Você está na página 1de 26

A descoberta da Infância

As ideias e noções sobre a infância e a criança são


construções históricas.
 São diferenciadas dependendo do tempo em que as
mesmas foram se delineando.
Podemos afirmar que a ideia sobre a infância como um
tempo de vida diferente dos demais foi forjada
historicamente.
 Durante séculos, a noção de criança se restringia a um
período de tempo de vida na continuidade biológica
das gerações.
A descoberta da infância
A ausência de um sentimento de infância, tal como o
conhecemos hoje, atravessou a história da humanidade.

 Foram registradas épocas de grande abandono e


mortandade das crianças.

Nas sociedades antigas, o status da criança era nulo.

 Sua existência no meio social dependia inteiramente da


vontade do pai.
Crianças pobres ou deficientes podiam ser
abandonadas ou até sacrificadas pelo seu genitor.
O infanticídio era prática comum.
 O infanticídio era incentivado, inclusive como
proposta política de controle populacional.
Fase da vida humana ignorada.
Considerada de forma indiferenciada do adulto.
Participavam da vida dos adultos sem restrições de
cenas de sexo ou agressão.
Idade Média
Ausência de representação da infância.
Não havia lugar para a criança nesse mundo.
Representados como adulto em miniatura.
Até século XIII, não existia representações de
crianças .
As crianças eram homens reduzidos.
Idade Média
Não havia, em separado, um mundo da infância.
As crianças compartilhavam os mesmos jogos com os
adultos, os mesmos brinquedos, as mesmas histórias de
fadas.
 Viviam juntos, nunca separados.
“A festa vulgar de aldeia pintada por Brueghel, mostrando
homens e mulheres embriagados, apalpando-se com
luxúria desenfreada, inclui crianças comendo e bebendo
com os adultos.”
Brincadeiras de criança- Bruegel: as crianças
representadas como adultos em miniatura.
Tal indiferenciação incluía assumir o papel de um ser
produtivo direto nas sociedades em que viviam.
Até o Século XII, de acordo com Ariès (1981), a idéia de
infância, tal como a conhecemos hoje, era impensada.
A criança era considerada apenas um prolongamento
da espécie.
 A sua existência era efêmera (em função do alto
índice de mortalidade).
 As criações artísticas não retratavam a imagem
corporal de crianças.
• No seculo XIII surge alguns tipos de representações como anjo.
1) Anjos adolescentes. Mas era raro.
2) Figura de Jesus
3) A criança nua

• Se prolongou os temas religiosos.


• Criança representada acompanhado em cenas de anedotas

Até o Século XV:


 noção de infância, como um membro e prolongamento da
linhagem.
 tempo de vida necessário à continuidade biológica das
gerações.
Idade Média
Na Idade Média não há indícios de ensinamento de
hábitos de higiene nos primeiros meses da vida do
bebê.
Não havia nenhuma relutância em discutir assuntos
sexuais na presença das crianças.
A ideia de esconder os impulsos sexuais era estranha
aos adultos, e a ideia de proteger as crianças dos
segredos sexuais, desconhecida.
"Tudo era permitido na presença delas: linguagem
vulgar, situações e cenas escabrosas.
Idade Média
Na Idade Média era bastante comum os adultos
tomarem liberdades com os órgãos sexuais das
crianças.
Para a mentalidade medieval tais práticas eram apenas
brincadeiras maliciosas.
Como Aries observa: "A prática de brincar com as
partes íntimas das crianças fazia parte de uma tradição
largamente aceita...“( Hoje essa tradição pode dar até
trinta anos de prisão.)
Idade Média
 A falta de alfabetização, a falta do conceito de educação, a
falta do conceito de vergonha - estas são as razões pelas
quais o conceito de infância não existiu no mundo
medieval.
A vida era dura.
Alta taxa de mortalidade infantil.
Devido a incapacidade de sobrevivência das crianças, os
adultos não tinham, com elas o envolvimento emocional
que aceitamos como normal.
 O ponto de vista predominante era o de ter muitos filhos
na esperança de que dois ou três sobrevivessem.
Idade média
No mundo medieval a criança é invisível.
Falta de interesse pelas crianças.
As pinturas retratavam as crianças como adultos em
miniatura.
 As crianças vestiam-se exatamente como outros homens e
mulheres de sua classe social.
A linguagem de adultos e crianças também era a mesma.
A maioria das crianças não ia à escola, já que não havia
nada importante para lhes ensinar.
As meninas - velázquez (1656). Museo del Prado,
Madri, Espanha
Renascença
A partir do Século XV, durante a Renascença:
• Aparecem 2 tipos de representação : o retrato e o putto.

• Antes não se retratavam pelas perdas que sofriam. Não apegavam


as crianças.
 As crianças eram representadas nas obras de arte, como como
anjinhos, representando o ingênuo, o inocente, o bom e o puro.

Tal imagem de criança revela o tempo da ausência de moral e de


pudor a ser conquistados, na fase adulta, e nunca mais perdidos.
Representação da infância na renascença.
A criança, concebida como naturalmente pura, frágil e
inocente.
 Incapaz de pensar por si própria, de realizar
movimentos de criação.
 Incapaz de ter identidade própria.
Esse “anjinho” em forma de criança seria concebido
como um vir-a-ser.
Uma promessa de futuro, que só se “completaria”
quando se tornasse adulto.
Sendo uma promessa de futuro, as crianças não
tinham como ser representadas por elas próprias.
Os artistas, ao retratá-las, não as diferenciavam dos
adultos, pois não havia uma imagem social para as
crianças.
Os registros iconográficos dos Século XVI e XVII
revelam os traços de indiferenciação das crianças dos
adultos.
Século XVI ao SéculoXVII.
Crianças representadas ao lado de sua família.
Seculo XVII: criança passa a ser representada sozinha
em forma de retratos em pinturas.
As famílias começam a querer ter o retrato do filho na
infância.
Século XIX: a pintura é substituída pela fotografia,
mas o sentimento é o mesmo.
Século XVII: O putto
- Retrato de crianças nuas.
Século XVII
O vestuário infantil se diferenciou dos adultos.
 No final do século dezesseis o costume exigia que a
infância tivesse roupas especiais.
 Diferença no traje das crianças, bem como a diferença
na percepção adulta das características físicas das
crianças.
As crianças não são mais representadas como adultos
em miniatura.
 A linguagem das crianças começou a se diferenciar da
fala dos adultos.
Século XVII
No século dezessete a cada filho era dado um nome
exclusivo, quase sempre determinado pelas
expectativas acalentadas em relação à criança.
A infância e a idade adulta se tornaram cada vez mais
diferenciadas.
 Passou-se a aceitar que a criança não podia
compartilhar e não compartilhava a linguagem, o
aprendizado, os gostos, os apetites, a vida social, de um
adulto.
Século XVII
A aprendizagem na escola identificou-se com a
natureza especial da infância.
 "Grupos etários ... são organizados em torno das
instituições", observa Aries.
Na década de 1850 , no mundo ocidental a infância era
tanto um princípio social quanto um fato social.
Século XVIII
Surge a família nuclear burguesa:

 Amor romântico
 Invenção da maternidade.
 Invenção da Intimidade. Espaços íntimos para a
família, casal e criança.
 Papéis bem definidos de pai, mãe e filhos.
Configuração hierárquica.
Século XVIII
Surge a Infância : tempo separado da fase adulta, que
deve ser protegido.
Vestimentas próprias para criança.
Linguagem adequada.
Escola por faixas etárias.
Espaço íntimo do casal separado do espaço infantil.
A criança representada como criança em seus retratos.
Pierre Auguste Renoir - Rosa e Azul (As Meninas Cahen d´Anvers), 1881 – óleo
sobre tela - 119 x 74 cm – Masp (Museu de Arte de São Paulo, Assis
Chateaubriand, Brasil)
Referências
ARÌES, Phillipe. A história social da criança e da
família. Rio de Janeiro, LTC, 2006. ( cap 2)
POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância, Rio
de Janeiro, Ed. Graphia, 2012 ( cap 1 e 3)

Você também pode gostar