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O Homem e a Cultura

24/03/23 Prof. Jorge Freire Póvoas 1


O Homem e a Cultura
 Quais são as diferenças entre o trabalho do homem e o animal? Por
exemplo, entre o "trabalho" paciente da aranha tecendo a sua teia e o
homem que constrói uma estrada?

 O trabalho da aranha não têm história, não se renova. É o mesmo em


todos os tempos, salvo as modificações determinadas pela evolução das
espécies e as decorrentes de mutações genéticas.

 O animal não inventa o instrumento, não o aperfeiçoa, nem o conserva


para uso posterior. Não há nada que se compare as transformações
realizadas pelo homem enquanto criador.

 O homem é um ser que fala e a palavra se encontra no limiar do seu


universo, pois o caracteriza fundamentalmente e o distingue do animal.

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A Linguagem
 Poderíamos dizer, porém, que os animais também têm linguagem. Mas,
a natureza dessa comunicação não se compara à revolução que a
linguagem humana provoca na relação do homem com o mundo.

 A diferença entre a linguagem humana e a do animal está no fato de


que o animal não conhece o símbolo, somente o índice. O índice está
relacionado de forma fixa e única com a coisa a que se refere. Por
exemplo, as frases com que adestramos o cachorro devem ser sempre
as mesmas, pois são índices, isto é, indicam alguma coisa muito
específica.

 O símbolo é universal e flexível. A palavra cruz não tem um sentido


unívoco, o que ela representa no cristianismo não é o mesmo para certos
roqueiros, se usada de cabeça para baixo, adquire outro significado.

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A Linguagem
 A linguagem animal visa a adaptação à situação concreta, enquanto a
linguagem humana intervém como uma forma abstrata que distancia o
homem da experiência vivida, tornando-o capaz de reorganizá-la numa
outra totalidade e lhe dar novo sentido.

 É pela palavra que somos capazes de nos situar no tempo. Lembramos


o que ocorreu no passado e antecipando o futuro pelo pensamento.

 Enquanto o animal vive sempre no presente, as dimensões humanas


se ampliam para além de cada momento.

 A linguagem humana permite a transformação do homem sobre o


mundo e com isso completamos a distinção: o homem é um ser que
trabalha, produz o mundo e a si mesmo.

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O Trabalho
 O animal não produz a sua existência, mas apenas a conserva agindo
instintivamente. Na verdade o animal não trabalha de forma racional, ele
o faz para preservar a espécie.

 No trabalho humano a ação é dirigida por finalidades conscientes, como


uma resposta aos desafios da natureza, na luta pela sobrevivência, de
forma racional.

 Ao reproduzir técnicas que outros homens já usaram e ao inventar


outras novas, a ação humana se torna fonte de idéias e ao mesmo tempo
uma experiência propriamente dita.

 O trabalho, ao mesmo tempo que transforma a natureza, adaptando-a


às necessidades humanas, altera o próprio homem desenvolvendo suas
faculdades.

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O Trabalho
 Pelo trabalho, o homem se autoproduz, enquanto o animal permanece
sempre o mesmo. A existência humana precede a sua essência na visão
existencialista de Sartre.

 O animal permanece sempre o mesmo já que repete os gestos comuns


da sua espécie. Já o homem muda as maneiras pelas quais age sobre o
mundo, estabelecendo relações também mutáveis, que por sua vez
alteram sua maneira de perceber, de pensar e de sentir.

 Por ser uma atividade relacional, o trabalho além de desenvolver


habilidades, permite que a convivência não só facilite a aprendizagem e
o aperfeiçoamento dos instrumentos, mas também enriqueça a
afetividade resultante do relacionamento humano: experimentando
emoções de expectativa, desejo, prazer, medo, inveja, o homem aprende
a conhecer a natureza, as pessoas e a si mesmo.

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Humanização
 O trabalho é a atividade humana por excelência, pela qual o homem
intervém na natureza e em si mesmo, por ser assim, o trabalho é
condição de transcendência, portanto é expressão da liberdade.

 O mundo resultante da ação humana é um mundo que não podemos


chamar de natural, pois se encontra transformado pelo homem, assim
como sua Cultura.

 A palavra Cultura também tem vários significados, tais como o de


Cultura da terra ou Cultura de um homem letrado. Em Antropologia
Filosófica, Cultura significa tudo que o homem produz ao construir sua
existência como: as práticas, as teorias, as instituições, os valores
materiais e espirituais.

 Logo, Cultura é um conjunto de símbolos elaborados por um povo em


determinado tempo e lugar. Dada a infinita possibilidade de simbolizar,
as culturas dos povos são múltiplas e variadas.
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A Comunidade dos Homens
 O homem não se define apenas por um modelo que o antecede, nem é
apenas o que as circunstânciais fizeram dele.

 Ele se define pelo lançar-se no futuro, antecipando por meio de um


projeto a sua ação consciente sobre o mundo.

 Não há caminho feito, mas a fazer. Não há modelo de conduta, mas um


processo contínuo de estabelecimento de valores. Nada mais se
apresenta como absolutamente certo e inquestionável.

 Ao mesmo tempo em que parece ser sua fragilidade (não ter uma
essência pronta) é justamente sua característica mais nobre, por ter o
homem a capacidade de escolher, construir “o que ele vai ser”. A isso a
Filosofia chama de liberdade.

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A Comunidade dos Homens
 O homem é um ser que fala e por meio da palavra e da ação
transforma e é transformado. Por ser a ação humana coletiva, o trabalho
é executado como tarefa social e a palavra toma sentido pelo diálogo.

 O mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por


outros, de modo que ao nascer, a criança encontra o mundo de valores
já dados, onde ela vai se situar.

 A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de sentar,


andar, correr, as relações familiares, tudo enfim se acha codificado. Até
na emoção, que pareceria ser uma manifestação espontânea, o homem
fica à mercê de regras que dirigem de certa forma a sua expressão.

 Podemos observar como a nossa sociedade, preocupada com a visão


estereotipada da masculinidade, por exemplo, vê com complacência o
choro feminino e o recrimina no homem.

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A Comunidade dos Homens
 Cabe ao homem a preocupação constante de manter viva a dialética, a
contradição fecunda de pólos que se opõem mas, não se separam. Ao
mesmo tempo em que o homem é um ser social, ele também é uma
pessoa. Logo, tem uma individualidade que o distingue dos demais.

 A função de "estranhamento" é fundamental para o homem


desencadear as forças criativas e que se manifestam de múltiplas
formas, ou seja, quando paramos para refletir na vida diária, quando o
filósofo se admira com o que parece óbvio, quando o artista lança um
olhar novo sobre a sensibilidade já embaçada pelo costume, quando o
cientista descobre uma nova hipótese.

 O "sair de si" é remédio para o preconceito, para o dogmatismo, as


convicções inabaláveis e portanto paralisantes. A finalidade da Filosofia
é levar o homem para um mergulho dentro do seu próprio ser e ao
retomar dessa "viagem", ele possa entender o significado da existência.

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