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Antropologia Filosófica

O QUE É O HOMEM?

Salvador Dalí, 1943.


• A Antropologia Filosófica é a subárea da Filosofia que trata da natureza mais
fundamental dos seres humanos. Ela subdivide essa questão em outros temas, como:
identidade, pessoalidade, livre-arbítrio e determinismo, constituição humana, natureza
humana, psique, mente, dentre outros.
• A natureza humana é o conjunto de características que os seres humanos têm
independentemente da influência cultural. Já a condição humana diz respeito às
circunstâncias ou contextos que influenciam a nossa maneira de ser e agir.
• O estudo contemporâneo nessa área de conhecimento apoia-se em múltiplos ramos da
ciência atual, como: neurociência, genética, sociobiologia, economia e psicologia,
sobretudo a psicologia evolutiva.
Podemos distinguir pelo menos três maneiras de compreender a natureza humana.

1. Na primeira, as teorias sobre a natureza humana são entendidas como tentativas de


descrever qual é a natureza dos seres humanos em uma acepção ampla. É nesse
sentido que podemos considerar se os seres humanos são apenas animais (abordagem
naturalista), criados por uma entidade divina com uma dimensão espiritual
(abordagem espiritualista) ou animais que possuem algumas propriedades que não
podem ser reduzidas a entidades físicas (abordagem antirreducionista).
• Outra maneira de entender a natureza humana é entendê-la como um conjunto de
propensões ou disposições comportamentais que são traços universais em todas as
culturas. Isso é o que as pessoas geralmente têm em mente quando dizem que
uma ação “é típica da natureza humana”. Elas são maneiras de agir e inclinações
que tendem a ser compartilhadas por toda a humanidade.
• Uma terceira maneira de compreender a natureza humana é considerá-la
individual por dizer respeito a disposições e talentos individuais inatos,
que variam de indivíduo para indivíduo. Nesse sentido, diferentes
indivíduos têm diferentes naturezas individuais que refletem as suas
aptidões predominantes.
• Este tipo de concepção é exemplificado pelo mito dos metais do livro III
da República de Platão. Segundo o mito, todos nasceram da terra e cada
indivíduo tem um tipo de metal misturado na sua alma. Os mais
apropriados para governar têm ouro em sua alma, ao passo que quem é
mais adequado para ser auxiliar tem prata, seguidos daqueles que têm
vocação para serem produtores por terem bronze ou ferro em sua alma.
• Na obra Ideia para uma história comum da humanidade, o filósofo alemão Kant,
(1704-1804) inaugura oficialmente os estudos da Antropologia Filosófica, ao
questionar:
1.O que eu posso conhecer?
2.O que eu devo fazer?
3.O que eu posso esperar?
4.O que é ser humano?
• A concepção kantiano sobre o ser humano rejeita a ideia do homem como um mero
objeto. O ser humano, segundo ele, é um sujeito ativo, racional e com liberdade de
vontade, por isso deve ser compreendido subjetivamente.
POSTURAS DE ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA
MAIS SISTEMATIZADAS NO MUNDO OCIDENTAL
• Monismo imaterial: George Berkeley (1685-1753) considera que há
somente uma realidade espiritual, e nela o homem está inserido.
• Monismo material: o ser humano é mais um animal, ainda que
culturalmente complexo, com a emergência da consciência como variável
de processos biológicos sem haver uma alma ou espírito imaterial.
Proposta por Marx (1818-1883), Nietzsche (1844-1900), Darwin (1809-
1882), Freud (1856- 1939) entre outros.
• Dualismo corpo-mente: o ser humano possui um corpo material e uma alma
racional radicalmente separadas. A humanidade, em sua essência, reside na alma
(a substância pensante), enquanto o corpo é sua substância extensa e substituível
por recomposição. Proposta por Platão, (428-347 a. C.) Agostinho de Hipona,
(354-430 d. C.) Descartes (1596-1650) e Nicolas Malebranche (1638-1715).
• Realismo hilemorfista: há somente uma substância inseparável para o ser o
humano vivente, porém sob dois princípios intrínsecos: a matéria primária é
potencial mas assume forma substancial atual. Para a tradição aristotélico-
tomista, no geral, esses são os significados para os termos corpo e alma. O
aspecto imaterial do ser humano depende do material para adquirir o
conhecimento e viver nesse mundo. Proposta por Aristóteles (384-322 a. C.),
Duns Scotus (1266-1308), Avicebron (XIII) e Tomás de Aquino (1225-
1274).
• Trialismo: distinção entre três fundamentos do ser humano: corpo, alma e espírito. Enquanto
o ser humano compartilha a matéria e a vida com os animais, a consciência seria um terceiro
elemento único. Por vezes, o termo alma refere-se à vida e espírito à consciência, mas há
pensadores que usam esses termos de modo invertido. É uma concepção eminentemente
cristã, derivada de uma leitura literal de Paulo que disse: “E o mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados
irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo“. 1 Tessalonicenses (5:23).
• Proposta defendida por Irineu (130-202), Melito de Sardes (100-180), Justino Mártir (100-
185), Orígenes (185-235), Lutero (1483-1546), Kierkegaard, (1813-1855) e teólogos luteranos
do século XIX.
• Transcendentalismo: postula um espírito universal compartilhado por cada ser
humano em particular. O aspecto subjetivo do ser humano o separa radicalmente
dos objetos. Proposta por Kant, Husserl (1859-1938) entre outros.
• Existencialismo: a existência precede a essência. O ser humano existe no mundo e
com suas escolhas se define como ser ou essência. Proposta por Heidegger (1889-
1976), Sartre (1905-1980) e Gabriel Marcel (1889-1973).
• Estruturalismo e antropologia simbólica: a realidade humana reside em plano
simbólico, boa parte inconsciente. O sentido do ser humano é relacional, moldado
pelas estruturas sociais, relações de poder e teias de símbolos. Proposta por
Cassirer (1874-1945), Jung (1875-1961), Lévi-Strauss (1908-2009), Geertz (1926-
2006)e Michel Foucault (1926-1984).
CONCEPÇÃO DO HOMEM CONFORME PERÍODOS DA HISTÓRIA

A Antiguidade centrava-se em torno do cosmos e encarava o ser humano em conexão


com ela. Na Idade Média era membro de uma ordem emanada de Deus. Na Idade
Moderna o humano firma-se sobre si mesmo, mas predominantemente como “sujeito” ou
razão, sujeito transcendental ou razão panteisticamente absoluta. E no pensamento
contemporâneo o humano tomou consciência da inanidade de tais construções e verificou
haver perdido tudo, incluindo a própria personalidade e que, principalmente, depois de
haver sacrificado a vida do conceito abstrato ilusório, se encontrava agora perante o nada.
• O ser humano é a criatura que está em constante busca de si mesmo, um ser que em
todos os momentos da sua existência deve examinar e escrutinar as condições de sua
existência, isso é seu dever fundamental. Essa estranha mistura de ser e não-ser, o
humano, a mais prodigiosa criatura da natureza, necessita encontrar o sentido da sua
existência, sua essência. Usando um conceito de Heidegger (1889-1976), deve
encontrar sua autenticidade, caso contrário viverá como um barco à vela que segue
para onde os ventos o levam, que nem sempre é a direção mais segura. Tal é a
necessidade humana de identidade frente aos perigos e desafios da existência.
• Outra questão importante diz respeito ao futuro da natureza humana. Os
transhumanistas defendem que poderemos no futuro modificar e aprimorar a
natureza humana com o uso da tecnologia. Argumentam que devemos ser otimistas
diante da criação de um novo animal tecnológico, pois isso nos permitiria superar as
limitações intrínsecas da nossa natureza.
• Os bioconservadores, por outro lado, consideram essa possibilidade de reinvenção
despropositada e perigosa. O desenvolvimento tecnológico da nossa constituição
biológica representaria na realidade a destruição da natureza humana e não o seu
aprimoramento.
REFERENCIAS

• Antropologia Filosófica. Matheus Silva. Disponível em:


https://criticanarede.com/antropologia.html
• https://ensaiosenotas.com/2019/01/09/fundamentos-de-antropologia-filosofica/
• https://medium.com/@leonardo_vaz/a-antropologia-filos%C3%B3fica-468bff191afd

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