sala de aula.

Visto que o termo “Infância” é derivado do latim e significa ausência de


fala, ou seja, representa aquele que não tem voz dentro da sociedade. A
emergência do termo infância, tal qual o compreendemos nos dias de hoje, se
dá no século XVI e consolida-se no século XVII. Os estudos sobre a história
social da infância se iniciam através do trabalho do historiador francês Phillippe
Ariès em sua produção intitulada “História social da criança e da família”
(2018). Ariès aponta que a concepção de infância não é um conceito abstrato e
universal, mas advêm de uma longa construção histórica.

Assim sendo, a concepção de infância inexiste antes do século XVII,


tanto que durante muito tempo a criança foi tratada como um adulto em
miniatura. Ariès (2018) baseou seus estudos nas observações e nas
“transformações contemporâneas dos modelos familiares”, através da literatura
e de documentos iconográficos, ele observou que em pinturas antigas as
crianças eram registradas com expressões faciais e roupas semelhantes aos
dos adultos, sendo a estatura a única característica que permitia diferenciá-las
destes, além disso, o pesquisador identificou também através das pinturas que
as crianças frequentavam os mesmo espaços que os adultos demonstrando
que não havia uma preocupação da sociedade em privá-las de determinados
contextos e situações.

Enfatizam que o Brasil é um país que ainda persiste um imaginário


étnico-racial que valoriza a brancura existente na cultura desvalorizando as
outras origens. Sendo assim, a escola surge como uma aliada nesse processo
de formação diversa em que a criança utiliza e manuseia diversos materiais
didáticos que não apresentam a cultura branca como majoritária, mas sim
demonstram a diversidade que existe em nosso país. As existências desses
materiais didáticos na sala de aula funcionam como um verdadeiro aliado do
educador no processo de ensino-aprendizagem e funciona também como
instrumento de interação de saberes que resulta como produtor ou reprodutor
de um povo na sua cultura. Pois:

Acredito que, na medida em que a compreensão da diferença como


uma nova contribuição e não como desigualdade se estabeleça, os
mecanismos de invisibilidade e recalque das diferenças se
fragmentarão e a população negra, dentre outras, encontrará na sua
própria história e cultura os elementos de reconstrução da sua
identidade, autoestima e cidadania (SILVA, 2011, p.24).

Neste período, a escola era responsabilidade da Igreja, era dirigida a


uma minoria (eclesiásticos, religiosos e famílias que podiam pagar a um
professor). Às meninas e aos mais pobres era destinada a educação
doméstica, sem uma instrução organizada. Aprendiam-se conteúdos diversos,
ofícios manuais e regras sociais e em ambientes distintos (ruas, famílias,
trabalho), mas não aprendiam a escrever e quase nunca a ler.

As relações entre crianças, jovens, adultos e velhos se fundamentavam


em grupos de idade o que leva à questão da classificação das idades da vida,
estabelecidas a partir dos ciclos da natureza e da organização da sociedade,
portanto correspondiam às etapas biológicas e funções sociais (ARIÈS, 2018).

Pressupõe que devido à alta mortalidade infantil causada pela


precariedade de higiene e falta de tecnologia médica os adultos evitavam
apegar-se às crianças, tanto que, documentos antigos não citam nomes de
crianças ou sequer fazem referências a elas durante muito tempo, nas artes
percebe-se a relação com a mortalidade através de pinturas de crianças
mortas.

Vale ressaltar que na sociedade medieval assim como não existia a


noção de infância também não existia o sentimento da infância, e da
particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, ou seja, não
existia uma consciência coletiva sobre as particularidades da infância, no
entanto, isso não significava que as pessoas não dedicavam afeto às crianças
“a maneira de ser das crianças deve ter sido sempre encantadora às mães e
às amas, mas esse sentimento permanecia ao vasto domínio dos sentimentos
não expressos” (ARIÈS, 2018 p.101). Tão logo que a criança tivesse condições
de não depender dos cuidados da mãe era inserida entre os adultos e em suas
atividades não mais se distinguindo deles.

Essa consciência coletiva acerca da infância surge segundo Ariès (2018)


em fins do século XVI e, sobretudo no século XVII em decorrência dos
sentimentos que emergem em relação à criança e a infância. O
reconhecimento do prazer provocado pelo jeito de ser da criança que resulta
em um sentimento denominado “paparicação”, de outro lado à expressão de
um desprazer, de uma “irritação” e até mesmo hostilidade, em relação à
criança,

Compreende – se então, que a concepção de criança, infância e


cuidado passou por alterações significativas dentro da sociedade, passando de
um período em que a noção de criança e infância eram inexistentes e as
crianças eram percebidas e tratadas como adultos em miniatura para um
período em que o sentimento de infância passa a existir trazendo consigo a
necessidade de dispensar um tratamento diferenciado às crianças, sendo
assim, foi basicamente no século XIX que a criança ganha um estatuto
diferente do adulto, passando a ter um papel central na família e na sociedade,
ou seja, a criança ganha visibilidade, tanto que, entre o final do século XIX e
início do século XX, várias áreas do conhecimento, como a Pediatria, a
Psicologia e a Pedagogia, passaram a estudar e buscar conhecimento acerca
da criança, tornando o cuidado cada vez mais especializado (FLACH E SORDI
2007).

Analisar sobre as distintas práticas sociais e produções culturais


relacionadas à criança e as representações sobre a infância existentes, é dar
continuidade ao estudo que foi iniciado por Ariès, superando algumas de suas
limitações e buscando identificar as diversas configurações que a infância
assume em diferentes espaços e tempos sociais.

No campo pedagógico com forte influência da psicologia prevaleceram


em confronto dois modelos de compreensão da infância. Inicialmente, um
desses modelos analisa a infância a partir das características remetidas ao
adulto, buscando desenvolver nas crianças padrões de comportamento que as
aproximem do comportamento adulto, reprimindo manifestações infantis que
são representadas como expressões de sua imaturidade.

Compreende-se a infância como um período de fragilidade moral, onde a


criança pode aprender más condutas, portanto cabe ao adulto a
responsabilidade de fazer com que os bons valores prevaleçam, partindo desta
perspectiva cabe ao adulto transmitir ás crianças os preceitos morais, que vão
modelar seus hábitos e condutas, através da educação baseada no
adestramento (GOUVÊA, 2000).

Num segundo ponto de vista (GOUVÊA, 2000) que exerce influência


sobre o pensamento psicopedagógico, não se baseia na incompletude e
imaturidade da criança, mas na especificidade da infância. Esta maneira de
pensar sobre a infância se iniciou a partir do início do século XX, com destaque
para os autores Claparède, Dewey, Montessori e Binet, que defendem um novo
olhar sobre a criança, como um ser diferente do adulto, criticando o modelo
anterior de compreensão da criança. Como afirma Dewey(1978, p.50): “A
fraqueza da educação antiga estava nas suas irritantes comparações entre a
imaturidade da criança e a maturidade do adulto, considerando aquela como
alguma coisa de que nós tínhamos de libertar tanto quanto possível e tão cedo
como possível”.

Logo, Gouvêa (2000) salienta que a criança passa a ser vista pela
dimensão do novo, como um ser que possui a energia vital para romper com o
velho, a criança passa a ser vista também como expressão de afetos e
sentimentos valorizados no código dos comportamentos sociais que conferem
à infância um significado diferente do anterior em que se pensava que as
crianças deveriam ser domesticadas e disciplinadas.

De acordo com Gouvêa, a concepção de infância utilizada no campo


psicológico atualmente e que exerce influência nas práticas pedagógicas
escolares, pode ser compreendida na fala de Dewey (1978, p.46): “A criança é
o ponto de partida, o centro e o fim. Seu desenvolvimento e seu crescimento o
ideal. Todos os estudos se subordinam ao crescimento da criança: só tem
valor quando sirvam às necessidades desse crescimento”.

REFERÊNCIAS

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de


Janeiro: Zahar Editores, 1978.
REDIN, Euclides, O espaço e o tempo da criança. 3ª ed. Porto Alegre:
Mediação, (2003).
RABELLO, Lucia de castro. A proteção da Infância no Brasil: Uma visão
crítica da relações intergeracionais.Rio de Janeiro 2017.
CHAVES, Maria Pereira. Educação Infância a partir das políticas públicas:
Conceitos e Obrigatoriedade. AUTHORSHIP.

Você também pode gostar