Você está na página 1de 8

Revista Eletrônica Interdisciplinar

http://revista.univar.edu.br

ISSN 1984-431X
Ano de publicação: 2017 - N°:17 - Vol. 01
USO DE ALIMENTOS VOLUMOSOS NA ALIMENTAÇÃO DE EQUINOS:
UMA REVISÃO
Valdes Antônio de Morais Neto1 , Natalia Holtz Alves Pedroso Mora2* , Denise da Costa Barboza Carmo3 , Reíssa Alves Vilela4 ,
Laura Baialardi Galvão5

RESUMO
Objetiva-se mostrar os diferentes tipos de volumosos mais utilizados para equinos. O Brasil possui o quarto
rebanho de equídeos no mundo e movimenta bilhões de reais por ano, resultando em maior atenção para
essa área. O uso de volumosos é de extrema importância para esses animais graças a sua função fisiológica
e nutricional, como exemplo forragens frescas, secas e fermentadas. A falta de conhecimento e
especificação de volumosos para equinos dificulta cumprir com as exigências nutricionais por categoria.
Por isso, cabe aos profissionais da área elaborar planos nutricionais de equinos em regiões específicas para
que o desempenho deste seja satisfatório.
Palavras-chave: agronegócio, equinocultura, forragens, nutrição

ABSTRACT
The objective of this study is show the different types of forages most used for equines. Brazil has the fourth
herd of equidae in the world and moves billions of reais per year, resulting in greater attention to this area.
The use of forages is extremely important for these animals, because of their physiological and nutritional
function, for example, fresh, dried and fermented forages. The lack of knowledge and specification of
forages for equines makes it difficult to fulfill, as nutritional requirements by category. Therefore,
professionals of the area should develop nutritional plans of horses according to the region, in order that
their performance is satisfactory.
Key-words: agribusiness, equinoculture, forages, nutrition
1
Graduado em Zootecnia nas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia.
2
Prof. Dra. Orientadora no Departamento de Ciências Agrárias nas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia
(UNIVAR). *E-mail para correspondência: nzootecnia@gmail.com
3
Profa. Esp., Departamento de Ciências Agrárias, UNIVAR.
4
Profa. Dra., Departamento de Ciências Agrárias, UNIVAR.
5
Graduada em Medicina Veterinária nas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia.

1. INTRODUÇÃO ferrageamento, médicos veterinários,


A população mundial de equídeos está zootecnistas, treinadores, transporte e, a área de
estável nas últimas décadas, estima-se ensino e pesquisa (ALMEIDA; SILVA, 2010).
atualmente 113.473.522 cabeças (FAO, 2008). Os equinos diferenciam-se de outros
Segundo Almeida e Silva (2010), os equinos herbívoros porque são muitos seletivos, capazes
estão distribuídos nos continentes da seguinte de suprir a maior parte ou a totalidade da sua
forma: África 7,7%; América 57,2%; Ásia demanda nutricional pela consumo de uma
23,6%; Europa, 10,8%; e Oceania, com 0,7%, extensa ordem de forragens e até raízes
sendo notória a concentração da produção e (DITTRICH et al., 2010). Esses animais
utilização dos equinos nas Américas. apresentam a região ceco-cólica altamente
No Brasil, a população de equídeos, desenvolvida, sendo este o principal sítio de
quarta maior do mundo, é estimada em 7.986.023 fermentação (BRANDI; FURTADO, 2009), e
cabeças, sendo 5.541.702 equinos, 1.130.795 onde ocorrem a formação dos ácidos graxos
asininos e 1.313.526 muares (ALMEIDA; voláteis.
SILVA, 2010). Conforme Lima et al. (2006), esta A inexistência de forragens na dieta do
cadeia produtiva movimenta cerca de R$ 7,5 equino pode conduzir a distúrbios digestivos,
bilhões e contribui com cerca de 3,2 milhões de pois o mesmo possui uma exigência absoluta de
empregos diretos e indiretos no Brasil. Além volumoso o que permite seu aparelho digestivo
disto, este segmento tem vários fornecedores de funcionará normalmente (DOMINGUES, 2009).
insumos, produtos e serviços para a criação, Esta exigência pode ser suprida por volumosos
como medicamentos, rações, selas e acessórios, frescos, secos ou fermentados.

123
Revista Eletrônica Interdisciplinar
http://revista.univar.edu.br

ISSN 1984-431X
Ano de publicação: 2017 - N°:17 - Vol. 01
A literatura internacional indica palatabilidade. Estudos a respeito dos padrões de
alimentos e exigências em diversas fases de comportamento de equinos livres em pastagens
crescimento e desenvolvimento desses animais mostram que o tempo de pastejo encontrado foi
(NRC, 2007), mas com a vasta extensão de 10 a 18 horas por dia, com duração de 2 a 3
territorial do Brasil, é comum a utilização de horas por refeição, interrompidos por períodos de
volumosos como fonte única ou em maioria. descanso, locomoção e atividades sociais ou
Segundo Furtado, Brandi e Ribeiro (2011), a descanso (DUNCAN, 1980; DITTRICH, 2001).
alimentação nacional baseia-se na relação Diversos autores relatam que a grande
pastagens e fenos (volumosos mais usuais) variabilidade encontrada no tempo de pastejo se
versus concentrado, que tem uma variação de deve principalmente às condições ambientais,
acordo com as exigências nutricionais de cada estrutura e qualidade da pastagem (GOMES,
categoria. 2004; DITTRICH et al., 2005, ZANINE et al.,
Conhecer fontes de volumosos pode 2006).
orientar produtores e novos investidores na A inexistência de forragens na dieta do
criação, assim como diminuir o custo de cavalo pode conduzir a distúrbios digestivos,
alimentação destes animais. O objetivo da pois é necessário o consumo de volumoso para
revisão foi descrever sobre as características de que seu aparelho digestivo funcione
diferentes tipos de volumosos na alimentação de normalmente. A dieta do cavalo em crescimento
equinos. pode ser composta de componentes simples,
como colostro, leite, água, forragem e
2. HÁBITO ALIMENTAR NATURAL DOS concentrados. Cavalos acostumam-se com os
EQUINOS sabores e texturas dos alimentos que lhe são
Segundo Boyd e Keiper (2005), oferecidos durante o crescimento, portanto, é um
conhecer o comportamento natural das comportamento associativo de aprendizado
populações de cavalos selvagens ou domésticos materno-filial (CYMBALUK, 1983) e a aversão
livres em pastagens traz proveitos para avaliação de sabores também se enquadra nesse perfil.
comportamental da evolução atual destes A pastagem atua na manutenção do
animais. Os cavalos são herbívoros, o que equilíbrio psíquico do cavalo, serve para o
significa que gramíneas e outros tipos de relaxamento muscular e para a síntese de
forragem são componentes dietéticos naturais. vitamina D (VICTOR; ASSEF; PAULINO,
Como a digestão fermentativa dos equinos é pós- 2007). Pela seleção que sofreram e pela presença
ileal, diferentemente dos ruminantes, a estratégia das adaptações anatômicas e fisiológicas que
nutricional destes animais consistem em apresentam atualmente, os equinos são animais
consumir suas necessidades de forragem durante que deveriam sempre ter sua criação e utilização
grande parte do dia, pois somente uma pequena em condições que permitisse sua permanência
fração, menos de 30%, da energia disponível será em pastagens, com boa qualidade e oferta de
aproveitada (HOUPT, 2005). forragem adequada ao numero de animais
Estes animais, em virtude de suas (DOMINGUES, 2009).
características anatômicas e fisiológicas, Os cavalos apresentam melhor
apreendem menor quantidade de forragem por desempenho e comportamento, quando estão
bocado, e a uma menor velocidade. Por livres em piquetes. Entretanto, por exigir
conseguinte, a ingestão de forragem é mais lenta extensões de terra consideráveis, torna muitas
que a de outros herbívoros, obrigando-os a vezes este sistema de criação inviável para
dedicarem mais tempo ao pastejo (ARNOLD; muitos proprietários (THORNE et al., 2005) o
DUDZINSKI, 1978). Em ambientes naturais, que resulta em maior permanência em baias, o
estes animais gastam em torno de 60 a 70% do que alterna totalmente seu comportamento
tempo em pastejo, e o restante, com descanso, a natural com aparecimento de estereótipos, como
procura de novos pastos e socialização com aerofagia. Muitos casos de mastigação de
outros da mesma espécie (DUNCAN, 1983). madeira, mastigação de cauda pode ser devido ao
Segundo o NRC (2007), equinos são estresse e a falta de fibras na dieta dos equinos
considerados pastejadores altamente seletivos, (ANDRAE; HEUSNER, 2014)
podem pastejar até chegar ao nível do solo, Segundo Dittrich et al. (2010), devido à
causando uma considerável pressão de pastejo influência das características vegetais na
em espécies de forrageiras com alta preferência dos equinos os trabalhos realizados

124
Revista Eletrônica Interdisciplinar
http://revista.univar.edu.br

ISSN 1984-431X
Ano de publicação: 2017 - N°:17 - Vol. 01
neste tema têm apresentado resultados bastante De acordo com Reis, Bernardes e
variáveis. As informações relativas à preferência Siqueira (2013), as espécie Brachiaria brizantha,
entre espécies forrageiras apropriadas à destacam-se na pecuária nacional não só pela
alimentação de equinos em clima subtropical e produtividade, mas também pelo número de
tropical são escassas. cultivares disponíveis no mercado de sementes.
Os gêneros de volumosos mais Os principais cultivares dessa espécie são:
utilizados para alimentação de equinos no Brasil Brachiaria brizantha cv. Marandu, que é
são Brachiaria spp., Chloris spp., Cynodon spp., predominantemente utilizada sob sistema de
Digitaria spp., Panicum spp., Paspalum spp., pastejo de lotação continua ou pastejo
Pennisetum spp. para gramíneas; Desmodium intermitente; Brachiaria brizantha cv. Xaraés,
spp., Glycine spp., Lotononis spp. e foi desenvolvida para que se evitasse o
Macroptilium spp. para leguminosas (WEBB et monocultivo da cultivar Marandu,
al., 1990). principalmente no Brasil Central; Brachiaria
O conhecimento das interações dos brizantha cv. Piatã, uma das mais recentes
equinos com o dossel forrageiro é uma cultivares da espécie, tem sua produção por
importante ferramenta para o incremento do animal maior do que a cultivar Marandu. É
manejo e manutenção de áreas utilizadas por comum a utilização de Brachiaria como
cavalos em pastejo (DITTRICH et al., 2007). volumoso para equinos, principalmente no
Brasil, onde a maioria dos cavalos, utilizados
3. USO DE VOLUMOSOS FRESCOS NA para trabalho, ficam no mesmo piquete utilizado
DIETA PARA EQUINOS por bovinos.
3.1 Cynodon Spp. 3.2.1 Brachiaria humidicola
A evolução do uso dos capins Cynodon no É umas da mais rusticas do gênero
território brasileiro para equinos é pouco Braquiária, devido a sua adaptação a condições
documentada, e a maioria dos trabalhos de de solos ácidos e muito pobres em fósforo. Seu
pesquisa reporta sobre avaliações de acessos principal uso é para pastejo de bovinos, mas
importados das Américas Central e do Norte também é bastante aceita por equinos (REIS,
(FONSECA; MARTUSCELLO, 2010). BERNADES, SIQUEIRA, 2013),
Atualmente, de acordo com Pedreira e No nordeste ocorrem surtos de
Tonato (2006), os cultivares mais comumente fotossensibilização em equinos, regionalmente
utilizadas no Brasil como recurso forrageiro são: conhecidos como sarna (RIET-CORREA et al.,
Estrela roxa, Tifton 68, Tifton 78, Coastcross e 2007). Estudos de surtos naturais e reprodução
Tifton 85. Os capins do gênero do Cynodon ssp. experimental comprovaram que a planta
dividem-se em dois grupos: as “gramas” e as Froelichia humboldtiana (Amaranthacea),
“estrelas”. popularmente conhecida como ervanço, é uma
O gênero Cynodon ssp. é o mais importante causa de fotossensibilização
indicado para equinos, pois apresenta boa (PIMENTEL et al. 2007).
cobertura do solo, aceitabilidade e bom rebrote. Conforme Knupp, Borburema e
Alguns aspectos como custo de implantação, Medeiros (2014) não existem relatos de surtos
também devem ser levados em conta, pois naturais de fotossensibilização em equídeos
espécies deste gênero se multiplicam por muda, causados pela ingestão do ervanço.
dentre eles o Tifton, Coastcross e o Capim De acordo com Pimentel et al. (2007),
Estrela. Estas forrageiras, quando comparadas em geral as lesões de fotossensibilização nos
aos que se multiplicam por semente (Mombaça, equídeos afetam as partes despigmentadas da
Batatais) ou até mesmo a Brachiaria humidicola pele e os animais se recuperam em poucos dias
(semente e muda) são por volta de 30 a 50% mais após serem retirados das pastagens. Alguns
caras na sua implantação. Para tanto, cabe ao animais podem apresentar lesões em áreas
produtor avaliar o custo-benefício destes capins pigmentadas e, em outros casos, as lesões
(MARCELO; FACTORI, 2015). demoram a regredir, mesmo após a retirada dos
3.2 Brachiaria spp. animais das áreas com ervanço, em consequência
O gênero Brachiaria possui cerca de do prurido que faz com que os animais se cocem
100 espécies, de origem principalmente tropical seguidamente causando lesões secundárias.
e subtropical africana (KELLER-GREIN et al., Ressalta-se que o uso da Brachiaria
1996). humidicola para pastejo é possível, mas o uso

125
Revista Eletrônica Interdisciplinar
http://revista.univar.edu.br

ISSN 1984-431X
Ano de publicação: 2017 - N°:17 - Vol. 01
intensivo desta pastagem para equinos pode levar alimentados com feno de alfafa parecem produzir
a um distúrbio metabólico, osteodistrofia fibrosa, melhor tecido córneo nos cascos do que os que
conhecido popularmente como cara-inchada, que recebem feno de gramíneas.
nada mais é do que o inchaço na face, provocado Em um país tropical, devido ao
pelo preenchimento dos ossos, por um tecido elevado teor de umidade do volumoso e a elevada
conjuntivo fibroso em função da anterior retirada temperatura ambiente, assim que é embalado,
do cálcio destes ossos e abertura de lacunas entre inicia-se o processo de fermentação aeróbica que
eles (MARCELO; FACTORI, 2015). produz ácidos não palatáveis ao equino,
As plantas que apresentarem níveis de propiciando o aparecimento de fungos, com
oxalatos superiores a 0,5% e relação riscos de cólicas e intoxicações elevados
cálcio/oxalato inferior a 0,5 são consideradas (CINTRA, 2016).
potencialmente tóxicas para equinos. As atividades de manejo do feno
(MCKENZIE, 1988). adquirido ou produzido na propriedade devem
sempre ter em vista a qualidade nutricional, a
3.3 Panicum ssp. segurança alimentar e o bem estar animal, ações
As plantas do gênero Panicum são incorretas ou negligentes podem fazer com que
caracterizadas pelo seu grande potencial de rações ou fenos percam sua qualidade original
produção de forragem sendo, menos flexíveis em função de um manejo nutricional inadequado
que plantas como as do gênero Braquiária por (SANTOS, 2014).
apresentarem limitações e/ou dificuldades para Muck e Shinners (2001) relataram que o
serem manejadas sob lotação contínua, feno é uma das formas de conservação de
prevalecendo, de uma maneira geral, o seu uso na forragem mais utilizadas em todo o mundo,
forma de pastejo rotacionado. Dentre os diversos principalmente, nos locais onde as condições de
cultivares, Panicum maximum cv. Mombaça e secagem são favorecidas.
cv. Tanzânia adquiriram grande destaque nas
áreas de pastagens cultivadas do país (SILVA, 5. USO DE VOLUMOSOS FERMENTADOS
2004). NA DIETA PARA EQUINOS
Este tipo de forrageira deve ser evitadas O uso de silagens para equinos ainda
para equinos em crescimento, já que podem se levanta suspeita como causadoras potenciais de
lesionar em virtude do aspecto de touceiras. problemas neurológicos, pelo fato de estarem
Podem ser usadas para animais adultos, em suma, erroneamente associadas a uma presença
não há grandes restrições nutricionais constante de fungos e contaminação por
(MARCELO; FACTORI, 2015) micotoxinas (DOMINGUES, 2009). Conforme
Os capins mais utilizados para o corte Peiretti e Bergero (2004), alguns casos de
são o capim-elefante (Pennisetum purpureum), botulismo foram detectados em cavalos devido à
colonião (Panicum maximum), cameron má conservação de forragens.
(Pennisetum purpureum schum) e coast-cross No Brasil as espécies forrageiras mais
(Cynodon dactylon) (CINTRA, 2011). utilizadas para produção de silagem são o milho,
o sorgo e o capim-elefante. Entretanto, existem
4. USO DE VOLUMOSOS SECOS NA outras forrageiras como cana-de- açúcar,
DIETA PARA EQUINOS Brachiaria spp., Cynodon spp., Panicum spp.,
É comum o uso de capins para que são utilizadas em menor escala para serem
elaboração de feno para equinos. O gênero ensiladas (BEGNINI, 2010).
Cynodon tem se destacado dos demais, sendo o Segundo Raineri e Stivari (2013),
Capim Tifton 85 o mais ofertado silagem de milho, sorgo, gramíneas e
(CAVALCANTE et al., 2004), pela facilidade de leguminosas são as mais indicadas. Na Europa
manejo da planta para a elaboração do feno. existem alguns tipos de silagens de vegetais,
Gramíneas de clima temperado, C3, como as de bagaço de beterraba açucareira
também são muito utilizadas. De acordo com prensada e folhagem de cenoura.
Frape (2008), o feno de alfafa é o preferido na Os pré-secados também consistem em
alimentação de equinos. Seu uso estimula a boa alternativa, talvez a mais facilmente aceita
digestão da celulose pelos micro-organismos pelo meio equestre por serem produzidos a partir
equinos e melhora a digestão de energia total dos de forragens muito consumidas por equinos,
alimentos, Segundo o mesmo autor, equinos como alfafa, aveia, capins tifton e coastcross.

126
Revista Eletrônica Interdisciplinar
http://revista.univar.edu.br

ISSN 1984-431X
Ano de publicação: 2017 - N°:17 - Vol. 01
Neste caso deve-se dar atenção especial à de 42,0% de matéria seca, 9,1% de proteína
picagem e compactação do material (RAINERI; bruta, 8,3% de proteína digestível, 49,4% de fibra
STIVARI, 2013). em detergente ácido e 77,4% de fibra em
Nesse sentido, a remoção parcial de detergente neutro. São escassos os relatos na
água da planta, através do emurchecimento ou literatura referentes a forragens sob a forma de
pré-secagem, pode ser uma opção interessante, pré-secado. Estudos demonstram que há perda
por proporcionar condições para o crescimento significativa de nutrientes em relação ao in
de bactérias, e, assim, permitir que o excedente natura.
da forragem produzida nas pastagens ou em áreas
de cultivo exclusivas para o corte, possa ser 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
armazenado e utilizado na alimentação dos Na produção de equinos no Brasil ainda
animais durante o período de escassez há uma carência de informações técnicas. Isso
(PEREIRA; REIS, 2001). ocorre tanto pela escassez de trabalhos de
Ainda de acordo com Pereira e Reis pesquisa ou pelo aumento no número de pessoas
(2001), as forrageiras mais utilizadas para que interagem com cavalos e que ignoram os
produção de silagem pré-secada são as gramíneas conceitos fisiológicos e nutricionais mais básicos
de clima temperado aveia, azevém, triticale e desses animais.
cevada, e mais recentemente gramíneas tropicais Embora os requerimentos nutricionais
como as espécies do gênero Cynodon como os dos equinos estejam estabelecidos mundialmente
“tiftons”, "coastcross" e até algumas braquiárias. e utilizados como referência em termos de
Dentre as leguminosas somente a alfafa é proteína, energia, vitaminas e minerais, ainda
utilizada em quantidade expressiva. existe uma grande variação nessa demanda em
A remoção parcial de água da planta, função de características individuais, por
pelo emurchecimento é eficiente em categoria animal, ou em função do trabalho
proporcionar condições ideais para o crescimento exercido. Por isso, cabe aos profissionais da área
de bactérias láticas (CARVALHO et al. 2008). elaborar planos nutricionais de equinos em
Forrageiras em geral precisam sofrer pré- regiões climáticas específicas para que o
murchamento para atingirem valor abaixo de desempenho destes seja satisfatório.
70% de umidade, para que o Clostridium
botulinum, causador do botulismo, não se 7. REFERÊNCIAS
desenvolva. Caso contrário, a silagem torna-se ALMEIDA, F. Q.; SILVA, V. P. Progresso
fonte de infecção para os animais que a científico em equideocultura na 1ª década do
consumirem (RAINERI; STIVARI, 2013). século XXI. Revista Brasileira de
A pré-secagem é um processo Zootecnia, [s.l.], v. 39, p. 119-129, 2010.
semelhante ao haylage (denominação americana
que, traduzida ao pé da letra, pode ser feno- ANDRAE, J.; HEUSNER, G. Forage Programs
silagem), mas neste processo o produto não for Horses in Georgia. Uga Extension, Georgia,
recebe o inoculante, mas sim um aditivo v. 2, n. 31, p. 09-27, 2014.
estabilizante de atividade da água, que impede o
processo fermentativo aeróbico. Existe no ARNOLD, G.; DUDZINSKI, M.. Ethology
mercado brasileiro um produto erroneamente offree-ranging domestic animals.
denominado de pré-secado, mas que não recebe Elsevier Ed., Amsterdam, 1978, 198p.
adição de inoculante nem de aditivo
estabilizante, eventualmente apenas melaço, o BEGNINI, M. R. Inclusão de Aditivos na
que em teoria poderia estimular a fermentação, Ensilagem de Gramíneas Tropicais. 74 f.
sendo de péssima qualidade, não ocorrendo Dissertação (Mestrado) em 2010 - Curso de
preservação eficiente, pois há fermentação Zootecnia, Programa de Pós-graduação em
aeróbica. Esse alimento traz pouca preservação Zootecnia, Universidade Federal Rural do Rio de
das qualidades nutritivas e não permite seu Janeiro, Seropédica, 2010.
armazenamento correto, favorecendo quadros de
cólica (CINTRA, 2016), consequentemente não BRANDI, R. A.; FURTADO, C. E. Importância
recomendado para equinos. nutricional e metabólica da fibra na dieta de
Weiss et al. (2012) analisaram um pré- equinos. Revista Brasileira de Zootecnia, [s.l.],
secado de azevém e constataram um percentual v. 38, n. 09, p. 246-258, 2009.

127
Revista Eletrônica Interdisciplinar
http://revista.univar.edu.br

ISSN 1984-431X
Ano de publicação: 2017 - N°:17 - Vol. 01
wetland. Journal Animal Ecology, London, v.
BOYD, L.; KEIPER, R. Behaviour ecology of 52, n. 1, p. 93-109,1983.
feral horse. In:_____. The domestic horse: The
evolution, development and management of its DOMINGUES, J. L. Uso de volumosos
behaviour. 1 ed. conservados na alimentação de equinos. Revista
Cambridge: Cambridge University Press; Cap.4, Brasileira de Zootecnia, Viçosa, [s.1], v.38,
p. 55-82, 2005. p.259-269, 2009.

CAVALCANTE, A. C. R. et al. Dietas contendo SANTOS, E. A. et al. Boas práticas na produção


silagem de milho (Zea maiz L.) e feno de capim- de feno para a alimentação de ruminantes. In: 8º
tifton 85 (Cynodon spp.) em diferentes ENEPE: UFGD 2004, Anais... Dourados, MS:
proporções para bovinos. Revista Brasileira de 2004.
Zootecnia, [s.l.], v. 33, n. 6, p. 2394-2402, 2004.
FONSECA, D. M.; MARTUSCELLO, J.
CINTRA, A. G. O uso de volumosos para A. Plantas forrageiras. Viçosa: Editora Ufv,
equinos Parte II. Revista Quarto de Milha, São 2010. 537p.
Paulo, v. 221, n. 1, p.12-17, 2016.
FOOD AND AGRICULTURE
CINTRA, A. G. O Cavalo: características, ORGANIZATION - FAO. United Nations.
manejo e alimentação. 1º Edição. São Paulo: Disponível em:
Roca, 2011. <http://faostat.fao.org/site/573/DesktopDefault.
aspx?PageID=573#ancor> Acesso em 30 de
CYMBALUK, N. F. Grain preferences of ponies. agosto de 2016.
In: RAYMOND, J. G.; MANFRED, C.;
HARRIS, P. Equine Applied and Clinical FRAPE, D. Nutrição e Alimentação de
Nutrition. Dept. Anim. Poult Sci. Res. Equinos. 3. ed. São Paulo: Roca, 2008.
University of Sasakatchewan. Saskatoon, n. 460,
p. 58-62, 1983. FURTADO, C. E. ; BRANDI, R. A.; RIBEIRO,
L. B. Utilização de coprodutos e demais
DITTRICH, J. R. Relações entre a estrutura alimentos alternativos para dietas de equinos no
das pastagens e a seletividade de equinos em Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa,
pastejo. 2001. 77f. Tese (Doutorado em v. 40, n. 18, p. 232-241, 2011.
Agronomia) - Curso de Pós-graduação em
Agronomia. UFPR. Curitiba, 2001. HOUPT, K. A. Manteince behaviours. In: The
domestic horse - The evolution, development
DITTRICH, J. R. et al. Comportamento ingestivo and management of it´s behaviour. 1 Ed.
de equinos em pastejo sobre diferentes Cambridge: Cambridge University Press; Cap.6,
dosséis. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. p. 94-109, 2005.
8, n. 1, p.87-94, 2007.
KELLER-GREIN, G.; MAASS, B. L.;
DITTRICH, J. R. et al. Comportamento ingestivo HANSON, J. Natural variation in Brachiaria and
de equinos e a relação com o aproveitamento das existing germoplasma collections. In: MILES,
forragens e bem-estar dos animais. Revista JW.; MAASS, B.L.; VALLE, C. B. (Eds.).
Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 39, n. 18 Brachiaria: biology, agronomy, and
p.130-137, 2010. improvement. Calli: CIAT; Brasilia:
EMBRAPA-CNPGC, p.16-42, 1996.
DUNCAN, P. Time-budgets of Camargue
horses. II. Time-budgets of adult horses KNUPP, S. N. R.; BORBUREMA, C. C.;
and weaned subadults. Behaviour. Ontario, v.72, OLIVEIRA NETO, T. S. Surtos de
n. 1/2, p.26-49, 1980. fotossensibilização primária em equídeos
causados por Froelichia humboldtiana. 2014.
DUNCAN, P. Determinants of the use of habitat Monografia (Especialização) - Curso de
by horses in a Mediterranean Medicina Veterinária, Departamento de Ciências

128
Revista Eletrônica Interdisciplinar
http://revista.univar.edu.br

ISSN 1984-431X
Ano de publicação: 2017 - N°:17 - Vol. 01
Veterinárias, Universidade Federal de Campina Departamento de Nutrição e Produção Animal,
Grand, Seropedica, 2014. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
de São Paulo, Londrina, 2013.
LIMA, R. A. S.; SHIROTA, R.; BARROS, G. S.
C. Estudo do complexo do agronegócio cavalo. REIS, R. A.; BERNARDES, T. F.; SIQUEIRA,
Piracicaba: ESALQ/USP, 2006. 250p. G. R. FORRAGICULTURA: Ciência,
Tecnologia e Gestão dos recursos
MARCELO, E. T.; FACTORI, M. A. Como Forrageiros. Jaboticabal: Gráfica Multipress,
escolher a melhor pastagem para 2013. 714 p.
equinos. Disponível em:
http://www.revistaveterinaria.com.br/2011/06/1 RIET-CORREA F. et al., Doenças dos
5/como-escolher-a-melhor-pastagem-para- ruminantes e equinos. 3. ed. Santa Maria:
equinos/. Acesso em 30 de agosto de 2016. Pallotti, 2007. v. 1 e v. 2. 1466 p.

McKENZIE, R. A. A. Purple pigeon grass SILVA, S.C. Fundamentos para o manejo do


(Setaria incrassata): a potencial cause of pastejo de plantas forrageiras dos
nutricional secondary hyperpharathyroidism of gêneros Brachiaria e Panicum. In: SIMPÓSIO
grazing horses. Australian Veterinary Journal, SOBRE MANEJO ESTRATÉGICO DA
Malden, v. 65, n. 10, 329-330, 1988. PASTAGEM, 2., 2004, Viçosa,
MG. Anais... Viçosa, MG: Universidade Federal
MUCK R.E.; SHINNERS, K.J. Conserved de Minas Gerais, 2004. p. 346-381.
forage (silage and hay): progress and priorities.
In: INTERNATIONAL GRASSLAND PEREIRA, J. R. A.; REIS, R. A. Produção de
CONGRESS, 19., 2001, São Pedro. Anais… São silagem pré-secada com forrageiras temperadas e
Pedro: SBZ. 2001. (CD-ROM) tropicais. In: Simpósio sobre produção e
utilização de forragens conservadas, 2001,
NATIONAL RESEARCH COUNCIL – NRC. Maringá. Anais... Maringá: UEM, 2001. p. 64-
Nutrient requirements of horses. 6 86.
ed. Washington: National Academy Press, 2007.
THORNE, J.B. et al. Foraging enrichment for
PEDREIRA, C. G. S.; TONATO, F. Bases individually housed horses:
ecofisiológicas para o manejo de gramíneas do Practicatility and effects on behavior. Applied
gênero Cynodon. In: SIMPÓSIO SOBRE Animal Behaviour Science, Ontario, v. 94, n. 1,
MANEJO ESTRATÉGICO DA PASTAGEM, p. 149-164, 2005.
3., 2006, Viçosa. Anais... Viçosa: UFV, 2006. p.
93-115. VICTOR, R. P.; ASSEF, L. C.; PAULINO, V.
T. Forrageiras para equinos. 2007. 12 f. TCC
PEIRETTI, P. G.; BERGERO, D. Grass silages (Graduação) em Zootecnia - Curso de Zootecnia,
as feedstuff for horses. Science And Instituto de Zootecnia, São Paulo, 2007.
Technology, Helsinki, v. 2, n. 34, p.182-185,
2004. WEBB, G. W. et al. Growth of yearling horses
grazing Klein grass or Bermuda grass
PIMENTEL, L. A. et al. Fotossensibilização pastures. Equine Nutrition and Physiology
primária em eqüídeos e ruminantes no semi-árido Society, Champaign, v.10, p. 195-198, 1990.
causada por no semi-árido causada por Froelichia
humboldtiana roelichia humboldtiana WEISS, R. R. et al. Ingestão de azevém pré-
(Amaranthaceae). Pesquisa Veterinária secado ou in natura e a relação com as taxas de
Brasileira, Seropédica, v. 1, n. 27, p. 23-28, gestação e de mortalidade embrionária em éguas
2007. da raça Crioula. Revista Brasileira de
Reprodução Animal, Belo Horizonte, v. 36, n.
RAINERI, Camila; STIVARI, Thayla Sara 4, p. 264-268, 2012.
Soares. Utilização da silagem para
alimentação de equinos. 2013. v7. Monografia ZANINE, A. M. et al. Diferenças entre sexos
(Especialização) em 2013 - Curso de Zootecnia, para as atividades de pastejo em equinos no

129
Revista Eletrônica Interdisciplinar
http://revista.univar.edu.br

ISSN 1984-431X
Ano de publicação: 2017 - N°:17 - Vol. 01
nordeste do Brasil. Archivos de Zootecnia,
Madrid, v. 55, n. 210, p. 1-10, 2006.

130

Você também pode gostar