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ESTAÇÃO ZOOTÉCNICA DE ANGÓNIA

MANUAL DE TECNOLOGIAS

Compilação e Arrumação:
Filipe B. Vilela
2010

EZA-Contacto:
-Telefone: 25252041
-Telefax: 25252040

l-ESTRATÉGIA DE SEGURANÇA ALIMENTAR DE RUMINANTES DO SECTOR


FAMILIAR NA ÉPOCA SECA-O caso de Angónia

Por: Filipe B. Vilela

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I-INTRODUÇÃO
EZA/2005

Os animais do Sector Familiar representam cerca de 90% do efectivo nacional. São animais
criados em condições extensivas isto é, a sua sobrevivência depende exclusivamente daquilo que
puderem apanhar no terreno. A qualidade, produtividade e adaptabilidade dos pastos também
dependem das condições agro-ecológicas e climáticas das diferentes regiões do País e, destas
condições dependem os ruminantes e herbívoros de Moçambique. Contudo, alguns factores
influenciam na redução da disponibilidade dos pastos para animais, facto que resulta na baixa
condição corporal dos animais, principalmente na época seca. Por esse facto, alternativas devem
ser encontradas para garantir a alimentação nesse período de escassez.

2-JUSTIFICAÇÃO
2.1-QUEIMADAS DESCONTROLADAS

Durante a época seca que vai de Julho a Dezembro de cada ano, ocorrem muitas queimadas
descontroladas, feitas por garotos e/ou adultos, para a caça colectiva de ratos, coelhos e/ou outros
animais do mato

Algumas queimadas são feitas por garotos a mando dos pais, porque precisam de petisco para
comer com os amigos a volta da bebida tradicional, localmente conhecida por MOA, ou para
servir de caril em casa.

As queimadas destroem desta forma o pasto que os animais precisam para o crescimento,
manutenção, desenvolvimento e produção. Assim, os animais são obrigados a deslocar a longas
distâncias, sem muitas vezes, comer o suficiente para satisfazer as necessidades do seu
organismo.

Porque as distâncias são longas, o animal leva mais tempo a andar e, menos tempo a comer, não
podendo desta forma, produzir leite, crias e, o de trabalho com pouca força para o efeito.

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2.2-REDUÇÃO E ESCASSEZ DE PASTOS NATURAIS PALATÁVEIS

Os pastos naturais espontâneos estão adaptados às condições edafo-climáticas locais e


constituem a base de alimentação dos ruminantes e herbívoros, com a excepção dos de leite e de
trabalho que, precisam de um reforço a base de ração ou, subprodutos de processamento
industrial de concentrados, enriquecidos com sal, ureia e/ou melaço.

Os pastos rebrotam com o início da quedq das chuvas. Crescem e, são palatáveis até Março/Abril
com o conteúdo proteico a situar-se entre 70 a 75% em relação aos outros elementos nutritivos.
A partir de Abril até meados de Maio, há uma quebra do seu valor proteico em 40% devido a
lenhificação e consequentemente a redução da palatabilidade com o aparecimento de outros
elementos. De Maio até as próximas chuvas, há uma perda diária de 0.2% do valor proteico
(Sousa, 1969).

A proteína mantida conservada nos pastos doces é de 2% contra 1.3 a 1.4% nos pastos amargos.
Qualquer dos valores da proteína apresentados, não satisfaz as necessidades do organismo
animal pois, as necessidades diárias de proteína para vacas leiteiras com mais de 500 kg, situam-
se entre 450 a 600 gramas (Figueiredo, 1981). Por esse facto, os animais se sentem obrigados a
deslocarem a longas distâncias a procura de alimentos de qualidade e herbáceos, sem muitas
vezes, satisfazer as necessidades do seu organismo.

2.3-FALTA DE TEMPO SUFICIENTE PARA O GADO SE ALIMENTAR

Habitualmente, o criador confere pela manhã o efectivo do gado e, entrega ao pastor com a
recomendação de que, às 12 horas, deve trazer ao curral, para o pastor tomar a refeição. As 14

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horas o pastor sai, levando o gado de novo à pastagem. Por volta das 16 ou 17 horas, o gado é
recolhido ao curral e, após a conferência do efectivo, termina a responsabilidade do pastor.

Devido ao frio e/ou a nebulosidade que se faz sentir anualmente nalgumas zonas de
Moçambique, os animais saem do curral por volta das 9 horas. Quando os pastos são maduros e
secos e, de fraca palatabilidade, os animais levam mais tempo a andar e menos tempo a comer e,
acto continuo, vão-se definhando gradualmente, sem possibilidades de manifestar as
características típicas do seu potencial genotípico.

Por falta de alternativas de boa pastagem, os animais comem o que apanhar no terreno e, muitas
vezes apresentam-se com a pança volumosa, mas com as costelas visíveis à distância, embora
comendo aparentemente bem. Quando essa manifestação é generalizada, o criador recorre-se ao
técnico da pecuária para resolver o problema. Quando o técnico informa que o problema é da
deficiência alimentar, o criador não se sente satisfeito, porque esperava uma injecção ao seu
gado e, queixa-se às autoridades superiores, da falta de actuação do técnico da pecuária da zona.

Contudo, o criador esquece de que, o animal precisa de 5 horas para comer e, 7 horas para
ruminar, repousando 12,00 horas. Quando o pasto está maduro e seco, a palatabilidade diminui, e
o tempo de consumo aumenta, pelo que o animal deve ficar mais horas na pastagem.

2.4-FALTA DE SUPLEMENTALÃO NO CURRAL DE PERNOITA

Muitos criadores do Sector Familiar não suplementam os animais no curral de pernoita. Contudo,
sentem-se orgulhosos na Aldeia, porque possuir gado bovino, representa poder e prestígio de
presença na comunidade. Julgam que, o que o gado come de forma livre e voluntária na
pastagem é suficiente para as suas necessidades. Muitas vezes, a falta de suplementação no curral
de pernoita, tem a ver com a falta de conhecimento do criador, das diferentes tecnologias de
conservação de forragem para esse efeito.

3-MECANISMO DE APROVEITAMENTO DOS ALIMENTOS FIBROSOS

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Quando o animal vai a pastagem, come o que puder apanhar no terreno. A tendência é comer
rapidamente, para encher a pança/rúmen. A rapidez na apreensão e deglução, prende-se com o
receio que o animal tem para com possíveis predadores.

Quando a pança/rúmen estiver cheio, deixa de comer durante 2 horas, para que se sedimente o
alimento no liquido ruminal e, para iniciar a ruminação. A ruminação ou mastigação acontece,
quando a massa acumulada no rúmen, já humedecida com o liquido ruminal, vem em porções
para a boca. Após a mastigação, volta ao rúmem e, dali segue para o retículo.

Havendo partes do bolo alimentar com fibras, o retículo devolve ao rúmem e, este devolve à
boca para remastigação. O liquido ruminal desempenha um papel muito importante na
degradação das partes duras do alimento, pela riqueza em bactérias, protozoários e fungos.

A ruminação acontece, quando o nível proteico dos alimentos se situar como mínimo, em 6 a
8%. Esse índice estimula a actividade da microflora ruminal, para além do aumento da sua
produção e são constituintes do bolo alimentar. A microflora ruminal degrada as partes duras do
alimento, e com as enzimas dissolve o nitrogénio e alimenta-se com a amónia rica em proteínas.
A proteína neste estado se chama proteína bacteriana. Quando o bolo passa para o
omaso/folhoso é desidratado em 60% do seu conteúdo aquoso. Dali segue para o
abomaso/coalheira, que por degradação química, as bactérias são destruídas e a proteína é
absorvida, para formar a proteína animal (Rocha, 2003).

4-SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA
NA ÉPOCA SECA

Há a necessidade de assegurar que os animais continuem a consumir alimentos,


independentemente das queimadas descontroladas e da própria evolução para a maturação e
lenhificação dos pastos. Muitas vezes, os animais não comem o suficiente na época seca, por
disponibilidade insuficiente de uma pastagem seca e deficiente em elementos nutritivos, para
além da própria hierarquia instalada na manada. Os animais de trabalho, as fêmeas em lactação,

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os vitelos em crescimento, e os animais doentes, necessitam de uma atenção direccionada, para
que cumpram devidamente as suas funções.

Sempre que os animais se recolhem aos currais de pernoita, devem encontrar suplementação
disponibilizada, para o reforço das suas necessidades. Esta prática cria um hábito aos animais
para que, se um animal estiver fora da manada na pastagem e, se não for roubado, quando chega
àquela hora, volta a correr para o curral porque sabe que vai encontrar alguma coisa para comer.

A suplementação com massa verde ou fenos e palhas enriquecidos com ureia, influenciam na
degradação pela acção da microflora ruminal, para melhor aproveitamento dos alimentos
(Lopes,1998). Uma estratégia de fornecimento desses alimentos durante 3 a 4 vezes por semana
nas quantidades de 200 a 300 gramas, são suficientes para estimular a actividade da flora
ruminal, para a realização plena das suas funções.

5-PRODUÇÃO E CONSERVAÇÃO DE FORRAGENS

Existem algumas tecnologias já testadas e que são apropriadas para as diferentes opções do
criador, do maneio e processamento dos diferentes alimentos para os animais durante o ano
inteiro, com especial atenção para a época seca:

TECNOLOGIA-1
MEDAS DE FENO

1.1-Passos a seguir na produção de medas:

-Cortar o capim natural com catanas ou foices, quando tem entre 20 a 25% de floração pois, mais
cedo perde quantidade e, mais tarde perde qualidade.
-Espalhar no terreno para secar, durante 4 a 5 dias.
-Virar com forquilhas ou paus com a ponta em V, para secar completamente.
-Acondicionar em montes de forma circular, com o diâmetro de 2,5 a 3,0 metros, podendo ser
maior ou menor, dependendo do número e capacidade do agregado familiar.

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-Pôr camada sobre camada e, à medida que vai subindo de altura, vai-se afunilando e, calcar, até
a uma altura de 1.8-2,5 metros
-Cobrir com palha de pouco valor, para proteger a meda, de possíveis chuvas esporádicas que,
podem deteriorar o valor do feno
-Duas a três fiadas de corda a volta da meda, impedem que o capim de cobertura se solte com o
vento.
-Limpar a volta da meda, com uma distância de 2 metros, para impedir o acesso de fogo das
queimadas descontroladas.

TECNOLOGIA-2
FARDOS DE FENO

-Abrir uma cova com as dimensões de 40cm de profundidade, 40cm de largura e 50cm de
comprimento. Pode ser uma caixa de madeira com as medidas idênticas às da cova.

-Estender uma corda a todo o comprimento, desde a base até a superfície com os extremos de
fora.
-Uma outra a toda a largura, desde a base até a superfície, também com os extremos de fora

-Encher a cova ou a caixa com capim seco e, calcar para acondicionar mais capim. Unir e atar os
extremos da corda da largura, e depois os do comprimento. Tirar o fardo da cova ou da caixa e,
armazenar num sítio seguro, para reforço alimentar dos animais, com especial atenção na época
seca.

TECNOLOGIA-3
AMONIZAÇÃO DE FENOS E PALHAS

-Para melhorar o nível proteico dos fenos, pode-se diluir 4 a 8 quilogramas de ureia em 28 litros
de água. Com regadores ou pulverizadores, irrigar sobre 100 kg de feno. Pode-se

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preparar de manhã, para suplementar os animais à tarde, quando os animais voltarem da
pastagem. Pode-se irrigar os fenos antes do enfardamento, seguindo o mesmo procedimento, e
guardar o feno em armazém ou outro sítio mais seguro, longe do acesso de fogo das queimadas
descontroladas. Acontece que, quando os animais não estão habituados a ureia, deve-se utilizar
30% da ureia na primeira semana, 60% na segunda semana e 100% na última semana de
habituação (Monteiro, 1998).

-O mesmo procedimento para as palhas de arroz, milho, sorgo, mexoeira e outros restos da
machamba. Para além da ureia, pode-se adicionar melaço, a razão de 1 kg para 5 litros de água.
Quando não se faz essas artimanhas para as palhas, os animais levam 1 hora para consumir 1 kg
de palha, e 2 horas para digerir esse volume consumido, com envolvimento de gasto de energia.

-No caso de possível intoxicação com a ureia, os sinais típicos a apresentar seriam:
-salivação
-tremores musculares
-micção e defecação constantes
-patas rígidas
-descoordenação locomotora

Intervenção-Introduzir pela boca, 4 a 6 litros de vinagre para baixar o pH e, repetir a operação 3


horas mais tarde, caso persistir com os distúrbios. Também pode-se utilizar água bem fria,
forçando o animal a beber ou, mesmo introduzindo pela boca, para baixar a temperatura.
Ocorrendo timpanismo, utilizar anti-timpânicos ou recorrer-se ao médico veterinário.

TECNOLOGIA-4
FARELOS E FARINHAS

-Segundo Monteiro (1998), o farelo/farinha é subproduto de processamento industrial dos


concentrados e, são usados como suplementação. O teor de fibra é baixo, entre 4 a 8%. Utiliza-se
para os animais, enriquecido com ureia, a razão de 3 a 4 kg de farelo/farinha para cada 100

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gramas de ureia. Devido a existência de açucares de fácil fermentação, para fácil digestão, não
se deve disponibilizar em quantidades durante várias vezes pois, pode alterar o ph do rúmem,
podendo provocar timpanismo, pelo que se aconselha associar ao feno a razão de 60% de feno
para 40% de farelo/farinha.

TECNOLOGIA-5
SILAGEM

A silagem é um alimento verde que se conserva em verde, para reforço alimentar de animais
durante todo o ano, com maior atenção na época seca. Durante a época das chuvas, há muita
disponibilidade de capim natural verde. É nessa altura que se aproveita, para produzir a reserva
alimentar na forma de silagem.

A altura propícia para a silagem é quando tiver entre 30 a 35% de matéria seca. Quando o teor da
matéria seca é alto, torna-se difícil a compactação e cria bolsas de ar, que deterioram o valor da
silagem.

-A silagem é fornecida em pequenas quantidades, podendo ser de uma mão cheia por animal,
durante 3 a 4 dias por semana, para facilitar a digestão e, aumentar o consumo voluntário. Para as
vacas leiteiras, deve-se disponibilizar diariamente, entre 2 a 2,5 kg de matéria seca de silagem
para cada 100 kg de peso vivo animal (Monteiro,1998).

5.1-Procedimentos na produção da silagem:

-Abrir uma cova com as dimensões de 1m de comprimento, 1m de largura e 1m de profundidade,


podendo ser maior, dependendo do número e da capacidade do agregado familiar e, do número
de animais a suplementar. Colocar no fundo, pedras ou capim de pouco valor.

-Preparar uma solução de 1,0 kg de sal e 1,0 kg de açúcar, num balde com água. Com um pau,
vai-se mexendo até que dilua o sal e o açúcar.-Cortar o capim natural verde e, picar nas
dimensões de 2 a 3 centímetros. Deitar capim picado, fazendo uma camada de 15 a 20

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centímetros que se compacta, para libertar o ar e, acondicionar mais capim. Pode-se utilizar
milho ou capim elefante e mesmo a cana -de -açúcar para o efeito.

-Com uma vassoura de palha que se introduz na solução, vai-se molhando a superfície de cada
camada posta e calcada e, assim sucessivamente até acima do nível do terreno, formando uma
superfície abaulada.

-Pode-se usar farelo na falta da solução referida. A utilização de melaço e ureia, aumenta a
fermentação e melhora o teor energético, para além de elevar o teor proteico. A quantidade de
ureia a utilizar é de 1 kg para 5 litros de água, podendo usar com melaço e, regar de forma
homogénea sobre a massa que está a ser ensilada (Monteiro,1998).
-Pode-se usar a ureia, quando a silagem está pronta para os animais, utilizando 5 kg para 1000 kg
de silagem.

-Cobrir hermeticamente com palha de pouco valor ou com um plástico. Finalmente pôr terra
para libertar o ar. Passados 25 a 30 dias, já se pode utilizar a silagem para a suplementação dos
animais.
-Deve-se ter o cuidado de fechar o silo, sempre que tirar para os animais, para evitar que liberte
todo o cheiro atractivo aos animais, assim como a possível alteração da qualidade da silagem.

TECNOLOGIA-6
BANCO FORRAGEIRO

-O banco é um lugar onde se guarda o dinheiro. Quando precisamos, vamos levantar uma certa
importância para as nossas necessidades. O mesmo acontece com o banco forrageiro.

- 0 banco forrageiro é uma reserva de forragem que, vamos buscar, cortando determinada
quantidade para o reforço alimentar dos nossos animais. Tem o mesmo efeito que a silagem,
com a diferença de que, para o banco forrageiro, plantamos árvores, arbustos e/ou gramíneas que
se mantêm verdes na época seca. Para o banco forrageiro, podemos usar amoreiras, leucaenas,
gliricídias, capim elefante, cana- de -açúcar e, muitas outras espécies.

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- Podemos plantar a volta da casa, nos limites do quintal e mesmo dentro do próprio quintal ou,
numa área da pastagem destinada a esse propósito. Durante a época seca, cortamos e
disponibilizamos aos animais, para reforço alimentar e, também para facilitar a digestão e, para
aumentar o consumo voluntário.

6.1-Como estabelecer um banco forrageiro

-Quando o banco é com leguminosas arbustivas é preciso semear em cartuchos de plástico ou,
cartuchos feitos com a casca das bananeiras ou, nos vasilhames que tinha o mal-coado/chibuku.
As amoreiras não são leguminosas, mas são forrageiras e, podem ser estabelecidas em bancos.
Os frutos são muito apreciados por crianças e, isto constitui uma vantagem para a adopção da
tecnologia.

-Quando tiverem uma altura entre 15 a 20 centímetros, pode-se plantar no local definitivo, com
as distâncias de 2 metros entre as linhas e de 2 metros entre as plantas na linha. Deve-se cortar a
haste principal a uma altura de 1.2 metros acima do solo, para evitar o sobrepastoreio e posterior
regeneração, quando fizer pastoreio directo por 15 a 20 minutos, para consumo directo. Pode-se
cortar os ramos e disponibilizar aos animais na época seca, como suplementação estratégica.

Durante a época chuvosa, haverá muita disponibilidade de massa verde, pelo que a massa dos
bancos pode ser utilizada para enriquecer a silagem.

-O capim elefante e a cana-de-açúcar podem ser usados para bancos forrageiros, devendo cortar
quando tiver uma altura de 1.5 a 1.6 metros, deixando uma reserva de 0.3 a 0.4 metros acima do
solo, para facilitar o tempo de rebrote. A plantação é feita com estacas na época chuvosa ou a
qualquer altura do ano, quando há possibilidades de irrigação.

TECNOLOGIA-7
CACTO

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-Nas zonas semi-áridas, pode-se estabelecer bancos a base de Cactos. Plantar as raquetas com 15
a 20 dias antes das chuvas pois, durante as chuvas podem apodrecer pelo excesso de água. O
cacto forrageiro tem 86.7% de água e 13.3% de matéria seca. A matéria seca tem cerca de 4.5%
de proteína e 56% de nutrientes digestíveis totais (Neto et al, 2005)

-Devido ao conteúdo aquoso bastante elevado, pode ser uma contribuição para as zonas semi-
áridas, para atenuar a escassez de água para os animais.

-Para disponibilizar aos animais, deve-se cortar os espinhos (quando tem), e a palma cortada em
tiras com o comprimento da metade da palma da mão e, também do dedo mais comprido da mão.

Secar ao sol, para reduzir o conteúdo aquoso em 60%. Pode-se disponibilizar directamente sem
precisar de secar, devendo associar com feno, silagem ou palhas, para aumentar o consumo
voluntário da matéria seca, a fim de evitar diarreias.

O sisal também pode ser utilisado para a suplementação animal na época seca. Para o efeito,
deve-se cortar as folhas em tiras pequenas, secá-las para reduzir o conteúdo aquoso em 60% e,
disponibilizar em pequenas quantidades para os animais ou, misturar com outros alimentos.
Pode-se também aproveitar as raspas de sisal nas fábricas de cordoaria. Por ser alimento novo, os
animais não apreciam muito, pelo que há a necessidade de irrigar com uma solução de sal diluído
em água. Uma vez habituado ao consumo, deve-se retirar gradualmente a solução salina, para
que os animais possam continuar a consumir sem artimanhas.

TECNOLOGIA-8
APETISADOR

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-Muitas vezes, apesar da disponibilidade do capim seco e/ou capim verde, os animais apresentam
pouca vontade de comer por falta de apetite. Uma das formas de estimular o apetite, para
aumentar o consumo voluntário, é disponibilizar o sal. Para evitar o consumo excessivo que
pode resultar em intoxicação e morte, a Estação encontrou uma forma que é, de disponibilizar
em forma de blocos minerais

8.1-Procedimentos na produção do apetisador

Pesar 4 kg de cimento ou argila


Pesar 2,5 kg de sal
Pesar 1,0 kg de farelo
Pesar 1,0 kg de açúcar
Água : Depende da necessidade da massa, podendo ser 0.8 a 1 litro de água (usar a experiência
do pedreiro)

-Juntar o cimento e o farelo num chão de cimento ou numa chapa lisa de zinco. Com uma pá,
misturar e revolver várias vezes, até que a mistura seja homogénea.

-Num balde ou bacia, juntar o sal e o açúcar. Juntar água aos poucos e, vai-se mexendo com um
pau, com o objectivo de diluir todo o açúcar, não importando se diluiu na totalidade o sal.

-Levar a solução e juntar a mistura de cimento e farelo. Com uma pá, vai-se mexendo para a
massa ficar homogénea e pastosa.

-Colocar a massa numa forma que, pode ser uma panela partida , um balde ou uma bacia.
Também pode ser nas formas usadas no fabrico de blocos de construção.

-Antes de a massa ficar dura, furar num dos extremos com arame ou pau fino, para fazer passar
por uma corda, quando ficar seco, para pendurar no curral.

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-Quando os animais lambem, facilita a digestão, aumenta o consumo voluntário e pode continuar
a dar na época seca, leite, crias, força para o trabalho e estrume.

TECNOLOGIA-9
-MELHORAMENTO DE PASTOS NATURAIS

-Os pastos naturais espontâneos estão adaptados às condições agro-ecológicas e climáticas de


uma determinada região. Rebrotam e desenvolvem e constituem a base de alimentação dos
ruminantes e herbívoros

-Devido as queimadas descontroladas que acontecem anualmente, destroem o banco de


sementes, resultando em fraca produção, dando oportunidade a invasão arbustiva. Uma utilização
por animais anualmente, sem possibilidades de rotação, influi também na baixa produtividade.
Em Moçambique, o encabeçamento é de cerca de 5 hectares como médio para uma unidade
animal com o peso médio de 250 kg .

-A introdução das culturas de rendimento e, a melhoria dos preços de alguns produtos agrícolas,
a facilidade de escoamento pela melhoria das vias de acesso, tem criado algum conflito entre
criadores e agricultores, pela ocupação para machambas, das áreas que eram de pastagens
comunais.

-Devido a fraca produtividade das pastagens, aliado a fraca composição botânica, obrigam os
animais a deslocarem a grandes distancias, invadindo áreas alheias que resultam muitas vezes em
conflitos.

-O melhoramento visa aumentar a produtividade e a qualidade, através da introdução de espécies


mais produtivas e palatáveis, para que o animal se satisfaça dentro duma área de 2 a 3 hectares
durante o ano, sem esquecer a disponibilização de áreas adjacentes para uso rotacional, dando
oportunidade para novo rebrote.

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-Recorde-se que os animais consomem por dia 3% do seu peso vivo em matéria seca e, 10 a 12%
do seu peso vivo em matéria verde. O estabelecimento e melhoramento duma pastagem, tem em
atenção o número de animais previstos, a capacidade de consumo, a produtividade e, áreas para
uso rotacional.

9.1-Procedimentos para pastagens melhoradas:


9.1.1-Melhoramento por cultivo

-Lavrar uma área, retirando tudo o que havia e, semear novos pastos de boa produtividade
(panicum, braquiária, urochloa, cencrus), boa qualidade e palatáveis durante o ano inteiro.
Devem ser pastos em que há mais folhas em relação as hastes. As operações agrícolas,
adubações, amanhos culturais e, outros cuidados são idênticos aos dispensados para uma cultura
alimentar.

9.1.2-Melhoramento por reforço

Existem duas modalidades:


-A primeira é respeitar o que existe de pasto natural, introduzindo para reforço da qualidade e
produtividade, outras espécies previamente identificadas e que reúnam os índices necessários.
Para além disso, pode-se introduzir leguminosas rasteiras e arbustivas (desmodium,
macroptiloma, siratro, stylosanthes, desmanthus) que em principio devem representar cerca de
40% do pasto natural. Uma prática fácil de realizar é proceder uma queimada controlada ou fria
e, pouco antes das chuvas, proceder o lançamento das sementes que, infiltrando-se nas cinzas,
rebrotam com as chuvas.

-A segunda modalidade é abrir faixas paralelas a todo o comprimento da área, com larguras de 5
metros e distanciadas de 5 em 5 metros. Nas faixas lavradas, semear pastos com o mesmo
procedimento no melhoramento por cultivo.

6-CONSIDERAÇÕES FINAIS

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-O presente trabalho destina-se para uso dos técnicos da pecuária e extensionistas, que trabalham
directamente com os criadores do Sector Familiar no campo. Um dos problemas que enfrentam
no seu dia-a-dia, prende-se com a falta de informação da necessidade de intervenção pontual,
para assegurar uma estratégia alimentar de ruminantes na época seca.

-O documento serve também para uso das instituições vocacionadas na formação, transferência e
disseminação de tecnologias, para os potenciais beneficiários.

-O criador do Sector Familiar, interessado na gestão dos alimentos para a observância da


segurança alimentar dos seus animais na época seca, a presente informação pode ser válida e
importante para as suas pretensões.

-A presente informação e fotos resultam da compilação das acções praticas de rotina da EZA,
melhoradas e enriquecidas com informação bibliográfica consultada, com aspectos que
condizem com a nossa realidade.

7-GLOSSÁRIO DE ALGUNS TERMOS USADOS

Pasto–Todo o material que o animal consome de forma livre e voluntária na pastagem, composto
de gramíneas e de leguminosas rastejantes/trepadeiras e arbustivas.

Pastagem–O lugar onde existe, cresce e desenvolve o pasto.

Feno–Capim que o homem corta, deixando secar no terreno e, processado em fardos ou medas,
com o propósito de utilizar para alimentação do gado. Quando não é para esse propósito, toma
apenas o nome de capim.

Massa seca–Tudo o que se corta e se deixa secar (gramíneas e leguminosas), que depois vem
assumir o nome de feno.

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Matéria seca–Tudo o que o animal consome de forma livre e voluntária, em função das suas
necessidades.

Silagem–Tudo o que se corta em verde e se pica em verde (massa verde), para conservar em
verde, para alimentação dos animais, com maior atenção na época seca.

Massa verde–Tudo o que se corta em verde, que pode ser fornecido directamente aos animais ou,
conservado em verde no silo, para utilizar mais tarde.

Silo–Lugar onde se guarda/conserva a silagem.

Forragem–Tudo o que semeamos ou plantamos, assim como o natural e espontâneo que, o


homem intervém, com o propósito de cortar para fornecer aos animais, quer em verde ou quer
em seco.

Ruminantes–Bovinos, caprinos e ovinos. O alimento quando é consumido, vai directamente a


pança/rúmen. Em descanso, faz voltar a boca para mastigar/ruminar.

Digestão–Quando o alimento é consumido, uma parte vai influenciar no crescimento,


desenvolvimento e produção e, a outra parte é eliminada em forma de estrume.

Deglução–Acto de engolir alimentos

Produtividade–A quantidade de matéria seca produzida num hectare, que o animal pôde
consumir de forma livre e voluntária.

Suplementação–Acto de suplementar. Disponibilizar forragem no curral, para reforço daquilo


que o animal consumiu de forma livre e voluntária na pastagem.

Sobrepastoreio–Muitos animais que utilizam várias vezes a mesma pastagem, não dando
oportunidade para brotação, produção de sementes e aumento de disponibilidade de pastos.

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Micção–Acto de eliminar impurezas pela urina

Defecação–Acto de eliminar restos de alimentos que não são utilizados para as necessidades do
organismo.

Palatabilidade–O paladar, o gosto ou sabor do alimento que se sente na boca, ao mastigar.

Edafo–climáticas–As condições do solo e clima de uma determinada zona, onde os pastos se


adaptam, crescem e se desenvolvem.

8-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

-Sousa, J.M. (1969). Anais dos Serviços de Veterinária, número 10/12.

-Figueiredo, O .(1981). Curso de pastos melhorados e produção de forragens pata técnicos


básicos de pecuária, p. 3-10.

- Rocha N. C (2003). Digestão dos ruminantes, p. 1-3.

- Lopes, H. S. (1998) Suplementação de baixo custo para bovinos, p. 99-120

- Monteiro, O. V. (1998) Alimentos e alimentação do rebanho leiteiro, p. 103-118

-Neto et al (2005). A importância da utilização da palma forrageira como alimento para o gado
na época de Verão, p.1-2

Contacto : Filipe B. Vilela


Telemóvel : 823186230
e- mail : filipevilela2000@yahoo.com.br

18
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ll-INFLUÊNCIA DO ADUBO ORGÂNICO NO AUMENTO DA PRODUÇÃO DE MILHO
EM ANGÓNIA

Resultados preliminares

Por :
Filipe B. Vilela (EZA/GPZ) e Damião Pitala (Extensão Rural de Angónia)
2007

1-Introdução
1.1-Localização geográfica, clima e solos do Planalto de Angónia

O planalto de Angónia é uma extensão da mancha planáltica da Província de Tete que, começa
em Zâmbwe/Fíngoe, abrangendo a alta Macanga e grande parte de Angónia. Uma mancha com
altitude de cerca de 1300 metros acima do nível médio do mar e, com a temperatura média anual
a oscilar entre os 18 a 22 graus centígrados e a humidade relativa de 70 a 80%. A precipitação
média anual situa-se em 1.678,2 milímetros.

Segundo Júnior, Cunha e Fernandes (1962), os solos do planalto de Angónia pertencem a terceira
grande mancha de Tete e, são ferralíticos de cor vermelha, bastante friáveis e, sem concreções
ferruginosas. A sua vegetação é composta por Brachystegia, Isoberlínea globiflora, Parinari,
Caractellifolia, Protea sp, Faurea sp e outras, com o estrato graminal composto por Hyparrhénia,
Cymbopogom. Setária, Eragrostis, Panicum, Urochloa, Chloris, etc...

As condições agro-ecológicas e climáticas do planalto, favorecem a produção diversificada das


culturas alimentares devido a queda regular das chuvas, para além do planalto ser bastante
recortado por rios e riachos que garantem uma produção a qualquer altura do ano. Por essa razão,

20
Angónia era tido como o celeiro da Província de Tete. Contudo existem factores que são
predisponentes para a redução da produtividade das diferentes culturas alimentares de ano para
ano, nomeadamente a perda de minerais dos solos, o aumento crescente dos preços de adubos e,
a descapitalização dos camponeses por falta de mercado de colocação de excedentes da sua
produção.

2-Justificação

2.1-Perda e/ou esgotamento de minerais dos solos

As queimadas descontroladas que acontecem anualmente no planalto de Angónia, feitas por


garotos e/ou adultos para a caça colectiva de ratos, coelhos ou outros animais do mato, destroem
extensas áreas de pastagem, florestas, áreas agrícolas e outros bens. As queimadas destroem
também a matéria orgânica, tornando os solos mais soltos, fracos para a agricultura e
susceptíveis à erosão, pela perda da propriedade coloidal. As chuvas intensas que caem
anualmente, lavam e lixiviam os nutrientes do solo para as zonas baixas e, pouca ou nula
transferência para as plantas (Sousa,1969), razão das necessidades anuais de adubação dos solos
para obter bons rendimentos.

A utilização intensiva da mesma área sem alternativas de uso rotacional, predispõe o


esgotamento das reservas nutritivas do solo, resultando nos baixos rendimentos da cultura
alimentar colhidos anualmente.

Quando se criou o Complexo Agro-Industrial de Angónia (CAIA) após a Independência de


Moçambique e, a formação da sua rede de Extensão Rural, para a promoção de uso de
fertilizantes químicos para aumentar a produção e da produtividade das diferentes culturas
alimentares, foi uma alternativa face aos baixos rendimentos colhidos anteriormente. Essa
promoção feita pelo CAIA, tornaram muitos camponeses dependentes no uso de fertilizantes
químicos.

2.2-Perda ou redução de poder de compra dos camponeses

21
Quando acabou o CAIA por causa da guerra, acabou-se também a promoção de uso de
fertilizantes químicos. Começou-se o declínio da produção e da produtividade das culturas
alimentares. Com o andar do tempo, os produtores encontraram dificuldades na colocação dos
excedentes da produção agrícola nos mercados. A baixa ou nula agressividade do Instituto de
Cereais de Moçambique na compra dos excedentes, reduziu a vontade dos camponeses no
aumento das áreas agrícolas, optando por cultivar áreas, cuja produção satisfaça apenas as
necessidades anuais da família em sementes e em alimentos.

Contudo, toda e qualquer área a cultivar para a produção de alimentos, no planalto, necessita
sempre de adubação inorgânica, uma experiência que
alguns camponeses adquiriram com a rede de Extensão Rural do Complexo Agro-Industrial de
Angónia ou, outras experiências anteriores. A deficiente ou falta de uma rede de comercialização
agrícola, descapitalizou o Sector Camponês na aquisição de adubos inorgânicos, razão da baixa
produtividade da cultura principal da sua alimentação que é o milho. Assim se assiste aos
rendimentos baixos dessa cultura, que oscilam entre 800 a 900 kg por hectare colhido.

Devido a fome que afecta periodicamente a população por causa da queda irregular das chuvas, o
Governo tem motivado a produção das culturas de ciclo curto, culturas tolerantes à seca e, a
retenção de água em represas para a produção de alimentos e abeberamento de animais durante o
ano. Também criou alguma rede de comercialização, para repôr a economia rural. Para o efeito,
melhorou as vias de acesso a todas as partes do Distrito. Contudo, o aumento crescente dos
preços dos adubos químicos constitui factor limitante para a sua aquisição, para influenciar no
aumento da produtividade das culturas alimentares.

3-Objectivos

O presente trabalho visa:

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a)-Contribuir para a melhoria da produção agrícola atravês da aplicação da tecnologia de
produção de adubo orgânico, para garantir a segurança alimentar e aumento da renda familiar.
Para o efeito, fazer a demonstração prática pela via de treino, das fases da tecnologia da
produção e aplicação do adubo orgânico nas machambas.
b)-Comparar o rendimento de milho com aplicação de adubo orgânico, com às machambas sem
aplicação de adubo.
c)-Comparar também o rendimento de milho com adubo orgânico, com as colheitas obtidas
atravês da aplicação de adubo químico.
d)-Fazer a demonstração dos custos de produção de adubo orgânico, com os custos de aquisição
de adubo inorgânico.
e)-Elaborar panfletos divulgativos, demonstrando o adubo orgânico como uma alternativa aos
adubos inorgânicos, para famílias camponesas com fracos poderes financeiros.

4-Materiais e métodos

A Estação Zootécnica de Angónia localiza-se no planalto de Angónia, a 14-40' latitude sul e


34-20' longitude este. Ocupa uma área de 3.600 hectares. Dentro desta área desenvolvem-se
diversas actividades com destaque para a componente de produção animal. Pela sua localização
no meio rural, a EZA tem feito a divulgação de Tecnologias de Segurança Alimentar de
Ruminantes do Sector Familiar na Época Seca para criadores circunvizinhos.

Nessas ocasiões, vem acompanhando algumas vezes a queixa da falta de dinheiro para a compra
de adubos para melhorar a produção agrícola. A Estação assumiu isso como mais um
constrangimento à produção agrícola, que carece de uma resposta apropriada para o camponês.
Essa informação já havia sido disponibilizada pela Extensão Rural.

Assim, iniciou em 2002 a produção de adubo orgânico em cova aberta no solo que, serviu muitas
vezes como uma componente de tecnologias a transferir aos criadores que vinham
individualmente ou, enquadrados em Instituições do Governo ou em ONGs, para receber treinos.

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Tem por objectivo, influenciar no uso da tecnologia para o aumento das produções, como
alternativa disponível e acessível para os camponeses com fracos poderes financeiros.

Na Campanha Agrícola de 2005/2006, o GPZ-Sub-Região do Planalto financiou a divulgação da


técnica de produção de adubo orgânico, atravês de 16 demonstrações práticas realizadas em
coordenação com a Extensão Rural de Angónia que, resultaram em 160 adopções voluntárias.
Em 2006/2007, com a divulgação feita atravês de 48 demonstrações práticas resultaram em 297
adopções voluntárias. Paralelamente às acções no terreno, as divulgações atravês da Radio
Comunitária de Ulóngue em língua local foram feitas durante 2 meses.

Havia camponeses que experimentavam a produção atravês da escuta da Rádio Comunitária e,


ficavam com alguma dúvida que, justificavam a deslocação à Sede do GPZ-Planalto ou a DDA
de Angónia, para os esclarecimentos necessários. A acção consistia na abertura de uma cova com
uma profundidade de 1 metro e, a largura e o comprimento a depender da capacidade de trabalho
do agregado familiar. Contudo, as dimensões utilizadas nas demonstrações foram de 1m de
comprimento, 1m de largura e 1m de profundidade. Uma vez aberta a cova, coloca-se no fundo
uma camada de palha de milho, de feijão ou de capim até a uma espessura de 30 cm, o
equivalente a medida do comprimento do pé. Uma camada de terra com a mesma espessura em
cima da palha. Havendo estrume, pode pó-lo a seguir a terra. Não havendo estrume, também não
constitui limitante, bastando alternar palha e terra. O importante para acelerar a curtimenda é
deitar um balde de água à cada camada posta.

Alguns camponeses conseguiram produzir adubo orgânico em 2 a 3 covas com o dobro ou o


triplo das dimensões mencionadas. Uns tiravam o composto quando estivesse curtido e, outros
tiravam quando estivesse meio curtido, completando a curtimenda fora da cova. Há outros que
faziam artimanhas, colocando na cova, farelo para atrair muchém para acelerar a decomposição
do material vegetal, encurtando desse modo o tempo de curtimenda para 30 a 35 dias. Assim
tiravam para fora e, voltavam a produzir na mesma cova, para aumentar as quantidades que
necessitam para a área destinada a produção de culturas alimentares. Os restos de hortícolas, as
folhas de leguminosas rastejantes ou arbustivas servem para a produção de adubo orgânico.
Quando a cova estiver cheia, introduzir muita água. Estando a lavar pratos e panelas, essa água

24
serve para lançar na cova de adubo orgânico. Deitar água semanalmente, sempre que se verifica
redução da humidade.

Um dos indicadores da existência de humidade é a presença em crescimento de plantas ou ervas


frescas e tenras. Quando mostram sinais de murchidez, significa redução da humidade. Alguns
camponeses cobriam a cova com palha, para conservar a humidade, espreitando de tempos a
tempos, a necessidade de rega para manter a humidade. Também pode-se introduzir um pau fino
e, verificar se está húmido. Estando seco, torna-se difícil a sua penetração.

4.1. Duração da formação do Adubo Orgânico

A duração da formação do adubo orgânico, de uma forma geral é de 90 a 120 dias. Esse período
está em função dos materiais usados na produção do composto orgânico. As palhas de milho e de
capim levam mais tempo para entrar em decomposião, comparativamente aos materiais a base de
palhas verdes de feijão, amendoim, soja ou, matéria verde de outras leguminosas.

Ao fim de 90 a 120 dias, deve-se cavar o conteúdo da cova para fora e, revolver várias vezes
com pá ou enxada, para ficar bem misturado. Outra forma de ter a certeza de que o adubo
orgânico está bem formado ou curtido, isto é, a matéria vegetal está completamente putrefacta e
desfeita, é colocar uma estaca no meio da cova, no momento de enchimento. Aos 90 a 120 dias,
arrancar a estaca para verificar se a ponta está podre. Quando isso acontece é porque o adubo
orgânico está devidamente formado.

4.2-Formas de aplicação

A Extensção Rural demarcou uma área de 1.000 metros quadrados em cada um dos 8
camponeses seleccionados para o grupo de ensaio. Igual área foi demarcada também em cada um
dos 8 camponeses que não aderiram a tecnologia e, serviu de testemunha do ensaio. A cultura
utilizada foi o milho PAN-67, com adubo e sem adubo. Nas machambas identificadas pela
Extensão Rural, os camponeses aplicavam duas mãos cheias de adubo orgânico por cada pé de
milho.

25
5-Resultados e discussão

O grupo de 8 camponeses que aplicou adubo orgânico nas suas machambas, o extensionista
acompanhou a evolução das culturas até a época de colheita. Igual número de camponeses que
não utilizou adubo orgânico, serviu de
controlo e, teve tambem acompanhamento até a colheita. A área de cada camponês que utilizou
composto orgânico nas culturas, medida pela Extensão Rural foi de 1.000 metros quadrados,
assim como a área medida para o controlo. Os rendimentos médios obtidos nas áreas com
composto orgânico e sem composto orgânico, são evidenciados a seguir:

Ano Área Amostra Rendimento Rendimento Média


1.000 m2 Total com Total sem
composto composto
2006 c/composto 8 machambas 2.987,0 kg ------ 373.3
--- s/composto ------ 752.80 kg 94.5
2007 c/composto 8 machambas 3.001,7 kg ------ 375.2
--- s/composto ------ 531.10 kg 66.4

Os camponeses utilizaram para a referida área, cerca de 2 a 3 toneladas de adubo orgânico uma
vez que, para cada planta ou covacho, colocaram 2 mãos cheias de composto, a juntar aos restos
da palha de milho, feijão e, capim que habitualmente enterram no solo, quando preparam as
machambas para a sementeira da campanha agrícola.

5.2.-Considerações sobre os Adubos :

5.2.1-Adubo Orgânico

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O adubo orgânico não degrada os solos. Pelo contrário, mantém as características do solo.
Provoca nos solos, o aumento do arejamento e da retenção da humidade. Melhora a estrutura,
reduz a plasticidade e a coesão. Nos solos argilosos, influencia no aumento da porosidade,
tornando-os arejáveis. Nos solos arenosos, junta as partículas, reduzindo a porosidade,
permitindo a retenção da água.

As palhas usadas são ricas em macro e micronutrientes essenciais para as plantas e, aumentam a
actividade microbiana dos solos, por serem ricas em energia, para além de fornecer nutrientes
para os microorganismos.

5.2.2-Adubo Inorgânico

O adubo inorgânico exige disponibilidade financeira para a sua aquisição. A necessidade do


aumento da produtividade, exige a aplicação de quantidades cada vez mais elevadas de adubo
inorgânico.
O adubo inorgânico degrada os solos, quando não se proceda a pousios. Pela sua acidez, destrói a
flora microbiana dos solos, susceptibilizando-os à erosão. Devido a influência na acidez,
necessita periodicamente de correcção de solos, pousios forçados ou, rotação de culturas.

5.3.-Comparação dos custos do Adubo Orgânico e do Adubo Inorgânico :


5.3.1-Custos da produção do Adubo Orgânico

Os custos da produção do adubo orgânico são baixos ou nulos. O único investimento é o esforço
do agregado familiar e o tempo dispendido na produção do fertilizante orgânico. Para a obtenção
de 3.750 kg de milho por hectare, o camponês precisaria de aplicar uma quantidade média de 15
a 20 toneladas de adubo orgânico.

5.3.2-Custos de aquisição de Adubo Inorgânico

Quantidade de adubo inorgânico para 1 hectare:


.Adubação de fundo: 6 sacos de 50 kg de adubo composto

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.Primeira adubação de cobertura: aos 30 dias após a sementeira: 3 sacos de 50 kg de adubo CAN
.Segunda adubação de cobertura: aos 60 dias após a sementeira: 3 sacos de 50 kg de adubo CAN
.Custo do adubo inorgânico: 12 sacos x 650,00 meticais = 7.800,00 meticais.

Tipo de Adubos: Custos/ha


Adubo Químico 7.800,00 Meticais
Adubo Orgânico Dependem do esforço e capacidade do agregado
familiar e, tempo dispendido na produção

6.-Conclusões e recomendações

O adubo orgânico afigura-se como alternativa sustentável para os camponeses do Sector


Familiar, por apresentar rendimentos bastante bons, em cerca de 60% dos rendimentos obtidos
com adubo inorgânico e, cerca de 4,65 vezes a produção das machambas sem adubação. Os
custos da produção de adubo orgânico são quase nulos, dependendo apenas da vontade e da
capacidade do agregado familiar e, do tempo dispendido na produção. Por esse facto, a Extensão
Rural e os Serviços Ramais podem se assim o desejarem, fazer a divulgação da presente
tecnologia, por ser apropriada, acessível e de custo baixo ou nulo
7. Referências

1-Júnior, J. T. , Cunha, J. T. e Fernandes, E. F. (1962). O abeberamento e a sua relação com a


pecuária de carne na região do distrito de Tete. Anais dos Serviços de Veterinária nº 20/21, p.
105-132
2-Sousa, J. M. (1969). Anais dos Serviços de Veterinária, nº. 10/11

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lll-TECNOLOGIAS DE CONTROLO DE CARRAÇAS NOS ANIMAIS POR MEIO DE
ALTERNATIVAS NATURAIS DE DEFESA

RECEITA- 01:ALHO/CEBOLA E SABÃO

Ingredientes:
5 cabeças de alho ou 3 cebolas
2 colheres grandes de sabão picado

Preparação e aplicação:
Descascar o alho.

Pilar até formar uma massa.


Adicionar o sabão e pilar para formar
uma pasta única de alho e sabão.

29
Diluir a pasta em 15 litros de água.
Filtrar num pano fino, quando se aplica com o pulverizador, para não entupir os bicos.
Não havendo pulverizador, pode-se pôr num balde e, com uma esponja ou vassoura de palha,
mergulhar na solução e aplicar sobre as carraças ou, nas regiões dos animais onde habitualmente
se concentram as carraças.
Repetir os banhos de 10 em 10 dias. Na falta de alho, usar 3 cebolas, ou folhas de 3 cebolas.

RECEITA- 02:TABAC0 E CAL

Ingredientes:
5 kg de tabaco picado
250 gramas de cal virgem.(na falta de cal, pode-se usar 2 colheres grandes de sabâo picado).
20 litros de água

Preparação e aplicação:
Aquecer 20 litros de água numa panela (não ao ponto de ferver).
Tirar do fogo e, colocar o tabaco na água aquecida.
Deixar por 24 horas no recipiente.
Após esse período, filtrar num pano fino e guardar a calda num vasilhame bem fechado, num
ambiente escuro.
Pesar 250 gramas de cal virgem e misturar com um pouco de água até hidratar.
Com a pasta da cal hidratada, misturar com 1 litro da calda de tabaco em 30 litros de água.
Agitar até misturar bem. No caso de usar sabão em vez de cal, pilar para formar uma pasta e,
misturar com um litro da calda de tabaco.
Dessa solução, juntar 30 litros de água.
Mexer com um pau, para que a mistura seja homogênea.
Filtrar num pano fino e aplicar com o pulverizador.
Não havendo pulverizador, pode-se pôr num balde e, com uma esponja ou vassoura de palha,
mergulhar na solução e aplicar sobre as carraças ou, nas regiões dos animais onde habitualmente
se concentram as carraças.
Repetir os banhos de 10 em 10 dias.

30
Obs: Em função da realidade local, foi necessário fazer alterações nas quantidades de
ingredientes e, nos intervalos de aplicação.

Fonte:
Defensivos Alternativos Naturais – Autor Eng. Agron. Silvio Roberto Penteado

Compilação e divulgação:
Filipe B. Vilela, Médico Veterinário
EstaçãoZootécnica de Angónia, aos 28 deSetembro de 2007

31
lV-TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE LEITE DE SOJA (Leite Vegetal)

Por: Adolfo José e Felicidade Macome


EZA/2004

A soja é muito nutritiva, rica em proteína, com mais de 40% de conteúdo proteico. A soja é
consumida de diversas maneiras. Alguns camponeses moem a soja e misturam com a farinha de
milho, para fazer papas para as crianças. Outros torram e consomem como se fosse milho
torrado. Existe agora uma tecnologia do seu aproveitamento em forma de leite.

Como se pode produzir o leite?

Para a obtenção do produto, primeiro deve-se produzir a soja. Após a colheita é que se pode
seguir algumas operações para se conseguir este produto. Antes de mais nada, é necessário
salientar que é de extrema importância a observância de cuidados higiênicos, que poderão
determinar a boa ou a má qualidade do produto.

Passos a seguir na produção de leite de soja:


1-Medir uma determinada quantidade de soja consoante a quantidade de leite que se queira obter.
2-Mergulhar a soja na água um dia antes (8-12 horas de molho) para facilitar o seu descasque no
dia seguinte.
3-Lavar para retirar possíveis substâncias estranhas.
4-Encher um copo e pilar essa quantidade até ficar em forma de massa.
5-Com o mesmo copo que usou para medir a soja, medir 4 copos de água e adicionar sobre a
quantidade de soja moída.

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6-Colocar a solução (massa de soja + 4 copos de água) na panela e, pô-la no fogo. Deixar a
ferver, de forma a cozer a massa. Mexer sempre com uma colher de pau, para evitar que a massa
se cole no fundo da panela e queime, alterando a qualidade do leite.
7-Fazer passar a solução por um coador e espremer para libertar todo o leite.
8-Pôr o leite de soja numa panela e levar de novo ao fogo. Deixar ferver sem ebulir. Mexer
sempre com colher de pau e, vai sentindo o cheiro do leite. Quando o leite estiver a cheirar como
se fosse leite de vaca fervido, é a altura própria para retirar a panela do fogo.
9-Pode-se consumir e, dependendo dos gostos, adicionar sal ou açúcar ao gosto de cada um.

V-TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE QUEIJO DE VACA/CABRA EM CONDIÇÕES DE


CAMPO

Por: Felicidade M. Macome


EZA/2004

A produção de queijo começa com a produção de leite. Portanto, todas as condições higiênico e
físico-químicas do leite serão requeridas para a obtenção de um melhor produto final. As
diferentes operações que constituem o fabrico de queijo, têm como objectivo proporcionar aos
microorganismos úteis as condições adequadas para o seu fabrico.

Na mungição deve-se ter em atenção a higiene do ordenhador e do úbere, por forma a evitar-se
contaminações exógenas do leite. Por outro lado, o ordenhador deve lavar bem as mãos e os
braços até a região do cotovelo com água e sabão e secar as mãos com uma toalha limpa. O
úbere deve ser bem lavado e desinfectado com água morna e secar com uma toalha limpa, isto

33
para permitir uma melhor higiene e estimulação do úbere pelo ordenhador para que o leite saia.
Depois o leite é acondicionado em recipientes próprios e limpos.

Passos a seguir na produção de queijo:

1-Pasteurização do leite que consiste em aquecer o leite até 65 graus centígrados durante 30
minutos (aquecer o leite sem entrar em ebulição).

2-Arrefecimento do leite por uns momentos (20-30 minutos).

3-Retirada da camada da gordura (nata). Esta pode ser usada para o fabrico de manteiga. Para
fazer a manteiga basta apenas “bater-se” a nata retirada numa bacia com gelo ou com água bem
fria.

4-Reaquecer o leite novamente sem ferver, tirar do fogo e adicionar vinagre, limão ou laranja
(para cada 5 litros de água, 3/4 de chávena de sumo de limão), para a coagulação do leite e vai-se
mexendo devagar com uma colher. Deixar arrefecer por 5-6 horas de tempo.

5-Corte da massa para a saída do soro. Este passo faz-se com uma faca, depois do leite
coagulado, faz-se passar a faca várias vezes pelo leite, fazendo movimentos de corte, para que se
verifique o corte do leite.

6-Retirada do leitelho ou soro num pano, ou coador, fazer passar várias vezes em água corrente,
ou numa bacia com água para retirar o cheiro do limão.

7-Deixar a massa pendurada durante um dia para prensagem completa

8-Salgamento do queijo que consiste na adição de sal e, “bater”para que haja a junção dos
coalhos. Pode juntar-se alguns condimentos e aromáticos para obter variedades diferentes de
queijos.

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9-Acondicionamento em formas próprias para a cura e a secagem. A cura consiste em deixar o
queijo para maturação, em ambiente com microorganismos próprios para o efeito. Deve-se ter
em atenção para que este processo seja feito num ambiente seco, limpo e bem arejado.

10-O tempo de conservação é de 15 dias a um mês depois de pronto para consumo.

11-O queijo pode ser consumido em fresco (queijo fresco) que pode ser no próprio dia ou deixá-
lo durante 15 dias ou mais para cura completa em ambiente limpo, seco e bem arejado.

VI-CACTO:
Uma alternativa para a suplementação de ruminantes nas zonas semi-áridas do sul da Província
de Tete (Changara, Cabora Bassa e Moatize).

35
Por: Vilela, F. e Adolfo, J.
EZA/2006

1-Descrição:
Caracterização da planta
Literatura

O Cacto pertence a família das Cactaceas. Conhecida cientificamente como cactuss ficus indica
L e localmente por magaute, mpama ou dolfina. Os frutos quando maduros, são muito apreciados
pelas crianças devido ao seu sabor doce. Originário do México e trazida para a Europa pelos
Espanhóis e em Africa provavelmente pelos colonizadores europeus. Agronomicamente é uma
planta que se estabelece bem em terrenos arenosos e em climas quentes, constituindo uma
autêntica praga.

Existem tufos espalhados por vários distritos da Província de Tete, onde alguns são usados como
plantas de vedação verde, devido as suas características espinhosas. Devido a falta de
conhecimento do seu valor forrageiro para animais, não se tem dado a devida atenção.

Apresenta-se composta de raquetas espinhosas, pilosas ou simplesmente lisas.


Medições feitas no cacto espinhoso da EZA, mostram a média do comprimento das raquetas em
45 centímetros, em forma oval, o que se julga ser da espécie Opunctia Ficus Indica, enquanto
que as doces ou miúdas e lisas existentes em Maloera (Chitima) e Mutarara, são da espécie
Napolea Cochenilifera, com o comprimento até 25 centímetros. O comprimento das raquetas do
cacto redondo (Opunctia sp), vai até aos 40 centímetros.

2-Características agronómicas

O cacto cresce bem em solos arenosos e/ou argilo-arenosos, férteis e com boa drenagem. Suporta
períodos longos de seca, devido ao seu conteúdo aquoso bastante alto, resultante da capacidade

36
de sucção e armazenamento da água. A plantação das raquetas deve ser feita com 15 a 20 dias
antes do período das chuvas e não durante as chuvas pois, o excesso da humidade provoca o seu
apodrecimento. A primeira colheita acontece entre 2 a 3 anos após a plantação.

3-Composição bromatológica:

Análises feitas pelo Laboratório do IPA mostram a existência de cerca de 86,7% de água e
13,3% de matéria seca. A matéria seca tem cerca de 4.5% de proteína. Segundo Neto et al
(2005), a matéria seca evidencia a existência de cerca de 56% de nutrientes digestíveis totais
(NDT).-

O cacto é rico em vitamina A, complexo B, vitamina C e oligoelementos essenciais para as


funções vitais do organismo. Pelo seu alto constituinte aquoso, representa para as zonas semi-
áridas, uma contribuição para a escassez de água para os animais.

4-0bjectivos da investigação:

4.1- Geral

Identificar a possibilidade de utilização do Cactus ficus indica como uma forrageira para
alimentação animal nas zonas semi-áridas da província de Tete.

4.2- Específico

Ensaiar a palatabilidade deste material vegetativo pelos bovinos, caprinos e ovinos e, a


respectiva influência na evolução dos pesos na época seca

5-Metodologia

Tufos de cactus ficus indica estabelecidos na EZA, são cortados e depois de removidos os
espinhos e pêlos, são picados e expostos à secagem natural por 4 dias nas condições de Inverno

37
de Angónia (22º C), para reduzir o conteúdo aquoso em 60%. O cacto pode ser disponibilizado
aos animais em verde, associado ao feno, palhas, farelos e/ou farinhas, para aumentar o consumo
voluntário da matéria seca, a fim de evitar possíveis diarreias. –

Depois, foi administrada na fase de adaptação com mistura de feno e sal durante 1 mês. Posto
este período, a palma seca é administrada sem misturas de outros alimentos nas quantidades de 2
kg por animal, para 2 grupos de bovinos de 5 animais cada, de ambos sexos, com idades que
oscilam de 1 a 1,5 anos e, 2 grupos de controlo, com as mesmas características.

Diariamente os animais saiam com a manada, alimentando-se com o que puderam apanhar no
terreno, como base de consumo voluntário. Ao regressarem à tarde, os do ensaio eram separados
da manada, para se sujeitarem ao programa de suplementação estabelecido. Os do controlo
também eram separados, mas não recebiam nada no curral de pernoita.

6-Resultados e discussão

Os animais que receberam diariamente reforço suplementar de cacto, a razão de 2 kg por animal
na época crítica de seca, mostraram aumentos de peso na ordem de 11,5 a 11,7 kg, contra os que
não receberam nada no curral de pernoita que, apresentaram a evolução de 1.4 a 5.6 kg,
conforme evidenciam as tabelas seguintes:

2005: Novilhos e novilhas com suplementação

Animais Peso v. Inicial Aos 90 dias Aumento peso GMD/gr.


5 Novilhos 132.8 147.0 14.2 157.7
5 Novilhs 133.0 142.2 9.2 102.2

38
Média 132.9 144.6 11.7 124.95

2005: Novilhos e novilhas sem suplementação

Animais Peso v. Inicial Aos 90 dias Aumento peso GMD/gr.


5 Novilhos 121.0 122.0 1.0 11.1
5 Novilhas 115.6 117.4 1.8 20.0
Média 118.3 119.7 1.4 15.5

2006: Novilhos e novilhas com suplementação

Animias Peso v. Inicial Aos 90 dias Aumento peso GMD/gr.


5 Novilhos 125.8 138.6 12.8 142.2
5 Novilhas 121.0 131.2 10.2 113.3
Média 123.4 134.9 11.5 127.8

2006: Novilhos e novilhas sem suplementação

Animais Peso v. Inicial Aos 90 dias Aumento peso GMD/gr.


5 Novilhos 123.6 130.0 6.4 71.0
5 Novilhas 122.4 127.2 4.8 53.0
Média 123.0 128.6 5.6 62.0

A utilização do cacto como reforço alimentar no curral de pernoita, mantém ou aumenta o peso
dos animais, quando é disponibilizado após pré-secagem, para reduzir o conteúdo de água em 55
a 60%.

39
A utilização do cacto verde como base de alimentação, influencia nas perdas de peso, quando
não é associado a outros alimentos como os fenos, silagens, farelos e outros alimentos fibrosos.
As perdas de pesos resultam das diarreias originadas pelo conteudo aquoso bastante alto do
cacto, acima de 80%.

7-Conclusões e recomendações

Pelos resultados evidenciados, o cacto afigura-se como uma alternativa disponível e sustentável
para a suplementação animal na época seca nas zonas semi-áridas como o Sul da Província de
Tete

Uma forrageira de fácil estabelecimento, por suportar longos períodos de seca, para além de
constituir uma solução para as zonas com escassez de água para os animais. É uma alternativa de
forragem acessível para qualquer criador e, eficiente em GMD de peso, acima de 50% em
relação aos animais que não receberam reforço suplementar no curral de pernoita.

A Extensão Rural e os Serviços Ramais podem se assim o desejarem, fazer a divulgação desta
alternativa alimentar, por ser sustentável e de baixo custo.

8-Referências

-Neto et al (2005). A importância da utilização da palma forrageira como alimento para o gado
na época de Verão, p.1-2

40
VII-Importância do Banco de Forragem ou Banco de Proteina na Suplementação de Ruminantes
na Época Seca.

Por:
Filipe B. Vilela
ESTAÇÃO ZOOTÉCNICA DE ANGÓNIA
2010

1-Introdução e justificação

-Os ruminantes do Sector Familiar dependem exclusivamente de pastos naturais espontâneos


para a sua existência, com a excepção dos de leite e de trabalho que, precisam de uma
alimentação suplementar à base de farelo com sal e, alguns resíduos agrícolas.

-Os animais de tracção, quando deixam de assumir as suas funções, voltam para junto da manada
e, sujeitam-se àquilo que puderem apanhar no terreno. Contudo, se depois dos trabalhos da
família e, se a junta estiver alugada a outrem, a suplementação alimentar ainda se pode manter.

-Os pastos naturais espontâneos estão bem adaptados às diferentes condições edafo-climáticas
locais, e constituem à base de alimentação dos ruminantes e herbívoros.

-A disponibilidade dos pastos é abundante na época chuvosa e, à medida que crescem, se


desenvolvem, e, inicia-se a redução do conteúdo protéico e, quando se lenhificam, tornam-se
pouco palatáveis para os animais.

41
-No fim das chuvas, os pastos tendem a secar por falta de transferência de elementos nutritivos
para as partes aéreas, uma vez que se acumulam nas raízes para dar força de brotação na próxima
época das chuvas.

-A disponibilidade insuficiente do pasto natural para os animais, para além de deficiente em


termos nutritivos na época seca, outros factores também concorrem para a baixa condição
corporal dos mesmos, como se pode verificar a seguir:

1.1)-Queimadas descontroladas

-As queimadas descontroladas que acontecem anualmente, são feitas por garotos ou adultos, para
a caça colectiva de ratos, coelhos ou outros animais do mato. Esta prática reduz a
disponibilidade do pasto espontâneo na época seca, incluindo as folhas de arbustos e árvores,
obrigando o animal a levar mais tempo a andar e, menos tempo a comer.

1.2)-Diminuição da palatabilidade

O pasto, à medida que cresce, amadurece e lenhifica-se, diminuindo a palatabilidade, obrigando


o animal a levar mais tempo a procura do pasto palatável e, menos tempo a comer

1.3)-Diminuição das áreas de pastagem

-A introdução das culturas de rendimento e, a melhoria dos preços das culturas alimentares,
influenciam no aumento das áreas agrícolas, e, na diminuição das áreas de pastagem. Por esse
facto, após as colheitas dos produtos, os criadores aproveitam como alternativa de pastoreio para
os seus animais, as áreas das
a)-machambas de sequeiro,
b)-machambas de regadio e das,
c)-machambas feitas nas baixas (dambos),

1.4)-Diminuição da produtividade da pastagem

42
Os animais do SF, utilizam diariamente a mesma área da pastagem comunal . Isto influencia na
redução:
a)-da brotação de capim
b)-do banco de sementes
c)-da disponibilidade do pasto para animais na época seca

1.5)-Falta de suplementação no curral de pernoita

-Os animais do SF dependem apenas do pasto natural espontâneo, sem algum suplemento no
curral de pernoita. Isto deve-se a negligência ou a falta de conhecimento do criador, da
necessidade de reforço alimentar no curral de pernoita

1.6)-Falta de tempo suficiemte para o gado se alimentar

-Os animais saem tarde para a pastagem, e voltam cedo aos currais. Essa situação não permite a
satisfação das necessidades alimentares diárias do organismo. A continuar assim, os animais
acabam ficando magros e definhados, sem possibilidades de manifestar as características do
potencial genético.

2-Suplementação estratégica com a massa verde

-Um dos factores limitantes do sistema de produção de ruminantes é a indisponibilidade de


suplementos alimentares. Os suplementos de concentrados podem ser um recurso, mas devido o
seu elevado custo, limita o acesso dos criadores do Sector Familiar. Contudo, o camponês cria
animais para fazer um aproveitamento integral dos subprodutos e sobras da sua produção
agrícola e, essa actividade complementa a agricultura e, faz parte da sua produção caseira.

-A tecnologia da produção de Medas e Fardos de Feno actualmente em divulgação, é uma


alternativa alimentar para o período de escassez e, o seu aproveitamento pelos animais depende
da disponibilidade de massa verde de bancos forrageiros, nas quantidades de 200 a 300 gramas

43
por animal, numa estratégia de dia sim e dia não, para melhorar o seu consumo, como se pode
verificar a seguir:

SUPLEMENTAÇÃO ESTRATÉGICA

com

Massa verde:
(rica em proteina)

Proteina:
(alimenta e
aumenta a produção
da flora ruminal) Influenciando a Produção
(leite, carne, estrume, trabalho e crias)

A flora ruminal actua,


Degradando a lignina

Facilitando a Digestão Permitindo o Desenvolvimento


(alongamento e alargamento das partes anatómicas)
(parte eliminada)

( parte aproveitada)

Estrume
Favorecendo o Crescimento
(aumento do peso vivo)

44
-A massa verde é rica em proteína. A proteína vai alimentar e estimular o aumento da produção
da flora ruminal. O aumento das bactérias, protozoários e fungos da flora ruminal, vai atacar e
acelerar a degradação da lignina. Com a degradação da lignina, dá-se a libertação da amónia, um
gás tóxico e rico em proteína. No processo de degradação, uma parte é eliminada em forma de
estrume (digestão).

-As bactérias alimentam-se da proteína constituinte do gás e, constituem no seu corpo, a proteína
bacteriana. Quando as bactérias constituintes do bolo alimentar chegam ao verdadeiro estómago,
morrem por alteração do PH. No processo de destruição das bactérias, dá-se a degradação da
proteína que, vai formar os amino-ácidos que, vão para as diferentes partes do organismo
(crescimento, desenvolvimento e produção), constituindo a proteína animal, a proteína que o
Homem procura.

-Quando a suplementação estratégica com a massa verde não é feita e, quando outras formas ou
artimanhas também não forem feitas, o animal leva muito tempo a fazer a digestão, apresentando
com a pança volumosa, mas com as costelas visíveis à distância, embora comendo
aparentemente bem. Exemplo: Se disponibilizarmos alimentos volumosos e secos com muita
fibra, o animal levaria cerca de uma hora para comer um quilograma e, cerca de duas horas para
digerir esse volume alimentar, com envolvimento de elevado dispêndio de energia.

2.1-A massa verde estimula o aumento do consumo voluntário da massa seca

-Os ruminantes consomem por dia 3% de seu peso vivo em matéria seca, para a satisfação das
necessidades do organismo. Entretanto, devido ao baixo valor protéico e alto valor de lignina do
feno, a digestão torna-se morosa, envolvendo grande dispêndio de energia, afectando
sobremaneira a diminuição da condição corporal.

-A actividade da flora bacteriana também diminui, pela disponibilidade insuficiente da proteína,


para alimentar e estimular o aumento da sua produção, para melhor exercer a acção sobre a
lignina. Quando essa situação acontece, os animais apresentam-se com a pança volumosa mas
com as costelas visíveis á distância, embora comendo aparentemente bem.

45
-Uma das formas de atenuar a situação é suplementar os animais com massa verde, que segundo
Silva et al (2003), aumenta a população bacteriana em cerca de 10 biliões de células por mililítro
de líquido ruminal, 1 milhão de células de protozoários por mililítro de conteúdo ruminal e 10
mil zoosporos por mililítro de conteúdo ruminal.

-A microflora presente no rúmen-retículo, ataca e decompõe as partes duras dos alimentos,


aproveitando o nitrogénio proteico para a constituição da proteína bacteriana que, posteriormente
e por processos químicos se transforma em proteína animal. O processo de síntese da celulose
continua até a formação de ácidos gordos de cadeia curta como o acético, propiónico, butírico e
outros para as necessidades energéticas dos animais (Lopes, 1998).

-O aumento da proteína microbiana é responsável pelo aumento da celulolise, o que torna o


alimento mais digerível. A colonização da partícula alimentar pelos micróbios e o tempo de
retenção desta no retículo-rúmen, proporcionam um melhor ataque microbiano e uma
digestibilidade aumentada daquela forragem que é a alimentação básica do ruminante (Portugal,
1992).

-Quando a exigência de suplementaçao estratégica do animal é satisfeita, a digestão torna-se


muito rápida e, estimula o consumo voluntário no dia seguinte, obrigando o animal ao recurso de
alimentos volumosos e fibrosos que, muitas vezes não são apetecíveis.

3-Alguns resultados com suplementação de massa verde na época seca. (Uma estratégia para
convencer o criador a adoptar práticas de suplementação animal na época seca).

-Foram utilizados no ensaio, bovinos da raça Angone. A duração do ensaio foi de 120 dias. Para
os diferentes alimentos, foram seleccionados bovinos machos com a idade média de 1.0 a 1.5
anos e, com o peso médio que oscilava entre 110 a 120 kgpv. Os animais foram divididos em
grupos, consoante os pesos, idades e alimentos. Para cada tipo de alimento, havia um grupo de 5
machos.

46
-Antes do ensaio propriamente dito, os animais ficaram submetidos a um período de uma
semana de habituação aos novos alimentos. Esse peródo foi aproveitado para a desparasitação
dos parasitas gastro-intestinais e tremátodos. Os ensaios tiveram o seu início no dia 15 de Agosto
e terminaram no dia 15 de Dezembro.

-Durante o ensaio, os três grupos de machos foram suplementados estratégicamente com massa
verde no curral de pernoita, com quantidades que pesavam 300 gramas para cada animal, durante
4 vezes por semana em dias alternados, de folhas de Leucaena, Gliricidia e Amoreira, conforme
os grupos e alimentos:

Grupos 1/A 2/B 3/C 4/D

Alimentos Leucaena Gliricídia Amoreira Controlo

-Durante o período de pastoreio, os animais ficavam com a manada, alimentando-se daquilo que
puderem apanhar no terreno. Ao regressar aos currais à tarde, os do ensaio eram separados para
se sujeitarem ao programa de suplementação estabelecido.

-Os do grupo de machos de controlo também eram separados, mas não recebiam nenhum
suplemento no curral de pernoita.

-As pesagens eram feitas antes do início do ensaio e, repetidas de 30 em 30 dias, até ao fim dos
ensaios. O registo das pesagens era feito numa ficha previamente preparada para o efeito.

-Os animais suplementados estratégicamente com massa verde dos bancos forrageiros em 120
dias, nas quantidades de 300 gramas por animal em dia sim e dia não, na época critica de seca e,
em função dos alimentos, mostraram a seguinte evolução de pesos:

47
Animais
suplementados Quantidade de Frequência GMD (gr) Aumento de peso vivo
com: alimento (gr) (kg) em 120 dias

Leucaena 300 Dia sim, dia não 182.3 21.87

Gliricídia 300 Dia sim, dia não 163.5 19.62

Amoreira 300 Dia sim, dia não 174.0 20.88

Animais não
suplementados 0 0 43.5 5.22

-Os resultados evidenciados mostram que, existe uma influência no aumento de peso dos animais
que receberam a suplementação estratégica à base de massa verde, comparativamente aos
animais que não tiveram suplementação.

3.1-Comparação de ganhos de peso e ganhos financeiros ao fim de 120 dias de ensaio com os
diferentes alimentos

-Os animais submetidos aos diferentes alimentos de forma estratégica, quando vendidos ao preço
de 30MT o quilograma de peso vivo, o criador ganharia valores suplementares,
comparativamente aos animais não suplementados. O mesmo aconteceria, se tiver que abatê-los
e vender a carne ao preço de 60MT o quilograma, conforme evidencia o quadro seguinte:

48
Animais Aumento de peso vivo Preço por kg de peso Preço por kg de carne:
suplementados (kg) em 120 dias vivo: 30MT (50% de peso vivo) 60MT
com:

Leucaena 21.87 656.1 656.1

Gliricídia 19.62 588.6 588.6

Amoreira 20.88 626.4 626.4

Animais não
suplementados 5.22 156.6 156.6

4.-O que são bancos forrageiros e, como devem ser estabelecidos!

-Os bancos forrageiros são reservas de forragem estabelecidos numa determinada área escolhida,
com o propósito de disponibilizar massa verde na época seca para a suplementação estratégica
dos animais.

-Os bancos forrageiros podem ser estabelecidos em terrenos de ligeira inclinação, devendo para o
efeito, observar os contornos das curvas de nível e, distanciados de 5 a 7 ou, de 7 a 10 metros uns
dos outros

-O espaço disponível entre um banco forrageiro a outro, pode ser aproveitado para culturas
alimentares, devendo para o efeito abrir uma vala junto à linha das plantas do banco e, cortar
todas as raízes, para evitar a competição pelos nutrientes, do espaço da cultura alimentar.

49
-Quando o propósito não é para culturas alimentares, esse espaço pode ser aproveitado para
gramíneas do grupo dos pastos doces, e esse procedimento é uma técnica de melhoramento de
pastos naturais atravês de cultivo.

-No Sector Familiar, os bancos podem ser estabelecidos a volta da casa, nos limites do quintal e,
podem ser dentro do próprio quintal.

5-Necessidades de material genético

-O material genético a utilizar deve ser de plântulas e/ou de sementes de plantas que ficam mais
de um ano. Deve-se preferir leguminosas arbustivo/arbóreas com capacidade de fixação de azoto
atmosférico nos nódulos que, uma vez decompostos enriquecem o solo para outras plantas. A
maior parte da leguminosas arbustivas podem ser multiplicadas por meio de estacas plantadas
directamente no local definitivo. Contudo, algumas podem desenvolver pouco, ficando
raquíticas, razão da preferência da sua plantação em cartuchos, para seleccionar as mais
vigorosas e bem desenvolvidas.

-A existência de uma instituição que produza plântulas para responder as necessidades do


mercado é uma vantagem, visto que, as plantas uma vez no local definitivo, crescem de forma
vigorosa, robusta e desenvolvem-se melhor.

-Quando as sementes são postas no local definitivo, deve-se proceder ao desbaste após
germinação, para evitar a competição pela luz solar e pelos nutrientes. Para libertar a dormência,
deve-se proceder ao choque em água quente para amolecer a casca, ou por escarificação.

-A cana-de-açúcar e o capim elefante são gramíneas que podem ser estabelecidas atravês de
estacas e/ou sementes, enquanto que, a Brachiaria Decumbens e a Brachiaria Brizantha se
estabelecem por estolhos ou socas e por sementes.

6-Maneio do banco forrageiro


6.1-Cuidados culturais

50
-A distância de 1 metro entre as linhas e, de 1 metro entre as plantas na linha, facilita a limpeza
das ervas daninhas e o arejamento, favorecendo um melhor desenvolvimento. Também pode ser
de 2m x 2m, ou 2m x 1m. Contudo, os compassos para as gramíneas são mais reduzidas,
podendo ser de 50 centímetros por 40 ou por 30 centímetros.

-A existência de uma vedação limita o acesso dos animais, assim como a abertura de aceiros para
isolar o banco, das queimadas descontroladas

6.2-Colheita da biomassa

-Para as leguminosas arbóreas, seria útil cortar a uma altura de 1 a 1,2 metros acima do solo,
quando completar 2 anos de idade. A massa deve ser disponibilizada aos animais nos currais
como suplementação estratégica. Nas próximas oportunidades, pode-se fazer um silvo-pastoreio
durante 20 a 30 minutos por dia, em três dias da semana na época seca, tempo suficiente para
estimular o aumento da produção da microflora ruminal, para a observância das funções
fisiológicas no organismo animal.

-As leguminosas arbustivas e trepadeiras devem ser cortadas quando têm entre 20-25% da
floração e, a massa deve ser disponibilizada aos animais nos currais.

-Quando a disponibilidade da biomassa é maior, 2 meses antes da época seca, deve-se colher e
conservar em verde na forma de silagem que, cumpre também a função de suplementação
estratégica na época seca, uma vez que, a alimentação base é aquela que o animal consome de
forma livre e voluntária na pastagem, reforçada com o feno conservado em medas, fardos e/ou
sobras da machamba.

-O pastoreio directo é permitido desde que não provoque um desgaste das plantas pois, levaria
muito tempo para o rebrote. A disponibilidade de faixas permite um pastoreio rotacional e reduz
a sobrecarga de outras.

51
6.3-Uso de fertilizantes

-Devido a utilização frequente da biomassa, quer por corte, quer por pastoreio directo, esgotam-
se os nutrientes do solo, que é necessário repô-los atravês de incorporação de estrume ou
agroquímicos, sendo este último bastante caro para o Sector Familiar.

-A incorporação dos fertilizantes pode ser feita pouco antes ou pouco depois das primeiras
chuvas, para estimular a produtividade da biomassa

7-Algumas leguminosas e gramíneas que servem para estabelecimento de bancos forrageiros ou


bancos de proteína e, sua caracterização

7.1)-Leucaena

-Um arbusto, mas quando não se corta periodicamente torna-se árvore. É uma leguminosa
forrageira. Tem os seguintes propósitos:
-Fixa o azoto atmosférico e fertiliza o solo que, influencia no aumento da produção agrícola

52
-Fornece estacas para construção ou para lenha
-Fornece forragem para animais. Tem um conteúdo proteico de cerca de 24%.
-Fornece sombra
-Nos terrenos declivosos, combate a erosão

-As folhas e vagens têm uma percentagem de mimosina que, quando se disponibiliza em excesso
(acima de 5% da necessidade alimentar), provoca a queda de pêlos e diminuição da fertilidade.
Não é prejudicial aos “Bos Indicus”. Fornece uma boa massa verde rica em proteína, para a
suplementação estratégica no tempo seco.

-Já foi largamente cultivada no Sul, Centro e Norte de Moçambique. É melhor semear em viveiro
e, quando tiver 3 a 4 meses de idade, transplantar para o local definitivo. Pode-se plantar em
estacas, directamente no solo. Contudo, há possibilidades de perdas e, também pode acontecer
diferentes níveis de desenvolvimento.

-As sementes precisam de ser escarificadas ou por choque em água quente para libertar a
dormência. A escarificação consiste em raspar a parte inferior da semente em uma superfície
rugosa, para diminuir a espessura da casca. No choque em água quente consiste em mergulhar
durante 3 a 5 minutos em água quente a 80 graus centígrados.

-Nao havendo termómetro para medir a temperatura, pode-se aquecer 4 litros de água e, quando
estiver em ebulição, adicionar 1 litro de água fria e, mergulhar as sementes num saco de sisal.
Esta operação é feita quando a água estiver fora do fogo. Outra alternativa é cortar a casca sem
atingir a polpa da parte inferior da semente com uma corta-unha. Também pode-se semear
directamente no local definitivo sem outras artimanhas para libertar a dormência, desde que se
mantenha a humidade durante 15 a 21 dias, período suficiente para a germinação.

-Para melhor estabelecimento, deve-se usar o inoculante. Não havendo, colhe-se um pouco de
terra da planta-mãe e espalhar na nova área. Serve para constituir um banco forrageiro e, quando
intercalado com gramíneas, constitui um silvo-pastoreio para animais.

53
7.2)-Amoreira

-È um arbusto forrageiro. Não é leguminosa. Tem um conteúdo protéico de cerca de 20 a 22%.


Produz uma boa biomassa e, suporta períodos longos de seca. A multiplicação é feita por estacas.
Não se conhece por enquanto a multiplicação por sementes. A plantação pode ser feita
directamente por estacas ou, podendo fazer em vasos até aparecerem as primeiras folhas, altura
em que são colocadas no local definitivo. O comprimento das estacas devem ser de 25 a 30
centímetros, com mais de 3 a 4 (nós) olhos para brotação de rebentos.

-A distância entre as linhas e, entre as plantas na linha é idêntica à distância feita às Leucaenas,
isto é, 1 metro entre as linhas e 1 metro entre as plantas na linha, Também pode ser 2m x 2m.
Deve-se cortar sempre como as Leucaenas, para a brotação de nova folhagem fresca e tenra. Pelo
desenvolvimento radicular profundo, é uma das espécies indicadas para controlo de erosão.

7.3)-Gliricídia

-É um arbusto e è uma leguminosa. Produz nódulos com as mesmas funções que as Leucaenas.
Multiplica-se por estacas e por sementes. Contudo, a sementeira em viveiros, permite escolher as
plantas com bom vigor para o local definitivo. O conteúdo protéico da massa é de cerca de 18 a
20%. A massa foliar produz um cheiro repelente.

-Para disponibilizar aos animais, deve-se deixar ao ar livre após a colheita por algumas horas,
para murchar, reduzindo assim o cheiro repelente. Uma solução de sal é água, para irrigar a
massa, facilita o seu consumo ou, misturar com farelo ou mesmo com feno. Nas zonas com
períodos de frio, as plantas ficam desfolhadas e entram em dormência, rebrotando com o início
da época quente.

7.4)-Desmodium Uncinatum

54
-È uma leguminosa trepadeira. Produz boa folhagem. Pode-se cultivar em consociação com
capim elefante ou outras gramíneas do grupo dos pastos doces ou pastos amargos. As sementes
podem ser postas no terreno, após choque com água quente para encurtar o tempo de germinação

-Também pode-se semear directamente sem proceder ao choque, desde que seja um pouco antes
ou um pouco depois da chegada das primeiras chuvas, para que, com a humidade do solo,
germine em 15 a 21 dias. Serve para constituir um banco forrageiro, assim como pode ser
utilizado para melhoramento de pastos naturais espontâneos

7.5)-Stylosanthes Scabra Seca

-São arbustos perenes. No primeiro ano, a germinação é fraca, mas no ano seguinte, pode
germinar as outras sementes que ficaram em dormência no ano anterior. Produz pouca folhagem
no primeiro ano e, no ano seguinte melhora a produção de biomassa. Mantém-se verde durante
todo o ano. No tempo das chuvas, devido a disponibilidade suficiente de massa verde dos pastos,
os animais não apreciam. Na época seca e, por falta de massa verde, os animais acabam comendo
e, cumprem a função fisiológica nos animais pelo seu teor protéico.

-É melhor cortar e disponibilizar aos animais quando em banco forrageiro. Associado a


gramíneas, melhora o valor do pasto, quando consumido pelo gado.

7.6)-Mucuna Communis

-Uma leguminosa trepadeira. Pode-se usar associada a milho ou mapira. Por ser muito agressiva,
deve-se semear quando o milho já tem 75 centímetros de altura. Produz muita folhagem. Não
gosta de muita humidade. A semente é comestível. A biomassa não é muito apreciada pelo gado
na época chuvosa, sendo apreciada na época seca. Serve para a produção de silagem.

7.7)-Macroptiloma Axylare Axley

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-Uma leguminosa trepadeira. Produz boa folhagem. Pode-se cultivar de forma associada com a
mapira, capim elefante ou, outras gramíneas dos pastos naturais em forma de melhoramento.
Pode-se constituir em banco forrageiro, para cortar e disponibilizar aos animais.

-Não é muito apreciada por animais na época das chuvas, devido a disponibilidade diversificada
de massa verde. Contudo, os animais acabam consumindo na época seca, misturada com outros
alimentos ou, irrigada com sal diluido em água. Pelo conteúdo proteico de cerca de 21%, serve
para a suplementação estratégica dos animais na época seca.

7.8)-Clitória Ternatea

-Pequeno arbusto. Produz boa folhagem. É preciso cortar periodicamente para se manter verde.
Exige alguma rega e outros cuidados. Muito apreciada pelo gado. A vagem serve também para
consumo humano como fresca ou, secar para aproveitar os grãos.

7.9)-Macroptilium Atropurpureum

-Leguminosa trepadeira- Usa-se associada ao capim elefante, mapira ou, aos pastos naturais
espontâneos. Produz boa folhagem. Existe no Sul, Centro e Norte do País. Serve para
melhoramento de pastos naturais, assim como para a silagem.

7.10)-Desmodium Intortum

-Uma leguminosa muito agressiva. É como o Desmodium Uncinatum com a diferença de que,
esta tem folha de prata, enquanto que a outra tem folha verde. Serve para melhoramento de
pastos naturais, bem como para constituir em banco forrageiro.

7.11)-Desmanthus Virgathus

56
-Pequeno arbusto. Uma leguminosa muito apreciada pelo gado, da mesma forma que a Leucaena.
Produz boa biomassa. Serve para cortar e disponibilizar aos animais na época seca, como massa
verde para a suplementação estratégica. As sementes precisam de choque com água quente para
libertar a dormência ou, manter humidade durante 15 a 21 dias, período suficiente para se dar a
germinação.

7.12)-Capim Elefante

-Gramínea. Multiplica-se por estacas e por sementes. Melhor com estacas. As estacas para
plantação devem ser cortadas a um comprimento de 25 a 30 centímetros, com um mínimo de 2
nós, para brotação radicular ou foliar. Pode-se colocar as estacas inteiras ao longo do sulco, nas
grandes produções. Utiliza-se também socas. Produz por corte, cerca de 80 toneladas por hectare.

-O corte pode ser feito, de 45 em 45 dias, quando se faz regas e estrumações. Normalmente
corta-se, quando tem entre 1 a 1,20 metros de altura. Ao cortar, deve-se deixar uma base de 30
centímetros, para facilitar o novo rebrote. Pode-se semear nas entrelinhas, a Macroptiloma, o
Macroptilium, o Desmodium ou outras leguminosas trepadeiras que, melhoram a qualidade da
forragem, quando disponibilizada para os animais de forma directa ou, na forma de silagem.

7.13)-Panicum Gigante ou Capim da Tanzania

Ver Caim elefante. Pelo desenvolvimento radicular profundo, serve para controlo de erosão.

7.14)-Brachiaria Brizantha

-Gramínea do grupo dos pastos doces. Gramínea típica de África. Foi desenvolvida e melhorada
no Brasil e, devolvida para África, para efeitos de adopção. Multiplica-se por sementes e por
estolhos ou socas. Produz por hectare, cerca de 70 toneladas de massa verde. Por cada
quilograma de massa verde posta a secar, produz entre 270 a 300 gramas de matéria seca. Cerca
de um quilograma de sementes é suficiente para cultivar um hectare de Barchiaria.

57
-Tem o sistema radicular bem desenvolvido e profundo, razão do seu uso no controlo de erosão.
No processo de desenvolvimento e, pouco antes ou pouco depois da floração, as folhas tendem a
amarelecer, devido ao ataque de um fungo, típico da gramínea. Acontece porque, a planta
desenvolve e dificulta o arejamento, criando condições para a acção do fungo. Alguns chamam
de cigarrilha. Contudo, não exerce nenhuma influência na utilidade da planta. Serve para cortar e
picar para silagem, assim como para formar medas e/ou fardos de fenos. Uma gramínea
aconselhável para o melhoramento de pastos por reforço e/ou por cultivo.

7.15)-Brachiaria Decumbens

-Gramínea do grupo dos pastos doces, proveniente do Brasil, como a Brachiária Brizantha.
Multiplica-se por sementes e por estolhos ou socas (experiência feita na EZA). Com o compasso
de 40 centímetros por 40 centímetros, pode produzir cerca de 50 toneladas por hectare. Com
cerca de um quilograma de sementes, pode estabelecer um hectare de B. Decumbens.

-Comparativamente a Brachiária Brizanhta, a Brachiária Decumbens é melhor apreciada pelo


gado, por a folhagem ser bastante leve, herbâcea com características tenras. Produz entre 270 a
300 gramas de matéria seca por cada quilograma de massa verde. Serve para melhoramento de
pastos por reforço e, por cultivo. Também serve para a produção de medas e/ou fardos de feno,
assim como para a produção de silagem, como a Brachiária Brizantha.

8-Referências

.Silva, V. M., Pereira, V. L. A, Lima, G. S. (2003). Produção, conservação e utilização de


alimentos para ruminantes, p. 1-13
.Lopes, H. O. (1998). Suplementação de baixo custo para ruminantes, p. 80-92
.Portugal, A. V.(1992). Algumas notas sobre aspectos bio-nutricionais da tracção animal: -
Equilíbrio energético

58
VIII-Influência do Apetisador e do Feno na Evolução de Pesos de Bovinos na Época Seca

Resultados Preliminares

Por:
Filipe B. Vilela, Damião W. Nguluve e Adolfo José
Estação Zootécnica de Angónia
2004

Trabalho apresentado na I Reunião Nacional de Investigação e Extensão Agrária, em Chimoio,


Província de Manica: 2004

-Porque o Uso do Apetisador na Alimentação de Ruminantes em Moçambique?

1-Situação Difícil de Mudar

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-Composição botânica diversa mas dominada por gramíneas
-Produtividade e qualidade do pasto: Sazonal
-Longo período de seca (6-7 meses)

-Composição proteica da Hyparrhénia (3-4% de PB)


-Perad do valor proteico na época seca do pasto (0.2%/dia)
-Feno em pé: 1.3-1.4%
-Perda da condição corporal dos animais

-Dificuldades financeiras para o cultivo e conservação de forragem de alta produtividade como


por exemplo, o Capim elefante em condicões de irrigação e, luzerna.
2-Maneio Alimentar

-Necessidade de pernoita vs. Roubo de gado


-Queimadas descontroladas
-Ausência de bancos forrageiros no Sector Familiar/ (Comercial?)
-Falta do conhecimento pelos criadores, da necessidade de suplementação nocturna.
Alernativa: Uso do APETISADOR

Composição Quantidade (kg)

Sal 2.5

Açúcar 1.0

Farelo 1.0

Cimento 4.0

60
Água 1.0 lt

Total 9.5

OBJECTIVOS

-Avaliar o efeito da suplementação do Apetisador e do Feno na evolução dos pesos.

-Comparar os custos da produção de uma meda de Feno e do Apetisador

-Elaborar pacotes tecnológicos apropriados para os criadores de gado

MATERIAIS E MÉTODOS

-Local de Ensaio: Angónia (1.300 metros de altitude)


-Pluviosidade média : 1.678,2 mm
-Bovinos Angone (100-120 kg PV): 30 (15 Machos e 15 Fêmeas).

-Dietas:
1. Controlo;
2. Apetisador (6 kg/ grupo);
3. Reforço de Feno (2.0 kg /animal)

MEDA DE FENO

61
Composição %

Matéria Seca 92.6

Proteina Bruta 3.0

Fibra Bruta 36.9

Skerman (19899

RESULTADOS E DISCUSSÃO

1-Evolução dos Pesos

-Não houve ≠ significativas (P≻0.05) entre Machos e Fêmeas no GMD de pesos


Contudo houve ≠ (p=0.0001) entre as dietas:

GMD de Novilhos 17.7% (32.1 g) em relação as Novilhas

-O Apetisador e Feno tiveram 54.7% de GMD em relação ao Controlo.


-O Apetisador, é o tratamento que teve o PICO de GMD.

-Controlo: 92.6 gr.


-Feno: 203.6 gr.
-Apetisador: 205.5 gr.

2-Análise Económica

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Tabela 1. Custos de Fabrico de um Apetisador

Componentes Quantidades (kg) % do total Custos (MT)

Acúcar 1.0 10.53 30

Farelo 1.0 10.53 10

Sal 2.5 26.31 30

Cimento 4.0 42.10 30

Água 1.0 lt 10.53 10

Total 9.5 100.0 110

Tabela 2-Custos de Produção de uma Meda

Meda Jorna MT/Jorna Total (MT)

500-600 kg

63
(Em 890-1070m2 5 80 400

-Consumindo 2.0 kg de Feno/dia, esta quantidade de 500-600 kg é suficiente para suplementar


um bovino durante 5 meses.

-Um Apetisador a Custo de 110MT é suficiente para suplementar 6-8 animais durante 6 meses
(época seca)-Sector Familiar

-Custo de Produção de Feno 5 vezes mais em relação ao custo do Apetisador e, o GMD de peso é
práticamente igual.

CONCLUSÃO

-O Apetisador afigura-se como alternativa sustentável para a suplementação animal na época


seca.

-Baixo Custo: 5 vezes menos em relação às medas.

-Tecnologia acessível para qualquer criador de gado

-Eficiente em GMD de pesos, 54.7% em relação ao Controlo e, mesmo em relação ao FENO.

RECOMENDAÇÃO

Recomendamos a Extensão Rural e os Serviços Ramais, a divulgação desta tecnologia:

-Baixo Custo
-Sustentável

64
IX-TRACÇÃO ANIMAL-COMPETE-IIAM

Notas de reconhecimento dos Direitos dos Autorais (Copy Rights) do material utilizado:

1-Este manual adapta a estrutura metodológica e didáctica do Manual de formadores de


vacinadores comunitários para a Doença de Newcastle do ACIAR (Gentilmente cedido pela Dra
Robyn Alders)

65
2-A secção sobre a educação de adultos baseou-se numa comunicação elaborada pelo Sr. Peter
Wegener da Faculdade das Ciências Naturais e de Gestão dos Sistemas Rurais na Universidade
de Queensland e das publicações do ACIAR..

3-Os conteúdos técnicos basearam-se na ficha (N340.12 Janeiro/980 – Bovinicultura) designada


“Informação Técnica” para o Maneio do Bovino de Trabalho elaborado pelo Dr. Fernando de
Pinho Morgado.

4-A colecção de imagens para o album seriado foram adaptados dos textos de formação
produzidos pela extinta Agritex do Zinbabwe (The Institute of Agricultural Engineering –
Agritex). As imagens foram re-desenhadas pelo César Fafetine.

Ficha técnica:
Autores:

Mohamed Harun
Olga Fafetine
Rafael Escrivão
Filipe Vilela
Atanásio Vidane
Julio Come

1.0. Introdução geral

A área média cultivada por família em Moçambique para a produção do algodão é de cerca de
0,6 ha, muito pequena, devido ao uso de instrumentos de baixa produtividade (enxada de cabo
curto). Esta realidade obriga as empresas algodoeiras a lidar com um elevado número de
produtores no algodão (de modo a obterem produção que justifique seus investimentos),
exigindo como consequência um elevado número de extensionistas por empresa, elevando assim

66
os custos das empresas algodoeiras. Por outro lado, estas áreas pequenas por família fazem com
que a produção de algodão seja baixa, o que tem como consequência directa a baixa renda
familiar e baixa poupança prevalecendo assim o ciclo de pobreza.

Estudos mostram que uma junta de bois consoante o vigor dos animais, eficiência do sistema de
atrelagem e o treino, equivale a uma unidade de potência de 1 a 2 kw, o que em termos médios
corresponde a 10 vezes a potência desenvolvida pelo trabalho de um homem. Uma junta bem
utilizada pode facilmente lavrar, semear e sachar mais de 6 ha e ainda transportar numa carroça
adequada, uma tonelada de carga num percurso de 20 a 30 km em 8 horas, enquanto que para um
Homem o transporte de algumas dezenas de quilos, em percursos bem mais limitados, é sempre
uma tarefa muito penosa.

Para lavrar 1 ha, a área que em média consegue cultivar com recurso a instrumentos manuais, um
agricultor despende cerca de 240 horas de trabalho, enquanto que com uma junta de bois, 25
horas são suficientes para lavrar a mesma área, não falando já dos incrementos de produtividade
devido a optimização das exigências e prazos técnicos e potencial uso de técnicas de cultivo mais
adequadas, nomeadamente a sementeira directa no restolho que poderão proporcionar (Revista
Esporo, 2005).

É pensando nestas vantagens da tracção animal, que o IIAM pretende apostar nesta tecnologia de
baixo custo, para aumentar a área de produção dos actuais 0,6 ha para uma média de 1,5 ha por
família para permitir o aumento a renda e segurança alimementar.

A massificação da tracção animal (T.A.) nas zonas com criação de gado insere-se no comando
superior no contexto da revolução verde, que preconiza a intensificação da agricultura apostando
em tecnologias de cultivo de maior produtividade tendo em conta a preservação da fertilidade do
solo e protecção ambiental, através do:

-Uso de sementes melhoradas;

-Estrume e Fertilizantes;

67
-Uso de vacas para Tracção animal com suplementação alimentar - em caso de falta de animais
machos.

-Água para irrigação para garantir aumento da produção.

1.2 Como utilizar este manual de formação

O presente manual está dividido em três secções:


1-Introdução ao tema;

2-Recomendações para a preparação e condução do curso de formação de formadores;

3-O curso de formação de formadores de animadores de Tracção Animal.

O curso de formação foi projectado de modo a ser realizado de uma forma participativa e aberta.
Para ajudar a comunicação, uma gama de ilustrações foi incluída no presente manual. As
ilustrações servirão também de base para preparação do album seriado que servirá de guia
durante a formação dos camponeses (animadores de Tracção Animal).

1.3 Abordagem sumárias dos aspectos técnicos ligados a Tracção Animal.

1.3.1 Importância da tracção animal

O animal do trabalho é talvez dos animais mais utilizados pelo Homem nos trópicos, aquele de
quem se exige mais e menos se lhe dá. Enquanto que o boi aproveitado exclusivamente para
carne, dispõe de maior número de horas e mais vastas áreas de pasto disponível o boi de trabalho
tem horas restringidas e áreas reduzidas de pastoreio pela agricultura que ajuda a fazer.

Muitas vezes os trabalhos mais intensos são precisamente numa altura em que são mais
reduzidas as disponibilidades alimentares (fim da época seca e início das chuvas).
Quanto ao abrigo, muitas vezes nem a sombra de uma árvore tem, enquanto aguardam a sua
utilização, presos a uma estaca.

68
O boi de trabalho pode ser utilizado em actividades onde se não exija grande velocidade, embora
se exija esforço, como nos trabalhos de preparação da terra para agricultura, na tracção de
carroças e na elevação de agua.

Relacionado com o maneio de trabalho foram considerados os seguintes aspectos:


1-A escolha ou tipo de animal a utilizar no trabalho;

2-As necessidades alimentares e sua satisfação;

3-Cuidados de ordem sanitária;

4-O treino para a realização de tarefas especificas;

5-A utilização do bovino depois de treinado.

O tipo de animal a escolher para o trabalho

Na escolha dos animais para o trabalho há que considerar alguns factores que tem importância,
tendo em consideração a finalidade a que se destinam.

a)-Raças a utilizar: Devem preferir-se raças locais, atendendo ao seu custo e principalmente ao
seu grau de adaptação as condições locais, resistência as doenças dominantes e tolerância ao
calor.

São bons animais de trabalho, o Landim, o Africânder, o Angone, o bovino de tete, as cruzas
Africânder x Landim e Holandês x Landim.

As raças europeias não são aconselháveis nas regiões quentes pela sua baixa tolerância ao calor.
Animais muito grandes não são desejáveis, pois exigem maior quantidade de alimentos.

b)-Características desejáveis: Os animais destinados ao trabalho, devem ser dóceis, e sem


tendência para marrar e escoucinhar, activos, deslocando-se com facilidade. As cruzas de
Brahman, não são muitos aconselháveis.

69
Como características morfológicas, deverão ter uma boa musculatura na garupa, coxa e lombos,
pescoço curto bem musculado, de preferência com bossa, espáduas fortes e membros robustos,
com articulações fortes, unhas duras, ventre pouco volumoso e cornos seguros e firmes.

c)-Idade: A idade para os animais iniciarem o treino deve ser entre os 2 e 3 anos, com
aproximadamente 300 kg, isto é, cerca de 2/3 do peso de adulto.

d)-Sexo: Podem trabalhar animais de ambos os sexos, mas são de preferir os castrados. As
fêmeas têm maiores exigências com a lactação e para o fim da gravidez, período este que pode
coinscidir com a necessidade de preparação das terras antes das chuvas, não encontrando, muitas
vezes, o necessário para as satisfazer.

Os animais inteiros são menos dóceis.

e)-Idade para a castração: Os animais devem ser castrados só pelos 18 a 20 meses podendo
beneficiar da possibilidade de um desenvolvimento mais rápido e simultaneamente permitir a
decisão do destino a dar (reprodução, trabalho ou talho).

1.3.2 treino dos animais de tracção

Treino de bovino de trabalho: O ensino do boi de trabalho implica a sua habituação à canga e ao
andamento, devendo saber deslocar-se para a frente, recuar e voltar, sob o comando do condutor.

No treino seguem-se diversas etapas, convindo, no caso de animais novos, ser efectuado na
época das chuvas, quando há mais alimentos disponíveis.

O pessoal deve ser calmo, falar para os animais e não gritar, usando a vara o menos possível.
Não deve ter receio dos animais e habitua-los à sua voz, quando os está a ensinar.

Preparação do Animal para Começar a Ser Treinado

70
Para começar a ser treinado, o animal deve ser preparado de modo a evitar ferimentos graves a
quem lida com ele, e de modo a ser facilmente dominado. Para tal, convém:

a)-Deslocar o animal da manada para o curral para se habituar ao tratador;

b)-Cortar-lhe a ponta dos cornos, o que se pode fazer com um serrote vulgar, boleando com uma
pedra, lixa ou grosa os bordos cortados. O corte deve ser feito 2 a 3 cm abaixo da ponta;

c)-Colocar-lhe um arganel no tabique nasal, ou passar-lhe uma corda pelo mesmo que se amarra
à nuca. A perfuração do tabique nasal pode ser feito com um vasador apropriado ou por meio de
um ferro com ponta aguçada.

Colocação da Canga e habituação a Mesma

A primeira operação a fazer-se no treino, é o da habituação ao equipamento que o animal vai


utilizar para desempenhar o que dele se pretende.

A habituação à canga será portanto, o primeiro passo a ser dado pelo treinador. Para tal, haverá
que:
a)-Manter o animal no corredor anexo ao curral da recolha ou ensino;

b)-Passar-lhe uma corda pela base dos cornos e puxa-lo para um tronco próximo destinado à
colocação da canga, constituído por duas estacas verticais, unidas por uma horizontal, ficando
esta altura da cabeça dos animais;

c)-Amarra-se a cabeça à vara horizontal por meio de cordas que se podem soltar facilmente;

d)-Coloca-se a canga sobre o pescoço, convindo passar à operação seguinte só após os animais
ficarem calmos sob a mesma. Esta opraçao em geral demora um dia ou mais.

O treino “a duo”, com um animal já treinado, é mais fácil do que o treino de 2 animais novos.

Não se deve manter o animal sob canga, inicialmente, por muito tempo, tratando-se de animais
novos não mais de 3 horas, com períodos de descanso. Convém pôr os animais sob canga, dias
seguidos e não um dia sim e o outro não.

71
Treino de Deslocação com a Canga

A segunda etapa do treino têm como finalidade conseguir que o animal se desloque com a canga
sobre o pescoço. Para tal:

a)-Coloca-se a canga no boi a ensinar e num outro já ensinado, o que pode fazer-se no tronco
próprio;

b)-Passa-se uma corda pelo anel das narinas, ou pela corda que passa pelas narinas;

c)-O condutor da junta começa então a puxar pela corda do arganel, e os ajudantes evitam que o
animal se coloque demasiadamente oblíquo ou que avance contra o condutor.

O treino de habituação do animal a deslocar-se pode fazer-se também individualmente, trazendo


o animal para uma nora ou vara de ensino, dispondo num dos extremos dos canzis ou cangalhos,
aonde se prende o pescoço do animal, passando-lhe a correia ou brocha, e estando o outro
extremo fixo a um tubo que roda sobre a estaca vertical. Convém também que a deslocação do
animal se faça com um dos menbros posteriores preso por uma corda segura por um ajudante.

Animais que se deitam deverão ser levantados, o que se pode fazer carregando com um pau
aguçado no meio da garupa, entre as saliências de duas vértebras do sacro. Um outro processo
para fazer levantar os animais consiste em tapar com a palma da mão as narinas do animal.

Desenvolvimento do Esforço de Tracção

Constitui a 3a etapa do treino, o desenvolvimento do esforço de tracção, isto é, o reboque de


cargas em vez da simples deslocação do animal. Para este efeito:

72
Liga-se a canga por meio de uma corrente a um trenó, sobre o qual se coloca um peso
(tronco)???
Este treino deve ser feito com regularidade por pequenos períodos inicialmente, uma hora e meia
(1. 1/2h), 3 vezes por dia.

Adaptação a Trabalhos Específicos

A adaptação a trabalhos específicos, isto é, o uso do animal com os instrumentos que vai rebocar,
constitui a operação final e para tal se exige que o treinador conheça as técnicas da cultura a
utilizar e as regras de trânsito nas estradas.
Poderá o boi rebocar a charrua, a carroça, grade, nos trabalhos de campo e de transporte.

Regime de Trabalho

Os bois de trabalho devem ser utilizados nas horas mais frescas do dia. Podem-se considerar dois
regimes de trabalho:

a)-Regime de trabalho seguido: O animal trabalha de manhã, por exemplo, e descansa à tarde e
alimenta-se nesse período. Pode trabalhar entre 5 e às 11 horas da manhã, descansando 15
minutos em cada hora de trabalho.

b)-Regime de trabalho interrompido: O animal trabalha em dois períodos do dia, 4 horas por
exemplo, de manhã e 2 horas à tarde, de preferência nas horas mais frescas.

Quanto ao número de horas diárias de trabalho, nas regiões temperadas o boi pode trabalhar 8
horas, porém, nas zonas tropicais já a duração do período de trabalho, deverá reduzir-se para 3 a
6 horas.

O início do trabalho do boi deve ser ao nascer do sol e ir até três horas e meia (3 e 1/2h) mais
tarde, da parte da tarde deve começar 3 horas antes do pôr-do-sol, e acabar nessa altura.

73
Em regiões muito quentes pode utilizar-se parte das horas da noite em vez das horas mais
quentes do dia. Não convém que o animal trabalhe em dias de chuva, uma canga molhada pode
fazer ferimentos no pescoço.

1.3.3 Alimentação dos animais de tracção

Necessidades alimentares dos bovinos de trabalho e sua satisfação

Durante a época das chuvas e havendo pasto suficiente não há problemas com a alimentação dos
animais de trabalho, desde que tenham tempo suficiente para poderem satisfazer as suas
necessidades nutritivas.

A existência dum cercado próximo dos locais de trabalho com área suficiente e não
demasiadamente grande para facilitar a recolha dos animais permite que eles pelos seus próprios
meios obtenham aquilo que necessitam.

O cercado colectivo deverá ter, portanto, uma área vedada para os bois de trabalho, de
preferência dividida para permitir o descanso em parte do dia?; os animais são retirados do
mesmo para o trabalho e são lá colocados no regresso.

Na época seca, já o valor dos pastos em muitas regiões é bastante baixo para poder satisfazer as
necessidades dos animais, havendo necessidade de suplementos alimentares.

Todos os subprodutos das culturas deverão ser reservados para este efeito, caules de milho,
mapira ou mexoeira, palhas de arroz, feijão, amendoim, cortados e trazidos para próximo do
curral onde permaneçam os animais.

Um melhoramento a este tipo de alimentação é o da secagem de bandeira de milho, depois da


polinização e armazenagem para a época seca, ou colocação em palheiros.

74
Havendo melaço e resíduos de galinheiro próximos, poderão ser administrados também em
comedouro, ou melaço e ureia, esta à razão de 5%do peso do melaço. Um outro produto que se
encontra nas zonas de cereais é o farelo de milho.

Classificação dos Alimentos Volumosos Disponíveis

De acordo com o seu valor nutritivo, os alimentos volumosos disponíveis para os bois de
trabalho podem ser classificados em:

1-De boa qualidade: Os pastos de gramíneas nos primeiros meses das chuvas, que atingem
valores proteicos superiores a 9 e 10%.

Os fenos de leguminosas, feijão mascate, feijão nhemba, podem considerar-se também como
alimentos de boa qualidade, possuindo maior riqueza em proteína.

A Leucaena leucocephala, constitui um pasto arbóreo capaz de fornecer algo verde para época
seca. As folhas de chanate constituem outro recurso de boa qualidade.
Entre as palhas as de maior valor nutritivo são as de milho. Se houver resíduos ou folha de sisal
estes também podem ser utilizados.

2-De qualidade média: Podem-se englobar neste grupo, os pastos naturais já nos últimos meses
das chuvas, desde que o seu valor proteico seja superior a 6 a 7%.

Algumas palhas de feijões, folhas e caules de algodão, cabeças de girasol, tem teores proteicos
que caberiam neste grupo, mas com valor energético inferior.

O carolo do milho moído e a própria palha de mapira têm características que se aproximam deste
grupo.

3-De qualidade mais fraca: Os pastos naturais no inverno já secos, depois da maturação, com
teores proteicos bastante baixos e altos teores em fibra, encontra-se neste grupo e valores
inferiores a 6% de proteína.

75
As palhas de trigo, as palhas de arroz, as cascas de amendoim, e de semente do algodão, a polpa
ou bagaço da cana pertencem a este grupo.

Suplementos Alimentares e Formas de Utilização

Como suplementos alimentares para a compensação das deficiências dos alimentos volumosos
consideram-se os resíduos de galinheiro, os bagaços, as sêmeas e farelos, o melaço, e elementos
minerais.

A utilização de um ou outro tipo destes concentrados dependerá das disponibilidades existentes


na região e grau de utilização dos mesmos por outras espécies pecuárias.
Quanto às formas de utilização os resíduos de galinheiro podem ser misturados com as palhas ou
dados em comedouros separados ou misturados com melaço. Por cada 100Kg de palha podem
juntar-se 10 a 15Kg de resíduos.

As diversas palhas, os fenos e o próprio capim seco podem ser enriquecidos com melaço, à razão
de 10Kg deste produto misturado com 10L de água, por cada 100Kg de alimentos volumosos.

A palha de arroz pode ser posta de molho, durante 1 ou 2 horas antes de ser administrada aos
bois.

Os ossos queimados e moídos, ou a farinha de ossos deve estar à disposição dos bois de trabalho
em comedouros, à razão de 2 partes para 1 parte de sal (2:1).
Áreas de pasto necessárias

As áreas necessárias dependerão da capacidade de produção do pasto, isto é, da natureza do


terreno, chuvas caídas e das espécies dominantes. Em certas condições de pastos melhorados, um
hectare poderia ser suficiente para a produção de aproximadamente 4.000Kg de matéria seca que
seriam necessários por ano, e por animal, em condições de menor produtividade já terá que se
contar com 2 ou mais hectares por boi em pastoreio.

76
Em regime de pousio não cultivado, será necessário 1 hectare por mês na época seca e por boi.

Como utilizar os suplementos alimentares

Esta utilização depende da qualidade das forragens volumosas disponíveis, da classe dos animais
de trabalho e do regime de trabalho a que estão submetidos.

Como normas sujeitas aos resultados da observação, recomenda-se:

a-Alimentos volumosos de boa qualidade: Suplementos alimentares reservados apenas para os


animais novos em trabalhos mais pesados.

b-Alimentos volumosos de qualidade razoável: Suplementos reservados para os adultos e novos


em trabalhos pesados e para os novos em trabalhos médios.

c-Alimentos volumosos de fraca qualidade: Suplementos dados aos animais novos em qualquer
regime de trabalho e aos adultos em trabalhos médios e pesados, podendo, em caso de
necessidade, ter de se tornar extensivos também aos bois adultos.

d-Quantidade de suplementos: as quantidades de suplementos dependerão do regime de trabalho


e do valor nutritivo das forragens volumosas. Para trabalhos intensos, requere-se maior
quantidade de forragem de pior qualidade, enquanto que para trabalhos mais leves requere-se
menores quantidades, mas com elevada qualidade nutritiva.

Dos vários suplementos, como referência, indica-se a copra entre 1Kg a 1.5kg por dia e por
animal, valor sujeito à observação do estado do animal e regime de trabalho a que se encontra
submetido.

77
Abeberamento: O animal de trabalho deve ser abeberado, pelo menos, duas vezes por dia no
tempo fresco e 3 vezes no tempo quente. Se possível, deveria ser abeberado antes e depois do
trabalho.
Note-se: Quanto menos numerosos os insumos físicos e financeiros proporcionados por um
projecto, mais provável é que as actividades sejam sustentáveis.

1.4 Maneio, cuidados sanitários dos animais de tracção animal

Cuidados de Ordem Sanitária:

São idênticos aos que se tomam para os bovinos explorados pela produção de carne. Assim há
necessidade de:

a-Vacinações contra o carbúnculo hemático e se o animal tiver menos de 3 anos, contra o


carbúnculo sintomático;

b-Banhos parasiticidas semanais, nos tanques colectivos, ou por meio de aspersão, no próprio
local de trabalho, em corredor, podendo ser substituídos, em caso de necessidade, pela aplicação
dum saco com o produto parasiticida, sobre as regiões com mais carraças;

c-Uso de produtos com acção contra as tripanossomiases, se os animais são mantidos em zona de
glossina;

d-Tuberculinização, se necessária;

e-Outros cuidados.

Além destes cuidados há conveniência em vigiar os animais, sobretudo, nos primeiros tempos de
transferência, por causa de possíveis doenças transmitidas por carraças e intoxicações por plantas
tóxicas, que não existem não suas áreas de origem.

78
Além destes cuidados há os que se deverão tomar em relação aos que resultam da própria função
por que são explorados, feridas que resultam dos arreios mal colocados, que terão de se mudar ou
suspender temporariamente o seu uso, e corrigir as deficiências.

Em caso de feridas, as mesmas deverão ser lavadas com um detergente e polvilhadas com
sulfamidas, ou utilizados outros produtos disponíveis na região.

3.0 Os animais de TRACÇÃO ANIMAL (ta). – selecção dos animais e dos treinadores

3.1.Tipos de animais de TA

A espécie mais usada é a bovina


- Bois
- Vacas
- Burros
- Búfalos da água

3.2.Características dos animais

Músculos e ossos bem desenvolvidos


Comportamento calmo em relação aos outros animais e aproximação do homem
Boa postura e locomoção
Boa respiração, sem tosse, nariz húmido, pêlos brilhantes e lisos. Animais atentos e reactivos
com olhos brilhantes
Bom apetite e boa condição corporal
Animais mais pesados executam mais trabalho que animais menos pesados.

3.3. Factores a considerar na escolha dos animais

Raça – de preferência raças locais e bem adaptados ás condições da zona

79
Idade – animais jovens entre os 2 e 3 anos são mais fáceis de treinar, tem mais anos de trabalho.
Animais com a mesma idade podem trabalhar juntos vários anos. Não treinar animais
demasiadamente jovens.

Conformação – refere – se a forma geral do corpo. Tem que ser robusto, ombros fortes, pescoço
musculoso e curto. Pernas fortes e direitas, costas largas e direitas, com os cascos em boas
condições.
Os animais devem ser do mesmo tamanho para facilitar a colocação dos implementos e sem criar
lesões nos mesmos.

Temperamento – é importante no treinamento e uso posterior dos animais.


Animal agressivo e nervoso pode se tornar impossível de treinar
Avaliação não deve ser superficial e em pouco tempo. Tem sido provado que animais nervosos
no princípio, no fim tem se mostrado bastante dóceis e com melhor desempenho no trabalho.
Animal que se deixa cair durante o treino mais do que 2 vezes, deve ser retirado do treino,
animal manhoso.

Sexo – castração recomendada entre os 2 e 4 anos de idade, por forma a desenvolver um


comportamento mais calmo dos animais.
Vacas podem ser usadas para TA desde que sejam bem alimentadas, usadas por um período
limitado de tempo.
Não podem ser usadas 2 meses antes do parto e 1 a 2 meses após o parto.

3.4. Características de um bom treinador de animais

Sempre que possível de ser escolhido pela comunidade


Ser uma pessoa de confiança, saber ler e escrever
Ter experiência de criação de gado bovino
Ser comunicativo e paciente com os animais
Não ser agressivo com os animais (maus tratos, bater nos animais)
Respeitar os horários estabelecidos para o treino

80
3.5. Aarreios e implementos

-Os arreios estabelecem a ligação entre animais e implementos, isto é, o acoplamento de


implementos aos animais é feito pelo arreamento.
-A escolha do método de arreamento está relacionado com a anatomia do animal, simplicidade
de uso e baixo custo. A escolha em geral é limitada a cangas para bovinos e colares ou arreios de
peito, para cavalos e outros animais.

Tipos de arreios

-Canga: canga de cabeças ou conhecida por canga de pescoço; canga de ombro ou conhecida por
canga de corcunda.
-Coleira: coleira completa; coleira incompleta;
-Cinto de peito

A canga de cabeça é usada para gado sem corcunda (bos taurus) e em búfalos. O gado bovino
com corcunda (bos indicus), equinos (cavalos, burro, mula) e camelos tem pescoço débil
tornando o uso deste tipo de cangas não muito prático.

A canga dupla de pescoço é usado para arreios de bois e búfalos, não é adequado para equinos.
Pode se fabricar usando madeira local. Tem problema de provocar ferimentos e irritações no
animal, mas podem ser resolvidos adequando o formato da canga ao formato do pescoço e pondo
almofadas.

As coleiras podem ser completas ou incompletas. A coleira incompleta com duas peças de
madeiras verticais unidas em baixo e em cima é versátil e tem sido usada para bois, búfalos e
burros.

Os arreios de cinto do peito podem ser usados em muitas espécies de animais para várias
actividades tais como puxar carroças ou implementos de cultivo. São relativamente mais baratos

81
e mais fácil de fabricarem. Mas é necessário garantir que se encaixem devidamente ao animal, de
modo a não provocar ferimentos ou desconforto.

3.7. IMPLEMENTOS DE TRACÇÃO ANIMAL

Tipos de implementos para trabalho de campo agrícola

-Implementos de barra são normalmente traccionados por um par de animais (bois ou búfalos)
juntados por arreios/cangas. A canga suporta a parte frontal do chassis do implemento facilitando
a tracção e o controlo. Por isso, são mais apropriados para o uso em campos irrigados onde, ás
vezes, é necessário o levantamento dos implementos para saltar camalhões e valetas.

-Implementos puxados por corrente são mais pesados que implementos de barra, com
tendência a aumentar a necessidade de tracção como resultado de maiores profundidades de
trabalho. São mais indicados para solos pesados e trabalhos que duram muito tempo.

-Multicultivador com arranjos para montar corpos activos podem ser montados corpos
activos para diversas operações agrícolas (lavoura, sulcagem, sementeira, sacha e transporte. Em
muitos casos, estas máquinas dão facilidades para o operador monta-las durante a operação.

4.0 Alimentação dos Animais de Tracção

4.1. Necessidade em nutrientes

-Os animais de tracção precisam de energia para fazer lavoura, sementeira, sacha ou transporte.
Energia é a capacidade de fazer trabalho. O carro, por exemplo, para se movimentar precisa de
energia libertada na combustão da gasolina.
-Os animais também precisam de proteína. A palavra “proteína” é de origem grega e significa
“de maior importância”. As proteínas são constituintes básicos dos músculos, órgãos, células,
hormonas, ossos e dentes. O seu fornecimento diário na alimentação é indispensável para reparar

82
o desgaste natural dos tecidos e dos órgãos e para aumentar a resistência dos animais, sustentar o
crescimento, a produção e a reprodução dos animais.

4.2. Tipos de alimentos

-Os principais alimentos existentes em muitas regiões de Moçambique são: pasto natural, palha
de milho, palha de mapira, palha de mexoeira, palha de amendoim, palha de soja, palha de feijão
e diversos farelos.
-Os animais retiram a energia para o trabalho principalmente do pasto e da palha que consomem.
-Durante a época chuvosa o pasto é suficiente para alimentar os animais de trabalho, mas durante
a época seca a pastagem não produz quantidade suficiente e a qualidade também é baixa para
manter os animais fortes.
-Infelizmente a época que começam as lavouras, coincide com a época seca, altura em que o
pasto está muito seco e os animais de tracção e de toda a manada, não conseguem consumir os
alimentos que precisam para viver.
-Se comerem apenas pasto ou palha, os animais não conseguirão extrair a energia que precisam
para manter o peso vivo e a energia extra necessária para o trabalho.
-Desse modo, o animal terá que mobilizar as suas reservas corporais para se manter vivo,
caminhar, comer e acabará por perder peso.
-Se o animal não for suplementado no início da época seca vai chegar na época das lavouras com
má condição física.
-Por isso o maior segredo é não deixar os animais perderem o peso ganho durante as chuvas.

4.3. Como conservar o excesso de pasto nas chuvas e restos da colheita da machamba

-O animal pode conseguir retirar a energia contida no pasto seco e restos de colheita das
machambas se lhe for fornecido uma pequena quantidade de suplemento protéico.
-Contudo, é necessário garantir, antes de mais, que não vai faltar alimento volumoso como capim
ou restos da colheita (palha de arroz e milho, restolhos de feijão e amendoim) na época seca.
Para que estes alimentos não percam qualidade devem ser retirados da machamba logo após a

83
colheita e conservados em local seguro para serem usados apenas na altura que o pasto for
escasso.
-O excedente de pasto durante as chuvas também pode ser cortado para produção de feno, que
será utilizado para a suplementação dos animais na época seca do ano.
-A forma mais fácil e barata de conservar quer os restos da colheita como o pasto cortado é na
forma de medas. A construção de medas de feno pode ser feita no próprio campo ou perto do
estábulo em local plano, bem drenado e de fácil acesso aos animais de modo a permitir a auto-
alimentação.

4.3.1. Construção de medas de feno no campo

Corte o capim utilizando foice ou catana



Seque o capim mantendo a forragem recém cortada espalhada no chão

Marque o círculo que será a base da meda

Coloque um mastro de no máximo 4 metros de altura no centro da base

Distribua o feno em camadas sobrepostas em torno do mastro

Faça a compactação das camadas de feno, pisoteando-as

Penteie a meda para facilitar o escoamento da água da chuva

Cubra o topo da meda com lona plástica ou com uma camada de capim sem valor, para proteger
a meda contra as chuvas

Use pneus velhos, pedras ou sacos de areia para fixar a lona

Construa uma cerca a volta da meda para protegê-la dos animais

84
 4.4. Como suplementar os animais de tracçao

-No período seco do ano, os animais deverão ser suplementados por uma destas opções:
1-palha + uréia + enxofre
2-caroço de algodão,
3-sal proteinado
4-mistura leucaena –melaço
5-blocos multinutritivos
6-folhas frescas de leucaena

(1) Enriquecimento da palha de milho, mexoeira, mapira ou capim com uréia +


enxofre

A palha e o capim que é cortado tardiamente são alimentos pobres em proteína. Isso pode ser
corrigido pela adição de uréia. Quando o animal come a uréia, as bactérias que estão no rúmen
(o rúmen é a parte do estômago do animal conhecida como dobrada) do animal convertem essa
uréia em proteína. Essa proteína é usada pelo animal para formar músculos necessários para o
trabalho.

Passo -1: Preparação da mistura de uréia com uma fonte de enxofre

Existem duas fontes de enxofre


-Sulfato de amônio – misturar 9 partes de uréia com 1 parte de sulfato de amônio. Exemplo: em
1kg de uréia adicionar 110 g de sulfato de amônio
-Sulfato de cálcio ( gesso agrícola) misturar 8 partes de uréia com 2 partes de sulfato de cálcio.
Exemplo em 1kg de uréia adicionar 240g de gesso

Numa superfície limpa faça a mistura da seguinte maneira:


a-Coloque a uréia num recipiente vazio (pode ser uma garrafa de 1,5 litros vazia)

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b-Coloque a fonte de enxofre sobre a uréia
c-Agite para misturar
d-Guarde a mistura num recipiente em local seco e onde os animais não tenham acesso

Passo-2: Calcule a quantidade de palha necessária por animal

Para um animal com 300 kg de peso seria necessário pelo menos 10 kg de palha por dia se o
animal não for para pastagem. Se for para a pastagem, essa
quantidade pode ser reduzida até 3 a 5 kg por dia apenas.

Passo-3: calcule a quantidade de uréia e enxofre necessária por dia para uma junta que vai a
pastagem
100 kg de palha ---------500g de uréia-enxofre
10 kg de palha ---------x
x= 50 gramas da mistura uréia-enxofre
Para uma junta de 2 animais seria necessário 50g desta mistura
Para facilitar o maneio, arranje uma garrafa vazia plástica transparente. Despeje dentro a
quantidade de 50 g e coloca uma marca para servir de medida sem precisar pesar todos os dias.
Esta será a quantidade diária de uréia e enxofre que será usada.

Passo- 4: calcule a quantidade de água necessária


100kg de palha -----4 Litros
10 kg de palha-----400ml
Precisamos de 10 kg de palha ou capim para dois animais e 400 ml de água. Numa garrafa vazia
ou outro recipiente coloque 400 ml de água e faça uma marca. A garrafa assim marcada passará a
ser a medida de água.
Num recipiente dilui-se a mistura de uréia e enxofre + água

Passo -5: coloque a palha picada no comedouro ou no chão.

Passo -6: regue a palha com a uréia-enxofre diluída em água

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Passo -7: misture a palha regada com ajuda de uma pá ou a mão

Atenção: os animais só podem comer a palha quando a mistura estiver bem incorporada na
palha, para evitar que sejam intoxicados.
Os comedouros devem ter aberturas para evitar a acumulação de água, evitando o risco de
intoxicação dos animais por consumo exagerado de ureia ao beber água com uréia.

(2) -Mistura caroço de algodão - milho

Material necessário (quantidade para 1 junta durante 25 dias)

45,5 kg de grão de milho moído


50 kg de caroço de algodão
2,0 kg de mistura mineral
2,5 kg de uréia + enxofre

-Quantidade de mistura por animal por dia: 2 kg


-Se nao tiver mistura mineral e ureia, faça a mistura do milho e caroço de algodao apenas
-Os animais devem ter uma dieta básica de pasto ou resíduos agrícolas.
-O caroço de algodão deve ser usado como suplemento fornecido no curral depois do regresso da
pastagem.
-O caroço de algodão fornece simultaneamente energia, proteína, fibra e fósforo em
concentrações elevadas, constituindo-se numa excelente opção para dietas de animais de alta
produção.
-Vacas adultas podem receber até 2 kg de semente de algodão por dia sem provocar problemas.

(3) -Sal proteinado

Material necessário (Quantidade suficiente para 1 junta durante cerca de 60 dias)

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45 kg de bagaço de copra, bagaço de algodão
27 kg de farelo de trigo ou de milho
6 kg de ureia
2 kg mistura mineral
20kg de sal

-Este sal foi formulado para permitir consumo muito reduzido de 0,1 a 0,3% do peso vivo do
animal. O sal é colocado para ajudar a controlar a ingestão do suplemento e evitar a necessidade
de colocar o suplemento todos os dias no comedouro. Mas, se tiver paciencia para medir a
quantidade que o animal precisa por dia, pode dispensar o sal. Se o animal pesar 300 kg espera-
se que ele coma apenas entre 300g a 900g desta mistura por dia.
-O consumo destas quantidades permite a manutenção do peso vivo durante a época seca

(4) -Mistura folhas de leucaena-melaço

Material necessário (quantidade suficiente para alimentar 1 junta durante 18dias)


14 kg de melaço
22,5 kg de folhas verdes secas de leucaena

-Corte as folhas de leucaena e seque a sombra


-Misture o melaço e as folhas secas de leucaena sem ramos
-Forneça 1 kg desta mistura por animal

(5) -Blocos multinutritivos

Material necessário (quantidade suficiente para alimentar uma junta durante 6 meses)

50 kg de melaço
10kg de ureia
5 kg de sal
10kg de cimento

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25kg de farelo ou bagaço ou folhas verdes secas de leucaena

-Misture todos os ingredientes na seguinte ordem melaço, ureia, sal, cimento (misturado a parte
com um pouco de água), farelos
-Cada animal consume cerca de 250g por dia
-O consumo de blocos nao substitui o pasto. Pelo contrario, temos que permitir que o animal
fique na pastagem pelo menos 8 horas por dia a nao ser que receba feno no curral

(6) -Suplementação com folhas frescas de Leucaena

Se não quiser optar por nenhuma das opções apresentadas em cima tem as folhas das árvores. As
leguminosas arbustivas são uma boa opção para o melhoramento da dieta dos animais durante a
época seca.
-A leucaena e outros arbustos podem ser estabelecidas numa área cultivada exclusivamente para
plantar leguminosas e formar assim um banco forrageiro, ou usado para fazer cercas dos quintais
ou mesmo para cercar as machambas.
- A leucaena é o exemplo mais conhecido em Moçambique e cresce bem em quase todos as
regiões do país.

Plantação de árvores de Leucaena:


-Sementeira: é preferível semear em saquinhos ou vazinhos de viveiro a 3cm de profundidade em
misturas de estrume e solo local.
-Transplante deverá ocorrer quando houver boas chuvas ou a qualquer altura se for possível
regar. A idade ideal para o transplante é quando a raiz principal atinge o fundo do saco, mas
antes de se encaracolar dentro do saco ou perfurar o mesmo. O intervalo entre as plantas deve ser
de 40-60 cm. Se a plantação for para colheita a mão, o espaço entre linhas deverá ser de 1 m; se
for para pastoreio directo por bovinos o espaço de 2m é o ideal.

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-Rega: se transplantar na época das chuvas não precisará regar. Se as chuvas forem fracas vai ser
preciso regar.
-Colheita: esta planta precisa ser protegida até alcançar um ano ou a altura de 2 metros. Só nessa
altura poderá se iniciar o corte e oferta da forrageira. Os animais podem pastar directamente.
Nesse caso deixa pastar só por cerca de duas horas para não ultrapassar o limite de tolerância.
-A Leucaena fornecida no curral na época seca numa quantidade de 1% do peso. Se o animal
pesar cerca de 300kg deverá receber cerca de 3 kg de folhas frescas de leucaena por dia, depois
de voltar da pastagem.
-Outras plantas forrageiras promissoras são a sesbania, gliricidia e prosopis como fonte de
forragem, madeira e fertilizante do solo.

4.5-Número de horas necessárias para pastar e beber água

-Leve sempre os seus animais à pastagem


-Para que o animal possa consumir a quantidade de pasto que necessita diariamente deve
permanecer na pastagem durante 8 horas pelo menos a não ser nos casos que recebe
suplementação de feno.
-O animal também precisa beber água pelo menos uma vez por dia. Um animal de 300kg precisa
por dia de pelo menos 30 litros de água. Se possível, coloque no seu curral um balde com água
para o animal beber sempre que precisar.

5.0-Maneio sanitário dos animais de tracção animal

O maneio sanitário visa garantir a saúde dos animais.


Os problemas de ordem sanitária afectam a função geral do organismo animal afectando-se
assim o propósito de criação dos bovinos (produção de carne, leite ou trabalho). Para os animais
de tracção e quando se tratar de machos inteiros o maneio sanitário visa assegurar um bom
desempenho na produção de trabalho, bom desempenho na cobrição e um bom rendimento de
carcaça ao refugo, excluindo a cobrição quando se tratar de machos castrados. Para vacas o
maneio sanitário visa assegurar um bom desempenho na produção de trabalho, bom desempenho
reprodutivo, boa produção de leite e bom rendimento de carcaça ao refugo.

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As actividades de maneio sanitário dos bovinos de tracção animal podem ser divididos, tal como
nos bovinos em geral, em três níveis:

1-Maneio Profilático

2-Maneio Observacional Diário

3-Maneio Terapêutico

5.1- Manaeio Profilático

São aqui incluídas todas actividades de prevenção e controlo de doenças e seus vectores. Eis as
principais actividades:

Vacinações:

Os animais são vacinados para induzir a produção de anticorpos (defesa) no organinso do animal
contra as doenças que afectam o desempenho dos animais.

As vacinações em bovinos de tracção animal seguem o calendário anual de vacinações de


bovinos de corte da Direcção Nacional dos Serviços de Veterinária (DNSV) e das
recomendações sobre vacinações específicas em zonas epidemiologicamente definidas pela
mesma Direcção.

Eis o calendário das principais vacinações::

Època de Número de Classe ou idade do


Vacinação aplicacões animal
Doença

Carbúnculo Abril - Junho 1 aplicação anual A partir dos 3 meses

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Hemático

Carbúnculo Abril - Junho 1 aplicação anual De 3 meses a 3 anos


Sintomático de idade

Febre Aftosa Abril-Junho Duas aplicações de 6 A partir dos 3 meses


Setembro- em 6 meses de idade
Dezembro

Dermatose Abril - Junho 1 aplicação anual A partir dos 3 meses


Nodular de idade

Brucelose * Aplicação única Vitelas de 4 a 8 meses


(Vacina S19) de idade

-Para se garantir a vacinação de todas vitelas na idade indicada, deveria ser efectuada pelo menos
3 vezes ao ano (4 em 4 meses) e as vacinadas marcadas a ferro (V) para se evitar a revacinação.

Banhos Carracicidas

O control de carraças é importante pelas seguintes razões:

1-Elas sugam o sangue dos animais, algumas até 1 ml/carraça/dia. Assim, se estiverem 100
carraças deste tipo num dos seus animais, seu animal perde 100 ml de sangue por dia. Isto periga
o animal e afecta o seu desempenho na tracção animal, sua fertilidade, como mãe produzindo
leite para o vitelo ou pode resultar na morte do vitelo antes de nascer (nado morto).

2-Carraças danificam a pele do animal. Quando elas acabam de se alimentar deixam o animal
caem para o chão e põem ovos. Elas deixam feridas sangrando no animal que atraem as moscas.
As moscas podem-se alimentar do sangue ou da ferida transmitindo doenças ou pondo ovos nas
feridas. Isto resulta nas míases cutâneas, mais problemas para o gado.

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3-Mais importante ainda, as carraças transmitem doenças para os bovinos resultando na perca da
força de trabalho (tracção animal ou transporte), perda de produção, infertilidade, aborto, ou
mesmo morte do animal.

Alguns produtos (drogas carracicidas) usadas para o controlo de carraças, controlam também a
mosca tsé-tsé, vector da tripanossoma.

A maior parte das drogas usadas em Moçambique e muito recentemente providenciadas pela
DNSV são de aplicação semanal na época chuvosa e aplicação quinzenal na época seca. Estamos
a falar de Milbitraz 12.5% (Amitraz 12.5%) cuja aplicação é por pulverização manual ou
choveiro e do Milbitraz 23.5% (Amitraz 23.5%) que é um banho de imersão ou seja utilizado nos
tanques carracicidas.

Outro banho também providenciado pela DNSV é o Cylence (Cyflutrin 1%) que para além de
controlar carraças, controla também a mosca tsé-tsé. O método de aplicação de Cylence é pour-
on, i.é., a dose calculada para o peso do animal é aplicada ao longo da coluna, da cabeça a cauda.
Em casos de utilizar o Cylence 1% o intervalo de aplicação mínimo é de 15 dias

Muitos outras drogas carracicidas estão dsiponíveis no mercado, entretanto o seu uso deve
merecer o devido cuidado por parte dos criadores sendo sempre necessário a recomendação do
extensionista da zona.

Quando os animais não são banhados, pode-se verificar os seguintes sintomas, das
diferentes doenças transmitidas por carraças:

ANAPLASMOSE.

Sintomas :

-Febre alta (40°C-41°C) que vem e vai;

93
-Tem diarreia que passa logo e começa a defecar fezes duras escuras;
-O animal não consegue defecar;-Mucosas brancas (anemia); -Come pouco;
-Emagrece com muita rapidez; -Pele não é elástica: -Falta de água no corpo (desidratação); -
Vacas prenhas podem abortar; -Pode morrer quando não for tratado. -Emagrecimento e
obstipação. -Anemia
-Os animais doentes com anaplasmose ficam fracos durante muito tempo. -Podem contrair outras
doenças facilmente e, muitas das vezes morrem
Transmissão da doença : a bactéria passa de um animal para o outro através da picada de
carraças de cor azul. Pode também ser transmitida com seringas não esterilizadas.

BABESIOSE

Sintomas :

-Febre alta (40°C-41°C); .-Urina de cor vermelha (sangue); .-Perda de apetite


-Emagracimento; .-Fraqueza; .-Respiração rápida; . -Pêlo áspero; -Pele quando puxada não volta
logo (desidratação); .-Mucosas amarelas; -Morte do animal.
-As vezes os microorganismos que causam a doença encontram-se na cabeça.
-Neste caso o animal apresenta sinais nervosos :-Range os dentes; -É agressivo;
-Anda como um bébado; -Cai de lado e pedala com as patas; -Morre.

RIQUETSIOSE

Sintomas :

-Muitas vezes os animais não mostram sinais de doença, apenas encontrámos mortos. Porêm
quando a doença apresenta sintomas, eles iniciam-se com :
-Febre alta (41°C-42°C) que não baixa;
-Sintomas de mal-estar geral (tristeza, deixa de comer e treme); -Respiração difícil; -Gira os
olhos -As vezes tem diarreia com sangue.
-Depois desenvolvem-se sintomas nervosos :

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-Range os dentes e mastiga constantemente
-Vira os olhos e pestaneja; -Anda em círculo levantando as patas.(cabritos e ovelhas). -Parado
com a cabeça descaída (bovino); -Depois cai de lado e pedala com as patas e morre.

THEILERIOSE

Sintomas:

-Hipertermia. Inapetência. -Diminuição da ruminação. -Diminuição da produção de leite.


-Corrimento nasal mucoso. -Lacrimejamento acentuado. -Focinho seco.
-Orelhas pendentes. -Constipação. -Diarreia. -Fezes hemorrágicas. -Poliadenite.
-Tratamento: não existe. -Fase inicial: antibióticos. -Prevenção: -Banhos

Desparasitações internas

Em relação a bovinos de tracção animal dois tipos de desparasitações internas devem ser
consideradas importantes:

Desparasitação contra Parasitas Gastro-intestinais

Os parasitas gastro-intestinais diminuem a absorção dos nutrientes, provocam lesões no tracto


gastro-intestinal resultando em diarreias e emagrecimento do animal com consequente perda de
força de trabalho. Por forma a previnir o efeito negativo das parasitoses gastro-intestinais é
recomendada uma desparasitação estratégica no início e no fim da época das chuvas. Mas por ser
difícil definir claramente o início e o fim das chuvas é recomendado a desparasitação de bovinos
de tracção animal de trêz em trêz meses.

Controlo de Tripanossoma

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Este parasita do sangue é transmitido pela mosca tsé-tsé e é responsável pela diminuição da força
de trabalho dos animais de tracção nas zonas infestadas pela mosca tsé-tsé. Em Moçambique, a
principal via de control é pela aplicação de tripanossidas, como se segue:

Aceturato de diminazeno – Cada três meses meses


Cloreto de Isometamiduim – Pelo menos duas vezes por ano, 15 dias após as aplicações
alternadas aceturato de dimanezeno.(Um tratamento de aceturato de diminazeno seguido de
cloreto de isometamidium e o tratamento a seguir sem cloreto de isometamidium).

5.2. Prospecções

Tuberculose

Já na selecção dos animais para tracção animal, a profundidade da caixa toráxica é importante
característica. Pretende-se de facto que nesta caixa toráxica estejam os pulmões com maior
capacidade para a oxigenação do sangue. Sendo a tuberculose uma doença que afecta os
pulmões, afectará sem dúvidas a capacidade de força de trabalho, resultando em fraqueza ou
animais com baixa capacidade de trabalho (cansam-se depressa). Para se assegurar a saúde dos
animais de tracção, recomendaºse que o teste de tuberculose por via de tuberculinização seja
feito uma vez por ano.

Brucelose

A brucelose é uma doença que causa abortos. A falta do conhecimento de uso adequado da
tecnologia de tracça animal, na componente maneio dos animais de tracção sustenta o mito nos
agricultores da não utilização de fêmeas na tracção por considerarem que estas baixam a
fertilidade e abortam quando submetidas no trbalho prenhas. Considerando a situação actual de
disseminação de brucelose no país a prospecção anual de brucelose em vacas de tracção deve ser
realizada para não se atribuir as causas de aborto ao efeito da tracção.

96
5.3. Maneio Observacional diário

Os animais de tracção animal são praticamente companheiros do homem e existe uma


cominucação entre eles. È mais fácil para o criador identificar sinal de doença no animal de
tracção do que noutro não usado para tracção.

Eis os sinais de animal são e animal doente:

Sinais de animal são

-O animal é activo e alerta


-Anda bem
-Tem apetite, come e bebe
-Rumina
-Pêlo liso e brilhante, com boa elasticidade da pele
-A respiração é calma e regular quando em descanso
-Olhos brilhantes e atentos, sem corrimentos
-Focinho e narinas húmidos e sem corrimentos
-Fezes firmes e urina amarela clara
-Temperatura normal entre os 37 e 39oC

Sinais de animal doente

-Tristeza e isolamento do grupo


-Fraqueza geral
-Cabeça e cauda descaídas
-Anda com dificuldades, anda aos círculos ou não anda
-Perda de apetite, não come e não bebe água normalmente

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-Emagrecimento
-Pêlos levantados
-Respiração dificil ou rápida
-Diarreia, conspurcação do trem posterior
-Fezes duras ou o animal não consegue defecar
-Corrimento nos olhos ou nas narinas
-Produção de saliva em excesso
-Focinho seco e quente
-Temperatura elevada, acima dos 39.5oC

5.4. Maneio Terapêutico

O tratamento de casos de doenças é similar aos casos em bovinos no geral. Atenção especial é no
tratamento de feridas causadas por má manipulação dos animais ou má colocação de cangas.
Estas devem ser cuidadosamente desinfectadas e depois aplicado o cicatrizante. Desinfectantes a
base de iodo são recomendados mas na ausência podem ser usados outros como por ex. Savlon.
Enquanto estiver em tratemento o animal deve ser retirato do trabalho até a cicatrização.

As coixeiras constituem outro problema nos animais de trabalho. Mais uma vez a manipulação
deficitária dos animais durante o trabalho na agricultura ou no transporte podem induzir a
coixeiras. Para estes casos a aplicação de antiinflamatórios contendo dexametasona ou
phenilbutazona são recomdados e, um tratamento de entre a 5 dias tem produzido bons
resultados.
CUIDADO!! Não usar antibióticos para casos de coixiras cujas lesões não são visíveis ou
quando não se observa coixeira associada a ferida aberta com pus.

6.0 Amanhos culturais básicos

6.1. Escolhas de implementos (alfaias) para a tracção animal na lavoura, gradagem,


sementeira e sacha

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Ao escolher os implementos (ferramentas) procure aquelEs que são:
Leves;
Fortes;
Simples;
Confortaveis no trabalho;
Não muito caros

6.2. Preparo periódico do solo

Dá-se o nome de preparo periódico às operações de movimento do solo, com a finalidade de


cultivar periodicamente as culturas no mesmo terreno.

O processo compreende várias técnicas que, se usadas muito bem, permitirão o aumento de
rendimento das culturas, porém, se mal executadas, contribuirá a degradação do solo, em casos
extremos leva a desertificação.

Objectivos principais:

Eliminação das ervas daninhas (infestantes);


Criar boas condições para sementeira, germinação, emergência e bom desenvolvimento da raiz;
Destruição dos torrões do solo;
Destruição das camadas dura do solo (compactação);
Revolvimento e aeração (troca de ar) do solo para o desenvolvimento da raiz;
Nivelamento do terreno;
Incorporação (enterrar) de restos das culturas ou adubos verdes;
Preparo de sulcos (irrigação).

6.3. Estado óptimo do solo para o preparo periódico:

Depende do conteúdo de humidade do solo;

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Não é recomendado o preparo com muita humidade:
Danifica a estrutura do solo pela cimentação das partículas e compactação;
Exige maior força das máquinas e, às vezes, impede a operação.
Quando o solo estiver muito seco, apesar de não provocar danos físicos à sua estrutura, obtém-se
grande número de torrões, necessitando de várias passadas com máquina para se efectuar o
destorroamento e permitir a sementeira;
A condição ideal de humidade do solo para a operação com máquinas é a “friável”, isto é, aquela
em que se destrói um torrão com pequena pressão dos dedos;
Representa o conteúdo de humidade mais favorável para se conseguir uma destruição perfeita do
solo.

6.4. Avaliação prática do teor de humidade:

Apertar um torrão com as mãos, soltando-o depois; caso se mantenha a forma com as partículas
firmemente aderidas (juntas), o solo está com excesso de humidade;
Se quando apertado o torrão, desfazer-se com facilidade ou, se não houver a formação de torrão,
há falta de humidade;
O ideal é quando se forma um torrão e ao se abrir a mão, verifica-se apenas o inicio de
disfazamento, mantendo as partículas do solo relativamente aderidas (juntas).

6.5. O preparo inicial do solo geralmente é dividido em 3 categorias distintas:

Preparo primário (lavoura): esta operação é feita com as charruas de arado (aração) e
escarificadores (escarificação).
A lavoura envolve a alteração do solo para criar as condições favoráveis à germinação das
sementes e eventualmente ao crescimento da planta;
Inclui operações profundas cujo objective é:

100
Eliminar ou enterrar as infestantes (ervas daninhas) e os restos de cultura;
Promove o afofamento das camadas superficiais do solo;
Não quebrar excessivamente os torrões, deixando-se alguns resíduos vegetais na superfície.
A lavoura é feita a uma profundidade suficiente (16 a 25 cm) para permitir a boa infiltração de
água no solo e reduzir o escoamento de água de chuva, reduzindo o risco de erosão;
É necessário evitar lavrar terrenos muito inclinados (até 5%);
Aconselha-se a alterar o sistema de lavoura (aração) a cada ano, para evitar desníveis do terreno
provocados pelo uso contínuo de um único sistema (ponto inicial da lavoura).

6.6 . Cultivadores mecânicos (sachadores)

Os cultivadores são utilizados para uma movimentação superficial do solo, com a finalidade de
eliminar as ervas daninhas, principalmente em culturas anuais, como também, escarificar restos
de culturas, destorroar solo já arado, misturar fertilizantes e correctivos.
A sachas é a operação feita com os cultivadores (sachadeiras).
É uma operação que se realiza depois de semear a cultura;
Eliminação das ervas daninhas para evitar a concorrência com a cultura principal (água,
nutrientes, luz e o ar);
Destruição das crostas superficiais, favorecendo a infiltração de água e quantidade suficiente no
solo.

6.7. Carroças e transporte

As carroças são veículos de duas rodas, que podem apresentar rodados de pneus ou de ferro. Tem
muita utilidade para o transporte de diversos produtos agrícolas (colheitas) e não agrícolas
(madeira, água, estrume, lenhas, etc) (figura 6). A maior parte das carroças está concebida para
aguentar cargas de mais de 1000 kg. A capacidade do animal para puxar tais cargas depende do
revestimento da estrada e das inclinações.

101
6.8. Afinação e manutenção das alfaias

-Manutenção diária e inspecções:


-Raspar a terra enquanto ainda estiver no campo;
-Quando voltar à casa, limpar a alfaia por completo;
-Fazer uma inspecção detalhada em todas as partes;
-Verificar o aperto de todos as porcas e parafusos com uma chave-inglesa;
-Nunca usar uma chave de porcas ou um par de alicates para apertar os parafusos;
-Certificar-se que os parafusos e as porcas usados para os ajustes de campo podem ser girados
livremente e lubrifica-los se necessário;
-Verificar o estado das partes sujeitas a atritos e a desgaste (relha);
-Substituir as partes desgastadas quando for necessário ou aconselhado;
-Controlar a alfaia no que se refere à distorção;
-Reparar qualquer parte curva (torta), ou mandar para a reparação;

-Manter as peças de trabalho lubrificadas para evitar o início da corrosão e reduzir forças de
tracção;
-Esfregar todas as superfícies de trabalho com um trapo embebido em óleo.

Manutenção no final da estação:

-Desmontar completamente e cuidadosamente as componentes principais da alfaia;


-Reparar ou substituir as partes requeridas para o efeito;
-Limpar completamente as componentes da charrua;

-Remover qualquer ferrugem e se necessário, pintar de novo;


-Proteger as componentes da charrua com um trapo embebido em óleo;
-Não pintar as superfícies de trabalho, que penetram no solo. Estas só devem ser esfregadas com
óleo;
-Substituir todos as porcas e os parafusos danificados e limpar de novo, com óleo ao montar;

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-Montar de novo as alfaias e assegurar-se que todas as componentes foram limpas com óleo.
-Guardar num lugar seguro, seco e longe do alcance dos animais, sacos de cereais e qualquer
fertilizante armazenado.

7.0 Adestramento e maneio geral dos animais de tracção

Os animais destinados ao trabalho necessitam de passar por um período de treino, quer dizer,
devem ser habituados a obedecer ao homem e a realizar exercícios ou movimentos apropriados
para que estejam em condições de prestar bem o serviço útil que se lhes exige.

7.1. Escolha e preparação do local de treino

Princípios a seguir para uma maior eficiência do treino e posterior uso dos animais:
•A abordagem ao animal deve ser calma, firme, paciente e consistente;
•Estabelecer uma rotina e repetição dos passos do treinamento de forma persistente;
•Completar cada passo de forma consistente antes de iniciar o passo seguinte de treino;
•Compensar o animal em cada sucesso e punir pelo mau comportamento;
•Pode-se utilizar animais treinados ou instrumentos de treino que serão substituidos logo que
atingido o objectivo de cada passo;
•Comandos poucos e breves;
•Treino:3-4h por dia, de preferência em dois períodos de 2 horas cada;
•O treino deve ser ás horas mais frescas do dia
•É importante dar ao animal um nome próprio.

7.2. Técnicas básicas de contenção e condução dos animais

Treinamento de um animal ou de junta

Princimpais etapas de treino:

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1.Familiarização ou domesticação
2.Argolamento
3.Adaptação a canga
4.Ensinar a caminhar em linha recta
5.Desenvolvimento do esforço de tracção
6.Puxando implementos

7.3. Domesticação e locomoção controlada

•Famialiarização
Familiarização do animal com a gente em especial com o amansador.

Nesta fase o treinador entra em contacto com o animal, tocando-o até se acustumar a sua
presença e de mais gente.
•Argolado
Consiste em colocar uma argola no nariz para melhor maneio e facilitar a doma do animal.

-Conter o animal com um laço de corda nos cornos ou no pescoço encorajando-o a andar.
-Deverá ser elogiado gentilmente caso obedeça.

-Dar acompanhamento por detrás do animal e a paragem por um comando, ao mesmo tempo que
se puxa 2 ou 3 vezes a corda.

-No final a junta deverá puxar com harmonia (seguindo uma linha recta) um peso de 50kg numa
superfície difícil, por 2-3horas, em velocidade normal (2-4km/h) com pequenos intervalos de
15minutos;

-O treino deve ser repetido durante cerca de 4-8dias;

-De preferência deve-se agregar a disciplina de seguir sulcos nas áreas de cultivo, previamente
abertos por uma junta de animais treinados.

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4-Puxando implementos

-Nesta fase os animais são habituados aos implementos como: charruas, cultivadores,
sachadores, carroças, trenós e muitos outros.

-Deverão seguir todos os comandos introduzidos até a data.

-O treino durará 3-4horas por dia, com intervalos de 15 minutos cada, por 1-2semanas num
terreno apropriado.

-Treino para tracção de carroças

É feito segundo os mesmos principios de introdução e habituação aos comandos;

-Habituação aos novos areios e colocação da carroça, bem como á condução do animal puxando
a carroça;

-Habituação dos burros aos ruídos de tráfego e de pessoas é importante pois terão que fazer o
transporte para locais mais urbanizados e mais agitados do que o trabalho na machamba.

-Normalmente é de 3 meses mas pode ser influenciado pelos seguintes factores:

-Factores que influenciam a facilidade de aprendizagem:

1.Espécie, raça;
2.Temperamento individual;
3.Condição física e saúde;
4.Tipo de arnéis utilizados;
5.Perícia, paciência e persistência do treinador.

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7.4. Habituação á canga

Levar o animal para fora do curral introduzindo os arreios para o controle do animal e o
emparelhamento, repetindo todos os comandos anteriores;

Para minimizar nervosismo e ansiedade, pode-se juntar a outro animal já treinado se estiver
disponível, facilitando deste modo a aceitação dos arreios e novos comandos;

Acoplar a canga primeiro ao animal jovem e depois ao mais velho ou animal já treinado.

Manter as cabeças dos 2 animais em paralelo pelo que a canga deve ser ajustada;
Pode-se usar um tronco de fixação das cabeças dos animais,para que permaneçam algumas horas
até se mostrarem confortáveis com a canga

7.5. Ensinar a caminhar

Habituar aos comandos, «andar», «parar», «virar á direita», «virar á esquerda»; repetir 3-
4horas por dia durante 4-7dias;

O leader segue em frente á junta dos animais enquanto o treinador segue nas traseiras, dando a
orientação.

Logo que possível o leader deve ser dispensado.

7.6. Desenvolvimento do esforço de tracção

-O objectivo é desenvolver os músculos e a capacidade de tracção de diferentes cargas.

106
-Não serão utilizados ainda implementos agrícolas pois poderão provocar acidentes.

-Podem ser usados troncos que rolam ou pesos de fácil arrasto;

-O peso inicial recomendado é de 15kg, que será incrementado gradualmente para 50kg;

-No final a junta deverá puxar com harmonia (seguindo uma linha recta) um peso de 50kg numa
superfície difícil, por 2-3horas, em velocidade normal (2-4km/h) com pequenos intervalos de
15minutos;

-O treino deve ser repetido durante cerca de 4-8dias;

-De preferência deve-se agregar a disciplina de seguir sulcos nas áreas de cultivo, previamente
abertos por uma junta de animais treinados.

7.7. Treino para lavouras

4. Puxando implementos
Nesta fase os animais são habituados aos implementos como: charruas, cultivadores, sachadores,
carroças, trenós e muitos outros.

Deverão seguir todos os comandos introduzidos até a data.

O treino durará 3-4horas por dia, com intervalos de 15 minutos cada, por 1-2semanas num
terreno apropriado.

7.8. Treino para transporte

-Treino para tracção de carroças

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-É feito segundo os mesmos principios de introdução e habituação aos comandos;

-Habituação aos novos areios e colocação da carroça, bem como á condução do animal puxando
a carroça;

-Habituação dos burros aos ruídos de tráfego e de pessoas é importante pois terão que fazer o
transporte para locais mais urbanizados e mais agitados do que o trabalho na machamba.

7.9. Frequência e duração do treino

-Normalmente é de 3 meses mas pode ser influenciado pelos seguintes factores:

-Factores que influenciam a facilidade de aprendizagem:

1.Espécie, raça;
2.Temperamento individual;
3.Condição física e saúde;
4.Tipo de arnéis utilizados;
5.Perícia, paciência e persistência do treinador.

7.10. Treino de outras espécies de tracção

-Treino dos burros de trabalho


-Os burros são normalmente fáceis de laçar, desde que a aproximação seja calma, amigável e
com alguma comida;
-O treino dos burros de trabalho segue os mesmos passos já descritos para o treino dos bovinos
de tracção;
-Normalmente o treino tem a duração de 5-6 semanas.

108
SILVO-PASTOREIO

Por: Vários autores

-Combinação intencional de forrageiras arbustivo-arbóreas, pastagem e gado ao mesmo tempo,


com maneio de forma integrado.

-O objectivo é incrementar a produtividade por unidade de área. Nesse sistema, ocorrem


interacções em todos os sentidos e em diferentes magnitudes.

-Sistema multifuncional com a possibilidade de intensificar a produção atravês de maneio


integrado dos recursos naturais evitando a sua degradação, para além de recuperar a sua
capacidade produtiva

-É a criação de animais com forrageiras arbustivo-arbóreas em divisões e em barreiras de quebra-


ventos, reduzindo a erosão, melhorando a conservação de água, reduzindo a necessidade de
fertilizantes minerais, a captação e fixação de carbono, a diversificação da produção, aumento
da renda e a biodiversidade, e melhora o conforto dos animais.

-A sustentabilidade da produção animal de grande porte é ameaçada pela característica intrínseca


ao sistema de produção, baseado num reduzido número de forrageiras, invariavelmente
monocultivos, que trazem em si a degradação.

-A degradação resulta da instabilidade dos sistemas produtivos, onde os factores desfavoráveis


são de carácter biótico, como a ocorrência de pragas e doenças, maneio inadequado,
concorrência de plantas indesejáveis e, os de carácter fisico-químicos como a mineralização da
matéria orgânica dos solos, lixiviação e alterações de microclimas.

-A degradação das plantas implica também em aspectos muito negativos para a imagem desse
agronegócio, devido as perdas de solo por erosão, redução da disponibilidade de água no solo,
assoreamento dos corpos de água e perda de biodiversidade vegetal e animal.

109
-As áreas de pastagem estão sob uma condição climática que determina stress térmico calórico
para os animais sem protecção e estacionalidade de produção das forrageiras, a ocorrência de
geadas é um agravante para a estacionalidade de produção das forrageiras

-As questões como a produção de forrageiras e, o bem-estar animal são influenciadas pelo
microclima local e determinam reflexos no desempenho animal.

-A presença de arbustos e árvores forrageiras, dispostas de forma adequada, favorece o bem-estar


animal, promove melhorias e protege à produção forrageira.

ARVORES DISPERSAS NA PASTAGEM

-Distribuição aleatória, não obedece necessariamente a um padrão de espaçamento pré-definido.


Surge na regeneração natural de espécies lenhosas no interior das pastagens ou de plantações
feitas pelo agricultor.

-Tem por objectivo, proporcionar protecção ao rebanho como sombra, quebra-ventos e, evitar
stress térmico e, visa a melhoria da produção dos animais e, da qualidade do pasto.

INTERACÇÃO ÁRVORE-PASTO

-Árvore e pasto formam o estracto superior e inferior que, junto com o animal constituem os
componentes básicos do sistema silvo-pastoreio.
-Os componentes apresentam diferenças morfológicas, tanto na parte aérea como no sistema
radicular e, por estarem dividindo o mesmo espaço, satisfazem as suas necessidades, explorando
as mesmas fontes de recursos luz, água e nutrientes.
-Nas pastagens arborizadas, a sombra e a biomassa das árvores têm potencial para melhorar a
fertilidade do solo, aumentar a disponibilidade de nitrogénio para as forrageiras herbâceas e,
melhorar a qualidade da forragem.

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-A adaptação das plantas forrageiras à variação da intensidade luminosa está ligada a
modificações morfofisiológicas. Quando sombreadas, as suas folhas tornam-se mais finas e
possuem células menos compactadas a uma taxa fotossintética menor.

-Segundo Ribaski et al. (1998), uma observação a Algaroba (Prosopis juliflora) na pastagem de
Cenchrus ciliares L, sob 50% de sombra:
a)-redução da fotossíntese, mas aumento da eficiência fotossintética
b)-eliminação do teor de clorofila
c)-aumento da área específica foliar
d)-aumento do teor de nitrogénio

INTERACÇÃO ÁRVORE-ANIMAL

Árvores
-abrigos naturais para animais, como protecção contra raios em momentos de tempestade
-fornecimento de sombra para minimizar stress calórico
-fornecimento de forragem para animais

Animais
-controle da vegetação herbâcea
-reduz riscos de incêndios e custos de controle da vegetação por outros meios onerosos como os
químicos
-acelera o processo de ciclagem de nutrientes pois, grande parte da biomassa que consomem,
retorna ao solo sob a forma mais degradada (fezes + urina)

INTERACÇÃO ÁRVORE-SOLO

A biomassa e o sistema radicular das árvores, podem promover mudanças consideráveis nas
condições fisicas, químicas e biológicas do solo. Nas pastagens degradadas ou no início da
degradação, a cobertura vegetal deficiente expõe o solo aos efeitos prejudiciais da erosão hídrica

111
e eólica. Nessas condições, as árvores podem exercer um importante papel na conservação do
solo e no melhoramento da sua fertilidade.

A parte aérea das árvores:


-protecção física para o pasto
-reduz velocidade dos ventos
-diminui as perdas directas do solo
-diminui a evaporação da humidade do solo.

O sistema radicular:
-aproveita nutrientes de camadas do solo, fora do alcance das raízes das plantas forrageiras
herbâceas e torná-los disponíveis.

ENRIQUECIMENTO DO SOLO

As árvores possuem raizes profundas que, conseguem capturar água e nutrientes nas camadas
inferiores do solo, onde o capim não alcança. Quando caem os frutos, as folhas e galhos, parte
destes nutrientes são depositados sobre o solo, aumentando sua fertilidade.

Algumas árvores são leguminosas e fixam o nitrogénio de ar no solo. Com isso, adubam a
pastagem com o nitrogénio que é o nutriente mais importante para o crescimento dos capins.

O solo debaixo das copas de árvores possui maiores teores de alumínio e, maiores conteúdos de
matéria orgânica total que o solo do restante dapastagem.

MELHORIA DO VALOR NUTRITIVO DO PASTO

O pasto que cresce debaixo da copa das árvores, principalmente de leguminosas arbóreas
apresenta coloração verde-escura e maiores teores de proteina bruta e de minerais do que aquele
da área não sombreada.

112
O teor da proteina bruta do capim debaixo da copa das árvores foi 50% superior ao capim da área
aberta da pastagem, de 10.8% vs 7.2%.

SUPLEMENTAÇÃO NATURAL

As leguminosas produzem grande quantidade de frutos no pico do período seco (Agosto-


Setembro), quando há falta de pasto. Os frutos são muito apreciados pelo gado e possuem bom
valor nutritivo, representando um recurso forrageiro adicional na pastagem.

DIVERSIFICAÇÃO DE AMBIENTE

A presença de árvores nas pastagens aumenta a diversidade de ecossistema, propiciando maior


oportunidade para aumento da fauna nas pastagens. Isso tráz benefícios, no controle de
ectoparasitas do rebanho por aves como garças e, no controle de pragas das pastagens
(cigarrinhas e lagartos) por insectos e aves predadoras.

DIVERSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO

Com arborização das pastagens, existe possibilidade da utilização de espécies fornecedores de


produtos como madeira, óleos, resinas etc... uma fonte adicional de renda.

O estabelecimento de Silvo-Pastoreio obedece algumas técnicas a saber:

a)-as forrageiras arbustivo-arbóreas devem ser estabelecidas de 3 em 3 metros na linha e, as


distâncias entre as linhas deverão ser de 4 metros.

b)-quando tiverem 4 metros de altura, devem ser cortadas de forma alternada na mesma linha,
passando de 3 metros para 6 metros entre as plantas na linha.

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c)-as gramíneas devem ser estabelecidas também em linhas, ao compasso de 40 centímetros por
40 centímetros ou, 30 centímetros por 40 centímetros. Além das gramíneas, também pode-se
consociar com leguminosas rastejantes ou trepadeiras.

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