Você está na página 1de 35

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN


ESCOLA AGRÍCOLA DE JUNDIAÍ – CAMPUS MACAÍBA

Rio Grande do Norte


Campus Macaíba

Componente: Caprinovinocultura

Conteúdo: Introdução a Caprinovinocultura

Professora: Juliete de Lima Gonçalves

MACAÍBA, 2022

EAJ - Campus Macaíba


RN 160 - Km 03 - Distrito de Jundiaí
Macaíba - RN, 59280-000
Mensagem da professora-autora

Mensagem do professor-autor
Prezado (a) aluno (a),

Seja muito bem-vindo (a)!

Sou a Professora Juliete de Lima Gonçalves, responsável pela disciplina: Caprinovinocultura.


É com grande alegria que eu junto à equipe da EAJ - campus Macaíba, acolhemos você, no Curso
Técnico em Agropecuária.
A partir de hoje, você irá aprender sobre: Situação atual da cadeia de produção de caprinos e
ovinos e sua importância social e econômica, as principais raças e cruzamentos, cronometria
dentária e controle zootécnico. Esperamos que, ao final do estudo deste material, você seja capaz de
explicar e compreender a importância da caprinovinocultura nos aspectos sociais e econômicos,
Esperamos que, ao final da disciplina, você seja capaz de explicar
identificar as principais raças de caprinos e ovinos, suas aptidões e características, reconhecer a idade dos
detalhadamente
animais e a importância do controle zootécnico em um sistema de produção.
a anatomia e fisiologia das abelhas melíferas, interpretar suas
Leia o material com cuidado, carinho, dedicação e atenção, e logo após, faça a atividade
formas de comunicação das abelhas, identificar facilmente as castas, suas
proposta!
funções e analisar o comportamento dos indivíduos de uma colônia.

Contato da Professora
E-mail: juliete.lima@ufrn.br

Bons Estudos!
SUMÁRIO

1. Introdução.................................................................................................................4
2. Importância da Caprinovinocultura .....................................................................5
3. Raças e Cruzamentos ............................................................................................11
4. Cronometria Dentária ..........................................................................................29
5. Controle Zootécnico ..............................................................................................33
6. Referências ..............................................................................................................35
1. Introdução

A criação de animais como fonte de proteína para alimentação humana acontece


desde os tempos mais remotos e, neste contexto, os pequenos ruminantes são
importantes, por sua capacidade de produzir em condições adversas.
Espera-se, que nos próximos anos, a demanda mundial por alimentos aumente
como consequência do crescimento econômico e do aumento da população mundial,
que segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO), deve ultrapassar os 9 bilhões em 2050. Em decorrência deste fato, haverá
proporcionalmente um aumento na demanda por proteína animal, estimulando a
produção em países cujas condições climáticas são favoráveis aos recursos naturais
abundantes. Neste contexto, o Brasil se destaca, pois atualmente possui um rebanho de
9,6 milhões de caprinos e 18,4 milhões de ovinos (FAO, 2018), podendo assim
incrementar a exploração racional de pequenos ruminantes.
Ao longo do tempo, as criações de ovinos e caprinos se desenvolveram de forma
gradativa e pontual no território brasileiro, sendo as regiões Sul e Nordeste,
respectivamente, as protagonistas das duas espécies. Mudanças ocorreram em suas
composições, mas são estas as regiões que concentram ainda o maior efetivo e número
de produtores: no Sul estão 21,2% dos ovinos, enquanto no Nordeste, 93,3% dos
caprinos (IBGE, 2018).
No Brasil, existem diversas raças com aptidões produtivas, voltadas em maior ou
menor grau à produção de carne, leite, lã e pele de qualidade, conforme indica a
Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba - Codevasf
(Codevasf, 2011). O desempenho da caprinovinocultura no Brasil varia conforme a
região e características dos sistemas de produção, a estabilidade nas relações entre
criadores, frigoríficos e distribuidores comerciais, bem como o consequente grau de
especificidade dos produtos comercializados (Malafaia, Barcellos e Azevedo, 2006).
Desta forma, durante esta unidade serão descritos a situação atual do rebanho de
caprinos e ovinos no mundo e no Brasil, a sua importância social e econômica, as
principais raças de acordo com o tipo de produção, a cronometria dentária e a
importância da escrituração zootécnica em um sistema de produção.

Bons estudos!

4
2. Importância da Caprinovinocultura

 Importância social e econômica da criação de caprinos e ovinos


O Brasil possui longa tradição na criação de caprinos e ovinos, atividades
responsáveis pela sustentação econômica e nutricional de muitas famílias da zona rural,
principalmente aquelas de menor renda (Sorio, 2017). Considerando essa importância
social, o Brasil viu sua demanda cada vez mais crescente pelos produtos oriundos da
caprinovinocultura, firmando-se ainda como notável importador (Embrapa, 2016).
A criação de caprinos e ovinos tem se consolidado como uma atividade com
potencial de geração de renda, se desvinculando aos poucos de mercados apenas
regionais e passando a configurar um setor mais organizado, com mercado mais
formalizado, presente em pontos de vendas espalhados nos grandes centros urbanos,
demandado por diversos públicos, inclusive o especializado, em segmentos de produtos
de maior valor agregado, principalmente os produtos de ovinos.
Na região do Nordeste brasileiro, a caprinovinocultura constitui-se numa
atividade de extrema importância, seja no contexto econômico, pela geração de fonte de
renda para pequenos produtores, principalmente da agricultura familiar, através de um
ativo comércio de seus produtos e subprodutos, como carne, leite, pele e esterco, seja no
contexto sociocultural, pela fixação do homem ao campo e perpetuação da atividade
produtiva para as gerações seguintes. Os rendimentos advindos constituem-se
frequentemente na principal reserva de capital para muitas famílias, além desta
atividade ser a principal em áreas críticas e por vezes, alavanca do comercio local.
A região semiárida compõe cerca de 70% do Nordeste, sendo caracterizada pelas
altas temperaturas, irregularidade de chuvas e secas periódicas (Correia et al., 2011).
Segundo Araújo et al. (2003), a exploração ovina e caprina é importante na região
semiárida devido as suas adaptações às condições ambientais das caatingas e habilidade
em transformar material fibroso de baixo valor nutritivo, em alimentos nobres de alto
valor proteico para o homem, como a carne e o leite.
Os aspectos sociais e mercadológicos para caprinovinocultura nordestina são
inegavelmente favoráveis. Entretanto, o desempenho zootécnico desta atividade ainda é
muito baixo, principalmente, pela forte dependência que os sistemas de produção
extensivos têm da vegetação nativa da caatinga, fonte alimentar básica, quando não

5
única, dos rebanhos. A acentuada redução anual na oferta de forragem, durante as
estações secas, é o principal fator determinante do nível de produtividade (Araújo,
2003). Ademais, os desafios relacionados à alimentação do rebanho, instalações,
escrituração zootécnica, além dos manejos de ordenha e sanitário em geral levam a uma
situação de baixa produtividade, lento desenvolvimento ponderal das crias, elevada taxa
de mortalidade de animais jovens e idade tardia ao abate. Isso acarreta uma baixa
disponibilidade de animais destinados ao abate, particularmente no período de estiagem.
Dentro deste universo, é preciso verticalizar a produção, trazer uma maior
tecnificação e competitividade aos criatórios para o atendimento das exigências
quantitativas e qualitativas do mercado, aliado a resultados lucrativos. Aliado a isto, a
caprinocultura e a ovinocultura possuem um grande potencial para ampliação da
produção de carne, leite e seus derivados, favorecendo a comercialização dos produtos
em nichos de mercados promissores, como as boutiques de produtos regionais,
“exóticos” e da agricultura familiar. Além do incremento do setor industrial no
segmento de calçados e vestuários que valorizam produtos regionalizados, com
matérias-primas oriundas das peles dos animais. Cabe destacar as oportunidades de
inserção dos produtos nos programas governamentais de aquisição de alimentos para
merenda escolar.

 Situação atual da caprinocultura e ovinocultura


 Cenário Mundial
Os ovinos e caprinos podem ser encontrados em todos os continentes, com
concentração crescente na Ásia e rebanhos significativos na África e Europa. Do ponto
de vista tecnológico e produtivo, Austrália e Nova Zelândia são referência na produção
de ovinos. Oceania e Europa dominam as trocas comerciais de carne ovina, porém a
China vem se tornando o principal ator deste mercado, sustentado pelo crescimento de
seu rebanho e por importações crescentes. Os países do Oriente Médio, que são muito
importantes no comércio da carne são fundamentais quando se fala em comércio de
ovinos e caprinos vivos para abate. A carne caprina, por sua vez, é pouco
comercializada entre os países, apesar de vir apresentando crescimento nos últimos
anos.
O protagonismo na ovinocultura é bastante concentrado. Apenas três países -
China, Índia e Austrália - criam quase 30% do rebanho mundial (Tabela 1). Por outro
lado, China, Austrália, União Europeia e Nova Zelândia juntas produzem mais de 40%

6
da carne. Completando, China e Europa sozinhas consomem mais de 1/3 da carne ovina
produzida no mundo. O rebanho vem se transformando de animais cuja função principal
era o fornecimento de lã, com a carne sendo praticamente um subproduto, para uma
nova situação onde as raças com aptidão de produção de carne se tornaram as
protagonistas.

Tabela 1 - Rebanho mundial de ovinos (milhões de cabeças).


Países 2010 2016*
China 176,9 184,0
Índia 74,0 76,0
Austrália 73,1 70,1
União Europeia (sem Reino Unido) 68,7 64,0
Irã 49,5 45,0
Sudão 52,1 42,0**
Nigéria 37,4 40,0
Reino Unido 31,1 33,0
Nova Zelândia 32,6 30,5
Demais países 532,5 582,4
Total 1.127,6 1.175,0
Fonte: (Eurostat; Faostat; Meat and Livestock Australia; Beef and Lamb New Zealand, 2017).
* Projeção ** Soma dos atuais Sudão e Sudão do Sul.

Já o rebanho caprino está claramente concentrado na Ásia, especialmente China


e Índia, que respondem por mais de 30% do rebanho mundial (Tabela 2). Ao contrário
do rebanho ovino, a quantidade de caprinos vem aumentando de forma contínua nos
últimos 25 anos.

Tabela 2 - Rebanho mundial de caprinos (milhões de cabeças).


Países 2010 2014*
China 195,7 185,7
Índia 137,3 133,0
Nigéria 56,5 72,5
Paquistão 59,9 66,6
Bangladesh 51,4 55,9
Demais países 454,7 497,6
Total 955,5 1.011,3
Fonte: (Eurostat; Faostat; Meat and Livestock Australia; Beef and Lamb New Zealand, 2017). * Projeção.

O abate mundial de ovinos é estimado em 45% do rebanho, o que significa cerca


de 530 milhões de cabeças por ano. Os maiores produtores de carne ovina são: China
(2.085 mil toneladas), Austrália (670 mil toneladas), União Europeia (590 mil
toneladas) e Nova Zelândia (455 mil toneladas) (Fonte: Eurostat; Faostat; Meat and
Livestock Australia; Beef and Lamb New Zealand, 2017 - projeções).

7
Da mesma forma que na ovinocultura, a quantidade de pele de caprinos segue o
aumento verificado na produção de carne. A produção mundial supera 1,2 milhão de
toneladas de pele por ano, seguindo aproximadamente o ranking da carne. O consumo
aparente dos países reflete sua produção interna e seu volume de exportações e
importações. A China se destaca outra vez neste quesito, representando quase ¼ do
consumo de carne ovina do planeta. Como o comércio internacional de carne caprina é
muito pequeno em relação ao seu volume de produção, o consumo aparente dos
principais consumidores reflete basicamente sua produção interna. A China representa
38% do consumo mundial.
O comércio internacional de carne ovina atingiu em 2016 mais de US$ 6
bilhões. A exportação de carne ovina é concentrada na Nova Zelândia e Austrália, há
décadas, perfazendo mais de 2/3 do volume exportado. Estes países servem como
parâmetro do mercado de exportação de carne ovina, determinando preços, volumes e
padrão de qualidade no mercado internacional e enviando volumes significativos para o
mundo inteiro. O volume de comércio internacional de carne caprina é muito inferior ao
da carne ovina, alcançando pouco mais de US$ 350 milhões anuais. Apesar da
tendência de alta, a carne caprina continua sendo produzida para o consumo local.
A China tomou o primeiro lugar da União Europeia e do Reino Unido como
maior importador de carne ovina. Facilitou este processo sua proximidade geográfica
com Austrália e Nova Zelândia, os maiores exportadores. Os EUA se tornaram o maior
importador de carne caprina, sendo a Austrália seu fornecedor quase exclusivo.
Entre os maiores importadores de carne ovina e caprina é significativa a
presença de países do Oriente Médio, que são protagonistas, também, do comércio de
animais vivos para abate. O comércio internacional de ovinos vivos para abate
movimenta mais de US$ 1,7 bilhão em exportações por ano, enquanto o de caprinos
vivos para abate ultrapassa US$ 350 milhões por ano O comércio de animais vivos tem
a finalidade principal de abastecimento de festas religiosas importantes do Islamismo,
como o Hajj.

 Cenário Nacional

Em 2019, a caprinocultura brasileira foi estimada em um rebanho de 11,3


milhões de cabeças, com mais alta densidade de efetivo na região Nordeste com 10,7
milhões de cabeças, equivalente a 94,5% do rebanho nacional (Tabela 3). Esta alta
concentração de caprinos no Nordeste brasileiro tem raízes na grande adaptação desses

8
animais às condições ambientais do Semiárido nordestino, marcadamente ao bioma
Caatinga.
Em relação à ovinocultura, a Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM, 2019)
estima o rebanho brasileiro em um total de 19,7 milhões de cabeças, seguindo - se uma
tendência de concentração de rebanhos na região Nordeste, como observado na
caprinocultura. Essa região apresenta 13,5 milhões de cabeças, equivalente a 68,54% do
rebanho nacional, seguida das regiões Sul e Centro - Oeste, com 3,9 e 1,0 milhão de
cabeças, respectivamente, correspondente a 20,8% e 5,0% do rebanho ovino do Brasil.

Tabela 3 - Evolução dos rebanhos caprinos e ovinos no Brasil e grandes regiões.


Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM)
Brasil e Regiões
2015 2016 2017 2018 2019
Rebanho Caprino
Norte 148.515 152.611 164.597 161.669 146.959
Nosdeste 8.909.076 9.130.578 9.609.504 10.083.014 10.687.777
Sudeste 182.858 171.255 162.096 164.974 157.570
Sul 289.859 269.572 230.932 220.880 207.487
Centro-Oeste 90.569 92.991 90.677 101.157 101.688
Brasil 9.620.877 9.817007 10.257.806 10.731.694 11.301.481
Rebanho Ovino
Norte 655.656 684.950 656.251 665.370 595.846
Nosdeste 11.149.336 11.597.530 12.058.840 12.630.902 13.512.739
Sudeste 700.336 669.680 623.693 611.202 603.276
Sul 4.877.671 4.406.362 4.258.404 4.012.426 3.958.484
Centro-Oeste 1.027.552 1.045.425 1.009.579 1.027.452 1.045.242
Brasil 18.410.551 18.403.947 18.606.767 18.947352 19.715.587
Fonte: Pesquisa da Pecuária Municipal (IBGE, 2019).

Em nível de Estados, a Bahia continua ocupando o primeiro lugar em efetivo de


rebanho caprino com 3,5 milhões de cabeças, equivalente a 31,01% do rebanho
nacional. Em seguida, destacam-se os estados de Pernambuco, Piauí, Ceará, Paraíba e
Rio Grande do Norte, respectivamente, com 2,59 (22,98%); 1,87 (16,59%); 1,13
(10,02%); 0,69 (6,13%) e 0,43 (3,84%) milhões de cabeças. Os três maiores rebanhos
de caprinos localizados fora da região Nordeste encontram-se nos estados do Paraná
(103.084 cabeças), Pará (81.546 cabeças) e Minas Gerais (76.520 cabeças), com
destaque para rebanho caprino leiteiro de Minas Gerais.
O estado da Bahia, que desde 2016 ultrapassou o efetivo de rebanho do Rio
Grande do Sul, continua como maior rebanho de ovinos do país, com 4,49 milhões de
cabeças, correspondente a 22,1% do rebanho nacional. O estado do Rio Grande do Sul
vem em seguida com um efetivo total de 3,05 milhões de cabeças, representando
15,51% do rebanho brasileiro. Em seguida, destacam-se os estados de Pernambuco

9
(13,71%), Ceará (12,07%), Piauí (8,47%), Rio Grande do Norte (4,19%) do rebanho
ovino do país. Os estados de Mato Grosso e Mato do Grosso do Sul, na região Centro-
Oeste, ocupam a nona e a décima posição com um efetivo total de 467.734 e 432.919
cabeças, respectivamente.
No Brasil, a oferta e a demanda de carne ovina e caprina estão abaixo do
potencial de produção, o que reflete a potencialidade da atividade para o setor no país,
sobretudo na região Nordeste, onde esses pequenos ruminantes são caracterizados por
apresentarem adaptação às condições edafoclimáticas e quase sempre estão ligados à
agricultura familiar (Martins et al., 2015).
A produção de leite de cabra no Brasil em 2017 apresentou redução de 29,0%
em relação a 2006, o que está diretamente relacionado à redução do número de cabras
ordenhadas, da ordem de 31,0%. A região Centro Oeste foi à única que apresentou
crescimento no número de cabras ordenhadas, no entanto, ainda registrou uma redução
de 56,2% na produção de leite caprino, representando uma maior redução de
produtividade nessa região. Na região Nordeste houve redução de 34,0% na produção
de leite, proporcional à diminuição do número de cabras ordenhadas. Nesse caso, dois
fatores são preponderantes, primeiro a seca que desde 2012 atinge a região, acarretando
em diversos desafios e inviabilizando muitas regiões produtoras; em segundo lugar a
dependência dos produtores na comercialização do produto junto aos programas
governamentais que possuem cotas de aquisição muitas vezes abaixo do potencial de
produção dos produtores.
A produção de lã no Brasil registrou em 2017 uma redução de 30,0% em relação
a 2006, proporcional à redução de 28,0% do número de ovinos tosquiados. A produção
de lã é basicamente concentrada na região Sul, mais especificamente no Rio Grande do
Sul, sendo responsável pela produção de aproximadamente sete milhões de quilo,
correspondente a 98,9% da produção nacional de lã ovina.
As projeções indicam que os rebanhos caprinos e ovinos continuam com a
tendência de crescimento do efetivo do rebanho no país. Este crescimento foi retomado
em 2012, onde se iniciou um longo período de seca na região Nordeste. Este fenômeno
levou aos produtores investirem mais na criação de pequenos ruminantes em função da
sua capacidade de adaptação aos fatores climáticos adversos. Soma-se a estes fatores, o
impulso dos mercados regionais, bem como o nacional, principalmente nos grandes
centros consumidores, onde as carnes ovina e caprina têm ocupado espaços relevantes,
com o surgimento de casas de carnes especializadas em caprinos e ovinos, a valorização

10
da gastronomia regional e o aumento do poder aquisitivo do consumidor, que tem cada
vez mais ampliado a sua disposição de consumir produtos diferenciados e de qualidade
reconhecida, tornando uma proteína animal cada vez mais presente na mesa do
consumidor.

3. Raças e Cruzamentos

 Origem e domesticação dos caprinos e ovinos


O tronco original dos ovinos domésticos deve ser procurado no gênero Ovis e,
dentro deste, nos grupos de ovinos selvagens representados por Argali (Ovis ammon),
Urial (Ovis vignet) e Mouflon (Ovis musimon). Desses grupos, o Mouflon ainda é
encontrado em estado selvagem, nas montanhas da Córsega (ilha do Mar Mediterrâneo)
e da Sardenha (ilha do mar Mediterrâneo ocidental). O Urial ainda existe no Irã, no
Afeganistão e em partes da Índia e do Tibet.
Atualmente, existem no mundo mais de 800 raças de ovelhas domésticas. A
grande variedade de fenótipos sugeriu investigações sobre quais seriam as subespécies
selvagens da ovelha doméstica, sendo provável que algumas subespécies tenham
mudado de lugar devido a alterações climáticas ao final da época glacial. Também
podem ter desaparecido algumas subespécies anteriores que intervieram na
domesticação. Rebanhos de ovelhas domésticas chegaram a regiões nas quais viviam
outras subespécies, havendo um possível cruzamento entre as duas linhagens. Sendo,
assim, impossível definir, atualmente, a espécie de ovelha selvagem que deu origem às
raças ovinas atuais.
No início da domesticação, as ovelhas eram escolhidas por sua carne. Depois,
demonstrou-se o interesse pelo leite, ordenhando-se as ovelhas e constituindo-se uma
nova orientação à cria. Entretanto, a mudança mais importante para o homem, quanto à
domesticação, aconteceu quando o pelo da ovelha selvagem foi substituído por fibras de
lã. Não se pode demonstrar se o aparecimento da ovelha de lã fina foi devido à mutação
ou à seleção, aproveitando-se crias obtidas por meio de cruzamentos consanguíneos.
A origem da espécie caprina remonta milênios, de figuras mitológicas - sativas
(meio-homem - meio-cabra), até inscrições bíblicas (animais para sacrifícios, passando
por animais adorados pelos egípcios). A espécie teve origem no oriente, na Ásia Central

11
de onde passou à Europa por meio de invasões efetuadas por guerreiros asiáticos,
através de diversos caminhos em diferentes épocas. No Brasil os caprinos foram
introduzidos com os colonizadores portugueses, franceses e holandeses, mas somente
em 1910 é que ocorreram as importações de animais com grande potencial de produção.
A domesticação das cabras, assim como à da ovelha, ocorreu 7.000 anos,
período neolítico, antes da Era de Cristo. Foi o segundo animal a ser domesticado pelo
homem, depois do cão, sendo o primeiro a lhe fornecer o leite. O tamanho dos animais,
assim como sua grande utilidade, tanto para fins religiosos, quanto para a alimentação,
facilitaram e colaboraram na tarefa de domesticar.

 Características gerais dos caprinos e ovinos


 Classificação Zoológica
Os caprinos, assim como os ovinos são mamíferos da ordem Artiodactyla, que
compreende os animais ungulados com número par de dedos nas patas e possuem a
seguinte classificação zoológica (Tabela 4):

Tabela 4 - Classificação zoológica de caprinos e ovinos.

Classificação Caprinos Ovinos


Reino Animalia Animalia
Filo Chordata Chordata
Classe Mammalia Mammalia
Ordem Artiodactyla Artiodactyla
Sub ordem Ruminantia Ruminantia
Família Bovidae Bovidae
Sub família Caprinae Caprinae
Gênero Capra Ovis
Espécie Capra hircus Ovis aries

 Diferenças entre caprinos e ovinos


Caprinos e ovinos apresentam grande semelhança fenotípica (características
visuais) (Figura 1), sendo necessário pontuar as principais diferenças morfológicas e
anatômicas (Figura 2) entre estas espécies (Tabela 5).

Tabela 5 - Diferenças entre caprinos e ovinos.

Parâmetros Caprinos Ovinos


Lábios superiores Ausência de fenda Fendidos e móveis
Presença de barba A maioria das raças Não
Chifres Quando apresentam, voltados Quando apresentam,
para trás e de seção ovalada. espiralados e de seção
transversal triangular.

12
Presença de fossas lacrimais Não Sim
e glândulas interdigital e
inguinal
Perfil da cabeça Perfil reto aplanado Perfil convexo
Vértebras caudais Possuem até 16 vértebras, Possuem até 22 vértebras,
com a inserção da cauda com inserção da cauda
voltada para cima, cauda voltada para baixo, cauda
curta e erguida. longa.
Odor hircino Sim (glândula de schietzel) Não
Comportamento Hábito de ramonear (bípede) Menos seletivo, preferência
e mais seletivo/facilidade por gramíneas/andam em
para dispersão. grupo.

Figura 1 - Aspecto externo de um bode e um carneiro, respectivamente.


Fonte: (Google imagens).

a b

c d Caprino

ovino

13
e f

g h

e f

i COMPORTAMENTO

Figura 2 - Diferenças anatômicas e fisiológicas entre caprinos e ovinos. a) glândula interdigital;


b) fossa lacrimal; c) glândula inguinal; d) cauda; e) fenda labial; f) glândula de schetzel; g)
chifres de caprinos; h) chifres de ovinos; i) comportamento de caprinos e ovinos. Fonte: (Google
imagens).

 Principais regiões do corpo de um caprino e ovino


Na Figura 3 apresentam-se todas as partes do corpo de caprinos e ovinos, com
suas respectivas denominações zootécnicas.

14
a

Figura 3 - Principais regiões do corpo de caprinos (a) e ovinos (b).


Fonte: (Google imagens).

 Raças de caprinos e ovinos


Existem diversas raças de caprinos e ovinos no mundo inteiro, algumas das quais
são criadas no Brasil, com o objetivo da exploração de leite, carne, lã ou pele, de acordo
com a aptidão de produção, podendo ser nativas ou exóticas.

 Raças nativas: são aquelas originárias ou que se naturalizaram na própria região e


são geralmente formadas por animais de alta resistência (rusticidade) ao clima
quente ou frio e a uma alimentação pobre durante todo o ano ou parte dele. Elas são

15
muito importantes para os programas de melhoramento genético da criação de
caprinos e ovinos em regime de criação solta (extensivo ou semi-extensivo).
 Raças estrangeiras ou exóticas: são as raças especializadas, que vieram de outros
países ou regiões, que possuem maior capacidade de produção de carne, leite ou lã,
porém apresentam menor resistência ao ambiente mais quente ou mais frio e seco.
São utilizadas para cruzamentos com as raças nativas para melhorar a produção de
carne, leite ou lã.

Na escolha de uma raça a ser criada, deve ser realizada uma criteriosa avaliação
das características voltadas ao objetivo da exploração (leite, carne, pele, lã, etc) e as
condições do meio ambiente. Não existe uma raça superior e sim aquela que melhor
adeque às condições da propriedade. As opções para estes tipos de cruzamentos ou
mesmo para se começar com matrizes puras de alto nível de produção, são muito
variadas sendo que cada produtor deverá conhecê-las uma a uma e optar pela que
melhor lhe convier, observando sempre sua disponibilidade de manejo e alimentação
principalmente. O aumento da produção leiteira, de carne, lã ou de peles, normalmente
são conseguidas através de introdução de animais melhoradores no rebanho.

 Raças de ovinos

Principais raças ovinas especializadas na produção de lã


A lã é considerada um produto de qualidade e excelência na fabricação de vários
materiais. A lã fina possui vantagens especiais, proporcionando conforto, delicadeza e
toque agradável. Mesmo possuindo essas peculiaridades, o seu material é bastante
resistente e indicado para a confecção de vários produtos.

 Merino - Este é o
representante principal da raça Merino
na Austrália, sendo encontrado em
grandes rebanhos na Nova Zelândia, e
Oeste da Austrália. Possui aptidão
para a produção de lã (70%), embora a
seleção para melhorar a qualidade da
Figura 4 - Raça Merino.
Fonte: (Google imagens). carcaça, possa tornar este Merino, uma
raça de dupla aptidão, com produção para carne de 30% (Figura 4). Sua lã é

16
absorvida quase totalmente pelo comércio de têxtil e é caracterizada pela altíssima
qualidade. O velo produzido é pesado, macio, de coloração branca, com um
diâmetro médio de fibra de 20 - 22 mícrons. Regiões de clima seco são os melhores
locais para criar ovino tipo lã. A lã cobre bem e uniformemente todo o corpo, com
exceção das orelhas que são cobertas com pelos curtos e suaves e às vezes possuem
manchas negras. As narinas e lábios devem ser rosados, não se admitindo manchas
pretas. A pele é muito fina, rosada, sem pregas, salvo no pescoço, onde são bem
desenvolvidas e típicas. Os cascos são claros.

 Ideal - É um ovino de
duplo propósito (lã e
carne). Ele é 75% Merino
e 25% Lincoln (Figura 5).
O Ideal responde bem
quando colocado em boas
pastagens e é encontrado
principalmente nas regiões
Figura 5 - Raça Ideal.
de maiores índices Fonte: (Google imagens).

pluviométricos, no Sul da Austrália. A raça Ideal pode possuir ou não chifres,


embora predomine a ausência deles. São animais de porte médio, capazes de
produzir um velo de alta qualidade, branco, macio e com um diâmetro de 22 a 25
mícrons. Além disso, o Ideal tem uma carcaça magra adequada para um grande
mercado de exportação. A lã é um pouco mais grossa que a da raça Merino
Australiano, conservando, no entanto, excelente qualidade em termos de
classificação: enquadra-se, basicamente, nas classes prima A e prima B. A raça Ideal
apresenta 60% de potencial para lã e 40% para carne.

 Corriedale - Foi desenvolvido na Nova Zelândia e na Austrália, através do


cruzamento de carneiros Lincoln ou Leicester com fêmeas Merino (Figura 6).
Depois da raça Merino, é a Corriedale que apresenta maior popularidade no mundo.
O Corriedale é um ovino de duplo propósito (lã e carne). Tem um porte grande e
uma boa qualidade de carcaça. Embora seja uma raça muito utilizada em
cruzamentos com raças produtoras de carne, para produzir cordeiros com altas taxas
de crescimento, o Corriedale puro tem apresentado um bom desempenho. O

17
Corriedale produz lã com um diâmetro
de fibra que varia de 24,5 a 31,5
mícrons. O velo das ovelhas adultas
pesa em torno de 4,5 a 7,7 Kg com um
comprimento de 9 a 15 cm. O
rendimento do velo varia de 50 a 60%.
Os carneiros podem pesar de 79 a 125
kg e as ovelhas 59 a 81 kg. Possui
cabeça larga e forte, denotando
masculinidade nos machos; Sem chifres;
Figura 6 - Raça Corriedale.
Fonte: (Google imagens). Cara sem lã, apenas um topete acima da
linha dos olhos; Nariz escuro com fossas nasais bem abertas; Bons aprumos;
Membros de comprimento médio; Ossatura forte e bem formada, coberta de lã;
Cascos escuros de preferência negros.

Principais raças de ovinos especializadas na produção de carne

Esse grupo apresenta mais exigência em termos nutricionais, carecendo de uma


alimentação mais balanceada. Em relação ao ambiente, adaptam-se melhor às criações
mais intensificadas.

 Dorper - Raça estrangeira


originária da África do Sul, sendo uma
raça altamente especializada para
produção de carne, mas sua pele
também tem grande valor comercial
(Figura 7). O cordeiro Dorper é muito
precoce, podendo chegar a mais de 30
kg de peso vivo aos 90 dias de idade,
Figura 7 - Raça Dorper.
Fonte: (Google imagens). com ganhos médios diários de 160 a
200 g/dia. Sua pelagem dominante é o corpo branco e a cabeça e a região do
pescoço preta. Existe ainda a variedade de pelagem totalmente branca, pouca
difundida no Brasil. É uma raça bem adaptada ao nordeste brasileiro. Os machos
adultos podem atingir 90 kg e as fêmeas adultas, 60 kg, com prolificidade de 1,4

18
crias por parto. A utilização de reprodutores da raça Dorper ou White Dorper é uma
ótima opção para cruzamento visando à melhoria nos índices produtivos de carne.

 Ile-de-France - É uma raça


francesa utilizada para
produção de carne e de lã
(Figura 8). A raça tem boa
aceitação, tanto para criação
pura como para cruzamentos,
visando à produção de carne
nas regiões Centro e Sul do
Brasil, onde estão os maiores Figura 8 - Raça Ile-de-France.
Fonte: (Google imagens).
rebanhos. Apresenta o corpo
todo coberto por lã clara. Apresenta carcaça pesada, compacta e com bom
desenvolvimento nas regiões de cortes nobres (pernil, lombo e paleta). Seus pesos
médios adultos são de 70 a 100 kg nas fêmeas e de 110 a 160 kg nos machos, com
prolificidade de 1,6 cordeiros por parto. É considerada uma raça paterna, sendo uma
excelente opção para ser utilizada em cruzamentos com raças nativas ou SPRD.

 Texel - A raça é originária da


Ilha de Texel, na Holanda (Figura 9).
É conhecida por se adaptar bem em
regiões úmidas, sendo indicada para
criação em áreas de várzeas. É uma
raça de produção mista, carne lã, a
qual possui uma lã branca e produz
Figura 9 - Raça Texel.
Fonte: (Google imagens). ótimas carcaças com gordura muito
reduzida, sendo também muito precoce no abate. Os rebanhos estão em fase de
expansão no Brasil, principalmente nas regiões Sudeste e Sul. Raça rústica adequada
para criação em sistema extensivo e semi-intensivo. Os pesos médios são de 60 - 70
kg nas ovelhas e 75 - 90 kg nos carneiros, com prolificidade de 1,6 cordeiros por
parto, podendo atingir 1,9 a 2,0 cordeiros por parto em sistemas intensivos de
produção. É considerada uma raça paterna. Nos cruzamentos propicia melhor ganho
de peso, precocidade para o abate e bom rendimento de cortes nobres.

19
 Suffolk - É uma raça estrangeira, originária
da Inglaterra, criada mais para produção de
carne que de lã, que não é de boa qualidade.
Pelagem com coloração branca com cara e
membros negros (Figura 10). O rebanho
Suffolk vem crescendo, principalmente no
Sudeste e no Sul do Brasil. Apresenta ótimo
rendimento de carcaça, produzindo carne de
qualidade, com pouca gordura. Os animais Figura 10 - Raça Suffolk.
Fonte: (Google imagens).
dessa raça são de grande tamanho, bom
temperamento e grande rusticidade, adaptando-se tanto no clima semiárido quanto
no clima mais frio. As fêmeas são ótimas mães, dando muitas crias com partos
geralmente fáceis. Pesos médios nas fêmeas de 82 a 90 kg e nos machos de 115 a
130 kg, com prolificidade de 1,3 cordeiros por parto e boa habilidade materna.
Excelente opção para ser utilizada em cruzamentos visando à obtenção de animais
com melhores desempenhos para produção de carne.

Principais raças de ovinos especializadas na produção de leite

 Lacaune - É a mais
conhecida e uma das
melhores raças ovinas
para produção leiteira
(Figura 11). É uma raça
francesa, de pele branca,
com pouca lã, que
apresenta produção média
Figura 11 - Raça Lacaune.
de leite de 140 kg por Fonte: (Google imagens).

período de lactação, embora muitas fêmeas ultrapassem a produção de 200 kg. O


leite é usado para fabricação do famoso queijo Roquefort, que tem grande valor no
mercado internacional. É considerada raça mista, podendo ser explorada também
para produção de carne. Apresenta baixa adaptabilidade ao clima tropical. Possui
pesos médios nas fêmeas de 70 - 80 kg e nos machos de 85 - 95 kg, com
prolificidade de 1,3 cordeiros por parto.

20
 Bergamácia - Apresentam o
corpo coberto por lã de espessura média
e de baixa qualidade, perfil convexo,
orelhas largas, grandes e pendentes, e as
mucosas e a lã são claras (Figura 12). É
de origem italiana, com aptidão para
produção de carne e leite. No Brasil é
mais utilizada para produção de carne
Figura 12 - Raça Bergamácia.
Fonte: (Google imagens). (cruzando fêmeas Bergamácia com
carneiros das raças de corte). São adaptados ao clima quente. O peso médio de seus
cordeiros quando apresentam rápido desenvolvimento, alcança no primeiro mês de
vida o peso de 12 kg. Com 18 a 24 meses, chegam a atingir cerca de 130 a 140 kg,
oferecendo um rendimento de 65 a 70 kg de carne por animal. Recomenda-se a
utilização em cruzamentos como raça materna.

Principais raças de ovinos deslanados

 Santa Inês - É uma raça nativa que surgiu


principalmente do cruzamento da raça
Bergamácia e da raça nativa Morada Nova,
mas teve também a participação de outras
raças em sua formação. Sua aptidão é para
carne (com pouca gordura) e peles. É uma raça
deslanada, muito rústica e prolífica, que se
adapta bem em quase todas as regiões do país.
Figura 13 - Raça Santa Inês.
A pelagem pode ser preta, vermelha, branca Fonte: (Google imagens).

ou chitada (caracteriza-se por uma pelagem


branca com manchas pretas e marrons esparsas por todo corpo) (Figura 13). O peso
médio dos machos adultos é em torno dos 80 kg e das fêmeas, de 60 kg, com
prolificidade de 1,2 a 1,4 cordeiros por parto. A Santa Inês é uma raça materna e
bastante recomendada no país como raça para cruzamentos para produção de carne.
Considera-se raça materna aquela que, para os programas de cruzamento, fornece as
matrizes. Isto ocorre quando a raça possui características naturais ou melhoradas,
tais como boa fertilidade e prolificidade, baixa estacionalidade reprodutiva, boa

21
produção de leite e afeição pela cria. Essa raça tem apresentado boas respostas nos
cruzamentos com reprodutores das raças Texel, Dorper, Ile de France, dentre outras.

 Morada Nova - É uma raça nativa


nordestina (Figura 14), com boa adaptação às
condições edafoclimáticas da região do
nordeste brasileiro, no entanto, o cruzamento
indiscriminado com animais de raças exóticas
tem posto em risco a existência e a
preservação deste importante genótipo. No
Brasil, proliferou mais no estado do Ceará,

Figura 14 - Raça Morada Nova. especialmente no município de Morada Nova.


Fonte: (Google imagens).
Tem aptidão para carne e pele, esta última
considerada de excepcional qualidade. Em comparação com outras raças
especializadas em carne, apresenta baixo ganho de peso e baixa qualidade de
carcaça. A pelagem pode ser branca, vermelha ou preta, como mucosas e cascos
escuros. O peso médio dos machos adultos é de 40 kg e das fêmeas, de 30 kg, com
prolificidade de 1,5 cordeiros nascidos por parto.

 Somalis - É uma raça de porte médio,


deslanada, nativa originária da África.
Uma característica da raça é o acúmulo
de gordura na garupa e na cauda que
poderá ser usado na época de escassez
alimentar (Figura 15). Tem aptidão para
carne e pele. A pelagem é branca em
Figura 15 - Raça Somalis.
todo o corpo com cabeça e pescoço Fonte: (Google imagens).

pretos ou avermelhados. Possui peso médio dos machos adultos de 50 a 60 kg e das


fêmeas de 35 a 45 kg, com prolificidade de 1,4 crias por parto. A Somalis é a mais
rústica dentre as deslanadas, com taxas de mortalidade muito baixas, mesmo em
regime extensivo de caatinga. É considerada uma raça paterna, também chamada de
terminadora, cuja finalidade em um cruzamento é imprimir bom ganho de peso,
precocidade para o abate e bom rendimento de cortes nobres. É indicada para
cruzamento com fêmeas Sem padrão racial definido (SPRD).

22
 Rabo-largo - É uma raça nativa,
também com origem na África do Sul,
deslanada ou com pouca lã, de tamanho
médio, boa para produção de carne e de
peles (Figura 16). A base da cauda é
larga, com uma grossa camada de
gordura, daí o nome da raça. A pelagem
é vermelha, branca ou chitada. É muito Figura 16 - Raça Rabo-largo.
Fonte: (Google imagens).
resistente ao clima semiárido e os
maiores rebanhos se encontram na Bahia. Produz menos crias que as demais raças e
a carne têm excesso de gordura. Os machos adultos pesam entre 45 e 50 kg e as
fêmeas, entre 30 e 40 kg.

 Raças de caprinos
No nordeste brasileiro, predominam as raças consideradas nativas como Moxotó,
Canindé, Repartida, Marota, Graúna, dentre outras. Estas raças foram originadas em
nosso país a partir de animais introduzidos pelos colonizadores europeus, e merecem ser
conservadas, selecionadas e utilizadas, uma vez que esses animais foram submetidos a
uma seleção natural intensa ao longo do tempo, tendo como principais características a
rusticidade e a adaptabilidade. No entanto, raças exóticas também estão presentes na
região, como por exemplo, as raças Anglo-Nubiana, Saanen, Toggenburg, Parda Alpina,
Boer e Murciana.

Principais raças caprinas especializadas na produção de leite


São animais que geralmente apresentam bom vigor, feminilidade, ligações
harmoniosas do úbere, não têm carne em excesso e possuem formato de cunha, com
membros bem aprumados.

 Saanen - É a principal raça leiteira criada no Brasil, contribuindo para a formação e


melhoramento de muitas outras raças leiteiras. É originária da Suíça. A pelagem é
branca ou creme e os pelos são geralmente curtos, e pele rosada (Figura 17).
Possuem características típicas de um animal leiteiro, tais como as costelas bem
arqueadas, ventre bem desenvolvido, o que mostra grande capacidade digestiva.

23
Possui cabeça cônica e alongada, e o
úbere bem desenvolvido, com bons
ligamentos, veias mamárias longas,
grossas e sinuosas. É uma raça
especializada para produção de leite,
podendo produzir de 2,5 a 4,8 kg de leite
por dia, durante um período de lactação
de 255 a 305 dias. Possui reduzida
Figura 17 - Raça Saanen.
rusticidade e, consequentemente, baixa Fonte: (Google imagens).

adaptabilidade às condições do nordeste brasileiro, principalmente por causa da pele


despigmentada. Porém, com regime de meia estabulação ou ambientes sombreados é
uma raça que atinge produções de leite bastante elevadas. Produz em média 3 crias e
cada 2 partos. O peso médio dos machos adultos é de 70 a 80 kg e das fêmeas, de 50
a 60 kg. Existem produtores utilizando os reprodutores Saanen em cruzamentos com
cabras de características produtivas semelhantes (Anglo-Nubiana, Toggemburg),
visando à obtenção de animais mestiços mais adaptados às condições do Nordeste,
produzindo leite em quantidade superior a produção de caprinos de raças nacionais.

 Parda Alpina - É uma raça


também de origem suíça. De
tamanho médio, é tão boa para
produzir leite quanto à raça Saanen.
A pelagem geralmente é castanho-
parda, apresentando linha dorsal e
cauda negras, linha do ventre, cascos
e mucosas pretas, com a cabeça total
Figura 18 - Raça Parda Alpina.
Fonte: (Google imagens). ou parcialmente negra (Figura 18).
Possui aptidão leiteira, com produção variando de 2,0 a 4,0 kg/leite/dia para uma
lactação com duração de 240 a 280 dias. São animais rústicos, possuindo
adaptabilidade as condições semiáridas. O peso vivo médio das fêmeas é de 50 a 65
kg e dos machos, de 75 a 90 kg, com prolificidade de 1,6 cabritos nascidos por
parto.

24
 Toggemburg - É mais uma raça
especializada para produção de leite que
tem origem na Suíça. Apresenta tamanho
de mediano a grande, com pelos longos
ou curtos. A cor básica da pelagem varia
de marrom-clara para castanho
amarelada, cinza e quase prata, com duas
faixas brancas ou creme que vão das
orelhas, passando próximo aos olhos e Figura 19 - Raça Toggemburg.
Fonte: (Google imagens).
terminando ao lado da boca, além de
apresentarem mucosas escuras (Figura 19). São relativamente menos produtivas
que a Saanem e a Parda Alpina, mas chegam a produzir de 2,5 a 4,0 kg/dia de leite,
em uma lactação com duração de 255 a 290 dias. É uma raça rústica, e os pesos
médios dos animais adultos variam de 45 - 60 kg nas fêmeas a 65 - 85 kg nos
machos, com prolificidade de 1,45 cabritos nascidos por parto. É considerada uma
das raças exóticas mais recomendáveis para cruzamentos com raças nativas, visando
aumentar a produção de leite, sem prejudicar a adaptabilidade dos animais.

 Murciana - É considerada umas melhores raças


leiteiras do mundo. Sua origem é a Espanha. O
tamanho é considerado de médio a grande e a
pelagem predominante é negra ou castanha, com
as mucosas escuras (Figura 20). Tem aptidão
para produção de leite e carne, com
produtividade média de 2,5 kg/leite/dia em um
período de lactação em torno de 120 dias.
Possui boa adaptabilidade, com bom Figura 20 - Raça Murciana.
Fonte: (Google imagens).
desempenho em clima seco e quente. As fêmeas
adultas apresentam peso vivo médio de 40 - 60 kg e os machos de 55 - 80 kg e
prolificidade de 1,41 a 1,95 cabritos nascidos por parto. Indicada para cruzamentos
com as raças nativas e animais SRD.

25
Principais raças caprinas especializadas na produção de carne

 Boer - É uma raça estrangeira que veio


da África do Sul. É a raça caprina mais
especializada para produção de carne,
com ganho de peso da ordem de 150 a
170 g/dia, devendo ser utilizada
preferencialmente para cruzamentos com
raças comuns (SPRD). A pelagem é
branca com cabeça e pescoço vermelhos,
claros ou escuros, com pele de coloração
escura (Figura 21). Possuem corpo forte,
compacto, com boa conformação Figura 21 - Raça Boer.
Fonte: (Google imagens).
muscular, costelas bem arqueadas e peito
largo. Os machos adultos podem pesar 100 kg e as fêmeas, 80 kg. São animais
rústicos e bem adaptados, com prolificidade de 1,8 cabritos nascidos por parto.

 Savanna - A Savanna é uma raça


de corte originária da África do Sul e
recentemente chegada ao Brasil,
importada pelo governo do estado da
Paraíba. É um animal de grande porte,
bastante resistente aos parasitos e ao
clima semiárido. A pelagem é branca,
Figura 22 - Raça Savanna. com pelos curtos e pele escura (Figura
Fonte: (Google imagens).
22). O peso vivo médio nas fêmeas
adultas está na faixa dos 50 - 70 kg e nos machos de, 80 - 100 kg.

 Kalahari - É outra raça caprina de corte


da África do Sul, importada recentemente
pelo Brasil. O Kalahari é um Boer de
outra cor que agradou os produtores pela
sua produtividade em carne, pela sua
maior resistência ao sol e pela cor

Figura 23 - Raça Kalahari.


Fonte: (Google imagens).

26
vermelha, que eles acreditam que evita mais os animais selvagens (predadores). A
pelagem é vermelha ou cinza vermelho e a pele é escura (Figura 23). Fêmeas
adultas atingem 50 - 70 kg de peso vivo e os machos atingem 70 - 90 kg.

 Anglo-nubiana - É uma raça estrangeira que se


originou na Inglaterra. É considerada uma raça
mista, servindo tanto para ser explorada para
produção de carne como para produção de leite,
com produção de 2 a 3 kg de leite/dia, numa
lactação de 210 dias. É uma das raças
estrangeiras mais difundidas no Brasil, sendo
muito utilizada em cruzamentos com raças
nativas e com SPRD, por ser uma raça rústica,
produzindo mestiços com boa aptidão leiteira, Figura 24 - Raça Anglo-Nubiana.
Fonte: (Google imagens).
precoces e com carne de qualidade. Sua pelagem
pode ser castanho escuro, baia ou cinza, com manchas pretas ou castanhas
(conhecido como padrão tartaruga) (Figura 24). Os pesos médios são de 60 a 70 kg
para os machos adultos e de 40 a 50 kg para as fêmeas, com prolificidade que varia
de 1,3 a 2,0 cabritos nascidos por parto.

Principais raças caprinas nativas

 SPRD (Sem Padrão Racial


Definido) - São animais que
resultam dos cruzamentos
indiscriminados das raças nativas
das diversas regiões, entre si e
com as raças estrangeiras que
foram introduzidas (Figura 25). A
pelagem é muito variada,
Figura 25 - Caprinos SPRD.
apresentando animais de diversas Fonte: (Google imagens).

cores e combinações de cores. Mais de 70% do rebanho da região Nordeste é


formado de SPRD. Servem tanto para leite como para carne e pele. Quando criados
soltos no pasto nativo, os machos adultos pesam em média entre 35 e 40 kg e as
fêmeas entre 28 e 32 kg.

27
 Moxotó - Raça nativa que se desenvolveu
no semiárido, notadamente no vale do rio
Moxotó, em Pernambuco. A pelagem é
branca ou baia com lista preta pronunciada
na linha dorso-lombar, no ventre, parte
interna das orelhas, focinho e parte inferior
dos membros (Figura 26). Possui pele
preta, mucosas escuras, cascos escuros e
fortes. É boa produtora de carne, leite e
peles. De cada 100 cabras paridas, nascem Figura 26 - Raça Moxotó.
Fonte: (Google imagens).
cerca de 150 crias por ano, em sistema
extensivo. Os machos adultos pesam, em média, de 35 a 40 kg e as fêmeas de 25 a
30 kg. A produção leiteira é de 0,5 kg/dia em um período de 120 dias. Possui boa
adaptação às condições de radiação solar e uma prolificidade de 1,36 cabritos
nascidos por parto. Única raça brasileira apresentada no padrão homologado pela
Associação Brasileira de Criadores de Caprinos - ABCC como de múltipla aptidão.

 Repartida - Pelagem clara e


escura, dividida ao meio, com delimitação
irregular. Os membros são fortes e baios
com manchas pretas nas extremidades e
apresentam pelos pretos nos quartos
posteriores, nas coxas e pernas (Figura
Figura 27 - Raça Repartida.
Fonte: (Google imagens). 27). A cauda é preta na parte dorsal e clara
nos bordos. Possui aptidão para produção de pele e carne. É uma raça rústica,
adaptada às condições do semiárido, com peso
médio de 36 kg para animais adultos e
prolificidade de 1,2 cabritos nascidos por parto.

 Canindé - Raça nativa formada nos sertões do


Piauí. Apresenta pelagem preta com ventre,
lombo, pernas, de cor castanha clara ou escura e
possuem manchas amarelas ou brancas em torno
Figura 28 - Raça Canindé.
dos olhos, descendo duas listras dessa mesma Fonte: (Google imagens).

28
coloração até a comissura labial (Figura 28). É criada para a produção de carne e
leite. Sua produção de leite se destaca entre as raças nativas. É uma raça rústica,
adaptada às condições do semiárido. Os machos adultos pesam entre 33 a 40 kg e as
fêmeas, entre 25 a 35 kg, com prolificidade que varia de 1,29 a 1,43 cabritos
nascidos por parto.

 Marota - Segundo alguns autores,


esta raça se originou de raças trazidas
pelos colonizadores. Existem
rebanhos representativos no Brasil,
principalmente nos sertões da Bahia e
Pernambuco. Esta raça tem como
característica principal a pelagem toda
branca (Figura 29). Podem ocorrer
Figura 29 - Raça Marota.
pequenas pintas escuras na face Fonte: (Google imagens).

interna das orelhas. A pele, mucosa e cascos são claros, mas apresentam
pigmentação na cauda. Alguns animais possuem pelos ásperos, tipo angorá. Possui
aptidão para produção de pele e carne e são animais dotados de alta rusticidade, com
boa adaptação ao nordeste brasileiro. Machos adultos pesam em torno de 35 a 40 kg
e as fêmeas adultas de 30 a 35 kg, com prolificidade entre 1,3 a 1,53 cabritos
nascidos por parto.

4. Cronometria Dentária

Os ruminantes possuem os dentes incisivos (da frente) apenas na arcada inferior


(mandíbula) e na arcada superior (maxilar) apresentam uma "almofada" chamada de
pulvino dentário (Figuras 32).
Assim como as demais espécies, os pequenos ruminantes apresentam duas
dentições: uma decídua (de leite ou temporária) e uma definitiva (permanente). A
erupção dos dentes de leite ocorre nos primeiros dias de vida do cabrito/cordeiro e são
substituídos gradualmente por dentes definitivos à medida que o animal envelhece.

29
Os dentes de leite são mais delicados, menores, mais finos e mais claros (Figura 30 A).
Já os permanentes são maiores, amarelados e com estrias (Figura 30 B).

Figura 30 - Dentição decídua (de leite) em animal jovem (A) e definitiva em animal adulto (B).
Fonte: (Milkpoint.com.br).

Essa primeira dentição de leite é constituída por 8 dentes incisivos (somente na


arcada inferior) e 12 molares, totalizando 20 dentes. Já a dentição permanente (após
todas as trocas) é formada por 32 dentes, conforme podemos observar na Tabela 6.

Tabela 6 - Dentição de caprinos e ovinos adultos.

Por meio da avaliação da arcada dentária e da evolução dos dentes incisivos


(troca do decíduo pelo permanente e desgaste) é possível determinar a idade aproximada
dos caprinos e ovinos. Porém, essas mudanças e desgastes dos dentes podem variar em
função de inúmeros fatores, inclusive alimentação, que podem prejudicar a avaliação,
não sendo este um método preciso e apenas uma estimativa. Essa avaliação é muito
importante para rebanhos que não fazem controle zootécnico dos animais. Além disso,

30
sempre que se pretende comprar um animal é muito importante fazer essa avaliação
para verificar a real idade do animal.
A determinação da idade dos caprinos e ovinos por meio da avaliação da
dentição é um processo relativamente simples. Para isso, primeiro é necessário conter
adequadamente o animal, levantar o lábio superior e abaixar o inferir, expondo os
dentes incisivos, conforme a Figura 31.

Figura 31 - Exposição da dentição incisiva.


Fonte: (Milkpoint.com.br).

Na Figura 32 são apresentados os dentes incisivos (inferiores) que são utilizados


para determinação da idade aproximada dos animais. Esses dentes são classificados em:
pinças (dentes da frente), primeiros médios, segundos médios e cantos, totalizando
quatro pares.

Figura 32 - Dentição incisiva inferior dos pequenos ruminantes utilizados para verificação da
idade do animal. Fonte: (Milkpoint.com.br).

31
 Dentes de leite, definitivos e desgaste x idade do animal
Os cabritos e cordeiros nascem sem dentes e nos primeiros 3-4 dias nascem às
pinças e os primeiros médios. Com 10-14 dias de idade nascem os segundos médios e
com 25-30 dias de idades, os cantos.
Em torno de 1 ano de idade inicia a primeira troca da dentição de leite pela
permanente. O primeiro par de dentes a ser substituído é a pinça (dente da frente).
Existe pequena variação (meses) entre as épocas de trocas dos dentes incisivos quando
comparamos animais de raças ou espécie (caprino ou ovino) diferentes. No entanto,
como esta variação é pequena e a determinação da idade pela avaliação da arcada
dentária é uma estimativa aproximada, podemos utilizar um esquema geral conforme a
Tabela 7.

Tabela 7 - Idade de erupção da dentição permanente e de desgaste em ovinos e caprinos.

Dentes permanentes Dentição permanente Desgaste


Pinças 1 a 1,5 anos 4 anos
Primeiros médios 1,5 a 2 anos 5 anos
Segundos médios 2,5 a 3 anos 6 anos
Canto 3,5 a 4 anos 7 anos
Pré-molares 1,5 a 2 anos
1º Molar 3 meses
2º Molar 9 a 12 meses
3º Molar 1,5 a 2 anos
Fonte: Adaptado de Pugh (2005).

A partir dos 4 anos de idade, todas as trocas de dentes de leite pelos permanentes
já foram realizadas e o animal é chamado de "boca cheia". Nessa fase a estimativa da
idade deve ser feita pela avaliação do desgaste ou arrasamento dos dentes. O desgaste
ocorre pelo desaparecimento da parte superior e o surgimento do avale (arrasamento do
dente). Porém, animais que recebem alimentos mais grosseiros e com alto teor de fibra
podem apresentar maior desgaste dos dentes, o que dificulta a avaliação nessa fase.
Após ocorrer o desgaste de todos os dentes incisivos (utilizados para avaliação
da idade), por volta dos 6 a 7 anos, começa o afastamento aparente dos dentes. Este
afastamento inicia das pinças para os cantos, apresentando-se em todos os dentes por
volta dos 9 anos.
Animais com idade avançada podem apresentar perdas de dentes. Estas perdas
estão diretamente relacionadas com a dieta, o estado nutricional e sanitário do animal.

32
5. Controle Zootécnico

O controle zootécnico ou escrituração zootécnica consiste em anotar dados


importantes do rebanho com o objetivo de criar um conjunto de informações que serão
utilizadas para organização, controle e planejamento das ações. Para que essa prática
seja implementada de maneira correta, devem-se observar alguns pontos fundamentais:
identificação individual dos animais, equipe treinada para fazer as anotações, planilhas
adequadas para a coleta dos dados e interpretação e avaliação dos resultados.

 Identificação dos animais: é fundamental, pois cada animal será acompanhado


individualmente.
 Coleta de dados: é importante que as planilhas sejam simples e objetivas.
Recomenda-se o uso de cadernos para anotar informações do dia a dia e posterior
transferência para o computador. Para realizar a coleta de dados podem-se dividir as
anotações em quatro cadernos:

Caderno 1 - Utilizado para anotar informações sobre a mãe e a cria, conforme exemplo
a seguir:
Data do parto Mãe Cria Desmama
Observações
Nº Peso Nº Peso Sexo Data Peso

Caderno 2 - Este caderno conterá as informações relacionadas à reprodução. Devem-se


anotar todas as cobrições ocorridas durante a estação de monta. No caso de monta a
campo, deve - se anotar o período da estação de monta, a identificação das fêmeas e do
reprodutor de cada lote. Caso sejam utilizados mais de um reprodutor por lote, também
deverão ser anotados.
Data da cobertura Matriz Reprodutor Observações
Nº Nome Raça Nº Nome Raça

Caderno 3 - Será utilizado para anotar os dados referentes a mortes ou saída de animais
da propriedade. O campo “Motivo da Baixa” é muito importante, pois permitirá
conhecer as causas de morte na propriedade e controle sobre a venda de animais.
Dados do animal
Data da baixa/saída Motivo da baixa
Nº Nome Raça

33
Caderno 4 - será utilizado em sistemas de produção de leite, como subsídio ao controle
leiteiro. Cada matriz deverá ter uma ficha para anotação individual. Esse controle
poderá ser feito diariamente, semanalmente, quinzenalmente, sendo que, o de maior
praticidade é o controle mensal.
Lactação
Identificação da fêmea
Data início Data fim
Data Ordenha 1 Ordenha 2 Total Observações

Além desses cadernos, é importante manter na propriedade um controle


denominado “Caderno Diário”, no qual são anotadas todas as atividades e ocorrências
diárias, como entrada de produto, uso de ração, animais que foram medicados,
vacinados, vermifugados, adubação de piquetes, etc.

 Interpretação e avaliação dos resultados: os dados coletados precisam ser


utilizados para gerar informações ou índices zootécnicos que auxiliem na tomada de
decisões e no planejamento das atividades. Com esses resultados será possível
avaliar a eficiência produtiva e reprodutiva do rebanho, como por exemplo:

- Qual matriz pode ser descartada?


- Como aumentar o peso de desmama das crias?
- Qual a produção de leite?

Para a avaliação da eficiência produtiva podem ser utilizados os seguintes


índices:
 Período da lactação: consiste no período entre o início e término da lactação.
 Período seco: compreende o período entre o final de uma lactação e o início de uma
lactação subsequente.
 Produção de leite por lactação: é a produção total de leite da fêmea durante o
período que durar a lactação.
 Taxa de mortalidade: é calculada em porcentagem, sendo uma relação entre o
número de mortes ocorridas e o número de animais existentes.
 Ganho de peso médio diário: o ganho de peso nos diferentes períodos é calculado
subtraindo o peso atual do peso anterior e dividindo pelo número de dias entre as
pesagens, conforme a equação:
Ganho de Peso Médio = peso atual - peso anterior
nº de dias entre as pesagens

34
6. Referências

BEEF & LAMB NEW ZEALAND. Disponível em: www.beeflambnz.com. Acesso em


05 de julho de 2021.
CORREIA, R. C.; KIILL, L. H. P.; MOURA, M. S. B.; CUNHA, T. J. F.; JESUS
JÚNIOR, L. A.; ARAÚJO, J. L. P. A região semiárida brasileira. In: VOLTOLINI,
T. V. (Ed.). Produção de caprinos e ovinos no Semiárido. Petrolina: Embrapa
Semiárido, 2011. cap. 1, p. 21-48.
EUROSTAT. Disponível em: epp.eurostat.ec.europa.eu. Acesso em 05 de julho de
2021.
FAOSTAT. Disponível em: faostat.fao.org. Acesso em 05 de julho de 2021.
FERNANDES, M. A. M.; BARROS, C. S.; PERES, M. T. P.; XAVIER, M. L. C.
Aprendendo a conhecer os caprinos e ovinos - Parte II - Dentição decídua e
permanente. Disponível em: <https://www.milkpoint.com.br/>. Acesso em: 01 de
julho de 2021.
GUIMARÃES FILHO, C.; ATAÍDE JÚNIOR, J. R. Manejo básico de caprinos e
ovinos. Brasília: SEBRAE, 2009.146 p.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Dados Estatísticos e Censo
Agropecuário. Disponível em: www.ibge.gov.br. Acesso em 05 de julho de 2021.
MAGALHÃES, K. A.; HOLANDA FILHO, Z. F.; MARTINS, E. C.; LUCENA, C. C.
Caprinos e ovinos no Brasil: análise da Produção da Pecuária Municipal 2019. CIM.
Centro de Inteligência e Mercado de Caprinos e Ovinos. Boletim Nº 11 | Sobral, CE
- dezembro, 2020.
MARTINS, V. N.; MARCHETTI, M. E.; GARCIA, R. G. Qualidade da Carne de
Ovinos: depende do bem-estar do animal na produção. Cadernos de Agroecologia,
v. 4, n. 6, p. 74-81, 2015.
MEAT AND LIVESTOCK AUSTRÁLIA. Disponível em: www.mla.com.au. Acesso
em 05 de julho de 2021.
PRODUÇÃO DA PECUÁRIA MUNICIPAL - PPM. V. 47, p. 1-8, Rio de Janeiro,
2019.
SANDOVAL JR., P.; VIDAL, O. R.; ARAGÃO, I. M. A.; MATOS, R. S.; SALLUM,
W. B. Manual de criação de caprinos e ovinos. 1ª ed. Brasília : Codevasf, 2015.
141p.
SILVA, M. G. C. M.; DINIZ, C. R.; ROSADO, A. C. Criação racional de caprinos.
Lavras: UFLA, 2015. 98 p.
SILVA, M. G. C. M.; DEL VALLE, T. A. Produção de caprinos. Lavras : Ed. UFLA,
2018. 109 p.
SÓRIO, A. Diagnóstico da oferta e demanda de ovinos e caprinos para
processamento de carne, pele e leite na região central do Tocantins. 2017.
Disponível em: https://central3.to.gov.br/. Acesso em: 05 de julho de 2021.

35

Você também pode gostar