Você está na página 1de 328

A Q U I L I NO RI B I RO E

e
sº e
!!

J ard i m E
d as

T o r m e nt a s
Pr e fac i o de MAL H ER I O D I AS

I IL L I U D, AL V S E C
" FRANC I SC O AL V S E C

ER
P AR SI
E96
RI O D EA mE
IR O
J N
96 , BOU L VA D MO N TP ARN ASS , 1 66 , R U A D O o u v o n, 1 66

(L I V RA RI A A I L L A U D) S PAU LO
E E
.

LI S BO A 65
E HO RI ! O N T E
65, RU A D 8 . B N TO,

73, R U A G A R RBT T , 7 5 B LL O
E
( L I VRA RI A B RT R A N D ) 1 055 , RU A DA B A HI A , 1 055
FRA U DR EE
M
. TI D AN N ,

FRA U L E G EET EE
IN M R T I D AN N ,

DR . TI EE
M D AN N

i n h er z l ic her ! u n ei g u n g der Verf asser .


E
P R FA C I O

Ao sr . A q u i l i no Ri b ei ro .

Ac ab o de voltar l entamen te a u lti ma p agi n a


, ,

do seu livro c omo se m e desp edi sse c om sau dade


,

E
de algu em C on servo ai n da vi v as as i n t ell ec tu aes
.

emo ç õ es q u e a su a art e m e prov oc ou st a ru ma .

de p agi n as hu mi das do prel o c on si dero a c omo


, ,
-

u m org an i smo an i m ado p el os seu s p en sam ent os e

ap p ar at osam en t e v esti do p el a l u xu osa b ell ez a da

su a art e U m l i vro s l assi m é q a si c o mo


.
q u e e eu u

u m a m u lh er
q u e se p o ssu i u em c u j as t em p or,
a s e

em c u j o p ei to sob os n ossos l abi os sen ti mos p al


, ,

pi tar as art eri as e arf ar os p u l m õ es P osso dizer l h e



.

de m emo ri a o s sí ti os mai s b ell os da su a obra on de ,

m eu s olhos se demoraram c om m ai s regozi j o c omo ,

u m am an t e sab e l embr ar se das m ai s harmoni o sas -

c u rv as dos m ai s dô c es b ei j os das m ai s i n ebri antes


, ,

c arici as entrevi stas servi dos e p arti lhadas em u m


, ,

l i n do c orp o desej ado .

D ep oi s p or é m q u e desde a f olh a pri mei r a a


, ,

de rradeira f olh a os meu s olhos i n dagador es


, ,

ac o mp an h ados p el o m eu espí ri t o en l ev ado p e r ,

c orreram estas trezen t as p agi n as on de mi l sab ores


di v ersos se mi stu ram u ma i dé a sobre t odas as , ,
VI I I J A R D IM DAS TORMENT AS

mi nhas çõ es de l ei tu ra me ob si di a ll a é
sen sa , . E
de q u e o l ei tor do seu livro se i mp ortar á b em
men os de sab er o q u e p en so das su as su p eri or es
apti dõ es de litt erat o do e de c on h ec er os m oti
q u ,

v os q u e p u der am c on du zi l o a solicit ar m e este


'
-

pr efaci o di sp en sav el c on c eden do me a hon ra de


,

E
o tr az er p el a mi n h a mã o ob scu r a ao prosc eni o das

l ettras vi dent ement e n ã o foi a au ra de u m


.
,

n ome c on sagr ado t an to mai s q u e o j acto el ec


tri c o da c el ebri dade h oj e só ill u mi n a n o t abl ado
os C ag li ost ros e os Fra Di av ol os da —

q u e em mi m pr ocu rou p ar a adorn o do seu livro ,


q u e d e t al en f ei te n ã o c areci a, t ã o su mptu osa
men t e o tr aj ou de estyl o a su a art e exí mi a de escu l

E
p t o r de p ensam en tos .

n t ã o p orqu e? ,

P orqu e en tre os t an tos q u e n a su a esti ma convi


,

v em m e esc olh eu a mi m esqu eci do n ov elli st a


, ,

roman tic o p ara q u e as mi nh as p al avras c ou b es


,

sem n o m esm o livr o p ert o das su as? P orq u e h av e

mos n ó s doi s de n os darmos as m ã os n o atri o deste


vol u me? Porqu e acci den tados si nu osos c ami nhos ,

an dou a su a sy m at h i a atr á s de mi m p ar a me
p
en c on tr ar n est e i sol amen t o agr est e em q u e vivo ?

Q u e hou v e q u e h a q u e hav er á de c ommu m entre


, ,

o s n ossos desti n os app ar en t emen t e c on t radi c t o


,

ri os p ara q u e assi m t enh amos de app arec er j u n


,

t os n u ma alli an ca i nv erosí mil p eran te os q u e o


, ,

a ffag am e me i n j u ri am di an t e dos q u e o l ou v am ,

e m e ag g ri dem em f ac e dos q u e o exal ç am e m e


,

depri mem ? C omo v ae ser p ossív el expl i c ar a i n to


l eran ci a dos meu s detractor es q u e sã o o s seu s

ap ol ogi stas est e enx erto h b ri do do pr ef aci o


, y
PRE FAC IO IX

E
de m sobr eviven t e do p assado n o livro de u m
u

pri mogenito do fu tu ro ? se esqu ec ermos a esc an ,

dali sada pl atea em b orb ori n h o on de avu ltam os ,

c onv erti dos S P au l os do regi men e p eran te a qu al


.
,

c omp arec emos p ara só a n ós propri os n os i nterr o


,

arm o s c omo h av eremos amb os exig en t es c om o


g , ,

somos de v erdades admi ssív ei s de j u stifi c ar est a ,

ap p roximaç ã o i l ogi c a?
Di r se i a a u m pri meiro
— —
,
p er fi ci al exame e su ,

q u e as n ossas exi st en ci as p or segu i rem t raj ect ori as


di v ersí ssi mas n u n c a se en c on tr ari am
,
,

c omtu do . E ,

ei s n os aqu i
-
fratern al men te j u n tos
, e est a fra

terni dade n ã o é a de Ab el e C ai m P orqu e? .

E
N enhu m de n ó s fez á s su as op i ni õ es o mi ni mo
sacri fi ci o em b en efi c i o dest a c amaradagem u .

m e c onserv o fi el ! s c onvi cçõ es em q u e se edu c ou


o meu esp í ri to e n ell as v en ero u m p atri mon i o
,

f ami li ar O sr Aqu ili n o Ri b eir o n ã o n ec essi ta


. .

de q u e eu v enh a serv i r de fi ador a c on stan ci a


i n q u eb ran t av el da su a fé de r ev ol u ci on ari o Hoj e .
,

c omo q u an do h a doze ann os ai n da vibrando a ,

dec epç ã o dol orosa q u e a mi n ha j u v en il i ni ci aç ã o


n a p oli tic a me c u stá ra escr evi a Os Tel l es d A l
'

b er g ar í a t u do o q u e em mi m rac i oci n a en c ara


,

as r ev ol u ç õ es feit as de b ai xo p ar a ci ma c omo

modos i níqu os de su bvert er o q u e n ã o se sab e


c orr i gir Fiqu ei sen do i rr edu cti v el men t e u m p ar
.
, ,

t i dari o da forç a c onsci en te da i n telli g en c i a c on


'

t ra a i n t elli gen c i a c ega da forç a Deb al de t en h o .

procu r ado n as mi nhas p esq u i zas de Hi stori a


, ,

c on statar a p seu do-v erdade de q u e os b en e fí ci os


deriv an tes das r ev ol u çõ es c omp ensam as c al ami
dades q u e origi n am As r ev ol u ç õ es mesmo as
.
,
X J A R D IM DAS TORMENT AS

m ai s p ac í fi c as ap p arec em m e p u l u l an do de u m a
,
-

fau n a m oral aterradora Para as f éras q u e ell as


.

ger am ac ab a sempr e p or ser preci so q u e a Pro


,

v i den c i a cri e u m p oi s q u e j á n ã o des


c em a t err a os Orph eu s .

I sto l h e n ã o v en ho diz er p ar a pr ov oc ar , n o v es
tí b u l o de u m a obr a l i tt er ari a, q u e eu dev eri a en
al a n ar d e l oi r o s , my rt os e rosas , u ma alterc aç ã o
g
p olíti c a, mas ap en as p a ra p aten tear a fu n dam en tal
di v ergen ci a q u e, emb ora f azen do de n ó s an t ag o
n i st as ( n est a hor a dom i n ada , at é á ex h au st ã o de

todos os r estan tes i n teresses soci aes, p el a p ol íti c a, )


n os p er mi tt e a c or deal i dade i n di sp en sav el ã reu

n i ã o , aqu i , dos n ossos n om es .

J u stam en te , é est a c i rc u mst an ci a q u e dá ex c ep


ci on al e Opp ortu n a sign i fi c aç ã o ao m eu app are
ci m en to n a su a obra S em q u e sej a pr eci so attri
.

bu ir o seu c onvi te a esse secreto emp enho de dar


u m p u bl i c o e sal u ta r ex empl o de tol er an ci a a u ma

soci edade c on c en trada e retrahi da n as su as


p ai xõ es , o facto de demon strarmos ser p ossi v el a
doi s adv ersari os p ol i ti c os o dar em se c ordeal m en t e

as m ã os b ast a p ar a desb an ali sar est e pr ef aci o , q u e

E
eu n u n c a sab eri a a fi n ar p el as b ell ez as c ap i t osas

da su a obr a de arti st a . eu l h e qu er o , p or i sso

m esm o , n ã o só test emu n h ar o meu rec onh eci m en to


or h av er a rr a n c a do da ob scu ri dade o m eu n om e,
p
dan do-l h e u m l ogar de i mm er eci da evi den ci a n o
s eu livro , m as t amb em decl arar-l h e q u e n ell e m e

si n to á v on ta de, sem o m ai s l eve c on str an gi m en t o .

É q u e n ó s som os , m u i to m ai s do q u e á pri mei ra


vi sta p arec e, sem elhan t es Amb os p erten c em os a
.

famili a, c ada v ez m ai s redu zi da, dos q u e t eem a


P RE FAC IO I

c oragem das su as º p i ni õ es dos q u e sab em sacri ,

E
fi c ar se p el as su as cren ças dos q u e sab em vi v er

,

e m orr er c om a su a fé st a i den ti dade de c ar ac


.

ter q u e n os p ermi tt e a si revol u c i on ari o a mi m


, , ,

c onserv ador ( e o m eu c on serv anti smo v é l a pi e


dosamen t e a obr a r ev ol u ci on ari a de m eu s av ó s ) ,

en t en derm o n os -
explic a m elhor do q u e as m ai s
,

en gen hosas e su bti s di ssert açõ es est a att r ac ç ã o ,

E y mp at hi as
de s .

m u ma c arta esc ri p t a a u ma fi dalga su a

p arenta ,
u m a en tr evi st a q u e tiv er a n a
n arr an do

sal a dos c ar c erei ros c om u m an arqu i st a a pr esa ,

do Al j u b e D C on stan ça Tell es da Gam a


,
.
q ue
tri u mpho p ara os J av erts mi li tares da repu bli c a
u m a t al c aptu r a ! escr evi a est as profu n das

E
p al avras A fi n al el le é n o fu n do u m p obre i dea
,

l i sl a como eu n i r e u m an ar u i sta e u m c ar mel í l a


.
q
h a ap en as a di ffer en ça de u ma l i n h a Mas essa
E
.

l i n h a cobr e u m a b ysmo st a r efl ex ã o da n eta de


.

Vasco da Gama, q u e dorme n u m a du ra enx erga,


sob os m esm os t ect os u e abr i g am a s l adr as e as
q
m u lh eres p erdi das, expi an do o del i cto i n defi en
sav el de h av er pret en di do su avi sar as i n omi n av ei s

b arb ari dades da j u stiça p oliti c a, eu a p osso ap pli


c ar , q u asi c o m p rº p ri edade , ao n osso c aso .

Am b os n ó s sen do con sti t u í dos do m esm o ep h e


m ero e fragi l b arro hu m an o , e amb os soffr en do
'

dessa n obre en ferm i dade da al m a , q u e é a sensib i


l i dade arti stic a, amb os professan do o m esmo rel i
gi oso c u lto p el a B ell eza e ten do edu c ado a n ossa
i n t elli g en ci a n a c on t empl aç ã o e n a medi taç ã o das
m esm as obr as de art e, n a l ei tu ra dos mesmos p oe
tas e dos mesm os p h i l osop h os , c omo seri a p ossi v el
XII J A RD I M DAS TORMENTA S

q ue a n ossa vi sã o de harm oni a soci al resu ltasse


div ersa? P ositiv amen t e aspi ram os o an tigo
,

e h er oic o pr eso da esqu adra do C am i nho N ovo e ,

o an tigo e l ab ori osa ch ef e de g abi n ete de u m mi

E
ni st ro , a fi n ali dades i den ti c as Os n ossos iti n s .

r ari os v ari am A n ossa m arch a di ffere


. i s tu do . .

q u an t o u m d e n ó s n a a n ci a de ch eg a
, r m ai s

depressa fu stiga os c orsei s da su a rh eda de bron z e


,

e v ae c omo u m f u r ac ã o derru b an do o q u e en c on
, ,

t ra n a p assagem o ou tr o e est e sou eu


,
ca ,

mi nh a c om c au t el a p ar a n ã o esmagar as formigas
,

E
e n ã o assu st ar as ab elh as .

u n ã o acr edito n o dogm a dem o cr ati c o ou p ara , ,

melhor m e exp ri mir n ã o acredito q u e a dem o ,

c rac i a brote de u m a si mpl es form u l a de j u ri s r u


p
den ci a p oli tic a Vej o n a Hi st ori a q u e de todas
'

as v ez es q u e u m r egi m en se i mpl an t ou p ar a faz er ,

desi gn adam en te democr ac i a sempr e pr odu zi u


, ,

demagogi a F oram p orv entu ra eg u al dade fra


.
, , ,

t ern i dade e li b erdade q u e r esu lt aram da r ev ol u ç ã o


p orten tosa de F ran ça? Ah ! q u e n ã o ! Foi u ma
modali dade div ersa do desp oti smo C r ei o c on tra .
,
ª

ri am en t e q u e a democr aci a a u n i c a n ã o th eoric a


, , ,

demon strada p el a eg u al dade de t odos os ci dadã os


p erante a l ei p el a lib erdade ampli ssi ma de Op i
,

n i ã o e p el o ex ercíci o ant h en ti c o da sob er ani a p op u

l ar só p ode deriv ar de u m a org ani saç ã o soci al a


,

q u e presi da a di scipl i n a sob t odos os seu s asp ec ,

t os ext ern os e i n ti m os de h arm oni a e de hi er arc hi a


,
.

C om o os exerci t os os p ovos sem org ani saç ã o e


,

sem ch ef es on de sej am os sol dados a man dar


, ,

esb oroam se n a l u et a N ã o h a n ada m en os demo



.

c rati c o do q u e a r evol u ç ã o A r evol u ç ã o é a ty r an .


PREFAC I O II I

ni a voltada do avesso Se eu braví amen te ci oso


.
,

da mi nha i n dep en denci a c omo sou tiv esse de , ,

optar en tr e o j u go das ari stocr aci as e o da pl eb e ,

sem h esit ar pr ef eriri a aq u ell e C on c eb o q u e de u ma .

ari sto cr aci a c omo n a Greci a e em Roma se p ossa


, ,

fazer u m a democraci a Mas q u e u ma obra h ar .

moni osa p ossa sahir das c on fu sõ es p l eb é as ,

Et
não !
s as c ou sas n ã o as c omp reh en derá o n osso
i n feliz desv airado irm ã o j ac obi n o Mas o p en sa
,
.

dor i n sign e q u e dep oi s de em pl en a cri se de exh u


,

b eran c i a j u v en il t er aj u dado a c arr ear os mate


,

ri aes p ar a a r ev ol u ç ã o se i mp r g n a da c or agem
,
.

men tal p ara escrev er essas vi n te e du as p agi n as

E
u d li m i t am o J ar di m d as Tor men tas e sse
q e e

me eu l h e digo p ar ec er m e -

qu e se essa obra de v acu i dade e de i nstabili dade


, ,

cu j a c on fu sa asy m etri ca charp en te c on ti n u amen te


,

v ej o em ri sc os de desmoron ar se ( e a q u e amb i ci o -

samen te se ch ama a democr aci a p ortu gu esa) t em ,

ai n da pr ob abi li dade d e equ i libr ar se essa c on si ste —


,

no a
pp o i o q u e v en h a m a d a r l h e os ari st ocr at as
-

da i n telli gen c i a É p ar a essa ari st ocr aci a q u e t er á


.

de ap ell ar a n ossa i n c on gru en te r ep u blic a de esc a


rav el hos S ó as él í l es sã o produ ct or as de obr as
.

E
p e r du r a v ei s U .m e di fici o f eit o d e esc ori as n ã o se

agu en ta .u sempr e sorri c om alti v o deS p r eso


, ,

E
p ara as ameaç as da ign oran ci a Só o tal ento .

gov ern a o mu n do ssa omnip ot en ci a te m


. as ,

v ezes os seu s ecl yp ses Sobre ell a proj ectam ás


, .
,

( 1) O c on t o A Re volu ç ã o a pag g29 3 do


. vo ul me .
XIV J A R D IM DAS TORMENT AS

v ezes as
,
su as so mbr as , a irraci on ali dade e o deli
Mas
E
ri o. a mobil i dade é a p rº p ri a n atu r ez a das

sombr as . ll as

O sr Aqu i li n o Ri b ei ro é , essen ci al men te , est ru c


.

t u ral m en t e , u m ari st ocr ata P ara o afii rm ar c om .

est a segu r an ç a n ã o m e é pr eci so c on su ltar a su a

arv or e g en eal ogic a A su a ari st ocraci a n ã o é u m a


.

ari st ocr aci a p h y si ol ogi c a , p oi s p arec e q u e h a


Mas p orqu e é u m a n obreza de men tal i

E
dade e de sen sibili dade, ell a r epresent a u m val or
soc i al i n fl u en te c om esses v al or es q u e a dem o
'
.

c r ac i a p o derá , dep u r an do se , en obr ec en do se , civi


— —

li san do se , em an cip an do se das l u c t as atrophi a


— —

doras do f an ati sm o r ev ol u ci on ari o , desemb ara


ç ar se da su a t u n i c a de N essu s

.

L en do o seu livro , c om o ao m eu esp í ri to ac u


di r á ao esp í ri t o do l ei t or a f amosa sen t en ça apho
ri sti c a C ec i fu er a cel a p oi s, c omo eu , ell e h a
de rec u sar- se a acredit ar q u e esse , ao mesm o
temp o del i c ado e p oderoso organi smo de sen si bi
l i dade i n t ell ectu al , q u e é o seu c erebro, possa
admi t ti r c om o i n t erpr etaç ã o de u m a f elici dade

so ci al , emb or a h u mí l i m a , o
q u e at é hoj e p rodu zi u
a revol u ç ã o .

A rep u blic a está n ec essitada de u ma él i te diri


gen te q u e a ci vi l i se q u e a traga das su as ab strae
, ,

ç õ es fu rib u n das á s r eali dades hu m ani tari as ; e po r


todos os moti vos a su a di sti n c ta i n telli gen ci a e o
seu ti roci ni o de c i vi liz aç ã o n atu r al men te o i n di

c am p ar a ser n essa cl asse e p orqu e n ã o n essa

E
c asta ? u m a fi g u r a de i n si n u an ti ssi m o r el ev o .

st e livro o t est emu n h a .

P ou cos talvez ten ham a admiraçã o m ai s p ro


, ,
PR E
FAC IO XV

dig a do q u e eu ; m as n i n gu em tem a li sonj a mai s


av ar a Admirar é u m dos pr edil ectos r ecr ei os do
.

E
meu esp i ri to L i son g ear é u m dos irr epri mív ei s
. .

abo rr eci men t os do m eu c ar acter p osto i sto , eu


.

l h e q u ero decl ar ar , sem m ai s f orm al i dades, sem


c u i dar em p en sar se estes di zeres o sensi b i li sam
ou en sob erb ec em , q u e est a li n g u ag em v i b rati l , n er

v osi ssi m a, on de h a c ordas son or as


q u e vibr am ás
on du l aç õ es m ai s i mp erc eptív ei s , dos seu s c on tos ,

sô a ao s m eu s ou vi do s c om o a li n gu ag em de u m

C elli ni da prosa, e qu em a escr ev eu n a su a edade


j u veni l é , desde agora, u m dos gran des vi rtu oses
do estyl o .

Mas sã o b em , n a v erdade, c on t os todos os seu s


c on tos? N ã o se mel i n drar á a su a p resu mpç ã o , se eu
l h e di sser q u e c omo taes a algu n s n ã o c on si dero ?
Os seu s en t rec h os r ev el am- se t ã o frag ei s q u e se
qu ebr am an tes de chegarem ao fi m Pu lv eri sam .

se . L embr am m e rep u c h os de cry st alli n a agu a,


q u e n o c u m e d o j act o se d e sf az em n u m a n u m i da
e i ri z ada p oeir a A su a acç ã o , c omo o j orro d a
'
.

g u a , e l ev a -
se i mp etu osa, m as l ogo , m al as i ll u

mi n aç õ es dos seu s p en sam en tos a tou c aram e


a matizar am , di l u e se n u m n ev o ei ro r adi an t e As

.

su as acç õ es sã o , o r v ezes , m er os th em as s m
p y
p h oni c os p ar a desen v olvi m en to de m otiv os or
c h est r aes Assi m , n o c on t o O S ai g ra , a n arr ativa
.

da n oi t e c om seu s trill os de av es, os seu s su s


p i ros de rou xi n ó es , os seu s su ssu rros m av i osos
d ag u as e as su as aragen s b al sami c as de flo
'

resta e de j ardi m , a n arr ativ a do au to de fé e


a de D M afal da n o l eit o m e app arec em c omo p i n
.

tu ras l i tterari as da m ai s esp l endi da i n spiraç ã o ,


X VI JARD I M DAS TORMENT AS

qu er na origi n ali dade pri morosa da c omp osiçã o


syn taxi c a c omo n a vibraçã o emoci on al q u e as
,

E EE
el ectri se P el o arr an j o e c aden ci a do esty l o esse
.
,

seu c on t o m e l embr a o do nfor cado do


ça já , .

este n ome pr estigi oso do gr an de arti st a a


q u e ,

c u j o c adav er mã os prof an adoras emp al maram a


heran ç a q u e o seu g en i o l egara á vi u v a e a fi lha ,

desc eu a esta ep í stol a eu l h e q u er o m ai s dizer ,

u e ou tr o e sc ri p t or ai n da em P ortu g al c omo o
q
sr. Aqu ili n o Rib eiro n ã o con segu i u su rp reh en der
e app li c ar o s segr edos da su a esb elt a e fi n a p ro

sodi a e da su a adj ectiv aç ã o el eg an tí ssi m a a son ora

li n gu ag em p ortu gu esa C om a su a i mp on derav el.

a i man en t e liç ã o de art e P ari s p ar ec e adextr ar ,

as p en n as dos h omen s de l ettr as p or v i a de u ma


su g g est ã o

0 que brev e t emp o de


a c i v i l i saç ã o fez em
'

tão
si m eu amigo
'

,
De c ert o p ar a q u e toda a orch estr a ,

dos seu s sen ti dos assi m atti n gi sse este grá u de


a fi n aç ã o é q u e os i n str u men t os er am exc ell en t es
, .

E
O sr Aqu ili n o Ri b ei ro ti nha em si
.

ell es c omeç am soan do m av i osam en t e exh a ,

l an do n otas q u e ext así am ! Mas p ara qu em i ma ,

gi n a estar escr ev en do as su as sábi as symp h oni as


de p al avras? P orv en tu r a acr edit a q u e exi t am n a
r ep u blic a du as du zi as de sen sori os organ i smos q u e
o en t en dam ? Ha p ar a ex empl o n o seu c on to irr e
, ,

gu l ar se b em q u e prodigi oso a q u e chamou I n ver


, ,

sã o S en l í men l al h arp ej os de p en samen tos p en e


,

trau t es n o esty l o dos de An atol e F ranc e no L ys


,

Rou ge q u e sen do do melhor q u e a su a argu ci a


,

p r o du z m h ã o de sempr e fi c ar p ar a os seu s l ei
,

tores p ort u gu eses i n comp reh en si v ei s Nessas p agi .


PRE FAC I O X VI I

n as deixou , p el o c on trast e en tr e a S u r /l amme e a


n ac ar ada N i n el le , a m ai s su rp reh en den t e , su bt i l

a n otaç ã o do i n st i n ct o v ol u ptu oso da m u lher ,


que
de h a m ui to m eu s olhos de l eitor t eem en c on trado
em tan t os livr os f olh eados , p erc orri dos c om tedi o

o u c om del eit e Vi u p or den tro , c om o esp e


. cu l o ,
todo o my st éri o do sexo i ni mi go Ter u ma mu lher ,
.

p ossu ir u ma mu lher de temp er amen to l i bi di n oso .

i n tegr al men te , desde o m ai s i mp erc eptív el arr i p i o


da c arn e ao mai s v ol ati l p en sam en to do c erebro
ei s aq u i u m a ambi ç ã o q u e só ai n da o hom em

p rehi stori c o , q u e é o p ortu gu ê s, p ode abrigar , e


q u e s ó ell e t alv ez p o ssa o bt er de algu m a N i n el l e

da p r ov í n c i a Q u an to mai s av an ç a n o esp aço


.

soc i al e n o t emp o , m ai s a m u lher se i n t en si fi c a e m

sen sitiv a , a qu al se n ã o adapt am j á as ob sol et as

r egr as da an al y se Ten ho eu u m
am i go , esp ec i e de Mu sset f u n di do em ar ab e , q u e

amou at é ao del í ri o u m a dessas m u lher es sen


si t i v as, u e o ador av a e m en t al m en t e l h e er a
q
i n fi el a c ada i n stan t e Ti r a me d aqu i di zi a l h e
'
— —
.

u m a n oi t e , n u m c a b ar et de M on tm artr e , essa

aman te escru p u l osa . Poi s tu n ã o sen tes q u e


sem deix ar de am ar-t e , os m eu s sen ti dos t e atrai

ç o a m a c a d a p erf u m e q u e p assa , a c ada c ar i c i a

E
u e su rp reh en do , a c ada o lh ar de v í c i o q u e des
q
c u bro? est e hom em f el i z , q u e p ossu i a esta

femi ni n a aví s r ara, er a i n fel i z c omo u m p obre


N a asp i raç ã o da su a S u r /l amme de t er m i l
p ar a dar qu i n hen t as ao seu am an te ,
guardan do as rest an tes q u i nhen tas p ara di ssi p ar
a t õ a, o sr Aq u i l i n o Ri b ei ro desenhou toda a
.

mu lher n a c on textu r a m ai s í n ti m a da al m a N ã o .
xv m J A R D IM D A S TO RMENT AS

ten to sequ er a empresa á rdu a de refazer c om ,

v ari an tes de p al avras n esta prolixa r eferen ci a as


, ,

su as su bti l ez as an al y ti c as D esej o ap en as en tre


.

mostrar l h e q u e as en ten di e sab ori ei


-
.

Tã o p ou c o m e atr ev o a r evi st ar e i nv en tari ar os


en c an tos e as i n t en ç õ es de c ada u m a das doz e

p eças l i tt erari as q u e c on sti tu em o seu l i vro .

S e m e atr ev esse a en trar n esse l ab y ri n t o de


b ell eza só dep ºi s de demorada excu rsã o con se
,

gu i ri a en c on tr ar a sabi da A su a obra n ã o é das


.

e n ec essi t em de u m c i c er on e e a m i m se m e
q u

a fi gu r a i mp ert i n en te p edan ti sm o apr egoar c om o

n u m l eil ã o as j oi as do seu est y l o e ap p l i c ar lh es -

a l u p a de u m a en f atu ada an al y se p ar a q u aesq u er

av ali aç õ es esti m ati v as 0 esc ri p t or q u e tr á s a l i t


.

t er at u ra p ort u gu esa esses q u atr o c on t os q u e sã o


A Hora de Vésp eras A P él e do B omb o Tu n ã o
, ,

f u r l ar á s e O R e mor so fi c a l h e desde est a h or a


,

dev en do u m roman c e r egi on al on de formigu e rea ,

mi m ada p el a vi da do seu tal ento toda a c omp ar ,

sari a ru stic a da B ei r a p oi s m e é pr eci so asc en der


,

até ao D ostoi ew sk y dos I rmã os K ar amaso/f p ar a

en c on tr ar n a v i den c i a g eni al q u e dos hu mi l des


,

p ossu í a o esp an t oso sl av o u m t ermo de c omp a


,

raç ã o p ara algu mas das su as pi ntu ras v ehem ent es


de al mas P or men os q u e se affei ç oem ! s m i nhas
'

pr edi l eçõ es de i mp ení t ent e i deali sta os assu mp tos


em q u e de pr ef er en ci a se ex ercit am as su as c u ri o

si dades i n exor av ei s de an al y st a e emb or a dep l o


,

r an do v ê l o desp erdiç ar u m t h esou ro 0 p u l en ti s


'

si m o de i magen s c om u m v elho th em a c om o o da

saty ri ase sacri l ega do arc ebi sp o de C or dov a


q u e ,

a su a m o ci dade apr ov eit ou p ar a en toar u m h rnno


y
C A TED RA L DE C ORD OVA
A C A T DR A L D E E C OR DOVA

N essa manhã R af ael de l a R on da p ôs-se


,

mai s c edo q u e de c ost u me a c ami n h o da


, ,

c atedral N ã o se deit ara o cl eri go en tretid o


.
,

c om u n s n e oman tes de c av al os n o r eg ab of e
g
da C h i ca Men u da o mai s af amad o alfô b re de
,

mu lh eres d Andal u sí a A p etit e sen ti a R af ael


'
.

de en tr ar em su a p ou sada mas r ec eav a ,

aq u el e somn o u á s v ez s o at av a n a c ama
q e e

c omo u m mor to n a t u mb a E era pr ot est o seu


.

n ã o dar m ai s aso a cól er a do arc ebi sp o u e


q ,

f art o de c ensu r ar-lh e os h abit os de tr esnoit ado ,

frasc ari o e c al ac ei ro ameaç av a destit u i l o das


,
-

f u nçõ es q u e d esemp enh av a n a c at edr al A i nda .

q u e ab ati do e t rop eg o de somn o R af ael , ,

q u eren do rec u p erar p or sob ej os de z el o a


c on fi an ç a q u e p er der a c om rel ax ado des
l ei xo an t ecip av a se n aq u el e di a de du as
,

b oas h or as .

E st av a u ma manhã cl ar a e br anda c omo se ,

o ar fô sse u m v ap or tr an sl u ci do de alv ai ade .

Os sal oi os das c erc ani as vi n h am de b u rr os ,

c arreg ad os sort i r a p raç a As p ort as d esc er


, .
I O J A R D IM D AS TOR MEN TAS

r av a m -se l en t amen t e r ap arig as em fra l da


e , ,

ap ar eci am n as so l e ir as a son dar a m an hã .

Aos t ro peçõ es p el a ru a m ati n al R af ae l ,

rem oi a a c en su r a q u e o arc ebi sp o l h e


i n fligi r a n a vé sp er a sati sfeit o n o en t an t o p or
,

n aq u el e di a ser c u m pri dor de seu s dev e r es

R af ael di sser a l h e m on sen h o r



a

c at edr al é delic ada de m ai s p ara t u as m ã os .

A q u i e xig em se m ã os de h om em q u e sej am

,

fi n as e b u li ç osas c omo mã os de mu lher Tu .

n ã o és des agei t ado m as és i n do l en t e e p ou c o


,

p on t u al Cheg as t ar de a c ai r de somn o e
.
, ,

E
t u a b ô c a resc en de á agu ar den t e e ao p ec ado
c omo a p ort a du m a t avern a u sei a vi da de .

p er di çã o q u e l év as R afael Tu j og as os
, .

dados g al an t eas as m u lh eres de m á vi da e


, ,

dás t e á em bri agu ez e vi n u m memor i as mors


-
.

Tu desm az el as a c asa do S en h o r os alt ar e s ,

sam arr an j ados sem art e as fl ô res m u rch am ,

n os v asos ; t u n ã o ap ar as se q u er a m on c a dos

ci ri os Ha di as o f og o p eg ou n u m ret ab u l o do
.

divi n o C es p edes p or c u lp a t u a R af ae l D eu s , .

n ã o m e p e r doari a se fe ch asse os o lh os a t an t a

i n c u ri a E sc u t a : se a p artir de am an hã n ã o
.

tiv eres emen da ou tr o virá oc u p ar o l og ar .

A s 8 h or as as p ort as da c at edr al q u erem se


'

a b ert as de p ar e m p ar ; á s 9 h or a a q u e vê em ,

os c on eg os diz er m i ssa as g alh et as dev e m


,
A C A TE D RA L D EC OR D O V A II

t r ch ei as e as l u z es ac esas ; n ã o q u er o
es a

v er um grã o de p oei r a é p reci so q u e a ,

c asa do S en h or est ej a semp re li m p a e esp elh ad a


c omo u m pr at o an t es de se c omer Gom .

p reh en des R af ael ? S er ei i n exor av el p or q u e


, ,

b e m sab es homi n e i mp er i l o n u n q u am q u e
q u am i nj u sfi us .

R af ae l tr em er a pe l a p ri meir a v ez d ean t e
da fi g u r a amar el a e esq u el et i c a do arc ebi sp o
D Bazili o L u n a y M an riq u e q u e c omo u ma
.
, ,

toch a d al t ar v i a a olh os vi st os derr t r


'
e e -se
, ,

mi n gu ar e c orrer p ar a o ap ag amen t o E .

p rotest á ra dali em dean t e ser ex act o c u i dar ,

da c asa de D eu s c om esme ro de dô n a e t er b em
esc ar ol ados os alt ar es sobr et u do a c ap el a de
,

S an t a C at ali n a a vi rgem p redil e ct a de mon


,

sen h o r
.

As r az ões do arc ebi sp o c al ar am n o ani mo do


cl eri go ; mas se o c or açã o era doci l os sen
ti dos a n dav am rel ap sos E p assan do ab ô c a
.
,

da n oite em fr on t e das g el ozi as da C h i c a


Men u do su a v on t ade n ã o p ô de resi stir
,

ao c on vit e
q u e c ast an h ol as e p an dei ret as l h e

l an ç av am de den tr o .

D ep oi s q u e entr ar a ao servi ç o da c atedr al


R afael m u dá ra de p ro cede r c omo os l ob os
tr oc am a c ôr d o p êl o segu n do a côr do mato
A té os tri n t a an n os ede de em q u e o m
.

, ui
I Q J A R D IM D AS TO R MEN T AS

sa bi o e virt u oso arc ebi sp o o i nvestir a n o c argo


de b ed el n u n c a u m ap eti te men os c ast o
,

t ol dá ra seu c orp o c ast o C onh eci a o mal do .

mu ndo p orq u e a sant a escrit u r a l h e f al av a da


f orni c açã o dos p atri arc as dos ad u lteri os de ,

D avi d e dos r ou b os ao p obr e ; mas em seu


,

espíri t o n ã o h avi a c u ri osi dade n em em s u a ,

c arn e o ap etit e de prov ar o en g odativ o t rav ôr


do p ec ad o A l eg en da doir ad a dos san t os f ort a
.

l ci o n o desap ê go mu n dan o desp ert and o


e a-
,

á s v ez es de seu sc i sm ar em l on gín q u o
j ar di m b emav en tu rado en tre os b emav en
,

t u rados Mas n em est a pr esu n çã o era p ec a


.

mi n osa p orq u e su a al ma era di af an a c omo


a h osti a dos sac r arí os A s an ti dade de seu s
.

c ost u mes resc en di a m ai s q u e u m c amp o de li


ri os ; seu s l abi os ab en di çoav am o j u st o e i n
t erc edi am ap aix on adamen te p el o p ec ad or .

Se lh e dizi am : R af ael os c oneg os da c at e


,

dr al vivem n a mai s d esen fr eada l u x u ri a ,

c om man c eb as e fi lh os á b eir a el e r esp on di a ,

n ã o mu rmu r ei s q u e o demon i o p õ e á s v ez es
,

E
a vi rt u de a m asc ar a do p ec ado e ao p ec ado a
masc ar a da vi rt u de le and a p ar a c on f u n dir
.

os h omens t en do n a mã o a man t a
, q u e du m a

p ont a c obre dou tr a desc obre E on de está .

o j u st o q u e p ossa j og ar -lh es a pri meir a p edr a ?!

S u as vi rt u d es frag rantes e a gr aç a c om q u e
1 4 J A R D IM DAs T ORMENT AS

er a a b af ada p el o c í ci o len t o e e xt enso da


fl orest a E R af ael en verg on h ado nã o se f azi a
.
, ,

o u vir do Chri st o en ve rg on h ado .

D ep oi s á medi da q u e se i n tr odu zi u n a i nti


mi dade do t em pl o a trans fi g u r açã o o p er ou -se
se u s sen ti dos f al ar am A c at edr al er a gr an de
.

c om o u m a v ei g a m as d elic ada e v ol u pt u osa


c om o u m a r ap ari g a E
l a en c an t av a c om o
.

so rri so das ti n t as e a ri m a son o r a das c ol u mn as

p ar a melh or desc er ao sen ti men t o .

Os ar ab esc os e o en trel aç ado dos arc os


er am o arti fi ci o q u e tr es l ou c an do a i m agi n açã o

a c on duzi am ao son h o E son h ar n el a era


.

c air n o redemoi nh o c ar n al e sôfr eg o da vi da .

A c at e dr al l en t am en t e ap oder av a-se del e


,

c om o a tei a d aran h a da m ôsc a Fig u r av a-se


'
.

a R af ae l q u e as m i l c o l u mn as de v ei as v er des

e vi o l et as n ã o e r am ap en as fr ag ei s em p aros de

m arm o re ; q u e er am mi l br aç os de m u lh e res
q u e se h a vi a m en t e rr a d o n o s o l o a o p e s o d u m
g ô s o ,
g e m e n d o u m a l ê d a h a
.
r m o n i a ; q u e os

c ap i t ei s e r am as m ã os cri sp adas n u m m avi oso

c ô r o de su pli c as ; e o d e e n h os u e c o bri am
q u s s q ,

os m u r os e r am a p oeir a l u mi n osa de se u s
,

b eij os i rr adi an do em mi l c en t elh as orq u es


,

tr aes P or t oda a p art e da fr aq u ez a amor osa


.
,

du m det alh e ao g al op e aer eo dos arc os em


ferr adu ra a en fi t ei çada mu sic a z u mbi a
, .
A CA TE D RA L D E C OR D O VA 15

R af ae l rr ast ado p or mã o mi steri osa


v i a-se a

n u m m ar des c on h e ci do on de v á g as de g ô so
,

br an damen t e sol u ç av am Os olh os do Chri st o .

E
n ã o o ch amav am T rem i a mesmo n o fr agil
.

esq u i fe g ot hi c o ,
l e q u e p asseava sobr e as o n
das A i dei a c h ri st ã ap ag av a-se medr osa
.
, ,

n a c at edr al c om o u m l ap ar o n u m c ovil de

se rp en t es .

Os sen ti dos de R af ael u m di a t rasb ordaram


c om o í m p et o se lv ag e m du m a f o rç a re p ri

mi da e ac u mu l ada N o rep u l u l am en t o i n fi
.

n it o dos f u st es de p orfi r o e j asp e dos ara ,

b esc os t o rt u r ados d o t r op el dos arc os des


'

, , ,

c ob ri u as f ormas esb elt as das mu lheres q u e


dan sav am n os j ar di n s de S evilh a As pi sci .

n as on de do r m i a a a g u a b e n t a dos esc on j u
,
-

r os,
rev el ar am-l h e i n q u i et an t es c u rv as de
v ol u p i a ; n as u r n as a l i n h a ch ei a e q u en t e das

e li p ses a vi go r o sa si n u osi dade do s tr on c o s

v i rgi n aes . A m u lh er dep ar av a s e l h e n os m i l - —

r efl ex os do t em pl o Ao c omeç o sati sf azi a o


.

o e x ercici o v ol u pt u oso da f an t asi a A c at e .

dral er a a am an t e q u e lh e e n treti n h a os
,

dev an ei os e a fe br e D ep oi s v or az men t e Ra
.
, ,

fael desc eu a sab orear o d eleite o vi nh o , ,

a h o r a desenf aste ada E c on v erte r a-se dest e


.

modo n o mau se rv o arrep el ado de l u x u ri a


, ,

co mi do de v íc i os .
16 J A RD IM DA S TOR MEN T AS

V olt an do ! pri meir a c on di çã o R af ael i m


,

pl or av a o E tern o
S en h or p orq u e me ab an don ast es ? Meu
c or açã o era si m pl es e u m alt ar de p eren e
i no c en ci a a V ossa Gl ori a
P oré m o Chri st o d olh ar e mb aci ado n ã o
,
'
,

o i n fl am av a n a sede m ori g e r ant e de c on tri ç ã o .

A ssi m ap ez ar d os pr ot est os de emen da


, ,

ac ab av a de am an h ec e r n o mei o das git an as

da C h i ca Men u da .

P ar a o alt o a l u z di st en di a-se i nv adi ndo


,

a op aci dade lil az da serr a e as t orr es mu til a

das ; as mu r alh as e o m i n ar ete de S N i c ol á s .

rec ort av am se n a br an c u ra fl u i da do ar N o
-
.

ri o os m oi n h os m oir os esp adan av am a ag u a

febril men t e .

R afael c ort av a a dir eit o n as r u as on de u m ,

geri c o de q u an do e m q u ando p assav a t an gi do


p or u m g a r ô t,
o t oc t oc ,
c a r re,
g ado e v e l oz .

S an N ic o l á s erg u i a j a al ert a sobr e o reb an h o


b aix o das c asas o c amp an ari o esg u i o N u m .

p at eo u m ferrador f err av a u m mach o c an ,

t an d o

Ri b r
e a d e D u err o arri b a
C av al g an dos

Ai ! cavalg an dos
A CATE D R A L D EC OR D O VA 1
7

A t orre de Mal mu ert a desp edi u sei s h oras ,

mu it o cri st ali n as e mu it o l ep i das n o ar i mmo


v el. E c omo u ma p al avr a ou vi da de p asse
os si n os n ost al gi c os de S an P edr o e l R eal ,

de S an P abl o da C ol egi at a atr op el adamen t e


, ,

resp on der am As c asas a g en te a l u z er


.
, , ,

gu er em-se n o b an h o desp ert ador das on das


son ó r d
as ; C or ov a p er i g v se
s n a a -
.

Q u an do R af ae l ch eg ou ao P ateo das
L aran j eir as a p u rp u r a creadora do di a est a
l av a n o o ri en t e A c atedr al ti n h a ai n da u m
.

o de j an el as exti nt as e pil astr as


,

das en v olt as e m sombras M u it o alt a .


,

a t orr e c h ri st ã i n v ej osa b ebi a o pri mei ro


sôrv o de sol .

C om ch av e q u e sempre trazi a c onsig o


a

abri u a p ort a da sac h ri stí a e en tr ou H av i a .

dentro u ma p az m ort a e su ave q u e n em os olh os ,

abr az ados dos p ai n ei s de C espe des n em o l u ar ,

das p at en as e c alic es d oi r o p ert u rb av am


'
.

A p assos man sos e reli gi osos penetrou


R af ael n a v eget aç ã o l u xu ri osa das n aves .

A p oesi a en feitiç ad or a da c at edr al era mai s


penet ran te á q u el a h or a mati n al dos rep ou sos .

H av i a ali a l u x u ri a c arreg ada dos p al mei raes


an t es de ser em dev assados p el a b ôc a da

m an hã As arq u i v oltas e as c ol u mn at as mai s


.
,

emmaranh adas assu mi am


, formas tr ans
18 JA R D IM D As TOR MEN T AS

c en den t es de é den . Os
z l j r ol av am se
a u e os —

e desen r ol av am-se c omo p aixã o o p ressa


q ue
gir a sobre si af ast a-se p or v eredas q u e p ar ec e
,

c on du zi rem l on ge e n ã o saí ram do c en tr o .

C om o u m a molh á da de liri os os m arm or es


su av am u m l eit e i n c ol o r f u n di do
, .

R af ae l fi c ou n u m a das n av es p erpl ex o ; ,

em fren t e do t ab ern ac u l o de pr at a n a c ap el a ,

c h ri st ã ,
a l am p ada a r di a a et e r n a gl ori a

m as e r a u m a l u z ap ag ada e f at u a seme
lh an t e a piril am p o em selv a esp essa .

R af ael i a c am i n h ar p ar a l á a p asso reso


l u t o q u an do l h e p arec eu ou vi r o sô p ro estr an
,

l m su spir o S p '

g u ad o d u u s e
. n d eu se d o u ví do —
,

a esc u t a al ar m ado E u m a bri sa m an sa de


,
.

b eij os e gem i dos ch eg ou at é ele p erfi damen t e ,

c ondu zi da n o r efl ex o ac u sti c o das ab ob adas .

D e v ag ari n h o r odeou a c ap el a g ot h i c a
,

do S acr amen t o ; o esf orç o a rq u it e ct u r al ar ab e ,

desdo br an do se e m l arg u r a dil at av a o b osq u e



,

de m arm or e a p er der de vi st a As c ap el as .

l at er aes sossobr av am n a som br a m al l u zi n do ,

a t oalh a dos alt ar es e as r en das desp en h adas

em b at eg as fi n as dos mu r os e sc u lpi dos .

E
P ara l á da c ap el a do S enor de Val enz u el a o
ru ído ,
su bit amen te t or n ou se
,
l u ci do

ra .

b em a q u eix a ren di da du m n amor ado Des .

c alç an do se e esmagan do o arfar do san g u e



,
A CAT DR A L E D E C O RD o vA 19

R afae l march ou p assos c au tel osos entre


a

os pil ar es e n a so m br a dos arc os E p ar a a es- .


3

q U e r d a d a P u erl a del P ardon n u m a c a p el a ,

q u e u m a fr es t a b an h av a a sc en a d ese n r o l ou
,

se a seu s o lh os cl ar a e a b omi n av el
, .

T rep ado sobre o alt ar D Bazili o L u n a y , .

M anriq u e o prel ado g em i a c on tr a o c orp o


, ,

p al i do e amoroso de S an t a C at ali n a E era .

todo U m abr aç o l u bri c o ch ei o de f og o e de ,

estí m u l os á q u el e sei o sen su al da R en as


,

senç a Ci n gi a-a af ag av a a desesp eran do se


.
,

,

a ani mar c om b eij os e s ol u ç os marmore


fri o i n c orru ptível e i n c orresp on den te E si m
,
.

dô r c omo u m v en dav al est orceg av a-s e c on tr a


, ,

a i m agem q u e o c o bri a du m olh ar en i g m a


,

tic o e radi oso .

R af ael arq u ej an te
,
p alpit av a daq u el e
,

c al ô r l asci vo q u e dev i a p en etr a r a p edr a .

E emp olg ado fic ou a gosar daq u el a v ol u p


, ,

t u õ si dade san gren t a em q u e h av i a t oda a ,

l i i x u ri a da posã e e t odo o ardô r c on tr a o i n a


õ d l P l pri m ir ti u a b el ez a
'

p e r a v e e a . e a v e z sen

i n q u i et a de S an t a C at ali n a de li n h as ,

vel adas m as p erc eptívei s de rosto c an did o ,

m as estr an h amen te ac arici ador de on du l a ,

ç õ es Q U e esc on di am a c ar n e e d esa fi av am a
vi da E ev oc an do t odo o i n fl u x o da c atedral
.
,

em su a al ma c omp reh en deu aq u el a estat u a


,
20 JA R DI M DAS TOR MEN T AS

do c l xv
se u o e a m ã o di vi n a q u e
ci n zel ar a a .

C omo ele o arti st a fó ra p en etr ado do espi


,

rit o v ol u pt u oso e h u m an o da c at edr al Vi .

b r á r a aos ac ó rdes l an g u i des das n aves e a


li n gu agem i m agi n ativ a dos ar ab esc os S en .

ti ra os br aç os femi ni n os est ac ad os c on tr a
o c éo e a c av alg ada l ou c a dos sen ti dos
i mpressa n o g alg ar dos arc os S u a al ma .

i n fi ltrada dos si mb ol os c reá ra a est at u a ; e


el a n ã o er a a san t a q u e vi n h a do s ão e

e n tr eti n h a os h omens c om o c é o er a o g en i o da ,

c at edral o verb o f eit o c arn e A estat u a fôr a


,
.

feit a p ara o t empl o e p or i sso era del e u m a


eman açã o u m su ave h arp ej o n a si n f oni a dos
,

marmores .

N os br aç os de S ant a C at ali n a o arc e bi sp o c on


t i n u av a ch or ar l agri m as man sas q u e l h e
a

c o rri am em fi o sob re as f ac es sec as c omo ,

a t amp a du ma t u m b a e dah í sobr e o sei o da


,

vi rgem N as orbit as as meni n as dos olh os


.

l u zi am lh e c omo de c orv os esf ai mados E b ei



.

j o u -
l h e o p eit o aq u e
,
l e p eit o q u e arf av a p or D eu s

e c on ti n h a tredos fi ltr os de m or re r ; os l abi os ,

li n h a su btil de sibil a q u e t an t o prometi am


,

c omo n eg av am ; a fr on t e em q u e r eu n i a é p ai
,

xã o o en i gm a da v er dade mor al A gr adeci a .

l h e assi m t er se ren di do e t e l o c onsol ado


— —

em acçã o e p en samen t o .
132 JA RDI M D AS TO RM ENT AS

R af ael d eit ou a f u gi r a tremer t odo


,

c om o u m p al aci o i n c en di ado h av endo lh e ,


c aí do as esc amas dos olh os Su rp reh en dera .

o segr edo do t em pl o e i a di z e-l o aos h omens :

E
er a pr eci so arr asar a c at e dr al o mon str o
,

ebri o de san g u e e de v ol U pt u osi dades la .

p re v e rt i a e es m ag av a a s fl ô r es m ai s ch e ir os a s

d a se ar a c h ri st ã L en t ament e bebi a lh es c om
E
-
.

a fé em D eu s o san gu e das v ei as n fei t i


.

ç av a o -
s p ar a m e lh o r os de v or a r .

S obre a f u g a a fl orest a dos m arm ores


'

m u rm u r ou lh e —

R af ael é a vi n g an ç a A q u i er a o j ar di m
,

da b el ez a e a f orç a t orn ar am -no em t em pl o de


Chri st o Q u e erg am alt ares c h ri st ã os n o n osso


.

sei o q u e esm ig alh em n ossas li n h as v o l u p t u o


,

s as sob a arg am assa q u e n o s f aç am em pó


, ,

n ós c an t ar emos at é a et e r n i dade a al e gri a

de vive r e de am ar E a n ossa vi n g an ç a Ra
'
.
,

f ael q u ebrar as al m as gr osseir as dos sac er


,

dot es ; é a vi n g an ç a da Bel ez a, é a vi n g an ç a
da Vi da
L á fôr a o sol doi r av a t u do ; n o c am p an ari o
c h ri stã o da c at edr al os si n os ch amav am as

al m as
VO L U P T U O S O MI L A GRE
VOL U PT U OSO MI L AGR E
P er me n u s au tem ap ostol oru m
fi c h an t sxg n a et p r odí g i a m u l ta in
p l eb e
.

( A cto: c ap V, v
. .

A
!
b or da do mar de Genesareth u m b om ,

p edaç o antes de T i b eri ade vivi a u ma v elh a


,

E
mu ita velh a q u e fôr a n ou tr os t em p os a serv a
,

du m l evit a ra
. ali um siti o desc am
p ado on de n ã o h avi a b eira n em r amo d oli '

veir a A c u rv a fu gi di a do l ago esten di a-se


.

p ar a u ma b an da p ar a ou tr a o deserto on de
,

as q u adri lh as da S amari a p assav am a g a

l op e ac essadas p el os g ali leu s Fóra di st o


, .

ap en as u m ou ou tro c aç ador de g az el as tr an

sit av a p or ali .

A b oa m u lh er vi v i a n u m a c ab an a ab an
don ada p or l eproso ou pr o fet a h a t an t o
t emp o q u e ti n h a j á a forma adormeci da e
et ern a das r och as á b eir a dos c ami nh os .

M i rr ada aérea q u asi n ã o a vi am os l adrões


, ,

da S amari a e é n at u ral q u e a mo rt e p as
9 6 J A R D IM D As TORMENT AS

sasse p or lá se m . Ao
p é de c asa en tre
a v er ,

du as p en h as h avi a u ma h ort a on de as
,

c ou v es emmagreci am Mas e r am u ns tri stes.

p al mos de t e rr a sem a g u ar da religi osa du ma


,

p al meir a n em a v ol u pt u osa medit açã o du m


p oç o O sol e a geada altern adamen te
.
, ,

c ai am l á e c alc av am t u do c omo p at as de
c av al os N as t ard es seren as su bi a do l ago
.

o ru m or da f ai n a f arrap os de voz es e toda


, ,

i m mov el mel an c oli a do dese rt o p alpit av a .

Pel as v i si nh an ç as do P ent ec ostes e da P as


c oa a v elh a espr e it av a da sol e ir a da p ort a as
,

n u v en s de p ó n as est rad as di st an t es N essa .

e p oc a as c ar av an as atr av essav am p or al i ,

p esad as e i mp onent es de mi l al forges de mer


c adores e de c o rc u ndas de c am el os Os p ob res .

das al dei as saí am lhes ao en c on tr o e p u


n h am-se a march ar atr az da v ag a f arta ,

p rodig a de vi t u alh as c om f aro na esmol a


,

exp i at ori a q u e o s ri c os i am l arg ar Jeru


sal em .

A v elh a de T i b eri ade aproveit ava a p ri


mei ra c ar av an a q u e p assasse e l á i a n a
c au d a en t re enx ames das mosc as p ara a
, ,

Ci dade S an t a O it o di as e oi to noites á p ort a


.
,

do T empl o a su a mã o est en di da g ast av a


,

b eatit u de tal mu di c a dos b arb aç udos arma


dores de Sí don e das el egantes p atríci os de
V OL U PT U O S O MI LAG RE 97

D amasc o Chei os do S anto dos S ant os e l es


.

ap anh av am a t u ni c a p ar a n ã o roç ar a
vag a í mmu n da dos p edi nt es e c om n oj o
lhes c u spi am o o b ol o A t u rma e n ovel av a .

E
se mor di a-se p ar a pilh ar a ex e cr ada mo eda
,

r oman a . u m a f er oz b at alh a se travav a


ante os olh os di v e rti dos dos f ari seu s e dos
l egi on ari os c om gr an de i ra dos ven dil hõ es
,

u e xp u n h am b u gig ang as de o l ari a n as


q e

esc al e i ras do T em pl o .

Ao fi m das fest as q u an do as t en das de


,

peti sc os e de c u ri osi dades l ev an t av am a v e ,

l h a su bi a a j or n adas c au t el osas o c ami n h o


da G alil ei a T i n h a as p er n as m oídas das
.

refre g as e o seu p asso era i n d eci so e t u r


t u oso p al p i t an temen t e f u rt an do ao p al pit e
,

das q u adri lh as su a l ab ori osa c o lh eit a C om .

ela e as mig al has c olhi das no p ateo dos


r i c os r abi n os en g an av a o p assadi o e p ag av a
o i m p ost o aos c ã es dos r om an os E st es b a .

ti am-lhe á p ort a n os fi ns do ou tomn o q u an do ,

as c abr as c om eç av am p ari r C ap ac etes .

feroz es de bron z e esc ol tav am o p ergami n ho


do c enso M esmo al i n o dese rto C esar n ã o se
.

esq u eci a del a ; el a p or ém só ! s l an ç adas


é q u e c on t av a o tri b u t o aos edi s de C esar .

Afó ra o o lh o o fi ci al n i ngu em dav a tent o


nel a t am mo fi na de si e d esprezí vel das coi
,
9 8 J A R D IM DAs TORMENTAS

sas ,
q u e só n a ri a mai s sósi n h a
t erra n ã o se .

C orri a a f ama de q u e n a su a vi st a h avi a as


p çe on h as p e ri g osa s q u e e m p ec e m o c u r so

das h or as a f ort u n adas P or est e motiv o se .

resg u ar dav am del a c omo de l epr oso e


c orri am á p edr a p ara l on ge do p ov oad o .

A v elh a c om o est av a h abit u ada as mal


,

dades do m u n do n ã o sen ti a est es en xov a


,

lh os A c on st an ci a c om q u e se rep eti am déra


.

l h e a al ma est a i n erci a on de n ada de f ô r a


p ode f az er mósseg a Mas n a sol edade r ep as
.

sav a c om o u m r oz ari o t odas av arez as q u e a

vi da tiv er a c om el a Fô ra el a u m dest es c or a
.

çõ es si m pl es q u e p assam do b erç o á c ov a
i n ap erceb i dam en t e Os ann os desl i sam sil e n
.

ci osamen t e sobr e el es em p oeir an do-os ap en as


,

c omo aos livr os v en erav ei s da L ei n a est an te


dos dou t ores D ep oi s só lh es r est a a gr an d e
.

m el an c oli a de e rr ar n o v azi o i mmen so do


p assado .

A v elh a de Ti b eri ades n u n c a c onh ec em


as al e gri as e dores selv ag en s q u e emb al am

a vi da P or u ma p assag em doc e e su btil


.
,

c omo só h a n os son h os desc er a ao deu sdarã ,

da i n di g en ci a A su a hi st ori a p odi a il u str ar


.

p ar a u m l evit a a pr of u n da p ar ab ol a dos
ab an don os m orr i a sem t er t en t ado viv e r .

ª
As v ez es p erg u n t av a seu en tr an ç ado sci smar
30 J A R D IM DAs TORMENT AS

T ib eri ade o f u mo das c o si n h as aden sa


v a se —

resc en den t e r dos em b al samados


o do es dos
c edr os e dos t am ari n dos L ag o e est ep e .

cr u z av am u m o lh ar de i n fi ni t a tri st ez a O .

c rep u sc u l o tr azi a t odas as m el an c o li as da

t e rr a e solt av a as sobre a al u ci n açã o do


desert o .

E st av a p oi s a velh a ac oc or ada n a so l ei r a
da p o rt a q u an do u m m en dig o se ch eg ou a
e l a e l h e p e di u do r m i da Vi n h a arri m ado a
.

u m b or dã o a su a b arb a e os seu s c ab el os
,

r u os e r am de n az ar en o p o rq u esc o rri am
ç e

ab an don ad a men te em fi o .

R e p eti u o san o— t h omem


c an til en a e el a a ,

v en do-o t am mesq u i n h o de su ã ab ati da e ,

u ma do ce c ab eç a de j u m en t o l h e c oncede u ,

p ou sada n ã o ob st an t e est ar a al motoli a n a


u l ti ma g ot a e n a arc a n ã o h av er m ai s q u e
m ei a ti gel a de f ari n h a D e p oi s de c earem e
.

ren derem gr aç as ao S en h or o p obre al ap ar


dou se ao b orr alh o e ad orme c eu D e m adr u

.

g ada ai n da a pri meira g aiv ot a n ã o su l c á ra


,

os ar es a v e lh a a c o r dou a u m as p an c adas q u e
,

b ati am n o fron t al .

S an ti n h a de D eu s di sse o v elh o
a b o l et ast e o m en dig o e o m en dig o q u e r dei

x ar t e u m a l embr an ç a P ede u m a c o i sa q u e

.

se j a e l a q u al fô r t e se r a c on cedi da
: )
.
V OL U PT U O S O MI LA G RE 31

A mu lh er v ei o l ogo em fr al da tremu n h ada


,
es

e, C om o a
G alil ei a era a t err a dos mil agres ,

acredit ou de b o a fé .

P ede t o rn ou e le q u e nã o p edirá s
m vã o
E
e .

la so rri u u m so rri so en gelh ado de ci n

c oen t a an n es e resp on deu


Q u ero , q u ero ser r ap ari g a .

Fic ou o h omem m u it o desp eit ado p or el a


n ã o t er es c olhi do a s alv a çã o o u u m pêl o da

b arb a de I saí as m as p al avr a dada n ã o v olt a


,

atr az .

Bem ; m as p ar a i sso pr e ci so de t e c or
t ar em b oc adi n h os m oer m oer até fi c ar es
, ,

em b orr a e pôr t e ao l u m e
'

-
c oser .

Chei a de m edo a m u lh er fi c ou p erpl ex a .

U m a gran de forç a op u n h a se n el a ao g e —

l ado m i steri o da m ort e O adven t o das fe li


.

ci dades est av a p ara l á du ma h ora de n ã o


ser . P orq u e l h e c u st av a p oi s t ran sp ô r a
p on t e das exi sten ci as ?
E o c u rso pr op ri o de t e u s desej os m u
'
,

lb er a c adei a q u e t e p ren de
, pr of eri u em

E
v oz p at e rn al o v elh o
q u e p ar e ci a l er a des
,

c ob e rt o n os c or açõ es S 0 j og u et e do
.

p ens am en t o p orq u e el e é o creado r e o i mmor


t al E scolh e seg u n da v ez
. .

Mas vi st o q u e a vi da l h e fôr a revel ada el a


39 J A R D IM D As T OR M ENT A S

q u eri a exerc e l a A c u ri osi dade de c on du zir



.

as en e rgi as creador as i n ebri av a a A i si —


.

c oari a a vi da n a an ci a de q u er er sorv en do at é

a de rr adeir a g ot a a h o r a v ol u pt u osa de seu

desti n o. L ev ou t emp o m as d eci di u se p or —

fi m a m u lh er A h ! m as est ari a m u it o t em p o
.

feit a em p ost as ?
O t em p o q u e fôr mi st ér resp on d eu
o v e lh o de m á c ar a p en etr an do a v er ed a n ov a
,

de seu p en samen t o .

A du vi da e a ev i den t e m á v on t ade do
h omem atemori sav am-n a L embrou se p oré m .

du m a p al avr a de seu amo o sac er dot e e , ,

i sso deu lh e al ent o C ostu mav a el e di z er



.

an t e o esp ect ac u l o des g ra dan te da J u dei a e


q u an do p ar a en g odar a s est a se debr u ç av a
sobr e o livr o das pr of eci as : o q u e t em de

E
ser será ; ap en as se n ã o real i sam os son h os

em q u e n ã o h a f o r mosu r a l a c om o ti n h a
.

u ma alt a i dei a do am o e de seu s son h os afoi

t ou se o b edec er ! s det ermi n açõ es do h omem



.

E
P edi u el e u ma v asilh a em q u e a h avi a
de fe rv er . l a era avi sad a tr ou x e l h e u m ,

p ote gr an de b arrigu do e b em fi rme das


, ,

p ern as em q u e c ab eri a u m serrab u lh o de


,

tri n t a G ol i aths e on de n em c om a f ervu r a se


p er deri a a arei asi nh a du m osso Mas ele .

p edi u c oi sa mai s gei t osa e m aneav el .


V OL U PT U O S O MI LA G RE 33

A p resen t o u en t a m a mu lh e r u ma f r
an o a,

o un i c o v aso mai s q u e h avi a de p ort as a den


t ro O h omem p ôs se a c on t em pl a l a
.

era —

esbelt a c omo a t orr e de D avi d e delic ada

c omo u ma p al meir a n ov a N o b oj o h avi a .

t oda a doç u r a q u e têem as ci stern as ao se


i os As asas
'

q u os o l an c e d o l h os d os p ere gri n .

su sp en di am o b oc al ao alt o p are c en do m ã os ,

a to u c ar u ma fr on t e du m di adema ; a c u rv a

era l en t a am pl a de li r an t e e su mi da c om o a
, ,

li nh a das v ol u pt u osi dades T oda el a du m .

talhe t am e xc elso g arg al o alt o f u n do estr eit o


, ,

E
e asas t am v oadei ras q u e o su st o da v elh a

v olt ou . ra um m il agr e se a an f or a n ã o
t omb asse e se n ã o p er desse p or l á u m dos p és
ou uma das mam as .

Mas o h omem desp oti c amente q u esti on ou .

Bem em q u e fi c amos ?
,

E el a en
treg ou se p ar a p erc orrer de n ov o

aq u el a estr ada de q u e só ag or a ap erc ebi a


, ,

c omo do pi n o d alt a mon t an h a os soes os


'

, ,

b eij os as m an drag or as e o trop el das t or


,

m en t as emb u sc adas n u m t en u e goso .

P ri n ci pi ou o br u x o f az e l a em mig alh as —
.

C omo era q u asi di af an a os grit os n ã o c h e,


34 J A RD I M DAs T E
ORM NTA S

g ar am ao c ami n h o n em o ch eir o do sang u e


desvi o u os c or v os de v ô o alt o A m an ei ra
'
.

u e i a p arti n do i a deit an do p ar a a ati for a


q ,

es g u i a c om o u m c an del abr o de asas n a p os ,

t u r a dos pro fet as q u an do i m pl oram o


i n fi n it o Ao c ab o de m i n u t os el a ti n h a p er
.

di do o sen ti men t o e o h omem p ô de ac ab ar


a tar e f a e m p az e h or a b o a D epoi s p ó l a
.

ao l u me e du r an t e u m di a e u m a n o it e a an

f o ra ferv eu q u e a c arne da ve lh a era ch u rr a


c om o de g avi õ es de c em an n os Q u an do t u do .

se t o r n ou n u m a m ass a vi rg em e r osada e xp ô l a —

o v elh o ao ser en o S o bre a m an hã ao r omp e r


.
,

do sol den tre os c edr os c ome ç ou a q u e br ar


,

a a n f or a em re dó r p edac i n h o a p edaci n h o
, ,

c om t o das as c au t el as E l og o q u e tir o u t o dos


.

o s c ac os di sse p ar a a c o l u mn a de b arro de

v ei as de f og o e li n h a sensu al
Vive
O b arr o viv e u E stremec en d o c an t an do
.
,

u m grit o de p asmo a pri n ci pi o vi u Se l o g o ,


n u m a m u lh er mu it o li n da e l em br o u se Fó ra —
.

u m a tri st e v elh a m u it o v e lh a e os mil agr es

da G alil ei a h avi am p assado em su a c asa E .


,

c omo ti n h a g u ar dado t odo o sag az i n sti n t o


de m u lh er di sse p ar o v elh o em q u an t o
, ,

b amb ol eando-se se mi r av a
,

Bem d es fi g u r ada me vej o de ver dade .


VO L U P T U O S O MI LAG RE

Tam b em remoç ari a o melh or ol eiro


não

dest e mu n do u ma f ai an ç a an tig a N ã o fô ras .

t u m u it o ri c o da graç a de D eu s q u e n ã o
o b rá ras assi m u m p rodí g i o a t rô c o du mas

c olheres de p ap as .

E p orq u e teu c or aç ã o est av a t ri ste


'
.

C onsol aste me sou a t u a serv a



, .

N ã o n ada em ti me sedu z Ren de l ou


, .

Et
v ores ao I nefav el .

u en h o fé rv a ou t u a c onc u
. Tu a se ,

bi n a p orq u e me n ã o l ev as c ontigo ?
,

Tu ador as em mi m o p oder oc u lt o e
n ã o o h omem O h om em morreu q u an d o re
.

c onh eci q u e a felicid ad e n ã o está n os b en s


do d el eit e .

O n d e está s u t am ?
On d e se n ã o b u sc a .

E on de é q u e se n ã o b u sc a?

E
N a sc i enc i a de saber ser i n feliz .

l a c al ou -se c omp reh en den do q u e n a p a


,

l avra do velho t odos os desti nos se i g u al a


v am e q u e as g al as da fo r m osu r a n ã o lh e

t r ari am mai s dit a q u e su a desamp ar ada ve


l h ic e D epoi s seu ent en di men to previ d ente
.

t orn ou
N ã o sei c omo h ei de agradec er
I n u til As mi nh as mã os sam rot as a
.

dar e a rec eb er .
36 J A Rp I M D As TOR MENT AS

D eix ai s m e en t am só sen h or ?
-
,

O v elho fr an zi u u m so rri so m au em q u e ,

h avi a q u asi o desprez o das i l u sões h u man as


Tu o desej ast e .

O q u e fi c av a b em á v elh a n ã o fi c a
b em á a m oç a Q u e h ei de eu f az er ? Meu c or a
.

ç ã o desej a m as n ã o sab e desej ar .

P oseste t e a margem da vi da p or t e u

b el o g ost o Q u eri as am ar sofrer sen tir t oda


.
, ,

a am pli dã o da vi da j u lg an do q u e n ã o ti n h as

am ado n em so fri do e t u a al m a est al av a a am ar

e a so fr e r. C u m p ri as o t eu fadari o m as n ã o
est av as c on t en t e A dit a é o c on t en t amen to
.

de nosso desti n o E v e rá s t u v ai s i n v ej ar
.
,

viven do a v elh a q u e se morri a I n ve j an do .

E c o mo tivesse u m olh ar i n c on fu n dí v el men t e


i ron ic o p ar a el a q u e se j u lg av a perfeit a ,

n ov a e f ort e a rap arig a r emir ou se mi n u c i o


,

samen t e dos p és a c ab e ç a as l i n h as v e l adas ,

e o s sei os I n qu i et os
'

E ao c ab o do e x ame
.

desat ou a ch or ar em f on te
A i ! a ci n t u r a del a men e an do se p ar eci a
,

,

u m an e l su sp enso ; esc o o e m v ez de
o
p ç ,

p r en de r a c ab e ç a l ev an t av
,
a a p ar a o c eç
-
,

t am alt o c om o se q u i z esse arr an c a l a ou of er ec e —

l a de p ast o aos ab u tres As p ern as a_ .h ! as ,

p ernas q u e devi am c o rr er os m on tes e ram ,

t am deli c adas q u e dav am i dei a dedoi s b am


38 JARDI M D A s To RM E
N TA s

i n efav el g raç a eu rr an q u e
a a E
va da graça
h u man a .

E esten den d o a mã o sorri den te


, ,
no gest o
de q u em c omete u m a t olic e li n da ,
c reou a

dansari n a .
E E E
A I NV R S Ã O S N T I M N T AL
E
A I NV RSA O S NT I M N TA L E E
C rei o q u e amei Heli a ; a esse t em p o ai n da
eu n ã o h av i a di ssi p ado á f o rç a de exp e ri en ci a

a il u sã o das c oi sas da vi da ; er a q u asi p oe t a

e acredit av a q u e h a momen t os b o n s no

mu n do alé m da mu lh er a m esa e o desc alç ar


,

u ma b ota q u e n os ap ert a Q u e sau dades.

tenh o dessa ep oc a em q u e eu em pi ri c amen t e


,
,

credul o era i n fi ni t amen t e s abi o !


,

N ã o sei se ador ei Hel i a c om todas as


v eras da al ma ; seu s ví ci os e r am en c an t ad ores

E
po rq u e eram n ovos e su as vi rt udes det est av eís
p orq u e n ov as er am . l a era u m a dest as tiges
l oi ras do fau b ou r g frag ei s e gípci as sem
, , ,

an c as e q u asi sem sei os O gr an de ch ap eo


.

derru b ado dav a-lh e u m ar ex act o de cri p to


g ami c a ou de g u arda sol c om q U e serí a
,

c omodo abrig ar se Su rp reh en di da em re



.

p ou so era u m f oci nh o de n ad a pi n talgad o, ,

p ó darrosado , p ol ou feu

um

desafi o en er
,

E
v an te á vi rt u de dos b ons p aí s de f ami li a .

u ap ren di a amar an t es de as c on he c er
, ,

est as silh u et as L a G an dar a


q u e vi sit av am a
49 J A R D IM DAs TOR M ENT AS

mi nh a serr a n as c aix as de fó sf or os de vi n tem ,

e n os c at al og os q u e mi n h a i r m ã r e c ebi a das

Gal eri es-L af ayett e As c arn aç õ es r ob u st as e


.

v assoi ru das do mei o l ev av am me a son h ar —

c om el as p or est e amor i l ogi c o do c on

trast e .

B eli a era i gn or an t e c omo u m ab ade ,

m as su a al ma di r-se h i a u m a esp eci e de c i s


tern a ad ormecid a q u e vi b r av a a u m éch o e en


du l av a a u m sô p r o E
l a su rp reh en di a as c oi sas
.

e os ser es p or u m l ado p or don de as mi n h as

mã os as d eix ari am esc orreg ar ou q u e meu s ,

olh os n ã o vi am An dei c om el a p el a E u r op a e
.

desc ob ri u me c oi sas q u e Mme de Staê l n ã o


advi nh ari a .

Heli a men ti a c om z el o e c on vi cçã o e eu


apr en di c om el a a art e su mamen t e u ti l de

me deix ar l ogr ar p el o s n esc i os e c rê r n o q u e


n os di z em os sabi os e as mu lh er es , o
q u e

n ã o é f acil E n g an ou -me c em vez es e eu


.

h abit u ei me domestic ar o ri so e a amar as


-

c onven çõ es despr ezívei s .

C om ti n gi a m axi m a i n ten si dade do


el a a

eu n ã o esp alh ar a mi n h a f e li ci dade e n ã o

en tr ar n a z on a da t o rm en t a alh ei a E n c on .

trei -me assi m em eq u i lí b ri o c om P ari s e 0 meu


t emp o e essa v an t agem dev o-Ih a '
.

Hel i a era a emanaç ã o p erfeit a do n osso


A I N V E RS Ã O S EN T I M EN T A L 43

c l
se u o a v ap or a 100 á h or a n a t err a a 150 n o
, ,

c é o E n c on tr amo n os u m a t ar de n o mel rô e
.

n a t ar de segu i n t e a mi n h a garç on n íêre ap ode

r av a se d el a e el a da mi n h a garç on n íêre Su a

.

açã o b ati a asas n erv osas p ar a i gu al ar seu

p ensament o ; ai n da l á n ã o cheg amos mas


R eli a será r el ativ amen t e a esse est ado o
ani mal tr an si to ri o e p rec u rso r É p or i sso
.

E
q u e e u l h e ch am a v a L a S u r l amme
f
l a n ã o se c on du zi a e m vi rt u d e du m
desti n o p ara u m fi m ; su a mi ssã o n a t err a era
semear a v ol u pt u osi dade ; seu pr az er n ã o
er a r etir ar g ôso mas ser i n stru men to de g ôso .

O p ap el de B eli a ai n da q u e i n sti n tiv o era


, ,

emi n en t emen t e fi l an tr opi c o .

D av a-me a i mpressã o destas estat u as q u e


estam n os j ar di n s p ar a em b el esar E n t er neci a.

me mai s q u e o b om S amarit ano P ari s t em .

dest es i n fi ni t amen t e p eq u en os c u j a f u n çã o é
,

dar o pr az er sem pr eç o e q u e p or l asti m av el


ol v i do ai n da n ã o fó ram el ev ad os á c at eg o ri a

de i n stit u içõ es c omo as c on c i er ges e os s abi os


da A c ademi a .

Heli a q u an do n o c rep u sc u l o do seg u n do di a


,

em n os c on h ec emos tir o o ch p eo o
q u e , u a ,

esp arti lh o e os sap at i n h os so br e a mi nh a

E
c ama n ã o me amav a p or mi m ; amav a me
,

n a vol u pt u osi dade q u e me i a dar la nã o .


44 J A R DI M DAs Í O RM
' '
E N TA S

pr oc u rava a l u x u ri a gr ossei ra dos abraç os ;


o b edeci a á ten d en ci a de se di sp ersar de ,

c u mpri r a su a O b rig açã o de j oc u n da .

Foi p or i sso q I I e t alvez a am asse ; era


'

o i n scon sci ente e eu g ost av a de sen ti l o —

tr ab alh ar c omo o v ol ante p eq u en i n o du m


r el ogi o de sen hor a T odo el e era u m j ardi m
E
.

on de ai n d a h avi a A dã o e v a e ani maes

feroz es em lib erd ade D esc ob ri -l h e os segredos


.
,

e se ad or me ci n el e c u lp a foi mi n h a e m n ã o
,

est ar v i gil an t e .

T od os os seu s mo vi ment os feb res n evroses , ,

er am vibr açõ es h ar mon i osas desse i n c ons

ci en te c ansado da v i da refl eti da e mat e


,

mati c a do n osso mu n do O c írc u lo q u e n os .


,

o pri me das h or as dos espaç os e das n ec es


, ,

si dades tr azi a a m ai s mag oada q u e o e sp ar


-

ti lh o L embr o me ai n da das s u as r ev olt as


.
-

c o n tr a O i mmov el ! e o i m p ossi vel c on tr a o


di n h eir o e a m arch a l en ta dos au t om ov ei s
a 80 k il ometr os a h or a ! C on tr a esse esp aç o

ri gi damen te rigoroso q u e sep ar av a a P l ace

E
S a í n l e— Gen evíê ve do P a vi ll on B l eu de S ai n t
C l ou d . xcl am av a : P orq u e h avemos
la e

E
de t er est e esp aç o a p erc orre r ? !
m mi l an os as rap ari g u i nh as c om o ,

Heli a radi osas e mag n eti c as n ã o t erã o esses ,

esp aç os a p er co rr er ; b ast ará q u erer p ar a O



46 J A R D IM D As TORMENTAS

n h amo n os en t am á j an el a t oc an do de n ossas

,

c ab e ç as a p é le de fer a mosq u eada em f ogo do , ,

c eo n ot u r n o de P ari s Hel i a p assav a me o .


braç o t epi do em t orn o do p esc oç o e senti a-me


c omo q u e an c or ado n o seu i n c on sci en te .

Q u an do olh o l á p ara b aixo di zi a el a


e v ej o t an t a c asa t an t a l u z t an t as som, ,

bras fi g u r a-se me q u e est ou n u m pí n c aro


,

c omo aq u el e on d e O T en t ad or c on du zi u
J esu s C hri sto E t amb em me si n t o ten t ada

. .

E q u em é O ten tador ? P ari s? eu ?


Mas n i n g u em S i n t o u m n ã o sei q u e me
.

t ort u r a e me l ev a p ar a l on ge de mi m Mas O .

q u e é e p ar a on de é i gn or o -o
, .

S am mi l al mas q u e cresc em n a t u a ,

Heli a .

S rri u e b eij
o me resp on deu an do—

T alvez C omo seri a b om t er mi l almas


.

Q u an t as me dari as tu ?
D av a t e dav a t e

.

E as ou tr as?
As ou tr as iri am p or P ari s p el o ,

Q u e r e b an h o fero z !
N ã o ; iri am p el o m u n do f az er c oi sas
b oas v er g osar ; u mas fi c ari am n a al dei a entre
, ,

as fl or es e as arv or es as ou tr as v i sit ari am ,

a I n di a 0 E gipt o o P ap a eu sei lá N ã o era


, , , .

li n d o esp al h ar-se gen te ?


RS Ã O S ENTI M E
A I NVE NTA L 47

Si m ; mas eu se tiv esse mi l al mas


ch
fe a v a-a
s c omig o ! ch av e N em u m i n st ant e.

u m a só an dari a fó ra de m i m .

Ah E p orq u e ?
P orq u e en t am e u era t am forte q u e a ,

gl ori a dest a pr aç a ao p é de mi m seri a u ma


sombr a f u g az .

R eli a q u edo u -se a o lh ar me e pr oferi u —

A ssi m é s ambici oso V al e a p en a sê l o ?


.

V al e ; o c ami n h o das ambiçõ es está


semeado de v ol u pt u osi dades ! I m agi n a o q u e

é m arch ar p ar a u m fi m e v er se a gen t e —

apr oxi mar p al m o a p al mo Mas esf o rç ar me .


-

hi a p or n u n c a ch eg ar ao c ab o p ar a q u e o
en c an t o n ã o fô sse S ó as an ci ã s
dif erem p orq u e as c on diçõ es essas val em-se
E , , , .

u n ã o f ari a c omo Q u e h orror


ser escr av o du m desti n o !

O so fr i men t o é a f ont e mai s p u r a do


praz er .

Oh ! mi nh a dôr n ã o é c omo dizes


tu ? não é met afí si c a .

T orn ei -lh e os b eij os q u e me dera e a res c


centei

S en te-se entam ten tada a mi n h a crean ça ,

ou vi n do r esf ol eg ar P arí s?

E Si m sim mas n ã o sei p or q u em !


, ,

i sso q u e me tr ansp ort a essas c oi sas ,


48 J A R D IM D A s To RM E
NrA s

gr an des O P an theon P ari s en c ar ado daq u i


, ,

c om o u m só c orp o e u m a s ó Os p e
u en o s n a d as t am li n d os S ai n t
q ,

u m a q u i m er a P arec e-me q u e
n ã o viv o e m mi m m as fór a de mi m em t o das
,

essas c oi sas ,
m i n u sc u l e s gr an di osas
,
Meu
g ost o seri a am assar me n el as -
.

Fó ra de n ós n ã o h a p eq u en os n em
gr an des Ha il u sõ es
. .

I l u s õ es q u e sen tem e fal am .

I l u s õ es an t es c om q u em sen ti m os e
, ,

f al am os .

E xi stem e l as ?
E xi st em ; e xi stem n a n ec essi dade q u e
h a em cr ea l as
-
.

E q u em c reou essa n ec essi dade ?


A v o nt ade T o das as c oi sas sam irr a
.

di aç õ es esp arsas e h ar m on i osas dest a f orç a .

A v ont ade cr eon a il u sã o e re p arti u —a em


c oi sas c omo u m a l ob a di st ri b u e i n ti l í g en t e
men t e as t et as p el os l obi n h os .

E a v on t ade o q u e é ?
O q u e é ? P u f ! U m a su p eri l u são .

Se t u do é il u sã o p ar a q u e desej as ?
A exi st en ci a dentro da i l u sã o
v
tam
gr an de c om o dentro du ma real i dade p u ra .

O q u e é pre ci so é i l udi r se a gen t e na i l u sã o


e n ã o se ab an do n ar á s i l açõ es dest e pri n ci


'
A IN V ER S Ã O S ENTI M E
NT AL 49

pio, es oc rreg adi o c omo u m desp en h adeir o


l amb i do do m ar .

E
Holi a fi c ou p en sativa d ol h os sobre as '

vi rgens e os ev an geli st as de S ai n t ti enne —

q u e do rm i am a somn o solt o n a sombr a di a

i an a do po rti c o A alt a t orr e medi ev al p er


.

di se n a mi st eri osa esc al ada p ar a O c é o


a-
.

Q u al é poi s a melh or vi da? p erg u n


tou — me .

T odas as vi das se ig u al am em essen


c i a em f ac e da gr an de il u sã o
,
O n de el as se .

dife ren ci am é n a f or m a a fo rm a q u e en g an a
,

os o lh os e os es pírit os Tu mi n h a amada és
.
, ,

E
0 i n c on sci e n t e ; am as as c oi sas p e l as c oi sas ;

e u amo-as p or mi m u c on h e ç o a i l u s ã o
.
,

il udo me e i l u do P ar a t i t u do é ver dade e t u


-
.
,

sen t es O v ol u pt u oso pr az e r de se n ti l a ; -

p ar a mi m t u do é for ma e eu si n t o o t en u e p ra
z er de c om p reh en de l a Tu viv es de den tr o

.

p ara fó ra e eu de fó ra p ar a den tr o .

Os c am p an ari os b ati am á s ve z es a m ei a
n oit e sob r e o nosso dev an e i o ra a v o z
q u e . E
ac ordava Hel i a do t or p ô r ch aman do , a
vi da C i n c o c am p an ari os f al av am a li n g u agem
.

E
v ari ada das al m as As b adal adas de S ai n t
.

tí en n e er am c om o q u e u m ap el o de mu lh er
ao g oso c ri st ali n as f e b ri s ; n os B ernar di n s os
, ,

si n os br adav am n u ma v o z i mpe r ativ a de


p re
50 J A R D IM D A s To R E
M N TA s

g ador ; el as re p eti am O memen to homo das


fragili dad es t errestr es A si n et a da S orb on ne
.

ri a c om o D emo crit o A t o rr e de Cl ovi s fal av a


.

ao pr esen t e c om f asti o .

O meu eu r et esado c omo u m arc o de fl ech a


, ,

amol eci a ; O esp aç o v oav a sem p re e n ó s dei

x av amo-l o v o ar n ã o o b stan t e as senti n el as


,

dos c am p an ari os q u e n os dizi am lá v ai


F eri da do g u me da n oit e Heli a ch amav a-me
n u ma q u eix a de g ati n h a ; e u en r ol av a-me n os

se u s br aç os em u ant o de fó ra o sil en ci o
, q ,

c ol ossal da pr aç a e o c éo f eéri c o de P ari s me


grit av am
H omem c on c en tr a t oda a Fé t odo o
, ,

Q u erer t oda a I l u sã o D obr a-te sobre ti


, .

mesmo e salt a dá en tre os h omens o salt o


,

br u sc o da onç a !

C omo O h omem q u e pr oc u ra n u m c amp o o


t esou ro esc on di do eu b u sc av a a f orç a ou ! ,

t i v an do P ari s O u vi a c om amor os c u rsos


.

magi st raes da S orb onne e an d av a p or antí


q u a ri os e m u seu s e m e n c an t ad a p e r e g ri n a

ç ã o. A p ren di e m P ari s a a rt e d e b ri n c a r c o m
as id ei as e f az er grossos ali c erc es sobre p ri n
A I Nv EA
Rs O S ENTIMENT A L 51

c i p í os ôc os c omo b exig as de b oi N i st o se O .
,

m eu eu per deu a mi n h a e xp e ri en ci a l u cr ou
, .

N os ferros velh os e g al eri as d art e con


'

t rah í o doc e delí ri o da velh ari a Heli a e su a .

ami g a N i nett e ag arr av am-se me ao br aço


e l á i am os t odos tr es c orri gi n do el as p el o
,

c or açã o a sec u ra de meu espírit o emp ap a ,

ç a d o d e Fi cht e G u y a
,
u e t o da a p a t u l e a dos

est h et as . I amos á c aç a das eg rej as ven era


v ei s p er di das n as b et esg as e das h u mi l des
i m agen s adormeci das n o c u n h al du m p al aci o
,

dec aden t e Vagu eav amos sobret u do p el o P a


.

ri s
q u e n ã o v e m n o B a ede k e r e on d e o c a m ar
tel o se ou ve dem oli n do a p asso de c arg a
,
.

Hel i a n ã o era u m amador i n c on di ci on al


do an tig o c om o eu ; o seu i n c onsci en t e p re
feri a p u nh a de p art e A f al an g e feroz das
, .

gorgon as n os fl an c os das c atedraes n au se a


v am n a c o mo a vi st a dos rep tí s n as est u f as
-
.

Os fl orõ es e as fl ech as g ot hi c as fe ri am n a ; —

se u s nerv os n ã o p odi am o u vi r esses g rit os

ag u d os n o esp aç o .

N ã o comp reh endi a t am p ou c o a p oesi a


estr an h a de S ai n t J u l i en te P a u vre e grej a
— - -
,

solit ari a e r e c ol h i da q u e e u am av a c om o

c el u l a su ave du ma alma c on c en trada e dol o


rosa Hel i a ti nh a a av ersã o dos t u mu l os e
.

e m S i t J u li en
a n —
respi rav as e a v ol u p t u osí e
5 23 J A R D IM DAS TORMENTA S

dad e dos c or açõ es mort os p ar a o mu n do .

Mas arf av a c omo u m a c orsa em viç osa bren h a


n o t em pl o de S a i n t S ever i n T u do ahi f al av a
-
.

a li n g u ag em das fi n u ras sen t i men t aes da


t err a Os arc os as c ol u mn as frag eí s e l on g as
.
,

c omo desej os os c api tei s emm aranh ados


, ,

er am n ot as di sp e rsas da vi da q u e n ã o aseen ,

di am ao c éo N o c u n h al r oi do do t emp o
.

desc obri u N i n ett e u m a q u adr a q u e era a con


fi ssã o en i gmati c a da egrej a R esav a assi m a .

est el a p oi da

P assan t, p enses t u p asser p ar c e p assag e



,

Ou p en san t j ai p assé
'

S i t u n y p enses p as p assan t t u n es p as sag e


' '

, ,

C ar en n y p en san t p as t u t y verr as p asse


' º
.
,

A v elh a egrej a advi n h á ra as H eli as d h oj e '

e admoest av a-as : p assai di sp ersai -v os mas ,

sen ti n d o a di sp ersã o .

N o Q u ai em t oda a li n h a q u e v ai d Au ster
'

litz á P on t de V al my e on de os b ou q u í n i sl es
- -

desa fi am o estr ag o do t em p o c omo c l ep si


dr as c an samos n ó s os olh os a v er e a r eb u s
,

c ar .Hel i a proc u r av a u m a P eau de chagr í n


u e a atir asse ao l ou c o t u rbilhã o das p ossi b i
q
l i dades A hi me c u st ou 7 5 fr an c os u m A b s

c ondi tor u m C l a vi s v elh o al farrab i o l ati n o q u e


,

ost en t av a n a pri meir a p agi n a H ermes e O


54 J A R D IM D A s To RM E
Nr As

Mas B el i a nã o co mp reh en deu e eu i mp u


nh a-m e u m a el eg an ci a q u e me c ohi b i a de fa

z er -
lhc om preh en der
'
o .

Ch or ou ch or ou e eu b eb en do-l h e as l agri
,

mas prometi lh e u m sou ven i r da v en da Mau


,
-

ric e Kan n an u n ci ada n u ma g al eri a f amosa


, .

Fô m os a esse l eilã o on de t oil ett es da m oda


ro ç av am a sam arr a s óbri a do j u deu Ao .

crepit ar sec o do m art eli nh o os ci cl os da b el esa

E
des fi l ar am dean t e de n ó s a l u x u ri a seren a
da Gréci a o medo religi oso da dade-M é di a
, ,

O g ermi n al da R en asc en ç a P ali ssys desv air a .

dos de côr e m p arelh av am c om al m ofi as h i s


p an o mau resc as ar den t es de t on ali dade As

.

di abru r as g oth i c as fam i l i ari sav am c om a art e


de br on z e do se c u l o X I V p u n h os l avr ados de ,

p u n h ai s salv as de Ven e z a b ah us de P ort u


, ,

g al A
.
p at u l e a du lcí ss i m a dos pri mi tiv os t o

c av a n a en gi m at i c a fi rmesa de Vi n ci A a rt e .

p assav a ali c omo c oi sas en g oli das e vo mit a


das p or u m n au fr agi o .

U m a gr av e m el an coli a b aix av a da n u dez


de lic ada dos m arfi ns e do p esado r ec olhi
men t o dos ev an geli st as de p edra P are ci am .

est es esc u t ar as p an c adas do m art e l o o rde

n an do os tr an ses de seu desti n o E os seu s olh os .

c eg os escl areci am-se da m axi m a das resi gn a


õ
ç es tu do vem do p ó , tu do r egressa ao pó
A I N V ER SÃ O S ENTIMENT A L 55

U m a fi l oso fi a de desani m o pr av a lh es sobre


so -

as fre n t es dobr adas t u do e p oe ir a e h u ma


n i dade mai s n ã o é q u e u ma h erp es sobre O

pl anet a b oc ado de l ama n a i mmarcessi v el


,

V i da dos esp aç os P assados mil an os on de


.

es tará a G al e ri a Ge orges P etit ? M ai s doi s

mi l en ari os e q u e sombr a en v olv erá est a c api


t al orgu lh osa e a sci en ci a e a f ama dos A n at ol e
Fran c e e P oi n c aré ? M ai s u ns sec u l os de mi l e
ni os e exi stirá de p é u m r efl ex o do p ens a

men t o d h oj e u ma das v er dades ti das c om o


'
,

i mm anen t es h oj e est a c asc a de m at eri a i n fi


,

n i t esi mal n os m u n dos on de ch o r am e se m a


,

tam os h omen s ?
Heli a t en t av a-se de t u do e b at en do o p é
me r ogav a a c ada momen t o

E
L ícit a li cit a ag or a n om de D i eu !
,

u n ã o p odi a c on c orr er a S i gn or e lli q u e

ati n gir am fr an c os n em mesm o a D au


,

bi gn y en tregu es a A mi nh a b ol sa
era p o br e e ou vi a o s g emi do s de m eu s b oi ei

ros atr az dos b oi s .

U m desen h o de R emb ran dt su bi u de pr eç o


c omo u m fog u et e n o ar 5 10 , ,
fran c os
, .

U m C raesb eeck su r gi u do alt o de fr an


c os ; u m M ai n ar di o u vi u u ma v oz esg an i ç ada

de ve lh o fran c os U m a t ab oa.

ap ag ada da U m bri a fez b at alh ar c e m fortu


56 J A R D IM DAS TORMENT AS

n as e pre ç o du ma vi rgem de B oti c elli f ari a


O
pr ostit u i r mi l virgen s .

A tr az do m ar de c ab e ç as eu ri a da f oli a do
di n h eiro e Heli a mordi a os l abi os .

D esfi l á ram n as m ã os dos l ei l oei ros J esu s


s au dav ei s e p an deg os da Fl an dres matr on as ,

au st er as de fr on t e e n c í c l o p edi c a de C ol on i a
, , ,

mi ssaes on d e em n u v en s de algodã o em
r am a an j os v oav am c omo b orb ol et as .

Q u an do o l eil oei ro apr esent ou u m a cl oro '

ti c a de H enner Hel i a n ã o p ou de rep ri mi r se


,

e li cit ou F azi a lh e fren te u m sen h or de


.
-

mei a e dade de b arb a á Frederic o A l u t a


, .

foi desig u al e c u rt a ; du m l ado O san g u e


fri o e o c alc u l o do ou tro t od os os n erv os da
,

mi n h a aman te Heli a n ã o el ev ou o preç o g ra


.

du al men t e esc alei ra a esc al ei ra Deu g al ões


, .

de p ol dr a q u e p el a pri meir a v ez sofr e o c av a


l eiro .

E
Ci n c o i n vesti das de a fr an c os e
O m artel o b aix ou -se p ar a Hel í a u não .

i n t ervi m n em b oli l ev ado n o pr az er da


, ,

av en t u r a Heli a deu o meu n o me a mor ada


.
,

e a c au çã o e eu p ersev erei i mp ert u rb a


v el .

V olt amos p ar a c asa sil en ci osos ; sen ti a


q u e H e l i e vibr av a da m i nh a i m p assi bilid ad e .

L og o q u e ti rou O ch ap eo sen t ou -se-me n os ,


A I N VER SÃ O S ENTIMENT A L 57

j oelh os assarí t o u — me O rost o de b eij os e


, p
arr o j ou —
se a diz er
A m an hã é preci so p agar O Henner
'
.

Nã o p ag o n ada .

E n u m di sc u rso p ont u ad o e l en t o demons


trei lh e o b l u ff fr an c es de H enn er q u e u m
-

marchan d de ta b l ea ua: i nv ent á ra p ar a os


ameri c an os e as H eli as u e ti n h am u m amant e
q
l ôr p a e pr odig o E c on cl u i
.

N ã o c ompr o H enn er ; di n h eir o dava eu


p ara O n ã o en c on tr ar n o c ami n h o q u an do o
desej o de v er m e l ev a aos m u seu s .

Hel i a arrep el ou se ch or ou q u ebr ou me



, ,

u m j ap on es q u e sobr e a esc rev ani n h a me

en si n av a a ri r dos p at et as E c omo p ersi sti sse


.
,

n a mi n h a r esol u çã o c obri u O ch ap eo p ó dar


, ,

r oson a fi g u ra e p el a p orta en treab ert a

E
l an ç ou me
-

u t en h o q u em p ag u e .

S ai u q u ebr ant ada de desp eit o ; eu fi q u ei


ser en o dest a v ez c om a m i n h a algi b ei r a .

R eli a desen c an t ou di n heiro n ã o sei on de

E
n em c om o e a fi g u ri n h a lí n fat i c a de H enn e r

foi r ec ebi da em c asa ra u m retr at o fr u st e


.
58 J A R D IM D As TOR MENTAS

de ra p ari g a du m ver de de ab si nt o N em vi da .
,

nem côr ,
ap en as u ma l an g u i de z pi c an t e de

femea du m h arem .

Heli a i ns t al ou a á c ab ec ei r a da c ama ;

l em br o-me ai n da da mi n u ci a c om q u e el a
apr u m ou o q u adr o e est u do u a si metri a da

p arede ! U m c el ebr an t e n ã o p av esari a c om


mai s di svel o o c ali c e em q u e v ai O p er ar-se o
gr av e mi steri o da tr ansu b st an ci açã o o vi n h o
da pip a v olv er em san g u e de Ch ri st o Q u asi .

u m n t rn ci P or i sso a mi n h a su rpr esa


q e e e e e .

foi gr an de q u an do a v i c om O al fi n ete do
ch ap eo crav ar du as v ez es a p obre t éla M ai or .

est ranh esa n ã o me c au sari a o sac er dot e q u e ,

apó s t er ab sorvi do O vi n h o e u c ari stí c o fi z esse ,

u m a c are t a e c u spi sse fó r a d av i n ag rado


'
.

N a m an hã se g u i n t e c om O sol e O movi
men t o v olt o u l h e t odo aq u el e r espl en dor q u e
-

semeav a su a gr aç a li g ei r a de c ot ov i a .

C om N i n ett e fôm os p eri p at éti sar p el o


L u xemb u rg o p erg u n t an do ás pri n c esas de
,

F r an ç a e N av arr a hi rt as n os p e dest aes o q u e


, ,

di zi am seu s olh os t am di st an t es n o p assado .

O j ar di m c om o bri lh o dos m arm ores e a


,

g eom etri a ri g or osa dos t alh õ es ti n h a u m a ,

E
deli c adez a de bilh et e p ost al il u str ado q u e
mu it o apr azi a a R eli a l a g ost av a da p art e
.

on de est u dan t es r ap í n s e mômes ch al rei am


,
A IN VER SÃ O S ENTIMENT A L 59

N -l h e
a est al ar os b f
o es i n
. e tt e an t e p u n h a

E
o B ass i n co m a e xpl an ada
'
os p eix es d oi r o
, ,

e as mu ralh as fl ori das das p el ou ses u.

preferi a O ou tr o extremo on de h a mai s ,

arv or es e a t er n a alg az arr a do gu i n h o] e

dos c a rrossei s á som br a do C apit el dos Beij os .

E sse é O L u xemb ou rg dos p eq u err u ch os das ,

mi sse s e dos salt os de c or da e v er en treab ri r


u m mu n do i n t eressav a me mai s q u e o u vi r

chanter fl eu rette .

Heli a p re ci sava de en c on tr ar al mas on de


vogar e olh os em q u e ac en der desej os e eu
n ã o lh e p u n h a em b arg o F azi a-se c o rt ej ar
.

dos r ap az es e t amp ou c o i sso me m ol est av a


E
.

ra u m a i n fi deli dad e men t al q u e c o,


m pr e

h en di a fi lh a daq u el a su a preci sã o de irr adi ar


,
.

Q u e m e i m p o rt av a ? seu c o rp o e r a es c a sso a

dar l u x u ri as emb or a seu s olh os fôssem pr odi


g os a promet e l as
,


E
l a e ra u ma h arp a
.

m i st eri osa q u e p ar a f az er vi br ar r eq u eri a u m


, ,

t acto fi n o e c apri ch oso P or i sso ch amav a


.

E
aos n ossos abr aç os v ap or osos e i n v en tiv os

c omen t ar Bergson r a a met afí si c a n o

amo r O q u e est a pr oso p o p e a gen til si gn i fi

c av a .

N ó s er amos gu l osos de Bergson c omo as


o p er ari as do f a u b ou r g de b at at as frit as e m

rodel as E to das as sext as feir as m oí am os


.
60 J A R D IM DAs TORMENTAS

du as h or as b em m o í das p ar a g an h ar l og ar
no C ol l ege de Fran c e, no f amoso c u r so sobre
a P erson ali dade .

O fi l osof o c ati vav a os deli c ados e desal terav a


os seq u i osos de i n edit o A su a c ab e ça era j á
.

p o r si u m ch am ariz esc u lt u r a g ot h i c a em
,

m adeir a de bi g ode r oi do aci m a do l abi o n u m


,

E
tr aç o i n ci siv o de m alí c i a De p er fi l fi g u r av a
.
,

Se me u m alq u i mi st a da dade M edi a e mm a


- -

g re c i d o sobr e a n eg ativ a das r et o rt as Mas .

su as f al as er am sen h ori aes mel i fl u as du m


, ,

p erson agem da C u ri a N o t odo O m axi m o .

eq u i l í b ri o
q u e p ode h av e r n a c o m bi n açã o

E
do mov el e do rigi do .

l e ab at eu o o rg u lh o da r azã o e p op u l a
ri son o pr ag mati smo q u e v ai mai s l on ge
,

q u e a sci en c i a emb or a tr ag a c alç ados os


,

chi n el os de A ri st ot el es A su a fi l osofi a é .

a fi lh ad a da u el l es r ei s m ag os q u e f or am at é
q
O pr esepi o g u i ados p or u m a estrel a ; el a v ai
,

at é as en tr an h as dos e n igm as c on du zi da ,

p el a i n t u i çã o .

E mb or a del eit av a me a ou vi r Berg son q u e


,

c ei f av a n os si stemas desl ei x adamen te c omo


, ,

mã os de madam a n u m c an t eiro de fl ôres E .

Bergson apr ov eit ou -m e ; gr aç as a el e p ou de


en c on tr ar O o pti mi sm o fi l oso fi c o de salã o
u e e m b as b ac a e desc obrir u m a metáf o r a
q ,
62 J A R D IM DAS T Ó RM E
NTA S

S olt ei u ma ri sada
t pit osa es re .

E i n dec en te an d ar a espi ar
'
.

R i o u tr a v ez e el a p ôz -se a ar repel ar os

c ab el os e a sol u ç ar
'
C est dég oú tan t /
C om p reh en di mu ito b em a p obre S u r
fl amme . Q u eri a v er-me a defen der os meu s
di reit os de m ach o e q u e e u me i n di gn asse e
l h e b atesse t alv e z A pó s i sso fi c ari a sati sfeita
.

e r en di da .

P orem eu n ã o q u iz dar-lh e o pr az er de con


t rab al an çar p or u m a vi ol en ci a seu act o dese
l egan te D ei x ei a assi m em deseq u ili bri o c om
.

el a e c om ig o c om

E
o u m p o bre f arr ap o a git ado
,

en tre doi s ven t os l a g emi a arr an h av a se


.
,

,

atir an do me os n o m es h e di on dos do c a
-
lã o E .

eu sen ti a u n a ext r em a v ol u pt u osi dade n aq u el

as l agri m as q u e mi n h a forç a e n ã o meu sen


,

t i men t o f azi am derr amar .

Q u an do a v i m ai s seren a fu i ao q u art o e
tr ou x e a t ri st e t el a massacrada .

N ã o q u e r dar ou tr a al fi n et ada? di sse

E
e u d ar m ei o seri o
'
.

l a p rec 1 p i tou -se sobre o q u adr o e dil a


c eron o D ep oi s li mp an do o ch or o pr oferi u
-
.
, ,

N ã o n ã o p osso viver m ai s c om u m
,

h omem q u e me n ã o ama S eri a o i n fern o . .

P u s me a asso bi ar : Mar i ette ma p eti te Ma



,
A I N VER SÃ O S ENTIMENTA L 63

í
r ette ! mq u an t o
e el a rev olví a as c omodas e
arr an c av a p ara fó ra a r ou p a b ran c a q u e
lh e perten ci a .

De t emp os a t empos ou vi a o estri bilh o


du m sol uç o
N ã o n ã o p osso vi ver c om u m h omem
,

q ue me não a ma !
T odat arde l ev ou a S u r /tamme a
a

esb an du l h ar mal as e a f az e r p ac ot es das


c alç as de ren da e das c ami sas de seda q u e
meus h abit os del e it osos c on h eci am Ha .

u ma v ag a mel an c oli a n o f azer as mal as e a

c asa est ava chei a dessa mel an c ol i a S obre .

S pi n osa resen tí a-me .

A pro xi mei me en t am de Heli a e ag arr an do


E

l h e o br aç o sac u di a vi vamen t e —
l a t eve
apen as est e su spir o de r en diçã o

D ei x a me p artir ! -

E c ai u de b ôrc o ch orar O c h ô ro v ol u p
t u oso e i n divi du ali st a da desf eit a desej ada .

E u ,
rr u i n av a-me a san g u e
t t
en re an o , t a

f ri o sem q u e a br u t al l o gi ca das ci fr as q u e
,

meu c asei ro me e xp edí a t odos os meses tivesse


o p oder de me c ort ar O c ami nh o A mi nh a .
64 J A R D IM DAS TORMENTAS

vi da c om Heli a p roseg u i u no mesmo c u rso ,

ch ei a dos mesmos ap eti tes e das mesmas


di sp ers õ es N i n ett e vi n h a v er-n os
. men do e
p arec eu me q u e el a ti nh a u ma c ert a i n c l i n a
-

ç ã o p or m i m U m b ég u i n fi lh o t alvez daq u el a
.

deli ci osa t á ra u a S u r fl amme m e r ev e


q e

l ou de r ou b ar os ami g os á s ami g as .

N i nett e era ao c on tr ari o de Heli a u ma


, ,

r ap ari ga mi mosa de c arn es f art as an c as e far


,

t os sei os sen su al du m a sen su ali d ade q u e


,

e u v i agit ar se-l h e n as n ari n as ao c ab o du m


-

p assei o f ati g ant e A s vez es ao p é del a sen


' '

.
, ,

ti a a v ag a f or mi dá v el du m desej o selv agem


e adami tic o tr ep ar n as mi n h as c arn es .

E
R eli a t ol er av a a p orq u e n ã o era l oi r a

e ti n h a u m ar c an di do de c ol egi al u g ost av a .

del a p orq u e me dav a a e x act a medi da da tige


fi n a e extr ah u mana de Hel i a e p o rq u e su as
an c as f o rt es vi v i am n a sau dade q u e á s v ez es

se at ei av a e m mi m dos tron c os v assoi ru dos

das serr an as .

N i nette h abit ava em faux ménage c om u m


secre t ari o dos A ff a i res E
tran geres e f al av a-me
das p ot en ci as c om O h abit o f ami l i ar com q u e
al u di a a J osep hi n e ou a J ul i e .

T odavi a n os rar os ap artes q u e ti nh amos


el a c on t av a me c oi sas monstr u osas e pre


,

t en deu c erti fi c ar me da signi fi c açã o brej ei ra


-
A IN V ER SÃ O S ENTIMENT A L 65

ue ti n h am as al fi n et adas n a t el a de Henner
q .

E eu mai s si mp ati sei c om el a p or est a d u pli


ci dade est e fi lã o su bterr an eo q u e me mos
,
.

tr av a a serpen tesi n h a p rev ersa e ati l ada atraz


da i n gen u a r ap ari g a de bo as c ar n es .

A n ossa vi da seg u i a u ma estr ad a mon ot on a


e r e gu l ar c om p er egri n açõ es p el os mu se u s e

p qes u i z as n as v e lh a s c at edraes Hel i a era


.

a sempr e mesm a S u r /l amme ap en as mai s


,

t u rb u l en to seu i n c on sci ente c ontra a medid a


das c oi sas .

N as n oit es c om pri das i amos p or ca b arets ,

on de se b err a e h a c ab el eir as i n t onsas esc u t ar ,

a c an çã o do di a A mi n h a amad a ar di a ao
.

c ant o pr ofetic o de X avi er P rivas e t oda se


derr amav a á s i mprec açõ es de Monteh u s N o .

C aveau du C ercl e c ai u ap ai x on ada do b el o


,

Al fr ed du ma p ai xã o q u e du r ou u ma seman a e
de q u e i gn or o os tr ami t es .

C on ti nu av a a dar-se p el o praz er de se v er
dada e em vi rt u d e do seu p ap el de semear a
v ol u pt u osi dade N i nett e q u e c ompreh en di a
.
,

O sen ti do de c ada olh ar del a fi t av a me c om


,

ar de diz er

Você sempr e me sai u u m p ou l e mou ílleel '

Mas eu p er doava p orq u e o q u e é preci so e


,

c u mpri r c ad a u m di gn amen t e o seu mi ster .

Helí a af adi g av a-se a c u mpri r o seu q u e era ,


66 J A R D IM DAS TORMENT AS

de di st ri b u i dô ra de de li ci as Q u e p odi a eu .

ret orq u ir lh e ? D evi a t orc er su a sign a?


N est e p on t o N i n ette era-l h e i n feri or N i ,

n ett e q u e r epresen t av a mal de serp en t e di s

farç ada em qu eru bi m .

N u ma das t ardes su av es e gri s do ou tomn o ,

q u an d o n o L u xem b u rgo as folh as v ô am ,

rec e bi a vi sit de
a M me
P ot i er e de M P o
h ª º

thi er resp ectiv amen te mã e e i r m ã de


,

Heli a .

Mme P othi er m
E
a fi v el á ra u ar de c i rc u n s

t an c i a q u e n ot ei l og o ao abrir da p ort a r a .

u m a b o a m atr on a de 50 ann os , rij a fi si o ,

n omi a de mu lh er q u e en g an a O m ari do detr az

p
da o a rt M.
ª º A n g el e u m a r ap arig a a lt a typ o
, ,

B ar Oly mp i a cheir an d o a c oc ot e a l eg u as de
,

di st an ci a .

N o m eu g abi n e t e á som br a dos chi n eses


,

sardon i c os t ev e l o g ar O c on c i l i ab u l o Mme Po
, .

thi er pi g arreou c i lh ou as mã os sob re o v ent re


,

e n u m sil en ci o r ec olhi do pr o fe ri u

S en h or H il ari o B arrel as n ã o sei se v ou ,

ser i m p ort u n a .

Não f aç a f av o r .

N ã o sei se v ou ser i mp ort u n a mas ,

o m eu de ve r de mã e me des c u lp ará a se u s

olh os .
A I N V ER SÃ O S ENTIMENTA L 67

E mi nh a obrig açã o z el ar p el o b em es
'

t ar de meu s fi lh os e se o n ã o fiz esse D eu s me


p edi ri a c on t a r
.

Sem d u vid a alg u ma .

An g ê le está em v esp er as de se c ol oc ar
e mu it o b em U m sen h or ri c o e c on si der ado
.

está em p edir a m ã o

Os meu s c u m pri men t os mi n h as se ,

n h or as .

E b om U m
homem q u e se en a
morou de su as vi rt u des p orq u e mi nh as fi lh as
, ,

sr Barr el as se n ã o sã o f or mosas n em ri c as
.
, , ,

tiveram mu ito b ons pri n cípi os .

E
S alt a aos olh os da c á ra .

u n ã o t eri a m ai s c on su miçõ es so br e O

f u t u ro de meu s fi lh os se n ã o fô sse est a ,

c rean ç a q u e o sr p ren deu e q u e tem p el o


.

sr u m a p aixã o de mo rt e
. .

A q u em c orresp on do m adame , .

C ert amen t e ; eu sei q u an t o O sr a esti ma .

p orq u e el a c on t a me Ora eu sei o q u e sam



.

moç os sob ret u do mo ç os est ran j ei ros q u e


, ,

h oj e est am aq u i am an hã est am ac olá N ã o .

q u er di zer q u e eu du vi de do seu c aract er ,

sr. Barrel as n ã o C omo m ã e q u eri a ap en as


,
.
,

pe u rg n t ar -lh
e O q u e p ensa do f u t ur o de mi nh a

fi lh a Hel í a?
68 J A R D IM DAS T ORMENT A S

O q u e p enso? P enso mu i to b em . E o

p ensa v o cemec ê ?
'

q u e

O q u e p en sam os ? Olh e , a f al ar l h e fr an c o ,

sr . B arrel as, n ós p ensamos q u e se Heli a é


f art a e mi mosa h oj e ,
am an hã p od e n ã o se-l o .

Si m h a,

P ode n ã o se -
l o , p orq ue b asta o sr . deix ar

Nã o p enso n i sso .

Mas p ode ser ob ri g ado a f az e



lo ?
P osso .

Q u e f ari a en tam de mi n h a t a
E q u e f ari a B eli a nessa c on j u n t u r a ?
S r B arrel as v amos ao fi m se ama
.
,

mi nh a fi lh a c omo el a o ama p orq u e n ã o h a ,

de asseg ur ar lh e o f u t u ro ?
-

H ei m ?
P orq u e n ã o c asa c om a pobre c rean ç a ?
Fi q u ei u m momen t o h esit an t e sobre se devi a
soc or re r me do ci n i sm o ou da fr an q u ez a; O

ci ni smo div erti r-me-hi a at é a p ort a da mai r i e ,

f q z l v a -m -hi a despir a l u va
a ran u e a e r e

br an c a c om q u e me n ã o dei xo su j ar p or este
mu n do i n c ardi do Opt ei p el a resp ost a ecl e
.

t ic a
Mas mi nh a sen h or a eu sou c eli b at ari o
, ,

E
p or p ri n c í p i o e p e l a f orç a das circ u n st an ci as .

m p ri n cí p i o p orq u e O c asamen to n ã o r esolv e


,
70 JA RD I M D AS TOR MENT AS

se m Heli a v ei o en rosc ar -se me ao


reti rá ra ,

p esc oç o e mi ou me ao ou vi d o

A mam ã e tôl e di s ! M et eu se— l h e em


,

c ab eç a c asar -me c on ti g o e n ada a fez d esan


dar Tu as b i en fa i t, mon p eti t mai s di s tu
.
, ,

n as p as man g é ta fortu n e n on ?
'

N ã o, meu amorsi n h o .

A m am ã é J u lg a-se mu i t o esp ert a


Hel i a b eij ou -me abr aç ou me arr ast ou -me
,

,

p ara os seu s br aç os e p er an t e aq u el a en trega


! mi n h a mal í c i a m an i fest a e c on fessa amei a
E

, ,

amei -a ra alg u m a c oi sa o am or de S at an az
.

ren di d o á si n g el a dev o çã o da fr aq u ez a fem i

mn a .

Cheg ou O i n verno e tiv e q u e c omp rar


m art as zi b eli n es e l on tr as p ara Heli a todas
, ,

as samarr as sedosas e c om pl ex as c om q u e a

p ari si ense p refaz a su a en ti dade de feli n o .

N os p aren t esi s d a v ol u pt u osi dade ou vi a os


brados desesp er ados de meu s b oi eiros E a
.
.

v oz i n t eri o r di zi a m e : q u an do dará s t u o
-

salt o de on ç a en t re os h omens ?

Hel i a c on ti n u av a a su a mi ssã o de u ni versal


amorosa M e Pothí er m an dav a-me p er
m
.
A I N V ER SÃ O S ENTIMENT A L 71

g u n t ar t odas as se man as q u an do l avrava


b em d l ma a f avor de su a fi lh a
'
o a .

E
N i nett e c omo a essa d at a h ou vesse az a
,

f ama n os N egoci os st ran j ei ros vi si tav a ,

n os f req u en t emen t e p assan do á s vez es di as

i n teiros c omn osc o R ec on h e ci q u e vi n h a


.

or m i m e n ã o p u d e i m p e d i r-me d e l h e
p
agr adec er p ens an do n el a .

A gran de meig a emergi a d olh os fl ori dos


'
,

e sei os t rem u l os da serp en tesi nh a do fau


,

b ou r g S u r fl amme an dav a mu it o l on ge p ar a
.

re p ar ar n o
q u e s e p as sa v a ao l ad o E e u t am .

pou c o p oderi a c orresp on der ao i n t eresse de


N i n ett e den u n ci ando-a
, .

N i n ette u ma t ard e su rp reh endeu -me só


, , ,

em c asa Foi tí mi da desastr ada q u asi


.
, ,

ri dic u l a T orci da u m c an to c omo u ma j ovem


.

desemb arc ada da pro ví n ci a f al o u -me em ,

v ez do b ail e em c asa do P r efeit o de


M arr oc os e do C oup d A g adi r E st as c oi sas
'
'
.

er am-l h e t am t ri vi aes c omo p ara os con


,

c i erges o c or dã o da c ampai nh a .

N i n ett e di sse eu br u sc amen t e es tá

c onvi dada p ar a t est emu nh a d o meu c asa


men t o .

R o m p eu á s g arg alh adas .

A c eit a si m ? ,

C om q u em ?
72 J A R D IM DAS TORMENT AS

Ora co m C o m Helí a .

Ah ! ah !
S ab e N i n ett e
, ,
t
es ou a es tr ag ar o f u t u ro
da
A h ! ah !
D ev o t c eremoni a O c asamen t o
lh e
-
es a .

p ar a mi m é u m a c e remon i a .

D ei xe se de m an g ar
-
.

E c ert o e faç o o p orq u e sei q u e o


'

,

c asam en t o v al ori sa a m u lh er q u e n ã o é ri c a

e q u e n ã o é f ei a sobret u do u n ã o é f i a
q e , e .

C asada Hel i a en c on tr ará f acil men t e u m


,

am an t e ric o u m b om mari do
,
p orq u e n ós ,

Que
E n c on tr ará mesmo o aman t e ri c o e o
m ari do E p or q u e ? a atr açã o do
fr u ct o prohi bi do N i n ett e ,

D eix e-se de mai s gr aç as sr B arrel as , . .

Mas est ou deci di do .

A ch a q u e f aç o m al ?
fr on te c om t oda a seri edade
E
E n c arei -a de ,

q u e p o u de r eu n i r l a fi t o u me e e
. sp era —

men t e O c or açã o est al ou lh e —

Vou s ê tes fou ; avec u n e g ou r gan di n e ?


P u x ei -a c on tr a mi m ; d ei xou -se en l aç ar ,

b eij ar amar sem u m sôp ro de resi sten ci a


, ,
A I N VER SÃ O S E ME
NT I N TAI .
73

c omo u ma aman te q u e de h a mu i to c on h ec esse


meu s abr aç os .

Hel i a irr adi av a a prop osit o de t u do p or,

p ai xã o p or pi edade , p or desfasti o,
,
p orq u e o
seu mi st ér era di stri b u ir -se c omo O sol .

A su a v en t u ra salpic ou -me de
u lti ma a

deseleg an c í a e eu r ec onh eci pe l a pri mei r a


vez O v al or e fi ci en t e dos pre c on c eit os Ao .

p é de n ossa c asa n u m t erc ei ro an dar q u art o


, ,

al u g ado v i v i a u m rap az ote


, q u e t odas as
n oit es se mostr av a á j an el a a c an t ar a

E
valse b ru ne .

ra be-o mai s t arde p el a con ci erge


so u

empr e g ado n u m gr an de ar maz em de g ener os .

Vi a-O sempre só tri st e tr ai ndo a tri st ez a n os


, ,
.

'

tre mu l os da g arg an t a q u e f azi am ch or ar a


,

n oite
C est l a val se b ru n e
'

D es c h eval i ers d e l a

E le ti nh a u ma chacu ne c omo dizi a a


não

c an çã o e aq u el a exp ansiv a orfan dade c au sava


me p en a Hel i a esc u t ou o u ma noit e de l u a
.

,

E
chei a em q u e os ev an geli st as de S ai nt
ti enn e se vi am a b en diz er a D eu s e di sse ,

co mpassí v amen te
74 J A RD I M DAS TORMENT AS

E
C oit adi nh o !
u rep eti c omp assi v amente

C oit adi nh o !
U m domi n g o q u e Heli a sai ra mu it o c edo
a vi sit ar a mam ã en x erg u ei atr av ez
, das
p ersi an as r ôt as do q u art o al u g ad o u ma
silh u et a fi n a q u e se p assari t av a R en di .

graç as á harmon i a p reestab elec i da q u e man


dá ra u ma t e rn u r a ao mel an c oli c o tr ov ado r E .

E
momen t os dec orri dos tive de acresc en t ar c om
san t o A g osti n h o t q u i d erat q u od me detec
ta b at n i si amare et a mar i l Atrav ez das p er
i
s an as r ot as do q u art o al u g ado rec on h e
c era a S u r ttamme n a silh ue t a b ran c a q u e se
assari t av a
p .

Mas o br aç o q u en t e de Hel i a
r c v a me en os a —

no i n c onsci en t e e eu i nt ei ro adormeci a
c omo u m l obi n h o en tr e as tet as du ma ovelh a .

N u m di a n ost á l gi c o de c eo a p i n g ar l ama
, ,

. v ei o N i n ett e a rogo meu A chei -a l u xu ri ant e .

c omo u ma magn oli a n o temp o dos ni n hos .

Hel í a? i n q u iri u .

Foi v er o av ô a C h â l on s .

T i r ou o reg al o ti rou o ch ap eo tirou as


, ,

l u v as j á n ada ri di c u l a j á n ada desastrada


, , .

Dei l h e a l er o meu b em d al ma
'

t

Heli asi nh a, q u an do t eu s d edos r asgarem


t
es e en vel op e , t r i mu it o l on ge
es a e da Mon
A IN V ERS Ã O S EN T I MENT A L 7 5

l a g ne S ai n te- Gen evw ve . l evo c omig o


Nã o te
p orq u e t u és t am i n di sp ensá v el a P ari s
c omo o S en a e o t u mu l o do I mp er ador .

Mas nu n c a eu i rei t ã o l on ge q u e olh an d o ,

p ara tr az n ã o v ej a o l u ar q u e t u semeáste
,

n a en cr u zi lh ada de n ossos c ami n h os P eti te .

S u r /I amme g osa ri conti n u a a deix ar te


, , ,
-

en g oli r p el a vi da e será s mai s feli z q u e eu ,

eu u e b e b o a vi da p el o c op o t u rvo da
q
momi n el te A hi fi c am c omo éch os est es
.

c h i n esi nh os sardon i c os est as virg en s g oth i c as


,

p asmadas e O pi an o n u ma t ecl a do q u al a t u a
,

P eti te B oi teuse c ox eav a se a al egri a dest e


.

P ari s de q u e milhões d al mas d esde a al ma


,
'

au g u st a de P alli er es á al ma do p equ en o c om

mi s de F elix P oti n ( o da val se b ru n e) f az em


u m monstr o ador ador e ado r ado U m b eij o do .

H il ari o .

Bu t am ? i nterrogou N i nette .

E p ara j a a p arti da
'
.

P ara on de ?
Berli m R om a a
, ,
veremos .

E sósi n h o ?
N ã o c o m u ma r ap ari g a ador avel f ort e
, ,

c omo u ma c ol u mn a do P antheon .

O c arr egador v ei o b u sc ar as mal as Pe gu ei .

n o ch ap eo e n a be n g al a e di sse

Vamos q u e o trem é as 10-5


, .
76 J A RD I M DAS TORMENTAS

Vamos ! v amos q u em ? ,

Q u em ? N ó s amb os N i n ette , .

Beij ei -a n a b o c a amon t oei -lh e


,
toq u e as ,

l u v as e o reg al o sob re os br aç os .

A ssi m n ã o ; assi m n ã o se tom a u ma


deci sã o t am gr ave .

E mp u rr ei -a p ar a o t axi -au t o p assamos ,

p el a c onc i er ge de N i n ette e ás 10 5 to m á v amos —

o r api do p ar a Berli m N a n oite segu i n te


.

est av amos n a Frí ederi c h str asse A lt as h or as .

EH
N i nett e dizi a-me
e l i a?

Beb e rá l u mes p rompt os em ch am p ag ne ?

M oi n ará c om o e mpreg ado de F elix P oti n ?

E
C on ti n u ará fai re l a gou rgandi n e ?
A mei N i n ett e 24 h or as l a am av a me .

mu i t o p or mi m e i n fi ni t amen te p or si .

Am av a me c om o se am a em verdade du m amo r

directo e i n q u eb rant av el N i n ett e era N i n ett e


. .

A n dei p el a I t ali a e p el o E gipt o arr ast an do ,

E
a esb elt a r ap arig a q u e os h omens me c obi ç a

v am . u i mpl orav a deb al de I l u sã o i n fi n it a


q u e m e i l u di sse .

Prov á ra o ven en o do i nsconsc i ent e n os


br aços d Hel í a e fi c ara envenenado Rec ei av a
'
.
S . C ONÇ A L O

Foi N
di a de an o da gr aç a de 12 07

no .
,

q u e G on ç al o c el e br ou a pri me i r a m i ssa
.

A i n d a a esse t emp o n ã o h avi a orgã os q u e


en ch essem o esp aç o de ac or des di vi n os m as ,

as g arg an t as fr esc as do S emi n ari o t o rn ar am

a solemni dade n u m c é o ab ert o em q u e t oc as

sem as fi l arm om c as m r g al o do
'

q u e s a o e

Sen h or Al i mesmo en tre o c ali c e e a h osti a


.

v ot ou G on ç al o su a al ma á Vi rgem Mã e E .

rez a o ven er á v el Bol oni u s q u e n est e m omen t o


a virgem do alt ar m or sorri r a n u m sorri so
-

q u e
,
c o mo s ol n a s c en te i n c an,
desc eu t o d a a

c at ed ral e r eg ou d oi ro as sob rep eli z es dos


'

sac erd ot es .

E sc usado era est e f av or c el est e p ar a ap on


t ar Gon ç al o c omo o ex empl o da gr aç a e
a i n o c en ci a mai s alv a de c ost u mes .

O O d or da su a V irt u de era ch eir oso c om u m


c amp o de aç u ssen as N em os ou tr os ordi n an dos
.

l h e r eg ateav am o pri m or n em del e h avi am


zel os p ost o q u e O pr el ado O tivesse sem p re á
,

mã o direit a c omo o p ri meiro en tre os pri mei


8a J A R D IM DAS T ORMENTAS

ros . A lé m de serfi lho esti mad o du ma n obr e


O
e ri c a f amili a p ossu i a G on ç al o u m espirit o
,

sempre assi stid o da br an c a e sabi a P omb a ,

t am i n st ru í do n as l etr as h u m an as e at i l ado ,

q u e n ã o h avi a h er esi a q u e el e n ã o redu zi sse


a p ó n em i dei a sci smatic a q u e n ã o d ev olv esse

á f ab ri c a do P orc o-S u j o P or i sso mu it o .

c edo c omeç aram a ser f al adas a santi dade de


su a Vi d a e a o p u l en ci a de seu sab er .

Por est as r azõ es foi G on ç al o l og o apó s a ,

mi ssa n ov a provi do n a f art a ab adi a de


,

S Pel á gi o on de O p é d al t ar er a g or do mas
E
'
,
.

n ã o men os g or do O p ec ado ra est a fr eg u ezi a


.

a j oi a da rní t r a p ore m t am i n fest ada an dav a


,

de h er ej es e i n fi ei s q u e m ai s du m a vez o p ri
, ,

m az fôr a su rp reh en di do a cl am ar d olh os


'

fí t os n o h oriz on t e ab omi n av el
A rr asai -a S en h or c omo a S odoma !
, ,

E se a n ã o c on su mi a o f og o do c eo dizi am
as al m as di á f an as dos velh os c on eg os da
c at edr al é q u e em S P el agi o n oit e e di a
.

ar di a a l am p ada dean t e do T ab ern á c u l o e n ã o

er am fr u st es as au feran das daq u el a b arb ar a

gen t e N ã o ob st an t e m al a p aroq u i a v agá v a


.
, ,

os cl eri g os su rgi am a di sp u t a-l a e a l uta ,

do z el o dev ot o só v i a tr egu as q u an do o d edo


i l u mi n ad o do bi sp o ti nh a esc olhi do su cc essor .

C om i st o arg u men t am os tr at adi st as a


s . G ON ÇA LO 83

dev oçã o dos pri mei r os l evit as q u e p orfi av am


p ar a c air n a b ôc a do l ob o c omo n a ab adi a de
,

S P el agi o on de as p reb en das er am ch or u


.

das p orem a p erv ersi dade m ai s b ast a q u e o


,

gr an iz o no i n v ern o .

Foi p oi s G on ç al o c ol oc ado em S P el agi o .


,

c om gr an de f err o dos m ai s pr esbít er os q ue ,

q u eri am ir c an sar os braç os a desb ast ar a


h erv a dam n i nh a q u e p u j ant emente al i cresci a
,
.

L og o q u e ali ap ort ou as p ern as do san t o


h omem v erg á ram de h orror O ví c i o era m ai s .

denso q u e a c ar u ma dos pi n h aes N o f u n do .

da su a al ma c omp ar ou -se G on ç al o a J osé


en tr e as c orr u pt as e gípci as e a D an i el n o

c ovi l das l eõ es O m atri m on i o


. sacra

men tu m magn u m i n C hr i sto et i n eccl es i a e

su as l ei s e r am i g n o r ados Vi vi am á redea
.

solt a h omen s e mu lh er es e t an t o se h avi a

mu ltiplic ado aq u el a má r aç a q u e b em assi

E
g n al av a q u an t o er a j o i o e n v ez de pl an t as

fru ct ei ra
. m d et er m i n ados di as do an o
reu ni am-se c om i nstr u men t os e en tre des ,

c an t es e ch u l as se en tr eg av am a fest as q u e
,

en tr av am p el a n o it e den tr o at é as estr el as

desap are c er em n a c asa de D eu s .

N o fi m do sol stíci o do v erã o c el ebr av am


a mat an ç a do p orc o b e be n do e c omen do c o
,

p i osamen te e pr atic an d o t oda a sort e de li c eu


84 J A R D IM DAS TORMENT AS

ç as . C on frat er n i sav a m tre b eij os


en t a m e, en

e c an ti c o s i mp u di c os aj u st av am su as f ei as
,

D izi am u n s p ara os ou tr os
E
c on c u b i n ag en s .

u q u er o-t e o h U rr ac a ; se m i n h a fi lh a

t e gr a
a d a l
e e a qu re
,
l ev a ; g ost as de mi m
a -
, ,

F eli ci a ? e assi m er am f eit os os c asamen t os


, .

R ar os er am os q u e est av am lig ados p el o i n di s


sol u v el n ó da est ol a p orq u e sen do br avi os

e e n dem on i n h ados pr e f eri am a f acil lib er

dade das man c eb i as A lé m di sso eram p ou c o


.
,

t em en t es a D eu s e su p e rsti ci osos i n do p el o ,

j u n h o esp et ar r amos n os c am p os c om o f azi am


os i dol atr as de C er es .

T u do i st o en trevi u G on ç al o e t am p en a
l i sado fI c ou q u e pr ostr an do se n o adr o de -
,

m ã os p ost as p ar a o alt o r ep eti u a i mpr ec aç ã o


,

do bi sp o
A rr asai S en h or est a i n fame S odo ma l
, ,

Mas c om o os fi ei s ali men t assem de p u ro


,

az eit e a l am p ada do E t er n o e as o bl at as n ã o

f ossem mesq ui n h as S odoma fi c ou de p é e


,

n el a o virt u oso G on ç al o ar m ado do p arc u

ci en t e gl adi o da fé c h ri st ã .

c ab o de tem p os a m ã o exeg eti c a de


Ao
Gonç al o sobre q u e c arreg av a a m ã osí nh a
,
86 J A R D IM DAS TORMENT A S

t am do cil m en t e tr ar em n o gremi o da
en

e gr ej a P or t odos dif u n di u a do u tri n a c h ri st ã


.
,

o g ost o da dev o çã o e O am or da j u sti ç a e das


,

l ei s da t err a apó s 0 amor da j u sti ç a e das


l ei s do c é o C om b en ev ol a afoitez a desfe z
. .

t am b em as m an c eb i as esc an dal osas u n i n do os —

n o m atri m on i o conj u g i u m s u b eadem j u go


, .

N est a sagr ada pr ati c a se emp en h ou o sant o


v arã o aci m a de t u do S u c edi a ás v e z es ao
.
,

an oit e c er est ar c an sado o i n c ans av el sac er


,

dot e de c asar g en t e Os arr edi os f ôram


.

ch eg an do p ou c o a p ou c o at é q u e n em u ma
, ,

s ó al ma deix ou de vi r á pr esen ç a do rep re

sen t an t e de D eu s c on t rah i r o au g u st o sacr a

men t o mag n u m sacramen tu m A té as virgen s .

l ou c as do l og ar q u e c omeç av am a descre r ,

e as m atr on as de c ab e l os br an c os en c on tr a

v am u m m ari do n os so lícit os c u i dados do -

sac er dot e E st a f ebr e foi t am c o n t agi osa q u e


.

m esm o an i mass domestic os q u eri am c asar ,

de c u j o e rr o el e os adv ert i u su avem en t e .

Mas n ov os e v elh os t u do se c asou t u do se ,

c asav a e n as n ov en as en tr e hi mn os mí sti c os
,

aq u el as al mas p u r as c an t av am

S . c asai me
Gon ç al i nh o -
,

C asaí me q u e b em p odei s
-
,

Q u e t en h o t ei
'
as d ar an h a

N aq u i l o q u e v ó s sab ei s .
s . G ON ÇA LO 87

C m i st o t orn ou
o C on ç al o o
j t u t el ar

se an o

de S Pel agí o
.
, desen tran ç an do
di sc or di as e
aç ai m an do a i n v ej a dos h om en s C orreu p or .

vil a e te rmo a n om eada do san ti n h o e de


l on ges terr as o vi sit av am em romari a su pli ,

c an do r ec omen daçõ es p ar a o c eo ou p ar a ,

u d p ar asse a est a m ari do á q u el e u m a


q e e ,

esp osa .

O pr el ado l á n o mir an t e alt o do P aç o dav a


, ,

gr aç as ao S en h or q u an do as mu l as se vi am
,

n a estr ada c arr e g adas de au feren das tili n ,

t an t es E t am dev ot a se t or n ou S Pel ag i o q u e
. .
,

n ã o h avi a p assal n em p é d al t ar
'

q u e lh e
g an h asse em t od o o pri mado das Hesp anh as .

Mas su c edeu q u e l og o q u e Gon ç al o ter


mi n ou a su a obr a de arr ot eador e c asamen
tei ro sem aq u el a gr an de t aref a de en g or da r
,

al mas se ab orr e c eu e se v i u S ó
,
N ã o rez a .

Bol oni u s, m B ol an du s n em P ap eb r oc h
ne , ,

n em Met ap h rast o n em mesmo Fr L u iz de


, .

S ou sa dou t os tr at adi st as se o san t o dep oi s


, ,

de c asar t o do o mu n do n ã o t eri a reb at es de


c asar t amb em Q u e o demon i o arma as m ai s
.

su bti s ar m adi lh as c om a c arn e di l o o Fl os ,


S an ct oru m em c ada u ma das p agi n as Fôsse .

p o r i st o O q u e est á mu it o em h ar mon i a
c om as m an h as de S at an az e c ert amen t e ,

el e n ã o p odi a deix ar assi m em di a b om u m


88 J A R D I M DAS TORMEN T AS

g u errei ro q ue t am ardi da ment e O co mb ati a


ou p or tr as r azõ es está av eri g u ado
ou ,

u e e l e r e so lv e u i r mac er ar -se aos S an t os


q
L og ares A prest ou -se p oi s p ar a i sso p edi n do O
.
,

b en ep l á c i t o do pr el ado e c at e q u í san do u m
so bri n h o a q u em q u eri a deix ar c omo su b st i

t u t o em S P el agi o onde as b enesses er am


.
,

f ormosas e f ormosos er am os fru ct os da


virt u de O sobri n h o era m ateri a mal eav el e
.

fi n a e seg u ro di sso o apresen t ou aos fi ei s


, ,

c omo t en do t em p or ari ament e o c aj ado q u e


D eu s lh e c on fi ára E u m a t ar de i n fl am ado do
.
,

desej o de c on t empl açã o o san t o p arti u p ar a a


,

P al esti n a n u ma h or da de cr u z ados n ã o ,

l ev ando ou tr as armas al é m das c aman du l as


e de su a pi e dade E í a c on t en t e p orq u e n o
.
,

o lh ar ser a fi c o do sobri n h o desc obrir a a


i li mit ad a o b edi en ci a dos b on s serv os .

AO c ab o de
q u at orz e an nos q u e t an tos ,

g ast ou o san t o em vi sit a aos l og ares o n de a


S ant a Bu rri n h a p ast ou herv a v olt ou el e
'

, .

E á en tr ada da su a dil ect a P el agi o esfreg ou


, ,

o s olh os E sfr eg ou os o lh os t an t o t u do ti n h a
.

mu dado q u e ch egou a su p ôr -se nu n s dos


,
90 J A R D IM D AS TOR M ENT AS

tí fi c á ra á t est a del es o sob ri nh o e ao ,

i n su lt o e á p edr ada O p oseram fó ra de p ort as .

C on cl u i u o san t o h omem dest e p asso q u ant o


o p o de r do demon i o é m ai s r esol u t o q u e O de

D eu s B ast a q u e D eu s ou os seu s rep resen


.

t an t es v olt em c ost as p ar a q u e a vi rt u de
c h ri st ã se est í ol e c omo pl an t a mi mosa e

exq u i sit a E Gon ç al o fi c o u p en sativ o


. p orq u e
é O mal O m ai s f orte ?
C om o p ei to a san gr ar n ã o p orq u e su a ,

vi d a estiver a em ri sc o mas p orq u e t op ára ,

tr an svi adas su as m ansi ssi m as ov elh as foi o ,

serv o de D eu s deit ar se q u eix oso aos p és


-
, ,

do pre l ado P oré m o pr e l ado er a ou tr o e as


.

mu l as q u e vi n h am de S P el agi o est av am a .

desc arr e g ar á p o rt a do P aç o E sec amen t e lh e .

foi dit o q u e o q u e est av a f eit o feit o est av a e q u e


O so bri n h o se c ol á ra n a ab adi a de p at en a e
c ali c e q u e er a c om o q u em di z de p edr a e c al
, , , .

C on formou se Gon ç al o c om est as r azõ es e


d alm a ch or osa rec on h ec en d o qu ant o s am


'
,

c adu c as as c oi sas h u man as rec olh eu um ,

desert o on de el ev an do u m a C h oç a se en tr eg ou
,

a rig orosa q u ar esm a C ac h oav a ali u m a .

t orren te e n el a se rest au r av a e n os fr u ct os
,

S ilvestr es dos oit ei r os N est e mon t ado se .

rest ab l e c eu a f am a de G on ç al o e su a c on s

t an cí a ev an g elic a A su a v oz . i gn i tu m
s . G ON ÇA LO 9 1

el oq u i u m tr oav aa i mpi edade e f azi a


sof re r ao v íci o r u des d esfeit as Os di scíp u l os .

ac orr er am os solt eirõ es desesp er ados e t o da


,

a g en te q u e ach av a sab or osa a mel an c oli a e

a i r u ct a das se lv as E u m a al dei a c ome ç ou a


.

form ar se do ou tr o l ado da t orren t e on de


o v en t o era m ai s m an eiri n h o e o sol o m ai s

u be r e. T odos os di as a ou tr a b an da vi nh a
at é o serv o de D eu s p ar a or ar e l ou var .

P oré m n o i n vern o a c orren te era c au dal osa


, , ,

e q u eri a a t en t açã o do D emon i o q u e mu it as

p essoas morr essem af og adas ao atravessar as ,

al p ol dras P ar a ven c er a tei mosi a i n fern al


.
,

g sou o san t o u m a p on t e de c u st osa e i m p o


i
nen t e f abric a Os m at eri aes ac u di r am mir a
.

c u l osam en t e ; p en e dos q u e n em q u atr o si n g eí s


,

de b oi s movi am vi n h am i n t eligen t emen t e


,

p or seu p é e m pilh ar -se n os pil ar es os t ou r os


;
br av os do M arã o docei s c omo p omb as ofe
, ,

rec i am-se á c an g a ; os p eix es salt av am de

su as ri n c olh ei ras p ar a os pr at os e da r och a ,

viv a m an av am ô dres de vi n h o e ag u a sab o


r osa p ar a refrigeri o dos art í fi ces Ao fi m de .

c u rto pr aso est av a l an ç ada sobre as du as


margen s a p on t e de magest osa f abri c a e o ,

di ab o n ã o afog av a mai s as b en dit as c reat u ras .

E assi m se f u n dou u ma Vil a de g ost osos


ser ô di os do amor de c on t empl ativ os e de
,
92 J A R D IM DAS TORMENTAS

p ar a q u em era m ó r m i m o O v erb o de
c reat u r as ,

Gon ç al o e os fr u ct os p rov i den ci aes do l og ar


q u e as delíci as m u n dan as E al i vi
. n h a e m
pr oci ssã o c an t an do a gent e de du as proví n
, ,

ci as as virgens c u j o sei o c omeç av a a doer


, ,

os rap az õ es ci osos as v elh as


,
dori das da
sol e dade

S Gon ç al i n h o
. c ase i me -
,

C ass i - me q u e b em p od ei s ,

Q u an do os an j os vi er am b u sc ar a G on ç al o
p ar a a metr op ol e da gl ori a i n ef á vel a n at u rez a ,

c ob ri u -se de l u t o A c am p a do j u st o ap arec eu
.

an t am o rv alh ada de fl ô res diz em u ns


l o a l ad m n ag i r do c éo o pi n am
p e s os e s e os

o u tr os p el as mã os das mu lh er es q u e p or , ,

mercê de G on ç al o fi av am u m amor derr a


,

deir o e aven t u r ado .


O SÁ T I RO

E
N aq u el e t em p o C ast el a an dav a á s esp adei ,

r adas p or t odo o gl o b o ra u m a san g ri a .

u n iv ersal e t an t o assi m q u e os escrivã es


,

d o fi ci o pr ov av am em b om c alc u l o mat em a
'

ti c o q u e o sol em t odo o di sc u rso sobre O


Z odi ac o q u er sob o p ol o á rcti c o q u er sob o
,

an t arc t í co sem pr e i a al u m i an do Vi ct ori as


,

d el rei
'
D A l ej an dr o S an ti st eb an sen h or
-
. .
,

de l os Bal b az es c asado h avi a m eses c om , , ,

D M af al da C asarr u bi os de il u stre li n h age m


.
:
,

foi u m dos c apitã es en vi ados c on tr a P ort u


g a l R e c eb eu
. o n o br e f i dalg o a o r de m do r ei
de p are c er a gr adavel p ost o q u e se cr et amen t e ,

de c or açã o desfeit o N a tr ab alh osa n oit e de .

m arch a p ar a a fr on t ei r a p ar a alé m da P u en t e ,

de S eg ovi a p ô de abri r se ao seu c om p an h eir o


,

d arm as Gil de Tav er a e ch or ar l agri m as


'

am arg as em seu sei o D A l ej an dro n ã o p odi a . .

c onsol ar se de deix ar D M af al da p or t em p o
-
.

i n determi n ado dep oi s de r api dos meses de ,

matri moni o Amarg u radamen t e dizi a q u e se


.
,
9 6 J A R D IM DAS TORMENT AS

ja mor c o m as mo ç as am an t es é esc asso em


o a

t em p o mal v ai q u an do o t em p o é c om el as
,

av ar o e m am o r A lé m di sso a su a f ort u n a i a
.

p or m au c ami n h o C om a gu err a de Fl an dre s


.
,

em q u e tiv er a a s ol do du as c omp an hi as ,

desb ar at ar a O p atri mon i o AS t err as do Gu a .

dalq u ív i r an dav am a mon t e e Os c aseir os e os


m or dom os dev or av am-l h e a f az en da c omo ,

b an dos de c orv os f am i n t os .

D Gi l O ferec eu se p ar a v el ar p el os n eg oci os
.
-

do ami g o D ep oi s de l on g a e i n ti ma pr atic a
.
,

c omo só se tê em p ar a c om i rm ã os ou o san t o
c on fessor D A l ej an dr o ac eit ou e a mã o n o
, .

p u nh o da esp ada ali se aj u rament á ram p ara


a vi da e p ar a a m ort e .

D Gi l c omeç ou p or m an dar arv or ar ci n c o


.

sam arr as de l adrõ es n as t err as de l o s B al b az es ,

em oit eir os alt os b em b at i dos do v en t o E os


'

ci n c o en f orc ados frz er am ao p atri m on i o arru i


n ado sen ti n e l a u til e de dic ada D ep oi s a su a .
,

E
m ã o p oder osa i mp edi u q u e o desem b arg o desse
desp ach o aos cr edo r es de S an ti st eb an m .

t u do se p ôs de p eit o feit o c omo sev ero mor ,

domo saí do da r alé a z el ar p el a pr o p ri edade


,

do am ig o .

D M af al da r esp on di a a est es di sv ê l os com


E
ª
.

u m a fr an c a e í mm o der ada esti ma ra p ar a .

el a u m gr an de g ô so vê l o g al op ar de gi n et a

,
98 J A R D IM DAS TORMENT AS

E
mr oda a ai a e as don z el as en l e av a m se p or

,

seu l ado em en si lv ado c ol oq u i o sobre a c am


,

p an h a e as fest as q u e n u n c a v i am fi m n os t em
p os ch e i os do s d o n s Filip es c om g u,
e rr a n os

est ados l adrõ es n o t e r m o e p est e em c asa


,
.

Vi eram en tr et an t o n otici as da fron tei r a ,

man dadas p or m ã o pr opri a O su c eso das ar .

m as esp an h ol as era c ol o ssal m as a i n esp e ,

r ada resi st en ci a do i n i m ig o dil at ari a a g u err a


p o r l arg os meses D A l ej an dr o i mp aci en t av a
. .

s e c om as esc ar amu ç as n a r ai a esc ar am u ç as ,

tr av adas dizi a el e q u an do os esp an h oes


se meti am p or P ort u g al fó ra a r ou b ar os

p orc os n os c u rraes ou q u an do o i ni mi g o assal


, ,

t an do á soc á p a os soalh ei ros de A n dal u si a ,

arr eb at av a as mai s fresc as r ap ari gas das


al de i as Os exer cí t os ti n h am dó de se m at ar
.
,

e D A l ej an dr o sen ti a u m a c ast elh an a e n obr e


.

v erg on h a .

C om o gr an de c al o r q u e est av a D M af al da ,
.
ª

a c olh eu se a u m a q u i n t a n as c erc an i as de

M adri d on de h avi a u m l ar an j al e u m a rib ei r a


,

r em an osa E st a desci a da m on t an h a deix an do


ç .
,

atr az de S i u m t om sau doso q u e e r a c omo o ,

E
'
l at ej ar d art eri a daq u el a sol edade .

m der re dor n u n c a ac ab avam os g or geí os


e r eb an h os de c abr as tili n t av am H avi a lá .

u ma f on t e c om u m h omem de p edr a n o mei o ,


O S Ã rI RO
'

99

'

sen do os p és de chi b o, e a b arb a br an c a do


es et rc ar das av es , q u e sobr e su a n u c a v i
n h am sc i sm ar ao sol p ôr A ag u a desp en h av a
.

se em v olta del e e era seu r eg al o v e l a des


,

p e n h ar alh
,
e i o á s des f e it as da n at u r e z a t am ,

al egre q u e se o fi z essem em pó p ar e c e q u e

a seu c on t en t am en t o n ã o p u n h am fi m .

C erc a dali as l aran j ei r as mostr av am lh e -

os dô c es fr u t os m as os o lh os lib e rti n os mai s


,

n ã o vi am q u e as o n di n as q u e q u eix osas fu

gi am dell e e l ê das v olt av am c al an do o pran t o ,

en tr e as c ôx as f elp u das dos li mos .

D M af al da i a p ar a ali m u it as v ez es abri
.
ª

g ar s e da c al ma dan do solt as ao p en sam en t o



, ,

em q u an t o os t ar alh õ es su j av am as b arb as do

S á tir o e el e c aç av a as n i n f as .

A pr azi a l h e m u it o aq u el e S iti o p orq u e ali


-
,

as r amag en s n ã o deix av am p en etr ar a br az a

do sol e n o olh ar lic en ci oso da est at u a l i a a


el egi a f eri da da su a sol e

E
dade .

l a ti n h a-l h e p erc ebi do a m alíci a e est a


desc ob e rt a f azi a-a p alpit ar du m a sen saçã o
n ov a so br e u e seu s sen ti dos á s v ez es a do r
, q
mec i am O sor ri so do S átir o n ã o se li mit av a
.

E
á i ron i a de vi ol ar as n i n f as i n oc en t es e q u e
b ra-l as en t re as c ôxas sen su aes ra u m .

so rri so q u e t amb em vi n h a do e xt e ri o r a su a ,

v ol u pt u osi dade j u n t a a u m mot ej o q u asi


8
100 J A R D IM D AS TORME N TA S

tr an sp aren t e p ar a q u em c om o el e n ã o era E .

f u g r v se a D M af al da q u e a expr essã o

a -
i a .

do S átir o al i se fí x á ra et er n a e z om b et eir a ,

n o di a em q u e a c on sci en ci a del e e a do m u n do

se ti n h am en c on tr ado e c on t em pl ado D Ma . .
ª

f al da sen ti a se c on f u sa c om est e se gredo e se


-
,

D Gi l vi n h a t op á l a alí estr an h amen te se


.

,

af o g u eav a n ã o q u er en do m ostr ar ao c av al e ir o
,

e f an t asi av a c om o S átir o n em c on f essar se -


q u ,

E
or c a u sa d o S áti r o se a fog u ev a c om o c a
q u e p
v al ei r o m i n gen u o di sf arc e i am v ag u ear at é
.

don de a v o z da c orr en t e só ch eg av a c om o
u m arr u lh o t en u e de sau dade E D S ol ª
.
,

q u e o b se r v av a d e ci m a t o do est e di scre t o c o

merc i o dizi a p ar a si e p ar a c om a Vi r g em del


,

P il ar q u e n em doi s irm ã os seri am mai s c ast os


q u e s u a s o bri n h a e a q u e l e m o ç o de n o br es

c ort ez í as .

U ma no l dr ab a
it e b at eu
,
u m r ec ov eir o á a

c o m n ot í c i as do sen h or de S an ti st eb an .

D Sol d oc u l os d oi r o n o bic o do n ari z


.

,
' '
,

p ô s se a l

er p o r ci m a do h ombr o de M a f al da .

E c u i dadosa de ser a pri mer a a dar a n ovi


,

dade di sse á s cr eadas q u e se ti n h am apro


,

xi m ado
tá n o c erc o du ma praç a Q u er
O sr . es .

u e su a mu lh e r v á t er c om el e B oa n otí ci a
q .
,

fi lh as b oa n otí ci a
, .
102 J A R D IM DAS TORMENT AS

h avi am ci do ao ac aso D Gi l c olh en do-as


n as , .
,

D .
a
M af al da o r den an do as e m h arm oni osa —

g am a segu n do o m atiz
,
.

M u it o te m p o l ev ar am n aq u el e en t reteni
men t o at é q u e sem dar p or i sso se vir am n a
, ,

al ea n o mei o da q u al e st av a a v asc a de p e dr a ,

o n de O v elh o S áti r o n ã o ac ab av a o g ôso .

D esci a a n oit e e os rai os ven do o j ar di m e m


, ,

so c e g o vi n h am á p ort a e c an t av am U n s
, .

r esp on di am aos ou tr os e O v al e e O m onte


en ch er am -se de v o z es son o r as c om o u m n oc ,

t u rn o de mon ges Os gri l os sac u dir am os .

eli ct ros d eb an o e oi r o u m r ou xi n o l su spir ou


'

, ,

re c olh eu se t or n ou a su spir ar e desp ed i u u ma


-
,

trov a t am su ave q u e su bi a ao c é u p ara des


c er á t e rr a E o c ôro da n oit e el evou -se em
.

mi l ac en t os j ovi ai s e m ag oados e n el e mesmo ,

as r ã s do ri o e os sap os e r am mel odi osos .

D .M af al da e D
ª
Gi l sen t ar am se alí .
-
,

r en di dos ao arr ai al da mont an h a .

A l u a e rg u eu se su bi u at é á alt u r a dos p ei

,

t os A mb os est av am p en etr ados do mi st eri o


.

da vi da e das al e gri as dos seres Mas n ã o .


,

sen do si m pl es n ã o sabi am t omar p art e n o


,

am o r oso en t e rn eci m en t o da n oit e P are ci a .

lh es q u e er am i n fi n it amen t e p eq u en os e sen ,

ti n do n i st o u m a dô r e n a dôr u ma v ol u p t u o
si dade ti n h am n e c e ssi dade du m a r esig n aç ã o
,
O S ATI RO 103

q u e os l ev asse p ar a l on ge del es Mas n ã o p o .

di am p reci sar o q u e q u eri am n em det ermi n ar ,

a n at u re z a daq u e l e se n ti men t o .

E n tret ant o das b an das de l é ste c ome çou a


sopr ar u ma ar agem br an da e a mu si c a dos ,

ani mal c u l os abr an do u e m u dou se a f ei çã o


,

da t err a e o sab or q u e h avi a n o ar O c on c ert o .

mu do c omeçou p ara os seres q u e n ã o c an t a


v am em v oz alt a as s u as e f u sõ es ra a orgi a . E
en r odilh ada das h á l it os v eget aes o b ei j o ,

i mm anen te do ser n o ser q u e c omeç av a O .

pé de ar agem trazi a a m on t an h a ao v al e em
n oiv ado D esc eu pri m eir o a sen su ali dade
.
, ,

li gei r a da v erb en a e O t rav ô r da fl ôr das gi es


t as D ep oi s p assou ao de l ev e a al ma dos ros
.
,

man i n h os O h u mor da b orrag em a fi m bri a


, ,

r eal da h erv a-mari a o mol e l an g ô r dos sar ,

g aç os T u do i st o v ei o p ar a O l ar an j al as
.
,

madre s S ilv as o s ger an i os dos c an t ei r os



, ,

pl en os de l u xu ri a gr at os ao ri gor do s ol q u e
,

m u it o os ag ast á ra p ar a m ai s v o l u pt u oso desa


gr avo n a l ev ada n oct u rn a dos ab an don os .

M ai s r eg al adamen t e n a f a i n a et ern a de ,

z omb a e de g oz o o S áti r o era o su p erh omem


, ,

aci m a do t u do .

D M af al da e D Gil ali se q u ed ar am p or
a
. .

mu it o t emp o en t re a p enetr açã o si l en ci osa


do v al e e do oit ei r o O lh an do D M af al da as . .
ª
16 4 J A R D IM DA S TORMENT AS

es trel as q u e l agri mej av am l á ao alt o o c ava ,

l eir o di sse l h e —

A m odo q u e mu it o l on g e est ai s d aq u i
'
,

sen h ora ?
!

Si m b em l on ge vi aj av a mi n h a f an t asi a
, .

S e rá v erd ade Don Gi l q u e as estrel as t êem


, ,

u m a li n g u agem p ar a f al a r aos h om en s ?

A ssi m O crei o sen h or a N en h u m a p a


, .

gi n a do livr o de D eu s e stá em br an c o p ar a
q u em q u iz er l er E sc u t ai á l em aq u el e ri b ei ro
.

o u vi st es ? re p et e as mi n h as q u eix as O lh ai .

da l u a q u e t am b em sí ran da o
'

a p en ei r a

l u ar : p ar ec ei s v ós n a terr a seme an do a g r aç a .

D M af al da s orri u e t orn ou
.

N ã o é i sso sen h or c av al ei r o P ô de p or
,
.
,

v en t u r a l er se n as estrel as os desti n os das


,
-

al mas ?

Pô de sem pre o ou vi diz er E p er


, .
,

doan do q u e v os p erg u n t e q u e q u erei s sab e r , ,

sen h or a ?

C oi sa de n ad a Vê des á l em n a E str ada


.
, ,

de S T i ag o aq u el a e str el i n h a a l u zi r e a ap a
.

g a r s—
e c o m o u m a c an de i a ao v en t o ? L á p ar a ,

traz daq u el e c ach o del as q u e p arec e mesm o


u m cr av e i r o c om c raví n as d oir o Ha p ou c o '
.

re p arei n el a e t am tri ste está e sosí nh a q u e


l em br a u ma al m a q u e eu c on h eç o Q u e si gui .

fi c ar á ali p ara a n ossa e xi sten ci a e O seu ,


.
10 6 J A R D IM DAS TORMENTAS

D rg u e u ou tr a v ez a fre n te e
M af al da
ª
. e

fi c ou i mmov el sob a t u n ic a crav ej ada do u ni

E
v erso E v olt o u a diz er
.

l a f oge me sem pr e Mas fi g u r ou se á



.

m i n h a i magi n açã o q u e é u m pr of u n do g emi do


'

E
da L ir a ao p asso q u e em v olt a as est rel í t as
,

s am ri sos de i n fi n it a h ar m on i a l a esc on de se .

,

a p ag a se e v olv e á su p er fi ci e c om o os sol u ç os

.

Tal q u al a al m a sen h or a ? ,

D M af al da n ã o resp on deu e am b os v oltá


.

ram a o lh ar

L á v ai o Ci sn e ; se c orr e mai s depr essa


a rreb an h a-a n o v ô o N ã o p ar e c e q u e O Ci sn e
.

a v ai t o c ar c om as asas ? Vê de v ó s D Gi l ? , .

D M af al da desvi ou o olh ar e o u vi u c an t ar
.
ª

o s r a l os as r ã s a m ág o a do ri o e O fest i r n
, , ,

do m on t e e do pr ado U m a c on sol açã o ín fi .

n it a su ce di a n a t err a a sen ti da n e c essi dade

das r esi g n açõ es .

A v ossa al ma sen h or a está en tre o , ,

c ol o do C i sn e e a p oeir a doirada da L ira S ai u .

do Ci sn e sai u da L i r a ? Am ar g adu rada está


'

, ,

e ou dé v e en tr ar n o sei o du ma o u ser arr as

t ada n o v ô o fag u ei ro da o u tr a S en ã o el a .
,

en t err ar -se h a c om o u m c alh au h u mil de n a


estr ada das ou tr as c on st el açõ es E stá n a v ossa .

i n cli n açã o dar lh e desti n o sen h or a



,
.

D M af al da so rri u e Volv eu de n ov o o s
ª
.
O S ÁTIRO 107

o lh os p ara a estrel a abrigan do os da l u a q u e


,

vi n h a j á á alt u r a dos ciprest es D ep oi s .


,

deix an do c air a c ab eça pr on u n ci ou em v oz


,

su mi da

Q u e a l ev e o a l ev e o Ci sn e

D Gi l c omp reh en deu en t am q u e n a estr el a


.

p u n h a M af al da O desti n o e i mag em de su a
al ma .M ai s c on f u so q u e ou sado t om ou l h e —

u ma das m ã os e b eij o u l h a -
.

D Gil fi c ou p ara O serã o ; e emq u an to em


.
,

t ô rn o sobr e as al m of adas p er sas as ai as se ,

gast av am em al egr e en tr et en i men t o o s olh os ,

del es apr en di am a ser c or aj osos .

N o m omen t o de p arti r e l a p ô s l h e n o som -

b rero u ma pl u ma br an c a de n ev e t am an h a ,

c omo as g arç as reaes E foi ao b alcã o on d e o


.
,

l u ar fi av a pr at a v e l o p assar ; mas D Gil


,
-
.
,

dan do de esp or a ao c av al o desap are c eu r eso


,

l u t amen te n a azi n h ag a desert a c om o se atr az


,

fi c asse c amp o r aso em q u e se n ã o pren desse


O n ovel o de seu s c u i dados .

D M af al da v olt ou á sal a p ara as r ez as ;


ª
.
,

p orêm as av emari as c ai am l h e ab sôrt as dos


dedos c om o as l agri mas q u e se desp eg am


,

da est al actit es
.
108 J A R D IM D A S TORME NTAS

A c on t ec eu h av er , n u m daq u el es di as, u m au t o
de fé q u e t am b ast os e assí gn al ados b en e fi ci os
l avr ou n o sei o da egrej a prati c an t e D Ma . .
ª

f al da e D Gi l t omar am assen t o en tr e a côrt e


.
,

n os estr ados e rg u i dos a dr ede aos pri meir os , ,

alv o r es da m adr u g ada Qu an do as l ab ar e d as .


,

q u e q u ei m av am OS p en it en t es ati n gir am a ,

alt u r a de esp adas u m t en u e v ap or i n c en sou


,

E
a at m osfer a .

ra c omo
q u e u m h á lit o i mmat eri al es
p r a í ad o n a a r den tí a t am s u btil,
m en te se
i n fi ltr an do n o san gu e at é o c or açã o qu e t odos ,

r ec on hec er am O su av e ar oma q u e resc endem


as al m as q u an do tr an sit am p ar a a m ã o di r eit a

de D eu s P adre Ao mesm o t em p o as ti n t as

.
,

du m a t emp est ade i n e f á vel c ol ori ram os r ost os ,

e alg u m as n obres dam a s c aír am v ar adas de

sil en ci oso deliq u i o Gr an demen t e se an oj ou


.
,

ao c ome ç o D
,
M af al da q u e mu it o sen sív el
.
ª

era ao so fri m en t o .

V en do p or em os c on demn ados b eij ar em as


m ã os p oí das dos fr ades c obrou f ol eg o e
'

rec olhi da e tr an sp ort ada p ô de c ont em pl ar


a q u el e p alc o de í n e fav ei s gr aç as Q u an do .

as ci n z as do u lti m o p en it en t e fô r am v arri das ,


1 10 J A R D IM DAS TORMENTAS

D M af al da, q u e
.
ª
ne rv osamen t e i a desfo
lh an do fl or es p el o c ami n h o di sse p ara
D Gi l
.

E st a
t t t em u m ar i m p erti nen t e ;
es a u a

h ei de m an dar f az e l a em p edaç os -
.

Q u e i m p erti n en cí a pô de h aver n u m b o
c ado de p edr a c om f orm a h u man a ?
A du ma
C on selh os?
N ã o c en su r as , .

C en su r as a q u em ? ,

A q u em n ã o c orn p reh en de .

D Gi l p on do se a an ali sar a est at u a Ma


.
-
,

f al da p u rp u rí sou se —

E u m segredo deix ai
,

, .

E
O segr edo da feli ci dade sen h or a ? ,

l a n ã o resp on deu Gi l fi c ou i mm ov el .

ai n da u m m omen t o de an t e do S átir o e ap roxi ,

man do se de M af al da di sse-l h e n os olh os


-
,

C om p reh en do .

Ah ! !

A g arr an do p el o br aç o n u m m ovi men t o



a

de pr esa acr esc en t ou ,

A n ã o será j u st a sen h or a ,

D M af al da deix ou -se en l ear p el a ci n t u r a


.

e os b eij os p assear am l h e o p esc oç o q u en t es —


,

e v or az es U m sô p r o lig ei r o di sse l h e
.

Am o —
v os .
O al u n o 1I 1

D ep oi s os b eij os pr oc u r ar am-lh e a b ô ca e os
seu s n erv os esti c ar am-se n u m sob r esalt o .

P er an t e r eaçã o t am br u sc a D Gi l abri u
E , .

os br a ç os l a fi c ou em fren t e del e af og u eada


.

e ar q u ej an t e P al i do e ar q u ej an t e el e fi t av a-a
.

sem sab er di z e r p al avr a .

A c antig a do ri o ou vi u se ; e m seu s j ardi n s


-

as an i mal c u l os mussí t av am ; o S á tir o i n sti

E
gava a provar os fr u t os prohi bi dos da t erra .

ra a h or a das v ol u pt u osas r en u n ci as .

O desp eit o e a so fre g u i dã o i n sati sfeit a de


D Gi l f al aram
.

A h ! b om l og ar se n ã o forei s v ó s ,

sen h or a

N u m sorri so desn ev ado f u rtiv o c omo u m


,

eni g ma el a r esp on deu :


,

Si m b om l og ar se n ã o f or c i s v ós
, ,

senh or !

D Gi l fi c ou pr eg ado á t erra p erpl ex o


.
,

do desen l ac e v en do-a af ast ar se altiv a e l on


,

g i n q u a E su bit amen t e seu eS p i ri t o en xer


.

g ou ; p erc eb eu t u do e a dô r foi t am ag u da
,

q u e pr o tr d se de j oelh os e m ã os alç adas


s an o -

su pli c ou á Virgen del P il ar su a M adri n h a , ,

q u e p ar a p ô r fi m a seu mal l h e ti r asse a


vi da .

C omp reh en di a ag or a o se gr edo i nt eir o do


S átiro e a p al avr a en i g má ti c a de M af al da
, .
112 J A R D IM D AS E
T OR M
NTAS

T odos os estr e meci ment os


p rot est os del a e

n ã o eram mai s q u e o v eo du m a de f ez a en

g an osa c om q u e ac ob ert ari a O escru p u l o


,

e o s desej os A ssi m se p assav a n a c aç a


.

l asciv a q u e o S átir o f azi a á s n i n fas


f u rt av am-se el as em desor dem febril p ar a l og o
apó s vi rem r en der se em q u eix osa en tr eg a E
'

.

da n at u r ez a da f emea esq u iv ar se e r esi stir —


,

q u an do o san g u e mu it o l h e p alpi ta p el a h or a
das v ol u pt u osi dades O seu p ap el e ser
.

esq u iv a e dol ori da e o p ap el do mach o ser

f ort e e br u t al O pr el u di o p ara ela é sen tir


.

0 p or b aix o

E st as refl exõ es ac u di am l h e em trop el —


,

em q u an t o a resp ost a de M af ald a si m ,

b om l og ar se n ã o fossei s v ó s sen h or lh e , ,

z u mbi a aos ou vi dos c om o a v oz formi dá


v el de t odas as E,

sp an h as pr eg oan do su a

c ob ar di a .

O sá ti r o aci m a del e n ã o c essav a de esc ar


, ,

n e c er dos h om ens ; os an i maes do mon t e

c aí am em del í q u i os mu si c ai s .

D Gi l p assou a n oit e em agit ada f ebre de


.
,

j oelh os ao or at o ri o da Vi rgen del P il ar D oi s .

círi os ar di am aos l ados e sobre a seda l a ,

v rada d oi r o de du as b an deir as g an h as n a
'

g u err a el a sorri a o sorri so amor á v el de


,

sempre i n t e rc ede r p el a f ort u n a dos amo r osos .


11 4 J ARD I M DAs TORMENT AS

T av er a ,
o tremu n h ado abri u L an
p ort eir o ,
es , .

- h e as r ede as bi c i oi
ç a n d o l su u a e s ada e a ,

t amen t e p ôs p é n as sal as morn as e esc u ras .

O ri en t an do se sem di fi c u l dade a p asso de


-
,

l ob o foi dir eit o á al c ôv a de D M af al da


,
ª
.
.

A p ort a est av a en c ost ada e Gil en tr ou .

B r an damen t e a l amp ada a r di a c on tr a o


,

en or m e l ei t e q u e ap ar en t av a u m a g ran du r a

r eli gi osa de alt ar U m p erf u me l an g or oso .


,

de m agn oli as em fl ôr en chi a o ap osen t o , .

A v an ç an do a ch am a di f u sa di st i n g u i u o
,

c orp o de M af al da n o somno n u c om O , ,

c al or q u e est av a T odo ele era u ma on da côr


.

de l eit e e l u ar e ao mesm o te mp o c ada membr o ,

su rp reh en dído n o ab an don o u m fr u t o divi n o ,

fl ori do em r osei r al de b eij os U m a das tr an ç as .


,

c ol ean do lh e p el os sei os í a desap ar ec er en tr e


-
,

a s c ô xas c om o u m a l on g a e n egr a serp en t e .

Gi l c u rv ou -se sobr e el a e pri meir o b ei j ou


os p és aq u el es p és q u e c abi am n u ma c asc a de
,

nóz e sabi am f u gir ; dep oi s su avemen t e ,

c omo u ma arest a d on da os b eij os p erc or


'
'

r er am t u do da g arg an t a q u e en do id eci a aos


,

sei os r osc as c ab eças de p om b os q u e d esarm a


,

r i am a fri ez a du m p u n h al L ev ada t alv ez .

n as asas du m S on h o lig eir o M af al da su spir ou ,

Gil det eve se u m momen t o c on templ a l a


— —
.

S ó as n ari n as se agit av am ; a respir açã o


O S Ã rI RO
'
1 15

era seren a do c orp o exh al av a —


se— lh e u m ar o m a
de sen su ali dade q u e f azi a l ate j ar as v ei as de
Gil c omo b adal adas de S i n o A sede de p e s .

s u i l a q u e i mo u l h e a g arg an t a
— —
.

Ce ga n erv osamen te Gi l c ol ou on te m a b ôc a
, ,

sobr e a b ô c a de l a AO mesmo t emp o p as


.
,

san do l h e os bra ç o s em t orn o erg u eu a p ar a



,

el e c om o u ma p en a M af al da geme u de b a
.
,

E
t eu se e n u m r ar o arr an c o de en ergi a li b e r

t ou se da t en az q u e a seg u r av a
-
m vez .

su pli c an t e Gil t ent ou t ran q u i lísa l a


,

.

E
M af al da M af al da sou eu !
, ,

l a q u edou -se o feg an t e at u r di da de , ,

p u pil as dil at adas ; e l og o q u e ab arc ou t od a


a r eali dade e xcl amo u
,

Vó s? Vó s ? ! S oc orr o ! soc orr o !


A c u dir am D S ol e as ai as em fral da de
.
ª

ca mi sa e dan do de c a
,
r a c om D Gi l se b en z e .

ram de esp an t o C om a v o z tr emu l a de ex el


.

t açã o M af al da di sse
E st e h omem I n tr odu zi u se á —

f al sa Q u e s aí a p ar a n u n c a

D Sol fez men çã o de lh e i r arr an c ar a es


.

p ada mas D Gil c om bran do g eit o af astou a


,
.
-

D eix ai a p ara o sr de S an ti st e b an

. .

U ma ai a safr a c om o pr op osit o de c h a
mar M af al da O p ôs se
,

N ã o n ã o meu mari do sab e r á vi n gar me


,

.

9
1 16 J A R D I M DAS TORME N T A S

Gil c om u m sorri so mau a bri n c ar lh e n os


,
-

l abi os p ôd e dizer lh e
,

P ar a q u e me t ent ast es se h aví ei s de ,

re p eli r -m e ? O l og ar era b om se n ã o f or c i s

v ós M al dit a sej a a h o r a em q u e v os ví m al ,

di t a sej a
D Sol v ei o esp er a l o á p ort a p ar a l h e diz er
.
“ -

nu m esg ar

b em d l ma
'
I de f az e r o a , sen h or c av a
l ei r o .

D Gil solto u u ma pr ag a e mon t an do a


.
,

c av al o t omou O c ami n h o de M adri d A o .

p asso l en t o da mont ada foi m al diz endo da ,

so rt e e bl asf eman d o dos an j os e da M adri

nh a . A g ora j á n ã o vi a ap el o p ar a a su a
,

desh on r a e n em seu s olh os p odi am ch or ar


,

n em se u espírit o r efl e ctir S u a al ma est av a .

amarf an h ada p ol u í da c omo c ap a de t oí rei ro


,

apó s u m tr asteo fel ón A n t es de ch eg ar á p on t e


.

do M an z an ar es o u vi u gran de tr op el e v ol
t ou -se ; u m l ac ai o de C asarr u bi os av an çav a
á r edea solta P erg u n t ou -lh e .

O n d e v ai s?
R ec ado p ar a o sr D A l ej an dro sen h or . .
,

Gi l c omp reh en deu q u e i a n aq u el e c aval o


n eg r o q u e c orri a c om o o v en t o a su a sen t en ça
, ,

de mort e O est afe ta desap arec eu n u ma


.

n u v em de p oeir a e Gil p ôs se a c on t a r os di as —
11 8 J A R D IM DAS TO RMENTAS

S u st ar º m en sageirº man dadº a E lvas .

O r dem de mi n h a senhºra .

D Gi l c º m m ã º n ervosa ati rºu lh e u ma


.

bºl sa de esc u dº s
Se c u m prir es a t empº o q u e t e man
dar am t erá s º u tr a .

O c av alº b ran c º gen erº so desp edi u v elºz


, ,

cº mº u ma set a A Vi rge n del P i l ar º p er av a


.

º mi l agr e e Gi l ren deu lh e i n fi n it as gr aças



.

N 㺠era du v i dº sº q u e º c av alº br an cº q u e
cºrri a cº mº º p en samen tº n ã º alc an çasse
'
den trº d h ar as º c av alº pretº .

E Gi l fºi p en san dº em D M af al da q u e .
ª

en v i á r a a cº n tr a ºr dem e n a dº n z el a pºbr e
,

q u e d es p º sari a seg u n
,
dº º vºtº a su a M a

drí n h a .

Q u e fl ºrest a de cº n tr adi çõ es era a al m a das


m u lh er es ? R az㺠ti n h a Fr ei J osé das S et e
L an ç as q u an dº n º c on f essi on ari o aº c abº du m ,

ec adº d am º r , l h e di zi a em b en ev º l a ad
'

p
mºe st aç ã º : I gn i s ,
mare, m u l i er , tr i a m al a '

Gi l de T av era fec h º u se em c asa e de sem



,

b l an t e t ôrv º ºr den º u aº s l ac ai º s q u e n ã º
,

ab ri ssem n em aº S an tí ssi m º S acr amen tº .

D ºi s di as e du as noit es l h e esc u tar am º s


p assº s í nv arí av eí s de cá p ar a l á de l á p ar a cá
, ,

n as sal as desert as e as bl asf emi as v eh em en t es


O S Ár I
'
Rº 1 19

q ue s ºlt av a t
. e Aº
rc e i rº di a c o n tr a a ºr de m
ex pressa —
b at eram á p ort a º n de el e p asseava
cº m º u ma f er a r aivº sa e S olit ari a A bri n dº .

n u m assô mº de c º l era dep ar ou se l h e u m a


,
— —

dama q u e escº n di a º rº stº em n egr a man


tilh a .

A dama av an çº u em p assº l en tº e desc º


bri n do a frº n te di sse
D º m Gi l v en hº p edir v º s p er d㺠!
E
-
,

E
ra b em D M af al da q u e ali est av a su plí

.
,

c an t e a f ac e b an h ada em pran t º
,
ra b em .

el a mi st e ri º sa e pº ssu í da de i m p u l sº s diver
,

sos cº m º º fºg o e cº m º º m ar Gil rec º b rado .

da su rp resa di sse ,

P er d㺠de q u e sen hºr a? ,

D e mi n h a cr u el dade .

S en h or a eu m u itº v º s d esr esp eit ei


,

pºrq u e mu itº v º s amav a .

E eu pºrq u e m u itº V ºs q u e ri a v º s t º r
, ,

n ei ví cti ma de m eu desat í n ada q u er er T i n h a .

pr essa em ser amada e as vº ssas man eir as er am


l en t as O f en deu me a vº ssa i rresºl u ç ã º em
.

,

se g u i da vº ssa º u sadi a em q u er e r des salv a r

n ã º vº ssº am ºr mas vº ssº

S en hºr a era a p ai x㺠q u e me c egav a


,
.

E ai n da me t en des am ar ?
M ai s q u e á vi da
1 20 J A R D IM D AS TORMENTAS

D .
ª
M af al da en l agri mas e em v º z
x u gº u as

dº ri da c º n tº u q u e n ã º fôr a pº ssiv el emb ar


g ar a m en sag em q u e D S ºl desp ac hára a seu
ª
.

maridº O seg u n dº est af et a v ºl t ára n aq u el e


.

di a dep ºi s de r eb en t ar º c avalº n as c erc a


,

n i as de T ºl edº Q u e f az er agºra ?
.

E seu s ºlhº s cº meç ar am a cºrr er em fº n t e ,

e n t r e ex c l am açõ es de d esesp er º

Q u e h av em º s de f az er D Gi l q u e , .
,

h av emº s de f az er ?
E sp erar
E sp er ar D Gi l eu amo-v as e estº u
.
,

deci di d a a p artilh ar vº ssa sºrt e Fu j amº s .

p ara lº n ge de E sp anh a .

D Gil p esou u m i nstan t e as p al av ras de


.

M af al da

E
E n º ssa h on ra ?
u cº nh eçº º g en i º de D A l ej an drº ; .

depºi s da º fen sa aº seu briº n ã º se medi rá ,

c º nvº scº .

T an tº m elhºr p ar a p ara ele .

N 㺠man d ar-v ºs-h ã


,
dar v º s —

h a mºrt e afr on t osa .

Marrereí f eli z p en san dº em v º s


,

D esgraç ada de mi m !
Seu c h ôrº cºrr i a cºpiº sam en t e Gi l b eb eu .

l h e as l agri mas ; M af al da p assº u lh e º s br açº s -


O TR I U NFA R DA VI D A
1 26 J A R D IM DAS TORMENTAS

dº b em e hº mem re g ari as
dº m al . Tu , ,

t err a c º m º su ºr de t eu cºrpº ; t u mu lh er , ,

seri as vºt ada á cº n di ç㺠d º ser m ai s fr agi l ,

mai s sen sível e m ai s dºlºri dº T omai pºi s .

t en tº .

Mas sen hºr , ret orq u i u n º ssº p ai ,

u e r a u m mº l ô ssº fi e l en s i n ai -
n º s q u al
q e

é º fr u tº p rº h i b i dº e n ó s j u ramºs n ã º lh e
,

tº c ar .

E aqu el e
'
respºn deu º p ai c el este
m i º s a p et ec e r n a hºr a pe rf u mada das
q u e a s v

sº m br as S er ei s t en tados a c º me-l a pel as


'

se rp en t es as a be lh as e a c º nj u ra dº s ele
,

ment ºs .

E
A ssi m e sabºrºs º º f ru t º pr ohi bi do ?
i n q u iri u v a c u riº sa .

S abºrºs º ; mas n º c arºçº se escº n dem


tºd as as p eçº n h as dº sºfri men tº Mal º p rº .

'

v asseí s ,
vº ssº sei a to rn ar se hi a n º ni nhº - —

i n fer n al du m m u n dº mi st eriº sº e t u mu lt u a
ri º . E eu man dar v as h i a escorr aç ar p el as
- -

gu ar das Gosai g º saí cºn t an t o q u e resp eitei s


.
,

º en i gma de mi nh a sapi en ci a .

R etir ou se º P adr e E t er n º p ara a Su a


C ôrt e c el esti al n º mei º da trºp a dº s arc an j ºs


,

E
e dº s se r a fi n s q u e f u n g av am em trº m be t as

e sax of ones de pr at a A d㺠e v a ven dº -se


.

a s ó s n º j ar di m das del í ci as em q u e as f ºn tes ,


O TRI U N F A R DA V I DA 19 7

t r au t eav am men u et es,


'
º r i l era d º í rº e
a e a

as a rvºres an dares g ar ri dos e p asmadas me ,

dit ar am .

Vá lá sab er se q u e fr u tº é

di zi a
Se c º nh ec essemº s al demen º s a c ôr
E
A dã º
va, rel an c e an do º l hº s esc ru t adºres aº s

pº mºs cºr adº s e an c h º s pro feri u ,

A ssi m defêsº e g u ar dadº mu itº b º m ,

dev e ser !
Oh ! de ve cº n cºr dº u º hº mem n u m
l ô rp a e l argº sº rri sº .

D esde en t am º espíritº del es p alpit ou pºr


,

s ab e r q u al era º fr u tº q u e o c u lt av a a rai z de

b e m e dº mal e a sem en t e da sab edºri a .

Mas n a v ari edade i n fi n it a do E den tº dº s º s


p ó m º s e r am s a b ºrº s º s e t en ta d o r es D e tº
. dº s

l h es di zi am ºs p íc an sº s e º s ab elh õe s q u e ,

n el es se b an q u e t eav am

Cº m º sab em b em ! Cº mº sab em b em !

E
Os divi n º s h abit an t es n ã º ati n av am c º m
º I ni rac u l º sº pº mº . ra est e c u i dadº O
su av e espi n hº u e f e ri a seu ext á ti c o r e g al a 0
q .

r ec eiº de i n vº l u nt ari amen te pº derem t ra


hir º amº en r u gava a f ac e l isa de se u mar
de doç u r as E se n ã º er am men º s feliz es e r am
.
,

mai s senti dº s aq u el es di as de tern a m ansi dã º


e nºit es de sº m a sºltº Mas su a c arn e e
.

su a al ma p erman eci am i mmac u lav ei s .


19 8 J AR D IM DAS TORMEN TAS

A temp oradas
º S en hºr desci a a vi sit ar ºs
'
s

cºlº n º s ; e h avi a gran de arrai al n º j ardi m das

E
delí ci as em q u e dº gril º aº di pl odo c u s tº dº s
, , ,

º s an i maes t omav am p art e A d㺠e va .

en t o av am u m Te de u m f estivº a q u e f azi am

c ôrº º s l e º ês e os e l e f an t es deb ºn arí º s E de .


,

tºd as as vez es se reti r av a cº n ten t e c o fi an d o


, ,

o li n h a da b arb a e r ebºl an dº º º l h i n h º viv o


,

n a frº n t e su m pt u osa de v elhº .

D u ma dessas vi agens emq u ant º tº dº s t res ,

E
p ercºrri am u ma das al eas dº p arq u e ab º b a
dadas de fr u tº s v a rº g º u ,

Mas senhºr di z ei n ºs q u al é o pº mº
, ,

prohibid o ?
J eh ovah atalh ou lºgº de má c at adu r a q u e , ,

E
seri am º s rep rº b os n º di a em q u e º sou bes

sem . va tº davi a q u e est av a p ôdre c º m


, ,

mi mº cº meçº u a cºlh er fr u tº s e a l an ç a l º s
,

aºs p é s dº Cr eado r E cºrt an dº cºrt an dº .


, ,

sem pr e as assu c aradas p er as as rº m ã s ,

p a l í da s a s c,
am º es as i n g en u as i n t e rr o g av a ,

E est e S en hºr ?
'
,

E
E a tº dº s D eu s respº n di a sev er a e b º m ,

N 㺠va n 㠺
, ,
.

N º ssa Mã e pºré m q u e era sag az n ºtº u


, , ,

q u e tº d as as v e z es q u e º s pº m º s e s t av am e m

al tº e q u e p ar a º s cºlh er ti n h a q u e al çar

a p e rn a ou di st en d e r º br açº a albi n h o de D eu s ,
1 30 J A R D IM DAS TORM E
NT A S

p u pil a semi mo rt a º t regei tº estr anh º dºs


ser es . A n u v em an c º rá ra sº b r e el es í mpe ,

t i da p erf u mari a dº E
dí n dº de vº ar p ar a º thr an a de D eu s a sor
den Cº m º cº b r as sº m
.

n º l en t as os arº mas r ast ej av am p e lº ch㺠e


,

e n r o sc av a m-se em tº m º dº s cºrpº s n u s e

c á n di dos de n ossº s p ai s .

E st amº s envºltº s em h era b al b u ci ou

S am cºr das dº sº l q u e p assam p el as


as

arvºr es r espº n deu A d㺠.

S ºb a n u vem i mmº v el e esp essa º f atº ,

vi stº sº dº s l ag artº s p alpit av a e n º f u ndº dº s


,

b º sq u edºs su spirº s n ºvº s de an i m aes ferí am


º sil en ci º .

A h an da me º l u me n a c ar a
E

tºrn º u
a g em er va .

N 㺠sam ºs i n c ensºs q u e en c º n tram


,
'

fech ada a pºrt a dº s c eos sº c eg ºu A d㺠.

A n u v em b ai xº u ai n da p oi san do cº mº u m
,

v ap oroso man tº sº b re a c óp a das arvº res .

U ma l uz i n deci sa b anh av a º j ar di m das d eli


ci as .

m
E
Q u e n u vem t a c arr e g ad a a b af a-m e !
,

l am u ri ou v a .

C al a t e ; é a esc ada pºr º n de D eu s d esc e


a vi sit ar n os —
.

As se rp en t es en r º sc av am se e m S e as —
º TR I U N FA R DA VIDA 131

p assarº s esp en u j av am se n ervº sa e r ep eti


damen t e .

E
N º p eitº l an su dº de A dã º as n ari n as de
v a r u fl á v am E c º m tº da a mei g ui c e du m
.
,

j ºvem f eli n º as fºrm as ch ei as del a r oç av am se


,

pe l a mu sc u l atu ra S ê c a de n ºsso p ai A dã º .

mor deu lh e º s bi cº s dos sei º s e el a prºfer i u


e m v º z q u ebr ada

Q u e sabºr terá º fr u tº mi st eri º sº dº


b em e dº m al ?
Q u em sab e lá '
Cº mº esti v essem mu i tº pr oxi mas as fº n t es ,

fresc as e i n ºc en t es de su as b ô c as j u n t ar am-se .

E
E rec on h e c er am q u e era melhºr q u e º mel ,

u e e ra º i n e fav el S ºb º p esº de v a mºl e e


q .
,

su av emen t e A d㺠esticº u a p er n a n u m esti

c ã º su av e ; m aliciº sa e a rir cº m º a ag u a n º s

seixº s n º ssa m ã e ag arrº u -l h a en tre as s u as


'

, ,

diz en dº

E
O lh a cº m º º s serp en t es se abr aç am !
E v a á semelh an ç a del as t en tº u en li ç ar seu s
m embr os n º s membrº s ri j as de A d㺠A n u .

v em m i st eriº sa c u rv an do as pº n t as fe ch av a
, ,

º p arq u e n u m a a b º b ada m ºrn a º n de as l a ,

r an j as l u sí am c omº l am p adas U m su spirº .

E
de m i l su spi rº s err av a n º ar .

E va a t en t adºr a e a su b til di sse a


, ,

A dãº
1 32 J A R D IM DAS TORMENTAS

Faz m e

cº mº as ser p en tes e cº mº a

nu vem .

E A d㺠ass im fez


cº n t rada d u ali
. Na en

E
da de dô r e v º l u pi a d aq u el e a br açº p resen
, , ,

t i u v a q u e h avi am descºb ertº º pe ri gº sº fr u tº .

Mas º su mº b em q u e se lh e dep arára i mpe


, ,

di a a de vºlt ar atr az

O te mºr de arr as .

t ar a cól er a di v i n a e º ºrg u lhº de dev assar


º grav e eni g ma mai s tei mº sa tºrn av am su a
an ci a Mau gr adº
. seu su a f ebr e a gu ç av a se
,
-

n º s ri scº s e n a c ert ez a de i l u di r a vº n t ad e

dº S en hºr .

A n u vem º scilº u sºb re el es e as ti n t as


c ambi aram ; de esc arl at e º ar c ol ºri u -se de ,

ºirº do c º nsegu í ment º depºi s dº fº sc º da , ,

s aci edade ; e a n u ve m al c an dºra da c ºm º ,

en ºr me av ej ã º desamarrº u , .

Ar q u ej an tes n º ssº s p ai s c º m p reh en deram


,

u h a vi am t r ag ádº º pº mº em q u e se encer
q e

r av a a p eç on h a dº b em e dº mal U ma p az .

i nq u i etan te p arali sav a º j ar di m das de lí ci as .

Fí c á ram tr ansi dos º l ha r á esp era


, , .

P º r c i ma del es est alº u e n t am u m trºv㺠, ,

fº rmi dav el q u e º s fez ag arrar u m aº º u trº


tirit an t es de medº As arv o r es l asc av am em
.

si n i strº frag ô r e as asas das ab e lh as


,
al u ,

c i n adas cºrri am n º esp açº cº mº set as


,
.

U m arc an j º de sen h a r aivº sº e ar madº até


,
13 4 J A R D IM D A S T o RM E
NrAs

Aº fri º e aº v en tº n º ssº s p ai s tº rn aram


en l aç ar -se cº mº as ser p en t es ; e a c re açã a

i nt eir a i mi t º u -ºs E aº fi m d este ampl ex o q u e


.

E
p ov oou º mu n dº tºdº s c an t av am ab elh as
, , ,

mel ros e v a
A mºr amº r t u é s º t u dº A t i n ºs ren
, ,

d emos na dôr e n a al egri a ! A mºr t u é s º ,

tu d º !
EM
O S OL A R D ON TA L VO
1 38 J A R D IM DAS '
I O RM E N TA S

Mas p ar a l á
, c ampº desc º b ert º p ºssu í a
do ,

ai n d a vi n h edº s ol iv aes e t err as de semeadu r a


, ,

em m am a v am d z al d i a f d ta i a
q u e e e s eu a r s .

A ssi m ri c a de dºt es n at u rai s e da f ort u n a ,

est av a Fl ori p es d esti n ada a ser o alvº de b as

t ºs e exc el en t es pr et en den t es D u r an t e dºi s .

an n º s
q u e t an tº s est ev e su a mã º em h ast a
a estr a da v elh a dº sºl ar f ai sc ou aº t rº p el
d e mí l c av al ei rºs E dean t e das dez v ar an das
.
, ,

ren hi da fºi a j u st a dº g arb º d u n s c ºm as


arc as d º i r º dº u trº s A pº s l abº riº sa e x am e
'
.

ºptº u D Belt r㺠p º r u m a b ast ado gent í lh º


.

mem q u e n as su as q ui nt as di zi a t amb em
, , ,

esp al man dº u m mu rrº n º p eitº

E u cá S º u a mºrg adº mai s ri cº da R i b a

dºi rº .

Fix ou —
se a dat a dos esp ºn saes e D . B elt rã o ,
ch aman dº Fl ori p es di sse-lh e ,

M en i n a º t eu c asamen tº dev e c el e
,

brar -se c º m a pº mp a di gn a dº s Mont al v º s .

P º sses n ã º n º s f alt am e º n º ssº b raz ã º


r em ºn t a mu itº alé m dos Trast amá ras P ar a .

gr an des em p rez as gr an des hº n r as v º u -me


á c ô rt e p edir a el reí q u e v en h a ser º t eu
'

p adri nhº Ha de l embr ar -se ai n da de seu


.

v elhº servi dºr .

A p ar elh ou º fi dalgº l u x u º sa eq u ip ag em e
arti u ar a c ôrt e r e c omen dan dº q u e du r an t e
p p , ,
º S OL A R D E M O N TA L v º 1 39

a su a au sen ci a pºrt as n ã º fossem abe rt as


, as

n em a dôn a nem a c on d e n em a en fer mº q u e


, ,

de arri mº n ec essit asse M en i n a e ai a p rº me


.

t er am c u mp ri r á ri sc a as di spº si ções dº fi dalgº ,

t an tº mai s f acil q u e º sºl ar era gran de cº m º


u ma vi l a e div erti dº cº m º u m a f eir a .

A ssi m se p assº u n º s pri meirº s di as ; mas


ºcºrreu est an dº u ma t ard e a v ar an da se
, ,

lh es dep ar ar u m p º b resi n h º cº mº aq u el es
em q u e se di sf arç av a N º ssº S en hºr q u an dº i a

p elº mu n dº a g eme r mu itº n a estr ada .

T iv er am el as mu itº dó e ai n da q u e c º m ,

p e z ar d e tr an s gred ir e m a s ºr d e n s dº sen hºr ,

º r ecº lh er am em c asa A c al é nt aram n º c om


.
-

u m b º m l u me u mas g ô rdas mi g as e º hº mem


, ,

en t esº u -se e m su a corc ô v a de velhº c amelº .

E xp ô s en t am º f adari a q u e era si mpl es e ,

ch㺠c omº a vi da i n te i r a dº b º m p edi n te


E
.

E
ra da T e rr a Q u en t e e i a de j ºr n ada p ar a

a S an t a u ferní a º nde º p ã º é alv o e as es


,

mº l as t al u das cº mº ab ob or as Mas ti n h a-se .

desg arr ada n º c ami n hº e h a tre s di as q u e


an dav a a t ô a m ºrtº de fº me e de f adig a
, .

Cº mº su as f al as fºssem t ern as e cºlº ri das ,

en tretiv er am se c º m e l e p º r m u itº t empº


-
,

ou vi n do lh e dar tr aç a de
-
fi dalgº s e bº ns
ab ades q u e medr av am p elº mu n dº fó ra .

J t arde e n ºi te c err ada Fl ori pes di sse-lhe


, ,
1 40 J A R D IM DAS TORMENTAS

O lhe aq u i se lh e faz a c ama e aq u i


,

dº rme q u en ti n hº ao b orr alh a N 㺠O deix a .

mos sai r p ºr u ma n ºite dest as ; faz mu itº


es c u rº e º s lº bº s an d am sº b e j º s .

D esf az en do se em b en h aj as p u xº u º

pºbr e de du as l ar an j as dº su rr ã o .

L aran j as j á ? e xcl am º u A nast asi a .

S am as pri meir as q u e ap arec eram n a


T err a Q u en t e T r azi a-as p ar a u ma fi dai
.

g u i n h a mas mu itº i n gr atº eu era se as n ã º


,

d êsse á s men i n as C º mam q u e sam mel rº sadº


. .

A n ast asi a q u e er a rab ac eir a i mmº l º u lºgº


, ,

a su a ; Fl ori pes º u pºrq u e lh e re p u gn asse


,

p rºv ar dº q u e vi n h a n a b º rn al du m men digº ,

º u pºrq u e r e c easse du r an t e a n ºit e º s arr ot os

ch oc as a q u e era at reí ta fi n gi u q u e cº m i a
, ,

mas n em u m S ó gº ma lh e p assº u n º s gorg º mí l ºs .

Ac º mº dá ram pºi s o p º b resi n h º aº b º rr a


lh º e se fô ram de i tar sati sf eit as daq u el a b º a
,

acç㺠n a m esma al c ô v a A ai a c ai u lºgº c om º


,
.

u m a p e dr a mas a men i n a p ºr m ai s q u e t e n
, ,

t asse en godar o sº mn º n ã o adº rmecí a A lt as


, .

hºr as v ag u eav a su a fan t asi a en t re º n ºivº


,

ºc u p adº dº s c al ºn drº s e seu p ai p er di dº n a


,

c ô rt e sen ti u est al ar º sº alhº Ap u ran dº a ou


, .

vi dº p erc eb eu q u e e r am p assº s de lºbº ,

dal gu em q u e p en etr av a n º a pº sen tº Q u i z .

e rg u er se br adar

, p º r s o cºrrº m a s f al e c,er am
1 42 J A R D IM DAS TOR MEN TAS

E st am os salv as c on si derou el a
é st a p ort a ch ap eada d aç o n ã o c ed e n em a ti ro
'

de p eç a T oc a
. alv or oç ar os cr ead os .

Mas o t u mu lt o n a noit e ap roxi mou se —


,

ar remet eu p el a esc ad a Voz es r ou fen h as .

di sc u tir am ,
pr agu e j ar am U ma mu ralh a
.

d h omb ros c ol ou se c on tr a a p ort a i mp an do


'

, ,

desc arr eg an do t o do o al en t o 0 ago n em .

r an geu seq u er .

A v o z do men dig o cl amou


E n t reg u e a mã o do fi n ado se n ã o ,

arr omb amos a p ort a .

A m ã o c on ti n u av a a ar der so bre u m esc a


b el o cl ar a c om o o sol e c omo o sol n ã o q u ei
, ,

man do su a ch ama Fl ori p es t en t ar a ap ag a l a


.
-

mas n em ao sopr o mai s f ort e tremi a aq u el a


si n i str a l u z .

P oi s si m resp on deu Fl ori p es p asse


o br aç o p el o b u r ac o do g at o .

0 h omem assi m fez e el a l h e c ort ou a m ã o


,

c erc e c om u m m ach ado q u e ali est av a O .

san g u e esp arri n h ou e al ag an do t u d o


,
ap a ,

g ou a mã o i n c an desc en t e Fl ori p es ! s esc u r as


.
, ,

n ã o sen ti a mai s medo ; n a n oi t e a q u adri lh a ,

deb andou em p ressu r osa v oz eari a A t an t o .

al arm e a ai a d esp ert ou L og o q u e de t u do


.

foi i n t ei r ada di sse


Fu i l ogr ada c omen do a l aran j a N ã o .
o S OLA R D E MONTA LV O 1 43

sei o q ue me su bi u ! c ab eç a q ue t omb ei
como mort a A g ora men i n a .
, , só lh e p eç o q u e
me deixe gu ardar essas du as mã os p ar a me
mori a .

P oi s fi c a c om el as .

N a m adr u g ada , r egr essou D B eltrã o c om .

a pr om essa de el rei v i r ser p adri n h o do c asa


men t o M u it o mar avi lh ado fi c ou do q ue su c e


.

der a ; e c omo aq u il o era alt o f eit o p ar a ser


,

c antado n o esc u do , n em c om a m ai s bran da


p al avr a c astigou a q u ebra de su as o rden s .

Gomo esti vesse ! p ort a o di a do c asamen t o ,

l embrou se D Beltrã o de o f er ec er ao gen r o



.

u ma mon t ada q u e em p arelh asse c o m o


c aval o Azaga í a de Fl ori p es M an dou p or .
,

i sso p or f eiras e c ou del ari as q u e l h e trou xes


,

sem p or t o do o p re ç o o me lh or an i m al q u e h o u

vesse Vi er am c av al os de mu it as b an das
.
,

v ali osos c omo c o n dados gr an des c omo p al a ,

c i os n en h u m p orê m c om p eti a c om Az ag a í a
, , ,

n a c orri da e n o g arb o .

M elh or ! melh o r ! l an ç av a aos l ac ai os


de c enh o fr an zi do .

P roc u r á ram p or l on gos t err as mas sem pr e ,


1 44 J A R D I M DAS TOR MEN T AS

Az ag a í a lh es av an t aj av a ou n o g al op e ou
se

n o b ri o T r ou x er am l h e se m r esu lt ado h ac a
.

n eas n erv osas de p rí n c i p es e gi net es ar den t es

de g u err a U m j u deu desc obri u l h e u m al a


.

sã o alt o c om o u m a t o rr e p ara ac om odar o ,

q u al era pr eci so r asg ar as p ort as das est re


b ari as ; d oi s den t es p orê m er am c ari ados e a, ,

c au da p ou c o c omet ari a .

M elh or ! melh or ! excl amav a semp re

E
D Beltrã o
. .

xg ot ar am-se t od as as b u sc as e p or p re ,

g oei ros sol ert es a som a de ,


cr u z ados
foi o f ere ci da a q u em c av al o a presen t asse
c ap az de g an h ar a Az ag aí a n a c orri da e n o
g arb o A c u dir am mai s c orsei s de t odas as
.

raç as e de t odos os r ei n os g arranos ardeg os ,

c omo t oi ros f ac as du ma gr aci li dade de r ap a


,

ri g a n en h u m p orêm en chi a as m edi das ao


, , ,

fi dalg o .

D esal en t ado di zi a p ar a Fl ori p es


,

Teu n oiv o n u n c a p oderá sai r a p assei o


com A za g a í a ao l ado ; é u m bi ch o q ue en

v erg on h a t odos os c av al os .

U m di a b at eu á p ort a do sol ar u m h omem


,

de fi n as man eir as t en d o atr az de si tr es p a


,

gen s c om tres c av al os
T rag o lh e tres c av al os sr D Beltrã o ;
-
,
. .

q u alq u er del es b aterá Azag aía .


1 46 J A R D I M DAS TOR MEN TAS

p arti ram Azagaí a p erd eu seg u n d a v ez p or


.

mei a pi st a .

S am extr aordi n ari os os seu s c av al os n ã o ,

h a du vi d a Mas est e o u tr o p ach orr en t o c omo


.
,

u m b orr êg o n ã o t em ar de afr on t ar o meu


, .

P oi s deix e r ep ou sar o seu e v e-l o h emos —


.

E p ac h orren t o si m p ar a m elh or ac al en t ar o
'
, ,

í m p et o O h ! v ô a c om o o p ensam en t o e dá
.

p el o ch am o de
L i n do n om e gr ac ej ou Fl ori p es .

L i n do ; e u m am or est a creat u ra .

A n da tri n t a l eg u as du m í m p et o e o p asso del e


é mai s m aci o q u e an dar de lit eir a P r eci sa .

a p en as du m tr at o fi dalg o e vi n h o b eb e vi n h o ,

c omo u m ab ad e .

L og o q u e Azag aí a soceg ou o c aval eir o ,

di sse
V a m o s lá m ed i os O seu meni n a é
-l
.
, ,

r eal men te u m n obre ani m al mas c on tr a est e ,

é c om o u ma o v elh a c on tr a u m l ob o C u st ar .

lh e c u st ar lh e h ã a m ã o de su a fi lh a
- -
,

sr D B eltrã o
. . .

B ast a de i n sol en ci as sen h o r ! ,


t ro
v ej o u o fi dalg o .

P art am os pro f eri u ele p or en tre


den t es .

A b al ar am os doi s c orsei s ; ! s pri meir as


u p as A zag a í a deix ou adean t ar Vi n g an ç a a
O S OL A R D E M O N T A LVO 1 47

p er der de vi st a ; su a i n f eri ori dade foi man i


fest a.

S ati sfeit o p or reali sar seu desej o ai n da q u e ,

ag ast ado p el a derr ot a do seu c av al o pr o p ô s ,

D B eltrã o
.

P ô de en tre g ar as rede as q u e eu Vou lh e —

c on t ar sei s mi l cru z ados .

S ei s mi l cr u z ados ? M ai s me c u st ou a
c re aç ã o .

S ej am oit o mi l .

P u f em m ai s i m p ort a a r açã o .

Dez mi l q u er ? ,

M ai s g ast ei a adext ra l os -
.

Q u an t o p ede ?
Q u an t o j á lh e p edi sen h or D Beltr ã o
, . .

O fidalgo en gasg ado de c ol era apó s est as


,

p al av r as ch amou a c re adagem q u e era u m


,

ex e rcit o As r edeas f or am arr an c adas das


.

m ã os dos p agen s m an i et ados e a u m si gn al


, , ,

o m ordó m o desat ou u m a v ol u m osa sac a de

di n h eir o E e mq u an to c on t av a sei s mi l c ru
.
,

zados ao c av al eiro q u e sorri a D Beltrã o , .

di sse lh e ab an an do

,
c ab e ç a em ameaça
P odi a lh e f az e r amarg ar as i mp ert i n en

ci as mas man do-o em p az c om a soma q u e


,

ofere ci S ei s mi l cr u z ados m or domo n em mai s


.
, ,

um v á di g a o
q,u e q u i z e r mas ,

n ã o esq u eça q u e m ui t o p aci en t e eu fu i !


1 48 J A R D I M DAS TOR MEN T AS

P ar a c or oar f aç an h a D B eltrã o c on vi d ou .

Fl ori p es e o n oiv o q u e em b asb ac ado assi s


,

E
tir a a t odos os l an c es m on t ar em os espl en ,

di dos c orsei s l e c av alg ou Vi n g an ç a Fl o


.
,

ri p es Rel amp a go e o m org ado T i g re Mas .

an t es q u e de ssem bri da u m assobi o c aden ci ado

e mu si c al z u mbi u n o ar e os c ava l os arr an c a

ram n u m a f u g a doi da .

Os l ac ai os vi r am n os tr esmalh ar e c orr er—

p ara a li n h a do h ori z on t e c om o set as al u ci


n adas Q u an do v olt aram os olh os c av al eir o
.
,

e p ag en s h avi am desap ar e ci do Az a g a i a n i t ri a .

p l an g en t emen t e .

P or r dem del rei u ma forç a p arti u a b ater


o —
,

as mon tan h as do N o rt e q u e o s b an di dos i n

fest av am e on de era de pr esu m ir g u ar dassem


, ,

e m re fen s o n o br e e m u i l eal sen h or D B el

E
.
,

t rã o ra p on t o de fé q u e l on g a e e n g en h osa
.

tr aç a com o fi m de r ou b ar e mat ar fôra aq u el a


, ,

dos c av al os q u e c orri am m ai s q u e o v en t o .

S e D B eltrã o era a u n i c a vícti ma a m u it o


.
,

mi l agre devi am Fl orip es e o m org ado a sal


v açã o A Fl ori p es v al er a lh e c ai r o c av al o
.
-

n u m tr emedal e ao n oiv o ser c u spi do da sel a


, ,
1 50 J A R D IM DAS Í O RM
'
E N TA S

Mas p orq u e q u er p ar tir n u ma e xp edi çã o


don de m gl ori a e só ri sc os ?
não ve

E u m segr edo meu alf er es


'
, .

P artir am O soldadi n h o era dos mai s ani


.

m osos n a m arch a, se b em q u e se u p ar e c er
fôsse mel an c oli c o e reserv ado Mas sil as fi n as .

man eir as c ati v aram t oda a tr opa e o alf eres


q u e o n om eou o r den an ç a An dá ram , an .

dar am at é q u e fôram b at er a u m a al dei a


,

p er di da en tre as b renh as on de os h omen s e ,

os l ob os vivi am em p orfi ada g u e rr a A b ol e .

t ada a f orç a em p alh ei r os o alferes di sse á ,

or den an ç a p er an t e o u n i c o c atr e q u e t op aram


D ormi r emos am b os .

J u n t os se deit ar am , mas o sol dadi n h o p ôs


a esp ada de p erm ei o O alf er es v en do i sso
.
, ,

lh e bj et ou
o

P en du r e esp ad a q u e m u it o nos h a ,

de m ag oar em c am a t am estr eit a


E
.

le resp on deu
Meu alfer es p erdô e mas de mi nh a
, ,

esp ada n ã o m e sep ar o n em de n oit e n em de


,

di a n em n a vi da n em n a mort e
,
.

D u vi das ac u dir am ao eS pi ri t o do o fi ci al
sobr e o se x o do Sol dado ; m as seu s m odos

fi dalg os acob ardá ram-lh e a li n g ua Gu ar .

dou se t odavi a p ar a o o b serv ar e cons ig o foi


-
, ,

r u mi n an do
O S OL A R D E M O N TA L VO 1 51

As m ã os sa m de r ap ari g a, m as os p u l sos
sa m de h omem A . v oz é de don z el a , mas o

l t é de sol dado O c orp o é de mu lh er


a en o .

mas a forç a é de c av al ei r o S erá h omem


'

.
,

ser á mu lh er ?

N o pri meir o c omb at e q u e su st en t ar am ,

E
o sol dadi nh o foi fre n etic amen t e dest em i do .

ra o gi n ete d el e
q u e c o r r i a n a d e an t ei r a

e as pi st ol as de l e m a i s ch u m b o v omi
q u e

t av am U m dos b an di dos c ai u a t err a ; a


.

b al a p orê m fôra t am c ert eir a q u e nemseq u er


, ,

l h e p odéram ap ar ar o u lti mo su spir o A .

malt a desap ar ec eu en tr e as serr an i as sem ,

lh es dar a so a desv en dar o desti n o mi st e


ri oso do sr de M on t alv o O sol dadi n h o
. .
q ue ,

t am ou sado se most r á ra du r an t e a re fr eg a ,

p ô s-
se a ch o r ar e m f o n t e e o al
, fe res d i sse d e

n ov o p ar c on sigo

E h omen ou é mu lh er ?
'

P orq u e a c omb at er era h omem e a ch or ar


era m u lh e r R esolv eu p or i sso exp eri men t a
.

10 e c om esse fi m o l ev ou a u m m erc ado


, .

P assan do dean t e das b arr ac as on de se v en di a ,

oir o l avr ado di sse-l h e


,

F ormosas j oi as amigo , .

O sol dado p orê m desv i an do o o lh ar p ara


, ,

os c u t i l ei ros ret o rq u i u
,
"
Formosas sem du v i da ; m as m ai s o sam
,
1 52 J A R D IM DAS TORMENTAS

q l
a u e as f ac as de mat o e a q u el es al fan ges

de gu erra .

AS mu lh er es ad or am os en feit es c onsi
d er ou o o fi ci al e o sold ad o p re f e ri u as

armas S erá p oi s h omem ?


U ma t ar de q u e ac am p ar am n as c erc an i as
,

du ma gr an de t err a o alf er es vei o ao e n c on tr o


,

do sol dadi nh o e b at en do l h e n o h ombr o —


,

p ergu nt ou
S ab e ser di scret o ?
C omo u m mort o .

Gost a de mu lh eres ?
C omo u m t u rc o
E
.

Ven h a dahi u sei de d u as b el dades


'

q u e m u it o f o lg arã o e m n os abrir a p ort a .

GaI Op á ram os doi s a redea solt a c ada u m ,

m ai s v el o z q u e o ou tr o U m a das mo ç as ti n h a
.

a c ôr f u lv a do tri g o e b agas pret as de


l oir eiro er am os olh os da ou tr a .

O al f er es i n t err og ou e m p arti c u l ar
,

Q u al lh e agr ada ?
A gr ada-me a more n a p orq u e c ativ a e
a l o i ra p orq u e en f eiti ç a .

Q u al prefere ?
P re fi r o a l oi ra p ar a dar b eij os e a moren a
p ara dar abr aços .

AÍp ri m az i a é su a , meu a l feres .


15 4 J A R D IM DAS TORMENT AS

seu desap eg o é de mu lh er ; gran de mi st eri o


ha a qu i .

T eme r ari amen t e se av en t u r ou o alf eres


c om a tr o p a aos l og ar es m ai s e r m os e sel

v agen s N o mei o du m b osq u e en c on traram


.

p or fi m os b an di dos e rij a p el ej a foi tr av ada .

N el a c air am mu it os c omb aten tes du m l ado


e dou tr o e en tr e el es o so l dadi n h o O alferes .

l argou o mai s ac eso da l u t a p ara am p ar a l o —


,

q u e em v oz en tr e c ort ada lh e p edi u


Q u e m e en terrem v esti do c omo est ou .

O o fi ci al t or n ou c om grand e c ol era e dôr


ao c om b at e e l og o q u e os b an di dos fô ram
,

desal oj ados seu pri mei r o c u i dado foi c on du zi r


,

a or den an ç a p ar a u m a c ab an a q u e h avi a

p e rt o Ao ex am i n ar lh e as f eri das l on g e da
.
-
,

ar dil osa c u ri osi dade q u e o p erseg u i a de ,

p arou se lh e c om a i m agem de D Beltrã o


- -
.

ao p esc oç o e u n s sei os formosí ssi mos de


don z el a c om o só seri am doi s p omb os br anc os
,

e g eme os E r ec onh ec en do q u e ti n h a dean t e


.
,

de si D Fl ori p e s de M on t alv o foi p r ê sa de


.

,

gr an de c omoç ã o e en terneci ment o E desd e .


,

a q uel e i n st an t e se p ó s a ama l a c om de li c ad o
,
-

e r ec at ado amo r .
O S O LA R D E MONT A LV O 1 55

C omo el rei tiv esse g r an d e esti ma p or seu


-

fi el servi dor D Beltr ã o de M on t alv o man dou


.
,

pregoar em ci dades e l og ares do r ei no q u e


cru z ados seri am c on t ad os a q u em
l h e tr ou x esse com vi da o n obr e desap are cid o .

A c o rr er am pri n ci p es mi l it ar es e aven t u re ir os
,

de o fí c i o e l u si da e v al or osa c av alg ada p arti u


,

a b at er as mon t an h as Fl ori p es q u e se.


,

acol h ê ra n a c ôrt e ch or av a c omo u ma vi de


, ,

n ã o h av en do l em m en t o m
'

q u e lh e i n or asse

a p aixã o A o c ab o du m an o c on t ado h or a
.
,

a h or a p el o c or açã o de Fl ori p es v ol t á ram os ,

exp edi c i on ari os um a um estr o p eados e


'

desil u di dos A n en h u m fôr a dado g an h ar


.

a alt a e p eri g osa c art ada de cr u z ados .

S ó u m falt av a o amoroso alf eres ; mas d esse


, ,

V I VO ou mort o n ã o ti n h a n ov as Fl ori p es
,
.

S ou b er a q u e p or fi av a e a i dei a dest e sacri


,

fi ci o p assav a em su a al ma c om o u m b al samo
v ap or oso e su av e C onti nu adament e p er
.

g u n t av a se u sc i s mar
Tra l o-h ã

bre e b om alferes ?
o no

M eses p orê m de c orr er am apó s an o e


, , , nã o

l h e ch egou r u mor n em del e n em de seu , p ai .


JARD IM D AS TOR MEN TAS

E st av am r di das as esp er an ças q u an do


pe ,

u m di a ,
u m fi dalgo do t er mo do r ei n o p edi u

au di en ci a a el-r ei
D R aymu n d o de Resq u i tel a de p art e
.

de D B eltrã o de M on t alv o
. .

A moti n ou se a c ô rt e q u e t al ou vi u e o

,

fi dalg o pr ovi n ci an o foi ch am ado .

J u lg u ei q u e est av a ex ti n t a a esti rp e dos


Resq u i t el as ob serv ou el -r ei p ar a 0 c ama

rei r o mas se n ã o está exti n t a está c ert a


men t e arru i n ada .

D i sse el rei p ar a D R aymu n do de Res



.

q u it el a h omem dos q u aren t a t orr ad o do


, ,

su ã o ,
mal foi i nt rodu zi dº "

S ab ei s on de está D B eltrã o ? .

Sei r eal sen h or


, .

E
O n de está e p orq u e n ã o v ei o c o nv osc o ?
ra arri sc ado emp reh en di m ent o tr az e-l o

eu só .

D ar-v os-h ei u ma f orç a


E o n de está ? .

N u ma serr a di st ant e ci n c o l egu as do


meu c ast el o O n de só as ag u i as mor am
. .

Mol h á ram se os olh os de Fl ori p es e o


-

mon arc a t orn ou


I de l ev ai a tr op a q u e v os a pr ou v er e
,

tr az ei me meu servi dor As alv i ç aras sam


-
.

b oas .

N ã o me sedu z o di n h ei r o .
JA R D I M DAS TORMENTA S

c oli a q ue en so mb rav a a fi g u r a de D Ray


.

mu n do
E st arei s v ó s en amor ado ?
R eal sen h or assi m q u i z mi n h a sig n a , .

De D Fl ori p es ?
.
ª

Si m d e D Fl orip es a
. .
,

Q u e f al e eu a au t ori so ,
.

E n tre sol u ç os livi da a don z el a resp ondeu


, ,

S e m elh o r prem i o v os n ã o sedu z será ,

v ossa a mi n h a mã o Mas f az ei me a mercê .


dou tr o esc olh er .

D R aym u n do ab an ou a c ab eç a
.

O u tr o n ã o me sedu z .

T u do assen te e j á n oiv o de Fl ori p es p ar


, ,

ti u dali o c av al eir o á t est a de p oder osa


mi lí c i a E v olvi dos mu it os di as re g r essou
.
, ,

traz en do alq u ebr ado mas n ã o men os org u lh o ,

so o n o br e sr
,
de M on t alv o apó s l ab ori osa
.
,

e i n c l emen t e l u t a c om os b an di dos .

C el ebr ou se o r esg ate c om al egres e est rou


-

dosas f est as ao mesm o t em p o q u e 0 c asa


,

men t o de D Fl o ri p es era an u n ci ado c om


.
ª

D R aym u n do de Resq u i t el a sen h or de alt as


.
,

fi dalg u i as do t er mo do r ei n o O pri m eir o


'

n oiv o de Fl o ri p es en g or dav a em seu s l ati

fu n di os ab orr e ci do de aven t u ras e o b om ,

alf er es arr ast av a p el a côrt e al egr e seu ar

tri st onh o .
O SO LA R D EM O N TA LVO 15
9

Gran de rr ai al foi dado n a vesp er s dos


a

esp ons aes A c u di u a melh o r n obr ez a de


.

P ort u gal e de E sp an h a e n o p ateo se org an i


sar am j o g os de dext resa e de pr az er O .

c on t ent ament o n ã o ti nh a medid a ; Fl orip es ,

en t re os r an ch os sati sf eit os arr ast av a seu ar ,

pr az en t eir o
'

Os c on viv as ab an c á ram p ar a o b an q u et e ,

e as t aç as c an t a r am c om vi n h o v elh o de c em

an n os N est e momen t o os b ran dõ es ap a


.

g ar am-se e t oda a sal a fi c ou merg u lh ada


,

n a esc u ri dade .

L uz ! urr ou o sen h o r de M on t alv o .

Ahi v ai , sen h or ! grit ou A n ast asi a .

A rgi u en tam c om u ma l u z resp l en


ai a su , ,

den t e q u e c eg ou a assem bl ei a T odos os .

E
olh os i n ci dir am sobr e o estr anh o arch ot e e

vi ram a mã o du m fi n ado ra a mã o du m .

fi n ad o br an c a e exang u e q u e ar di a c omo o
sol .

D R aym u n do de Resq u i tel a deu u m salt o


.

p ar a A n ast asi a m as c em br aç os t esos de ,

l ac ai o seg u rar am-n o .

N obr es sen h ores excl amo u el a

ahi está o c apitã o de l adrõ es q u e assalt ou

E
o sol ar seq u estr ou sr D Beltrã o e i n t en t av a
, . .

c asar c om mi n h a ama e senh ora i s a mã o .

q u e p erd eu n o assalt o ao sol ar .


J ARD I M D AS TOR MEN T AS

E nu ma sa ma mã o mi rr ad a
lv a exh i b i u u ,

u m c ad av er de mã o A o mesm o t emp o os .

l ac ai os desen f aix av am do braç o de D Ray .

m u n do u ma mã o p osti ç a, t am b em f eit a
c om o só o di ab o a f ari a .

A t em n o dos p é s a c ab eç a

orden ou

D . E v olt an do se p ar a os c on viv as
Beltrã o .
,

at on i t os ac resc en t ou
,

R est a p edir lh es pe r dã o A f est a fi c a



.

an u l ada .

E
A f est a c on ti n u a at alh ou Fl ori p es .

i s o m eu n oiv o .

E t om an do o p el o br aço c on f u n di do apre

, ,

sen to u o v al en t e e b om al fé res da g u ard a

d el -rei
'
.
A HORA D EÉ E
R V SP AS

N u ma al dei a b ei rô a ea j eci da a olh ar o


,

M arã o e a E strel a vivi a u m h omem dad o ao


,

n eg oci o dos az eit es e dos c ereaes C om o ti n h a.

f ama de b oas c ont as e os p esos n ã o rou


b av am a c l i ent el a afl u i a
, .

U m di a f al ec eu lh e a mu lh er deix an do u m

,

men i n o S en ti n do a f alt a du ma g overn an te


.

de p ort as a den tr o e c omo g ostasse de


,

R osari a su a c u n h ada e c omadre p assou ,

a viv er c om el a sem l ei n e m san ti dad e .

Pena ti nh am de se n ã o c asarem n a egrej a ,

mas p orq u e er am p obres e a di sp ensa do


,

p aren tes c o c u st av a os olhos da c â ra tiver am ,

u e c on st ran gi r os desej os c ri stã os de su a


q
b oa al ma .

Mas n ada h a mai s p rest adi o q u e as b ôc as


do mu n d o ; ao fi m de p ou c o t emp o o almo
crev e era derri b ado do c on c eit o q u e g osava ,

c ap az de t odos os cri mes vi st o q u e assi m


trazi a a h on ra de rast os D aq u i c omeç ou
.

a adv ersi dade p ara o I sid ro sai da n at u r a l


,

12
1 64 J A R D IM DAS TORMENTA S

men t e du m b eij o c omo o mal h u man o j a


sai ar dou t ro .

Os freg u ez es a en a am
t rv p ar a o C orn et a ,

q u e ti n h a se m pr e so rr i sos d a r e q u e ao ,

medi r o az eit e sabi a met er p ar a den tr o sem ,

n i n g u em se a p erc eb e r O f u n do delg ado das


,

c an adas A f amili a p ôs-se t amb em ! s avessas


.

c o m el e de manei ra q u e desol ada R osari a


, ,

n ã o se f art av a de cl am ar

Ai ! h omem q u e n u n c a h av emos de
p ôr o p é em r amo ver de !
Mas o I si dr o tr ab alh av a c omo u m moi ro ;
ai n da mal n ã o ti n h a c arre gado n a ci dade

j á os m ach os f azi am r omari a pel as al dei as ,

v en den do a gr osso e a ret alh o c on f orme ,

vi nh a a talh o de mã o Assi m a vi da h avi a


.
,

de en di reit ar á fi n a força .

Q u an do v ei o a S eman a S an ta R osari a
'

, ,

q u e t o d os o s a n os c ri v av a o j oi o da
al m a n o r al o do c on fessi onari o ap resen ,

t ou se mu it o l epi da á deso brig a A j oelh ou



.

emb u ç ada mas o sr p adre Cl aro fez -l h e


, .

sign al p ara q u e vi e s se f al ar lh e de p art e —


.

R osari a di sse el e n ã o t e p osso

r ec eb er em c on fi ssã o .

P orq u e sen h or reit or ?


,

P orq u e v i ves de c ama e mesa c om teu


c u nh ado O lh a mu lher pre ci s as du ma b u l a
.
, ,
1 66 J A R D IM DA S TORMENTAS

Mal emp reg adas f or am as p assadas at é

o mi ssi on ari o de C i mbres c om , p orq u e se


p ec ados foi c om pec ad os v ei o .

Reprob os da e grej a ao c ab o de tres an os


,

ti n h am q u atr o fi lh os as q u at ro p ar ed es da
,

c asa e u m a p arelh a de mach os N esse an o o .

velh o r eit or ap osen t ou e o sr p adre J aci n th o .

foi p ro vid o n o l og ar R osari a sem p re t emen t e


.
,

a D eu s e de c or açã o si mpl es i m agi n ou q u e i a ,

dest a vez desc arreg ar os p ec ados O sac e r dot e .

n ã o a c on h eci a e er a t em p o de en doen ç as .

N a man hã do di a esc olhi do p ar a a c on fi ssã o ,

dep oi s do c an t ar dos g al os c omo el a tir asse ,

a c ô xa deb aix o da del e e o desp ert asse fa ,

l ou lh e

Q u e di z es I si dro
, , el e se rá h omem de me
dar a desobri g a ?

C om q u e es tá s a mal u c ar ,
mu lh er ;
dor me .

T en h o lá somn o !
O lh a mi n h a ric a e u c á n o teu l ogar
, ,

n ã o p u n h a l á os p é s I st o de p adr es sam t o dos


.

a mesm a f az en da .

S en h or a dos R emedi os me fav o re ça .

P oi s si m !
A o to c ar p ar a a mi ssa j a el a estava
assei ada mu it o assei adi n h a p ar a i r á c on
,

fi ssã o Os fi lh os e r am u ns viv os demon i os ;


.
A D E V É S PER AS
l

H O RA 1 67

p osera m se a

j o gar
l u t as e a rot u ra saí u
as

ao J oaq u i m q u e era q u ebr ado


,
o ch eg a n t e ,

ao mai s v elh o R osari a q u e os c asti g av a sem


.
,

dó n em pi edade foi lh a met er p ar a den tr o e


,

c om c o l eri c a p aci en ci a su pli c ar lh es -

O h ! c arr asc os v ê de lá n ã o me tir ei s


, ,

de mi n h a dev oç ã o !
L á foi p ar a a egrej a dep oi s de o rden h ar
a c abr a Q u an do ch ego u a v ez del a es c on deu
.
,

a c ar a n a c ap u ch a p ar a n ã o ser re c o n h e ci da .

Mas c om q u em est av a m eti da? O p adre


desc obri u a l o go e l evan t an do se do c on
-
,

fessi on ari o a modos q u e lh e di sse


,

E
S ai a sai a daq u i !
,

la fi c ou t am at ar an t ada q u e n em art es
t eve de se vi r emb or a O p adre agar .

rou -a p or u m br aç o e p el a p ort a tr avessa


p ô l a fôr a da egr ej a R osari a foi se p ara
- —
.

c asa com grit ari as q u e á d el-rei I si dro era


,
'

o c au sado r da su a desgr aç a q u e o seu r eg al o ,

seri a deit ar -se a u m p oç o esc on der -se deb aix o ,

do ci sc o on de n i n g u em a vi sse .

O I si dro t am desati n ado se v i u q u e b ot ou


a c arg a aos m ach os e ab al ou N o p ovo n ã o .

i a ou tro fal at ori o .

A n oite q u an do v olt ou R osari a ti n h a os


, ,

olh os pi sados de ch or ar N a c ama sem p o .


,
1 68 J A R D I M DAS TORMENT A S

E
der p reg ar olho estiv er am mu ito t em p o dei
,

t an do c on t as ! vi da l a di sse-lh e .

D esc on fi o q u e an do gr avi da .

Mau e i sso A ssi m a c resc er o reb an h o


.

só se fô rmos p edir esmol a .

A gr aça de D e u s é gr an d e !
Fi a t e n essa O lh as q u e t odo o n osso

.

mal v em dos p adres .

Q u e q u er es el es t eem razã o ; n ós n ã o
,

t emos
O u ni c o q u em se deve obri g açã o
é ao p adr e C l aro P o di a f az er esc an du l a e
.

ch am ou te ! s b oas

.

E v er dade ; n ã o p erdô a u ma mi ga
'

lh i nh a u m p o bre m as t emi st o de b om : n ã o
,

faz m al m a m ôsc a
a u .

E h omem de v u lt o , R osari a E vê l á .

t u o fi lh o sai u u m m ari ol ã o sem pr e me ti do


E
, ,

c om femeas, p el as feir as m o p ai c err an do o .

o lh o h a de esp ati f ar emq u an t o se abr e u ma


,

mã o e se f ech a t u do o q u e el e g an h ou a
,

p oder de mu it o serm ã o e de mu it a mi ssa


c an t ada
C al ar am-se e el a q u e era mei gu i c ei ra en
r ol ou o n os br aç os E n a q u i et a n oite a dor

.

mec eram c om a c on sol açã o de se ver em


du as p obr es al m as n u ma al ma só .
1
70 J A R D IM D AS TOR MEN TAS

I saq u e r i
so r u se m t orn ar r esp ost a A dean t e.

en on c tr ar am o Cl et o q u e v olt av a da vi l a
,

esc an ch ado no v elh o c av al o en tre , os p ot es


do l eit e .

De du as p ern ad as os mach os alc an çaram-n o ,


e t odos tres se p oseram de l ongada o g ar ,

ran o atr az p en osa mas res ol u t amen te p or


, ,

soli dari edad e .

Varz eas de milh o esten di am—se p ar a as


b an d as e n os b at at aes ferretes de esmer ald a
,

desp on t av am Ao l on ge a serr a fl ori a en tr e as


.

ro ch as mal v er dej an do n e l a a t at u agem so


,

l i t ari a du m c en tei al E b ati dos do p oen t e


.

os reg os c u rvos ch ei os d ag u a p are ci am


,
'
,

l ami n as de prat a f u n di da .

E n tre sombras desgren h adas de c ast a


nh ei ros o mon t e d esci a su av emen te p ara u m
,

l og arej o N as eiras os g al os ati r av am p ara o


.

c eo c ol u mn as man u eli n as de cri st al e os t elh a ,

dos r el u zi am n u ma br an da asp ersã o d oi ro


'
.

Ao atr avessarem o l og ar de p ar ou se-lh es ,


o C o rn e t a
q u e v e n di a a z eit e e m pl en a ru a .

t c rri a u ma g ôt a n u ma ti gel a
q u an o es o ,

p ar a prov a meli fl u amente a fi r m av a


,

E st e at é ar de sem p avi o .

O I si dr o su rpreh en deu os sorri sos mol an


g u e i ros d o riv a l e a i
,
de i a d a f o rt u n a d el e

cresci da b om cresc er n ã o se c on t ev e ,
A HOR A D E v E
e RA S 171

Q u an t os litros de mij o lh e d eit ast e


d en t ro oh C orn et a?
,

O ou tr o retru c ou -lh e n a c ara


N ã o t en h o as t u as m an h as l adrã o ,

Mas I saq u e t oc ou o r an ch o p ara a fren te n a ,

v oz au t orit ari a q u e ap ren dê ra n o q u art el

Você s os p obres sam t odos cã es u ns


, ,

p ara os ou tr os .

O al mo creve q u i z expli c ar lh e as alic an ti -

n as do C orn et a q u e a p ar av a a u ri n a dos ma

chos e a v erti a n os ôdres Mas n ã o l h e dan do .

ou vi dos foi o Cl et o q u e l h e r esp on deu


,

Você an dou m al seu I si dr o O lh e q u e


,
.

a q u i lo é má rez .

De p eit o a p eit o t em aq u i u m h omem .

Q ue q u er es Cl et o
, r ou b ou me, o sa adof —

a f reg u ezi a c om as su as set e f ali n h as do c es .

O c ami n h o dil at av a-se i n d ol en temen te e


el es t oc á ram as b est as q u e o sol desci a n o

h ori z on t e L en çoes r ox os de nu ven s ci n gi am


.

no p or t odos os l ados .

O mon te resc en di a do mai o ; c abr as i mmo


vei s n o mei o dos reb an h os sci smav am fai
ran d o o ar .

Por desfasti o I saq u e p erg u n t ou


D ig am-me cá q u e é f eit o das A mad as?
,

A m ai s v elh a c asou e m S M arti n h o . .


1 79 J ARD I M DAS TOR M ENT AS

As ou tr as du as es a t m so lt eir as e i sso é q ue
t m u mas rap ari gaç as
es a .

E a C aramel a?
O h ! i sso é de q u em a q u er A q u el e .

demon i o t em desmoç ado t odos os r ap az es


da t erra .

E
A pó s u m a p au sa t or n ou ,

n t am sr A n acl eto v oc eme c ê sem pr e ao


.

Nã o h a re medi o .

Q u an t o gan h a p or di a?
O it o vi ntens .

C al ar am-se .

E u ma vergonh a O u ç a n u n c a lh e su bi u
'
.
,

! c ab eç a p eg ar n u ma tr anc a e l ev ar t u do
esses

O Cl et o e o I si dr o desat ar am á s g arg a
lb adas sem h aver c omp reh en di do .

O sol mer gu lh av a detr az das mon t an h as .

S ob a chib at a do al m ocreve as b est as ac el er a


r am o ch ou t o P ar a l á das c arv alheir as u m
.

c ot ov el o da p ov oaçã o m ostr ou se n egr o e —

su j o .

D oi s mendi gos de b orn al ao h ombro v i


, ,

n h am p el o c ami n h o fó ra r ep arti n do o p ã o .
17 4 J A R D IM DAS TORMENTAS

v i n t en s c ada u ma , e u ma l ebr e c aç ad a n os

f erros .

B at eu p ort a tr u z tr u z !
á ,

G sr est av a ai n da n a c ama esp erasse


.
,

respo n der am lh e —
.

E sp er ou esp erou u ma m o ç a v ei o p ar a o
, ,

p ati m dep en ar as p er diz es .

P ar a m at ar o t em p o o I si dro p u x o u o

E
p al ei o .

l a só ti n h a b em a di z er dos am os O sr era . .

u m fi dalg o de m u it o r esp ei t o u e p u n h a a
q
vi l a do av êsso só c o ab ri r b ôc a E o ch aç o '
.

dos h omen s ali n ã o h avi a q u e n ot ar !


, .

E c on t ou q u e fôra l ev ar lh es a c aç a ao —

l eit o a senh or a q u e g ast á ra m u it o e q u e


, ,

p on do se a v er as p er diz es q u e ti n h am es
-

p orã o e as q u e n ã o ti n h am di sser a : C oit a ,

di n h o dest e p er di gã o t am b on it o e l as se ri am ,

t odas mu lh eres d el e ? A sen h ora ti n h a mu it a


pi edade era m esmo a m ã e dos p obres
,
.

D ep oi s de m u it o c on v er sar acr esc en t ou


S ab e os sen h ores sam m u ito debiq u ei
,

ros n as c om i das A pr e ci am m u it o a p er di z l á
.
,

i sso apr eci am m as p or tr u t as é q u e el es dam


,

o c av aq u i n h o D iz em q u e a mã e del as é l á
.

p ar a os seu s siti os ?
O lh e meni n a foi o em b on s t em p os
, ,

.

H oj e c o m a c al e a c ó c a estu p or á ram tu do .
A H O RA D E V É S PER AS 1 7 5

Mas eu cá sei a n da on de e as an da
i l m T enh o
.

l á u m c omp adre q u e é a al ma du m p esc ador ;


dá u m merg u lh o e n ã o v olt a á deci m a sem ,

tr az er u ma em c ada mã o e ou tr a n os den t es .

A c readi ta fi t av a o d olh os de r at a mu it o
'
-

ab e rt os .

P oi s el e j a nã o h a p eixe ; mas se seu


amo me livr a dest a a m ort e m e c om a se se
,

E
n ã o en f asti ar em aq u i de t ru t ari a .

le q u e se ti n h a p or bi sc a v elh a foi f az en do
, ,

o j og o c e rt o de q u e a m o ç a i a c om o al emb ret e
,

aos amos p orq u e t u do i st o de cre ados sam


,

gen te de l ev ar e tr az er .

E
A hi p or volt a das 1 1 o fi dalgo v ei o á p ort a
n t am q u e desej a?

O I si dro en rol an do e desen r ol an do a c ar a


,

p çu a
,
g em eu o r e c ado q u an t o a deman da
em q u e se ach av a en v olvi do p or c au sa das

c eb ol as E n ã o se esq u ec en do de diz er q u e
.

n as e l ei çõ es n u n c a fal t á ra c o m o v ot o ao

so gr o de su a exc el en ci a p edi a-l h e p ar a q u e


,

n aq u el e a pe rt o fô sse o seu b om p adri n h o .

O fi dalgo esc u t av a-o em sil en ci o sem o ,

en c ar ar t eso c omo u m pi n h ei ro Ao fi m
, .
,

qu an do l h e i a a t orn ar resp ost a ap eou se u m ,


senh or n a estr ada du m c av al o su ado c om ,

u m arri ei r o ao l ado a su ar t amb em t odo ,

j an ot a e de vid ro no olh o O fi dalgo foi di reito .


1 7 6 J A R D IM DAS TORMENT A S

l fi c an do o I si dro pl an tado no chã o


ali
'

a e e, ,

de b ôc a ab ert a .

C ai a u ma so alh ei ra de rach ar O arri eiro .

p asseo u o l en ç o v erm elh o p el a c ara e sen tou se —

! sombr a fresc a b em fr u stre q u e a es t av a a


, ,

tr ag ar O mei o di a O I si dro r ap ou du ma c odea


.
,

q u e j á l h e l adr av a o est omag o e tr i n c an do ,

p erg u n t ou
Q u em é est e fi gu r o ?
H omem voc ê n ã o c onh ec e o sr dou t or
,
.

del eg ado ?
D eu -l h e o c or açã o u m b aq u e ; vi er a em
b oa alt u r a p ar a o fi dalgo di sp ôr o n ego ci o a
seu f av or E rej u b i l an t e ameaç av a
.

A h ! C arv alh a du ma fôn a !


O arri eir o era de p ou c as f al as e el e q u e
dou se á esp er a ab orr ec i damen te E sp er ou

, .
,

t orn ou a esp er ar at é q u e p or fi m ,
j á as
c asas d av am sombra ap arec eu a mo ça

c om u ma g arr af a e u m c op o .

E deit an do v i n h o p ar a o arri ei ro e em se
,

g u i da p ar a o al moc rev e di sse lh e ,


-

O sr man da diz er q u e p ô de fi c ar des


.

c an sado C omo o sr dr de l eg ado cá está de


. . .

v i sit a h oj e mesmo fi c a t u do assen t e


,
.

O I si dro f art ou -se de p ron u n ci ar b em


h aj as e el a t orn ou
D i ga v oc emec ê t em meni n os ?
,
1
7 8 J A R D I M DAS TORMENT A S

ao vi do u m ofi ci al de dili gen ci as seu


ou

c onh eci do .

A ssi m foi C adei a a r em ir c u st as e sel os


.
, ,

n ã o b ast av am vi nt e moedas .

O I si dr o ch eg ou a c asa a arr ep el ar se ; q u e —

h avi a de ser del es ? I saq u e en c on tran d o-o , ,

di sse l h e c om fé ro sembl an t e
-

P oi s v ocê fi ou -se l á n o t al
E l es c omem a i sc a e n o an z ol S abe o .

q u e eu f azi a p ar a me t orn ar l embr a d o ? i a-l h e

deit ar o fog o a c asa .

S cept i c o e p esar oso o Cl et o o b serv ou


,

P oi s q u em q u er d ares e t omares c om os
p atif es da j u sti ç a? S ó os p obres do en ten di
men t o S am c ap az es de r ou b ar a madre a
.

u ma e gu a e el a ao g al op e .

O I si dro f i c av a sem t er on de c air mort o :

B u t am , v en de-se u m mach o
mu lh er ,

b alb u ci ou I si dr o de l agri ma n o olh o p ar a


, ,

Rosari a q u e ch or av a c omo u ma vi de
'

C ai u a mal di çã o em n ossa c asa !


S omb ri amen t e o al moc rev e ap ar elh ou as
b est as assoou 0 J ai me q u e est av a r an h oso
, ,

e de sp ed i u -
se
A HOR A D E VÉ S PER A S 1
79

A té l og o mu lh er
, .

O n de v ai s c ab o , dos tr ab alh os?


Vou t er co m o P i n t o do Vi l ari n h o ;
se m é der a n da as
i vi n t e e du as m oedas e u m
q u art o p el o Toi reg as t em m ach o ,
.

A ssi m se ch am av a p orq u e Toi reg as era o


n ome do h omem q u e lh o h avi a v en di do Foi
'
.

sobr e e le q u e I si dr o c av alg ou e b at en do c om ,

os c alc an h ar es de u a v oz de p arti da
, .

I h h ! i hh !
AS c am p ai n h as solt aram u ma t aren tel a
a l e gr e s obr e as l ages son or as da c alç ada .

E st av a u m di a br an do gr an des v á gas de ,

som br a p assav am sobr e a t e rr a c om o t u l es

gig an t esc as e f u gitiv as P el os t ri gaes o c an t o


.

das mon dadei ras ch am ej av a .

A spir an do os excit an tes p erf u mes das veig as ,

os m ach os av an ç av am c om viv aci dade C om o .

os h omen s er am sensív ei s ! s est aç õ es


, ,

t en do c on sci en ci a de q u an t o o sol era b en


fazej o e a serr a lib er al n a pri m av er a N os .

olh os del es v ivi am des p er tos o e n c an t o e a

vi sã o ri son h a das c oi sas N ada os en t erneci a .

c om o o en t ar dec er en x u t o n as estr adas .

Ren di damen te c ru sav am en tam o reli n ch o


,

c om o dos ou tr os mach o s u m r eli n ch o q u e,

su bi a n o ar c omo u ma fl e ch a di sp ar ada de

cri st al .
I O JA RD I M D AS TOR MEN TAS

N as c omo aq u e l a em q u e os
t ar des ,

esp aç os se desen h av am lí m pi dos e os pe n edos

do rmi am em t odo o t or p ô r su a doci li dade ,

n ã o ti n h a r eserv as n em seu s o lh os me l an

c oli a .

Q u an do sai am do p ovo p alpit av am log o ,

pe l a direcçã o e geit o do amo o desti n o q u e


le v av am C on h eci am de c ô r as al de i as em re
.

don do e as p ort as v er des das t av er n as P re .

sos á arg o l a ti n h am t em p o de o b se rv ar ,

medit ar e ab or rec er-se J á n ã o orn eav am .

a ch am ar o am o po rq u e a v o z de l es er a

vã Hu m il de e sil en ci osamen te esp er av am


.

q u e de c o rri da s m u it as h o r as e l e v o lt asse ,

trôp eg o das p er n as e m ai s br u t al E n o .

r egresso r ec on du zi am n o somnol en t o sem —


,

e rr ar u m p al m o c om o mesmo ch ou t o fi el
,

e d al m a n ã o m en os su b m i ssa
'
.

Ao pesc o ç o a a be lh a de c o bre z u m bi a
i n i n t err u pt amen t e ! P ost o q u e i m pi edosa ,

m
E
a g u ilh o an do os sem pr e a r a a fr en t e a a
p

,

v am n a -
. l a era a v oz de se u es f o rço e ,

n as n o it es esc u r as q u an do o al m o cre v e de
,

sap arec i a so bre a al b a r da en c o lhid o n a se m

b ra m u da f al av a lhe s dos u ni v ers aes seres


,
- .

A f orça de b at e r as ce rc an i as h avi am se ,

fami li ari sado c om os at alhos as pen h as e ,

os pi n h aes C omo t odos os en tes d al ma


.
'
1 82 J A R D IM DAS TORMENT AS

mai s nã o p oder g ri m p av a p el as v eredas dos


,

l ob os c om t o da a c au t el a n em espirr an do , ,

n em ac o r dan do as p edr as .

O am o t odas as v ez es q u e tr op eç av a
, ,

c osi a-l h e o v en tr e á p on t a de n av alh a e


e l e ac ab ou p or a pr en der a art e de ser r eso

l u t o e di scr et o Á s v ez es n o mai s si n i str o da


.
,

j orn ada v i a l u zir f erros e grit os c an t an t es


, ,

c ru sav am se de g an dar a p ar a g an dar a


-
O .

al m oc re p u x av a o n u m s af an ã o p ar a en tr e
-

as b ren h as ah i ,
r on dan do e ac amp an do
p o r m u it as h o r as E v e n do o s m . a ch o s d o s

m ol eir os e as m u l a s da l av oir a li dar em de .

di a aos olh os de t o dos; p erg u n t av a se p or


,

q u e r a zã o e l e s ó m a rch a v a p e l o e s c u r o ,

q u an do as estrel as est av am ap ag adas e os


g al os s au dav am a n oit e alt a p el os c asaes ?
U m a n oit e desci a sil en ci osam en t e u m p asso
,

e sc orr eg adi o a de an t e o don o e m alp erc at as


,

da tr an ç a S u bit amen t e v erg ast as de f og o


.
,

e est ampi dos fu si l aram sobr e el es a c u di n do ,

h omen s ag al oados de t odas as b an das O .

am o c ai u p or t err a emq u an t o el e ab al av a

p o r u m a q u e br a d a fó r a c o m o s p e it o s a

a r de r L á adean t e a p an h ar am n o e l ev an do
.
-
,

o r et alh ar am lh e o c o rp o o n de sen ti a f og o li
-

q u i do P assou seman as n u m a estreb ari a mu it o


.

v ast a a p ar de c av al os fer o z es q u e o m or
,
A HOR A D E V É S PER A S .
1 83

di am e despr ez av am . D ep oi s q u an do j a
,

se su s ti nh a n as p ern as , u m mari ol ã o alt o e

n e gr o ap ar e c eu e l ev ou o -
.

S abi a ap en as i st o e era est e epi sodi o q u e


,

n o si l en ci o do est ab u l o c on t av a ao Toi reg as

q u e o a dm ir av a e t emi a .

A pó s t an t a t or m en t a h avi am adq u iri do


aq u el a sab edo ri a em u e n ã o fi c a m arg em
q
n em p ara dedic açõ es n em p ar a afr on t as .

P ou c o a p ou c o p or l en t a r eaçã o ti n h am
, ,

ch egado ! c al ma i n di fere n ç a dos merc en ari os .

P or i sso n ã o pr o fessav am i dol atri a p or I si dr o ,

fe r oz c omo t odos os amos q u e lh es p u nh a ,

m on t an h as sobre o l omb o e lh es f azi a deit ar


os b o tes n os l on g os c am i n h os dor men t es .

T odo o amor q u e lhes en c err av a a al ma era


di stri b u i do en tres el es n u m a v elh a esti ma de
,

sei s an os .

O q u e m u it o apre ci av am em I si dr o era os
c an t ares estr an h os t am doc es c omo a mã o
,

S it a dos r ap az es q u e lh es est en di a ao foci n h o


u m a c ode a de p ã o Q u an do el e g arg an teav a
.

an da a g u erra n o mar A fr i c an l e p e l as ch ar

n e c as tri st onh as ch eg ari am a a dor me c e r se


,

a se rri lh a os n ã o arr e p el asse o u o c alc an h ar

n ã o estiv esse vi gil an t e As c an tig as emb al a


.

v am-n os ,
s obr et u do q u an do j u n t os c om os

mach os dos b el fu ri n h ei ros march av am em l i n


18 4 J A R D I M DAS TORMEN T AS

h a, so n ora , t men te sob a l u a r eligi osa


san a ,

ou a virgi n al p u rez a d as mei as man hã s .

N aq u el e momen t o descen do a m on tan h a,


,

con ti n u av am c om su as al mas a r u de al e gri a do


mu ndo Os olh os i am lh es r ec or dan do aq u el e
.
-

sc en ari o f amili ar da r osa do sol


, esfare

l ar-se e m oi ro em ci m a de t u do n a mu lti dã o
'

est arrec i da dos pi n h eir os n a p e l ej a p ar ad a


,

dos p en edos L á l on g e n o h o ri z on t e a mesm a


.
, ,

massa sombri a c om as cri st as de n ev e dam as


q u i n adas de sol re p ou sav a E c omo em .
,

to das as t ar des el asti c as de az u l p areci a lh es ,


proxi m a a gr an de c or dilh eir a mi steri osa .

P el os at alh os q u e ac u di am a desag u ar n o
,

c ami n h o , c arr os de b oi s d ol en t es e en ormes


chi av am U m, v asi o c om os oit o estadu l h os
.
,

ac esos p ar a o esp aç o r odav a p el o mat o


,

aos sol av an c os ; atr az u m b u rr o march av a

de c ab eç a b aix a m edit ab u n do n ã o se dan do


, ,

a p en a seq u er de o lh ar p ara el es
, ,
.

H aven do-o o b serv ado o Toi regas di sse n u m


o lh ar ao c om p an h e ir o

O fi l osof o, ap ez ar de t u do n ã o é m ai s

E
f eli z !
l eS n ot av am as c oi sas q u e lh es p assav am
r en t es á men i n a do o lh o sem pr o f u n de z a ,

mas n ã o sem sen ti men to A ssi m n aq u el a h o ra .


,

de su ave c al ma , sen ti am p en etr an t eme n t e


J AR D I M DAS TOR MEN TAS

su mi u as meni n as dos olh os a ch or ar ; tres di as


e tres n oites 0 C on íra b an di si a orn eou p el o
c omp an h eir o Q u an do al gu ma b est a p assav a
.

n a ru a t odo se alv or oç av a gemen do de ,

esp er an ç a e de desesp er o .

A pri meir a v ez q u e se en c on tr ou c om o
c av al o do l eit eir o el e q u e era t am o rg u lh oso
,

e so b erb o q u asi o b eij ou ; e ai n da mu it os


,

p assos di st an t e j á o seu r eli n ch o se c ru sav a


c om o del e f ort e e exp an siv o
,
.

O g arran o do Cl et o t amb em estr an h o u


vê lo só sem o c am ar ada O m ach o d olh ar

,
.
,
'

tri st e só lh e sou b e c on t ar o pri n cipi o v á go


,

du m mi st eri o O Toi regas ti n h a fi c ado á


p ort a du m h omem b arb aç u do el e vi era p or ,

al i aci m a só a o c air da n oit e N ã o sabi a m ai s


, , .

n ada ; p ar a el e as c oi sas ti n h am c om eç o a p en as

N aq u el e di a o al m ocr ev e b at eu p ar a u ma
al dei a pr oxi m a v en der o az eit e m l og ar . E
de f az er r om ari a p el as p ort as diri gi u se a —

t av ern a a pr op ôr a c arg a q u e l ev av a p orq u e ,

est av a f alh o de di n h eir o e n ã o ti n h a t em p o a

p er der .

S en t ado n o degr au do p ati m á fresc a q u e , ,

n ã o era h o r a de fr eg u ezi a o v en deir o c at av a ,

a filh a O al m o c re v e salv ou
.

Viv a l á ti o J oaq u i m ! ,

O lá seu I si dr o en t am p or c á ?
, ,
A HOR A D E
l

V E
S PE AS
R 18
7

O l moc rev e de redeas n a mã o adoç and o


a ,

o n ari z ru b i cu n do de mon ge exp l i c ou ao q u e ,

vi n h a T razi a-l h e al i u ma c arg a de az eit e


.

cl aro c omo o oi ro mesmo a mat ar p ara a ,

c ou v e tr on ch a e o b ac alhau da seman a san t a .

Como em oc asi ã o de se g ast ar o dob ro h av i a


'

de est ar
S em i n t e rr om p er a tr ab alh osa t ar ef a dos
p ol egares o t av ern eir o rip ost ou l h e n u m
,

s or ri so v elh ac o A h ! ai n da ti n h a az eit e e o
.

mu n do ami g o est av a se b u gi an do p ara os


, ,
-

p adres .

P ôs se a amarr ar o m ach o á ferr adu r a da


p arede on de os b u rri n h os das ov ei ras dep oi s


, ,

do merc ado r em oí am l on g as c on t em pl açõ es


,

E
de t er n u r a silv estre .

N em t an t o ao u cá n ã o v ou a

mi ssa du as v ez es n o di a e temp ê ro de p orc o


n ã o me en tr a de p ort as a den tr o mal v em a

q u ar esma P adr es é u ma c oi sa e fé é ou tra


. .

O t av er n ei ro n ã o r esp on deu e el e pl an t ou ,

se lh e de fr en t e so br e u m pé

c al ado c omo os , ,

g ansos á c aç a n os p au es .

Gai a a t ar de U m eix o ao l on g e c an t av a
.

chi chi -h er u ! Os p orc os mal se ou vi am gru


n hi r n as q u i n t ã s .

S ó ali p ert o u m p ap ag ai o b err av a


,

S r A b ade !. e c ac ar ej av a .
1 88 J A R D IM D AS TORMENT AS

P oi s i
a n da t en h o z it e
a e r e p eti u o

t ay ern ei r o ao c ab o de momen t os .

A gor a g as a-o de p ressa Fi l h oz es e b ô l os


t “
.

da p asc oa b e be m no a z eite c omo san g u e

U ma lc at ei a de g ar ot os desemb oc ou no
a
'

l arg o q u e ali h avi a de b araç o e pi ã o p ara j o


, ,

g a r a s D i c a s E n t re as
. p er n as do p ai ao vê ,

l os , rap ari g u i t a fi c ou desati n ada a c h o r a ,

mi ng ar .

E n ote q u e o u lti mo n em p or i sso agr a


dou mu it o .

I si dr o t orce u os l abi os s ob o ch ap elã o ,

re da rg u i u c om v oz u n t u osa

P oi s se n em Chri st o agr adou a t oda a


g en t e e m ai s era D eu s E ste é o q u e se ch ama
o su mo d a a z eit ona U m “ medi da
.

v elh a
A l í ng u a do t av er n eir o est al ou
I rra m ai s em c on t a o traz o Gorneta
,
.

E el e an da p ar a ahi .

O I si dr o deu l h e u ma g arg alh ada q u e r e


su m i a t o das as ali c an ti n as do r iv al O lh a o .

C orn et a ! H avi a l á mix ordeiro m ai or ? ! De

E
r est o o az eit e est av a t odo p el a h or a da m orte
c omo o ven deir o u m c i g an ã o , amu asse
esc o rr e g ou l h e n a o r elh a u m a ci fr a i m p e r

,
.

c e ti v el
J ARDIM DA S TOR MEN TAS

c on vem ,
S erve l h e est a p al avr a? -

E decli n an do u m pr eç o fi c ou á espér a
, , ,

ch ap eo gi n g ado p ar a tr az j oelh o t orci do ,

p ar a a fr en t e .

O v en deir o dem or ou a r esp ost a ; dep oi s ,

l arg an do as g u edelh as da c ac h ó p a pr oferi u ,

e m v oz p er en t o ri a

J á q u e v ei o de pr o p osit o eu fi c o l h e —

c om a c arg a Mas doi s t ostõ es a men os em


.

c ada al mu de ah i t em ! ,

Mas p er di a assi m a b en çã o de D eu s o
,

c obri sse p er di a ti o J oaq u i m ! !


, ,

E n ã o sei se ten h o v asilh a Vai .

c abri ol ar fedelh o h a de t e c omer a bi ch ari a


, ,

excl am ou a rr em essan do a p eq u en a .

J u n t as de b ez err as p assav am solt as e


m ansas as an c as gr u dadas da b ó st a dos est a
,

b u l os O p ap ag ai o do sr p adre j á n ã o p ra
. .

g j
u e a v a n e m,
s e vi am as fr an g as am or osas

e os g al an t es su ltõ es U m p ast or l an ç o u a
.

salv a çã o de ci m a do g eri c o atr az das v a c as , .

O c am p on ez diri gi u lh e a f al a —

Vi st e as m i n h as b adan as l á p el a R ap o
sei r a oh t u ?
,

Vi n h am atr az del e E mu it o direit o seg u i u


.

n o j u m en t o t ap t ap c omo u m gen er al

E
, , , .

n t rá r a m p ar a a t av e r n a e o v en deir o ac e n

deu a lu z .
A I I O RA DE v E
e RA s 1 91

O I si dr o foi di r eit o ao b alcã o e n os gr an des , ,

gest os deci siv os de p az ou de g u err a prop ô s ,

P ar a n ã o g ast ar m ai s agu a n a b ô c a ,

r ach a-se a di fer en ç a q u er ?,

A c ab eç a pit or esc a do t av e rn e iro to rc e u se -

du as v ez es n a m esu r a av en t u r osa dos l an c es


ac e it es .

O al mocreve apressou se a sel ar o c ontr at o


c o m u m a j u r a h on r ada

E p or ser p ar a q u em é N egro e u sej a


'
.

se ti r o u m p u t o r eal !

N u m pr at o deit ou se u m fi o d az ei te p ar a
'
-

'
pr ov a A f ai an ç a c ol ori u se d oi ro doirado
.

,

fi c ou o p al adi n o v er de da l en da c an t ado p el o
pi n c e l i n gen u o dos O l ei r os As p essoas q u e
.

est av am m ol h á r am o dedo e l e v a r am á li n g u a .

E de p al ati n o ac ari c i adamen t e si l en ci oso ,

só o h om em das v ac as f al o u p el o c or aç ã o do

v en deir o
S em pre lh e dig o q u e o o u tr o n ã o era lá
gran de f az en da .

O I si dr o q u e h avi a g anh o u n s c ó b res c om


, ,

p i ac en t em en te r esp on deu
E st e n ã o h a de ser p eor Mas t omára .

e u t er a al ma t am p u r a c om o era o o u tr o .

P el o j arr et e esf ol ado do b ó de o az eit e


esc orr eu p ar a a gr an de c ai x a de zi n c o c omo

u m a l ami n a f u lgen t e de sol D ep oi s so pr an do


, .
,
I
99 J A RD I M D AS TOR MEN T AS

aos ô dres , tir ou -


lti mo v omit o q u e a ti a
lh e o u

Q u iteri a Ven dei r a r ec olh eu n o p rat o p ar a as


b at at as da c ei a E p ar a se n ã o p erdere m as
.

esc orr al h as
q u e l h e doi rav am as u n h as es fr e
, ,

g ou as -
n os sa p at os b em du m l ado b e m dou
t ro q u e n ã o h avi a co mo o aze it e p ar a am a
,

ci ar o c ab edal .

C on t as f eit as b eb e rri c á ram


, .

P ach orren t ament e el e foi tri n ch an do p ã o


e q u ei j o e di sc or re n do sobre c oi sas da vi da .

Os r e b an h os p assav am a p orta n u m des


fi l ar i n i nterru pt o ch ei o de l ati dos de ch oc a
, ,

lh os de su rr ões de p asto res E sobre a no it e


, .

o c am p an ari o de S J oã o t an geu as tri n dades


.
,

l en t as ch ei as do c an çasso das mon das rou


, ,

c as de to do o g em i do me l an c oli c o dos bo i s do

arado .

O fi lh o do v en deir o ap ar ec eu a ch amar o
p a i p ar a a c e i a J á i
. a d i sse e l e asso ci ado

ao c o p o do I si dr o D efr on t e del es um c ã o
.

pl an t ado so bre o tr az eir o segu i a g an i n do o


m ovi m en t o da n av alh a q u e co rt ava o p ã o .

A c ab eç a do m ach o t om av a a p or t a t oda ,

d e lh os ti t os n u m ap é l o mu do
'
.
,

P or fi m o v en deir o l ev an t ou dob r adiç a


do m ostr ador
S e q u er cá fi c ar é u ma c oi sa se n ã o olh e , ,

q u e se l h e es t á a f az e r t ar de seu I si dro ,
.
1
94 J A R D IM DAS TORMENT AS

at on i t o , so b as p at as dos mach os esp av ori dos ,

g rit an do
A d el
' '
es af q u eou -me a a l ma es e t
l adrã o !

O p adre J aci n th o ac ab ou de r ez ar m a
sr .

ti n as p ar an do r ol an do p el o c am i n h o em
, ,

zig u ez ag u es n e gligen t es D e p oi s regi st an do .


,

o br evi ari o c om a fi t a de c armez i m m et eu ,

p el a ru a fôra a p asso r api do


, .

S eri a mei o di a c aí a u m gr an de sol e a ma


,

t rac a da p ar oq u i al a u m q u art o de l eg u a
, ,

s o á v a i n c essan t em en t e As h ort as as c asas


.
, ,

est av am en c an t adas sob u ma mon t an h a


d oir o ; ap en as as ab elh as z u m bi am n a b orr a
'

g e m L a.n g u i das p e l os a lp
,
en dr es as r a p ari g as ,

c at av am se u m as ! s ou tr as
-
.

E st av a u ma at mosfer a de en doen ç as e ,

r ec u an do dev ot amen t e a al ma sobre o m u n do ,

aspir ou o p erf u me do li n h o c om q u e as m atr o

n as n a n oit e de q u art a u r dir am a c or da dei

ci da da m irr a q u e M ag dal en a v ert eu n as


,

ci n c o ch agas E su av emen t e m ag oado do


.
,

c ri me r em ot o dos h omen s r ep eti u ,

P al er , di mi li e i ll i s .
A HO RA D EVE
S PE RA S 1 95

D eante de J aç i n t ho as gali n h as l ev ant avam

E
se da sombr a mi n g oant e al vo r o ç adas c ac a ,

rej an te s d ol h os esc orr en do p el a sotai n a


'
.

ab ai xo at é as fi ve l as de pr at a esc u lpi das i a ,

r u mi n an do grave h omili a do domi n g o .

Ch eg an do á p ort a l arg a du ma q u i n t ã
e rgu eu a c ab e ç a br u sc amen t e e en t rou

O h omem q u e está á mort e é aq u i ? ,

p erg u n t ou á u ma mu lh er q ue c orri a atr az


du mg al o .

'
E si m sr reit or e aq ui
, .
, .

E v oc emec ê é lh e algu ma c oi sa?


-

Sou i rmã .

E n tr aram p ara c asa N os t ai p aes b ru ni dos


.

da f u lig em u m C hri st o a f og av a se Fl ô res de —


.

exagerado p i st i l o de pr at a desb ot av am entr e

o s br aç os del e e os br aç os da cr u z .

T r es p eq u en os su rgir am salt an do de fo ,

E
c i n h o mu it o l av ado a en odoar de alv u r a o

f at o muit o su j o d an do de c ara c om J ac i n
.

t h o el es q u e mal o lob ri g av am esc o rrendo


,

oir o e se das n os mi st eri os li ndos do a lt ar ,


/
fi c ar am est arre ci dos .

O sr reit or desc u lp e a c asa é de p o


.
,

bres !
Mas ele ob servava os p eq u enos e mu it o
ap i edado p e rg u n t o u

E st es desg raç adi n h os sam todos fi lh os ?


14
1
96 J A R D IM DAS TORMENT AS

S am si m Q u e se l h e h a de f az er !
.

acr esc en t ou n u m ar de en t en di men t o .

U m dos g ar oti t os dobr ou a c ab eç a e d ol h os


'
,

a rir ,
c omeç ou a n amor a-l o p or b aix o das
m el en as O p adre af agou-o e deu -l h e u ma
.

maçã q u e tr azi a n o b ol so .

O al mocrev e r e p ou sav a ao f u n do n u ma ,

c arv oari a de trev as Al mi an do a fren t e a .


,

m u lh ersi nh a di sse l h e -

A i sr r eit o r a t odo o momen t o p ar ec e


,
.
,

q u e v a i desp e di r S ó h a u m. b o c adi n h o deu

a c ô rdo p ar a sab e r o q u e era f e it o do m ach o .

J aci nth o debr u ç an do-se sobre el e p r o ,

Em
n u n ci ou

nta i sso assi m está mal ?

E
N a gr an de man ch a livi da da fr on t e os olh os
a brir am se e f e ch a
-
r am se l e t o r n ou—
.

O lh a l á t u c on h ec es me ?
,
-

O I si dr o b alb u ci ou a fi rmativ amen t e e o ,

p adre decl ar ou q u e est an do n o u so da f al a


, ,

n ã o er a c aso de e xtr em a u n çã o —
.

Q u eres c on fessar t e ? —

E spreit ou a r esp ost a n as p alp ebr as de


I si dr o mas os l abi os resp on der am
Si m meu sen h or
,
.

B om é i sso ; m as eu c on h e ç o a t u a vi da ;
sei q u e v ai e m sei s an os q u e n ã o c u m pr e s

c om os prec eit os da S an t a M adr e E grej a .


19 8 J A R D I M DAS TORM ENTAS

l ei s do dec al og o, da pri m eir a á ul ti ma C om .

a man c ebi a p u bl i c a t en s esc an dal i sado


g ra
vemen t e o sext o Q u er o abrir t e as p ort as
.

do c é o m as p ar a i sso é ne c essari o q u e
,

c om t odas as V ér as da al m a r eneg u es o

c on j u n gi o ilícit o q u e t e ns l ev ad o aos olh os

do m u n do ; r en eg u es essa mu lh er e p romet as
n ão mai s t er comerci o c om el a C om pre .

h en des é preci so re pu di ar Sat an az e S at a


,

n az é essa m an c ebi a c om q u e c omp rome

t este os tesou r os do c eo F ã l o ! .
-

J aci n th o n ã o p on de est ar mai s t empo


dobr ado e en dir eit ou -se sati sfei t o da p er
,

su asã o e v an g eli c a q u e oser a n a p al avr a


p .

A m u lh er aos pés da cam a c h orami g av a


'

.
, ,

E el e l anç ou lh e u m olh ar fr at ern al em q u e i a


a admi r açã o de si mesm o D ep oi s de b raç os


.

c ru z ados sil en ci oso esp er ou segu i n do i n


, ,

men te o alij ar do f ard o p ec ami noso d aq u el a


al ma .

A t est a do h o em c bri a se de p er ol as
m o -

l í vi d as de su ó r em q u an t o q u e os o l h os se
,

l h e en t orp e ci a m n u m a ab str açã o d ol or osa .

Os peq u en os h avi am-se en r osc ado á sal a da


mu lh er m u dos l aparosi n hos p asmados
,
.

Ao c ab o du m mi n u t o de si l en ci o J acm t h o ,

c ravou p en etr an temen t e os olh os sob re os


ol h os d esv air ados do h omem a apan h ar o fi o
A HOR A D EVÉS P ERAS 1 99

de i dei as q u e p odi am c orrer p or tr az d aq uel a

E
f ront e orv alh ada .

n t am al m a ,
do S en h or p ersi st es
,
no

mal ?
O a l mocrev e t orc eu -se n as man t as des ,

vi an do o olh ar O p ad re m aq u i n al men t e
.

seg u i u -lh o e n c o n tr an do o l u me q u e ar di a n a
'
,

l areira Atrav ez da p en u mbr a fi g u r ou —se lh e


.
-

l on ge n o i n fi nit o N o fr on t al u ma n esg a de
, .
,

sol d oir av a a f u li g em est e n den do u m a fi m bri a ,

am are l a de c at af alc o Vi n da do alt o du ma .


,

t elh a de vi dro atr av essav a o ar c omo u ma


,

esp ada d oir o em q u e o oir o esti vesse ai n da


,

c al dear se nu ma eb u liçã o i nsen sat a P el a



.

p ort a u m v ag o l u ar do di a c oav a se c arr e -


,

g ado do p erf u me dos al fôb res da al fac ema , ,

dos al ecri n s fl ori dos .

Bu t am n ã o at en des o mensagei r o da
L u z ? E o demon i o q u e te pr en de Fu g i l e
'
.

di a b ol us i n p ar tes adversas ! T r azes os olh os


v en dados abre os p ar a q u e o B om P ast or t e
,

E
mostre o c ami n h o Tu és a ov el h a desg arr ada .

q u e l e m e m an d a b u sc ar p ar a o seu redil

am an tí ssi m o .

T i nh a p ressa de c on verter aq u el a al ma
q u e h a s ei s a n os l h e an d av a esc ap a à

dir e çã o espi rit u al de ven c er os senti men ,

t os q u e adv i n h av a ser em de br on z e n o
, ,
9 00 JA R D IM D AS TOR MEN TAS

p eit o daq u el e h omem S obret u do preten di a .

ser ri g or oso n o mi st e r sac er dot al den tr o de ,

q u e pr o f essav a a a rt e de s e c on d u zir sem p re

c om el eg an ci a .

J aci n th o sen t ou -se n a c ama e p egan do lh e


.

n a mã o mo rt a p ôs se a ac arici a-l a em u an t o

q ,

as su as p al avr as c orri am do c es el e as v i a ,

c orr er i mp re gn adas da su avi dade bibli c a das


,

S an t as P asc oas P or detr az del e a mu lher


.

sol u çav a .

Vá meu fi lh o pr omete r en u n ci ar ao ,

As p alp ebr as do al m ocr eve espremer am


u ma gr an de l agri m a b anh ar am-lh e as n ari ,

n as gr ossas e tr em en t es c omo p ap e l fi n o .

P er dã o n u n c a r ou b ei n ada a n i n

E m n om e D eu s t e p er dô o O
de .
q ue é
preci so é q u e teu s l abi os ren u n ci em
'
A R osari a ?
Si m a el a , ! tu a fei a vi da de p ec ado .

A Ah ! n ã o, nã o ! !
J aci n th o ergu eu se e a su a v oz ergu eu se
— -

mai s c omovi da d ev ot amen t e mol h á da em


,

c ol e r a
.

A el a si m ! t u a c on c u bi n a L á n o
, .

e t er n o pr an t o e r an ger de den t es t e arrep en

derá s de t an t a c eg u eir a .
nod J A RD I M DA S TOR ME
NT AS

D esap areç a ! gri tou-lhe R osari a de


p unh os f ech ados .

J aci n th o sai u d al ma l an c et ada daq uel a


,
'

i mp ot en ci a p erant e u m l ab rost e cr ent e e


p ert i n az F ora Ri mb adas de sol as vesperas

.
, ,

san gr en t as c ai am do esp aç o As fô leX as .

pi av am n os sab u gu eir os U m c or dã o de gente .

c orri a p ar a a Vi a sac ra —
.

A bri u o brevi ari o n a fi t a c armezi m e


c onti n uou a reza Mas nã o en contrava a d oc e
.

v ol u p i a dos rit mos das l et ras g oth i cas v er


,

melb as dos hi mnos r oman os E en t rou na


,
.

resi den ci a tri ste p el a pri meir a vez c om


'

oit o an õ s de mi ni st eri o e nj o ado na sant a ,

al e gri a de p ast or ear .

A lt as h or as vi er am dar lh e p art e da mort e -


!

do al mocr eve N o f u n do de sua al ma resen


.

E
ti da perp assou o versí c u l o
r i p e me D omi n e a b h omi n e mal o
, , ,

a vi r o i n i q u o l i b er a me .
A P EL E
D O B OMB O
906 J A R D IM DAS TORMENT A S

O l adr ã o v ai a rez ar !
U m di a , f
a i na c an t ar os t rasb or
l , q u e os

dav am c ai u arq u ej ant e de b aix o da c arg a


, .

O Cl et o ven do o l eit e v erti do saltou n el e á s


, ,

arr o c h adas B at eu b at eu at é l he l asc ar O p au


.
,

n as u n h as ; O c av al o so lt av a u rr os e deb ati a se -
,

sem c on se g u ir er gu e r-se P u x ou -o p el o r ab o.

c om t oda a al m s ; e l e fi n c ou as p at as esc arv o u ,

o c hã o e desf al e cid o e i nerte ab at eu p ar a o


,

l ado com os d en tes am ar el os em arreg an h o


,

e as n ari n as a esc or re r 111110 0 .

P ati n h an d o na t err a emp ap aç ada de l eite


0 Cl et o p ôs-se a d esap ar elh a l o Ao b ar u lh o -
.

das l at as ac u di ram dos b arroc aes l ati dos de


cã es e p ast ores c u ri osos e ele gri t ou lh es ,

A j u dai aqu i r ap az es
Vi eram a c o rr er e u n s p el a samarr a o u tros
, ,

pel as ore lh as p oséram O c av al o em ri b a O


,
.

Cl et o af agou -o e ap ert an do l h e a cilh a e


,

t am p ando os p otes t an geu o c om b ran do gei to:


,

A n da an da almi n h a do S en h or !
,

E n t esan do-se o c av al o c omeç ou a march ar


,

n u m p asso h esit an t e aos zig u ez ag u es c omo , ,

se h ou v esse p er di do o sen t i ment o do ru mo .

Vai b eb edo ch al ac eou u m dos pas


t ores .

Hu m ! n ã o b ot a á vi l a acresc en t ou
A PE
LE D O B O M BO 9 07

O C let o amp arav a o p el as c l i n as c om mã o



,

fir me ; mas d eb al de ; as p er n as da frente


tremer am aj oelh aram br u sc ament e e todo
, ,

o c orp an zi l t o mb ou
p ar a a b an da c o m o se ,

o est at el asse u m r ai o .

O Cl et o sovou o a p ontapé s arrepel and o-se


-
,

e ch amando se u m i n f eli z da sor te


-
.

Va b u sc ar u m a b est a t i o Cl et o ac on ,

sel h ou u m dos ra p az es .

T entou ai n d a p ó lo em pé ! forç a de pan


c ad a e c om v oz es p ersu asiv as de su pli ca Mas .

o cav al o n em b oli u d ol h os esgaz eados fi t an


'

do desv ai radamen t e o esp aç o ,

O C l et o deu lh e u m p on t apé n a m ô rc a e

,

p raq u ej an do, tir ou l h e a c arg a E parti u esb a


-
.

fori do p ar a a al dei a a es t a du ma b u rr a dei ; ,

x ando o r odeado de c ã es q u e sil enci osament e


-
,

l amb i am o l eite do c hã o .

Q u an do reapare c eu c om o azemel o c av al o ,

est av a so b re os j oelh os doc emen t e r oen do os


t oj os do c ami nh o E pr ov oc ado p or u m seu
.
,

ti ment o mei o de r aiv a mei o de dó enx otou o ,


á pedr a n a dir eçã o do povo .

Tro p ego e t ri st e esp ont e an do as u r zes e o s


,

fetos n ovos o c av al o en c ami n h ou se p ara c asa


,
-

e n essa n oit e dor mi u b em a so mno solt o , .

P el a m an h ã 0 Cl eto entrou n a l o j a e p eg and o


n o a p arelh o e n os otes do l eit e foi p ó los —
p
9 08 J A R D IM DAS TORMENT AS

n a ru a . De c av al o segu i a a man o
l i
sos a o O

b ra á esp er a dos p on t apé s q u e er am or di n a


,

ri amen t e o seu l ev a-arri b a Mas dest a fei t a .

o amo en tr ou e sai u sem seq u e r olh ar

p ara el e .

H abit u ado á v ol u bili dade dos h omens e n ã o ,

t en do du vi das q u an t o ao re gresso das c oi sas


desagr adav ei s n ã o l h e c au sou aq u il o estr a
,

n h esa S abi a.
q u e seu fadari o er a march ar e
0 i nsti nt o desac on selh av a-l h e t odas as v el ei

dades de r esi st en ci a e de i l u sã o Vol u pt u osa .

men t e foi -se deix an do gosar a c am a q u e ,

n u n c a el a era t am doc e e morn a c omo de

m an h ã si n h a en t re o soc e go da n oit e a ext i n


,

gu ir-se e u m c ami n h o d h or as asp eras a per '

c orrer .

E st av a assi m sci sman do q u an do lá fó ra


ou vi u z u rrar C omo o assalt asse a c u n osr
.

dade e a p o rt a estiv esse en tr eab ert a l ev an


, ,

t ou se à espr eit a O Cl et o ap are lh av a o aze


-
.

mel q u e n o di a de tr az o su b stit u ír a n a
j orn ada p ar a a vil a J o an a dav a lh e molh a
.

di n h as de trev o q u e g u l ot on amen t e i a de
v o r an do d olh os semi c err ados
,
'
-
.

S en ti u i n vej a ; c omo u m velh o m on ge de


den t es p ô dres e l e r eg al av a se c om as g u l o -

sei m as dadas n a p al m a du m a mã o femi n i n a .

Fô ra sem pre g al an t e c om as dam as e sobre


'

º
J A RD I M DAS TO RMEN TAS

esc ar v ar c am i n h o ; pri meir o u m n i tri do


no
esp aç ado de adv ert en ci a de p oi s c omo ni n , ,

guem ac u di sse el evou n a noit e u m cl amor


,

pr ol on g ado e afl it o q u e fez c hor ar na l oj a


vi si n h a a e g ua v elh a do sr re i t o r . .

Reli n ch ou r eli n ch ou e desesp e r adamen te


,

c ome ç ou a b ater n a p ort a c om a p at a D ep oi s .

de muit o esp er ar u ns v u lt os acorrer am ;


rec onhec en do 0 fi lh o do C l eto e nri stou as
m
,

o r elh as fi t ou-o
, e e m voz b ai x a e c o ovi da
,

orn eou ag radec i damente .

E l es p oré m en x ot aram n o á p aul ada p ar a —


.

fó ra da p ov oaçã o e foi d or mi r ao rel ento ,

ch ei o de t emor desgost oso dos h omen s


, .

A o o u tr o di a ao sol pôr avi sto u o C l eto


, ,

q u e vo l t av a da vil a tr az endo a r edea ,

b u rri n h a C or reu l h e ao enc on tro ch ei o de


.
-
,

q u eix as e de saudades dev oran do o c om os ,


-

o lh os p ar ados e ro ç an do lhe mei g amente a —

c ab eç a p el a v esti a O Cl eto co ç ou lh e a estr el a


.

da frent e e ami mou o c om p al avr as q ue n ã o -

c om p r eh en di a m as q u e e r am mai s mel an c o
,

l i c os q u e os p oen t es n as estr adas d esertas p or


l on ges t err as .

N essa n oit e en c on tr ou a p ort a ab ert a e ,

c om mai s san g u e sen ti n do a p el agem a


,

r e b en tar dormi u c on t en t e
,
.

P assar am-se assi m u n s di as e o c av al o


A P ELE DO B OM B O 2 II

c ome çav a a rej u v en esc er na vi da de v ag a


b u n do .

C om b est a de mp resti m o o Cl et o ch egava


e .

a fa bri c a u mas vez es com o l eit e azedado ,

o u tr as v e z es a h or as mo rt as .

U m di a n ã o h ou ve viv al m a q u e l h e c edesse
,

u m j u men t o e o l eit e f alh ou n a vi l a Na .

man hã se gu i n t e ai n da h avi a estre l as u m


, ,

h omem c om best a p ossan t e pel a redea b a


t eu lh e á

p ort a a pe dir o rol .

Da so l eir a
, estremu n h ado , o Cl et o gr i to u
lh e

7 Q ue es at v ocê p ar a ahi a al an zo ar ,

h omem ?
J á l h e dis se está desp edi do da fabric a .

P asse p ar a cá o rol .

O Cl eto pr ot estou ; i a c omprar o macho


do def u n t o I si dro e o se rvi ço seri a feit o a
,

temp o e h o ras .

O ou tro n ã o lh e deu ou vi d os e p arti u sem .

o b u l et i m dos fre g u ez es a b u sc ar o l eite .

Ch egado ao l argo da f on t e p u x ou du ma b u s,

zi n a de chi fre e tres v ez es soou As mu lh eres .

ac u dir am co m as p an e l as de l ei t e à c ab e ç a
;
15
21 2 J A R D I I SI DA S TOR ME
N T AS

e c om o o Cl et o lh es fi z er a p er der u m di a ,

ti n h a f ama de tr ap ac ei r o e er a u m farrou ,

pilh a os c an t ar os p artir am p ar a a vi l a ates


,

t ados .

E
O Cl et o en tret an t o deit ou -se a f al ar c om
, ,

o vi s c on de o don o da f abri c a
,
l e m an dou .

l h e diz er q u e a su a r eso l u çã o era i n ab al av el e


deu l h e u m as c alç as velh as e u ma esp ort u l a

em di n h e ir o .

Q u an do Cl et o c on t ou o s m alemp reg ados


p assos J oan a di sse
,

A man hã v ou l á eu .

A rr ei ou se m u it o sai a de b aet a j u sta n a



,

an c a c hi n e lhi n h a n o p é e li m p a e esc arol ada foi


,
.

O sr vi sc on de n ã o está
. resp on de
ra m-l h e .

E sbr av ej an do f orç o u as p ort as at é ch eg ar


,

E
ao v i sc on de

n t am a q u e v en s J oan a? ,

A i n da m o p e rg u n t a ? ! Q u e ro m e u
'

mari do n os l eit es ou vi u ?
'

Mas c omo r ap ari g a se ele n ã o t em , ,

b est a tr az t u do ao deu sdará ? Os fre gu ez es


,

E
deb an dam o l eit e ch eg a t ar de
, ,

Já q u er o servi ç o b em
l h e di sse . Se
feit o , em pr est e lh e di n h eir o p ar a c om pr ar
-

u ma b est a N ã o faz f av or n en h u m
. .
2 1 4 J A R D IM DAS TORM E
NT AS

desci a c P assan do l h e O br aço em


o vi s on de .
-
.

t o rn o do p esc o ç o mu rm u rou -l h e
O u v e J oan a eu cá se rei sem pre o
, ,

mesm o p ar a ti Mas é preci so q u e t u me .

Tu será s sem pre a mesma


p ar a O t eu h omem q u e vá
dar o di a ; t em b om c o rp o q u e tr ab alh e
E
.
,

m v oz en c at arroada el a di sse ,

V amos m orrer de fo me .

t u sab es o b e m q u e
te q u e ro .

E en c ost an do lh e c ab eç a a del a b eij o


,

,

c o u a l amb u sou -a de b ab a

,

E
J oan i n h a t u agor a v ai s a c asa do B or
,

r alh a u j á l a v o u t er
. .

N ã o h oj e n ã o ,
.

Vai .

E ad mit e
meu h omem ? o

Vai lá f al ar emos
,

J o an a n ã o esp ero u ci n co mi n u t os em c asa da


B o rr alh a O vi sc on de ch eg ou a sop rar ; ol b i n
.

h os a ar de r c om o sem pr e q u e el a desci a da
,

S err a fresc a a cheir ar a h erv a c om as c arn es


, , ,

en x u t as e ap etit osa do seu v en t re de v ac a

l asciv a .

J á t ar de o vi sc on de l i mp an do o su or
, , ,

desdo br av a u ma n ot a de c i n co mi l r ei s E .

a pressa e j adn o o
,
desp e i a se
d -
,
A PELE DO B OM B O 2 15

Aq ui t e ns ; v ai m D eu s D i z ao An a
co .

cl et o q u e o n ã o esq u eç o mas q u e q u an to a
,

v oltar ao l eit e es c usa de i n si sti r Ade u si n h o .

D eci ma do c atr e J oan a emp u rr av a par a


,

den tr o do c o l et e de c or dõ es os ô dres v ast os


,

das mamas L og o q u e o vi sc on de sai u preci


.
,

pi t ou -Se sobre a n ot a e esc on deu a n o sei o —


,

c on ten te de p oder c om pr ar u ma forn ada de


p ã o e ta lv e z u ma s ai a n ov a de chi t a .

Q u an do ch eg ou a S err a os gados em ,

proci ssã o en trav am n o p ov o D al m a si mpl es .


'

e b on ach ei ron a o Cl et o n ã o se admi r ou


q u an do el a l h e deu c on t a do re c ado N em .

mesmo t omou O p eso da l ib er ali dade do


fi dalgo h abit u ado a el as e de moral amo
, ,

l s oi da Q u an t o a desp edi da i rr ev og av el da
.

f abri c a cru z ou os h om b re s
,

P oi s q u e dizi a eu ?

N aq u el a m an hã n ã o lh e abri r am a p or ta ;
p o r i sso re li n ch ou re li
,
n ch ou at é l h e doer a
g ó e l,
a e c om o tiv esse f o m e p ôs se a m o n d-
a r
o est ru me e os arg u ei ros p el os c an to s S en .

ti n d o l á fó ra o Cl et o est av a i n di gn ado e c h ei o
de fe r oci dade .
9 10 JARDI M DA S TOR MEN TAS

Mas à t ar di nh a q u an do ,
o a mo ent ran do n a
l oj a l h e m et e u c ab eç ada
a ,
mu it o su b mi s
sa mente se tr az d el e N a
deix ou c on du zir a .

r u a J oan a deu -lh e u ma c o dea de ã o a p as so


p e

v agar oso t omar am o c ami nh o do oite iro on de ,

h avi a arv ores solit ari as e as p eg as p el as


t ar des salt ari c av am Ci stern as de mi n as e
.

b arró c as est av am semeadas p or e n tr e as


or u ei r as e
g t en d o m,
e d o de l as p e rgu n t av a ,

su a est r an h esa

Q ue q u ererã o p ar a aq u i ?
di ab o
J oan a march av a ao l ado do Cl et o ap an ,

E
h an do c om a mã o a sai a p ar a n ã o r o çar a
l ama . l e l amb eu l h a p orq u e era i sso seu
-
,

c ost u me e p orq u e sabi a di sti n gu ir da man o


p ol a r u de dos h omen s a br an da e doce
c ari ci a das mu lher es .

J oan a e rg u eu a mã o e d olh os r asos de '

l ag ri mas c oç ou l h e a estrel a br an c a q u e ele


-

mu it o admir av a em si q u an do b ebi a n os ,

ri b eir os Mas os a f ag os de J oan a eram


.

mo r osos e tri st es e i sso mai s o fez des


c on fi ar .

A ch u v a ti n h a l av ado o c eo e os pe rf u m es
das gi est as e da vel a l u z b oi av am n el e
E
-

cl aramen te l e g ost av a de sen ti r a vo l ati


.

l i saç ã o acid a das c ar u mas arf an d o de v ol u p


'

t u osi dade q u an do o i n c e n so das m ai as lh e


218 J A R D IM DAS TORMENT AS

lh e t i nh a rreg an h ou -lh e os dentes


od o , i a

n u ma ameaç a O r ap az sorri u . .

O Cl et o p ren deu -o a u m pi nh eir o dos nov os


e ta p ou -l h e os olh os c om u m l en ç o v ermelh o
'

de assoar E ou tr a v ez el e p erg u n t ou :
.

P ar a q u e di ab o será i st o ?
De re p en t e sen ti u u m b eli sc ã o fri o n o
pes c oço e u ma l u fada d ar estreit a c omo u ma '
,

c hi cotada q u e l h e s ai a da g ar u p a p or b aix o
, ,

d a p e l e E p
. o u c o a p o u c o c ome ç ou a s e n tir -s
,e

l eve l ev e c omo se o esp a ço en tr an d o lh e


, ,

den tr o da samarr a o arre b at asse n u m g alã o


v erti gi n oso A o mesm
,

o t emp o or tr az do
.
p ,

l en ç o vermelh o os o lh os c ome ç ar am lh e a
,
-

v er cl ar o a p oldr a e o c av al o dean t e del e , ,

mor di am-se n u m abraç o creador T amb em .

fôr a gar b oso e ar di do segu r an do as egu as


c om u ma
'

den t ada n o c ach aç o den t ada ,

r aiv osa de q u e e l as tremi am at é as en tr an


h as C af a sob re e l as c om a r api de z du m p ensa
.

men t o e l embrou se u ma v ez reb ent ar a a re -


.

tr an c a p ara salt ar n a egu a ru ç adu m Vi aj ei ro


'

u e o pr ov o c av a c o m ge m i dos l an g or osos
q .

N a c ernel h a a c orren t e f ri a l eve p assea


'
º
va , ,

c omo a mã o tern a da p atrô a E achav a-se .

b em i nu n dado du m g oso nov o q u ando subi


, ,

t amen t e l h e f al e c er am as p ern as e c ai u
p or t e rr a
A PELE D O R OMEO 2 19

At rav ez da ven da c om e çou var mai s

v erm elh o e a adorm ece r U ma asa h u mi da


r oç av a -l h e a p el agem semel h ant e a u m
.

'

b an h o de au rora .

J oan a ergu eu l h e o l enç o dos olh os e p or



,

h abit o n ov ament e b eij ou aq uel a m ã o de q u e


sabi a apr eci ar as c ari ci as O ar est en di a-se
.

dean t e del e v azi o e delg ado c om o u m s ô p ro


n a m
'

q u e ã o b st asse p ar a r espir a r du h au st o .

Ao l on ge p ar a l a da mon t an h a vi u u m
, ,

c or po af ogueado q u e desci a E v ag amen te .

p ergu n t ou -se
Ser á o sol ?

D e p oi s l embr an do-se da p ol dr a e do c av al o
q ue g al o p av am p ar a a s n u p ci as f er o z es ,

E
ac u di u l h e—

o a mo r dos c av al os
ª
— .
.

N o h o ri z on t e a gr an de r osa c ai u arr ast an do ,

o a r t odo E fi c ou ! s esc u ras en ol fõ u se n o


g

.
,

esc u r o .

O Cl et o p u x ou u ma p ern a do c av al o e

de u -lh e u m p on t apé n a mo u ç ó a son dar a


morte .

A J oan a q u e ch or av a disse ,
9 20 J AR D I M DA S TOR MEN T A S

Ch or ar mas é p or u ma al ma ch ri st ã mu ,

l h er E st av a p odr e de t odo
.

C oit adi n h o ! M u it o man so era !


O J osé Cl et o meteu -lh e f ac a ao j arret e ,

a esf o l a-l o E el a foi p en san do n os b ons


.

t emp os q u e n ã o v olt am q u an do moç a e


, ,

b on it a re q u est ada dos fi d alg os en tr av a n a


, ,

vi l a sobre a g aru p a n edi a do g arran o .

O Cl et o emq u ant o seg u r av a i a f al an do


, ,

Se o dei x am os a margem p assav a o se u


m au b oc ado c om os l ob os T i ve dó ; de resto .

a p el e sempre da u ns p at aco s v en di da a

q u alq u er samarr eir o .

O fi lh o pr otest ou
J á lh e di sse a p el e é p ar a u m b omb o ,

p ar a a ru sga De c abra reb ent am c om du as


.

maçanet adas e est e an o n a L ap a nó s q u ere , ,

mos lh e z u rr ar .

A n oj ada p or ve r o v en t re i m mu n do e esi a
,

q u e ad o d o c a v al o J o a n a foi
,
—se d ali .
TU N Ã O FU RTA R Á S

Os Glet os c ome ç aram a rom arj a dos l avr a


dores ab ast ados dol og ar n a vi da de j orn al ei
,

ros a me rcê do t em p o e das est ações J oan a


,
.

i a t am b e m dar o di a el a q u e est av a h abi


,

t u ada a en treter as h or as n a est eir a de j u n ç a ,

c osen do ou fi an do e a só c ev ar o b ac or o p ar a
,

a m at an ça do N at al T r aj av a ag or a mu it o
.

despre z ív el sai a de b u r el e l en ç o de c i t a
,
h ,

sem u m a mi g alh a daq u el a garri di c e q u e n os

des c ant es l evava os r ap azes a ofere c er lh e -

pri mei r o a c an eca p ersu asiv a e r en di da


,

men te E n c ab ec e lá ti a J oan a A I sab e l


,
.

C ar am e l a,q u e d es m o ç av a t o do s os p i m p õ es

da al dei a di zi a b at en do as p al mas
, q u e o ,

var rã o da vi l a n ã o q u i zé ra ma i s cónl ral o co m


aq u el a p or ca
O r di n ari amen t e desp eg avam t odos tres
ao sai r dos g ados ,
m c asa a
de ix an do e L u i za
de 12 an u os c om os doi s p eq u en os u m de 6 e ,

o u tr o de 4 m u it o b on it os e l oir os du ma p el a
, ,

g em q u e n ã o tir av a n em ao Cl et o n em a J o an a .

Q u an do v olt av am á n oite , ap ó s as tri ndades ,


9 9 4 J A R D IM DAS TORM ENT AS

era p ar a se estir ar n a enx erg a i n sen sív ei s ,

e m oí dos c omo as p e dr as dos c ami nh os

N aq u el e i n vern o o p adre Cl ar o o c u p ou os —

seman as i n t eir as n as m on das a pri n ci pi o


, ,

dep oi s n o desm on t e du m m ôrro em q u e q u e


ri a e x e ri men t ar b ac el o P ar a i sso man dou
p .

r og ar n u m er osa m alt a p on do-lh e a t est a,

p ti c os expr essam en t e ch am ad os do v al e
r a .

E du r an t e u m mes a orq u estr a b arb ar a


,

dos op er ari os esp an t ou as p ê g as q u e f orr a


g eav am n as c arv alh eir as De g arn ac h a p el os .

h ombr os f u man do o ci garr o e p ei t orr ean do


, ,

o p adr e fi sc al i sav a A sombr a du m a arv or e


.

I saq u e li a r oman c es su sp en den do-se de t em


,

p os a t emp os a c on t em pl ar o tr ab alh o E n tre .

os h om en s c ob ert o de pó e de su ór N o rb e rt o
, ,

c on f u n di a-se se n ã o fôssem as ob j u rg at ori as e


,

o s re c ados r ep eti dos do p ai q u e e l e ab orr e ,

c i damen t e p arti a a ex e c u t ar p orq u e j á n ã o

e spe r av a g al ar dã o T res v ez es de sol a sol


.
, ,

vi n h a J oan a tr az er lh es de c omer E st en di a

.

a t oalh a sobr e a r elv a e p alpit an t e a malt a


, ,

deb ru av a a c om o u m f er oz alt o r el ev o an tig o



.

Ao l ado n u m gu ar dan ap o servi a os mesmos


, ,

pr at os ao p adre e ao fi lh o ap en as o p ã o era ,

do al v ei ro e o vi n h o est av a n u ma p i c h ô rr a
de f ai an ç a de M ol el os .

A c oc or ada sobre as p ern as J oan a rep arti a-se ,


9 96 J A R D IM DAS TORMENT AS

S u sp en di a —
se , a pr oxi mav a -
se a p ar l amen

Em
t ar

E
nt a q ue

l b c v e us a a— lh e a b ôca co m a b ôcz
a e

a pert av a-a c ontr a o p eit o Ab an don an do—se .


,

pr on u n ci av a
O lhe q u e p odem v er ! Di an h os uma
, ,

mu lh er da m i nh a edade
Mas só tr o c av am b eij os n ã o h avi a t em p o
.

, .

E pr oseg u í a l é p í da e mai s rij a p ar a c asa do ,

sr . p adre on de a esp er av a a gr al h ada dos


,

fi lh os c om mir a n os so be j os da re fei çã o A .

D D or oth ea ai n da q u e v elh a e g ast a era


ª ª
sr . .
, ,

mu lh er p ar a p ôr t u do a direi to n u ma v olt a de
mã o N u m mom en t o v asc u lh av a as c aç oi l as
.
,

arr an c an do u m a al mo fi a de c omi da em q u e .

E
os p eq u en os se at u fav am at é as o r elh as .

amb as , emq u an to l av av am a l oi ç a se ,

q
en tr eti n h am de I sa u e u m h om em p e r di do , ,

doi do p el o m u lh eri o e q u e m ai s t ar de t eri a ,

de an dar c om u n s alfo rges p edir esmol a .

Vej a p ar a q u e v al em os fi lh os sen h or a ,

Joan a !

E
E arr ast ada n a adu l açã o Joan a dizi a
,
.
,

M a u e i sso sr D D or oth ea l.e ha la


ª
.
ª
.

g ado mai s r u i m q u e as mu l heres


T U N Ã O FU RTA RÁ S 99
7

Ao c ab o du m mes it eiro foi demoli do e


0 o

pl ant ada a vi n h a Os C l et os p assar am ent am


.

p ara c asa do A n dr ade on de h avi a l en h as a


,

c ort ar e c ep os a f az er e m c av ac os P orem se o .

Cl et o v elh o era b om tr ab alh ador amarg an do ,

o u c st a v a o fi lh o desp edi a du as mach a


q e u ,

dadas e p u n h a se b oq u i ab ert o a v er p ar a

o n de as n u v en s c orri am .

A lé m di sso era fi dalg o n os c omer es de p oi s


,

u e v o lt a r a d o r e gi m en t o Vi n h a p oré m a
q .

sombr a do p ai p orq u e p ar eci a m al r og ar u m


,

sem r og ar o u tr o e p orq u e o p ai só se n e g av a
, , ,
.

Sem est a circ u n st an ci a era u m a bi sc a q u e —

os p atr õ es desej ari am v er p el as c ost as N ã o .

o esti m av am p o rq u e e ra c al ac ei ro nã o i a ,

z en do p ar a q u e erg u e r olh os se tiv esse mo ç a


'

ao l ado e p orq u e e ra r eb e l de n ã o deix an do


, ,

p assar sem rem oq u e a m ai s p eq u en a o b se r


v aç ã o.

O lh a meu ric o
,
dizi a-lh e sr Do .
a

ro th ea r a fr an c a e b oa m u lh er q u em
q u e e —

é p ob re h u milh a se —
.

Mas eu n ã o h ei de deix ar q u e me c omam


o c al do n a c ab e ç a ret orq u i a el e t orc e n do ,

as m ã os .
99 8 J AR D I M DAS T OR MENT AS

Mas c u rv a te,
- h omem c u rv a t e
,

a q u em
é mai s q u e t u .

U m a v ez q u e h or a A n drade n ã o se rvi u
a sen

vi nh o a c ei a fe z gr an de esc an dal o
,

T rat am n os aq u i c omo n egr os ! Ju lgam


q u e os p obres sam de f er ro
E d eant e de q u em o q u iz ou vi r acresc en t ou ,

esc arni n ho

T en h o de i r ch amar o v en d eir o p ara me


dar mei o q u artilh o .

I st o foi u ma ofen sa p ar a a sr Andr ade em .


a

c asa de q u em os t rab alh adores er am t rat ados


c omo b i sp os .

U ma desfeit a dest as exel am av a el a

em v oz p at eti c a só p orq u e u m a v ez nã o

ap ar ec eu vi nho n a mesa ?

Os C l et os t odavi a c on ti n u ar am ao serv
, ,
i ço
do A ndr ad e p orq u e nã o h avi a c omo o v e lh ot e
,

p ar a arr an c ar r aiz es de c arv al ho e os rap az es


sã os e d alma desert av am p ara os Br az i s
'
.

Mas a senh or a A n dr ad e ti nh a decl ara do

E
E st a esca n dal o cá me fi c a !
ch ei a de _ odi o i a a b ôc a peq u en a den e
,

gri nd o os Glet os sobret u do o ! é vi ci oso e


, ,

ex e cr ado

A q u el e l asc ari n h o em n ã o t en do v i n
,

t em p ar a ci g arr os r ou b a ,
.

U ma n oit e dep oi s de c ei ar q u ando as


, ,
JA R D IM DAS TOR MEN T AS

H omem eu an es t q u eri a morr er a


f om
,

e !

E
Ham de i r morr er n as P edr as N egr as .

le é u m gran dec i ssí mo c orn u do e o fi lh o


u m v al dev i n os q u e só está b em ao p é das

f emeas .

Foi u m b orb ori nh o n o p ov o O Zé Cl et o .

an dou a r on dar-lhes a c asa de f oci n h o t ôrv o


, .

Joan a vei o-lh es á p ort a p ergu n t ar q u an do


devi a p el as c odeas q u e seu h omem e seu
,

fi lh o l ev ar am p ar a os men i n os .

A sr A n dr ade t ev e medo da l i n gu a del a


.
ª

a fi ada c omo u ma esp ada e desdi sse-se , g a ,

g j
u e o u u m a d e s c u lp a Ma
. s e m v o z alt a n a ,

pr aç a p u bli c a foi testemu nh an dos os presen t es


,

q u e se a p a r e c e sse m o rt a o u fe ri da do fi lh o do

Cl et o se q u eix assem .

As m alh adas er am p ar a os C let os o p eri odo .

das v ac as g or das Q u an do sobr e as medas gri


.

t av am p el a p ri meri a v ez : '
A eir a ! já
ti n h am os di as en c arrei rados emq u an t o z u r ,

r assem o s m an g o aes N o l og ar h avi a p ou c os


.

u e desse m a p alh a c o m o o Cl et o n e m se
q ,
ru N AO ER
v r A RAs 9 31

man g oeí ras direit as q u e h ombr e


to p av am
C omo ni st o i a al arde e
E
assem c om o ! é .

v al ent i a, o farç ola r evel av a-se d esp edi r


. le a

o m an goal e a l ag e r eb oav a c omo o d err u ir

du m c on v en t o E era p or al i ab aix o u m a
.

trov oad a de esc an tilhã o p i rti g o e m t erra


, ,

p i rt i g o em ci ma i m p eli dos p el o Zé q u e
,

fen di a t odo o c arv alh o c erq u i n h o ao c ab o


de du as eir adas ! Os p i mp õ es das al dei as
li mí tro fes ap on t av am n o dedo -

A q u il o é a al m a du m m alh ador .

N os ei rados era 0 pri mei r o A su a má .

f ama era atir ad a p ar a tr az das c ost a s e re


g ateav a m-n o
P ar a an i mar o malh i o nã o ha c omo o

Zé Cl et o .

Ao fi m da b ei r ada era p ara ele q u e se


,

es e n d a a
t i b ot elh a e m ri ste n u m ac ent o fã
,

mili ar
P ega lá Zé ,
.

Os C let os tr azi am atr az del es p el as malh as , ,

t oda fami l agem a J oan a fr ac a c u anh ei ra , ,

e os p eq u en os q u e a som br a q u ent e das


,

medas j og av am com b og alh os e maçã s c u c as


, .

E ste seq u it o f azi a diz er aos sen h ores da


malh ad a
C om u ma n oven a dest as os p i mp õ es
n ã o sai em b ar a tos .
J A RD I M DAS TO R ME
N T AS

O ! é g anh av a n eSta é p õca c omq ue pagar


'

na t av e rn a e c ompr ar u mc ol et e de S ar ag oça

o Cl et o c omqu e h av er u mas f o rn ad as de eae


rj a p ar a as cr ean ç aéz O ! é
'

e v esti di n h os de sa

al é mdi sso
,

po d eri
,
a fl o r e a r na f es t a d a L a p a

q u e q u as i sem pr e c a i a a o fi m d a s i n á l li
.
âê :

A hi ent am p agava vi nho cóm o u m b r azi


, ,

l ei r o e emb eb ed an d o env el vi al Se em ri x
'

,
as

de q ue sem pr e sai a c om a cab eça p artid a


E
.

ra
p or est e est en dal de Da SO fi as q u e os
m oç os n a t erra l h e ti n h am r esp eit o e as rã
'

p ri g as o vi am C omo lh os de t e rnu r a
a .

N o v erã o l eVavain est a vi dai rada de ci -í


g arr a Mas ch egav a o i nvern o e sent i amse
.

fôra de si fôra do m ei o ; c omo b élds ani


E
'

m aes só tr ab alh an do c om o sol m Vez de


'

p u l sos esf orç ados t orn av am se p reci sas mã os —

p aci en t es e man ei ri n h as Q uan do n o c ab ari al .

do p adre Cl ar o se ac ab av am os tr on c os d ar
'

v ore o p ai p u n h a se t ec er p alh oç as mal


'


, ,

b u sc adas e mal v en di das .

A n oi ti n h a i a ar m ar os g al ri t os e os p ar
'

del h os n a ri b ei ra e os fi os as l e bres na li nh a
'

das dem arc açõ es Q u asi sempre er am fru s


.

t rade s su as can cei ras e l á c on ti n u ava a t ec er


,

as p o l ai n as de j u n c o i n dol en t emen t e , aô
,

l ad o do fi lh o q u e t o c av a h arri i b ni ó ou der ,

mi a de p ap o p ar a o ar t en do p assad o a n ôi té
'

,
9 34 J A R D IM DAS TOR MEN TAS

15 lq u eir es ao p adre Cl aro e


a ao filh o ,

a f or a os p eq u en os em p rest i m os de t u ti li

mu n de E st av a u m i n v ern o ri g or oso e os
.

reb an h os n ã o sai am aos p ast os fi c an do a ,

r oe r n os est ab u l os o fet o pri maveril sec o de , ,

mi st u r a c om c u anh os de c en t ei o C ai a nev e e
.
.

p el os c om oros m al se avi st av am u n s arri pi os


de h erv a q u e as ov elh as p ari das molh adas ,

pi n g an do e b ali n do i am esp on tear a pressa


,
.

Vez es a fi o apresen t ou J oan a a su a gen t e c al do


de h ort elã pi men t a c om du as ar ei as de sal O .

Cl et o ac ab ou p or pr agu ej ar e o Zé c om a i r a , ,

p or p artir a m alg a n o chã o A m ã e v olt ou se


-
.

p ar a ele em v oz de sarc asmo e ao m esm o


,

t em p o de dôr
O lh a se q u eres ser regalã o v ai g an h a l o
,

.

O n de n ã o h a el-rei o p er de .

A m are l os c omo a c er a mel ada os m en i n os


, ,

b err av am p or t odos os f ol es q u e ti nh am
f ome .

E ste v ai se p ar a as m alv as

di zi a J osé
p el o i rmã osi t o l oir o mai s n ov o ,
.

A s m alv as e r am o c emi t e ri o agrest e en tre ,

o s pi n h aes on de p u j av am as mi l pl an t as m es
,

q u i n h as , se m no me .

J oan a p eran t e t an t a mi seri a v esti u se


, ,
-

dos me lh ores f arr ap os e deit ou -se a vi l a


deb aix o de n ev e H avi a mu it o t e mp o q u e
.
T U N Ã O FU RTA RÁ S 9 35

lá nã o p u nh a p és desil u di da da vi l a c omo a
,

vil a est av a esq u eci da del a tri st e e p obr e .

Ao an oit ec e r os p e q u en os sair am-l h e ao


,

en c o n tr o c om o f a
,
r o n as b ol as milh as q u e
semp re tr azi a p ar a re g al o ; el a sac u di u o

av en ta l a ch or ar
,

N ã o v os tr ag o n ada me u s fi lhi n h os
, .

O Cl et o j u n gi u os h om br os
P oi s eu q u e t e di zi a
De p ort a em p ort a a p edi n ch ar b at er am a ,

do mestr e esc ol a u m di ab o d h omem q u e


'

,

n ã o i a a mi ssa n em se c on fessav a E c on tr a a .

ex p et ati v a e n c on tr ar am
,
ah i dez t ostõ es .

N esse di a c omeram b at at as c om az eit e e p ã o


de rá l a E mai s c omu n i c ativ o q u e de c os
.

t u me o Zé decl ar ou q u e a p orc a da vi da assi m


,

i a mal q u e p arti a a assen t ar praç a se n ã o


,

a rr an j asse p assage m p ar a 0 B r azil .

P ar a 0 Br azil ! e xcl amo u J oan a .

E q u e v ai s l á faz er ? Tu n ã o t e dó mas ao

E
trab alh o ?
le q u e est av a n u ma h or a de t e rn u r a
, ,

meli n dr ou se e r et orq u i u desab ri damente


-

Vá p ar a u m r ai o !
A m ã e r om p eu em gr an de b err eir o Mas .

c on cili ador e p atri arc al o Cl et o p u x ou do


,

aç afate on de
,
h av i am sob ej ado mig alh as ,

p ara o mei o da famíli a E sobre el e desc o


.
,
JA R D I M DA S TO RMENTA S

b erto a b en çã o da c asa t oda l ou v ou ao ,

S en h or
I n fi n it as g raç as e mu it os l ou vores deve
mb s dar a D eu s p or t am alt os b en efi ci os
p adrenosso
Has de i r p arar a u ma c adei a ,
cão

cl am av a J oan a Se alg u e m t em um
. a li n

g u ag em dest as p ara os S af ado


A o m arti r S S e b asti ã o q u e nos l i vre da

p e st e , d a f ome e da g u err a p adrenosso .

b em di z a mu lh er do A n dr ade I n da .

h as de sai r a u m cami n h o
Mas o Cl et o v Olt ou i se para el a n u m ac e n t o
'


,

rar o de C oman do E ven do-se ob edeci do


.
, ,

p oseg u i u n as devoç õ es
'

. S P edr o e S ; P aul o q ue n os abram as


p ort as do c eo q u an do morr ermos p 11
, . .

S em erg u e r as m ã os nem b oli r o Zé p re ,

g á r a os olh os i r ados n a f ogu eir a O g at o f ar e


'

j av a o aç afate mi an do , .

S an t o A v eli n o q u e n os livr e dos mau s


r epen tes p 11 .

. S M arti n h oq u e nos livre das mal eit as

E st e j u deu n ã o rez a Cl et o p r on un ,

c i ou J oan a i ndi can do o fi lh o .

O p ai fi t ou -os a amb os e c on ti n u ou na
'

v i a-sa cr a
ª
9 38 J A R D IM DAS TORMENTAS

S enh or est as or açõ es sam p ou c os dit as


,

n a T err a r ec eb ei as v ó s n o c eo p or mu it as !
,

Sen h or q u e estas or açõ es ch eg u em at é a


,

v ossa divi n a m ag est ade ! S en h or q u e aq ui ,

n os j u n t ast es j u nt ai -n os u m di a no v osso
,

s an t o r e i n o A men J esu s !
.

P ersi gn aram-s e r u i dosamen te ; J oan a esp al


m ou a m ã o sobre a fr on t e dos p eq u en it os a
tr aç ar l h e o sig n al da cr u z e b am b ol ean do a

c ab eç a di sse p ara J osé


N ã o rez ast e p al avri n h a m as os sant os ,

h am de t e aj u dar
E
.

l e r e plic ou n u m a g arg alh ada


E p or i sso q u e v oc ê n ad a n a f art u ra
'
.

Q u e lh e pr est e !
E traç an do a c ap u ch a foi -se a c aç a de
fav el c as p el os serõ es
, .

E
m c asa trou a f ome P ara
dos C let os en .

não f al ec er á mi n g oa salt av am as h ort as ,

ao ac aso dos don os c olh er ora u m ôlh o de


,

c ald o ora u mas n ab i ç as t emp orã s A b oc a .


'

p eq u en a c omeç ou a S opr ar-se q u e el es p er


c orri am os c amp os alt as h or as u m c om u m, ,

b ac amart e c arregado de c ab e ç as de prego ,


T U N Ã O FU RT A R AS 9 39

o ou tro c om u ma sac a on d e abi smav am


t u do c ou v es tron ch as gali nh as e c abrit os
, ,

tran svi ados .

T odo o su mi ç o de ani maes era agora


l an ç ado a c on t a dos C let os q u an do ant es
,

er a atri b u i do ao t e x u g o e aos esp an h oes da

r ai a q u e c ompr am ov os p el as p ort as e
p assam a v eni ag a A su a n omeada de r at o
.

n ei ros foi cresc en do at é ch egar a vil a e


t er mo .

E st es al mas do di ab o di sse u ma v ez
o J osé Cl et o ao fi lh o do p adr e S ó p orq u e
l á os v elh os ap an h am de q u an do em q u an do
u ma f olh a de c ou v e p el as h ort as f az em de ,

n ós u n s ! é s do T elh ado A h ! ai n da me
.

d esgraç o !
I saq u e b at eu -l h e n o h om br o c on fi den ci al
,

men te
T u do v ai em sab er rou b ar Zé E o sab er .

r ou b ar est á al gu ma c oi sa n o m odo mas


mu it o n a ci fr a S e p oderes p al mar u ma
.

her an ça de mu it os c on t os far-te-h am u m
di a c omen dador S erá s ri c o e r esp eit ado
. .

Se n ã o p odé res r ou b ar assi m a gr an de faz t e ,


sant an ari o e p ede p ar a as al mas Viv e-se . .

O di ab o é pilh ar u m p ã o ou c ou v es p el as
h ort as N i n gu em p erdô a e v ai -se mal h ar as
.

c adei as c el u l ares .
9 40 J A RD IM p AS T
Q RM NT AS E

Nun c a fart ei u ma agul ha,


mã e q u e t em f ome .
l á mi nh a E ! —

F ome n ã o t em l ei N esse c aso erou .

EE
b ar t u do o q u e c air deb ai x o dos man da
men t os dos ci n c o dedos
'
ti ra-lo a t od os a
.
,

mi m, ao b u rgu es ao c u r a u , t en d o f ome
, .
,

den tr o d u ma n au Gat h ari n et a er a c a az de


p

Ecc
r oer as entr an h as de mi n h a mã e .

d Afrí c a?
'
a t
os a

d Afri c a c ome-se
'
Na os t a .

Mas os Gl et os formados no r esp eit o da


,

aut ori dad e só c o m m u it a l az ei ra se atr evi m


, a
a ri p ar uns fol h arec os de h o rt ali ç a o u u ns ,

p órros n o c amp o alh ei o T ambem d i n v erne


'
.
,

nã o h avi a out ra c oi sa q u e
P assav am os di as a mi n g oa S empr e .

t ei moso o p ai c on t inu av a a l anç ar as r ed es


,

n as c orr en t es on de tru t a é v ez ei ra e os , ,

c ard u mes de b arb as moi n am E era t oda .

u ma t rab a lh ei ra a n oit e e ao amanh eçer


p ara c aç ar doi s b ordal os mi u dos c omo sar
di nh a
A m ã e por v ez es p assan do so b re a r eserv a
, ,

su r da das q u esi li as q ue tr av ava c e m


fi lh o p edi a lhe em v oz de p iedade
,
-

O h ! ! é se t u f osses pedir u ma malga


,

de fari nh a p ara as
C om mau s m l
odos e e rec u s v a se ; mas
a -
9 49 J A R D IM DAS TORMENT A S

t odas h ort as sam del es T eem b om c orp o


as ,

q u e v am s e rvi r u m amo .

D esc or oç oada de t an t o mu rmu ri o a n a ,

mor ada do Cl et o v olt ou -se p ara ou tr o .

D esesp er adamen t e el e en r osc ou se mai s ,


en tr e a f ome o h arm oni o e a f o gu eir a sem pre


,

a c esa p orq u e est av am b em so rti dos os t ap a

dos do mon t e O r est o do t emp o p assav a-0


.

c o m o fi lh o do p adr e q u e l h e n u tri a o víci o ,

do t ab ac o e en c ob ert ament e tr azi a t u do o


,

u e p odi a ap an h a r em c asa t o u ci n h o f eij õ es


q , ,

se c os mesm o r ou p a br an c a S ó di n h eir o n ã o
,
.

tr azi a p orq u e an dav a arredi o del e c om o da


,

gr aç a de D eu s ch al ac eav a I saq u e .

N u m a t ar de de l az ei ra em q u e n ã o h avi a ,

mi g alh a n o aç afate n em g ôt a n a al m ot oli a ,

o Zé c omu n i c ou ao p ai o pr oj ect o q u e r u m i

n av a h a m u it o t emp o olh os sobre o b raz ei ro ,

a esmoe se em o ir o O Cl et o v e lh o r esp on deu


r-
.

desab ri dam ente


H omen s q u e r ai o de i dei a ! Tu q u eres
,

a n ossa desgr aç a .

A n oit e v olt o u ac arg a pr o c u r an do desl u m


'
,

b ra l o O p ai m an ifest ou a m esma rel u c t an


-
.

c i a em v oz alt a m ai s mol e ap en as
, ,

É s t ol o r ap az ; és t ol o
'
.

O fi lh o ex asp erou se em su a b oa fé —

J á l h e di sse é u m i n st an t e e den tr o h a
,
T U N Ã O FU RT A RÁ S 9 43

u ns b o ns p ar es de mi l-rei s E de n oite v am .
'
,

l á sab er q u em foi !
O velh o fi c ou c al ado e ele a fi rmou q u e
c erc a de doi s an nos an t es p el os seu s pr opri os
,

olh os vir a c on t ar u ns dôz e mi l re i s S ó apó s


,
.

u m l on g o sil en ci o o p ai r esp on de u

N ã o ; é u m p ec ado m u it o gran de .

Voc emec ê é mal u c o ; o p adre é q u em


a esv asi a ; n ã o é p ec ado p ar a el e e era p e c ado

p ar a n ó s ?
A m ã e desc on fi ad a v ei o espr eit ar á p ort a
, ,

e el es c al ar am se —
.

A
!
ite os C let os deix ar am J oan a ac oc or ada
no

ao b orr alh o c om os fi lh os em rôd a i n t an


, ,

gu i dos e fri oren t os c omo u ma g ali n h a c om os


,

pi nt os E nverg ar am as v esti as e o Zé p egou


.

n a m ach adi n h a de m at o A m ã e v en do i st o
.
, ,

cl amou
Vej am l á o q u e v am f az er ! Ham de me
di z er on d e v am .

A on de v am os? re p on t ou o fi lh o
J á v oc ê ah i v em V amos b u sc ar u m molh o
.

de est ac as aos pi n h aes Q u e mai s q u er sab er ?


.

J oan a ti n h a medo do fi lh o q u e u m di a l h e
,

17
JAR D I M DAS TO RMEN T AS

der a u m soc o dep oi s q u e el a l h e b at era co m


as t en az es Foi p ar a
. o v elh o q ue el a se

v olt ou
An dem l a an dem ; i g u em
n n as faz q u e
as n ã o p ag u e .

Saír am su rr at ei ra men t e , de c ap u ch a tr aç ada


so br e q u eix o
o . E st ava u m a n oit e esc u r a ,

c om nev oeir o su sp en so n o c é o e as r u as

em p ap aç adas de b orrõ es de l am a .

M et er am af oit os c on tr a a c aci m b a sem se ,

desem b u ç arem as p esso as q u e v olt av am do


fôrn o c om t ab ol ei ros de p ã o a c ab eç a D ep oi s .

c ort ar am a di reit a do c emi teri o p or en tre ,

as desgr en h adas b ren h as dos c ast an h eir os


esc or ren do ag u a .

O v en t o br ami a n os pi n h aes e mu it o r ar o , ,

u m ou ou tr o b ali do de ch oc alh o ch eg av a

esv ah í do no ar .

A n dar am , an dar am vi st ar em e rmi da


at é a

de S J osé q u e a pi edade dos h omen s ti n h a


.
,

erg u i do a mem o ri a daq u e l es q u e m ã o v í n

g at i v a al i fi z é ra m o r de r o pó d a t e rr a Fi c av a .

assol ap ad a n u ma b aix a de sen ti n el a a q u atr o


,

c ami n h os asperos e t u rtu osos .

S u j a do t empo e c om o t elh ado a esb oroar ,

alç av a n aq u e l e e r m o a i m agem p av or osa do s

assassi n ados re b ol an do-se n a ar ei a b eb eda


,

do pr opri o san gu e .
JAR DIM DAS TOR MEN T AS

E u ma c asc alh ada soou den tr o as moed as ,

c u spi das c on tra a t am p a f al ar am .

N ã o est a t am c h ô ch a c omo i sso .

E
O lh a eu cá dig o te q u e v amos emb or a
,
-
.

u m p ec ado j á mu it a gen t e t em fi c ado t o


,

l h i da A lé m q u e el a n ã o t em c ar a de t er
.

gr an de c oi sa den tr o .

S e q u é r v á se eu n ã o pr eci so de v oc e
-
,

m ec ê .

O Zé i nsi n u ou o g u me da mach ada en tre o


f erro e a grossa t ab u a de c arv alh o Mas os .

g at os seg u r av am n a c omo g arr as de fi n ado



.

I n u til men t e a l ami n a t act eou t odas as j u n


t as sorr at ei r a c ap ci osa f er oz
, ,
O v elh o a
, .
,

tremer c omo u m vi me ag arr ou a mach ada ; ,

m as em seu s p u l sos v acil an t es el a f u gi a ,

esc orreg av a ac en di a m il c en t e lh as n as c ab e
,

ç as gr oss as dos cr av o s .

O fi lh o arr an c ou l h a n u m rep el ã o
-

L argu e l arg u e
E n u m r el am p ag o alç ou a mach ad a e des
c arr eg ou a an i m ada de t odo o al en t o m doi s

. E
g olp es a c aix a est av a arr omb ada estrip ada , ,

as gu ar n içõ es de f err o e a m adei r a f en di das

c omo p or u ma c u nh a tremen da envi ada do c é o ,


.

T ransid o e com a pr essa do medo o Cl et o ,

met eu a mã o ; o fi lh o em p u rrou o com o -

c ot ov el o
ru NÃ O ER
U T A RAS 9 47

T i re l á a p at a .

O lh a q u e p ô d e vi r
O ! é esb an du lh ou b em o c ofre d epoi s ,

di z en do ao p ai q u e ap ar asse n o c h ap é o ,

v arreu c om a m ã o l arg a .

U m p u nh ad o de modedas tili n t ou mas ,

n u m a se c u r a q u e os fez pr agu ej ar

E st amos q u ilh ad os ; n ã o t em p ar a man


dar c an t ar u m c eg o .

O Zé Cl et o embr u lh ou o di n h eir o e ap on ,

t an do a c aix a das al mas c om o v entr e a


mostr a excl amou
,

A q u i l o o p adre esv asi ou -a h a p ou c o


t em p o L adr ã o !
.

O v elh o t ev e t am b em u m sol u ç o de c ol era ,

exp oli ado de fr au dado e m su as esp er an ç as


,

L adrã o

A mu lh e r do sr . A n dr ade arre i ou -se c om o

f at o de domi n g o p ara i r a au di en ci a a vil a


, .

E mu it o c on ten t e c om a j u stiç a da t err a a ,

c av al o n a p ôt ra p assou p or entr e as h ort as


, .

N as ri c as o c al do a p odreci a e era sagr ado


n as p obr es A p en as as g ali nh as c on ti n u av am
.

a su mir -se e os c abrit os e n o v erã o as mel an


,

ci as q u e e r am t al u das c omo c ab eç as de dou


9 48 J A R D IM DAS TOR MEN TAS

t ores E n ã o di sti n gu i n do a m ã o mi steri osa


.

dest es f u rt os el a o pi n av a q u e er a algu em da
,

malt a dos C l etos q u e sob rev i v i a p ar a tr az er


o p ov o e m sobres alt o .

Os C l et os esses est av am h a mu it os meses


, ,

a sombr a c om bilh et e p ag o p ar a a co st a d A
*

fri c a I a v er a c ar a desses exc omu n g ados q u e


.
,

lh e b i fav am t o das as n oit es u m p aõ de qu art a ,

e o f o ci n h o daq u e l a v ac a q u e ti nh a lí n gu a

m ai s c om pri da q u e as b an deir as de S J oã o . .

E
L á p ô de arr an j ar u m l og ar n a au di en ci a ,

p ou c o freq u en t ada de rest o re g al ada de.


,
'

lh es v er as c ar as magr as e tri st es de f ome e


de v ergon h a a su a al m a p al pit ou ag redec i da
,

q u an do n u ma b el a v oz de c el e
'

ao S e n h or ,

br an te o j u i z l e u a sen ten ç a
P or gr aç a de D eu s e em n ome da l ei em ,

vi rt u de da resp ost a dos srs j u r ados aos q u e .

sit os c om p r eh en di dos n os artig os 4 21 44 2 ,

E
e seu s p ar agr afos do c o di g o p en al ( cri me s

d ofen sas a re li gi ã o d st ado arr om b amen t o


' '
,

c o m damn o e es c an dal o p u blic o ) e m q u e se

ach a pr on u n ci ado o r eo A n t on i o Cl et o ca ,

sado p ai de filh os
,
63 ann os de edade h ei
, ,

p or b e m c on de m n s l o n o p en —
a de 4 an os de

pri sã o mai or c el u l ar seg u i da de doz e de de


gredo em p ossessã o de cl asse .

A sen h o r a A n dr ade n ã o c on segu i u ou vi r o


O R E
M
OR S O
9 54 J A R D IM DAS TOR MEN TAS

tr at a . Vá p ara as P edr as N egras p eg u e


A rre ,

n u m b ac amart e e sai a a est rada !

L adra p ar a ah i l adr a f art a te de , ,


l adrar v elh o c ã o
, r ep on t ou I saq u e da
man g a de b ac e l o .

V adi o ; g ast ei com el e q u atro c on t os ,

melh or fôr a deit a-l os a u m p oç o D oi lh e .


t odo o su ór de meu r ost o ei s o r esu lt ado Meu , .

D eu s meu D eu s gr an de c asti go me dést es


,

N ã o se c on su m a sen h or i n t erv ei o
,

D D or oth ea el e l á t erá o p ag o U ma

. .

al ma p er di da só an da p ar a p erd er as mai s ,

é deix a-l o S e al demen os c omesse b eb esse


.
, ,

c al aceasse e não an dasse li g ado a seme

l h an t e ch ol dr a O lh a c om q u em se foi mete r ,

a A mada a A mad a q u e foi de c ã o e g at o do


, ,

P raç a do Mõ es de q u em l h e pi sc ou o olh o !
, ,

T odos est es A mados sam r aç a de m a c ol ada .

O p ai o Am adã o Velh o,
dizi a m eu t i o
C al h ô rra foi dos q u e assalt ar am a c asa do
A l fer es de S M arti n h o M ai s t ar de en c on
. .

t raram l h e u mas c olch as q u e h avi am p er


-

t en c i do a o A l f er es T ev e a m ort e afr on t osa .

u e m e r e ci a Q u e m o rt e ! A i n da est ou a v e r
q .

A mad a V elh a a gri t ar p el o p ov o a rri b a : a


d el -rei q u e mat ar am m eu h o mem ! A lv or o
E
'

t ou -se o p ov o t odo e foi -se v er le est av a .

deit ado de b ô rc o a b ei r a do c ami n h o j u n t o


, ,
o REMOR S O 9 55

a Cr u z C aet an o c om as tri p as deit adas


do ,

fó ra p or u m a br ech a q u e ti n h a mai s du m
p al mo A q u il o só c om gadan h a do fen o T oda
. .

a gen t e de Seg õ es se apr esen t ou a de f en d er

o assassi n o f ô ra 0 A m ado q u e era h omem ,

de mau s emp rest i mos e r u i n s t or n as q u e ,

u i z é ra r ou b ar du as m oedas ao P i n t o Mo
q
l ei r o O fi dalgo da Si lv ã p ô s se de p eit o
.

feit o e livrou o O h ! os fi lh os sai em ao



.

p ai T u do lh es serv e c ou v es g ali n h as r ou p a
.
, , ,

dos est en dedoi ros A A m ada m ã e n ã o r ou b ou


.

u m a saí a de fó l h os a m i n h a R osa ? E c omo se

desc obri u ? Vai -se p ar a a S an t a u fé mi a e E


e l a l ev an t a a sai a n o b ail aric o A R osa de u .

c on t a foi u m di a de j u íz o S e h oj e c err armos


,

os olh os sen h or,


c omem t u do — o q u e h a
,

n est a c asa de p ort as a den tr o nem as ,

s ara as lh es esc ap am J á me di sser am q u e


p .

o N orb ert o an da a ch ei r ar atr az da A deli n a ,

a m ai s n ov a E o irmã o q u e lh e met e os
'
.

v í ci os n o p êl o Mas el a q u er c oi sa de m ai s
.

vu l to o N orb erto n ã o l ev an t a a gri m p a


,

o pri mi do do tr ab alh o G ost av a du m fi dalgo .

c omo arr an j ou a i rm ã vá b u sc a l o aos q u i n ,


-

E
t os Ai sen h or an da o demo nest a c asa !
.
, ,

l a ac ab ou a sol u ç ar emq u ant o o p adr e ,

sen t ado n as esc al ei ras se v el av a du m ar


sombri o e dol or o so .
9 56 J A R D IM DAS TOR MEN T AS

L a ao f u n do en tre a t erra dos v al ados


,

t orci dos c omo serp en tes os doi s irmã os ,

c on v ersav am O c am p on ez de m ã os grossas
.
,

sobr e a p é en cr av ada n o sól o esc u t av a as ,

m ó fas do i rm ã o m ai s v elh o o fi dalg o de ,

m ã os alv as e pr eg u i ç osas O ar cl aro e .

su bti l tr azi a lh es e n t re o gr u n hir dos b á c oros


e os c ac arej os das g ali n h as as l amen t a ç õ es

dos p ai s O sol do b av a P or c om pl ac en ci a e
. .

desen f ado I saq u e p ôs se a aj u dar o c av ador



,

p assan do lh e o b ac el o e desp ej an do n as c ó
-
,

v as p asadas de t e rr a .

Os c arr os desci am da serr a chi an do , .

P or tr az da c asa a al dei a al ap av a se n e gr a e —

r u morosa em p en ach ada j á do f u mo das


E
,

c osi n h as . ra a h o r a ci n z en t a da v o lt a do

c amp o e r an ch os p assav am n os at al h os
c an t an do u ma su av e c an ti ga .

D esc eu a fi n al a n oit e m an samen te e em


q u an t o N orb ert o desp edi a as u lti m as en xa
dadas I saq u e en treti n h a se c om q u em p as
,
-

sav a no c am i n h o j og an do u m a ch al aç a
, ,

ou r e gr essan d o a u m dit o de ser ã o ou da

t avern a Q u an do a M ari a A m ada ap arec eu


. ,

debr u ç ou se a fal ar-l h e de m an ei ra q u e o


i rm ã o n ã o ou vi sse
B u t am a est a h or a?
Os l ob os n ã o me c om em .
9 58 J A R D IM DAS TORMEN TA S

E
'

Tem-me u m
B u t am , met eu -se l h e —
e m c ab eç a q u e é s
tu q u e me desvi as p ara o mau c ami n h o
P oi s sere i Vá
.
,
n a e uev g p ara a A fri c a ,
p orq u e pér a?
es

Por r esp ost a .

E
U m gr an d e si l en ci o p assou en tre el es .

E
st ri den t emen t e N orb e rt o sac u di a n a p edr a

a l am a das en xadas l a t orn ou .

Se me q u i z esse b em n ã o p arti a , .

Mas é mesm o a r azã o p orq u e p art o Tu .

l á i rá s t er .

D iz em-me q u e se c ai l á c omo
H i st ori as da c aró ch í n h a ; p ar a on de
c on t o i r é t am sau dav el c om o aq u i .

Mas ent am deix a-me ?


Tu és t ol a T odos os m eses r ec eb es
.

di n h eir o dep oi s q u an do t u do c o rrer b em


, , ,

ir as l at er .

O lhe q u e eu n ã o v ou j u ra lo mas p al
-
,

pit a me q u e an d o gr av i da
-
.

I saq u e en v olv eu -a n u m l on g o ol h ar de t er
n u r a em q u e i a o a gr adeci m en t o p el as v o

l u pt u osi dadc s sen ti das j u n t os nã o en g a ,

n adas .E di sse emergi n do ao c ab o du m


,

p en sament o
E st a n oit e n ã o v á s ao ser ã o v ou lá a c asa ,
.
o REM OR S O 9 59

Di an h os ; m e u t i o f art ou -se h ont em l á


de p regar p orq u e a d el-rei era u m escan
,
'

dal o q u e v oc ê n ã o c asav a c ommi g o f azi a me


, ,

u m fi lh o e dav a-me o

Te u t i o é u m a b est a ch ap ad a
E meu ti o n ã o h a de vel ar ?
'

P oi s si m mas q u e n ã o sej a sendeir o


,
.

Fa z o q u e t e di go fi c a em c asa ; pel as ,

10 h or as l á a p are ç o .

P ar a a p ou c a verg on h a está voc ê sem


p r e p r o m p t o di sse e l a so rr i n do e f u n g an d o ,

c omo u ma p ol dra q u e senti u o mach o .

E
E tu n ã o? ,

la r omp eu á s g argal hadas e dando u m ,

p asso desp edi u se


,

A té l og o .

A té l o g o .

A h ! j á me esq u e ci a to rn ou v ol ,

t an do atr az A Mari a C arr adas q uér sab e r


.

se si m o u n ã o fi c am os c om o c o r dã o .

A g r ada-te ?
Se a gr ada ! An da mei o p ov o mort o p or
l h o c aç ar
'
.

Q u an t o p ede el a ?
Ci n c o moedas q u e é q u an t o lh e d avam,

no S .S ilvestre D iz q u e é p or ser nu m
.

ap e rt o .

E de oir o fi n o ?
' “
9 60 J A R D IM DAS TOR ME N TA S

O ir oti g o maci sso


an , .

Bem v ai b u sca-l o eu lá p ag o Mas


, , .

o u ve eu f al o c om el a
,
.

O lh e q u e se se demor a a L u dovi na ,

c ompr a-lh o i
.

N ã o t e ap oq u en t es amanhã t en s o ,

c or dã o .

A deu s l á esp er o ,
.

N orb ert o di sp u n h a-se a p artir de en x ada e


a l av an c a ao h ombr o D e b o m modo di sse .

I saq u e
N ã o l arg as essa rez e i sso h a de ac ab ar

p orq u e ? q u esti on ou o i rm ã o
desab ri damen t e .

bTu sa es, sam u mas


v ag ab u n das t an t o
el a c omo a i r mã N i n g u em lh es da ac eit açã o
. .

A M ari a A m ada essa foi j á c orri da de mei o

L é ri as r m p ob res n ã o q u er
. P or se e

di zer q u e sej am más mu lh eres .

N ã o mas sam de q u em as t en t a
,
.

L á se vi u se a A de li n a t e deu o u vi dos .

B ê h ! N ã o da p orq u e an da 0 J oaq u i m
J av ar d o c om sen ti do nel a e o q u e q u é r é ,

c asament o T alv ez a n ã o desmoçasse o


.

A rr u d a?
O lh a q u e bi sc a E c ap az de diz er q u e se
.
'
9 69 J A R D IM DA S TOR M EN T AS

j
su o . A p en as ao domi n g o lh e vi am treg u as as

c ost as do br adas e os t en dõ es formi dav ei s de


v erg alh o b em
c u rti do .

N esses di as vesti a o f at o de serrob ec o ,

l av av a mal a c ar a e i a p ar a o adro j og ar o
,

fi t o G an h av a q u art i lh os p er di a q u arti l h os
.
, ,

à c u st a du m ou dou tr o p at aco es q u eci do


so br e as m esas e c aç ad o n o v ô o o u q u e o s ,

fi dalg os l h e dav am q u an do p or c au sa de
,

I saq u e lh es i a l ev ar as tr u t as da ri b eir a .

N a m an hã se gu i n t e o vi n h o b ebi do n a vé sp er a
,

en li ç av a o tr aiç oei r amen t e n a en x erg a c omo


c or das mol es e gr ossas O p adr e q u e ao des .


,

p o n t ar d o s ol d e vi a e n c on tr ar a e g u a ap a

rel h ada p ar a ir ao servi ç o desp ert av a o as ,


-

t am an c adas n as an c as
A i n da n ã o sam h oras c ag aç al ? D eix a ,

est ar q u e a j og ati n a h a de t e dar de c om er !

N orb e rt o erg u i a se p raq u ej an do e ab al av a


-

p ar a o tr ab alh o e mq u an t o I saq u e dormi a


,

a som n o so lt o e a D D or oth ea aq u eci a a


ª
,

vi an da dos p orc os p orq u e l og o de m an h ã


,

c edo c ome ç av am a gr u n hi r .

C omo n ã o q u í zessem p ag ar sol dada n em


ti nh am creado n em creada U ma ou ou tr a .

p assara p or l á u ns di as Mas o geni o i rri t av el


dos amos es a p v o ri a-a
s e el as p arti am se m

t er aq u eci do l og ar .
o REMOR S O 9 63

Ch eg ou en t rement es o r ecru t amento e


, ,

N orb ert o foi ap u r ado p ar a i n f an t ari a Foi .

u ma tri st ez a n a c asa p orq u e se i a emb or a


,

o b om tr ab alh ador N orb ert o c omo an dav a


.
,

f art o da l ab u t a agr ade c eu a c adern et a q u e


,

o man dav a p ar a a c apit al on de c ert amen t e a ,

v i da dev i a ser men 0 s r u de .

N a v esp era da p arti da m ai s em h on r a do ,

i rm ã o q u e del e a r ap azi ada deu u m desc an t e


,

p el o p ov o aci ma da v en da do T r av an c a
,

p ar a a v en da do R o li m I saq u e q u e ti nh a .
,

c on ta ab ert a n os t av ern ei ros fez as desp esas ,


.

D ep oi s j á n oi t e f or am p el os serõ es e I saq u e
, , ,

q u e est av a l on g e dos h abit os c i vi li sados ,

c ant ou a desg arr ada sobr e a Vi ó l a do C ari a .

N aq u el e serã o fi av am as A madas e o u tr as
r ap ari g as da terr a H avi a doi s meses q u e
.

I saq u e lh es n ã o f al av a p orq u e el as ti n h am
,

j u rado de c ort ar c om el e u m a v ez q u e o ,

p adre Cl ar o lh es fôr a su rp reh en der o t i o de


soci edade c om os fi lh os a r ou b ar-l h e
arc a das c ev ei ras U m di a q u e t en t ar a
.
,

a pr o xi mar -se 0 A m ado am eaç ar a-o c o m o


,

sach o ; el e desi stir a Mas c o mo lh e f alt asse


.

f emea c an çav a se a su spi r ar l ament an do


,
-
,

q u e a gr avi dez q u e M ari a l h e an u n ci ara


n ã o e xi sti ss e real men t e vi st o a i m a
q u e ss

teri a pr esa C om o era u ma moc et on a f orte


.
9 64 J A R D IM DAS TOR MEN T AS

e sad a ,
i o u tr o s l h e an dav am n a c ó l a c om

i n t en t os de c asar .

Os c an t ado res deit ar am as melh o res t ro


v as e I saq u e n u m a v oz son o r a de h omem b em
,

c omi do e b ebi do as q u e prep ar ara desen fas


,

t i adamen t e n as h or as ch ei as de f asti o C om o .

e ra o fi dalg o t o dos o esc u t av am c om at en çã o


,

e o J av ar do
q u e se ti n h a p el a melh o r g arg an t a
da t e rr a em m u dec eu O f adi n h o ch or av a n a
.

vi ol a entre o s dedos su j os e a b ei ç a c aí da do
C ari a e I saq u e g arg an t eou
P orq u e teu s ol h os dari a
a

D e u s assi m u ma sorte
A o d esafi o co m a mor te .
,

Matam el es mai s Mar i a


,
.

As mu lh er es bi sbilh ot ar am e a M ari a
A m ada q u e p e rc eb er a q u e
,
c an tig a lh e era
e n der e ç ada met eu os olh os n o chã o D e p oi s
,
.

dan ç ou se a C an i n h a verde em q u e os c an

t adores alt e r n av am S ot u rn o N orb ert o e s


.
,

pi av a a A m ada e o i rm ã o E ste atirou ou tr a .

c an ti g a
S am n eg r as é b o m di zer ,

A s p en as d as an dori n h as ,

Q u e c o a n eg r u ra das mi n h as
'

N ã o se p odem el as p ar ec er !

O J av ardo p ô s—
se q u esti on a l o em verso
a —
,

mas el e nã o q u i z r etr u c ar Be bí a vi n h o c omo


.
2 00 J A RD I M D AS TOR ME N T AS

A ssi m, mal os g al os c an t ar am salt ou da ,

en x e rg a foi r en o v ar a man gedoi ra da ég u a


,

e c omeç ou a p ôr em ordem a t roi x a mb ru . E


lh ou as c ami sas e n u m l en ç o em c u j as p on t as
,

h avi a b or dada a retr oz v ermelh o u ma q u adr a


de amor at ou os seu s sei s t ostõ es em ni ke l ;
,

em se g u i da met eu t u do n u m a b ol sa de chit a

e de man si n h o foi b at e r ap o rt a on de dor mi am

os p ai s .

E l es j á est avam a p é e o p adre Cl aro p i g ar


reav a alt o f u man do o ci g arro O Moi ró
, .

v ei o p erc orr eu a c asa f arej an do e assen


, ,

t an do-se sob re o tr az ei ro b oc ej ou e u iv ou O .

p a i p e rg u n t ou -l h e e m v oz r u de fi t an do-o ,

mu it o o q u e n el e er a i n dí ci o de c omoçã o
E
,

n t am p ro m, p ?
t o

P romp t o ; é só a p arelh ar é gu a .

Be ,m v ai tir a-l a
c á p ar a fó r a E q u em .

v ai c on tig o at é a vil a ?

O Tons i nh o Vou ch ama l o e de p oi s


.
-

ap are lh a-se .

E
As v oz es e os p assos r eti ni r am sob o
t ol do refran gen t e do c é o gel ado ra n o i n
.

v ern o e as ag u as n os c om oros ch or av am O .

p adre p ôs-se a ap arelh ar a b est a M ei o o c u lt a .

n a t rev a a m ã e est en di a o br aç o c om a l u z
, ,

e rg u i da ao alt o O p adr e Cl ar o di sp ô s
.
os al

f orges em ap ar at oso eq u ilibri o emq u anto ,


o REMOR S O 9 67

o Tonsi n h o N orb ert o ti rit av am D ep oi s


e .

deit ou a gu al drap a de p el e de vit el o p õ r ci m a


e a fi v el ou cilh a .

A u m ac en o de D or oth ea met e r am p ar a den


tro de c asa a fi m de q u e os r ap az es en g o li ssem
,

u ma b u ch a e u m tr ago de ag u ardent e .

H avi a n a sal a u ma at mosfer a c on sol ador a de


a g asalh o E N o rb e rt o , a f ag ado c ome ç ou a su a
.
,

l oq u el a de al deã o .

A m ã e en tr et an t o t rou xé ra o aç afat e e
, ,

sob re a t am p a v olt ada servi u p ã o q u eij o e ,

az eit on as e doi s g o l os de agu ar den t e n o f u n do

verde du ma garr af a Os p orc os senti n do .


,

p assos c omeç ar am a gr u n hi r e el a di sse


,

A q u el as al m as est am sem pre p r ompti


n h as p ar a c omer .

A l u mi an do sem pre e t ei man do c om o


Tonsi n h o p ar a q u e se servi sse fez as su as
rec omen daçõ es d olh os n o fi lh o
,
'

T iv esse mu it o j u íz o n ada de m alu q u ei ras ,

se q u eri a ch eg a r a ser u m h omem D eix asse se .


-

de c amar adag en s q u e sem p re vi n h am a dar


em dr o g a e de f u mar q u e o f u m o era b om ,

p ar a os p eral vi lh os .

O p adre t ossí a sorven do o cigarr o a gr andes


,

go l adas .

J u i si nh o, q u e i g n n u em as deit a m
e c
sa o

ro ot . E aos su peri ore s , aos c oman dantes ,


9 68 J A R D IM DAS TOR MEN T AS

f ô sse se b edi ent e n ã o exi sti sse u m ar


m pr e o ,

g u ei ri n h o por o n de e l es l h e p g ssem T od as
a a .

as man hã s n ã o se esq u e c esse de se rec omen


,

dar a S do L ivr amen t o q u e o l i vr asse das


'

má s h or as e dos mau s r ep en tes T res meses .

p assav am depressa e rs sem pr e se

h avi am de arr an j ar p ara r esg at a-l o As m a .

t an ç as ai n da est av am l on g e m as a ch ou ri ç a ,

da c ar n e lá l h e i a t er se tiv esse t en t o n a ,

b ól a .

As r ec omen daçõ es del a c orrer am du rant e


m u it o t emp o N orb ert o esc u t av a-as c ab i s
.
,

b aix o a vi st a cr av ada n a t oalh a sob re du as


,

mosc as fri or ent as q u e v ol t ej av am .

L ogo q u e os r ap az es ac ab aram de tri n c ar


a u lti ma den t ad a o p adr e Cl ar o foi a p or ta
,

escr u t ar o h ori z on t e E v olv eu a diz er q u e.

er am h or as se q u eri am b ot ar avi l a an t es do
,

c arr o da c arr ei ra t er ab al ado .

D . D or oth ea p erg u n t o u se n ã o se esq u e:


ª

ci am de n ada N orb ert o circ u n v agou o .

olh ar n u ma o p er a çã o r e mi ssiv a de memori a ,

p alp ou a c art eira de c oiro v eri fi c ou q u e ,


'
l evav a a n av alh a e o l en ç o d assoar .

F alt av a-l h e i r ao q u art o do i rm ã o dar lh e —

u m abr aç o A mã e p or c u ri osi dade ac om


.
, ,

p an h ou 0 M —
a s o .l eit o est av a f e it o se m ,

si n al de se t e r em de it ado n el e N orb ert o .


J AR D I M D AS TOR MEN TAS

N orb ert o met eu a ch orar os rs n o

b ol so De v oz arti fi ci osamen t e desen gan ada


.

pr of eri u
T res meses p assam dep re ssa .

Fó ra a n e bli n a esfar el av a se em g ô t as
,
-

br an das e fi n as O n asc en t e ac al en t av a u ma
.

v ag a pr omessa de l u z Vi a se j á l u zir a espi n h a


.
-

dos t elh ados O To n si nh o salt ou p ar a ci ma da


.

égu a e m segu i da N orb ert o T oc ar am ; o p ai


, .

gri to u lh e —

N ã o p edes a b en çã o a t u a mã e mal ,

creado ?
N ã o est av a h abit u ado a desp edi das e
fi c ou c on fu so Mas en gatilh ou as m
. ã os p ar a
a m ã e q u e est av a sob re a c alç ada ao l ado ,

del e C ob ert a de l agri mas el a ab en çoou o


.
,
-

e m et en do l h e a m ã o n o c o l e t e

acr esc en t ou ,

n u m só p r o

P ega é pró vi n h o O lh a q u e fu i v ender


,
.

os o v os da p edrez p ar a t e dar .

A ég u a ab al ou e os doi s v elh os fôr am at é


atr az das c asas vê lo s p arti r l a ch or av a e o

. E
p ai dizi a

E p ara o q u e a g en te os cri a ! E p e r a
' '

o q u e a g en t e o s c ri a !
O REMO R S O 9
7 1

N es sa t ar de I s aq u e C l aro sen ti a toda vo


l u p t u osi dade de viv er A pri mav er a o amor
.
,

e a f o rç a an dav am e m v o lt a del e c om o tres

c readas de servir As seá ras est avam alt as


.

c omo b en g al as e era o t em p o das r omari as e


dos arr ai aes D eci m a das c erej eir as as r ap ari
.

g as d e bic a v am as c e re j a s de p ern as a esc o rre r


,

p o r e n tr e o s r a m o s e
, p o r so br e as p a r e de s d a s

h ort as os most aj ei ros est en di am su a b ag a


o ri en t al .

I saq u e c omo t odos os o ci osos d est e m u n do


, ,

ti n h a o f aro ap u r ado p ar a as est açõ es e n ada ,

o en c an tav a m ai s q u e os di as de so l em q u e

a fi g u r a dos h om en s n os c ami n h os se n i mb a

de t on s v el asq u en h os e a mel an c ol i a é v arri d a


'

da fi si o n omi a das c oi sas An dav a sati sfei to


.
,

al é m di sso , no amo r propri o o rap az


q u e l h e c o rt e j a v a a am an t e at i r á ra o - p e l a

po rt a f or a aos p ont apé s ; a M ari a A mada ,

v olvi dos doi s meses de ru ptu ra v ol t á ra a ser ,

a am an t e ap aixon ada c ali da e rendi da ago r a ,

á forç a do mach o Mas aci m a de t u d o sab o


.

re av a a re v ol u ç ã o mu da u e i n v o l u n ta rí a
q
ment e p rov oc ár a n o an i mo de A de li n a A .
JARD IM DAS TOR MEN TAS

mu lh er acor dá ra n e a p er an t e a m al di sfar
l
a d a v o l u pt u osi dad e q u e se vi vi a ao p é e as
ç
mu lti pl as m ani f es ta çõ es de seu ar dor d h o '

m em A i n v ej a e o ci u me estr emeci am a
.

c ada p al avr a n a b ô c a da r ap ari g u i t a ; se el e

a p ar eci a c or av a e fi c av a a tremer c om o
u m vi me t o das as v e z es q u e c om M ari a se

e n c err av a n a C asa d e Ci m a U ma v ez fôr a


.

su rp reh en de l a a ch or ar e so b seu s a f ag os

a c ab a r a a ri r n u m ri so n erv oso sec o de h i s


, ,

teric a E n te n dedor da p s ic ol ogi a f emi n i n a


.

E
I saq u e p alpit av a de t odos os p al pit es daq u el e
san g u e r ev o lt o . a i m agi n açã o e n li gav a

se-l h e n o g ôso son h ado du ma p rev ersã o e p en

sav a ,
f azi a u ma dest as refl exõ es su p er fi ci aes
u e a c e d e m au t om ati c amen t e q u e n em se
q ,

q u er sam i m p ort u n as e se esv ah em c omo os


s o ns n o ar : du as i r m ã s e o di ab o c om o
, ,

me ag u en t ar e i en tr e am b as ?
I n t e rpret av a assi m li mp an d o a c aç adeira
, ,

q u an do a M ari a C arr ad as ap arec eu a p assos de


fé ra
M u it o b oa t ar de ; v en h o b u sc ar o di nh eir o
u e a i n da me dev e
q .

E
I saq u e erg u eu -se p ar a a p u x ar p ar a u m
c an t o don d e os p ai s n ã o ou vi ssem m v oz
.

desab ri d a el a ret orq u i u


S e me tir a de p art e p ar a se desc u lp ar
9 74 J A R D I M DAS TOR MEN TAS

p ar a a esc al ei ra ; I saq u e n u m rep el ã o sac ou -a


p ar a traz I n ti mi dada t orn ou
.
,

P oi s olh e t orne me o c or dã o p orq u e


,

,

me n ã o t or n a o c or dã o ?
A go r a é i mp ossiv el E
E
u p ag o lh e j á lh e
.
-
,

di sse . r a f ei o tir a l o a r ap ari g a ;


-
q u e nã o
di ri am p ar a ah i ?
M ai s fei o e r ou b ar e n ã o p ag ar a q u em
se dev e !

I saq u e r an g eu os den tes de c ol era d o , ,

sen ti m e n t o de su a fr aqu ez a v en do-se es pr e ,

mi do n as mã os gr osseir as daq u el a mu l her :


J u ro lh o p el a mi n h a b oa

D e j u r as est ou eu f art a .

J u r o lh o p el a vi d a de meus p ai s ; q u er
-
'

m ai s?
Mas oh ! se n h or p orq u e me n ã o h a de
,

t orn ar o c or dã o se eu restit u o lh e os
,
réi s -

u e cá t en h o ? O n de n ã o h a el -rei o p er de !
q
Q u e h avi a de p en sar a r ap ari ga?
Q u e h avi a de p en sar ? M ande m a p ar a —

o i n fer n o Se el a l h e q u er b em ser á a pri m eir a


.

a desat ar o c or dã o do p esc oç o .

N em t odos sam c omo v oc emec ê sen h or a ,

M ari a C arr adas .

N ã o sam n ã o se fossem n ã o vi n h a t an t o
, ,

m al mu n do
ao .

Hou v e u m a p au sa e I s aq u e co mp reh en deu


o n s mo ns o 9 75

q ue a mu lher a br an dav a . C al cu l ad amen t e


i nstou
T enh a p aci en ci a aman hã ou de p oi s ,

l á l h e l ev o o di n heiro Verá c omo é dest a . .

Q u an t as vez es m o r ep eti u '


.

A g or a é de v ez .

O u tr o sil en ci o ; a mu lh er o lh av a o chã o ,

r efl ecti n do
Mas p orq u e n ã o l arg a essa mu lh er ?
L arg u e a Ora eu a pr en der me c om tr et as

.

.

N ã o n ã o q u er o cá
,
Vou ter c om o sr .

I saq u e v olt á ra a li m p ar a c açadeir a e n ã o


p ôde i m p edi r q u e a c orrer ela su b isse a
esc ada L á em ci ma á p orta v er de entr e
.
,

ab er ta grit ou ,

S r rei t or sr re it or !
.
,
. .

D en tr o de c asa soá ram p assos e a S D " .


8
.
,

D oroth ea resp on deu


Q u em ch ama? A h é a S M ari a Garr a .

das 0 S r r ei t or n ã o está foi dar u m an j i n h o


. .
,

! t err a S e é r ec ado q u e eu lh e p ossa


.

A M ari a C arr ad as p ar ou i n d eci sa dep oi s ,

en caran do I saq u e i n t er di t o ao f u n d o do p ateo ,

E
proferi u

E
n t am e u v olt o q u an do ele estiv er .

m b aix o a sós c om I saq u e di sse


, ,

E sp ero até d ep oi s d aman h ã p el a man hã '

19
2
36 JARD IM D As TOR MEN TAS

S i nh a ; den tr o dest e pr aso o u me dá o di


n h ei ro , o u en tr o em p osse do c or dã o ou f aç o ,

gran de esc an dal o D ep oi s n ã o se q u eix e L á


. .

esp er o at é manh ã si n h a !

An u v eou -se o espi ri to de I saq u e e n u m ra


pi do ex ame de c on sci en ci a rec onh ec eu q u ant o
e ra n oj en t a a su a sit u açã o dos doi s d esti n os ,

ele r epr esen t av a n a f ami li a o desti n o dos

i n u t ei s e dos mans i N orb ert o o dos o pri mi


dos de C ai m Mas a su a p rev ers ã o era m u it a
, .
,

e p ou c o soli do o seu r em orso p ar a v o lt ar p ar a

tr az N essa n oit e n a fri oren t a e v ol u pt u osa


.
,

C asa de Ci ma I saq u e dormi u t odav i a mal .

M anhã c ed o ai n da o c amp an ari o n ã o ti n h a


,

t an gi do salt ou da c ama
,
.

O n de v ai s t am c edo ? p erg u nto u


A mada de g oel a p ast osa .

Vou a c asa p o rq u e o fi lh o do c apitã o h a


,

de l á a p ar ec er p ar a i rm os c aç ar A o mei o di a .

e st ou de v o lt a .

L av ou -se n u ma al mofi a q u e est av a p or


t err a e c omo n ã o vi sse t oalh a p ergu n t ou
, ,

M ari a on de me li mp o ?
,

L i mp a t e a fral da q u e vesti h on tem



.

E nxu gou se a rego u g ar m al h u mor ado e



, ,

foi b eij a l a em desp edi da


A deu s .

A A m ada p assou l h e —
os braç os m
e vo lt a
JA RD I M DAS TOR MEN TAS

p ap ei s mas i n u til men t e N as ou tras g av et as


, .

h avi a m algas de m armel ada m ech a p ar a ,

p eti sc os e t oda u m a c orr esp on den ci a de an os .

U m a u m ex ami n ou os en vel op es n ã o esc on


dessem alg u m a n ot a t am b em deb al de E n tr e
, .

os p ap ei s e n c on tr ou c art as su as dos di re ct ores


,

E
dos c ol egi os p or on de p assar a u m retr ato ,

seu . c omeç ou a l er as q u e lh e p arec eram


desc on h eci das U ma del as era de N orb er to
.

dat ada do r egi men t o e re z av a assi m


M eu s q u eri dos p ai s l an ç o ag or a a m ã o á
,

p en a p ar a lh es c on t ar a mi n h a tri ste vi da .

S ab erã o q u e tive oit o di as de c al ab ou ç o p or


ter rej eit ado o r an ch o em q u e en c on tr ar a
bi ch os S ó me der am p ã o e agu a e t odo o
.

t emp o l evei a ch or ar n ã o tan t o p el o m al q u e


,

me f azi am q u e p el as sau dades q u e ent am


me vi er am da n ossa c asa M eu s q u eri dos.

p ai s v ej am se me arran c am a este degr edo


,

sen ã o mat o me —
Os sargen t os sam verda
.

dei r os cã es e os sol dados est am sem pre a


tr oç a c omi go p or q u e s ou m arr ani c a e n ã o
,

so u fôr ma do p é de l es U m di a dest es em
.
,

q u an t o f azi a g u ard a á s c av al ari ç as arr em ,

b ra a m -
me o b ah u e u ri n ar am-me den tr o T i nh a .

l á o resto dos dez t ostõ es q u e me m an dar am


e mesmo esse me l ev ara m Fu i -me q u eix ar
.

a o ten en t e m as e l e p ô s se a ri r e a m an gar
,

o RE
M OR S O 9
79

c ommi go e man dou me emb ora


,
-
u nã o . E
os p osso at u rar ai n da q u e me desfaç a t odo
p ara os v er c on ten t es Sei b em o ex ercíci o
.

e n a c arrei r a sou dos u e m e lh or ac ert am


q
n o alv o Mas i st o p ou c o v al e p orq u e n ã o sou
.
,

b em f al an t e n em f aç o v u lt o ao pé dos alfa
,

c i n h as E st ou a escrev er c om os olh os r asos


.

d agu a emq u an t o n ã o cheg a o meu q u art o


'
.

M an dar am me diz er q u e o M oi ra estav a su r


E
do ; c oit adi nh o n ã o o man dem mat ar q u e
,

t am fi el é ra e t am ami g o da égu a u t eri a .

mu it a p en a se fi zessem mal ao p ob re ani mal


ai n da q u e n ã o ou ç a n em sej a l amp eir o c om o
,

n os b on s t em p os S aib am q u e aq u i en c on tre i
.

u m c on di scíp u l o de I saq u e ; c on t o u me m u it os —

an edo ct as de l e e q u e era mu it o e sp ert o m as ,

! s vez es com p ou c o mi ôl o S em pre l h e arr an .

j aram em prego ? Se ele ai n da an da meti do


c om a Am ada deix am n o lá o d i a d
q u e e

re l eg o h a de ch e g ar D êem-me n ovi dades da


.

t err a e f aç am m u it as vi sitas a q u em p or mi m
p ergu n t ar M an dem-me dizer se o J av ardo
.

j á c asou c om a An t on i a Borr alh a D eit em .

a b en ç ã o a est e seu fi lh o N o b ert o Cl ar o .

I saq u e dobr ou a c art a re p ô s os p ap eis n o,

seu l og ar e di sf arç ou c om art e o arr om b a

men t o da esc r ev ani n h a D u as au g u sti as .

lh e cerr av am a g arg an t a : a fr u str açã o de seu s


2 80 J A RD I M DAS TOR MEN TAS

es of rç os p ara en c on tr ar di nh eir o e a h edi on dez


de seu s ac tos p er an t e a dor si m pl es de N or
b ert o j u n t a á tri st ez a q u e c obri a aq u el a c asa
c om o u ma mort alh a de def u n t os Mas de q u e .

m odo q u ebr ar o desti n o ? C om o t od os o s


ser es r eb el des a l ei das c oi sas ti n h a a c u ri o

si dad e de viv er M ai s q u e o g ost o de viv er


.

ti n h a a c u ri osi dade de viv er Viv er p ar a .

v er os h omen s as l ou c u r as
,
as r ep u bli c as, ,

as est açõ es p ar a se se ntir n as i n fi n i tas m o


,

dali dades da t err a E st e i n st i n c t o aj u dado


.
,

do p essi mi sm o sorri den t e q u e c on si der a o


t u do c omo p ó 0 t u do c omo o mu sg o do n ada
, ,

p assag ei r as a vi rt u de o v í c i o as em oçõ es
, , ,

su sti n h a o -
á b ei ra das r esol u çõ es vi g o
r osas O p en sament o n el e era pr o fu n do m as
.

r api do L ev an t av a a p oeir a vi ol en t a du m
.

tr op el de c av al os n u ma estr ada de verã o e


desap ar eci a A pr opri a dit a de se sen tir
.

s en ti n do lh e f azi a v olv er o r u m o das i de i as .

N u m mi n u t o r ev olv eu at é as f ez es a
p orc ari a de su a c on di ç ã o Vi u se o p ar asit a
.
-

do p obr e v elh o o l adrã o de N ob erto a l ag art a


, ,

doir ada daq u el a p obr e c asa U m mi n u t o p ar a .

v olt ar a si ao seu p essi mi smo c on f ort avel


, ,

pr eoc u p ado a pen as c om a p ersp ectiv a du m


e sc an dal o e a exau c t oraç ã o p u bli c a e m q u e

f at al men t e p er de ri a a A mada .
2 2 J A RD I M D AS TO RL I E
N TA S

b oas do so b rado
E aj oelh ado su btil i nsi
.
, ,

n u ou a mã o sob o tr av esseir o S u a mã o fi n a .

e pr eg u i ç osa dest as mã os a fi u sadas de p ar


,

t eira son dou p asseou divag ou emq u ant o o


, , , ,

c oraçã o l h e b ati a u m gal op e l ou c o de c av al o


'
.

A c art eir a foi h arp oada F olh eo u -lh e as b ol .

sas ,
en x erg an do c omo se tivesse olh os de
n i ct al op e A v elh a c art eir a g u ar dav a qu at ro
.

n ot as de mi l re i s n ã o mai s D esc o r oç oado


,
.
,

assalt ad o n ov amen t e du m a on da c on f u sa de

sen ti men t os q u edou -se i n deci so ; resol u t o em ,

fi m tir ou as q u at ro n ot as e met eu as n o
,
-

b ol so D oc emen t e c om mai s deci sã o mas


.
,

n ã o c om men os pr u den ci a c ol oc ou a c art eir a ,

estri p ada n o seu l og ar O p ai pig arreou e a .

E
alt a e an tig a c ama de c er ej ei r a r an ge u dol o

r osam en t e le su sp en deu se u m i n st an t e e
.

,

de r ast os c omo u m l adrã o c on su mado atr a


,

v essou o ap ose n t o esc u r o a sal a o seu q u art o , , ,

abri u a j an ell a e sa lt ou .

I saq u ec orr eu a f ech ar a b oc a da C arradas


com os r ei s ; el a c omo era u ma b oa alma ,

e sen ti a a c on su mi çã o do moç o c on c edeu mai s ,

u m pr aso de 2 4 h or as E st av a u m di a reman .
o R EM OR S O 2 83

ç oso , se m v en t o
c omo n ã o h av eri a p eri g o
,
e

de i n c en di o a S r D D or oth ea l embr ou se
ll ª

.
,
.

de faz er a b arr el a q u e est av a a ro u p a a en c ar


,

di r n os c estos h a mu it as seman as P ar a i sso .

ch amou u ma a filh ada q u e mor av a a doi s


p assos e a f ogu eira foi ac esa n o al pen dre
,

o n de h avi a mai s esp aç o q u e n a c osi n h a e a

l enh a est av a á m ã o de semear A s dez h or as .


'

o f ogo c h i sp av a e n u v en s densas d e f u m o

es f ar el av am se atr av e z da t elh a v ã J á f ervi a


-
.

a du pl a fi l a de p ot es e p an el õe s q u an do
D D or oth ea ch am ou p ar a a m esa O al m oç o
ª
. .

foi sil en ci oso br ev e e I saq u e n ã o pr ov ou


g arfada .

Ao l ev an t ar I saq u e p ergu n t ou ao p ai se
,

p odi a i r a F orl es a c av al o C omo ele n ã o t or .

n asse r esp ost a c av alg ou e desap arec eu n a


,

estr ada r oman a en tre os pi n h aes i mm o


v ei s Os m an os I si dros rec eb er am n o afee
.

t u osamen t e der am l h e mu it os c on selh os m as


,

n ã o di n h e i r o Ch ei o de desesp er o en tr ou em
.
,

c asa q u an do o p ai l avrav a o obit o do an j i


nh o dado á t err a n a v esp era C om o er a m u it o
,
.

e doso a m ã o tr emi a l h e em sac ol õ es n e rv osos


,

e c ada p al avr a l ev av a-l h e t em p o i mm en so

a esc re v er A lé m di sso a l etr a era m i u da


.

e h u mild e c om o an ot açõ es de mon ges n as

m argen s du m re li c ari o
28 4 J A R D I M DAS TOR MEN TAS

Q u er q u e lh e l avre o assen t o ?
g u n t on I saq u e c omovi d o
, .

N ã o senh or ,
.

I saq u e foi sen t ar se medit ab u n do n a sal et a


-

de j an t ar A m ã e m al o v i u t eve dó del e
.
, ,

u e n ã o al moç ar a e apressou se a ser v ir o —


q ,

j an t ar Q u an do o p adre en tr ou os v ap ores
.
,

da sô p a ev ol av am se v ol u pt u osamen t e das
-

malg as de r u sti c a f ai an ç a N ã o ob st an t e o
.

b om c al do de fei j ã o b ran c o e o f art o salpi cã o


de om o s
l b I aq
,
u e a b ste v e-se c omo p el a man hã

de t oc ar n os pr at os O p adr e á sobremesa.
, ,

p ergu n t ou
Bu t am n ã o c om e ?
S em l ev ant ar o olh ar semi -mort o da t oalh a ,

resp on deu
N ã o n ã o t en h o apetite
,
.

A m ã e q u esti on ou a seu t u rn o :
Q u er q u e l h e f aç a al gu ma c oi sa ? Q u e
t em sen h o r ?
,

I saq u e desp edi u u m m au sorri so p or en tre ,

den tes .

L á se arran j e t orn ou el a j a nã o
está em i dad e de se lh e f az er a p ap a .

O p adr e c on ti n u av a o regi st o q u an d o I saq u e


se a c e rc ou r esol u t am en t e

T en h o u ma c oi sa gr av e a c omm u n i
c ar-l h e .
2 86 JARD IM D As TOR MEN T AS

E sc ri pt o o bilh et e foi c om u ma c ert a fat u i


,

dad e r om ti c p ô o dean t e dos ol h os do p ai


a n a -l

e sai u a v er a li xivi a p ar a dar t em p o a q u e

u ma r esp ost a r aci oci n ada l h e f osse dada A .

ag u a fe rvi a em c ac h õ es n os p ot es b oj u dos

de doi s al mu des N as p an el as esgr ou vi adas o


.

v ap or c an t av a O b razei ro aqu eci a o alp en dre


.

t odo .

N arci sa 1a e vi n h a su an do agu a r u bi
, ,

c u n da e al egre .

O v elh o feit o o assent o desc eu as esc al ei ras


, , ,

e de sach o n a mã o foi -se a mon dar os b at a

t aes on de ferretes de esmer al da desp on t av am .

I saq u e c orreu ao esc ri p t ori o e p or b aix o


de su a su pli c a en c on tr ou a maxi ma j oc osa
Q u i l av a l as í n u m p er d i t aq u am ef s ap on em .

P erdi damen t e c omeç ou a sol u ç ar sobre a


su a desdit a Gai a a n oit e u m a n oit e su av e e
.
,

n egr a L á fó r a a f ogu eir a ch amej av a al i men


.
,

t ada de n ov o p ar a a segu n da agu a .

E
O p adre en tr ou f az en do c h oc olh ar os t a
,

m an c os ; I saq u e c orr e u l h e ao en c on tr o

m .

v oz su b mi ssa i n t err og ou

Q u e r es p o st a m e dá?
O p ai ab an ou a c ab eç a fr an zi u os l abi os ,

n u m esg ar m irr ad o

Ai n da t em a desf aç at ez de me p edi r
di n h eir o ?
o R EM OR S O 2 87

E sc u so p oi s de “

D i n h ei ro q u e eu tivesse q u e n ã o era
v ocê q u e m o l arp av a A n tes g ast a l o em
'
.
-

E '
a u lti ma vez q ue lh
'
o p eç o .

J á di sse , nã o o tenh o mesmo ten do-o


,
'
nã o lh o dav a .

E p ossivel q u e o n ã o ten h a mas au t o


'

ri se m e a i r p edi l o a algu em ?
- -

Pedi l o p eç a o a q u em lh e ap etec er
-
,
-
.

Q u e ten h o eu c om i sso ?
Mas e m seu n ome ; b em sab e q u e a
mi m m
'
não o

P oi s arran j e se pr oferi u dan do u n s


-
,

p assos p ara a j an ell a N ã o e stá f art o de


.

me rou b ar ? de me tir ar as sar á pas


Bem t en h o e nt am de ac ab ar c om a
,

vi da?
A c ab ar c om a vi da ah ! ah ! ah ! u m ,

h omem q u e n u n c a t ev e di gn i dade ! A c ordo u


l h e t arde a h on r a .

N ã o me i n su lt e ; n i n g u em tem n ada
q u e m e j o g ar a
E os l atr ocí n i os c ontín u os q u e tem
c ometi do n este c asa? e as offen sas a su a mã e
'

e as p an c adas q u e lh e t em dado ? E a ex p l o

r açã o sor di da de seu mano ? N ã o lh e p odem


j ogar i sso á f ac e ?
2 88 JA RD I M DAs TOR MEN T AS

P odem emb or a met ad e do q u e di z


,

n ã o sej a v e r dade Mas n a so ci edade n o


.
,

p u bli c o n i n g u em me p oderá i m p u t ar a m ai s
,

l e v e má c u l a .

Vadi o ; melh or fôra tê l o est orceg ado ao —

n asc er . M ari ol a !
Meu p ai dê me os 101000 rs P ara q u e
,
-
.

h a de deix ar dar c ab o de m i m p or u m a

E xc u sa det ei m ar ; n ã o ten h o di n h eir o ,


mas t en do -o n ã o l h o d av a .

P el a al m a de seu p ai , nã o me
Mas q r â l aueN ã o o .

D eix e-me i r p edi -l o


Q u em l h e

E
I saq u e rec on h ec eu a deci sã o i n ab al av el do
p a.i l e t a
,
m fr a c o e t a m b o m n ã o s e ren ,

di a a evi den ci a da su a an g u sti a .

L en tamen t e a c ol er a su bi a l h e n o p eit o fã -
,

z i a l h e tr epi dar as ar teri as c om o o m ot o r


-

du m a m aq u i n a a f adig ada A i dei a de q u e


!
.

se v i a em emb ar aç os p or u ma c oi sa í n fi m a ,

c om o u m a ag u lh a e i n su p erav el c om o u m
i n fi it o o desesp er s
n ,
o u fo c c av a-o
.

O sr n ã o é p ai n em é n ada ; o sr é u m
. .

m on str o de cru el dade


I sso i sso sou u m mon stro
, ,
.

E u m monstro é Vê me aq u i a seu s
!

,
.

2 90 J A R D I M DAS TOR MEN TAS

(
7

Bu t am esses rs q ue tr az na a lgi
b eir a?
O ve lh o l ev ou a m ã o ao b ol so e arr an c an do
a c art ei r a n u m abri r e f e ch ar d olh os r ec on h e
'

, ,

c eu o r o u b o D u m salt o e com g arr a f orm i


.

dave l atir ou se ao p esc o ç o do fi lh o


A h ! l adrã o ! l adrã o !
I saq u e n ã o p ô de f u rt ar-se e rol ar am n o
chã o abr aç ad os A l u t a foi c e g a feroz e
.
,

r api da Q u an do I saq u e se s af ou deb aix o do


.

v elh o ele c ai u p ar a o l ado i n erte ,


.

Os olh os sai am lh e das orbit as u m fi o de



,

esp u m a pen di a da li n gu a p en den t e Os den t es .

n e gr os arr u aç av am

O m oç o l an ç ou em t ô rn o u m o lh ar desv ai
rado sa c u di u o v elh o fr en eti c amen t e
,

P ai ! p ai !
E n u m a c arr ei ra l ou c a atr avessou o ap o
sen t o desc eu a e sc ada U ma ab ob ada de br eu
,
.

ci n gi a a t er ra O alp en dre irr adi av a c omo um


.

i n fern o Du m p u l o pr oj et ou se n a fogu ei ra
.

en tr e os c arvõ es i n c an desc en tes ; os p ot es de

doi s al mu d es c aír am de b ô r co as p an el as ,

q ue br ar am em mil asti l h as C om a c arn e .

assad a os c abe l os e o f ato a ar der c omo u m


,

arch o t e c orreu n a n oite u ivan do u m u iv o


, ,

q u e at em o ri sou cin c o al dei as .


A R E
V L
O U ÇÃ O
JA R D I M DA S TOR MEN TAS

f i ç oado
a e á vi da ,
g or a a ilh a v erde q u e
er a a

os n avi os e os av ej õ es pr oc u r av am em su as

re n das ; e el es h avi am sac u did o o esm or eci

men t o e a n au se a de su a c on di çã o h u man a ,

t am fr agil e t am m esq u i n h a .

J á v olt av am a c orr er sem t err or o oc ean o, ,

q u e en g o lir a m i l ci dades o rg u lh o sas e c u j as

o n das a p ar eci am ai n da en r ol an do-se e m des

p oj os i l u stres man t os de r ai n h as e b an dei ras


,

de n açõ es .

D a t err a eu r op ea emergi am a p en as o s
c u mes das mon t an h as e os alt os pl an alt os .

Mas em c ada u m a vi da cri sp an do-se en c arn i ,

ç a d a e m i st e ri osa se desen v olv er a c omo u m a


,

h erp es fer oz E eram ã su p erfi ci e das ag u as


.

c ant ei r os o p u l en t os da v on t ade h u mana .

O c apit u l o sem fi m da vi da c on ti n u av a ,

rec obr ado do desal ent o E l es e os ou tr os p ov os


.

h avi am reat ado r el aç õ es p or ci ma de milh ares


de l egu as de di st an ci as E o pl an e t a e as .

r aç as c on ti n u av am a ro l ar mon ot on am en t e .

S e o c at acli smo p or em deix ar a os h omen s


, ,

n a p osse de t o do o p atri mon i o d a h u m an i

dade as c on sc i en c i as h avi am si do ab al adas


'

at é os f u n damen t os I n sen siv el men t e ti n h am


.

r en u n ci ado a m an t er de pé o edi fi ci o soci al


dos temp os A f at ali dade u n iv ersal fi z er a-lh es
.

s en tir su a g arr a i m pi e dosa ; e a n oçã o del a e


A R E VO L UÇÃ O 295

a do t ransit ori o gr av aram-se lhes pr of u n da


men t e n a al ma E d espi das em su as formas


.
,

v adi as de ab str act as p assá ram a c on d u zi -l os


,

E
e en si n a l os

.

n si n á r am lh es
-
q u e e r am b em m ai s ig u ac s

do q u e n ã o p ar eci am ; q u e as di f er en ç as en tr e
e l es er am u m a p o ei r a o ci os a em f ac e do
gr an de en igm a do p ri n c í p i o e do fi m ; e q u e
era u m a il u sã o cr u e l f u n dar a l ei do pr ogr esso

n a estr ema d h omen s e n tr e h ome n s A f orç a


'
.

mi ste ri osa da v i da det ermi n av a el a só a l u t a , , ,

a c on st an ci a e a aspi r açã o sem p re p e rseg u i da

e se m pr e ren ov ada .

A dô r n iv el ar a-os ; v arri dos p ar a as cri st as


dos r och e dos h avi am j og ado c om f ac u l dades
div ersas e t alh an do e ap erfei ç oan do u ma
,

exi st en ci a ,
rep artir am n a i g uã l men te e n tr e
-

el es D i strib u í da dou tr a for m a p ar a n en h u m


.
,

seri a mai s ampl a n em m ai s afort u n ada


,
.

P orq u e rec on h ec er am q u e o exc esso n ã o é a


fart u ra n em o mal du n s a f eli ci dade dou tros .

D en tr o do exi sten t e n ã o fi c av a c am p o ab er to
ao de sej o n e m l ac u n as á n e c essi dade Se é .

v ol u pt u osa a riq u ez a q u e se sen t e n ã o e ,

ri qu ez a o su p erfl u o q u e se e n th esoi ra .

I r man ados t odav i a n a c on diçã o el es c or


, , ,

ri am atr az « de melh o r ! c om o os mag os atr az


da estr el a ; e a exp eri en ci a m os tr o u lh es q u e —
JA R D IM D AS TOR MEN TAS

o progr esso é men os u ma f o rç a da v on t ade


u e u ma f orç a do i n sti n c t o e q u e su as t en
q ,

den c i as de c orri am n ã o do ser desig u al m as


do ser r aci on al da f or m a su p eri or mesmo , ,

da vi da .

U m a r en o v açã o m or al r esu lt ar a da c at as
t ro fe, c om o o u tró r a das g u err as saí a p or v ez es
o r ej u ven esci men t o du m p ov o E
E
r a u m ou t ra
.

ci c l o e u m ou tro cre do m t o dos os p on t os


.

n ã o en g oli dos p el o m ar a mesm a si mp l i fi c açã o

s e o p er a ra E n os c on ti n en t es atr av ez das
.
,

n açõ es a i dei a arr asav a tr on os e r e p u blic as


,
.

A s du as fami l i as tr ab alh av am i n c an sav el


m en t e sem sen tir c an saç o e sem p o li ci a n em ,

A n j o da G u ar da a se r en i dade an dav a c om
,

e l e s Z or n
.
q u e,e r a u m v e lh o s a bi o h a vi a al u ,

di do a r edacçã o du m c odi g o p ar a g over n o das


g e r aç o es M a
.s o s an os ti n h am r ol a do so br e o s

di as e el e sem pôr a pri m e ir a p edr a daq u el e


pr oj et ado edi fi ci o de sapi en ci a E q u an do seu.
,

esp í ri t o a el e v olvi a p en sav a ,


a me lh or l ei

é a l ei da vi da ; n ossa c on sci en ci a el e v ou se —

j á mu it o p ar a n ec essit ar de pressã o ; o h omem


é sen h or de si .
JA R D IM D AS TOR MEN TAS

Ora t c
a on ece uq u e n u m da q u el es di as a ,

velh a mã e C on ti m en c on t rou R osa a n et a , ,

e n l açada n u m abr aç o creado r c om J osé o ,

fi lh o mai s n ov o de Z orn P é an t e pé afast ou se .


p ar a n ã o p ert u rb ar su as felici dades e foi dal i ,

c on t ar q u e R osa era mu lh er p orq u e amá ra .

A n oit e o p ai i,
n t err o g o u -
a e se m r eb u ç o e l a ,

c on t ou c omo se p assá ra a gr an de i n i ci açã o á


vi da E m ostr av a-se u f an a ex u b er an te e m
.
,

p ormen ores de dôr e de v ol u pt u osi dad e da ,

q u el e p asso q u e t an t o ou vi ra c el ebrar ! s
o u tr as m u lh e r es .

C on ti m c on vo c ou a f ami li a Z orn e r eu n i dos ,

t odos b e b eram á p u b er dade q u e ac ab av a de


,

decl ar ar se em seu s doi s fi lh os R osa e J osé



.

b eij avam-se f est ej ados da c or di al r ep u b li c a .

E an t es de se sep ar arem Z orn sabi o e doc e , , ,

f al ou ao t ern o re b an h o S i l en ci o ; ap en as de .

t emp os a t em p os q u an do a v oz del e t oc av a
,

n a c eg u ei r a dos h omen s o u n u m a t er n u r a c al

c ada u m b eij o tili n tava en tre os amorosos


, ,

de h orr or p el o p assado c o n fi rman do o p re ,

sen t e .

M eu s fi lh os Et mp
m e osq m
ue nã o v a

l o n ge o m u n do não e ra p ositiv amen te u m a


A R E VO L UÇÃ O 2 99

c oi sa delei t av el . Sem du vi da,


h avi a l á hor as
b oas ,os be ij os tri u n f os re vel ações de b el ez a
, , ,

mas est avam tam c erc adas de pre cipici os e


de an g u sti as q ue o espí ri t o p ar a ati n gi -l as
e xp en dí a u m es forç o ao l ado do q u al el as se

a p resen t av am f u t ei s e mesq u i n h as D ahi o .

ch amarem n as il u sõ es e v olver se em desdem


- —

o ar dor h avi do em c on q u i st a l as O l ado m a u -


.

da vi da era o mai s am pl o aq u el e em q u e se ,

trop eç av a se o olh o n ã o est av a al er ta P assar .

n a vi da r eq u e ri a t an t o t act o c omo atr avessar

u m b osq u e do on de os l e õ es dor mem U m des .

c u i do u n a i m pr u den ci a as p alp ebr as du ma


, ,

féra q ue se abrem mau grado n osso e é se ,


i mm ol ado .

A o r dem soci al era este b osq u edo q ue os


h omen s atr avessav am P assar entre as féras .

sem ser a rr an h ado era a gr an de sab edo ri a .

Se os h omen s an tes de v i r a l u z tiv essem o


sen ti men t o de seu s desti n os e a f ac u l dade de

ser ou n ã o ser a T err a seri a u m l og ar v azi o


,

e i n ert e Mas ach an do se n a vi da u m a se ri e


.
,
-
,

de circ u n st an ci as l ev av a os a t o m ar p osiçã o —

n os doi s c am p os os q u e m an dav am e os u
q e

eram m an dados T odas as an c i as gir av am e m


.

t orn o desta du ali dade As rev olt as faliram ; .

o e g oti smo era m ai s f ort e


q u e o sen ti men t o e
q u e a r az ã o A p en as f.i c av a d e livr e e de n eu
39 0 JA RD I M DAs TOR MEN TAS

tr al o ri so O ri so s i m dav a u m a sombr a de
.
, ,

f eli ci dade n a t erra Ri r de se u s semelh antes


.
'

era sau dav e l e n u m m u n do de i n t ol eran c i as

q u asi t ol er ado .

S i m pl esmen t e c or ri a se o ri sc o de est oir ar


á s g arg alh adas Vê l os p or fó ra emb ai n h ados


.

,

em seu s v est u ari os m ac a br os c om o p u n h aes , ,

era o gr ot esc o ; su r p reh en de l os n a t ei a c om -

p x a do p en sam en t o c omo ar an h as er a de
l e ,

lh es esc arr ar em ci ma .

Ri r er a p oi s a u ni c a f u n çã o ap rec i av el de
t odos os espírit os de el eiçã o ; man dar o est ado
re c omen dav e l a t odos os c erebr os i n t i li gen t es .

Meu p ai era u m au daz i n du stri al q u e exp i o


r av a u ma f abri c a de c an hõ es em E ssen e
gran des t eares n o Br an deb u rg o E r am os dez .

i rm ã os e graç as a p revi den c i a p ater n a desti ,

n ados a man dar A n ossa si gn a foi dif e ren t e


.

aq u i da do n osso C on ti m acc resc en t ou Z orn ,

so rri n do .

C on ti m ab an an do a c ab eç a c on fi rmou
, ,

aq u e l as p al avr as

E ve r dade ; meu p ai era feit or du m


'

myl or d q u e c om p r ára mei a pr ovi n ci a em P or


t u g al E ram os sei s r ap az es e du as r ap arig as
.

e desde meni n os r eg am os a t err a du m su ó r

i n grat o .

P oi s n ós man dav amos, i n u n dan do a


3 02. JARDIM D AS TOR MEN TAS

q ue e mb al av a r e v o lt
asas ; a s r eligi õ es o n a r

c ot i co q u e ador meci a as c ast as .

A c onsci en ci a n ã o en x erg av a doi s p al mos


a dean t e ; a c ada l an c e er a u m a t e i a i n ext ri n
,

c ave l on de se p er di a o en t en di m en t o e sosso
br av a o rac i oc í ni o L ev ar am milh ares d an os
.
'
,

o s h omens a c on den sar a at m os f er a em u e


, q
se m ovi am ; er a t am su btil u e n ã o l h e n o t a
q
v am a u r di du r a e t e m su r da

E
u e l h e n ã o sen
q
ti am as f arp as q u e os dil ac er av am r a p er .

feit a ; o j u í z o h u man o t omara aq u el a direcç ã o


e m arch av a march av a n el a c ada v ez m ai s
, ,

c eg o e c on vi ct o Q u em desil u diri a os h o
.

men s ?
H avi a c oi sas b oas n a t err a h avi a o sol q u e , ,

n asc e o am or q u e des abr o ch a n u m a a l m a


, ,

u m b eij o u e c a n t a e m du as b oc as Mas q u e
q .

s om br as ,q u e tr a iç õ es e m r e do r ? U m a de

E
mi n h as i r m ã s am av a amav a d am or p u ro
'

u m m o ç o f o rt e e sadi o c o mo el a le era .

p obre n ã o sou b er a t omar l og ar en tre os q u e


,

m an dam e a r azã o de f amili a desvi ou a de -

seu ri so n h o q u erer C aso u c om u m armador


.

E
u e ti n h a c e m l e vi a th a n s n o m ar e a v elhi c e
q
n o s an g u e .u v i a a n o seu p al aci o c o m o u m a
-

fl ôr reseq u i da c ort ada da r oseira O amor era


,
.

i st o u ma c oi sa q u ebr adiç a i n sign i fi c an t e n o


, ,

c on c u rso dos i n t eresses A p aixã o era u m .


A RE VO L UÇÃ O 30 3

ar ti go de c omerci o c om o as ch ou ri ç as de
Fr an c for t .

Os doi s mu n dos , sen h ores e se rvos manti


,

n h am-se e m fi l as c err adas Mas a c oh esã o .

n el es n ã o e r a mai o r q u e a dos are aes S er .

tr ansi do q u e os c ort asse el es r an g i aI n afas, ,

t av am se c omo a arei a sob os p assos O mu n do


-
.

dos sen h ores c o m su as c on ve n ç õ es e ra m ai s


t ô l o e pic aresc o e o m u n do dos serv os c om a
,

s u a b esti ali dade m ai s c omi c o e l asti m av el .

A v ai dade n u ns e a i gn o r an ci a n ou tros
l ev av a os a c am b alh ot as e a fl u x os e refl u x os

u f ari a m a pi e dade dos deu ses se o s deu ses


q e ,

se pr eo c u p asse m dos h omen s Os p atri arc as .


,

esse s te rr íc o l as p ac í fi c os e s abi os das pri meir as

e dades ,
t e l os hi am meti do em j au l as c omo
- -

fér as o u c omo energ u men os A h ! o gene ro .

h u man o v ali a se t an t o u ma b oa garg a


, ,

l h ada ! E os h omen s c el ebr av am a o r dem ,

de c an t av am n a de c om p u n h am n a em for

,

mu l as c omo os seu s pr obl em as de sc i en c i a .

N ã o o b st an t e a g u e rr a a f om e a vi ol en ci a
, , ,

a men tir a a c on t orsã o do i n st i n c t o e dos sen


,

t i men t os i n v o c av am a h ar mon i a p reest ab l e


,

ci da e ren di am gr aç as as di vi n dades p el a
dadiva de t am b el a desordem A ver dade
est a v e r dade c omesi n h a q u e é o segr edo da

n ossa sereni dade e n ã o o pr obl ema q u e se


JARD IM D AS TOR MEN T AS

p ou sa á n ossa mel an c oli a n ã o f azi a c ami

n h o T i n h a-se p er di do do m u n do n o di a em
.

q u e o pri m e ir o h om e m de u du as arr o c h adas

em seu i r m ã o Os h om en s pr oc u r av am-n a n o
.

c ompl ex o q u an do el a est ava n a si m plici dade ;


,

pr et en di am c aç a l a a oc u l o e b ast ari a b u sc a l a
- -

c om as m en i n as dos olh os A sc i en ci a cr esci a .


,

al arg av a os h ori z on t es ; o pr ogr esso er a o p ro

gresso N o domín i o m oral an dav a se á s r ec u as


.
-
,

c ada v ez p ar a m ai s l on ge c ada v ez p ar a m ai s,

tr ev as .

Os h om en s e r am assi m en tr e e l es sem p os ,

si b i l i dade de mp reh en dere m e de se c on


se c o

r a arem A o r dem vivi a de st a r e p u l sã o


g ç .
p ro
fu n da en tre os doi s c am p os c omo o ci u me do
amor N e m r ev o lt as n e m a sc i en c i a, n em os
'

.
,

fi l osofos en c on tr ar am o r em edi o p ar a a cri se


das desi n t eli g en c i as O m al era i n v u l n erav el
.

c om o a v on t ade de D eu s .

A fi l an tr o pi a a assi sten ci a p u bli c a e as


, ,

i nstit u i çõ es do b em er am p an ac ea c om q u e
o s se r es pi e dosos e 0 p u l en t os pr o c u r av a m
de b el ar as m az el as soc i aes t al c omo ou t ró ra
os c u ran de ir os as maz el as fi sic as O traç o .

'
d u ni ã o est av a n o resu lt ado p orq u e « a c oi sa ,

em si se p ar a est es er a u m m i st er si n c er o ,

p ar a aq u el es er a sobret u do u m sp ort del eit a


ve l O n de n ã o h ou v esse a esp e c u l açã o t op ar
.
J A R DI M D AS TO RMEN T AS

pl an os , ra en de am
c as c al deir as dos v e l oz es

s teamers e ab al a ,
r am mar fó ra a c on ti n u ar n os
a bi sm os as p es u i z as u e di a a di a lh es res
q q ,

ti t u i am o gl ori oso p atri m on i o das C ivi li sa


ç õ es
.

P aci en t emen t e h avi am esv asi ado alg u n s


p al aci os de seu s preci osos t esou r os U ma c at e .

dr al i n t eir a ti n h a si do arr an c ada das agu as ,

p edra a p edr a g org on a a g org on a ; e ergu i a-se


,

ag or a exc el sa sobr e os m on t es c an t an do aos ,

esp aç os n ã o j á o t e rr or
,
m as a au d aci a dos
,

h om en s Bi bli oth ec as l ab or at ori os c ompl et os


.
,

fô ram salv os m aq u i n i sm os ob edi en t es e i n


,

tri n c ados c omo c or açã o de m u lh er M arm or es .

di vi n os br on z es an on i m os deli c ados l av ores


, ,

da p aci en ci a e do g ost o r evivi am l evan


t ad os do t u mu l o gig an t e A Bel ez a ressu sc i .

t av a v en c en do a c on j u ra dos el emen t os
,
.

N aq u el e di a a esq u adri lh a aerea e a esq u a


dri lh a n av al i am pr o c u r ar as ru í n as du m a das
m ai s op u l en t as ci dades de t odos os t emp os .

O mar ah i c on ti n u av a a vomit ar destr oç os ,

z i mb ori os de p al aci os c o fr es an tig os v agõ es


, ,

l u x u osos on de os ossos ch oc alh avam c omo


t en t os de q u i n o Os h omens expl or av am a
.

gr an de metr op ol e su b mer sa h a mu it os an os ,

p orfi adamen te reh av en do seu s t esou r os d arte '

e de sc i en c i a E era t odo u m ex ercit o q u e a


.
A RE
VO L UÇÃ O 30 7

ia c rdar
a o ,
t rp eci da
en o c no fu n do do o ean o .

Os hi droaerOp l an os v oej á ram t ornej á ram , ,

d olh os f olh ean do as pr o fu n das E l og o q u e


'
.
,

fi x ar am o velh o p al aci o en c an t ad o á b ei r a de
c aes re l u z entes su sp en der am o vô o sob re as
,

on das Os b arc os ac u di r am e u m a t u rm a
.

d h omens eq u ip ou se p ar a desce r aos abi s


'

mos C alç ar am chi n el as de ch u mb o env erg a


.
,

ram c ap ac et es m on str u osos e desap are c e r am

n a ag u a M aqu i n as p ossan t es e de xtr as r u fi á


.

r am en vi an do lh es ar ; o lh os an ci osos li am o
,
-

mostr ador el e ctric o q u e re p eti a os p assos


os tr an ses as li n h as os h au st os dos esc afan
, ,

dri st as .

D u ran te u m q u art o d h or a march a foi


'

reso l u t a e se gu r a D ep oi s o p on teir o sen siv el


.

c omeç ou a marc ar c u rv as p aragens sob re , ,

salt os i n deci sõ es de v on t ade c al afri os n er


, ,

v osos A p u pil a dos m aq u i ni st as ar di a c omo


.

vel as P enosamen te os merg u lh adores c on ti


.

nu a ram a av an ç ar tr op eç an do r astej an do
, .
,

M ei a h or a e su bit amen t e o al arme soou u m


, ,

al arm e fre n e tic o


q u e cl am av a t odas as p u l sa
ções da an g u sti a .

I ç aram-se os m erg u lh adores ; ap en as doi s


desp on t ar am ã fl ôr das on das E de q u ei xaes .
,

a b ater c omo matr ac as c on t ar am u e o v lh


q , e o

p al aci o dos rei s e da c i vi li saç õ es era a t oc a


21
5 05 J A RD I M D AS TOR MEN TAS

du ma f au n a mon str u osa q u e c ei far a du m só


golp e o c om p an heiros .

E n tr et ant o u m a frot a de avi õ es voou p ar a


el es p ar ali sados de dô r e de assom br o E se .

g u n do piq u ete se org an i sou m ai s f ort e , ,

a r m ado de c ar a bi n as e de al fan g es e c om

l am p adas de gran de rai o p ara desc er ao mar


, ,

di sp u ta r aos m on str os as mi g alh as de b el e z a ,

esc á p as das m ã os dos h om en s J osé apres


.
,

t ando-se p or su a am ada j u rou n ã o v olt ar sem


,

o p edaç o m ai s divi n o do sob erb o p al aci o .

A p ear am n o j ardi m f au st oso em q u e as est a


t u as derr u b adas e p arti das hi st ori av am a
derr ot a das v ai dades h u man as Os sati r os as.
,

n i n f as e os gl adi ado r es t oda


, p at u l e a d u lci s

si m a dos p oet as h avi am si do c u spi dos p ar a


,

os li mos e n a su a fri al dade a lv a e r am ir on i as

ac er adas c on tr a a c reaç ã o .

A lg u n s c ran eos ro l ar am aos p és dos h o


men s ; j u n t o a doi s est ava u ma esp ada e
u m p ar de sa b ots do A u ve rg n e Q u al del es .

seri a o do brilh an te o fi ci al e q u al o do h u m il de

a u ver g n at ?

O A rc o do T ri u n fo do C arro u sel estir ava


se so bre o fl an c o arro mb ado c om o u ma fr agil
,

c aix a de p ap elã o Os sol dados i mperi aes e a


.

arr o g an t e q u adrig a de br o n z e f azi am p or

t err a m u til ados esf ac el ados p ar ec en do q u e


, , ,
31 0 JAR DI M DAs TOR M EN T AS

No p avi lhã o D ar u a S al a dos P ri si on eiros


,

B arb ar os e 0 P at eo da E s fi n g e n ã o e r am m ai s
q u e u m m o n tã o de e sc om br os on de c am p os ,

de c o r al fl oresci am A p en as a c ab eç a de
.

M i n e rv a emergi a c o mo u m a ap ari çã o ap az i
gu adô ra .

Os es a an d os
c f r t rep á ram aq u el a c oli n a i n s
pi rada deix an do n os coraes 0 r ast o prof u n do
,

de p assos sobre a n e v e E á en tr ada do C or


.

re do r de P an di v i sá ram u m a b at eri a i n t e i r a

d ol h os vi dr a dos e c h at os c omo al m o fi as mou


E
'
,

resees assest áda c on tr a el es ra ali


, q ue
.

h avi am c aí do os c om p an h eir os sob a chic ot ada


tremen da dos t en t ac u l es dos c efal op odes Os .

m on str os l á est av am em seu c ovil au gu st o ,

de p oi s do b an q u et e n a c arn e dos h omen s .

Fri os, c al an do o sen ti men t o os h om en s ,

re c u á ram e de n ov o desc e r am ao atri o p r o ,

c u r an do esc al ada mai s pr opi ci a O u tr a v ez .

c al c á r am as ci n z as esp ar sas dos estil os re aes .

Os am pl os g u i chets est av am ob stru i dos de


'
v asa e de tr on c os p odri dos d arv ores ; a asa
dir eit a do p al aci o m ostr av a u m a feri da san
g r en t a e n o,s fri s os est
,
at u as d h om e n s
'
il u str e s

man ti n h am se n u m eq u ilib ri o c apri ch oso n u m


-
,

desa fi o á v ertigem .

Ven do n ov amen t e c ort ado 0 p asso n u m ,

c on c i li ab u l o mu do de ci dir am t en t ar a en tr ada
,
A R E VO L UÇA O 31 1

p el o v est íb u lo D en on De g ati n h as mari


.
,

n h an do p el os h om br os u n s dos ou tr os t re ,

p ar am a ramp a alt a de doz e c ov ados en t re ,

c ar du mes de p eixes q u e v oav am E sc orpi ões .

vi é ram p ar a el es fai r an do ; afu gen t á r am n os


,
-

á m ach adada ti n gi n do de san gu e as ag u as


,
.

D esc er am 0 decli ve u m declive br u sc o de


,

ci stern a e p osé ram p é n o vesti ari o O sol o .

est av a c alç ado d oseos h u m an os


'
O p ani c o .

arr eb an h á ra p ar a ali os h omen s em en x u rr ada

e seu s esq u e l et os descr ev i am n a deso r dem e

n o mo nt u ro o p ar oxi smo da f u g a J oi as e oir o .

f ai sc av am sobre 0 ossari o C aveiras b eij a


.

v am-se e c ave i r as m o r di am se T i bi as est a



.

v am cr av adas c on tr a th or ax c o mo l an ç as U m .

c ap ac et e de c ou r ac eir o en t al av a ai n da os
q u atr o ossos du m c ran eo A mort e arrega
.

n h av a os seu s i n fi ni t os ri ct u s h edi on dos .

M ete r am r esol u t amen t e p ar a a g al eri a .

N em u m frem it o n em sombr a de vi da A
, .

t u mu ltu ari a vi da do mar su sp en di a se nos —

h u mb raes daq u e l a n av e on de os h omen s


,

h avi am rec on stit u í do t odo o sol do p ag a


n i sm o. E ra O t em pl o do si l en ci o de fez o i n t er
, ,

dict o p or q u em ? As ab ob adas c onserv am se —

fi rm es a p en as os p eit ori s das frest as h avi am


,

salt ado Os h ero es e os ser es di v i n os da an ti


.

g dade pe rsi sti am e rec t os n os p e destaes Mas


u i .
312 JARD IM DAs TO RMEN TAS

nã o gu ar dav am aq u el e rig or de fi l eir a n o mei o ,

das q u aes os se c u l os p assav am c on t em p lan do .

E st avam mi st u r ados di r-se h i a em assem ,


-

b lei a V en u s Tri t õ es e M art es A V en u s de


, , .

Gn i de con serv av a t oda a v ol u pt u osi dade de


su a li n h a re gi n al de se du ct o r a A Ven u s de .

M edi ci s p ar eci a ap on t ar a o alt o a esc adari a , ,

de mar mor e .

Os esc af an dri st as arr ast ar am as est at u as


p or so br e o o ss ari o q u e r an g e u e se esfari n h ou

c omo grã os de tri g o sob a mó E feit o o sign al .


,

á s esq u adrilh as v olt á ram den tro á c olh eit a


,

i nspir ada E su bit am en t e en xerg áram n o t op e


.

da esc ada q u e a m ã o de A p ol o lh es i n dic av a ,

3 Vi cto ri a de S amothr aci a al an do-se n a an ,

g u st a tri r eme E t odos a u m a se preci pit ar am


.
, ,

p ar a aq u el e si m b ol o q u e rei m p l at ari a o
p r es t í gi o do s h o m e n s .

Dos l ados p o rê m doi s h orr en dos m on str os


, ,

m ari n h os su rgir am esp adan an do a ag u a e


,

v om it an do u m a b ab a de fog o Ti n h am c ab eç a .

e cri n as de c av al o e b arb at an as l arg as c om o


'

asas de ae r o pl an o E desen rol an do se em


.
,
-

an ei s du m a gr ossu r a de r o bl e s os h om en s n ã o ,

lhes vi am a c au da q u e esp adan av a en tre os


m armores .

E l es desc arre g ar am pi n g ar das e abri


as es ,

g ados p o r tr az d Ant i n oíi s e os fri sos de


'
I NDI C E

Vo l u p tu oso mi l agre
A i n versã o sen ti me nt al
S . Gon ç al o

0 t ri un f ar da vi da

O l
so ar de Mon t al v o
h ora de v ésp er as
'
A .

A p él e do b omb o
Tu não fur t arâs .

A l
re v o u ç ã o

n r . AI L L AU D , u m c .
'

Você também pode gostar