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I - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS OVINOS

1. Histórico e Origem

A ovinocultura foi, sem dúvida, uma das primeiras explorações animais levadas a
efeito pelo homem, nos começos da civilização, proporcionando-lhe, além do alimento, em
forma de carne e leite, o abrigo contra o frio através da lã.

As fibras de origem vegetal têm suas produções limitadas em determinadas regiões.


A lã, ao contrário, é um produto que, em maior ou menor escala, é obtida quase em todas as
latitudes. O tronco original dos ovinos domesticados deve ser procurado no gênero Ovis e,
dentro deste, nos grupos de ovinos selvagens representados pelo: Argali (Ovis ammon), Urial
(Ovis vighei) e Mouflon (Ovis musimon). Desses grupos, o Mouflon ainda é encontrado em
estado selvagem nas montanhas da Córsega e da Sardenha. O Urial existe, atualmente, na
Pérsia, Afeganistão, partes da Índia e Tibete.

Atualmente, existem no mundo mais de 800 raças de ovelhas domésticas, produto de


mais de 3.800 gerações desde a domesticação. A grande variedade de fenótipos sugeriu
investigações sobre as quais são as subespécies selvagens destas ou daquelas raças de
ovelha doméstica. No entanto, não se sabe se o fenótipo das subespécies atuais de ovelhas
selvagens é o mesmo de 12.000 anos atrás, podendo ter ocorrido certas variações genéticas.

Durante as migrações dos povos e entre as tribos vizinhas, trocavam-se animais de


cria. Alguns rebanhos de ovelhas domésticas chegaram a regiões nas quais viviam outras
subespécies, e com elas podem ter se cruzado. Com relação às crias das ovelhas, estas
foram selecionadas, cruzadas e selecionadas novamente e os objetivos da cria modificaram-
se, por isso é impossível definir, atualmente, que a espécie de ovelha selvagem deu origem
às raças ovinas atuais. O menor tamanho dos animais considera-se como uma característica
de domesticação, o que, com toda a segurança, é referente às ovelhas que, durante as
estações desfavoráveis do ano, alimentavam-se com resíduos agrícolas, sofrendo restrições
no pastoreio, de modo que havia épocas de carência que determinaram perdas de peso e
diminuição da produção de leite das ovelhas, resultando em um crescimento deficiente dos
cordeiros.
O ovino sempre se apresentou como uma espécie privilegiada, tendo-se difundido por
quase todas as regiões do mundo. Em algumas, a exploração é realizada por meios de
técnicas primitivas, apenas visando a subsistência das populações desfavorecidas; em outras
regiões, como a Nova Zelândia, Austrália, Uruguai, Argentina e sul do Brasil, já se faz uso de
técnicas mais avançadas objetivando uma elevação da rentabilidade econômica.

A ovinocultura, tendo-se em vista as condições que lhe são necessárias e quando


dirigida técnica e estruturalmente, apresenta um alto índice de lucratividade. Isto porque dos
ovinos aproveita-se quase tudo. Além da lã, que é o principal produto e o mais explorado, o
fornecimento da carne, peles (utilizadas desde a antiguidade para a confecção de
pergaminhos, diplomas), leite, estrume e até os intestinos, com os quais se obtém o categute,
que é um fio cirúrgico feito da tripa do carneiro, utilizado em cirurgia para suturas.

Classificação zoológica da ovelha:

Reino: Animal
Sub-reino: Vertebrata
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Ungulata
Sub-ordem: Artiodactyla
Grupo: Ruminantia
Família: Bovidae
Gênero: Ovis
Espécie: Ovis aries

2. Domesticação

A ovelha foi domesticada pelo homem primitivo, no período Neolítico, isto é, há 4 ou 5


mil anos a.C. É, provavelmente com a caprina, uma das primeiras espécies a terem sido
domesticadas. No início, o homem domesticou as ovelhas por sua carne e depois demonstrou
interesse pelo leite como alimento. Entretanto a mudança mais importante para o homem
quanto à domesticação das ovelhas, aconteceu quando o pelo grosseiro dos animais
selvagens foi desprezado em favor de uma capa com fibras finas de lã. Não se pode
demonstrar se o aparecimento da ovelha de lã fina foi devido à mutação ou se é produto de
seleção. Supõe-se que os povos que iniciaram a seleção de ovinos visando à produção de lã
deveriam habitar as regiões mais frias, onde a pele desta espécie já servia de abrigo.
Quase todos os animais domésticos têm seus antecedentes selvagens na Europa e
Ásia, sendo que, pelo o que se conhece a ovelha e a cabra foram os primeiros animais a
serem domesticados.

3. Panorama Geral da Ovinocultura no Mundo, no Brasil e no Rio Grande do Sul

3.1 A ovinocultura no mundo

A ovinocultura está presente em praticamente todos os continentes, a ampla difusão


da espécie se deve principalmente a seu poder de adaptação a diferentes climas, relevos e
vegetações (espécie cosmopolita). A criação ovina está destinada tanto à exploração
econômica como à subsistência das famílias de zonas rurais. Os maiores rebanhos estão
distribuídos pelos países pertencentes à Ásia, África e Oceania. A China se destaca como
sendo o país com maior número de animais, seguido da Austrália, Índia, Irã, Sudão e Nova
Zelândia.
Países como Austrália e Nova Zelândia são reconhecidos por desenvolverem sistemas
de alta produtividade. Suas criações, altamente tecnificadas, visam à produção de carne e lã,
o que leva esses países a controlar o mercado internacional desses produtos. Durante anos,
esses países desenvolveram técnicas produtivas e raças especializadas de animais que se
difundiram pelo mundo, dando impulso para a exploração econômica mundial da ovinocultura.
As raças laneiras e as raças mistas concentram grande parte do rebanho mundial, o
que torna a lã um dos principais produtos derivados da ovinocultura. A Austrália apresenta o
maior volume de lã produzida, apesar da queda gradativa nos últimos anos. Essa queda
ainda está vinculada à grave crise no mercado internacional da lã durante as décadas de
1980 e 1990, devido ao início da comercialização de tecidos sintéticos no mercado. O alto
estoque australiano de lã contraído no período de crise se tornou um fator preponderante
para a queda da produção de lã evidenciada na maioria dos países produtores da fibra.

3.2 A ovinocultura no Brasil

O Brasil possui aproximadamente 19.715.000 milhões de cabeças ovinas distribuídas


por todo o país (IBGE/2019), porém concentradas na região Nordeste e no Rio Grande do
Sul. A Bahia detém o maior rebanho nacional, destacando-se também os estados de
Pernambuco, Ceará e Piauí. O Rio Grande do Sul, que sempre deteve a primazia no número
de cabeças, hoje está em segundo lugar. De cerca de 10 milhões, até os anos 90,
apresentamos um rebanho na faixa de 3,5 milhões atualmente. A criação ovina no Estado é
baseada em ovinos de raças de carne, laneiras e mistas, adaptadas ao clima subtropical,
onde se obtém o produto lã e carne. Na região Nordeste os ovinos pertencem a raças
deslanadas, adaptadas ao clima tropical, que apresentam alta rusticidade e produzem carne e
peles. Destaca-se também o crescimento da criação ovina nos estados de São Paulo, Paraná
e na região centro-oeste, regiões de grande potencial para a produção de carne ovina.
A queda do rebanho da região sul ocorrida em meados da década de 1990
corresponde ao decréscimo acentuado do número de animais do Rio Grande do Sul, afetado
pela crise internacional no preço da lã, concorrência de outras fibras e pelo aumento da área
cultivada em grãos. Muitos produtores desistiram da atividade, influenciados pela baixa
rentabilidade das criações após a queda de preços da fibra.
Porém, a ovinocultura brasileira encontra-se em expansão, ainda tem muito a evoluir.
O aumento do consumo de carne ovina é o principal desafio a ser seguido a fim de acelerar o
crescimento da ovinocultura. Intervenções que visem aumentar o consumo devem estar
atentas a estratégias de marketing que apresentem a carne ovina como sendo um produto
seguro e de qualidade, além de ações que possibilitem as indústrias disponibilizarem uma
ampla variedade de cortes para que todas as classes sociais possam ter acesso a carne
ovina, com o intuito de, em longo prazo, fidelizar o consumidor.

3.3 A ovinocultura no Rio Grande do Sul

O Estado que sempre foi o detentor do maior rebanho da espécie, perdeu essa posição
e viu suas criações diminuírem consideravelmente na virada do século. Mas, pouco a pouco
está havendo o interesse dos produtores em voltar à criação, devido à mudança de objetivo, no
sentido da produção de carne. Os preços pagos ao produtor elevaram-se na última década,
tornando a atividade rentável e atraente. O estímulo para a maior produção de cordeiros
resultou no aumento do número de animais abatidos.
O rebanho gaúcho encontra-se distribuído principalmente nas regiões da Fronteira-
Oeste e da Campanha, sendo que as principais cidades criadoras de ovinos, em ordem
decrescente são: Santana do Livramento, Alegrete, Quaraí, Uruguaiana, Pinheiro Machado,
Rosário do Sul, Dom Pedrito, Bagé, São Gabriel e Herval.
O município de Piratini é o que apresenta maior número de criadores da espécie ovina.

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