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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO ANIMAL E VEGETAL

BUBALINOCULTURA

Prof. Dr. Fábio Jacobs Dias

Material destinado aos alunos da


disciplina de Bubalinocultura do curso de
Zootecnia pertencente ao Departamento
de Produção Animal e Vegetal. O
conteúdo dessa apostila não é de minha
autoria, foi feito uma compilação de
material de diversos autores.

Manaus
2013

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1 – Introdução
O búfalo é um animal versátil, com impressionante capacidade de adaptação e que já
era usado domesticamente desde o terceiro milênio aC. Sua origem é Norte da Índia e Sul da
China em 2.500 - 2.100 aC, onde sua domesticação ocorreu na Mesopotâmia - Atual Iraque.
Pode ser usado como montaria, caso da ilha de Marajó, onde até a polícia patrulha as
comunidades usando esses animais. Possui temperamento dócil, o que facilita sua criação e
manejo, são rústicos, adaptando-se bem às mais variadas condições ambientais.
A criação de búfalos representa uma alternativa para os solos pobres e acidentados,
várzeas ou pântanos, onde em geral a criação de bovinos é praticamente inviável. O elemento
característico desses animais é a forte resistência, em razão da qual, os búfalos são
frequentemente utilizados como animais de tração. Rústicos, tem capacidade de transformar
alimentos pobres e inferiores em leite, carne e trabalho.
Introduzidos no Brasil a partir do final do século XIX, usualmente em pequenos lotes
originários da Ásia, Europa (Itália) e Caribe, motivados muito mais pelo seu exotismo que
por suas qualidades zootécnicas. Sua grande adaptabilidade aos mais variados ambientes, sua
elevada fertilidade e longevidade produtiva, porém, permitiram que o rebanho
experimentasse uma evolução significativa e, dos pouco mais de 200 animais introduzidos no
país, resultaram num rebanho de 495 mil búfalos em 1980, com um crescimento anual médio
de 10,86% entre 1961 e 1980, destacando-se que, no mesmo período, o rebanho bovino
cresceu a taxas de 3,8% ao ano.
A expansão da bubalinocultura no Brasil segue tendências de mercado. A partir da
década de 90, os consumidores passaram a exigir produtos de melhor qualidade nutricional e
sanitária, por conseguinte, o governo passou a tomar medidas mais rigorosas em relação ao
modo de preparação dos alimentos. Além do aspecto da preservação de áreas destinadas a
reservas naturais ter se tornado um item fundamental na política de qualidade de vida. Por
essas razões acredita-se que o aumento desacelerado do número de animais no território
nacional deva-se ao fato da necessidade de adequação e ajuste de mercado, que engloba
desde a criação até o processamento dos produtos.
Observando as estimativas da FAO (Food and Agriculture Organization of the United
Nations), nota-se aumento do número de bubalinos no mundo de aproximadamente 98%,
passando de 88.505.407 em 1961, para 174.027.155 cabeças em 2005. No Brasil o
crescimento foi de aproximadamente 18 vezes este percentual no mesmo período, passando
de 63.000 para 1.200.700 cabeças. Os maiores acréscimos estão entre meados de 1980 a
1990, coincidindo com um período onde houve grande quantidade de publicações que
comprovavam por meio de dados científicos a produtividade e lucratividade da
bubalinocultura e até em alguns aspectos a sua superioridade em relação a bovinocultura.
O búfalo tem espaço garantido como opção pecuária. No que se refere aos produtos
(carne, leite e derivados), não restam dúvidas sobre a excelente qualidade, as características
sensoriais, as propriedades nutricionais e funcionais. Além disso, o búfalo tem
adaptabilidade, rusticidade para transformar gramíneas em derivados de alto valor agregado e
como componente em sistemas agrosilvipastoris. Quando praticada em pequenas
propriedades, a bubalinocultura gera ganhos substanciais às famílias agrícolas e, por isso,
tem-se mostrado relevante instrumento de progresso social.
Búfalos criados a pasto ou recebendo dietas com alto teor de matéria seca apresentam
rendimentos superiores em relação aos bovinos, para ganho de peso e produção para
derivados lácteos por litro de leite. Além da sua maior rusticidade, o que permite a sua
criação em regiões alagadas, que são inadequadas para bovinos. Esta espécie tem maior
resistência aos ectoparasitas, apresentam menor frequência de mastite, são menos exigentes
quanto à qualidade das pastagens e gramíneas, e consequentemente apresentam menor custo
de produção.

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O leite de búfala tem crescido no mercado consumidor através dos queijos. Rico em
gorduras (12%), mas com baixo teor de colesterol (20%) e maior de proteínas (34%) o leite é
garantia de renda para os produtores. Com apenas 3,5 litros se produz um quilo de queijo,
quando com o leite de um bovino comum só se consegue um quilo de queijo com 10 litros de
leite. Por isso, desde 1998, o leite de búfala representa 10% de todo o leite explorado no
mundo.
Na Amazônia, as pesquisas sobre ecofisiologia de bubalinos que envolvam o manejo
do ambiente físico para elevação do conforto e, como consequência, a produtividade desses
animais, são escassas.
A Amazônia possui a maior floresta tropical do mundo, com cerca de 5,5 milhões de
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km , sendo o maior reservatório de diversidade biológica do planeta. Até meados da década
de 60, a sua exploração era de forma extrativista, sem significativos impactos ambientais.
Entretanto, posteriormente, a exploração se intensificou para integrar a região ao processo
produtivo e econômico do país. A pecuária, uma das atividades econômicas que mais se
desenvolveram na ocupação e na utilização das terras, contribuiu para que grandes extensões
de florestas fossem desmatadas e cedessem lugar às pastagens cultivas.
O manejo inadequado da forrageira e do animal, além do uso de espécies de gramíneas
não-adaptadas às condições edafoclimáticas locais, reduziram a disponibilidade e o valor
nutritivo das pastagens, alcançando estádio de degradação e consequente invasão de plantas
indesejáveis. Nos trópicos úmidos, o ganho inicial da fertilidade dos solos se deve ao corte e
à queima da vegetação, com incorporação de grande quantidade de matéria orgânica,
originalmente componente da parte aérea dos vegetais. No entanto, essa fertilidade é
rapidamente reduzida, quando a vegetação original não é substituída por sistemas de uso da
terra, capazes de proteger o solo e reciclar nutrientes.
O principal problema das pastagens na Amazônia é a sua degradação. Esse fato se
deve, principalmente, à pressão de pastejo muito superior a sua capacidade de suporte,
reduzindo sua vida útil. Outros fatores estão relacionados à fertilidade do solo, que são
pobres e ligeiramente ácidos, além de pragas, doenças e invasão de plantas indesejáveis.

2 – A Bubalinocultura no Brasil
De acordo com as estatísticas do Instituto FNP, em 2008, o rebanho em 1999
totalizava 882.332 cabeças e em 2008, 846.469, uma redução de 35.863 cabeças,
representando 4%. Quando analisamos as tendências atuais dos sistemas de produção serem
voltados para modelos sustentáveis e com geração de um produto saudável, questionamos
porque o rebanho de búfalos cresce pouco no Brasil.
O Estado do Pará possui o maior rebanho, 341.933 cabeças, o Estado do Amapá tem
153.473 cabeças. Juntos representam 58% de todo o rebanho nacional. Nas regiões Norte e
Nordeste o rebanho teve aumento, porém nas demais regiões, Sul, Sudeste e Centro-Oeste,
diminuiu. A região Norte concentra a metade do rebanho nacional e representa 65% do total.
A produção de leite é maior na região Sudeste. Os estados que mais cresceram foram Pará,
Amapá e São Paulo, as maiores reduções foram nos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso e Rio Grande do Sul.

Gráfico 1 – Evolução do Rebanho de Búfalos no Brasil (1999 – 2008).

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A produção de leite de búfalos cresceu 6 milhões de litros em São Paulo e 1,7 milhões
de litros no Amazonas. Nos demais estados recuou, como exemplo em Minas Gerais em 14
milhões de litros, em 10 milhões no Pará e 3 milhões no Estado do Amapá.
De acordo com o Anualpec 2008, do Instituto FNP: “Os números sugerem que a
bubalinocultura brasileira tende a se concentrar cada vez mais na região Norte. As
condições ambientais são mais propícias para seu desenvolvimento e as características
fundiárias são mais compatíveis com uma atividade eminentemente extensiva.”
Quando comparamos os números e constatamos que o rebanho de búfalos gira em
torno de 1 milhão de cabeças e o de bovinos são 170 milhões, a produção de leite de búfalos
é de 35 milhões de litros por ano e a produção de leite dos bovinos é de 25 bilhões de litros
por ano. Estes dados indicam a dificuldade para a expansão da atividade, que depende do
aumento na demanda dos produtos e o seu preço no mercado. Com isto evidencia-se a
necessidade de estudar caminhos que permitam o crescimento do rebanho de búfalos pelo
aumento da demanda do mercado.
Este caminho pode ser explorado através dos atributos da criação dos búfalos e seus
produtos para atender os mercados atuais que exigem garantias de origem sobre o sistema de
produção e qualificação e segurança do produto final, carne e leite.
As características e a aptidão do búfalo são similar a do bovino, europeu e indiano,
como produtores que igualmente são de leite, de carne e de energia transformada em
trabalho. O búfalo também é amplamente utilizado em serviços no campo, seja para
montaria, aração de terras, tração em charretes e carroças. Sua capacidade de tração é bem
maior do que dos bovinos. Os búfalos possuem boas características de docilidade e de
longevidade para o trabalho e para a reprodução. O búfalo tem capacidade de conversão de
alimentos de baixa qualidade em produtos como leite e carne. Existem trabalhos há bastante
tempo que destaca a capacidade digestiva da celulose pelos búfalos quando comparados com
os bovinos.
A capacidade de adaptação a diferentes climas, mantendo sua sanidade, é comprovada
pela presença de búfalos nas diversas faixas climáticas existentes, das regiões tropicais e
quentes da África até regiões frias na Ásia.
Todos estes atributos são suficientes para sustentar a hipótese sobre o
desenvolvimento da criação de búfalos com bases nas suas características e vantagens
competitivas, adaptação ao ambiente natural e seus produtos que atendem nos novos anseios
do mercado consumidor, que é a saúde.
Para aprofundar a analise sobre o desenvolvimento de criação de búfalos com
objetivos de atender a demanda de mercado que exige a preservação do meio ambiente e a
conservação dos recursos naturais, além de um produto diferenciado. Para isto consideramos
os princípios da agroecologia como base para os sistemas de produção e a legislação dos
alimentos orgânicos como base legal para a expansão de mercado, com os conceitos dos
sistemas de garantias e avaliação da conformidade.

3 – Caracterização Animal
3.1. Classificação
Família: Bovinae
Espécie: Bubalus bubalis
Bubalus bubalis variedade bubalis
Pertencem à espécie Bubalus bubalis e em todo o mundo são conhecidos como
búfalos d’água (water buffalo), sendo descritas três subespécies:
a) Variedade bubalis – é o búfalo preto que apresenta cariótipo 2n = 50 cromossomos,
denominado de búfalo de rio (river buffalo), abrangendo os rebanhos da Índia, Paquistão,
China, Turquia e de vários países da Europa e América, inclusive os italianos. No Brasil, está

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representado pelas raças Jafarabadi, Mediterrâneo e Murrah, todas reconhecidas pela
Associação Brasileira de Criadores de Búfalos - ABCB;
b) Bubalus bubalis, variedade kerebao – é o búfalo da Malásia, Indonésia, Filipinas,
Tailândia, etc., apresentando cariótipo 2n = 48 cromossomos. No Brasil compõe a raça
Carabao ou Rosilha (como era denominado, no passado, na ilha de Marajó, como referência à
pelagem nesse tom). É conhecido na literatura mundial como búfalo de pântano (swamp
buffalo).
c) Bubalus bubalis, variedade fulvus – é o búfalo nativo da região Nordeste da Índia,
especialmente do Assam, vivendo geralmente em estado selvagem ou semi-doméstico, sendo
um animal de porte menor que os das subespécies anteriores. É de coloração pardacenta ou
avermelhada, tendo alguma semelhança com o tipo Baio do Brasil (MARQUES, 2000).

3.1.1. Peculiaridades dos búfalos


Os búfalos de rios têm hábito de passar parte de seu tempo dentro da água ou lama,
preferindo a água. Já os de pântano possuem maior facilidade de locomoção em áreas
atoladiças. São utilizados para trabalho, carne e esterco. O hábito desses animais de
revolverem-se na lama e banharem-se na água está ligado não só a dissipação excesso de
calor corporal, como também a proteção contra pragas e doenças. Esta lama, posteriormente
seca ao sol e ao vento permitindo a formação de uma crosta que protege a pele do animal. É
constatado que o búfalo é menos tolerante ao calor tropical do que o bovino, entretanto,
quando à sombra elimina maior quantidade de calor corporal.
Em relação à regulação do calor corporal apresenta menor número de glândulas
sudoríparas (135-142; enquanto zebuínos possuem até 3121) em compensação são bastante
eficientes e conseguem regular o calor apenas à sombra. A densidade do pelame de búfalo é
baixa em relação aos bovinos; 100 - 200 pêlos/cm2 (bovinos: 550 - 1100 pelos/cm2 e zebuínos
1400 - 2600 pelos/cm2), o número de pêlos declina com a idade.
Os búfalos domésticos são animais dóceis que através de bom manejo são capazes de
se tornar animais de grande utilidade na produção de carne, leite, trabalho e esterco. Os
bubalinos são grandes limpadores de terrenos: Maior capacidade de ingestão de forragens
grosseiras, de baixa qualidade. Apreensão de plantas existentes em locais de difícil acesso.
Maior capacidade de aproveitamento do alimento; Maior eficiência de transformação da
proteína e energia do alimento em produto animal. O búfalo é menos seletivo quanto aos
alimentos.
Em alguns países a eficiência reprodutiva é considerada problema. Período de gestação
é de um mês a mais que os bovinos (10 meses). Idade tardia a primeira cria (+/- 4 anos);
Longo IP (+/- 1,5 anos); Há fortes evidências de que esses resultados sejam provenientes da
criação inadequada. Em países com maior índice tecnológico 80% de fertilidade; IPC +/- 3
anos; IP pouco acima de 1 ano. Os búfalos são animais mais longevos que os bovinos
(chegam a 40 anos de vida); Procriam até os 15 anos (existem casos de até 20 crias durante a
vida útil);
Com 8 litros de leite de búfala se faz 1 kg de queijo. São necessários 12 litros de leite
de vaca para mesma finalidade; Para 1 kg de manteiga são necessários 14 litros de leite de
búfala e 20 de vaca. Teor de gordura do leite (7-8%);

Curiosidades sobre o BÚFALO: VOCÊ SABIA QUE...


ü Cerca de 13% de todo o leite produzido no mundo é de búfalas?
ü Na Índia, segundo país mais populoso do mundo, com apenas 30% da população de
bovídeos, os búfalos produzem 70 % de todo o leite consumido?
ü O leite de búfala é mais doce, mais nutritivo e com menor teor de colesterol que o leite
bovino?

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ü Após o acidente nuclear em Chernobil, na antiga União Soviética, o leite de búfalo foi o
alimento que mais rapidamente eliminou os resíduos de radioatividade, a ponto de ser
considerado alimento estratégico para o caso de catástrofes nucleares?
ü O leite de búfalas contém mais proteínas e maior teor de vitaminas A, D e B2
(riboflavina) que o leite bovino?
ü A verdadeira mozzarella italiana é feita exclusivamente com leite de búfala, havendo
referências de sua produção naquele país desde os tempos bíblicos?
ü O que conhecemos como Mozzarella no Brasil é na verdade "queijo tipo Mozzarella"
fabricado com leite bovino e de qualidade inferior ao produto de leite de búfala?
ü O bravio e selvagem animal norte-americano dos filmes de western é, na verdade um
"bisão", de espécie totalmente diversa do búfalo?
ü O búfalo, assim como o cão, situa-se entre as espécies que mais se afeiçoam ao homem?

3.2. Raças
Ocorrem várias raças e diversos grupamentos sem definição racial, cerca de 19 raças
descritas na Índia, Paquistão, Europa, países asiáticos, etc. No Brasil: 4 raças, com padrão
definido e registro genealógico na ABCB (fundada em 1961 e ativa a partir de 1965).

3.2.1. Padrão e aptidões das raças bubalinas criadas no Brasil


As raças que são criadas no Brasil: Murrah, Jafarabadi, Mediterrânea e Carabao,
todas do gênero Bubalus bubalis.
3.2.1.1.Murrah
Origem: É originária do Noroeste da Índia, difundindo-se no Norte
do país e no Paquistão. No Brasil distribui-se uniformemente por
diversas regiões, principalmente nos sistemas de criação mais
intensivos e/ou controlados, adaptados ao temperamento mais calmo
desses animais. O nome Murrah significa caracol em hindu, numa
clara referência ao formato espiralado dos chifres desta raça.
Aptidões: A raça Murrah é considerada a melhor produtora de leite dentre as raças
bubalinas. Sua conformação e tipo indicam aptidão mista com prevalência do tipo leiteiro.
São animais profundos e de boa capacidade digestiva, elementos muito importantes para as
produtoras leiteiras. Produção de leite de 1500 a 4000 kg em 300 dias de lactação.
Temperamento: Manso ou dócil. Peso médio de 550 kg nas fêmeas e 750 nos machos. Porte
médio a grande. Pelagem e pele: pretas, assim como os chifres, cascos; Chifres pequenos,
relativamente finos, de seção ovulada ou triangular, saindo para trás, para fora, para baixo e
para cima, com a ponta retorcida para dentro e enrolada, descrevendo curvaturas em torno de
si mesmo, em forma de espiral. A vassoura da cauda é branca, preta ou, ainda, mesclada.
A raça Murrah, nos rebanhos mais fechados, apresenta-se com a morfologia corporal
“melhor acabada” em conformação, porém, com pouca variabilidade de forma. O rebanho
fundador, no Brasil, teve uma base bastante estreita, o que é demonstrado pelas poucas
importações realizadas, contudo, em muitos casos, foi ampliada pela introdução de genes da
raça Mediterrâneo que confere variabilidade que muitas vezes está clara na conformação
corporal, caracterizando-se como uma variedade distinta. Quando fechado, o conjunto gênico
Murrah, apresenta muitos problemas congênitos (atresias, paralizações, espasmos, dentre
outros), resultado da endogamia, sendo reflexo direto da pouca variabilidade existente na
base genética do rebanho Murrah brasileiro. Algumas novas introduções, denominadas de
“nova opção”, aumentaram esta base e, consequentemente, a variabilidade da raça, todavia,
não se conhece a procedência desses germoplasma, dificultando uma análise mais profunda e
concreta das gerações futuras.

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3.2.1.2 .Jafarabadi
Origem: Na Índia é encontrada nas florestas de Gir, península
Kathiavar oeste da Índia e está principalmente concentrada em
Kutch e distritos de Jamnagar no Estado de Gujarat.
Cabeça: de perfil ultra-convexo, a pelagem é preta e bem definida
Aptidões: Produção de leite e de carne.
Temperamento: manso ou dócil.
No Brasil distinguem-se duas variedades, não distinguidas na
Índia:
Ä Palitana à de grande porte e cabeça pesada.
Ä Gir, búfalo mais delicada e de ossatura leve, de perfil craniano semelhante a bovinos
Gir.
Ä Peso de 454 kg nas fêmeas e 590 kg nos machos adultos.
Ä Pelagem e pele pretas em todo o corpo, incluindo chifres, cascos; chifres longos,
fortes e grossos, de seção ovalada ou triangular, dirigidos para trás e para baixo, com
curvatura final para cima e para dentro.

Variedade PALITANA Variedade GIR

A raça jafarabadi é proveniente da cidade de mesmo nome localizada no bosque de


Gyr na peninsula de kathiawar. Na India tambem existem as duas variedades onde a
variedade gir é proveniente da região de Rajkot e a Palitana vem da região de Bhavanagr, lá
se faz um intenso trabalho de seleção genética visando a produção de leite e eles (os
indianos) não fazem distinção entre as variedades. No Brasil acredita-se que seja mais
numeroso o rebanho da variedade Gir, pois é um bom produtor de leite e carne. Entretanto, a
variedade palitana possui menor preferência dos criadores, pois apesar de ser bom produtor
de carne, tem a necessidade de consumir mais alimentos para produzir, ou seja, possui menor
conversão alimentar. Entre os criadores brasileiros existem uma tendência de "formar um só
jafarabadi" ou seja uma única variedade que possua a boa produção leiteira e a conversão
alimentar da variedade Gir e a capacidade de produção de carne da variedade Palitana. Os
búfalos da raça Jafarabadi do Brasil foram importados da Índia pelo senhor Antenor
Machado, Torres H. Rodrgues e Rubico.

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A raça Jafarabadi, apesar de possuir indivíduos com bom potencial leiteiro, é a mais
encontrada em propriedades cujo interesse maior reside na exploração de carne, porém
apresenta baixo rendimento de carcaça (por volta de 46%).
Pelo seu porte, no Ocidente, pode ser considerado pelos mais desavisados como um
animal produtor de carne, todavia, apresenta-se muito bem nos torneios leiteiros, a exemplo
do seu País de origem, a Índia, onde se pode encontrar excelentes reprodutoras, com bons
níveis de produção de leite.
Pode ser criada pura, pois é de aptidão mista, isto é, leite e carne, e/ou para
cruzamentos, com as raças Murrah e Mediterrâneo. Apresenta grande variabilidade no
fenótipo, mostrando variadas gradações na forma, quando submetido aos acasalamentos entre
as duas variedades, a Gir e a Palitana. Transmitem com grande força características
produtivas, principalmente, o porte e caixa óssea, “levantando” os rebanhos pouco
expressivos.
O rebanho bubalino da raça Jafarabadi no Brasil é pequeno, porém é uma raça
bastante utilizada em cruzamentos. Apresenta excelente performance produtiva, contudo, o
rendimento de carcaça é menor de 4 a 7%, dependendo da variedade, comparando-se com as
outras raças bubalinas. Em condições naturais de pastagens nativas de boa qualidade, em
terra inundável, pode atingir 500 ou mais quilos com idade entre 18 e 24 meses de idade.
Esta raça, devido ao seu grande porte, tem como principal inconveniente a
alimentação, em virtude de exigências quantitativas e qualitativas. Deve ser criada em
condições mais intensivas, em pastagens cultivadas ou em sistemas integrados de
várzea/alagados e terra firme, conquanto que sejam de boa qualidade. Deve ser mineralizada
e, se for o caso, quando se tratar de exploração leiteira, deve ser suplementada com ração
contendo 18 % de PB e, no mínimo, 70 % de NDT.
Não obstante a isso se adapta muito bem às áreas de campos naturais abertos, em
sistema extensivo, convivendo sem problemas com o ambiente natural. É de temperamento
bastante dócil e impressiona pelo tamanho e formato da cabeça.

3.2.1.3. Mediterrânea
Origem: Selecionada na Itália, esta raça apresenta características das
raças Murrah e Jafarabadi. No Brasil, é conhecida também como búfalo
“preto” ou “italiano”.
Aptidões: Embora tenha sido selecionada para a produção de leite, tem
aptidão mista, para leite e carne, devido ao seu porte. Todavia, no Brasil
tem sido utilizado para produção de carne.
Temperamento: manso ou dócil. Peso médio de 550 kg nas fêmeas e
750 kg nos machos. Porte médio a grande. Pelagem e pele: totalmente pretas, estendendo-se
também aos chifres, cascos. Chifres pretos, longos, fortes e grossos, de seção ovalada ou
triangular, dirigidos para trás, para fora e para o alto terminando em forma semicircular ou de
lira.
Por ter origem com base em várias raças apresenta grande variabilidade fenotípica,
mostrando grande adaptação aos processos de seleção natural, oriundos de vários conjuntos
gênicos introduzidos, há muitos séculos, nas regiões paludinosas do Sul da Itália. O rebanho
fundador no Brasil apresentou um número considerável de animais, demonstrado pelas
numerosas importações realizadas pelos criadores do Pará e, mais recentemente, de outros
estados, principalmente, conferindo uma variabilidade que muitas vezes está evidenciada na
conformação corporal e níveis de produção de leite, ou seja, aquelas que são resultantes de
fortes interações entre o genótipo e o ambiente. As introduções mais recentes da Itália, com
base em germoplasma conhecido, provocaram uma ampliação na variabilidade genética da

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base do rebanho brasileiro, permitindo, inclusive, a mensuração da produção através do
progresso genético das características produtivas, principalmente, carne e leite.
Pode ser criada pura, pois é de aptidão mista, isto é, leite e carne, e/ou para
cruzamentos, com as raças Murrah e Jafarabadi, visando leite e com a Carabao, quando a
intenção for produzir carne.
O rebanho de búfalos Mediterrâneo no Brasil é o maior dentre todos e tem participado
de vários cruzamentos, principalmente, com a raça Murrah, compondo a base do rebanho
brasileiro desta raça. Apresenta excelente desempenho produtivo.

3.2.1.4.Carabao
Origem: O búfalo Carabao ou "Rosilho" é originário da
Indochina, no Sudoeste da Ásia, onde é chamado o “trator do
Oriente". É a raça mais adaptada às regiões alagadas e
pantanosas e, por isto, apresenta pelagem mais clara. O "trator
vivo do oriente" foi uma das primeiras a serem introduzidas no
país. No Brasil, hoje, há poucos rebanhos desses animais, sendo
considerado um grupo genético com risco de extinção e/ou descaracterização. A maior
população dessa raça está concentrada na Ilha de Marajó, no estado do Pará. Foi introduzido
no Brasil, na Ilha de Marajó (PA), por volta de 1890. Suas características raciais segundo a
Associação Brasileira de Criadores de Búfalos são:
Cabeça: na posição fronto-nasal, perfil craniano retilíneo, com chanfro, também, reto.
Chifres: longos, grandes e fortes, de seção triangular, emergindo lateralmente da cabeça e
dirigindo-se em posição horizontal para fora e depois para trás e para cima. Olhos:
arredondados, grandes, projetados, vivos, límpidos e pretos. Orelhas: tamanho médio,
horizontais e via de regra cobertas de pêlos longos e claros. Pelagem e pele: cinza escura ou
rosilha. Chifres longos, grandes e fortes, de seção triangular, emergindo lateralmente da
cabeça e dirigindo-se em posição horizontal para fora e depois para trás e para cima.
Temperamento: nervoso sem ser bravio. Porte médio a grande. Aptidões: Devido à
rusticidade, bom desenvolvimento de massa muscular e membros fortes, a raça Carabao é
usada para corte e para trabalho, tanto de tração agrícola quanto de transporte de carga e de
sela. A raça Carabao é uma importante força de trabalho nos países pantanosos da Ásia, nas
plantações de arroz.
Após a introdução desta raça, através da ilha de Marajó, os animais multiplicaram-se
através de cruzamentos desordenados, principalmente com a raça Mediterrâneo,
predispondo-a a uma descaracterização que culminou com poucos animais considerados
puros (2n = 48). Quando em cruzamento com as outras raças bubalinas, o produto apresenta
fenótipo dominante em relação a algumas particularidades, como: pelos mais claros na região
das patas, lábios e no pescoço, bem como conformação corporal mais compatível com o
padrão da raça Carabao.
Deve ser utilizado para cruzamentos visando produção de carne, devido dada à alta
heterose, fato comprovado pela precocidade dos F1. É um conjunto gênico bem consolidado
e homogêneo e, mesmo nos rebanhos mais fechados, não se percebe grande variação
fenotípica, não havendo, inclusive, registros de surgimento de doenças hereditárias.
A criação de rebanhos puros deve ser considerada, pois a raça Carabao apresenta
excelente desempenho, quando submetida às provas de ganho em peso. Em condições
naturais de pastagens nativas de boa qualidade, em terra inundável, pode atingir 450 kg com
idade entre 18 e 24 meses de idade.
A raça Carabao se adapta muito bem às áreas abertas, alagadas e/ou pantanosas, em
sistema extensivo, sendo insuperável na movimentação nessas áreas em função da sua
anatomia já adaptada a essas condições, visto que possui uma articulação a mais na região do

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boleto e da quartela. Em condições naturais apresenta bom convívio com as espécies
silvestres e, apresar de possuir cornos longos e pontudos, não há registro de acidentes desses
animais por quaisquer tipos de ataques. Por ser bastante andarilha necessita de grandes áreas,
adaptando-se muito bem às criações extensivas, apresentado excelente desempenho na sua
eficiência reprodutiva.
Além destas há o tipo Baio, um búfalo que integra o trabalho de conservação de
recursos genéticos da Embrapa Amazônia Oriental, encontrando-se no Banco de
Germoplasma Animal da Amazônia Oriental – BAGAM, em Salvaterra, na ilha de Marajó,
no estado do Pará.

3.2.1.5. Tipo Baio (BA): não é considerada raça,


havendo poucos espécimes no Brasil. Alguns autores
se referem a esse grupo genético como animais
oriundos do Assam, na Índia, pertencente à Subespécie
Fulvus, sem, portanto, comprovação científica de tal
assertiva. Foi introduzido no Brasil em 1961/62,
através da Usina Leão, Alagoas.
Hoje, há pouquíssimos animais Baios no Brasil, sendo o rebanho do BAGAM /
EMBRAPA, na ilha de Marajó, um dos únicos do País. No Brasil há pouca literatura e/ou
informações sobre esse grupo, sendo o Pará, talvez, o único estado que dispõe de
informações a respeito da performance desses animais. Estes animais estão catalogados pela
FAO/UNEP (2000), dentro dos grupos em perigo de extinção, estando mantidas em
programa de conservação.
Os machos adultos pesam em média aproximadamente 750 kg e as fêmeas 550 kg,
com um comprimento e uma altura média de 139 cm e de 133 cm respectivamente. São
animais de coloração pardacenta, de pelagem baia e possui dupla aptidão, leite e carne. Seu
padrão racial pode ser resumido da seguinte maneira: cabeça leve e perfil retilíneo a
ligeiramente côncavo a mediano; corpo mediano a grande; garupa mediana a grande e larga;
membros medianos e fortes. Fenotipicamente, assemelha-se a raça Murrah ou apresenta
características de animais mestiços entre a raça Murrah e a Mediterrâneo.
Os búfalos apresentam, mesmo em condições adversas, índices satisfatórios na sua
eficiência reprodutiva, do mesmo modo que produzem, satisfatoriamente, leite e carne, o
grande problema é a falta de programas de melhoramento genético, seja em nível
institucional, nas associações de classe e nas próprias fazendas.
Há pouco mais de vinte anos encontrava-se, em alguns locais, bons níveis de
produtividade que, hoje, apenas se mantém ou não se repetem, tanto nas instituições de
pesquisa, quanto nas fazendas, as quais submetiam seus rebanhos a um processo de seleção
com base nos primeiros reprodutores importados, de bom padrão genético, que imprimiram
características produtivas de carne e leite aos seus descendentes que, todavia, não tiveram
continuidade ao ponto de, hoje, não haver em todo o território nacional animais provados
como melhoradores da espécie.

4 – Manejo geral de búfalos


No manejo com os animais, os tratadores têm que ter muita calma e paciência para
lidar com os animais. Do contrário eles tendem a ficarem assustados e dificilmente
colaborarão com aquilo que se deseja deles. Animais que tiveram pouco contato com
humanos ou que em contatos anteriores tenham ocorrido situações traumáticas, têm menor
tendência a colaborar. Nessas situações é que a calma e o cuidado devem ser redobrados no
manejo.

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O que ocorre geralmente no manejo de búfalos é que produtores o realizam de forma
como se búfalos fossem bovinos, sem levar em consideração particularidades da espécie.
Para que tais erros sejam evitados é de fundamental importância que conheçamos as
principais características orgânicas, comportamentais e de hábitos desses animais.
A idéia dominante a respeito da rusticidade desses animais leva novos criadores a não
se instruírem convenientemente e com isso levando ao desestímulo da criação/produção.
Desta forma, serão abordados os principais aspectos em que estes se diferem dos bovinos e as
consequentes implicações relativas ao manejo.

4.1. Termorregulação corporal


Os búfalos sentem mais dificuldade que os bovinos e particularmente, que os
zebuínos, na regulação de sua temperatura corporal. Os búfalos possuem apenas cerca de
10% das glândulas sudoríparas dos bovinos, não podem se utilizar desse processo com muita
eficiência. Ademais, a coloração negra de sua pele também agrava esse problema, atuando
negativamente na reflexão dos raios solares.
Como consequência, inclusive da baixa oleosidade de sua pele, é desejável que as
pastagens para búfalos possam contar com árvores que lhes garantam sombras, bem como
com algum brejo ou banhado onde os animais possam permanecer durante as horas mais
quentes do dia. As áreas sombreadas e de brejo não precisam ser extensas, basta que sejam
suficientes para abrigar o número de animais que permanecerá no pasto, em torno de 3
m2/cabeça.
Em favor dessa baixa dissipação de calor que os búfalos apresentam, é desejável que
não sejam manejados de forma apressada nas horas de calor intenso. Os búfalos são, por
natureza, lentos, vagarosos e é assim que devemos aceitá-los. Bezerros recém nascidos se
manejados a grandes caminhadas sob os efeitos de elevada temperatura, mostram-se
ofegantes, boca aberta, salivando e com acentuada elevação dos batimentos cardíacos.
Animais jovens sofrem mais que os adultos os efeitos das elevadas temperaturas e,
por este motivo, recomenda-se que o pasto maternidade seja provido de sombra, onde os
bezerros permanecerão os primeiros dias de suas vidas. Entretanto, essa área sombreada não
deve ser de difícil acesso ao vaqueiro, impedindo o acompanhamento por ocasião do parto e
dos primeiros dias que se seguem.
O piquete maternidade não deve possuir lagos ou represas profundas, devido a
possíveis acidentes que por ventura venham a ocorrer, como por exemplo parto dentro
d’agua, porém, são raros os casos.
O pastejo dos búfalos geralmente ocorre durante a noite, principalmente no verão em
virtude de sua deficiência na regulagem de sua temperatura corporal.

4.2. Verminose
O barro, a água, o brejo ou a várzea ajudam no controle dos parasitas externos como o
carrapato, o piolho e a mosca do chifre. Entretanto, tais locais úmidos favorecem a infestação
dos animais por vermes.
Animais jovens, ainda com baixa resistência no momento de alimentação os úberes
sujos de barro de suas mães, a infestação pode ser elevada. Desta forma, a importância da
evernimação deve ser ministrada nos primeiros dias de vida. Durante a fase de amamentação
várias doses deverão ser feitas, sendo que no início a intervalos mais curtos (30 dias) e no
final a intervalos mais longos (90 dias).
Em torno dos 18 meses de idade, caso os animais tenham sido bem criados, atingem
apreciável resistência física, e a verminose deixa de ser um problema.

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4.3. Bezerros - Cuidados com os recém-nascidos
O bezerro deve ficar com a mãe nos primeiros dias de vida para receber a maior
quantidade possível de colostro. O maior índice de mortalidade ocorre até o período da
desmama (6 a 8 meses de idade), por isso os bezerros devem estar sob rigorosa atenção.

4.3.1. Primeiros cuidados


Os cuidados com os bezerros iniciam-se no pré-parto. A lactação da búfala deve ser
encerrada 90 dias antes do parto para que ela recupere as reservas corporais perdidas na
lactação precedente, a glândula mamária involua normalmente e possa produzir colostro em
volume e qualidade adequada para o recém-nascido. No último mês de gestação, a fêmea
deve ser conduzida para um piquete localizado próximo às instalações, o qual deve ser limpo,
seco e bem sombreado, para facilitar a observação da gestante, do parto e do nascimento da
cria.
Segundo Punia e Singh (2001), o período de gestação da búfala pode variar entre 300
e 310 dias. Após o nascimento os bezerros devem ficar com as búfalas por cinco (05) dias,
sendo posteriormente agrupados com outros bezerros da mesma faixa etária. A separação dos
bezerros em grupos de diferentes faixas etárias minimiza a transmissão de doenças e evita
acidentes, como por exemplo, os traumatismos (HEINRICHS e RADOSTITS, 2002).

4.3.2. Colostro
É o primeiro leite secretado pela mãe após o parto, em média, durante 3-5 dias. É
muito rico em imunoglobulinas (anticorpos) e matéria seca (proteínas, minerais e vitaminas).
Rico em proteínas e imunoglobulinas, o colostro não só aumenta a imunidade do bezerro às
doenças, como também contém poderosa substância que acelera seu crescimento, só
perdendo para o hormônio testosterona na capacidade de estimular a síntese protéica. Por ser
laxativo, eliminam o mecônio, fezes dos neonatos, de difícil eliminação. Quando consumido
por bezerros maiores, não funciona como imunizador e pode provocar diarréia se consumido
puro.
A placenta da búfala é do tipo endotélio-corial e não permite a passagem de
anticorpos para o feto durante a gestação. O sistema imune do bezerro recém-nascido é
funcionalmente imaturo. Assim, a ingestão de colostro após o nascimento é muito
importante. O colostro é rico em imunoglobulinas, principalmente da classe IgG. Porém, para
a absorção ser máxima, a primeira mamada deve ocorrer no máximo até as primeiras seis
(06) horas de vida, porque com o passar do tempo a absorção das imunoglobulinas pelas
vilosidades intestinais diminui gradualmente. Após 24 horas de vida, o intestino não absorve
mais as imunoglobulinas, que permanecem ativas no lúmen intestinal atuando como
mecanismo de defesa local contra agentes que possam ter sido ingeridos por via oral, como o
Rotavirus (QUIGLEY, 2003).
Além das imunoglobulinas o colostro possui na sua constituição, duas vezes mais
sólidos totais, três vezes mais minerais, e também altos concentrações de vitaminas A, D e E.
Além disso, possuem grande quantidade de fatores de crescimento e fatores não específicos
antimicrobianos em maiores concentrações, quando comparados ao leite comum
(MOWREY, 2001).
O colostro é rico em gordura, grande fonte de energia que promove a termo-regulação
do bezerro. Por isso, a ingestão de colostro nas primeiras oito (08) horas de vida é muito
importante, ajudando a manter o corpo aquecido nas primeiras horas de vida (Quigley, 2003).
Os anticorpos transmitidos pelo colostro podem proteger o bezerro por até seis semanas.
Nesse período, o animal entra em contato com os agentes infecciosos presentes no ambiente,
que estimulam gradualmente o desenvolvimento do seu próprio sistema imune (RADOSTITS
et al., 2000).

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Até o 3 °dia de nascidos, os bezerros deverão permanecer com suas mães em um
piquete separado. Esse manejo evita que bezerros mais velhos mamem todo o colostro,
tirando-o daqueles que necessitam.

4.3.3. Cura do umbigo


O tratamento de umbigo tem grande importância após o nascimento evitando que o
mesmo seja contaminado e sirva como porta de entrada para agentes infecciosos, levando a
grandes índices de mortalidade e de subdesenvolvimento dos animais (REBHUN, 2001).
Esse risco aumenta quando as búfalas entram em trabalho de parto em ambientes sujos ou
muito contaminados, ou logo após o nascimento, quando os bezerros são levados e mantidos
no curral, o qual, na maioria das propriedades, é um dos locais mais contaminados
(HEINRICHS e RADOSTITS, 2002).
Logo após o nascimento o umbigo deverá ser cortado a uns 3 cm da inserção e
desinfetado com tintura de iodo a 10%, uma a duas vezes ao dia, durante três dias seguidos,
até secar. Com a desinfecção do umbigo previne-se a onfaloflebite (inflamação do umbigo),
diarréias e pneumonias.

4.3.4. Descorna
A descorna deve ser realizada até os sete dias de idade em rebanhos comerciais, com
a retirada do botão córneo e posteriormente com a utilização de um ferro quente no tecido
adjacente ao botão córneo. Os animais pertencentes a rebanhos comerciais devem ser
descornados, pois a ausência de chifres facilita o manejo na propriedade; ocupando menos
espaço no cocho, não causando feridas graves em outros animais e ocupando menos espaço
no caminhão de transporte.
Bezerros descornados deverão ficar no mínimo 12 horas sem contato com suas mães.
Isso evita que as mesmas retirem com lambidas, o ungüento cicatrizante que deverá ser
passado no local da descorna.
As vantagens desta prática são:
1. Reduzir os danos provocados nas cercas, currais e outras instalações.
2. Reduzir os danos provocados por brigas
3. Diminuir os riscos para o contratador
4. Facilitar a alimentação no cocho
5. Facilitar o transporte.
É importante salientar que o descorna elimina a principal característica de
diferenciação das raças. Deve-se evitar a mistura de animais com e sem chifres, pois os
animais descornados temem os animais com chifres. Por exemplo, um touro desprovido de
chifres dificilmente cobre uma fêmea na presença de um touro com chifres, além de dificultar
a alimentação uma vez que os com chifres não permitem a alimentação dos outros.

Métodos:
a) Faca (Primeiras semanas de vida)
b) Ferro (Primeiras semanas de vida)
c) Alicate de descorna (3-6 meses)
∗ Animais com mais de 1 ano recomenda-se o despontamento

4.3.5. Tetas supranumerárias


Caso existam, devem ser cortadas por um médico veterinário, na primeira semana de
vida, para evitar problemas com mastite, futuramente. A ferida cirúrgica deve ser tratada e
acompanhada até a sua completa cicatrização.

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4.3.6. Identificação dos animais
Para o correto acompanhamento de desenvolvimento dos animais durante toda a sua
vida, é imprescindível à escrituração zootécnica. Deve-se anotar a data do nascimento, sexo e
paternidade do bezerro para auxiliar no manejo da propriedade e aplicação de programas de
melhoramento genético (Marques, 2003).
Os animais devem ser identificados na primeira semana de vida, recomendando-se a
aplicação de brincos nas duas orelhas, com o n° e/ou nome de mãe e pai na parte posterior do
brinco. A identificação dos bezerros pode ser feita também com ferro imerso em solução de
nitrogênio líquido. Para isso deve ser realizada a depilação da área onde será feita a marca. A
marcação deve ser realizada entre o 6º e 10º mês de vida, com a pele do bezerro bem
esticada. O ferro de marcação deverá estar frio o suficiente para marcar a epiderme até atingir
a derme.

4.3.7. Desenvolvimento dos compartimentos gástricos


Os bezerros iniciam a ingestão de sólidos entre 15 e 30 dias de idade e ao redor do
primeiro mês de vida podem já estar ingerindo entre 50 a 100g de capim ou concentrado, se
disponíveis ad libitum, e os bezerros da raça Murrah podem estar pesando 125 a 150kg aos
seis meses de idade. Aos três (03) meses de idade podem utilizar na sua alimentação a
forragem disponível na propriedade, pois o rúmen está bem desenvolvido. (PUNIA e
SINGH, 2001).

Tabela 1 – Desenvolvimento dos compartimentos gástricos (%) nos bezerros bubalinos

29,6 68,8

4.3.8. Vacinações
Devem ser realizadas da maneira mais higiênica possível, com agulhas e seringas
novas ou pistolas bem lavadas e fervidas para evitar a formação de abcessos e feridas, entre
outros problemas. As principais vacinas são as seguintes:
ü Clostridiose: a primeira dose deve ser aplicada aos quatro (04) meses de idade.
Repetir após 30 dias e revacinar anualmente, se necessário.
ü Raiva: a partir dos quatro (04) meses de idade, com uma dose de reforço após 30 dias,
repetindo anualmente.
ü Brucelose: somente as fêmeas, entre 3 a 8 meses de vida, em dose única.
ü Aftosa: de acordo com a legislação regional.

4.3.9. Endoparasitas
Os gêneros de nematóides que acometem mais frequentes são: Strongiloides,
Toxocara, Cooperia, Haemonchus, Oesophagostomum, Ostertagia, Trichostrongilus e
Paracooperia. Os ovos destes helmintos podem ser detectados e identificados através de
exames de fezes, a partir de nove dias de idade. O nematóide mais importante de bezerros
bubalinos jovens é o Neoascaris vitulorum, que é transmitido através do colostro. O bezerro
parasitado fica apático, apresenta pelagem grosseira, perda de apetite e de condição corporal,
edema e desordens gastrintestinais com ou sem diarréia (Starke et al., 1983; Sukhapesna,
1992).

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A utilização de antihelminticos para o controle parasitário é indispensável, e deve
estar associada a exames parasitológicos preventivos.
O Fenbendazole é um antihelmintico de largo espectro, possuindo atividade ovicida e
larvicida. Tem apresentado grande eficiência no controle do Toxocara vitulorum (Ram Dev
et al., 1994). As doses indicadas variam de 5,0 a 7,5 mg/kg, segundo Swarup (1994).
Finalizando, os cuidados na criação de bezerros, por meio de uma boa colostragem e
controle sanitário eficiente, são os primeiros passos para um rebanho saudável. A idade em
que os animais alcançam a puberdade está diretamente relacionada à técnica de cria e recria
dos animais.
A redução da incidência de animais doentes diminui o gasto com medicamentos,
reduz a idade ao abate dos machos e a puberdade das fêmeas, resultando em maior
produtividade de carne e leite e consequentemente no lucro para o proprietário.

4.3.10. Desmama
É importante se efetuar a ordenha para que a búfala tenha um período seco de
restabelecimento até o próximo parto.
Em criações extensivas, onde é difícil a construção de cercas para facilitar a
desmama, ocorre que os bezerros mamam continuamente até a próxima gestação, impedindo
ou reduzindo a quantidade de leite mamada pelo bezerro mais jovem. Para sanar este
problema são utilizados instrumentos colocados no focinho ou no chanfro do bezerro para
evitar que ele mame.
a. Anel de plástico: segmento de 2 a 2,5 cm de largura de tubo de PVC rígido com 2-2.5
polegadas de diâmetro.
b. Desmamador de madeira com arame: apresenta como desvantagem o corte do úbere,
traumatiza a matriz para aleitamento.
c. Desmamador de madeira com pregos: apresenta como desvantagem o corte do úbere,
traumatiza a matriz para aleitamento.
d. Desmamador comercial de plástico.
Deve-se evitar o desmame com mais de 10 meses de idade. Devem somente
desmamar com menos de 7 meses quando as condições de alimentação compensem a
ausência de leite.

4.3.11. Identificação dos animais


a) Marcação a fogo: não tem revelado resultado satisfatório, com o tempo ficam pouco
legíveis e desaparecem.
b) Marcação Criogênica: aplicação de marcadores ultra-resfriados, com nitrogênio líquido ou
mistura de gelo seco e álcool etílico absoluto. A transferência do super-resfriamento do
marcador para a pele do animal provoca a destruição dos melanócitos e consequentemente o
surgimento de pelos brancos.
Procedimento para realização de uma eficaz marcação criogênica:
• Coloca-se gelo seco num isopor contendo álcool absoluto com intuito de ultra resfriar
o álcool. Sabe-se que a transferência do super frio ocorreu adequadamente quando o
borbulhamento intenso se reduziu a um mínimo estável.
• Em seguida, mergulha-se o marcador de cobre na mistura, o que provoca outro
borbulhamento intenso, representando a transferência do ultra frio da mistura para o
marcador. Quando o borbulhamento novamente se estabilizar no mínimo, o marcador
já está pronto para ser aplicado.
• Nesse momento, o animal já deve estar contido, com os pelos raspados na coxa. O
local é então umedecido com próprio álcool etílico absoluto e efetuada imediatamente
a aplicação do marcador, por um tempo de contato com a pele de 60 segundos.

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• Depois de dias começarão a surgir os pelos brancos na área marcada. Com o avanço
da idade, os pelos tendem a desaparecer, inclusive os brancos.
c) Marcação com Tatuagem: processo de identificação que vem conseguindo êxito pelos
produtores, porém apresenta a desvantagem de não permitir leitura fácil, sendo necessária a
contenção dos animais para a leitura, às vezes necessitando de limpeza no local,
principalmente quando as marcas se localizam na orelha.
A tatuadeira provoca pontos de perfuração na orelha onde posteriormente se esfrega
tinta preta “Pelikan” Outro local utilizado para tatuagem é a prega caudal. Nesse caso a
leitura se dá apenas com o levantamento da cauda. No entanto, para obtenção de melhores
resultados é imprescindível utilizar animais com painel da prega desenvolvido, ou seja, o
animal deve ter mais de 6 meses.
d) Marcação com picotes: se dá através de cortes com ou sem furos na orelha de acordo com
o sistema convencional de representação numérica.
Desvantagens:
• Leitura somente a pequenas distâncias.
• Identificação sujeita a leitura errada.
• Mistura dos picotes com cortes realizados por peixe piranha, rasgos e cortes.
• Prejuízo a estética do animal.
O sistema de representação numérica tradicional é conhecido por marcação
australiana, muito usada em suínos.
O sinal de propriedade na orelha em condições extensivas é o mais freqüentemente
utilizado, que consiste na retirada de parte da orelha com faca ou alicate. Cada fazenda um
desenho de corte específico.
Desvantagens dos brincos
• Leitura a pequena distância.
• Desaparecimento do brinco, quando retirado por outro animal por perda por engate
em algum obstáculo.
• Enfraquecimento do brinco (sol, chuva, lama)
• Acúmulo de lama nos brincos.
Para sanear estes problemas costuma-se colocar brincos com a mesma numeração nas
duas orelhas do animal, possibilitando recolocar a numeração correta em caso de perda.
As chapas metálicas têm as mesmas desvantagens dos brincos, além de serem mais
caras.
Os colares são de custo mais elevado e além das desvantagens semelhantes aos
brincos chapas de metal, podem provocar asfixia quando engatam em objetos diversos.

4.3.12. Castração
Esta prática torna os animais mais calmos para engorda em confinamento e a campo e
evita a cobrição de fêmeas por touros inferiores. Animais castrados produzem carne mais
macia, com maior teor de gordura, conferindo melhor sabor. Os métodos de castração
utilizados podem ser burdizo, elástico, químicos ou incisão, assim como nos bovinos.

4.3.13. Manejo alimentar de bezerros


O tipo de alimentação está diretamente ligado a finalidade a que se destina a criação
de búfalos. Se as condições de preço são favoráveis ao uso de um sistema misto, envolvendo
carne, leite e venda de reprodutores, os animais jovens receberão melhor tratamento
alimentar. Se as condições de mercado são propícias a um sistema de criação visando à
produção de laticínios, os bezerros machos receberão tratamento alimentar inferior. Como
regra geral, na alimentação suplementar de bezerros lactentes, objetiva-se reduzir a

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quantidade de leite materno ingerida como utilização de alimentação suplementar a preço
compensador, sem comprometer significativamente o desenvolvimento ponderal das crias.
Em países de criação intensiva de búfalos para leite, os bezerros são aleitados com
leite em pó bovino reconstituído, cujo preço é bem inferior ao leite bubalino líquido. Estudos
revelam que bezerros bubalinos são menos propensos a aceitar o aleitamento artificial (balde,
mamadeira) do que os bovinos.
Em países onde não há disponibilidade de leite em pó para uso animal, há dificuldade
de aceitação do aleitamento artificial e as fêmeas não apojam sem a presença do bezerro,
prefere-se o sistema de aleitamento natural, reservando leite da mãe para a cria após a
ordenha parcial. Economiza-se assim em mão de obra e evitam-se riscos de rejeição de
consumo.
Um sistema de alimentação que permite expressiva economia de leite, superior
desenvolvimento ponderal das crias, facilidade de adoção e baixo custo, consiste no uso da
pastagem de boa qualidade, mistura mineral fornecida a vontade no cocho localizado na
pastagem, suplementação até 1 kg/cab/dia da mistura 98% de farelo de trigo e 2% de
minerais, até 1 ano de idade, bem como leite materno extraído diretamente pelo bezerro, após
ordenha parcial.

4.3.13.1. Bezerros com mais de 60 a 90 dias de idade


O aleitamento deverá ser suspenso aos bezerros que, após os 60 dias de idade, estejam
comendo acima de 800 g de ração balanceada, e com peso superior a 70 kg. Diariamente e,
antes da ordenha, deverão vir para o curral, onde receberão suplementação alimentar à base
de concentrados, capim, sal mineral e água fresca e de boa qualidade.

4.3.13.2. Bezerros com mais de 90 dias de idade


Após 90 dias de idade, o rúmen dos bezerros já está suficientemente desenvolvido.
Para reduzir o custo de suas dietas, podemos substituir o concentrado por uréia, desde que
bem administrada. Esses bezerros poderão ir para o campo onde deverão ter acesso livre à
água fresca e de boa qualidade, sal mineral, sal mineral/uréia ou melaço/sal mineral/uréia,
desde que esses suplementos estejam bem protegidos de chuva.

5 – Como formar uma boa búfala de leite


5.1. Na fase de bezerras
É importante que as bezerras, que serão as futuras búfalas de leite, tenham tratamento
especial por parte dos ordenhadores. O contato diário deles com as bezerras, até elas os
reconhecerem “como amigos”, é uma boa prática. O fato de deixarem coçar as cabeças
confirma a confiança dessas bezerras para com o tratador fazendo com que, no futuro, as
búfalas adultas confiem nos humanos e assim ficará mais fácil o manejo desses animais.

5.2. Na fase de novilhas


Um dos maiores problemas de quem explora a atividade leiteira bubalina ainda é a
estacionalidade reprodutiva das búfalas, porém o que não ocorre na região norte do País. A
escassez de parições no segundo semestre, diminui a produção de leite e desequilibra os
orçamentos dos produtores e laticínios, justamente na época de maior demanda do produto.
Diante do exposto recomenda-se só colocar em serviço (“entourar”) as novilhas
(nulíparas) após o mês de setembro, podendo prolongar-se até março do ano seguinte.
Quanto às multíparas, permanecem com o reprodutor no rebanho durante todo o ano. O
resultado desse manejo será um aumento de 27% de parições no segundo semestre.

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5.3. Manejo de búfalas prenhes no período de transição
Nas três semanas que antecedem o parto, as búfalas deverão ir para um piquete
denominado de maternidade, de preferência perto do curral e que tenha água fresca à vontade
e de qualidade. Quando não dispõe de bebedouro, o produtor corre o risco de perder a cria
por afogamento, pois algumas búfalas gostam de parir dentro de córregos ou poças d’água.
Nas fazendas onde não há controle de parições, o produtor deverá observar o estado
físico das búfalas: úbere cheio, barriga volumosa e baixa, a vulva grande, flácida e lustrosa,
muitas vezes com eliminação de secreção mucosa pela vagina.
Diariamente, as búfalas prenhes deverão ser conduzidas ao curral. Esse manejo
proporciona adaptação das búfalas ao novo ambiente e o acompanhamento delas pelo
vaqueiro.
Após a ordenha das búfalas em lactação, as búfalas prenhes serão conduzidas com
muita paciência à sala de ordenha, onde permanecerão no mínimo por meia hora. Estando
contidas nas instalações de ordenha, os ordenhadores deverão tratá-las sem estresse. Com
essas medidas, as búfalas, principalmente as primíparas, condicionarão o novo ambiente
como um local de prazer, percebendo também que o ordenhador não lhes fará mal.
No dia seguinte à parição dessas búfalas, elas deverão ser conduzidas à sala de
ordenha, primeiro como amas e posteriormente, como búfalas de leite, quando, já
acostumadas com o ambiente, estarão menos estressadas, facilitando os trabalhos.

5.4. Qual o melhor escore de condição corporal ao parto?


As búfalas devem parir, de preferência gordas, com escore em torno de 3,5 a 4,0
(escala de 1 a 5). Deve-se evitar que as búfalas venham a parir obesas, com escore 5, porque
provavelmente terão problemas metabólicos na parição e também durante a lactação. Da
mesma forma, escores abaixo de 3,5 não são aconselháveis, pois ao parirem, entrarão em fase
de balanço energético negativo, sem reservas corporais (gordura) para mobilização e desta
forma perdendo mais peso do que o normal. A quantidade de reservas corporais que uma
búfala possui à parição tem grande influência em potenciais complicações no parto ou
imediatamente após, na produção leiteira e na eficiência reprodutiva.

Búfalas que estiverem muito magras:


ü Reduzem a produção leiteira devido à falta de reservas corporais adequadas para uso no
início da lactação;
ü Têm maior incidência de doenças metabólicas (cetose, deslocamento de abomaso, etc.);
ü Atraso do aparecimento do cio após o parto.

Búfalas que estiverem muito gordas:


ü Mais complicações no parto (parto difícil);
ü Diminuição da ingestão voluntária de matéria seca que predispõe a búfala a aumento de
certas doenças metabólicas (síndrome da vaca gorda, cetose, etc.);
ü Redução da produção de leite.
ü O Escore de Condição Corporal (ECC) utilizado para monitorar o estado de Nutrição e
Saúde do rebanho tornou-se prática amplamente aceita.

Objetivos: Monitorar a condição corporal de animais para minimizar flutuações de condição


corporal e problemas de ordem produtiva e sanitária, resultante de animais que são muito
gordos ou muito magros.

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A condição corporal (CC) se altera através da curva de lactação
ü Início da Lactação - Balanço Energético Negativo (despendem mais energia do que
ingerem), reduzindo sua CC (mobilizando as reservas corporais). As búfalas não
devem perder mais de 1 kg de PV/dia;
ü Final da Lactação - Balanço Energético Positivo ganham CC, repondo as reservas
perdidas no início da lactação. Portanto, a condição corporal ideal se altera de acordo
com os estágios de lactação.

Procedimentos para avaliação do ECC


1o PASSO - Olhar a escala utilizada para marcar a condição corporal, sendo 1 = muito
magra e 5 = muito gorda.
2o PASSO - Exemplos de como determinar o escore de condição corporal de uma
búfala.
3o PASSO - Recomendações de condição corporal de búfalas em várias fases da
lactação.
O ECC leva apenas em consideração o acúmulo relativo de gordura corporal e o
estado de magreza do animal.

Locais de observação visual e táctil:


ü Região da anca, delimitada pelos ossos do quadril (tuber coxae e tuber ischii) e
inserção da cauda.
ü Vértebras no dorso

Identificação das partes do corpo utilizadas para avaliação da condição corporal

ü ECC = 1 (muito magra): Sem a presença de gordura palpável sobre os processos


espinhosos, processos transversos, anca e costela. Costela e inserção da cauda projetam
pronunciadamente
ü ECC = 2 (magra): Existe a presença de pouca gordura palpável ao longo da espinha e
sobre a cauda e, a presença de tecido na porção dorsal da costela. Búfala geralmente
apresentando boa aparência.
ü ECC = 3 (moderada): Na palpação observa-se a presença de gordura sobre as costelas
e ossatura arredondada. Presença de gordura palpável na inserção da cauda.
ü ECC = 4 (boa condição): Búfala com aparência de obesidade e acúmulo de gordura.
Gordura acumulada sobre as costelas e na inserção da cauda. Presença de gordura em torno
da vulva.

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ü ECC = 5 (muito gorda): Búfala obesa com aparência de bloco. Muita gordura em
torno da inserção da cauda e costelas. Não é visível nenhuma estrutura óssea.

5.5. Cuidados com as búfalas paridas


5.5.1. Primeiro dia do parto
Nesse dia, as búfalas deverão ficar com suas crias, para que desenvolvam os seus
instintos maternos (habilidade maternal), razão precípua da lactação. Muitos criadores de
bovinos de leite separam as crias logo após essas ingerirem o colostro de suas mães.
Tratando-se de raças taurinas leiteiras (Holandês, Jersey, etc.), com uma seleção para essa
atividade há séculos, essa apartação não interfere na lactação. Esses animais já adquiriram
hábitos leiteiros, tornando-as verdadeiras máquinas de produzir leite, em detrimento de suas
habilidades maternas. No caso de raças zebuínas ou euro-indianas leiteiras (Gir, Guzerá,
Girolando, etc.) e também no caso de bubalinos, não é aconselhado esse procedimento. Com
o instinto materno aguçado desses animais, o “desaparecimento súbito da cria”, no início da
parição, poderá ocasionar a interrupção da lactação. O instinto materno induz no organismo
como um todo, um verdadeiro sinergismo de fatores em prol do desenvolvimento da glândula
mamária.
Búfalas que perdem as suas crias no primeiro dia do parto, caso não adotem outra cria
da mesma idade, na maioria das vezes terão suas lactações comprometidas. O parto é ato
doloroso, podendo causar depressão na búfala. Somando-se a esse estresse o
desaparecimento de sua cria, ela poderá interromper a lactação subitamente ou
gradativamente em poucos dias.
Caso seja muito incomodada por cachorros ou aves de rapina (gaviões, urubus, etc.), a
búfala poderá rejeitar sua cria e consequentemente haverá corte na sua lactação.
A presença do vaqueiro na hora do parto das búfalas ou poucas horas depois é
indispensável para se certificar que o recém-nascido mamou, nas primeiras 6 a 10 horas, a
maior quantidade de colostro possível, pois neste período seu aparelho digestivo estará mais
apto a absorver as imunoglobulinas contidas no colostro, conferindo-lhe desta forma maior
imunidade. Com exceção da cura do umbigo do bezerro, deve-se evitar muita movimentação
com a búfala recém-parida até que essa adquira amor pela sua cria (habilidade materna).
Cuidado especial deve ser dedicado as primíparas, que costumam abandonar suas crias
quando importunadas logo após o parto.

5.5.2. Segundo dia após o parto


No dia seguinte ao parto, as búfalas deverão ser conduzidas ao curral, onde, contidas
por um pé, deixarão os bezerros mais novos e os mais debilitados do rebanho mamarem. O
colostro, além das qualidades mencionadas, é um alimento muito rico em proteínas e sais
minerais e, um excelente laxante intestinal. Para evitar que os bezerros tenham diarréia, deve-
se fazer um rodízio de bezerros mamando nessas búfalas.
É aconselhável a esgota total dos úberes das búfalas, no segundo dia de paridas.
Havendo um grande acúmulo de leite na glândula mamária por um determinado tempo, caso
o mesmo não seja esgotado, parte das células secretoras passarão a absorver o leite e não
mais o produzirão nessa lactação.
O esgotamento total e diário dos úberes das búfalas recém-paridas é um dos principais
fatores de aumento de produção de leite. Essa prática irá desenvolver maior número de
células secretoras das glândulas mamárias dessas búfalas.

5.5.3. Dieta das búfalas recém paridas


Logo após a parição, as búfalas entram em balanço energético negativo. Assim sendo,
o volumoso que a búfala ingere não é suficiente para satisfazer as suas exigências

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nutricionais. O crescimento da produção de leite requer grande quantidade de nutrientes das
búfalas, uma vez que elas passam a consumir as suas reservas corporais. Para evitar esse
desequilíbrio e manter a produção, faz-se necessário uma suplementação alimentar com
concentrados. Estudos revelam que, durante uma mudança na dieta dos ruminantes, há uma
demora em média de 15 a 20 dias para que a flora bacteriana do rúmen se adapte totalmente a
esse novo alimento. Diante desse fato, é importante ir acostumando as búfalas recém-paridas
ao consumo de ração balanceada.

5.6. Ordenha em búfalas sem bezerro ao pé


5.6.1. A importância da cria para a búfala
Os bovinos leiteiros de origem européia sofreram ao longo de muitos séculos
modificações impostas pelo homem, que transformaram esses animais em verdadeiras
máquinas de produzir leite.
No Brasil, a pecuária bubalina de leite como atividade profissional, tem apenas
algumas décadas de exploração. Segundo relatos de pesquisadores, as búfalas ainda não
adquiriram hábitos leiteiros como as bovinas de leite de origem européia. Por esta razão, elas
apresentam grande dependência dos bezerros para proporcionar a liberação do leite. Segundo
consta, esse fato se deve à necessidade desses animais de preservar a espécie. No processo de
adestramento das búfalas para a ordenha sem bezerro ao pé, recomenda-se que após a
ordenha, elas entrem em contato com suas crias. O procedimento proporciona às mães, um
condicionamento à necessidade de produzir leite. A búfala, ao parir, produz o leite para o seu
bezerro e não havendo bezerro, a natureza entende que não há necessidade de leite. Como
consequência, a búfala interrompe a sua lactação. Por essa razão, nos primeiros dias
subseqüentes à apartação, é imprescindível que as búfalas entrem em contato com suas crias.
Após a ordenha, soltar os bezerros por 30 minutos com suas mães. Fazendo com que
as búfalas reconheceriam seus filhos, não interromperiam a lactação e os bezerros mamariam
o leite residual. Na realidade, o manejo não funcionou porque as búfalas, ao saírem da
ordenha, sentem uma inquietação nervosa (“gastura”) ao serem mamadas e para evitar esse
incômodo, acabam se deitando. Estando com os esfíncteres dos tetos relaxados, surge a porta
de entrada para as bactérias que provocam a mastite. Mediante tal inconveniência, foi
desenvolvido um curral em que as búfalas têm acesso a seus bezerros sem que estes mamem
em seus úberes. A esse curral adotou-se o nome de Curral de Reconhecimento.

5.6.2. O curral de reconhecimento


O curral de reconhecimento foi criado para que as búfalas não sintam estresse em suas
apartações e também para evitar a mastite. Antigamente, após a ordenha, os bezerros eram
soltos com suas mães para que essas reconhecessem as suas crias e não cortassem suas
lactações. O tempo de permanência adotado era de 30 minutos. Esse procedimento acarretava
um elevado índice de mastite. Ao saírem da sala de ordenha, as búfalas, com seus úberes
secos, não permitiam que os bezerros mamassem e para se livrarem dos mais impertinentes,
deitavam-se. Estando os tetos com seus esfíncteres abertos, possibilitava que as bactérias
penetrassem pelo canal dos mesmos, ocasionando mastite.
Esse curral consiste em um corredor, em que as búfalas passam obrigatoriamente após a
ordenha. Ao lado do corredor está o curral de reconhecimento onde os bezerros ficam
apartados. Entre o corredor e o curral de reconhecimento, existe uma divisória que permite às
búfalas colocarem suas cabeças para dentro do curral e reconhecerem os seus bezerros, sem
que eles tenham acesso ao úbere de suas mães. O reconhecimento diário das crias pelas suas
mães, evita que as búfalas se estressem e interrompam suas lactações.

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5.7. Fases das búfalas como amas de leite
Do segundo ao quarto dia de paridas, as búfalas que ainda permanecem no piquete
maternidade com suas crias, deverão ir diariamente para o curral, onde será feita a esgota de
seus úberes. Primeiro mamarão as suas respectivas crias, depois os outros bezerros do lote
das amas de leite.
A partir do quarto dia de paridas, as búfalas passarão para o lote das amas de leite.
Nessa fase, elas estarão amamentando, além das suas crias, mais dois bezerros em média, ou
seja, haverá uma búfala para cada três bezerros convivendo em um único rebanho. Além das
recém paridas, poderão ser amas de leite as búfalas que estão com mastite clínica e as que
apresentam problemas na hora da ordenha.
Pela manhã, esse rebanho é conduzido do campo para o curral, onde os bezerros,
cujas mães já estão em lactação, serão apartados das amas e ficarão à espera de suas mães no
curral de reconhecimento. Nesse tempo, as amas receberão uma suplementação alimentar de
concentrados para compensar o balanço energético negativo e adaptar as bactérias do rúmen
ao novo alimento.
O lote que está em lactação, ao sair da sala de ordenha, passará obrigatoriamente pelo
curral de reconhecimento. Caso haja ainda interesse por suas crias, as búfalas colocarão suas
cabeças para dentro do referido curral, cheirando e acariciando as suas crias.
Terminada a ordenha matinal, bezerros e amas serão conduzidos a sala de ordenha, ou
outro local apropriado. Nessa ocasião, será feita a esgota do resto de leite que porventura
ainda haja nos úberes das amas.
É comum encontrar búfalas com os úberes cheios na hora da esgota, uma vez que
certas búfalas só permitem que seus bezerros mamem. Inicialmente deve-se colocar para
mamar os bezerros mais novos ou mais debilitados, depois o restante. Caso as amas não
deixem os bezerros mamarem, deve-se amarrar um pé dessas búfalas a um mourão.
Os bezerros permanecerão com as amas de leite até atingirem 70 a 80 kg, o que
ocorre em torno dos 60 a 70 dias de idade. Nessa época estarão ingerindo provavelmente em
torno de 800 gramas de ração balanceada e seus rumens deverão já estar funcionado
regularmente, fato percebido pela ruminação.
Como observação prática ressalta-se três situações:
1) Os úberes das búfalas completamente secos e os bezerros visivelmente com fome, são
indicativos de que se deve aumentar a relação ama/bezerro;
2) Os úberes das búfalas ainda com leite na hora da esgota e os bezerros de barriga cheia,
sem querer mamar, demonstram que se deve diminuir a relação ama/bezerro;
3) Fazer semanalmente a pesagem do leite das amas para calcular a relação ama/bezerro.
O ideal seria que o bezerro mamasse 10% de seu peso, o que é economicamente
inviável para bezerros acima de 50 kg. Como dieta fornecer direto das tetas das amas
de 4 a 5 kg de leite, mais ração balanceada à vontade e/ou um sucedâneo do leite.
Ao deixarem de ser amas de leite, as búfalas serão conduzidas ao lote de ordenha.
Esse manejo satisfaz tanto ao bezerro que mama o leite com resíduo de colostro, como
também ao produtor que fica com o leite sem resíduo de colostro.
É sabido que o leite de búfalas, com menos de 15 dias de paridas, contém ainda
resíduos de colostro, o que dificulta a fabricação de queijos de massa filada, como sejam a
Mozzarella, Provolone, Caccio-Cavalo, Bocconcini, etc...

5.8. Sistema rotativo de amas de leite


Para se fazer ordenha sem bezerro ao pé é imprescindível o sistema de amas de leite.
O sistema funciona da seguinte forma: as búfalas, ao parirem, passam a serem amas de leite.
Como amas, amamentam os seus filhos e mais dois bezerros, filhos das búfalas que já saíram
do lote de amas para o lote de ordenha. A proporção ama / bezerro é definida de acordo com

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a produção média de leite das búfalas amas. Para se fazer essa proporção deve-se considerar
que um bezerro deve mamar em torno de 4 litros leite/dia. À medida que as búfalas vão
parindo, e a proporção ama / bezerro estiver excedendo em número de amas, a búfala que
tiver mais tempo de parida, deixa de ser ama e vai para o lote de ordenha. Estando na
ordenha, essas búfalas não amamentam mais os bezerros. Esse manejo tem aumentado muito
a produção de leite das búfalas, pois, suas glândulas mamárias são muito estimuladas. Esse
estímulo tem como consequência o desenvolvimento das células secretoras de leite desses
animais. É importante ressaltar que as amas de leite devem estar em boa condição corporal,
ser bem alimentadas com volumosos de qualidade e até concentrados caso haja necessidade.
Este sistema difere dos demais pela quase inexistência de óbitos em bezerros, maior
persistência nas lactações e consequentemente, aumento na produção de leite do rebanho. O
sistema rotativo de amas de leite e o curral de reconhecimento são peças importantes para se
fazer a ordenha sem bezerro ao pé.

5.9. Búfalas que deverão permanecer como amas


Todas as búfalas após a parição devem passar por um período como ama de leite e
depois saem para o lote de ordenha. Algumas búfalas, pelo fato de só se deixarem ordenhar
com bezerro ao pé, ou por outra razão qualquer, causam atraso na ordenha. Devem ser
trocadas por búfalas amas com mais dias de paridas. Búfalas com mastite não se prestam para
amas, porque podem contaminar as amas sadias, fato este comprovado em nossa fazenda,
quando anteriormente colocávamos as búfalas com mastite para amas de leite, experiência
que não foi bem sucedida, pois contaminava as amas. Mediante tal observação, resolveu-se
colocar as búfalas com mastite para alimentar os bezerros mais fracos que não mamavam
mais nas amas. Provavelmente esses bezerros estarão com mais de 60 dias de nascidos.

5.10. Cuidados que antecedem a ordenha


5.10.1. Deslocamento das búfalas dos pastos para o curral
As búfalas, por sua natureza, andam muito devagar. Alterar essa condição, tangendo-
as com pressa, poderá causar, além do estresse, um maior consumo de energia, acarretando
em diminuição na produção do leite. Uma boa prática é se tanger as búfalas devagar e a pé.

5.10.2. Nunca tanger as búfalas com cachorros


Os búfalos têm verdadeira animosidade por cachorros. Eles os irritam e as levam ao
estresse, o que não é aconselhável.

5.10.3. Localização dos piquetes


Para evitar o desgaste físico das búfalas e consequentemente, a redução na produção
de leite, deve-se reservar os piquetes mais próximos do curral para as búfalas em lactação e
para a maternidade. Eles deverão estar, de preferência, num raio médio de 1km de distância
da sala de ordenha.

5.10.4. Distribuição de ração para as búfalas de leite


É comum se ver a distribuição de ração balanceada sendo feita indiscriminadamente
no cocho, sem levar em consideração a produção de cada búfala. Pelas nossas observações, a
melhor distribuição de ração é àquela fornecida individualmente e na proporção de 1,0kg de
ração balanceada para cada 2,5kg de leite, iniciando-se a partir de uma produção diária de
5,0kg de leite. Não havendo condições de fornecê-la individualmente, deve-se dividir o
rebanho em três lotes de acordo com suas produções e oferecer a ração, respeitando a
proporção acima mencionada. Essa alimentação balanceada é melhor aproveitada pelo rúmen

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quando fornecida em maior número possível de parcelas diárias, de acordo com a
conveniência.
Entre a distribuição de ração individual e a distribuição em lotes, a diferença de
aumento de produção é pequena, entretanto, comparando ambas com a distribuição
indiscriminada, observou-se um aumento de produção em torno de 20% a favor da
distribuição individual do que em lotes. Quando a ração não é distribuída individualmente,
certas búfalas ficam a dar cabeçadas nas outras, impedindo que se alimentem. Essa atitude
indesejável deve ser evitada com a contenção da búfala “encrenqueira”.
Deve-se dar atenção toda especial às primíparas, que, normalmente “tímidas”, sofrem
discriminação por parte das multíparas, não tendo, desta forma, acesso à ração.

6 – Tipos de ama
6.1. Amas primíparas
As primíparas, por não terem ainda autocontrole sobre os seus estímulos no que se
refere à glândula mamária, mesmo estando estressadas, apojam com mais facilidade que as
multíparas. Após ter sido adestrada, se por algum motivo desconhecido a búfala não apoja,
deve-se conduzi-la ao curral de espera. Será ordenhada por último ou será solta para ser
ordenhada na próxima ordenha, quando possivelmente apojará.

6.2. Amas multíparas


No início do adestramento dessas búfalas, deve-se proceder da mesma maneira como
nas primíparas.
Multíparas que não foram filhas de búfalas leiteiras têm mais dificuldade de aceitar a
ordenha sem bezerro ao pé.
Muitas vezes, estando no começo de lactação ou no fim, estressadas ou quando há
mudança de ordenhador, as búfalas costumam dar “sapatadas”, numa atitude de rejeição à
ordenha. A melhor maneira de eliminar essa atitude indesejável consiste em amarrar um pé
da búfala a uma argola presa no piso, ao lado do ordenhador, ou a um mourão próximo do pé
da búfala. A princípio, as búfalas esperneiam, mas depois ficam calmas, facilitando dessa
forma a ordenha.
A adoção do método de ordenha sem bezerro ao pé requer um trabalho gradativo,
lento e que progride com a conscientização do ordenhador e, com o condicionamento do
animal.

7 – Fatores que influenciam a ordenha sem bezerro ao pé


7.1. Docilidade
A docilidade é fator preponderante em uma ordenha sem bezerro ao pé. As búfalas
não devem entrar estressadas na sala de ordenha. As búfalas que sofrem algum tipo de
estresse querem no processo de entrada do estábulo, quer na hora da ordenha, quer por não
encontrarem as suas crias, ou mesmo pelo manejo inadequado do ordenhador, se tornam cada
vez mais agressivas.

7.2. Úbere cheio


Quando os úberes das búfalas estão cheios de leite, ficam doloridos e a ordenha alivia
essa dor. Daí a razão de hoje se utilizar em países onde a pecuária leiteira está mais
avançada, o sistema de ordenha voluntária, onde o animal entra espontaneamente na sala de
ordenha e pode ser ordenhado até seis vezes em 24 horas. Com isso, evita-se o estresse do
úbere cheio e a produtividade da búfala aumenta. O condicionamento das búfalas a essa
sensação de conforto e prazer após a ordenha é um dos fatores que as induzem a se deixarem
ordenhar sem bezerro ao pé.

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7.3. Boa produtora de leite
Uma búfala boa produtora de leite, geralmente apresenta seus úberes cheios na hora
da ordenha, portanto, recai no exemplo anterior. Vale salientar que búfalas que assim se
apresentam, normalmente têm uma maior estabilidade à produção diária e também se deixam
ordenhar com mais facilidade sem bezerro ao pé.

7.4. Ambiente da ordenha


É conhecido que, na hora da ordenha, o ambiente deverá ser calmo, silencioso, com
pouco movimento de gente circulando na sala de ordenha. Um simples grito, um latido de
cachorro, uma visita de um amigo querendo ver a ordenha e falando alto, poderá inibir a
descida do leite das búfalas, acarretando em redução significativa na sua produção. Aqui na
fazenda, as búfalas são chamadas de “meninas”, forma que induz os tratadores a terem mais
respeito e carinho no trato com os animais e diminui a agressividade do tratador para com as
búfalas. Búfalas sem estresse se deixam ordenhar sem bezerro ao pé com mais facilidade.

7.5. A interação entre o animal e o ordenhador


O ordenhador que apresenta a habilidade de interagir com as búfalas, cria ambiente de
“amizade” e de confiança entre ambos. As búfalas são muito conservadoras em seus hábitos,
porém havendo mudança de ordenhador, da hora e do local da ordenha, visivelmente notar-
se-á queda na produção e, consequentemente haverá dificuldade de serem ordenhadas sem
bezerro ao pé. Como o ordenhador tem direito a uma folga por semana, é importante que seu
substituto seja uma pessoa que trabalha no curral e que diariamente conviva com as búfalas.

7.6. Pouco tempo de convívio da búfala com a cria


O sistema consiste em fazer com que a búfala, ao parir, desenvolva totalmente o seu
instinto materno. O contato direto com a sua cria nas primeiras 24 horas, estimula esse
instinto e induz ao melhor desenvolvimento das suas glândulas secretoras de leite.
Da parição até a apartação, as búfalas convivem diariamente com suas crias. No
primeiro dia de apartada e nos dias subsequentes, as búfalas só vêm suas crias quando saem
da ordenha e passam pelo curral de reconhecimento. É importante que no primeiro contato
após a apartação, a búfala demore o tempo que achar necessário com o filho, até que sinta
que ele está bem. Depois que passa pelo curral de reconhecimento, é oferecido à búfala,
como atrativo, volumoso de qualidade. Com o passar dos dias, o tempo de contato da búfala
com sua cria naturalmente vai diminuindo, até ela apresentar indiferença total pelo seu filho.
Verifica-se que a pouca convivência entre mãe e filho facilita a ordenha sem bezerro ao pé.

8 – Como preparar uma búfala para aceitar a ordenha sem bezerro ao pé


Uma das maneiras de se preparar uma búfala para a ordenha é interagir com ela desde
pequena. Para conquistar a confiança, o ordenhador deve escovar e dar banho de mangueira
nas bezerras, elas são muito sensíveis e gostam de carinho, atitudes como esta, fazem com
que elas levantem a cauda e fiquem retorcendo-as, não as balance. Diferente do cachorro, o
balançar agitado de cauda do búfalo quando o acariciamos, é sinal de desagrado. Um gesto
de confiança do búfalo para com o tratador é deixar coçar inicialmente no lombo e
posteriormente também na cabeça. Estas práticas têm demonstrado que no futuro, quando as
novilhas parirem, verão no homem um amigo e ficará mais fácil a ordenha sem bezerro ao
pé.

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8.1. Tratamento pré-natal
Sessenta dias antes de parirem, as búfalas devem ser separadas das demais em um
piquete perto do curral. Diariamente essas búfalas devem ser encaminhadas para o curral,
aonde vão se acostumando com o ambiente. Na oportunidade, esses animais receberão uma
ração balanceada apropriada para vacas gestantes e deverão ser avaliadas quanto ao seu
escore de condição corporal (ECC) e temperamental. O ideal é que a búfala venha a parir
com um ECC entre 3 e 4 e temperamental de 4 ou 5, conforme tabela abaixo. Búfalas dóceis
têm mais facilidade de aceitar a ordenha sem bezerro ao pé.

9 – Métodos de adestramento da búfala para a ordenha sem bezerro ao pé


9.1. Apartar o bezerro de sua mãe logo após ter mamado o colostro (não aconselhável)
Este procedimento, conforme foi comentado anteriormente, só é válido para vacas
leiteiras bovina, principalmente de origem européia, que já têm hábitos leiteiros.
Bubalinocultores que adotaram esse sistema não obtiveram sucesso. As búfalas, com seu
aguçado instinto materno, ao sentirem a falta do bezerro, ficam estressadas e interrompem as
suas lactações.

9.2. Aplicar ocitocina na búfala caso não queira apojar (não aconselhável)
Essa substância, ao cair na corrente sanguínea da búfala, é transportada até a glândula
mamária, provocando contrações e expulsando o leite dos alvéolos. Estudos tem
demonstrado que esse sistema não funciona, pelo contrário deixa as búfalas estressadas e
com raiva, pois a cada dose de ocitocina, ocorre uma nova picada.

9.3. Colocar o bezerro para estimular o apojo em sua mãe só nos primeiros dias
subsequentes à apartação (aconselhável)
Depois de ter experimentado os métodos acima mencionados, concluiu-se que esse
último é o que oferece as melhores condições de adestramento das búfalas para a ordenha
sem bezerro ao pé. Os três ou quatro primeiros dias subsequentes à apartação são
determinantes no sucesso desse método de ordenha. Por essa razão, é importante que no
início de apartação, se coloque o bezerro com sua mãe, caso ela não apoje. Quando são
transcorridos mais de cinco dias após a apartação e a búfala só libera o leite com a presença
do bezerro, fica definido que ela dificilmente dará leite sem o estímulo do filho. A
persistência no adestramento poderá causar o interrompimento na lactação. Nesse caso, o
bubalinocultor terá que decidir se fica com esse animal ou se o descarta. Tratando-se de uma
boa produtora de leite, aconselha-se trocá-la por uma ama de leite que tenha mais tempo de
parida.

9.4. Desvantagens da ordenha com bezerro ao pé


O trabalho de ir buscar os bezerros no bezerreiro e colocá-los ao lado das búfalas para
que elas apojem, representa cerca de 50 % da força de trabalho de uma ordenha.
9.5. A alimentação de bezerros até dois meses de idade
O bezerro que for bem alimentado com leite e concentrado à vontade no cocho
poderá, aos dois meses de idade, dispensar o leite de sua dieta. O aparelho digestivo dos

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bezerros, até dois meses de idade, ainda não está apto a extrair dos volumosos os nutrientes
de que necessita. Há de se concluir que, quanto menos volumoso os bezerros consumirem
nos primeiros dois meses de suas vidas, maior será o seu desenvolvimento corporal.
No sistema de ordenha sem bezerro ao pé, os procedimentos na alimentação dos
bezerros devem ser rigorosamente cumpridos. Após a ordenha, as amas de leite deverão
entrar na sala de ordenha com seus bezerros. Na oportunidade, o ordenhador colocará
inicialmente os bezerros para mamarem em suas mães e posteriormente outros bezerros, os
menores e os mais debilitados, cujas mães já deixaram de ser amas e foram para a ordenha. O
procedimento distribui racionalmente o leite das amas para os que mais necessitam e evita a
desnutrição. Caso as búfalas não aceitem outros bezerros que não os seus, deve-se amarrá-las
por um pé. Contidas dessa forma, os bezerros mamam com mais facilidade. Esse manejo,
chamado de esgota, além de trazer um aumento de produção de leite das búfalas pelo
desenvolvimento das células secretoras, proporciona um grande benefício aos bezerros
pequenos e/ou mais debilitados.
Desde o dia em que nasce até sua apartação, o bezerro só se alimenta praticamente
com o leite materno, podendo eventualmente comer algum volumoso nas pastagens. Quando
sua mãe é apartada, esse bezerro fica à sua espera, no curral de reconhecimento, vendo-a
passar. No convívio com os bezerros maiores, aprende a comer ração balanceada. Terminada
a ordenha, os bezerros irão ter com as amas para a esgota, conforme foi exposto
anteriormente. Terminada a esgota das amas, todos os bezerros com idade inferior a 60 dias,
seguirão com as amas para o campo. Bezerros com até 30 dias de nascidos, ficam de dia e de
noite no lote de amas de leite. Só se separam desse lote na hora das ordenhas, quando ficam
no curral de reconhecimento. Bezerros com 31 à 60 dias de nascidos ficam no bezerreiro
após a ordenha da tarde até a ordenha da manhã do outro dia. É fornecido a eles ração
balanceada e água de boa qualidade, à vontade. O fato dos bezerros com menos de 30 dias
ficarem com as amas durante os dois horários, evita a concorrência com os bezerros maiores
e favorece o seu desenvolvimento.
Após dois meses de idade, os bezerros deverão estar com peso próximo de 70kg e
comendo em torno de 800g de concentrado por dia. Nessas condições, já se observa a
ruminação desses bezerros, pelo movimento da boca. Com esses dados, conclui-se que os
bezerros deverão sair do lote de amas de leite e irem para um outro lote, no qual serão
fornecidos volumosos de boa qualidade e concentrados, na razão de, no mínimo, 1kg/cabeça/
dia.

VANTAGENS DA ORDENHA SEM BEZERRO AO PÉ


- Menor tempo de ordenha
- Maior tempo de pastagem para as búfalas
- Menor número de funcionários.
- Menor tempo de serviço.
- Maior número de crias por búfala durante sua vida útil (mais prolífera)
- Maior produção de leite.

10 – Apartação das búfalas sem estresse


Nos primeiros dias de apartação, quando as búfalas deixam de ser amas de leite e se
separam de suas crias, é conveniente que, durante a noite, esses bezerros apartados fiquem no
curral de reconhecimento. Suas mães devem ter acesso ao curral, sem adentrá-lo. Esse
procedimento, além de diminuir o estresse das búfalas, evita que elas varem as cercas à noite
para ficarem com suas crias.
Quando as búfalas deixam de ser amas e iniciam a fase da ordenha, só terão acesso às
suas crias através do curral de reconhecimento. Esse encontro só deve acontecer quando as

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búfalas apresentam seus úberes secos logo após a ordenha e os bezerros estão de “barriga
cheia”, pois já mamaram em suas amas de leite.
Ao passarem pelo curral de reconhecimento, algumas búfalas colocam suas cabeças
para dentro desse curral e após terem a certeza de que suas crias estão bem, saem em direção
ao cocho, para evitar que as mesmas deitem e ocorra contaminação devido ao esfíncter
permanecer aberto por determinado período de tempo.
Búfalas que procuram as suas crias ao passarem pelo curral de reconhecimento são
exatamente as que cortariam ou reduziriam suas lactações, caso não houvesse esse manejo.
O progressivo desinteresse mútuo entre mãe e cria é o princípio básico para o aparte
sem estresse. A maior procura das búfalas por suas crias acontece nas três primeiras semanas
após saírem da condição de amas para entrarem para a ordenha.
Com o passar do tempo, vai diminuindo a atração das búfalas por suas crias e
consequentemente vai diminuindo a dependência da cria para o apojo. As búfalas vão se
adaptar ao novo sistema, de forma que, em poucos dias elas passam pelo curral de
reconhecimento com indiferença. Essa apartação espontânea faz com que as búfalas
persistam em suas lactações.

11 – Secagem das búfalas


Deve-se promover a secagem do leite das búfalas no mínimo dois meses antes da sua
parição. Esse procedimento é indispensável para que haja recuperação da glândula mamária.
Caso o produtor persista em tirar leite das búfalas sem respeitar o intervalo acima
descrito, elas terão suas próximas lactações prejudicadas, com redução significativa na
produção.
Quando as búfalas estão prestes a terminar a lactação oferecem resistência, só se
deixando ordenhar em dias alternados. Nessa situação, mesmo estando com mais de dois
meses para a próxima parição, deve-se provocar a secagem dos seus úberes. Essa prática
consiste em deixar as búfalas por dois dias sem comida, só com água. Dando continuidade ao
processo de secagem do leite, soltam-se esses animais em pasto de qualidade ruim por
aproximadamente duas semanas, tempo necessário para que o leite residual nos úberes seja
absorvido pelo organismo, fato que se percebe pela involução desses órgãos.

12 – Instalações
12.1. Bezerreiro
• Recomenda-se 1 a 1,5 m² de área livre pôr cabeça
• O piso pode ser suspenso ou não. Quando suspenso o estrado é de madeira e o
afastamento entre peças para passagem de excreções e resto de alimento deve ser ao
redor de 2 cm. No caso do piso ao nível do solo, este pode ser cimentado com declive
para escoamento de água de 2 %.
• Adotar pé direito é de 2,5 a 3,5 m.
• A cobertura usada pode ser telha de barro, amianto ou zinco.
• Pode ser colocado um ou mais cochos e bebedouros. O cocho para colocação de
concentrado e volumoso deve apresentar as seguintes medidas altura menor 0,3 a 0,4
altura maior 0,7 a 0,8, largura interna 0,4 a 0,5m; comprimento 0,4 m/cabeça. O
próprio cocho de alimentação poderá possuir pequena divisão para minerais variando
de 0,5 a 1,0 m de vão livre ou então será construído um cocho separado para
minerais.
• O bebedouro deve ter de 0,4 a 0,5 m de altura e largura interna de 0,5 a 1m.

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12.2. Abrigo para adultos
• Localizado no galpão no caso de criação de búfalos de corte e no estábulo no caso de
búfalos de leite.
• A área livre do abrigo por cabeça de animal adulto varia de 5 a 6 m² no caso de
reprodutores 12m².
• Quando o abrigo possuir área adicional a céu aberto cercada, com acesso para fonte
de água, a área total a céu aberto, cercada, incluindo as partes de terra firme e banho,
varia de 50 a 100 m² por cabeça, numa relação em torno de 2:1, respectivamente,
terra firme e espelho de água.
• O cocho deve possuir de 0,50 a 0,60 m de altura menor e 0,90 a 1,00 m de altura
maior, com largura interna variando de 0,50 a 0,60 m. O comprimento livre de cocho
por cabeça é de 0,90 a 1,00.
• O bebedouro deve possuir de 0,50 a 0,70 m de altura, com a largura interna variando
também de 0,50 a 0,70 m. O comprimento varia de 1 a 2 m.
• O cocho para sal mineral pode estar em pequena divisão do cocho para alimento,
variando de 0,5 a 1m. Caso o cocho seja independente as dimensões são: largura livre
menor 0,30m, largura livre maior 0,40 m altura do piso até a borda do cocho 0,60 m
altura da parte interna do fundo até a borda do cocho 0,20m.
• Recomenda-se pé direito de 2,50 a 3,50m.

12.3. Componentes extras de manejo


12.3.1. Cocho
O comprimento do cocho coberto para sal mineral deve apresentar espaço suficiente
para comportar de uma só vez 6% dos animais que vão utilizá-lo. O espaço por cabeça é de
0,40 a 0,50m. A largura do fundo é de 40 cm. A profundidade gira em torno de 20 cm. A
altura é de 60cm, entretanto se animais jovens também vão utilizá-lo esta altura passa a ser
50 cm.
Os cochos de volumoso para animais adultos devem possuir um comprimento em
torno de 1 m por cabeça, com altura menor e maior, respectivamente, de 0,50 a 0,60 m e 0,80
a 1,00 m, bem como largura interna de aproximadamente 0,60 m.
Para bezerros o cocho para volumoso deve apresentar as seguintes dimensões, altura
menor de 0,30 a 0,40 m; altura maior de 0,60 a 0,70 m largura interna 0,35 a 0,45. O
comprimento também deve ser de aproximadamente 1 metro por cabeça.

12.3.2. Bebedouro
Para os bebedouros localizados nos pastos, o espaço linear por cabeça é em torno de
0,50 para animais adultos e 0,30 para bezerros.
A largura para bebedouro retangular simples é de 40 cm e para bebedouro retangular
duplo em torno de 80 cm. A altura deve ser de cerca de 60 cm para animais adultos e 50 cm
para animais jovens.
Os bebedouros devem ser constituídos em locais de terra firme, de boa drenagem e de
fácil acesso.

12.3.3. Açude e barragem


O açude é uma instalação construída com objetivo de armazenar água pluvial e água
do subsolo. Para sua construção, deve-se escolher uma depressão do terreno com excelente
ponto de convergência de água pluvial, escavando-se o terreno até encontrar o lençol
freático.

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A barragem pode ser considerada uma construção feita com objetivo de se obter uma
barreira, em um curso natural de água, preferencialmente em pequeno rio, para elevar o nível
de água, de modo a armazená-la.

12.4. Instalações para estabulação livre


A estabulação livre pode ser classificada em três tipos: estabulação livre clássica,
estabulação livre com baias individuais e estabulação livre com água para banho. A
estabulação livre clássica se caracteriza por possuir quatro áreas, ou seja, de preparo e
estocagem de alimento, alimentação, descanso e exercício.
A estabulação livre com baias individuais diferencia-se da clássica por possuir, na
área destinada ao descanso dos animais, baias individuais onde os animais podem entrar e
sair livremente.
A estabulação livre com fonte de água para banho é um sistema que possui açude,
barragem ou mesmo lagoa para banho doa animais.

12.5. Dependência para ordenha


As baias das vacas devem estar situadas 70 a 80 cm acima do nível de localização do
ordenhador.
É recomendado revestir as paredes com azulejo pelo menos à altura de 2m, construir
piso de concreto com declive e esgoto adequados, forrar o teto e prover a sala com
arejamento apropriado.
Num estábulo, o local de ordenha pode ser constituído de cocho de alimentação,
bebedouros e baias individuais. O cocho de alimentação pode variar de 30 a 40cm de altura
menor, 70 a 80cm de altura maior e de 40 a 60cm de largura interna.
O bebedouro pode ser individual ou coletivo. No caso do bebedouro coletivo, sua
largura interna deve variar de 20 a 30cm, com altura interna de 15 a 20cm, com lamina de
água atingindo no máximo 2cm da borda. As baias individuais podem ser organizadas de
maneira que as vacas estejam dispostas bilateralmente cara a cara, cauda a cauda ou
unilateralmente com a cara para a circulação.
O piso deve ser de cimento com declive e valeta de escoamento. Deve possuir baias
fixa ou móveis.

SALA DE PREPARO DE ALIMENTO = Deverá possuir dimensões capazes de abrigar os


seus equipamentos e o volume de alimento a ser manipulado de cada vez. O equipamento
principal é a picadora de forragem.

DEPOSITO = As dimensões variam de acordo com o volume de material a armazenar. É


uma dependência que deve ser bem vedada, a fim de evitar a penetração de ratos e outros
animais predadores. Os estrados do piso devem ser elevados para armazenagem de sacos de
concentrados e minerais, objetivando proporcionar ambiente arejado, bem como protegê-los
da umidade.

SALA DE LEITE = Compartimento onde o leite é recebido e passa pelos primeiros


manuseios. Deve possuir boas condições de higiene. As paredes devem ser azulejadas pelos
menos 1,50m de altura e o piso deve ser revestido. Balcão, pia, latões, balde, corda,
banquinhos, equipamento de ordenha mecânica, balança, equipamento para análise de leite e
resfriador são itens encontrados na sala de leite.

CURRAL = É o componente para a contenção dos animais. Com relação a área livre
ocupada por cabeça adulta, ela varia de 2 a 3m². Para animais jovens, essa superfície é de 1 a

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1,5m². Em regiões de terra inundável, os currais podem ser construídos em aterros feitos
preferencialmente com uso de máquinas.

SERINGA = Tem a finalidade de acumular e direcionar os animais na entrada da manga. A


área para alojamento de cada animal é de 2m². O piso deve ser de preferência cimentado e
ante derrapante.

MANGA DE VACINAÇÃO = Manga, tronco ou brete é uma instalação destinada


principalmente ao serviço de vacinação dos animais. Deve a capacidade de conter pelo
menos dois animais podendo chegar mais que dez. O valor do comprimento necessário para
uma cabeça adulta é de 1,70 a 2m.

TRONCO DE CONTENÇÃO = É destinado conter um animal de cada vez e pode ser fixo
ou móvel. Se encontra localizado depois da manga.

BALANÇA = Está situada depois da manga de vacinação, ou, quando existir, após o tronco
de contenção.

EMBARCADOURO = Tem por finalidade o embarque e desembarque dos animais.


Existem dois tipos de embarcadouro para búfalo, um construído para transporte rodoviário e
outro para
transporte aquático. Este último recebe a denominação de caiçara.

ESTERQUEIRA = Tem por finalidade armazenar o esterco produzido, em condições que


permitam uma fermentação adequada, resultando em produto final de boa qualidade. As
esterqueiras podem ser classificadas em subterrâneas, de encosta, de plataforma e aéreas.

Ambiente de manejo na ordenha


O ambiente de manejo determina as condições higiênicas em que a búfala se
apresenta na sala de ordenha, assim, animais mantidos a pasto com relativamente baixas
lotações costumam chegar à sala de ordenha mais limpos que animais mantidos em
confinamento onde o acúmulo de esterco favorece a colonização por microorganismos,
principalmente na região ventral do animal (tetos e úbere), o que contribui para elevação da
carga microbiana do leite e piora de sua qualidade.
Por outro lado, a existência nas pastagens de poças e açudes pequenos sem renovação
de água são fatores que, da mesma forma, favorecem a disseminação dos microorganismos e
pioram as condições no momento da ordenha.
Animais mantidos em confinamento devem ter à disposição pelo menos 15 m2 e de
0,70 a 0,80 m de cocho por animal, o que evita a “competição” pelo alimento onde são
favorecidos os animais “dominantes”, principalmente em estabulação livre em detrimento
principalmente das primíparas. A disposição de fontes de água e saleiros, bem como a
distância das pastagens das instalações de ordenha é outro fator que deve ser bem planejado,
pois a necessidade de percorrer maiores distâncias ou de vencer topografia mais íngreme
acarreta maior necessidade de energia e conseqüentemente, pode reduzir a produção leiteira.
De uma forma geral, animais mantidos em pastagens devem receber cerca de 15% mais
energia do que aqueles mantidos em estabulação. (Zicarelli 1999).

13 – Nutrição
Os animais são geralmente mantidos nas fazendas com o objetivo de produzirem leite,
carne e trabalho. Os valores das necessidades de manutenção, no entanto, servem como uma

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linha básica para o cálculo da quantidade de energia necessária para satisfazer as várias
funções fisiológicas e os níveis de produção esperados. As necessidades de manutenção de
animais adultos podem frequentemente serem atendidas pelo uso de dietas contendo
forragens e outros alimentos de baixa qualidade acompanhadas de quantidade necessárias de
minerais.
Considerando que grande parte do sucesso produtivo dos animais repousa no
fornecimento de todos os nutrientes que o animal precisa, faz-se necessário em sistemas
intensivos de produção o fornecimento de concentrado adequadamente formulado segundo as
necessidades nutricionais.

13.1. Aspectos da fisiologia digestiva das búfalas


É bastante conhecida a maior capacidade digestiva dos búfalos na utilização de
alimentos ricos em fibras, como é o caso das pastagens tropicais relativamente a outros
ruminantes, diferença esta que não se verifica quando o nível de volumosos na dieta se reduz
ou quando se diminui a concentração de “fibras” da dieta (Fibras em Detergente Ácido >
35,5%), usuais em dietas em que os volumosos representem mais de 60-70% da matéria seca
consumida. Esta maior capacidade em utilizar forragens ricas em parede celular (fibrosas)
tem pouca utilidade prática nas propriedades com maiores níveis produtivos tendo em vista,
nestes casos, ser necessário reduzir a proporção volumosos:concentrados para satisfazer tais
necessidades produtivas (ZICARELLI, 2001b).
A ingestão diária de matéria seca nas búfalas leiteiras apresenta grande variabilidade,
entre 2,2 até 3,4% do peso vivo, e está relacionada a diversos fatores.
Alguns fatores que reduzem a ingestão de matéria seca
- Teor de fibras dos alimentos
- Teor de proteínas da dieta
- Distância do parto inferior a 50-60 dias (fase catabólica). Estima-se uma ingestão cerca de
10% inferior nesta fase.
- Menor “palatabilidade” dos alimentos
- Utilização excessiva de amido e carboidratos de rápida fermentação e degradação ruminal.
As búfalas apresentam mastigação mais prolongada com relação aos bovinos,
transformando alimentos grosseiros em partículas menores, o que, aliado a mais intensa
degradação ruminal da fração fibrosa, aumenta a velocidade de transito alimentar no trato
digestivo subsequente. Verifica-se ainda maior capacidade de utilização nos búfalos da
matéria orgânica para o crescimento e síntese microbiana no seu líquido ruminal, permitindo
o uso de alimentos com menor concentração protéica.
As búfalas apresentam maior coeficiente de utilização digestiva que ovinos em dietas
com mais de 70% de volumosos, particularmente na degradação das porções fibrosas,
diferença que desaparece quando as dietas possuem menor conteúdo de fibras.

13.2. Consumo de matéria seca


O consumo de matéria seca pelos búfalos varia em relação ao teor de energia de sua
dieta, que na maioria dos casos é controlada pelo conteúdo de fibra, no entanto é uma medida
importante na avaliação do potencial genético dos animais no uso da energia. Assim, as
diferenças no consumo individual dos alimentos refletem as variações na capacidade de uso
desses alimentos.

32
Requerimentos nutricionais de búfalos

Requerimentos nutricionais de búfalas em lactação

13.3. Consumo de água


Em virtude do búfalo ser considerado um animal semi-aquático, a água é
extremamente importante para a sua sobrevivência. No calor, os búfalos requerem
frequentemente acesso á água ou deve banhar-se para auxiliar a eliminação do calor
corpóreo. Não há estudos a respeito do estresse dos búfalos com longos períodos desprovidos
de água. No geral, nos ambientes em que estes animais são encontrados a necessidade de
banhar-se não parece ser um problema significativo.
Os búfalos têm sido observados bebendo água várias vezes ao dia durante as estações
quentes. Durante a seca onde eles são forçados a pastar longe das fontes de água, a bebida é
geralmente restringida a duas vezes (pela manhã e a tarde). Animais pesando em média 270
kg de peso vivo consumiram aproximadamente 20 litros de água durante o inverno e 36 litros
durante o calor de verão. A perda através da evaporação foi em média de 5 e 19 litros durante
o inverno e verão, respectivamente. KAY (1974) mostrou que búfalas adultas em lactação
bebem 45 litros de água diariamente para manutenção e 45 litros para a produção de leite.
Pesquisas complementares deverão determinar com maior precisão a necessidade diária de
consumo de água pelos búfalos.

13.4. Metabolismo energético


Já ao final da gestação ocorre aumento na utilização das reservas corporais a fim de
atender à demanda necessária à lactação posto que, nas fases iniciais desta, a búfala não é
capaz de ingerir a quantidade de matéria seca necessária à produção (fase catabólica)
permanecendo, pois em balanço energético negativo de forma mais acentuada do que ocorre
com as bovinas. Verifica-se por volta de 110 dias de lactação que tal situação se reverte,
passando os animais a uma fase de recomposição de suas reservas corporais (fase anabólica).

13.5. Metabolismo protéico


Atribui-se aos bubalinos maior eficiência na reciclagem de proteínas, o que permite a
manutenção dos níveis de uréia sanguínea tanto em condições de menor aporte protéico
(maior capacidade de síntese de proteínas de origem microbiana no rúmen) quanto em

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condições de aporte excessivo, quando são capazes de manter estável o nível de uréia
sanguínea.
Um maior aporte protéico, principalmente durante a fase catabólica favorece uma
maior síntese de glicose e contribui para minimizar seus efeitos na búfala (perda de peso e
consumo de reservas corporais).

13.6. Metabolismo mineral


Verificou-se na Itália que deficiência relativa de fósforo durante o período seco
representa uma das causas mais frequentes de prolapsos vaginais ou uterinos, recomendando-
se que, nesta fase, os animais devem receber cerca de 45 g de cálcio e 45 g de fósforo por
dia, mantendo a relação entre estes dois elementos próximos de 1:1, sendo que um excesso
relativo de cálcio pode induzir a alterações hormonais que resultam em problemas no pós
parto, quando deve ocorrer intensa mobilização do cálcio ósseo.

13.6.1. Importância dos minerais para os búfalos nos trópicos


Os minerais estão constantemente sendo excretados através do corpo do animal.
Assim, é necessária constante suplementação dos nutrientes perdidos. Os minerais são
requeridos por muitas enzimas e outros sistemas metabólicos do animal. Sabe-se que alguns
dos elementos minerais "perdidos" são reciclados, outros são excretados através da urina,
fezes e pele e, que em virtude de todas essas perdas endógenas, o animal requer uma
suplementação relativamente constante destes para sua manutenção. Também, são requeridos
minerais para crescimento, produção e reprodução.
As necessidades de minerais em búfalos incluem, sódio, cálcio, fósforo, enxofre,
cloro, cobalto, potássio, magnésio, iodo, ferro, manganês, zinco, selênio e cobre. Outros,
como o flúor, molibdênio, selênio e etc., devem também ser necessários, mas, até agora não
há evidências suficientes para garantir sua suplementação na dieta dos búfalos.
O sal deve ser fornecido à vontade no cocho. Deve-se considerar um consumo médio
de 50 gramas/animal/dia. A suplementação mineral deve ser rotina em toda fazenda de
búfalos.
Os sintomas de deficiência mineral são: Apetite depravado, redução de apetite,
aspecto doentio: animais magros, com espinha dorsal recurvada, pelos arrepiados e sem
brilho, fraturas frequentes, baixa produção com crescimento retardado, ganho de peso
reduzido ou perda de peso, baixa produção de leite, infertilidade, baixa resistência a doenças.

Requerimentos diários de MS e minerais estimados para vacas bubalinas em lactação.

14 – Manejo alimentar
O búfalo e um animal doméstico ruminante, para que se possa alimentá-lo de maneira
satisfatória é necessário que conheçamos as suas exigências nutricionais.
Conversão alimentar = É medida pela quantidade ingerida de alimento para cada kg de PV. É
sabido que os búfalos necessitam de menor quantidade de ingestão de alimentos para ganho
de 1 kg de PV, quando comparado com os bovinos.

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Índices de conversão alimentar para bubalinos e bovinos por raça e autor.

14.1. ALIMENTOS
14.1.1. Alimentos volumosos
Nas explorações leiteiras de búfalas no Brasil, mesmo diante da coexistência de
modelos mais ou menos intensificados de exploração, predominam as explorações baseadas
no consumo de altas proporção de volumosos, em geral pastagens cultivadas nas regiões
tropicais e nativas nas sub-tropicais, com animais submetidos a manejo relativamente
extensivo, sendo a suplementação de concentrados ainda prática pouco frequente.

14.2. Pastagem
A bubalinocultura dispõe de 3 tipos de área
ü Permanente inundada igapó;
ü Sujeita a inundações várzea;
ü Fora do alcance de inundações terra firme.
As pastagens utilizadas pelos bubalinos são constituídas principalmente de plantas da
família gramíneas e leguminosas.

Pastagem nativa = No Brasil, a criação de búfalos ocorre principalmente em pastagens


nativas situadas nos campos alagadiços. Nessas áreas, os pastos são constituídos
destacadamente de grande variedade de gramíneas. As ciperáceas nessas condições são
menos frequentes do que as gramíneas, e as leguminosas raramente existem. Apresenta a
vantagem da economia do custo para preparo da área e formação da pastagem. A pastagem
nativa, quando em equilíbrio ecológico reduz consideravelmente o aparecimento de
invasoras, diminuindo o custo com a limpeza. Não apresenta cigarrinha das pastagens. A
relação Custo/Beneficio entre o pastejo contínuo e o rotacionado demonstra que o pastejo
rotacionado apresenta pouca vantagem sobre o pastejo contínuo. Quando a propriedade
apresenta pastagens nativas de terra firme e alagadiça pode-se adotar o pastejo alternado,
intensificando o uso da terra firme no período chuvoso e da área alagadiça na estação seca.

Pastejo rotativo = Buscando otimizar a oferta e produção de forragens sob pastejo tem sido
preconizado o sistema de pastejo rotacionado, cujo princípio consiste em dividir a área de
pastagem em diversos piquetes menores oferecendo uma parcela de cada vez ao rebanho que
ali permanecem entre 1 e 3 dias quando passam à parcela seguinte e assim sucessivamente,
de maneira que retornam à mesma parcela em tempos variáveis (usualmente entre 21-45
dias), conforme o tipo de gramínea e época do ano, o que favoreceria a oferta da gramínea
num estádio vegetativo mais constante em cada estação.
Num trabalho efetuado no estado do Rio Grande do Norte, região caracteristicamente
de elevada temperatura média e baixos índices pluviométricos, com utilização do método em
pastagens de B. brizantha não adubadas observou-se a expressiva variação na composição
média da gramínea, conforme a estação do ano.

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Pastagem cultiva = Envolvem principalmente gramíneas. O consórcio pode ser feito e
quando eficaz, traz grande vantagem de fertilização do solo. O estabelecimento de consórcio
em proporção adequada é tarefa difícil, o que é agravado pela ação do pastejo do búfalo.
Essas dificuldades encontradas em terra firme torna-se extremas em terras alagadiças. Uma
alternativa é o uso dos “bancos de proteína”. O controle das invasoras é essencial para o
êxodo das pastagens. Existe possibilidade acentuada de ocorrência de cigarrinha das
pastagens.

Pastagem com suplementação alimentar e mineral


Pode ser feita a suplementação alimentar no período de escassez de forragem ou essa
pode ser feita durante o ano todo. O primeiro caso é mais comum na criação de búfalos de
corte, ao passo que a segunda alternativa é mais comum para búfalos leiteiros. A
suplementação pode ser feita com capineiras, feno ou silagem. Uma mistura de 98% de farelo
de trigo e 2% de minerais, ministrada na relação de 1 kg da mistura para cada 3 kg de leite
produzido é um suplemento relativamente barato e que pode proporcionar bons resultados na
elevação da produção de leite em bubalinos sob regime de pasto, notadamente quando a
qualidade da forragem for inferior.
Moura Carvalho et al. (1982) engordou machos bubalinos em Quicuio-da-Amazônia
encontrando média de ganho de peso diária variando de 0,575 a 0,686 kg/cab. Nascimento &
Lourenço Jr. (1979) revelaram Ganho de peso em pastagens exclusivas de canarana-erecta-
lisa proporcionando animais com 450 kg com 1,5 ano de idade.

14.3. Feno
14.3.1. Tecnologia da fenação
O feno é definido como a forragem que sofreu processo de desidratação até atingir o
teor de umidade que permite se manter estável nas condições ambientais. O teor de umidade
normalmente está na faixa de 12 a 20%.
O aquecimento do feno é sempre associado com a atividade microbiológica,
principalmente se a forragem for enfardada com umidade elevada (acima de 20%). Segundo
VAN SOEST (1994) quando os fardos são pequenos e o local é bem ventilado, o calor
produzido ajuda a eliminar o excesso de umidade, auxiliando na preservação da forragem.
No entanto, quando o calor é excessivo induz a reações não enzimáticas (Reações de
Maillard) com consequente perdas de carboidratos e proteínas digestíveis. Essas reações
normalmente provocam escurecimento da forragem e odor desagradável, reduzindo a sua
aceitabilidade. Fardos grandes (redondos ou retangulares) e com alta densidade são mais
susceptíveis aos danos pelo aquecimento.
O processo de fenação abrange quatro etapas principais: corte, secagem,
enfardamento e armazenamento.

1 - Corte
O corte deve ser realizado com equipamento apropriado, o que reduz as perdas à campo
e diminui o tempo de secagem. Quando a forrageira a ser fenada apresentar altos teores de
umidade (colmos grossos) deve-se utilizar segadora condicionadora. Isso aumentará
significativamente a velocidade de desidratação da planta, com melhora na qualidade do
feno, devido a redução nas perdas dos componentes digestíveis.
A operação do corte deve ser feita no período da manhã, logo após a secagem do
orvalho, proporcionando maior período de insolação já no primeiro dia de dessecação.
O momento do corte deve ser definido em função da espécie forrageira utilizada. Para
forrageiras que permitem vários cortes por ano (alfafa, coastcross, tifton, ...) o momento do

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corte pode ser em função da disponibilidade MS. Já para forrageiras anuais (azevém,
aveia,...), ou quando será realizado um único corte, esse deverá ser realizado no estádio de
pré-florescimento. O corte em estádios mais avançados poderá facilitar a desidratação, mas
produzirá feno de qualidade inferior.

2 - Secagem (cura, dessecação, desidratação).


A qualidade do feno produzido está diretamente relacionado com o tempo de secagem
da forragem. Quanto mais demorado for à secagem do material, maiores serão as perdas de
MS e do VN do feno. Quando a forrageira é cortada normalmente apresenta entre 75 à 85%
de água. A taxa de desidratação não é constante durante todo o período de secagem, havendo
etapas mais rápidas e outras onde a perda de água é mais lenta. Sendo o processo de secagem
dividido em três fases:
Fase 1 - Nessa fase há rápida desidratação da forragem logo após o corte, reduzindo a
umidade de 80 - 85% para valores ao redor de 65 - 60%. A principal perda de água é por
transpiração através dos estômatos, os quais permanecem abertos por cerca de uma hora
após o corte, eliminando com facilidade a água situada na superfície das células vegetais.
Fase 2 - Os estômatos se fecham logo que a folha perde ao redor de 15% do seu peso
inicial, o que representa perda de 20 à 30% de água da planta. Com o fechamento dos
estômatos a perda de água é dificultada, uma vez que o processo se fará por difusão celular
através da epiderme e cutícula. Essas camadas de materiais (cutina, ceras) que protegem as
plantas (radiação solar, frio, etc), evitando a perda de água e materiais solúveis, passam a ser
obstáculo para a desidratação do feno. A umidade é reduzida então de cerca de 60% para
teores ao redor de 30%. Nessa fase a operação de revolvimento do material pode auxiliar na
perda de água com desidratação mais rápida e uniforme.
Fase 3 - Quando a forragem atinge teor de umidade em torno de 30% ocorre à
plasmólise, com consequente morte das células. Nestas circunstâncias haverá enrugamento
das membranas, pela pressão negativa, seguindo-se o rompimento mecânico das mesmas. A
redução da umidade de 30% para 12 à 20% é rápida e fácil, pois com a morte das células a
desidratação ocorre única e exclusivamente em função das condições ambientais favoráveis.
Deve-se destacar que nessa fase a forragem pode permanecer enleirada, que a desidratação
ocorrerá, sem dificuldades.

Fatores da planta que afetam a secagem.


-Relação colmo/folha.
-Espessura e composição química da cutícula.
-Espessura do colmo.
-Número de estômatos nas folhas e caules.

Fatores climáticos que afetam a secagem.


- Umidade relativa do ar.
- Temperatura alta.
- Ventos.
- Umidade do solo.

3 - Enfardamento.
Ao atingir o teor de umidade ideal para armazenagem (12 a 20%), o feno deve ser
enfardado para facilitar o armazenamento, manuseio, e possível comercialização. O tamanho
e densidade dos fardos dependerão da enfardadeira utilizada (Ex.: móveis, estacionárias,
fardos redondos, fardo retangulares), dessa forma pode-se armazenar de 90 a 180 kg de
feno/m3 em fardos retangulares, ou de 90 a 300 kg/m3 em fardos redondos.

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É importante que antes do enleiramento e enfardamento seja observado
cuidadosamente a possível existência de qualquer material indesejável (pedras, madeira,
arame, plástico). Esses materiais podem contaminar o feno ou causar danos nos
equipamentos, ou mesmo para os animais que consumirão essa forragem.
Cuidadosa revisão do maquinário (ancinho enleirador, enfardadeira) a ser utilizado
nessa etapa é de fundamental importância. Esse procedimento evita transtornos e permite
operações com maior segurança.

4 - Armazenagem.
A armazenagem adequada é quase tão importante quanto às etapas precedentes na
confecção do feno. Se alguns cuidados não forem tomados poderá haver perdas significativas
de MS, e também de qualidade do feno, durante a estocagem.
O principal elemento é o teor de MS, relacionado à respiração dos microrganismos.
Com menos de 15% de umidade praticamente não ocorrem perdas pela respiração. As
maiores perdas normalmente são no primeiro mês de armazenagem. Consequentemente as
perdas são afetadas pelo tempo de estocagem.
Tanto para o feno armazenado a campo como em galpões deve-se tomar uma série de
cuidados, evitando-se assim perdas na qualidade do material e mesmo problemas sanitários
aos animais que vão consumi-lo.

Cuidados na armazenagem
No campo Em galpões
Escolher lugar alto e bem drenado. Não colocar em contato com fertilizantes
Fazer estrado de madeira Observar se existem goteiras
Não fazer pilhas muito altas Fazer pilhas amarradas e com circulação de ar
Cobrir com lona plástica e amarrar Não colocar junto com combustíveis

CARACTERÍSTICAS DE UM BOM FENO.


Um feno de boa qualidade deve apresentar as seguintes características:
a) Coloração verde;
b) Ter boa quantidade de folhas. Baixa relação caule:folha.
c) Apresentar caules finos e macios;
d) Ausência de mofos;
e) Livre de impurezas (ex.: plantas invasoras, arames, pedras, ...).

CARACTERÍSTICAS DE UMA BOA FORRAGEIRA PARA FENO.


Quando o produtor planeja estabelecer campo de feno, é indispensável observar
algumas características desejáveis que a forrageira deve apresentar.
- Apresentar VN adequado às exigências dos animais;
- Alta produção por unidade de área;
- Caules finos e macios com alta relação folha:caule;
- Apresentar boa capacidade de rebrota;
- Facilidade de corte (relacionado ao hábito de crescimento).

14.4. Silagem
14.4.1. Tecnologia de Ensilagem
Definição
Silo Þ Denominação dada à estrutura de armazenagem da silagem. Os silos podem ser
considerados como “câmaras” de fermentação e armazenagem da forragem.
Ensilagem Þ Processo que envolve as operações de confecção da silagem.

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Silagem Þ É o produto obtido pela fermentação anaeróbia da forragem.
A conservação de forragens como silagem envolve um complexo processo bioquímico
e microbiológico, da colheita até sua utilização na alimentação animal. A forragem ensilada é
conservada através de fermentações, passando por quatro fases principais.

1- Fase aeróbia: É o primeiro estágio, envolvendo a morte dos tecidos das plantas e
rápida exaustão do oxigênio, seguido pela proliferação de bactérias aeróbias.
Um dos fatores mais importantes na qualidade da silagem é a disponibilidade de
oxigênio, promovendo a respiração da planta, crescimento de fungos e, consequentemente,
grande liberação de calor aumentando os produtos da reação de Maillard. A respiração da
planta ajuda a criar ambiente anaeróbio no silo. No entanto, excessiva respiração é
indesejável porque reduz o conteúdo de energia da silagem com menor disponibilidade de
carboidratos solúveis para fermentação pelas bactérias ácido láticas, além de produzir calor
excessivo.

2 - Fase de colonização (lag-phase): Fase de curta duração (poucas horas) entre a fase
aeróbia e fase de fermentação ácida (fase anaeróbia). Nessa fase iniciam-se rápido
crescimento de microrganismos anaeróbios, principalmente bactérias ácido láticas, que
promoverão intensa produção de ácidos orgânicos, com consequente, queda no pH do meio.

3 - Fase de fermentação (fase anaeróbia): A fase de fermentação é a fase mais longa


no processo de ensilagem, continuando até que o pH da forragem seja suficientemente baixo
para inibir o crescimento potencial de todos os microrganismos. De acordo com VAN
SOEST (1994) o tempo de fermentação depende, principalmente, do teor de carboidratos
solúveis, da capacidade tampão e do teor de umidade da forragem, ficando normalmente
entre 10 e 14 dias.
Quanto mais rápida for à fermentação, com rápida acidificação da massa ensilada,
melhor será a qualidade da silagem em função da redução nas perdas de MS. Porém, se a
acidificação é lenta o resultado será silagem com alto teor de ácido acético (podendo também
ocorrer fermentação butírica) e alto teor de nitrogênio solúvel/N total. Esse tipo de silagem
normalmente não é bem aceita pelos animais, apresentando baixo consumo.
O ácido lático é o mais forte, sendo o mais efetivo para o rápido declínio do pH e
manutenção da estabilidade aeróbia da silagem durante o descarregamento do silo. Em
silagens onde houve boa fermentação o ácido lático, geralmente, compõem mais de 60% do
total de ácidos orgânicos, com concentração entre 6 e 8% na MS (McDONALD, 1981).

4 - Estabilidade aeróbia da silagem (Pós-fermentação): A estabilidade da silagem é


determinada pela fermentação aeróbia (pós-fermentação) que ocorre após a abertura do silo.
A pós-fermentação será mais intensa, quanto melhor for à qualidade da silagem, em função
dos maiores teores de carboidratos solúveis e de ácido lático residuais. Os principais
substratos utilizados são os ácidos, o etanol e os açúcares solúveis, resultando em aumento do
pH e redução na digestibilidade e no conteúdo de energia.
Silagens, que na abertura do silo, apresentam contagem de 106 UFC de leveduras/grama
de silagem podem em dois ou três dias atingir 109 UFC/grama, sendo consideradas de baixa
estabilidade (PITT et al., 1991).
Alguns microrganismos que se desenvolvem na massa ensilada após a abertura do silo
podem constituir risco para a saúde animal e mesmo para àqueles que manuseiam a silagem.
Um exemplo comum é a listeriose. A listeriose, causada pela bactéria Listeria
monocytagenes, está associada à ingestão de silagem que apresentou desenvolvimento de
fungos. A L. monocytagenes é capaz de causar meningite, encefalite, septicemia, endocardite,

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aborto, abscessos e lesões purulentas. Também com relação ao desenvolvimento de fungos,
deve-se tomar cuidado especial, pois uma série de esporos potencialmente patogênicos pode
causar doenças nos animais e nos tratadores. Cita-se como, por exemplo, a ocorrência de
aspergilose.

1 - Época de colheita.
A época de colheita da forrageira para produção de silagem deve obedecer aos
parâmetros de produtividade e qualidade acima de tudo. A qualidade da silagem está
diretamente relacionada com a composição química da forragem no momento da ensilagem.
Portanto, para cada espécie forrageira, o momento do corte não estará só em função do teor
de açúcares solúveis e da umidade, mas também da digestibilidade da matéria orgânica.

Algumas recomendações práticas para a ensilagem de gramíneas de clima tropical


Gramíneas Teor de matéria seca (MS%) Tamanho de partícula (cm)
Milho 35 05 – 1,0
Sorgo 30 – 35 05 – 1,0
Capim Elefante 60 – 70 após o corte de uniformização (20%) 2,0 – 3,0
Cana-de-açúcar 6 a 12 meses pós plantio 1,0

2 - Tamanho das partículas.


O tamanho em que a forragem é picada assume importância por permitir melhor
compactação da silagem, e também por facilitar o contato dos microrganismos com os
açúcares solúveis. Dessa forma, mais rápido é o abaixamento do pH, com melhor
conservação do valor nutritivo da forragem. A maior densidade da silagem facilita a
eliminação do oxigênio, prevenindo aquecimento excessivo e o crescimento de
microrganismos aeróbios. Alta densidade também diminui a porosidade da silagem,
dificultando a penetração de oxigênio em camadas mais profundas durante o
descarregamento do silo. Cabe salientar que silagem bem picada favorece o consumo com
benefícios no desempenho animal.

3 - Carregamento, Compactação e Vedação.


A cultura deve ser colhida e ensilada o mais rapidamente possível, sendo que o
enchimento do silo não deve exceder dois ou três dias. O carregamento demorado pode
resultar em respiração excessiva (fase aeróbia prolongada) com grandes perdas de MS.
Logo no início do carregamento do silo deve-se impor intensa compactação. Boa
compactação é fundamental para eliminar o ar e diminuir a porosidade da silagem, mas não
deve ser exagerada ao ponto de retardar o carregamento e vedação do silo. Deve-se procurar
sempre atingir compactação superior a 500 kg de silagem/m3. No entanto, compactação
exagerada pode aumentar as perdas de nutrientes solúveis quando da ensilagem de
forrageiras com alto teor de umidade (ex. azevém, alfafa).
Após o carregamento o silo deve ser bem vedado para evitar a deterioração superficial
da silagem pela penetração de oxigênio ou água das chuvas. O fechamento imediato do silo
após o enchimento, o O2 do meio desaparece em 5 ou 6 horas. No entanto, quando a vedação
é demorada, por exemplo, 48 horas após o enchimento do silo, serão necessárias ao redor de
72 horas para que o O2 seja eliminado.
A lona utilizada no ano anterior pode ser reutilizada para revestir as paredes do silo.
Além de proteger as paredes do silo contra os ácidos da silagem ela facilita a vedação
hermética do silo. O CO2 produzido pela fermentação da forragem deve permanecer no
interior do silo, auxiliando as condições de anaerobiose. Deve-se evitar o acesso de animais

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que possam danificar a lona e provocar perdas acentuadas por penetração de ar e água na
silagem.
A cobertura da lona pode ser feita com terra. No entanto, apesar da sua eficiência em
relação ao peso, a evitar danos pela presença de roedores e de outros animais, no momento da
retirada da silagem para fornecimento aos animais normalmente ocorrem contaminações.
Esse aspecto é acentuado principalmente em dias de chuva. O uso de sacos de areia ou terra é
bastante eficiente, da mesma forma que a utilização de pneus. Uma ótima opção para
cobertura da lona plástica é o uso de bagaço de cana, apresentando excelente proteção,
facilidade de remoção e sem problemas de contaminação da silagem durante o
descarregamento do silo.

4 - ADITIVOS NA SILAGEM.
Quando a forrageira não apresenta condições ideais para ser ensilada (baixo teor de MS
e/ou baixo carboidratos solúveis) pode-se fazer uso de aditivos que favoreçam o processo
fermentativo. Os aditivos têm dois principais propósitos na silagem: influenciar o processo
fermentativo favorecendo a conservação, e melhorar o valor nutritivo.

IX.1 - Classificação dos aditivos segundo Van Soest (1994).


1. Estimulantes da fermentação.
1.1.Inoculantes => bactérias ácido láticas (Lactobacillus, Pediococcus, Streptococcus).
1.2.Fontes de substrato.
1.2.1.Enzimas (celulases, amilases, hemicelulaes e pectinases).
1.2.2.Açúcares (melaço, sacarose).

2. Inibidores da fermentação.
2.1.Aeróbios (ácido propiônico, sulfatos, ácido acético, amônia).
2.2.Anaeróbio.
2.2.1.Ácidos (ác. fórmico, ác. lático, ác. minerais)
2.2.2.Outros (formaldeído, dióxido de enxofre, metasulfito de sódio).

14.5. Confinamento
O custo limita a utilização do confinamento, geralmente este é empregado quando o
produtor aproveita subprodutos disponíveis e de baixo preço existente na área.

Existem 2 tipos de confinamento


1o) Sistema de alimentação em estabulação livre: os búfalos recebem alimentos em
cocho e permanecem livres em pequena área cercada. É empregado para machos e fêmeas.

2o) Sistema de alimentação em estabulação fixa: os animais recebem alimento no


cocho e ficam contidos em baias individuais, presos por correntes ou outro meio. Para o
clima tropical, o mais recomendado para búfalas em lactação em confinamento é a
estabulação livre, a qual apresenta menor incidência de doenças e possibilita melhor conforto
aos animais. A estabulação livre pode ser usada para uma criação com todas as categorias
animais necessárias, apropriadamente separadas, para produção de carne e/ou leite.

Sistema de alimentação de machos bubalinos de sobreano em estabulação livre


Para esse sistema podem ser usados machos bubalinos, não castrados, de idade
variando de 1-1,5 ano, proveniente de pastagem, com peso ao redor de 250 kg. Os animais
devem ser vermifugados e vacinados. Em regiões chuvosas a área deverá ser de 50-100
m²/UA. O cocho deve ser coberto. Recomenda-se acesso dos animais a água; Os alimentos

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utilizados podem ser capim elefante triturado, feno, raspa de mandioca, farelo de algodão,
farelo de soja, farelo de trigo e grãos triturados de milho. O consumo de MS é na base de
2,5% do PV.

15 – Reprodução
15.1. Capacidade reprodutiva
A espécie bubalina manifesta uma marcada estacionalidade reprodutiva caracterizada
pelo aumento da fertilidade nos períodos em que diminuem as horas de luz do dia (no outono
e inverno no Centro Sul do Brasil), caracterizando-se, pois como poliéstrica estacional de dia
curto. Ao que parece, a natureza selecionou, em áreas tropicais ao norte do equador, as
búfalas que pariam em época favorável para a criação do bezerro e retorno da atividade
reprodutiva. Desta forma, na região norte do Brasil não ocorre estacionalidade reprodutiva,
por apresentar-se próxima a linha do equador, proporcionando quantidade de luz satisfatória
a manifestação de estro o ano todo.
As búfalas costumam apresentar menor período de lactação (cerca de um mês), maior
duração da gestação (em torno de 310 meses) e maior tempo de repouso entre as lactações
(período seco de cerca de 95 dias) que as bovinas, o permite à búfala acumular maior
quantidade de reservas corporais para utilizar na lactação seguinte. Os búfalos manifestam
estacionalidade mesmo quando estão em locais com disponibilidade de alimento durante todo
o ano sendo que o sinal endócrino que sinaliza para os búfalos a época do ano é a
concentração sanguínea do hormônio denominado melatonina. (Zicarelli, 1997).

Algumas diferenças anatômicas, fisiológicas e endócrinas entre a vaca e a búfala

Vaca (Bos taurus) Búfala (Bubalus)

a) Idade á puberdade
Apesar da importância sócio-econômica que o búfalo representa para vários países em
desenvolvimento, a literatura referente a idade à puberdade é bastante contraditória. Existem
na literatura internacional, várias citações que relatam ser a fêmea bubalina, no que se refere
ao estabelecimento da puberdade, bem mais tardia quando comparada as diferentes raças de
Bos taurus.
A puberdade na fêmea pode ser definida como o período em que se estabelece a
primeira ovulação, com a formação de um corpo lúteo de vida normal. Existe grande
variação com relação ao momento em que a fêmea bubalina atinge a puberdade, devendo-se
levar em consideração não somente os aspectos ligados ao manejo e alimentação, mas
também o fato de existirem variações entre búfalos do tipo leiteiro e do Carabao, sendo este
último mais tardio, mesmo quando comparado ao tipo leiteiro.

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Idade à puberdade (meses) de fêmeas bubalinas em diferentes países

b) Ciclo estral
A duração do ciclo estral na búfala varia entre 16 a 33 dias, com maior concentração
entre 21 a 24 dias. Esta amplitude e devido a vários fatores, tais como o clima, manejo,
alimentação e genética. Animais submetidos a manejo inadequado e com alimentação
deficiente em energia, proteína e minerais, têm tendência a apresentarem cios curtos ou
longos, da mesma maneira quando submetidos a estresse térmico. Nas regiões tropicais
próximas ao Equador o búfalo é um animal poliestral contínuo, ciclando durante todo o ano.
Entretanto, à medida que se afasta do Equador, no sentido norte ou sul, o búfalo torna-se um
animal poliestral sazonal de dias curtos Zicarelli e Vale, 2002). Na Índia, a expressividade do
cio é mais intensa e os sinais clínicos são mais evidentes durante o outono e inverno (estação
fria), quando comparado a primavera e o verão (estação quente).
Da mesma forma como se apresenta em bovinos, o ciclo estral da búfala apresenta
quatro fases – pró-estro, estro, metaestro e diestro. Entanto, a expressividade dos sinais
clínicos, dentro das diferentes fases, difere em alguns aspectos daqueles expressos pela vaca
taurina e zebuína.
A melhor forma de detecção do cio na búfala é a utilização de rufiões com buçal
marcador, além da frequente observação visual. Um dos sinais de estros mais seguros é a
aceitação de monta pelo rufião. Nas regiões tropicais úmidas ou mesmo em outras regiões de
clima mais ameno, durante o verão, sob temperaturas elevadas, a fêmea bubalina têm
tendência em apresentar sinais de estro à noite, quando a temperatura está mais amena.

Apresentação do estro em búfalas, de acordo com o momento do dia

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Características do estro de fêmeas bubalinas pluríparas, identificados por rufião

c) Período de Gestação
Trabalhos demonstram que as vacas Murrah e Mediterrâneo apresentam período de
gestação de 311 a 312 dias respectivamente. A raça Jafarabadi 315 e a raça Carabao 326.5
dias.

d) Idade a Primeira Cria


Verificou-se que não há diferença apreciável entre as médias de IPC apresentadas
para fêmeas Murrah, Mediterrâneo e Jafarabadi, que foram respectivamente 38,82 38,41 e
37,40 meses. Entretanto, a Carabao apresentou 44,58 meses, revelando-se mais tardia que as
raças de búfalo de rio.

e) Intervalo de Partos
As médias de valores exibidos por diferentes fontes para as raças Mediterrâneo,
Jafarabadi, Murrah e Carabao foram, respectivamente, 418,6, 420,2 e 526,9 dias o que
evidencia que a raça Carabao apresenta maior IP.

f) Distribuição das Parições


Ocorre maior concentração de partos em determinada época do ano, segundo locais e
condições de manejo e alimentação, com redução das atividades sexuais geralmente, nos
meses mais secos e de temperatura mais elevada. Esse quadro pode mudar desde que exista
fatores compensatórios de manejo. Como por exemplo o fato de existir nos meses de
estiagem e maiores temperaturas, áreas inundáveis, onde nessa época ocorre abundância de
forragem nas pastagens nativas, com suprimento de água suficiente para ingestão e banho.
Por exemplo, Nascimento & Moura Carvalho (1978) verificaram que 89,3% das parições
ocorreram de abril a maio.

15.2. Período de serviço


O período de serviço corresponde ao intervalo entre a parição e o primeiro cio fértil.
Para que a búfala venha a parir todo ano, o período de serviço terá que ser, no máximo, de 60
dias. A gestação média das búfalas é em torno de 305 dias. A maneira com que manejamos
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as amas de leite traz inúmeras vantagens para o produtor. Além de aumentar a produção de
leite de cada búfala, diminui seu período de serviço. A apartação precoce da búfala e a
presença de um reprodutor durante o período de serviço aceleram e estimulam o
aparecimento de um cio fértil. Consequentemente, haverá menor intervalo entre partos, uma
maior prole e maior produção de leite durante sua vida útil.

15.3. Manejo reprodutivo


15.3.1. Seleção do macho
O reprodutor a ser utilizado deve apresentar as seguintes características:
1. Elevado potencial para produção de leite, detectado através de testes de progênie;
2. Peso compatível com a idade e raça
3. Inexistência de defeitos zootécnicos
Para garantir uma cobertura eficiente do macho recomenda-se:
• Sistema intensivo: 1 macho: 25 fêmeas
• Sistema Extensivo: 1 macho: até 40 fêmeas
Os machos sem as características exigidas para um reprodutor devem ser castrados
entre 12 e 18 meses. Ou transferidos para pasto de engorda. Nos rebanhos comerciais o
macho deve ser castrado nos primeiros dias.

15.3.2. Seleção das fêmeas


Recomenda-se que sejam descartadas as fêmeas que ao final da 2a lactação
apresentam produção leiteira inferior à média do rebanho, fêmeas que não parirem por 2 anos
consecutivos, que possuírem mais de 12 anos de idade, forem má criadeiras, apresentarem
defeitos físicos e Brucelose e tuberculose. Os critérios para seleção da fêmea são:
• Produção de leite da mãe;
• Peso corporal; e
• Ausência de defeitos zootécnicos
A seleção dos animais é um processo difícil em razão de depender de uma série de
causas. Entre essas podemos citar:
• A intensidade com que descartamos ou retemos os animais;
• O número de filhos (as) a considerar por reprodutor;
• A distribuição dos dados;
• O número de animais dos rebanhos;
• O número de observações repetidas no mesmo indivíduo;
• O número de características a considerar no processo de seleção;
• A duração do intervalo de geração dos animais;
• A correlação entre as características;
• A herdabilidade da variável estudada;
• O método de seleção a ser empregado;
• A precisão da coleta dos dados;
• A demora da obtenção de resultados, etc.
No processo de seleção podemos utilizar quatro caminhos para atingir a um objetivo:
1 – Escolha dos pais dos touros;
2 – Escolha dos pais das vacas do rebanho;
3 – Escolha das mães dos touros e;
4 – Escolha das mães das vacas do rebanho.
Considerando esses caminhos teríamos como resultado o diferencial de seleção
equivalente a 43% para o primeiro, 18% para o segundo; 33% para terceiro e apenas 6% para
o último caminho.

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Tem-se observado o diferencial de até 76% quando escolhemos os caminhos dos pais
e mães de touros, contra apenas o diferencial de até 24% quando escolhemos os pais e mães
das vacas a permanecerem no rebanho. Dados de produção de leite através da seleção direta
nos bubalinos têm revelado que a escolha das mães dos touros proporcionam uma
superioridade de suas filhas em relação à média do rebanho sete vezes maior (88,13%) do
que quando selecionamos as mães das vacas (11,87%), independente de touros utilizados.
Quando usamos diferentes métodos de seleção (teste de progênie, pedigree e seleção
individual), o ganho genético total em kg de leite e o intervalo de geração em anos foram
maiores para as populações de maior tamanho.
Verifica-se que no quadro abaixo o teste de progênie é 13,85 vezes mais eficiente do
que os métodos de seleção pelo pedigree e individual para um rebanho de tamanho médio (N
= 1.600 animais).

Ganho genético total (DG) em kg e intervalo de geração (IG) em anos para diferentes
métodos de seleção e tamanho de rebanho.
Tamanho da População Método de Seleção
Teste de Progênie Pedigree Seleção Individual
DG1 IG2 DG IG DG IG
Pequena (N = 400) 295,0 7,16 17,8 5,51 20,8 5,51
Média (N = 1.600) 418,4 7,99 20,8 5,51 20,8 5,51
Grande (N = 10.000) 513,8 7,99 25,0 5,51 20,8 5,51
Fonte: BASU & SINGH (1988).

Quanto ao uso de novas tecnologias de reprodução (Inseminação Artificial – I.A;


transferência de Embriões – TE e Transferência de Embriões Sexados – TES) num programa
de seleção de Teste de progênie – TP, em rebanhos de 1.000 búfalos, com média de 1.800 kg
de leite; herdabilidade igual a 0,2, independente dos caminhos, da intensidade de seleção e da
proporção selecionada os ganhos genéticos esperados por ano em quilogramas de leite são
de: 1,0%; 1,51%; 2,06% e 3,10% respectivamente para o processo de cobertura natural, IA,
TE e TES.
Observa-se que a inseminação artificial, pela sua praticabilidade, higiene e facilidade
de obter muitas filhas por reprodutor, ainda é a melhor e mais econômica das práticas. A Milk
Marketing Board (1982) constatou um mérito genético em kg de leite 2,26 vezes maior
quando se usa a IA comparada à cobertura natural em vacas holandesas nos Estados Unidos.

15.3.3. Relação Touro/vaca


Recomenda-se 1 macho/ 20-30 fêmeas em sistema extensivo, 1 macho/ 30-40 fêmeas
em sistema intensivo e 1 macho/ 40-60 fêmeas em estabulação livre
Os machos estão aptos a procriação dos 2 aos 20 anos aproximadamente, entretanto,
para efeito de cálculo, utiliza-se dos 3 aos 12 anos ( a partir de 450 kg de PV)
As fêmeas devem pesar no mínimo 350 kg ou 65% do peso pós parto das vacas.
Tanto para machos como para fêmeas deve-se observar a sanidade, características
reprodutivas bem exteriorizadas, capacidade de melhoramento

15.3.4. Métodos de reprodução


a. Cobertura a campo: o reprodutor permanece durante todo ano com as fêmeas de
procriação no pasto.

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b. Cobertura em estabulação livre: manutenção do reprodutor e das fêmeas confinadas
em estabulação livre durante todo ano.
c. Monta controlada: as fêmeas são cobertas no momento em que o cio é identificado
pelo rufião.

15.4. Inseminação Artificial


Atualmente é possível e economicamente viável a implantação de um programa de
inseminação artificial (IA) em um rebanho de búfalos. Encontram-se disponíveis no mercado
sêmen de búfalos brasileiros e de outros países (Mediterrâneo – Itália) originários de animais
de elevada produtividade.
Um fator limitante para a inseminação artificial nas búfalas é a detecção do cio, cuja
manifestação na espécie é menos pronunciada que nas bovinas e, falhas na detecção do
momento correto de inseminação a búfala resultam em redução na fertilidade do rebanho.
Uma das técnicas para auxiliar a detecção do cio é a utilização de rufiões (machos
vasectomizados ou fêmeas com tratamento hormonal) com buçal marcador que ao cobrir as
fêmeas em cio, nelas deixa uma marca de tinta. Possui o inconveniente da necessidade de
manutenção de um animal adulto “não produtivo” no rebanho, com o custo daí decorrente,
bem como na necessidade de sua substituição periódica a fim de evitar brigas, comum em
machos mais velhos, mesmo vasectomizados ou ainda nas fêmeas androgenizadas.
A utilização da inseminação artificial, segundo Baruselli (1993) permite o maior
aproveitamento de reprodutores de maior potencial genético; facilita a seleção e permite
evitar a consanguinidade do rebanho pela utilização de várias linhagens de reprodutores ao
mesmo tempo; permite a redução do número de reprodutores, facilitando o manejo e evitando
brigas, reduzindo ainda os custos de aquisição e manutenção dos mesmos; possibilita a
utilização de reprodutores de elevado valor zootécnico a um custo mais acessível. Por outro
lado, sua utilização requer utilização de pessoal treinado; favorece a disseminação de
características indesejáveis caso se utilize sêmen de reprodutor não convenientemente
testado; pode propagar algumas doenças, lesões e infecções no aparelho reprodutor quando
não se aplica corretamente o método e necessita manter o rebanho sob manejo nutricional e
sanitário
adequados para sua eficiência.
Atualmente já existe um protocolo de sincronização que permite a inseminação
artificial a tempo fixo fora da estação de monta.

15.5. Transferência de embriões


A utilização da técnica de transferência de embriões (TE) poderia contribuir para
acelerar o processo de melhoramento genético da espécie. Até o presente momento, porém, a
despeito de já se terem experimentalmente obtidos produtos de TE em bubalinos, tanto por
fertilização in vivo quanto in vitro, o conhecimento disponível não permite sua utilização em
escala comercial.

16 – Manejo sanitário
Deve-se ter em mente que os búfalos, apesar de sua marcante rusticidade, não deixam
de exigir cuidados sanitários adequados para que possam produzir tudo aquilo que são
capazes.
Para isso, é necessário a adoção de práticas higiênico-sanitárias adequadas e
perfeitamente interagidas com um conjunto de outros fatores, de igual importância, tais como
alimentação, manejo e melhoramento genético dos animais.

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O manejo sanitário é fundamental para os resultados econômicos quando tratamos de
qualquer atividade relacionada com animais. Pois, toda a atividade depende do estado de
higidezde cada um dos animais que compõe o rebanho.
Podemos subdividir os procedimentos relacionados a sanidade dos animais basicamente em
dois: os de caráter preventivos e os de caráter curativos.

Procedimentos Sanitários Preventivos


São os relacionados a aplicação de medidas profiláticas, ousejam, que evitam o
aparecimento ou introdução de enfermidades. Nestes estão incluídas as vacinações e
desverminaçõessistemáticas, medidas de higiene e assepsia, práticas de quarentenário e
isolamentos, proteções dos animais contra possíveis vetores de doenças (combate sistemático
a insetos e roedores), testes sorológicos de diagnóstico (brucelose, leptospirose, etc.), teste de
sensibilidade (tuberculinização),teste de mastite, etc.

Procedimentos Sanitários Curativos


Estão relacionados às medidas a serem tomadas imediatamente à constatação de
problemas, tais como: traumatismos, afecções, infestações, deficiências nutricionais e
intoxicações.
Esquema Sanitário
Devemos estabelecer, a nível de rebanho, um calendário ou cronograma de práticas
sanitárias, de conformidade às categorias animais e suas necessidades. Procurando adequar às
regiões,segundo a possibilidade de incidência das doenças.

SINTOMAS DE ENFERMIDADES (desnutrição e verminoses)


ü Pêlo áspero, sem brilho e cor mais clara (semelhante ao do macaco);
ü Ventre flácido (“Bezerro Barrigudo”);
ü Olhar triste sem vitalidade;
ü Indisposição para mamar;
ü Corrimento nasal;
ü Secreção no globo ocular;
ü Fezes ralas e fétidas;
ü Respiração ofegante;
ü Andar lento;
ü Inanição (por falta de comida).
a) Pasteurelose - Agente: bactéria do gênero Pasteurella. Doença infecto-contagiosa aguda.
Sintomas: Anorexia; Prostação. Perda da ruminação e lactação. Apresenta-se sob forma
cutânea com ademas intermaxilares e no pescoço, forma torácica de fenômenos pneumônicos
e forma intestinal onde há diarréia sanguinolenta e tenesmo (dor do ânus).

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b) Endo e Ectoparasitoses - Os bubalinos raramente são acometidos por enfermidades
graves. Apenas os bezerros costumam ter verminoses, o que é, no entanto, facilmente
controlado com aplicações periódicas de vermífugos.
Endoparasitas
A idade dos animais é um fator condicionante nas infecções helmínticas. O período
crítico da verminose nos búfalos começa no primeiro mês de vida, podendo prolongar-se até
aos dois anos de idade, quando os animais tomam-se naturalmente resistentes.
Espécie Localização no animal
Neoascaús vitulonrm Intestino delgado
Strongyloides papillosus Intestino delgado
Paracoopeíia nodulosa Intestino delgado
Cooperia sp Intestino delgado
Trichostrongylus sp Intestino delgado
Bunostomum phlebotomum Intestino delgado
Oesophagostomum radiatum Intestino grosso
Skabinagia boevi Abomaso
Haemonchus sp Abomaso

O principal helminto (verme) que parasita os bubalinos jovens é o Neoascaris


vitulorum. É responsável por cerca de 40% das mortes de bezerros jovens. As larvas
parasitárias desse verme podem atingir o feto, na fase pré-natal, por infestação
transplacentária. Essas larvas também podem ser transmitidas, para o bezerro recém-nascido,
por via transmamária, através do colostro
Vermifugação: Bezerros: 15 dias, 30 dias, 60 dias e desmama. Após desmama: início e final
do período chuvoso, terço final do período chuvoso (até 2 anos).
c) Ectoparasitas - Piolhos: Haematopinus tuberculatus. Embora se tenha conhecimento de
que o búfalo, no Brasil, é bastante acometido por infestações de piolhos, não existem estudos
pormenorizados sobre esta ectoparasitose. Esta pediculose, em búfalos, tem sido observada
em muitos países como sendo provocada por uma única espécie de piolhos Haematopinus
tuberculatus, um sugador de tamanho considerável (3,5 mm), sendo visível a olho nu e
facilmente diagnosticado. Seus ovos são de cor clara, com mais ou menos 1,2 mm de
tamanho, sempre em elevada quantidade, imóveis e agregados nos esparsos pêlos do corpo
dos bubalinos. Mais comum nos animais jovens devido a abundância de pelos.
Sintomas: Perda de sangue. Irritação. Emagrecimento. Pode causar a tripanossomose e
piroplasmose.
O ciclo biológico do piolho ocorre totalmente no búfalo, envolvendo de 2-3 dias para
ovoposição, 9-10 dias para eclosão das lêndeas (ovos) e aparecimento das ninfas, 10-12 dias
para o desenvolvimento das ninfas.
Sempre que houver infestação todo o rebanho deve ser submetido a 2 pulverizações
com inseticida, intercaladas de 18 dias. O tratamento para piolhos é caro, existe a alternativa
de se usar raiz de timbó-urucu (Derris urucu) a 1% em água (ex. 180g de raízes para 18 litros
de água).
d) Sarna - Mais comum em búfalos estabulados formam crostas que podem se estender
desde a cabeça até o dorso do animal. Irritação provocada pela coceira. Ocorre a redução do
ganho de peso ou perda de peso e a diminuição da produção de leite. O tratamento pode ser
realizado com uso de óleo queimado.
e) Mastite - A mastite é a inflamação da glândula mamária, em geral provocada pela
presença de microrganismos, traduzindo-se em alterações na composição do leite e com
taxas elevadas de células somáticas (leucócitos + células epiteliais). Após a última metade
desse século, vários foram os paísesque passaram a dedicar maior atenção a criação de

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bubalinos,utilizando com eles as mesmas técnicas empregadas aos bovinos,em decorrência
dos excelentes resultados obtidos, principalmente, na produção de leite, pela India e
Paquistão. Nestes países,especial atenção tem sido dispensada a mastite.

Controle da mastite
• Higienizaçáo das instalações e equipamentos;
•Teste da caneca de fundo negro ou telada, diariamente, para detectar mastites clínicas
agudas;
• Ordenhar primeiro os animais sadios;
• Lavar as tetas e enxugar com papel toalha ou pano limpo e desinfetado;
• Antes da ordenha, as tetas podem ser desinfetadas (pré-dipping);
• Após a ordenha, imergir as tetas numa solução desinfetante (pós-dipping);
• Realizar mensalmente o teste do Califomia Mastitis Test (CMT) - monitorar prevalência de
mastites subclínicas;
• Tratar os animais infectados com anti-mastíticos contendo antibiótico (tratamento
intramamário),1 vez ao dia, durante 3 dias consecutivos.

Como evitar a mastite


Durante a lactação das búfalas, não se deve fazer uso de medicamentos contra a
mastite. Além de ser anti-econômico, dificilmente se terá êxito na cura desses animais.
Búfalas que apresentam mastite na lactação são conduzidas ao lote de amas de leite.
Muitas, quando a mastite é mínima, conseguem em poucas semanas debelar essa doença e
voltam para o lote das búfalas em ordenha. Havendo persistência da infecção, permanecerão
no lote de amas de leite e só serão tratadas quando encerradas suas lactações.
Após a secagem das búfalas, deve-se fazer o tratamento contra a mastite antes delas
irem para o campo. Este consiste em esgotar totalmente seus úberes, independente de estarem
ou não contaminadas. Deve-se colocar nos 4 tetos um antibiótico apropriado de ação
prolongada. Com essa providência, não haverá mais necessidade de ordenhá-las, a não ser
quando o úbere ficar vermelho, com sintomas de edema (inchaço). Nesse caso, aconselha-se
secar totalmente a glândula mamária afetada e fazer novamente o tratamento.
A mastite ataca todos os rebanhos de leite, bovinos e bubalinos, com maior ou menor
intensidade. Até países avançados tecnologicamente, como os Estados Unidos, sofrem com
essa doença no gado de leite, ocasionando grandes perdas econômicas.
Devido à rusticidade das búfalas e de seus esfíncteres dos tetos mais rígidos, elas são
menos susceptíveis à mastite, entretanto, são mais difíceis de curar durante a lactação que as
bovinas.
A homeopatia tem produzido excelentes resultados no combate à mastite.
Como a descorna das búfalas adultas causa estresse, e este diminui a síntese do leite,
deve-se fazer a descorna na mesma época da secagem do leite, caso seja do interesse do
produtor.
Existem diversas maneiras de uma búfala contrair a mastite, a de maior incidência é o
fato das búfalas se deitarem após a ordenha.

f) Higiene das instalações - Após a retirada do esterco às instalações devem ser lavadas. É
recomendável permitir as vacas e ao bezerro o banho durante 10-15 minutos antes da
ordenha. Os baldes, latões e outros utensílios utilizados na ordenha devem ser lavados e
desinfetados.

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17 – Desempenho em produção de leite
Os bubalinos são animais rústicos, aproveitam melhor a forragem de inferior
qualidade e resiste as mais adversas condições climáticas, com marcante resistência a
doenças. Em relação ao gado bovino europeu especializado em leite, os búfalos podem
superar sua produtividade quando estes estiverem fora de seu “habitat”, como por exemplo
num clima quente e chuvoso. Em alguns países a menor produtividade leiteira das búfalas é
compensada pelo preço superior pago por litro de leite, como na Itália para se fazer à
mozarela e na Bulgária onde produz iogurte. Há na realidade enormes possibilidades de
melhoramento para a produção leiteira, uma vez que atualmente são obtidas produtividades
muito superiores as décadas passadas.
É na qualidade que reside a maior vantagem do produto. É mais concentrado que o
leite bovino, apresentado menos água e mais matéria seca. Possui maiores teores de proteína,
gordura e minerais, permitindo que seja adicionado até cerca de 30% de água no leite
bubalino e ainda obter produto semelhante ao bovino integral, em valor nutritivo.
O leite de bubalino mostra-se branco, enquanto que o bovino exibe coloração
amarelada. Essa diferença decorre do elevado conteúdo de caroteno (pró-vit A) no leite
bovino. Entretanto o leite bubalino apresenta maiores quantidades de vit A que o bovino.
Em relação ao pH (grau de acidez) pode-se dizer que os valores de acidez do leite dos
bubalinos e bovinos são muito semelhantes (entre 6,6 e 6,7). A densidade do leite (usada para
verificação de possível adulteração) também não apresenta diferença significativa entre
bubalinos e bovinos.
O leite bubalino apresenta teor de gordura do leite médio de 7-8%, diferente do leite
bovino que possue em média 3%. Devido a esta maior concentração de gordura o rendimento
do leite de búfala é maior. Com 8 litros de leite de búfala se faz 1 kg de queijo. São
necessários 12 litros de leite de vaca para mesma finalidade. Para 1 kg de manteiga são
necessários 14 litros de leite de búfala e 20 de vaca.
É possível a produção de leite a menor custo por litro, uma vez que aproveita melhor
as forragens de inferior qualidade. Em sistemas de pastejo pode conseguir excelente
produção de 7 litros por animal por dia durante 270 dias em pastagem cultivada ou 5 litros
por animal por dia durante 250 dias em pastagem nativa.
Recomenda-se que:
• Fêmeas que produzem 7 litros de leite ou mais devem receber 1 kg de ração para cada
3 litros de leite produzido
• Bezerros de fêmeas ordenhadas duas vezes ao dia devem receber 1 kg de ração para
cada 100 kg de peso vivo, além de pastejar gramíneas de boa qualidade.

17.1. Cuidados na hora da ordenha


17.1.1. Ambiente na sala de ordenha
Há muitos anos fala-se em Granjas Leiteiras modernas que adotavam música clássica
para acalmar as vacas de leite. Não basta que seja música clássica. É importante que na hora
da ordenha o ambiente seja calmo, ou com um som harmonioso e constante. Não deve haver
movimento de gente circulando na sala de ordenha. Um simples grito, um latido de cachorro,
uma visita de um amigo querendo ver de perto a ordenha, poderá inibir a descida do leite das
búfalas. Atitudes como essas, podem acarretar uma redução significativa na produção do
leite.
Na fazenda Castanha Grande as búfalas são chamadas de “meninas”. A intenção é
induzir na mente dos ordenhadores que as búfalas são sensíveis aos maus tratos e que
respondem muito bem ao carinho. Dando continuidade a essa linha de procedimentos, são
colocados cartazes na sala de ordenha com as seguintes frases: “SILÊNCIO, SILÊNCIO,

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SILÊNCIO!”; “BÚFALAS GOSTAM DE CARINHO!”, “FALEM COM AS BÚFALAS!”.
De tanto verem esses cartazes, os ordenhadores terminam aceitando-os.
É costume se ouvir a frase óbvia: - “Leite entra pela boca”. “Leite entra não só pela
boca, mais, pelos ouvidos, olhos, nariz e tato”. A harmonia desses sentidos, na sala de
ordenha, induz ao relaxamento na búfala e faz com que ela produza mais leite. Se possível,
de acordo com as condições físicas da sala de ordenha, deve-se fazer afago diariamente nas
costas das búfalas após ter colocado as teteiras. Esse procedimento é uma boa prática para a
descida do leite. De início, algumas búfalas poderão até resistir, entretanto em pouco tempo
já estarão levantando a cauda num sinal de satisfação. Vale salientar que toda regra tem
exceção. Búfalas que tiveram uma infância maltratada pelos vaqueiros dificilmente aceitarão
esse tratamento.
Não é fácil modificar a cultura rude dos vaqueiros, herdada de pai para filho. Eles não
têm culpa! Convencê-los de que as búfalas não são animais brutos e sem sentimentos, e que
se deve acariciar em vez de bater, falar em vez de gritar, tudo isso é tarefa muito difícil que
demanda paciência e tempo.
Foi instalado na entrada da ante-sala de ordenha da fazenda, um banho para as
búfalas. Ao passarem por um corredor com lâminas d’água sob pressão, as búfalas além de se
refrescarem, se limpam das sujidades e se livram das moscas de chifre. Estas normalmente as
acompanham, incomodam e causam diminuição no consumo de alimentos e consequente
redução da produção de leite. Entre o banho e o início da ordenha, deve-se deixar um tempo
suficiente para que as búfalas fiquem enxutas através da evaporação. Para que isso aconteça,
se faz necessário uma ante-sala de ordenha.
Sabendo-se da satisfação com que as búfalas se sentem na presença da água, foi
instalado um chuveirinho individual que, na hora da ordenha, faz fluir suavemente a água
pelas cabeças das búfalas, proporcionando-lhes bem-estar. Esta água suave na cabeça da
búfala resfria o hipotálamo, dando sensação de frescor ao resto do corpo. O hipotálamo é a
região do cérebro que tem, entre outras, a função da termo-regulação do organismo, o que
explica o acontecido. Completamente relaxadas, mediante tanto conforto e bem-estar, as
búfalas fecham os olhos, soltam as orelhas e ficam ruminando. Nesse estado, as búfalas
liberam todo o seu leite, o que contribui para o aumento da produção.
A percepção da ambiência (no caso, influência do ambiente sobre a produção do
leite), associada ao conforto do animal, ainda está muito incipiente na maioria dos
produtores. Quando o produtor compreender que investir no bem-estar dos animais traz
lucro, novos horizontes irão surgir e ele correrá atrás do tempo perdido.

17.2. Quando se deve colocar o conjunto de teteiras?


O ideal é que o conjunto de teteiras seja colocado na hora do apojo, e que permaneça
apenas enquanto houver o fluxo de leite. É comum ver-se o conjunto de teteiras sugando os
úberes das búfalas vários minutos após a secagem do leite. Esse procedimento errado poderá
acarretar mastite nas búfalas.

17.2.1. Que tipo de conjunto de teteiras deve-se usar em búfalas


Pelo fato dos esfíncteres dos tetos das búfalas serem mais rígidos, as teteiras mais
pesadas são as mais apropriadas para a ordenha. Por esse motivo, nas mesmas condições de
higiene, o rebanho bubalino contrairá bem menos mastite do que o rebanho bovino.

17.2.2. Quanto de vácuo deve-se usar para ordenhar búfalas


Para vacas bovinas usa-se normalmente 50 Kpa, que é metade da pressão atmosférica
ao nível do mar. Entretanto para búfalas, devido a maior rigidez dos esfíncteres dos tetos,
usa-se 15% a mais, ou seja, 57,5Kpa.

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17.2.3. E quanto ao tempo de apojo
Em vacas bovinas, o tempo de apojo se dá entre 6 a 7 minutos. Em búfalas, existe
uma pequena variação em torno de 30%, dependendo da búfala. O estímulo para o apojo
poderá ser provocado pelo bezerro, pela lavagem dos tetos ou mesmo com o barulho
contínuo da ordenhadeira. A hipófise recebe a mensagem através do sistema nervoso, com
isso libera na corrente sanguínea ocitocina, essencial para a liberação do leite da glândula
mamária.
Entende-se por tempo de apojo o tempo em que o hormônio ocitocina atua na
glândula mamária, liberando dos alvéolos o leite armazenado. Esse mecanismo faz com que
esse leite seja conduzido, através dos ductos, para a cisterna mamária e daí para os tetos,
onde poderá ser extraído. Essa ação, chamada de apojo, é visivelmente percebida pelo
aumento do úbere e tetos.
Pesquisas realizadas com vacas bovinas relatam que, caso o ordenhador não inicie a
ordenha no começo do apojo, a ocitocina irá cessar a sua função antes de ter expulsado todo
o leite dos úberes. Os trabalhos relatam também que o leite residual que porventura venha a
ficar nos úberes dessas vacas, poderá causar mastite.

17.2.4. Como verificar a eficiência da ordenha


Normalmente o produtor ou o encarregado do curral não tem tempo suficiente para
observar integralmente os trabalhos da ordenha. Ordenhadores inescrupulosos, na intenção de
terminar logo os trabalhos deixam passar algumas búfalas sem ordenhar, ou encerram a
ordenha antes do tempo. Caso se desconfie dessa ocorrência, deve-se observar, ao final da
ordenha, os úberes das búfalas, pois eles irão “denunciar” o que ocorreu. Estando esses
úberes cheios, ou o ordenhador foi negligente ou a máquina de ordenha não está funcionando
bem, o que não descarta a negligência dele. Existem búfalas que mesmo extraindo todo o seu
leite, ainda apresentam úberes volumosos. Com um pouco de experiência e conhecimento do
rebanho, sabe-se se há ou não leite naquele úbere. Normalmente, búfalas boas produtoras de
leite apresentam os úberes secos ao término da ordenha.

17.2.5. Frequência de ordenha


Pode ser realizada uma ou duas ordenhas diárias. No sistema extensivo é comum
apenas 1 ordenha e nos intensivos 2. Quando se pratica 2 ordenhas, existe a tendência de
aumento da produção de leite.
A prática de duas ordenhas diárias, desde que atendidas as necessidades nutricionais,
promove aumento de cerca de 25-30% no volume diário produzido.
Sendo prática usual nas propriedades em que se pratica uma segunda ordenha oferecer
suplementação de concentrados antes (ou mesmo durante) das ordenhas, verificou-se na Itália
que as búfalas ordenhadas duas vezes ao dia apresentaram um maior teor lipídico no leite,
além de uma maior produção, provavelmente pelo fato de receberam maior aporte de
concentrados e, portanto, uma dieta menos fibrosa que as ordenhadas uma vez ao dia. O teor
protéico do leite apresentou-se, porém, semelhante.
No pós parto, quando frequentemente se mantém as crias junto com as mães por um
período entre 10-12 dias, é importante que se promova a “esgota” do leite não consumido
pelo bezerro (uma ou duas vezes ao dia, conforme a freqüência que se irá adotar na ordenha),
de tal sorte a estimular o desenvolvimento da glândula mamária. A não adoção desta prática
resultará certamente numa redução na produção de leite durante a lactação.
A adoção de mais de duas ordenhas diárias não se mostrou, até o presente, viavel
econômicamente nas explorações leiteiras de búfalas.

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17.3. Ordenhas manual e mecânica
A ordenha manual predomina na bubalinocultura brasileira, entretanto na Itália a
ordenhadeira mecânica já é consagrada. As búfalas aceitam bem a ordenhadeira mecânica
sendo utilizados os mesmos equipamentos desenvolvidos para o gado bovino devendo,
porém, ser respeitados os parâmetros do sistema adequados para espécie (pressão de vácuo,
ritmo e pulso).

17.4. Cuidados na ordenha


Tanto as vacas como os bezerros devem ser limpos. Quando possível à sala de
ordenha, deve estar próxima a uma lagoa, onde os animais permanecerão por 10 minutos
antes da ordenha. Este processo facilita a dissipação de calor e a limpeza, por conseguinte os
animais se tornam mais tranqüilos. Quando não há lagoa, os animais devem ser limpos com
jatos de água.
Os úberes devem ser individualmente lavados e massageados
É utilizada uma pequena quantidade de concentrado para facilitar o apojo das vacas
sem a presença das crias.

17.4.1. Sala de ordenha


A sala de ordenha deve oferecer condições físicas para uma higienização constante do
ambiente e dos utensílios utilizados. Idealmente, deve a sala ser construída com um piso
impermeável, lavável e sem buracos ou frestas (que retém impurezas), levemente inclinado e
com sistema para escoamento de líquidos, coberta, possuir uma pia, e uma fonte abundante
de água limpa, localizar-se afastada de estradas com intenso movimento de veículos ou
pessoas, ser protegida do vento (que transporta algumas impurezas) e de animais (ratos,
cachorros, gatos, galinhas e pássaros).

17.4.2. Ordenha
Para obtenção higiênica do leite, prevenção de mastite e melhor produtividade, alguns
cuidados básicos deverão ser observados na ordenha.
Higiene do pessoal envolvido com a ordenha:
- Utilização de roupas limpas e preferencialmente de botas de borracha
- Manter unhas aparadas
- Lavar as mãos com água e sabão antes de iniciar a ordenha
- Não se alimentar ou fumar na sala de ordenha
- Evitar executar outros procedimentos (manuseio de ração, contenção de
animais,etc), durante a ordenha.
Procedimentos necessários para uma ordenha com higiene
- Limpeza do úbere e/ou tetos com água
- Secar o úbere e tetos com papel toalha
- Desprezar os primeiros jatos
- Efetuar o teste em caneca de fundo escuro para identificação de mastite
- Aplicação de solução desinfetante nos tetos após a ordenha
- Limpeza após a ordenha do equipamento e tubulação
- Limpeza dos latões e tanque de armazenagem após entrega do leite

Quando se deve fazer duas ordenhas diárias?


O número de ordenhas diárias será determinado pela produção da búfala. Na Fazenda
Castanha Grande, apenas búfalas com produção acima de 7,0 kg de leite/dia serão
ordenhadas 2 vezes. Concluíamos que, abaixo dessa produção diária por búfala (7,0kg), o
aumento do leite proveniente de 2 ordenhas não compensa os gastos extras.

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Sabe-se que em bovinos, a capacidade de sintetizar o leite é diretamente proporcional
à genética do animal. Em média, circulam pela glândula mamária em 24 horas, 400 a 500
litros de sangue para que seja extraído 1 litro de leite. Podem circular até 1000 litros de
sangue para cada litro de leite, em animais de baixa produção. Pelo alto teor de sólidos no
leite das búfalas, acredita-se que esses dados não poderão ser aplicados para elas.
A evolução que vem passando a pecuária bubalina de leite nas últimas duas décadas,
nos dá sinal de grande produção de leite num futuro muito próximo.

17.5. Pesagem do leite


A pesagem do leite é uma prática muito importante, só através desse procedimento
pode-se selecionar um rebanho para produção de leite. Tratando-se de um rebanho em que se
faz o arraçoamento, a pesagem do leite é imprescindível. Conforme já se comentou
anteriormente, a ração é dada em função do peso do leite produzido.

17.6. Conservação do leite


De acordo com a Instrução Normativa nº 51 do Ministério da Agricultura, ora em
vigor, o leite deve ser conservado em tanque de refrigeração em temperatura de 4°C com
mecanismo de homogeneização lenta (caso o leite não seja utilizado em até duas horas após a
ordenha). O resfriamento deve abaixar a temperatura de todo o volume produzido para 4°C
em no máximo 3 horas após o termino da ordenha. O leite da búfala não deve sofrer nenhum
tipo de “stress” (agitação brusca no tanque ou latões, o transporte por longos períodos em
estradas esburacadas, e choque térmico) em função do alto percentual de gordura. Os
glóbulos de gordura se rompem com facilidade e posteriormente formam ranços. O leite da
ordenha da manha (quente) não pode ser misturado com o leite da ordenha da tarde (frio). As
propriedades que possuem laticínio podem evitar este choque térmico beneficiando primeiro
o leite produzido e armazenado do dia anterior, durante a ordenha das búfalas na manhã, e
posteriormente o leite fresco.

17.7. Contagem de células somáticas (CCS)


As células somáticas do leite são compostas principalmente de leucócitos (células
“brancas” presentes no sangue e responsáveis pela defesa do organismo e que aumentam de
número na presença de infecções) e também células provenientes da substituição natural do
epitélio mamário. O numero de células somáticas presentes no leite quantifica a reação
inflamatória do úbere em resposta a mastite, que pode ser dividida em dois tipos: clinica,
quando existem sinais visíveis tais como inflamação do teto/úbere, presença de pus, etc, ou
sub-clinica, somente detectável através de exames tais como o CMT-California Mastite Teste
ou mesmo pela CCS- Contagem de Células Somáticas); traumas (pancadas e chifradas) ou
danos decorrentes de uma ordenha inadequada. No final da lactação ocorre um aumento
natural na CCS.
Pesquisas realizadas na Itália demonstraram que uma CCS de até 200 mil celulas/ml no
leite da búfala não influencia no processo de coagulação do leite (Terramoccia, S. 2001) e
uma CCS de ate 300 mil celulas/ml é considerada normal no leite de búfalas confinadas. Este
valor (300 mil cls/ml) estabelecido pelas pesquisas naquele país diferem da realidade
brasileira, tendo em vista as diferenças dos dois sistemas de criação, sendo que na Itália as
búfalas em lactação são estabuladas, criadas em alta densidade e submetidas à ordenha
mecânica e, no Brasil, Amaral et al (2004) demonstraram uma variação na CCS de 8 a 38 mil
cls/ml no leite de búfalas criadas a pasto, submetidas a uma ordenha diária manual com
bezerro ao pé, sendo que após a ordenha o bezerro acompanhava a búfala e ingeria o leite
residual presente no úbere.
Fatores que causam aumento anormal da CCS

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- Funcionamento inadequado da ordenhadeira mecânica
- Sala de ordenha suja e condições de estreasse
- Problemas na ordenha (manual ou mecânica) devida à conformação dos tetos e
úbere
- Mastite e traumas
- Desequilíbrio alimentar e alimentos mal conservados

17.8. Variações do leite da búfala durante a lactação


Os percentuais de gordura, proteína, CCS e acidez (titulável) do leite das búfalas
apresentam variação conhecida e esperada durante a lactação. A intensidade e tipo destas
variações podem ser alteradas, pelo manejo alimentar, sanitário e genético imposto pelo
criador, os quais podem favorecer ou prejudicar a qualidade e rendimento dos derivados.
Usualmente, as búfalas apresentam produção ascendente a partir do parto, com picos em
torno do 2º mês de lactação, a partir do que a produção progressivamente se reduz até o final
da lactação, em torno de 260-280 dias. A se destacar que quase 50% de todo o leite é
produzido nos primeiros 100 dias de lactação.

17.9. Acidez do leite


Outro parâmetro de qualidade do leite é sua acidez, determinada tanto por seus
constituintes normais quanto pelo crescimento de bactérias contaminantes do leite que
resultam num aumento de sua acidez. A acidez pode ser determinada pela aferição do pH do
mesmo, tanto através de testes diretos (peagâmetro) quanto de testes indiretos como o
alizarol (teste rápido) e, mais comumente pela medida de sua “acidez titulável” que, em
resumo, consiste na medida da quantidade de “bases” necessária para “neutralizar” a acidez
presente no leite que é expressa em graus, variando conforme a substância utilizada no
procedimento, sendo no Brasil mais comum o uso da solução Dornic (na Europa é comum
expressar a acidez em graus Soux–Henkel - SH).
A acidez titulável do leite da búfala apresenta valores ligeiramente superiores à acidez
titulável do leite da vaca, isto provavelmente ocorre em função da maior quantidade,
diâmetro e número das micelas de caseína do leite da búfala em relação ao leite da vaca.
(Macedo et al., 2001), sem que isso signifique necessariamente um leite com maior nível de
contaminação. Os valores de acidez normal do leite de búfalas obtido por trabalhos de
diversos autores mostrou variações significativas, conforme se observa na tabela abaixo e,
em alguns casos, excedem os padrões de normalidade definidos na legislação brasileira para
o leite bovino, destacando-se que, à exceção do Estado de São Paulo, não existe uma padrão
de normalidade oficial para o leite de búfalas no Brasil.

17.9.1. Acidez titulável do leite da búfala no Brasil

A estacionalidade reprodutiva concentra a produção de um grande volume de leite


(até 60% do leite total) por búfalas recém paridas em poucos meses do ano (fevereiro a
maio), resultando num maior número de animais com poucos dias de lactação e,
consequentemente, com maior acidez no leite, o que acaba interferindo na qualidade do

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derivado produzido e que poderia ser evitado através do melhor planejamento dos
acasalamentos.

17.9.2. Fatores ambientais que aumentam a acidez titulável do leite da búfala


- Presença de bactérias contaminantes que fermentam;
- Conservação do leite em refrigerador sujo e/ou resfriamento lento;
- Transporte do leite em latões sujos e em temperatura inadequada;
- Percursos longos e demorados;
- Ordenha com higiene deficiente.

17.9.3. Fatores alimentares que aumentam a acidez titulável do leite


- Excesso de forragem grosseira sem a observação de suas características nutricionais.
- Fornecimento de alimentos inapropriados: silagem de baixa qualidade, alimentos mofados,
forragem muito madura, mistura mineral inapropriada para a propriedade.
- Água fornecida em bebedouros sujos.
A produção de leite hipoácido (baixa acidez: 13,5 a 15,0° D) pode estar relacionada
com baixo teor de proteína no leite (menor que 4%), pode ser indicador da qualidade dos
alimentos oferecidos para as búfalas. É oportuno lembrar que o leite pode apresentar baixa
acidez em animais no final da lactação e também em leites com alto percentual de proteína
(4,7 – 5,2%).
A relação de volumosos/concentrados usualmente utilizada na alimentação das
búfalas geralmente garante o fornecimento de uma quantidade de fibras (compostas pela
parede celular das plantas e avaliada nas análises bromatológicas como Fibra em Detergente
Neutro-FDN) suficiente para estimular a produção de saliva, de acido acético e da função
ruminal. Uma diminuição da quantidade de gordura no leite raramente ocorre em função da
baixa quantidade de fibra na dieta em nosso meio, onde a alimentação se baseia
fundamentalmente em pastagens, mas esta relacionada com a pequena quantidade de energia
total fornecida.
A búfala apresenta maior capacidade de alterar a composição (percentual de gordura e
proteína) em função da distância do parto e da alimentação fornecida que as bovinas. Existe
uma diferença no percentual de gordura no leite das búfalas submetidas a uma ou duas
ordenhas por dia nos rebanhos que fornecem ração durante a ordenha. Nos rebanhos em que
as búfalas são ordenhadas duas vezes elas recebem ração duas vezes, isto diminui a relação
volumoso / concentrado e favorece a produção de um leite com maior percentual de gordura
em relação as búfalas que são ordenhadas somente uma vez ao dia e que recebem o
concentrado apenas uma vez.
Quando as búfalas em lactação não ingerem um alimento em quantidade e qualidade
que satisfaçam suas necessidades de produção, ocorre uma acentuada diminuição no volume
de leite produzido com pequena alteração em sua composição. As alterações que ocorrem na
composição do leite variam dentro de limites satisfatórios e pode ser identificada através de
mudanças na crioscopia, acidez titulável, composição do leite e queda no rendimento
industrial no laticínio. A produção constante de leite com uma boa composição durante todo
o
ano depende da alimentação oferecida, potencial genético dos animais, manejo sanitário e
higiênico do rebanho e planejamento da reprodução e manejo.

18 – Produção de carne
O búfalo possui elevada capacidade de produzir carne, mesmo em condições
adversas. Em função da habilidade de seu organismo em digerir alimentos grosseiros e da
facilidade de locomoção em áreas alagadiças e atoladiças. A produção de carne em pastagem

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nativa em terra firme reduz a despesa de formação da pastagem e manutenção da mesma,
apresenta baixa capacidade de suporte, a utilização eficiente de forragem com qualidade
inferior. Este sistema permite a melhoria através da introdução de gramíneas e leguminosas
que aumentam a capacidade de suporte em até 1UA/ha. Em pastejo continuo utiliza-se de 3 a
6 ha/UA. O pasto pode ser dividido em piquetes menores (1 a 2 ha/UA)
Pesquisadores conseguiram atingir bons índices produtivos em sistema tradicional de
pastagem nativa, onde animais chegaram ao 374 kg em 24 meses. Quando introduzido
animais com melhor qualidade genética e adotou-se um sistema intensivo de produção, foi
possível produzir animais com 450 kg aos 30 meses de idade.
Em terra inundável pode-se utilizar aproximadamente 6 ha/UA, produzindo animais
com 400kg PC com aproximadamente 24m. Este sistema pode ser melhorado utilizando
pastagens nativas de terra inundável no período seco do ano e pastagem cultivada de terra
firme na época chuvosa.
A forrageira mais utilizada na região norte na alimentação dos animais em terra firme
é o quicuio-da-amazônia. Recomenda-se oferecer aos animais água em abundância e Sal
mineral à vontade. Neste caso o pastejo contínuo é o mais adotado (1UA/ha). Em condições
de bom manejo atingem 450kg de PC aos 20 meses. Em terra inundável recomenda-se o
pastejo contínuo ou rotacionado (1 a 3 UA/ha) com sal mineral à vontade. Os animais podem
atingir 450kg de PV aos 18 meses de idade. Nos sistemas integrados utilizar as pastagens
nativas de terra inundável no período seco e as áreas de terra firme com pastagem cultivada
durante a estação chuvosa. O pastejo pode ser sistema contínuo ou de preferência
rotacionado. A taxa de lotação de aproximadamente 3UA/ha/período e permite a
comercialização na entressafra.
A produção de carne em sistema intensivo rotacionado permite utilizar gramíneas de
elevada produtividade e bom valor nutritivo. Quando bem manejado permite uma taxa de
lotação de 3 a 4 UA/ha/ano. Deve-se ter sempre água disponível para banho paraq evitar a
destruição do pasto. Neste sistema pode-se atingir um ganho de peso de até 1000 kg por
hectare por ano.
Em confinamento os animais permanecem em currais divididos em grupos, com
acesso à mistura mineral e água. A alimentação de ser fornecida no cocho mantendo uma
relação Volumoso:Concentrado de 60: 40. Tal sistema permite uma maior produção em
menor tempo em menor área.

18.1. Desempenho produtivo em carne


É sabido que os búfalos apresentando resultados altamente favoráveis em ganho de
peso, mesmo quando criados em locais onde os bovinos mal conseguiram sobreviver. Esses
locais são áreas de pastagem de baixa qualidade ou regiões alagadiças.
Em condições de alimentação e manejo otimizadas podem apresentar 1,5 kg de ganho
de peso diário. Machos adultos podem exibir mais de 1500 kg de PV.
Entre os búfalos e bovinos existe diferença em relação ao rendimento de carcaça,
visto que os búfalos possuem chifres e couro mais pesados, essa diferença desaparece muitas
vezes já que os búfalos atingem o mesmo peso de abate que os bovinos em menor idade.
A carne bubalina é muito semelhante a carne bovina em valor nutritivo (proteínas e
minerais). Os teores de gordura intramusculares e intermusculares são menores em
bubalinos. Recentes estudos da universidade da Flórida demonstraram que a carne bubalina
tem 56% menos colesterol que a carne bovina.
A palatabilidade também é muito semelhante a carne bovina (odor, sabor, maciez,
suculência), existe diferença apenas na cor, sendo a carne bubalina mais clara que de bovinos
nos animais mais jovens, podendo ficar mais escura com o avanço da idade.

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19 – Animal de trabalho

O búfalo representa mais de 80% de toda força “motriz” utilizada na agricultura em


grande parte da Ásia, chegando a ser denominado “trator vivo do Oriente”. É utilizado na
tração de implementos nas operações de cultivo (aração, gradagem, adubação, capina, etc.).
Em áreas baixas e alagadiças apresenta notável movimentação.
Este tipo animal também é utilizado como animal de carroça. Em geral, um búfalo
adulto pode tracionar cerca de 1200 kg de carga numa velocidade de 3 km/h.
Outro emprego é como animal de fardo, carregando em suas costas os mais diversos
tipos de material.

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