Queixada (Tayassu pecari) é classificado como vulnerável pela União Internacional
para Conservação da Natureza, devido à caça excessiva e destruição de seu habitat. Programas de reprodução em cativeiro para posterior soltura tem sido apontados como estratégia para reverter este quadro, porém a baixa fertilidade de machos de queixadas em cativeiro pode dificultar a sua reprodução neste ambiente. Desta forma, a inseminação artificial pode se tornar uma ferramenta para evitar a perda da diversidade genética, porém, ainda são necessárias informações sobre métodos seguros de anestesia para coleta de sêmen nesta espécie. Objetivamos, portanto, comparar reações de queixadas submetidos aos protocolos xilazina/cetamina e acepromazina/cetamina para posterior coleta de sêmen. A pesquisa foi realizada no criadouro científico da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, Bahia, Brasil. Foram estudados 12 queixadas machos adultos, todos nascidos e criados em cativeiro, com idade variando entre 3 e 7 anos. Foram avaliados 2 protocolos anestésicos. No primeiro protocolo, foi administrado xilazina (1,0 mg/kg IM) e, após 15 min, cetamina (5 mg/ kg IM). Após um período de 7 dias, os mesmos animais passaram por um segundo protocolo anestésico, composto pela associação de acepromazina (0,2 mg/kg IM) e, após 5 min, cetamina (5 mg/kg IM). Foram avaliados o tempo e a duração da indução anestésica, o grau de relaxamento muscular, o tempo de recuperação anestésica e a qualidade da recuperação dos animais. Além disso, a qualidade da sedação foi avaliada com base no comportamento do animal. Houve menor tempo de indução anestésica (F1,11 = 22,05; P = 0,001) e menor tempo de recuperação anestésica (F1,11 = 245,1; P < 0,001) nos animais quando submetidos ao protocolo acepromazina/quetamina em relação ao protocolo xilazina/cetamina, promovendo, portanto, rápida recuperação dos animais. Por sua vez, os animais que receberam o protocolo xilazina/cetamina apresentaram período de anestesia quase 4 vezes maior em relação aos animais submetidos ao protocolo acepromazina/cetamina (F1,11 = 1166,1; P < 0,001). Quando submetidos ao protocolo xilazina/cetamina, os animais apresentaram analgesia menor em relação a quando foram submetidos ao protocolo acepromazina/cetamina (Z = 2,52; P = 0,01). Todos os animais anestesiados com acepromazina/ cetamina aceitaram a aproximação do pesquisador (Z = 2,80; P = 0,005) e apresentaram ereção (Z = 1,69; P = 0,091), neste protocolo os animais não apresentaram vocalização (Z = 2,67; P = 0,008) e tentativa de fuga (Z = 2,52; P = 0,012) durante a coleta de sêmen. Após a recuperação anestésica e soltura na baia, nenhum dos animais submetidos ao protocolo acepromazina/cetamina apresentou arqueamento de dorso, ao contrário dos animais anestesiados com xilazina/cetamina. O uso da associação acepromazina/cetamina promove melhor grau de analgesia, qualidade e recuperação da anestesia, e melhores indicadores comportamentais de bem-estar durante o período anestésico e pós- anestésico em comparação ao protocolo xilazina/cetamina visando a eletroejaculação para coleta de sêmen de queixadas.