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Resumo: Espécies com ampla distribuição geográfica como gambá-de-orelha-branca podem apresentar
variações na dieta entre diferentes biomas ou habitats. Por isso, uma das maiores dificuldades a
reabilitação de Didelphis albiventris em cativeiro é a alimentação e nutrição adequada. Deste modo, vem
à importância do conhecimento que o técnico deve possuir sobre os hábitos alimentares e as estratégias de
sobrevivência em vida selvagem, principalmente, as interações entre o animal e ambiente. No presente
relato de caso um gambá, macho que possuía o lado esquerdo do corpo paralisado e com sangramento na
orelha esquerda, e ausência de consumo alimentar. A princípio o animal foi tratado com medicamento e
ofertado uma dieta balanceada, o mesmo apresentou dificuldade em se alimentar, com isso elaborou-se
uma papa que foi administrada até que o animal conseguiu se alimentar de compostos sólidos. Conforme
o tempo e a vivacidade por busca por alimento o animal foi estimulado com enriquecimento ambiental
alimentar, isso promoveu ao animal o deslocamento pelo cativeiro, o fortalecimento dos membros e a
presença de comportamento natural do gambá. Após seis semanas o animal foi reavaliado e constado com
apto ao regresso a natureza.
Palavras-chave: Cativeiro, enriquecimento ambiental, marsupial, nutrição de animais selvagens
Introdução
O gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris, LUND, 1840) é o maior dos marsupiais
brasileiros, de porte médio, pesando de 2,0 a 5,5kg, com coloração cinza, pela combinação de pelos
compridos pretos e curtos brancos, marcantes orelhas claras e uma faixa preta na face, que inclui os olhos.
A maioria destes animais é de hábitos noturnos, desta forma de difícil observação na natureza, sendo os
vestígios deixados (pegadas, fezes e outros), os meios mais eficazes para detectar sua presença (Fonseca,
2003).
Devido à devastação da fauna e da flora, causadas pelas atividades humanas, muitos desses
animais migram para as zonas urbanas e rurais, pois, são nestas regiões que encontram alimentos em
abundância. E a partir do momento que estes animais aprendem a viver em um ambiente artificial criado
pelo homem, tornam-se pragas, pela falta de estudos de alguns seres humanos. Segundo Fonseca (2003),
nestes combates, geralmente o homem envenena e mata também animais que não o prejudicam da mesma
Relato de caso
Foi atendido no CRAS/IMASUL – MS, um indivíduo de Didelphis albiventris, macho, adulto,
sem histórico de acontecimento, cujo apresentava paralisia dos membros esquerdos, presença de sangue
no canal auditivo esquerdo e ausência no consumo de alimento. O mesmo, não aparentava
comportamento agressivo, não se locomovia e permanecia imóvel em todos os períodos, mesmo no
período noturno.
Após a uma avaliação do médico veterinário responsável, deduziu-se ser um trauma cranial que
causou o estado clínico do presente animal. Logo, aplicou 0,5ml de dexa-citoneurin, injetável e
intramuscular. A partir dos cuidados veterinários, pode-se agir no manejo alimentar do indivíduo. No
período matutino foi ofertado um triturado composto por abóbora-paulista, beterraba, cenoura, grão de
milho duro e ração para cachorros, e no período vespertino, a dieta baseou em pedaços de frutos com
casca (banana, maça e mamão), porém o animal não apresentou avidez em consumir a dieta, no dia
seguinte o indivíduo não havia ingerido nada do que foi ofertado, a comida estava intacta.
No segundo dia de internação, no período matutino e vespertino, optou-se em modificar a dieta
desta vez por uma de forma líquida descrita como “papa A” que continha 25 ml de leite baixa lactose,
uma gema de ovo e uma colher de chá de mel. Esta fonte de alimento foi ofertada ao indivíduo com o
auxílio de uma seringa. Mesmo em seu estado clínico com dificuldades locomotoras, o indivíduo aceitou
a alimentação. Desta forma o marsupial conseguiu ingerir 50 ml da papa ao longo do dia. No final do dia
foi ofertada a mesma quantidade de frutos com casca e o triturado do dia anterior. No recinto foi
adicionado galhos com folhas, uma toquinha forrada de soft para diminuir o estresse ao qual ele
enfrentara.
No terceiro dia, observou que o animal tentou se locomover, provavelmente o enriquecimento
pode ter corroborado com a locomoção dentro do recinto. Porém, os frutos com casca e o triturado
permaneceram intactos. Logo, optou-se por mudar sua dieta para a “papa B”, composta por 25ml de água,
um ovo, 1/3 de Aminomix pet - Vetnil® comprimido, ½ banana, ½ maça, um pedaço pequeno de
mamão. A papa B foi ofertada das 8h às 11h e das 14h às 17h, em uma pequena vasilha ao invés da
seringa, para estimular o animal a ter autonomia para se alimentar. Então com o auxílio de luvas de couro,
foi possível manipular o animal até a vasilha, desta forma o animal conseguiu se alimentar sozinho. No
final do dia novamente foi fornecido a mesma quantidade de fruta com cascas e o triturado.
No quarto dia, notou-se a mesma observação de locomoção, porém desta vez o animal tentou se
alimentar dos frutos com casca e do triturado, pois o alimento se encontrava revirado e em menor
quantidade ao que foi fornecido. Devido a este fator, além de manter a papa B no mesmo horário do
Discussão
O presente estudo avaliou o repertório alimentar e clínico de um Didelphis albiventris debilitado
em um Cetas, onde foi possível observar o desenvolvimento deste indivíduo no seu estado clínico, com o
suporte nutricional, alimentar e com medidas através do enriquecimento ambiental, que lhe oferecesse
bem-estar animal, estimulando assim, um comportamento mais próximo ao natural.
O quadro clínico inicial era grave, pois além da paralisia, o animal não ingeria o alimento sozinho.
Com isso, fez-se necessário a utilização de uma fonte de alimento líquida, a fim de oferecer alimentos
ricos em nutrientes, com o auxílio de uma seringa. A medicação e a alimentação foram dois aliados de
extrema importância para a recuperação da sanidade do animal.
Cada componente das duas papas foram selecionadas de acordo com a disponibilidade do
CRAS/IMASUL-MS e seus valores e biodisponibilidade nutricional, a fim de melhorar o quadro do
respectivo animal. E basicamente, os animais necessitam de uma dieta composta por três itens principais:
água, energia e nutrientes como vitaminas, minerais, aminoácidos e ácidos graxos, para a sua mantença.
Observou-se que no terceiro dia o marsupial havia realizado sua primeira tentativa de locomoção,
pois, no período vespertino do dia anterior, inseriu um enriquecimento ambiental composto por os galhos
e folhas por fora de sua toquinha e em torno do recinto. Esses galhos e folhasse encontravam caídos e
revirados. Optou-se por mudar sua dieta para a “papa B”, fazendo uso do Aminomix pet - Vetnil®, pois, é
uma fonte palatável que fornece as doses diárias de vitaminas, minerais e aminoácidos, e como foi
observado que o indivíduo ainda não havia ingerido o alimento sólido, a escolha por trocar a papa foi para
garantir o consumo de nutrientes fundamentais para a mantença do animal.
Na segunda semana de reabilitação, iniciou-se um processo para estimular a locomoção do
marsupial. Com o dedo indicador, alisava o rabo do indivíduo para que ele realizasse o movimento
natural no seu membro, enrolar o rabo no dedo. Constatou que no início o animal apresentava grande
dificuldade de exercer tal movimento natural, porém, à medida que o animal se alimentava,
gradativamente o gambá conseguia executar o movimento com mais força, tanto o rabo quanto as patas.
Na mesma semana, a papa B foi eliminada da dieta do indivíduo, devido ao seu grau evolutivo na
reabilitação ingerindo alimentos sólidos. O uso de enriquecimento ambiental alimentar distribuído no
recinto foi utilizado quando foi observado que o mamífero conseguia locomover sozinho explorando o
cativeiro. O animal conseguiu resolver todos os enigmas do enriquecimento alimentar.
No processo de reabilitação, a maneira com a qual a dieta é ofertada para animais selvagens em
cativeiro, é um dos fatores de maior relevância na elaboração de dietas. Faz com que a alimentação atenda
Conclusão
O gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) foi reabilitado com cuidados clínicos, e
pricipalmente devido aos estímulos alimentar e motor, que foram capazesde reverter o quadro inicial de
paralisia na qual o animal se encontrava. Os ajustes na dieta e a forma de oferta do alimento, bem como o
enriquecimento, foram fundamentais para incitar o animal a explorar o recinto e fortalecer os membros,
até que o mesmo foi considerado apito a retornar a natureza.
Literatura citada
FARIA, A, R, G. Manejo Alimentar e Nutricional de Animais Selvagens para Centros de Triagem. 2011.
FELIPPE.P.A.N.; ADANIA.C.H.Tratado de Animais Selvagens: Medicina Veterinária. 2.ed.v.1.p.Cap 1.
p. 2- 9. 2014
FONSECA, L. E. A.D. Adaptações de Didelphis albiventris, Lund. para o ambiente urbano. 2003.
SILVA, A.R.D.; FORNECK, E. D.; BORDGNON, S.A.D.L.; CADEMARTORI, C.V. Diet of Didelphis
albiventris, Lund, 1840 (Didelphimorphia, Didelphidae) in two periurbanareas in southern Brazil. 2014.