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Tecnologia do pescado B
Profa. Juliana
Curso Engenharia de Pesca

APROVEITAMENTO INDUSTRIAL DE ALGAS

INTRODUÇÃO

◆ AS ALGAS
 Considerações gerais
As algas constituem um grupo heterogêneo de vegetais criptogâmicos
compreendendo 13 grandes divisões e diversos grupos menores ainda não
completamente estudados. As algas ocorrem abundantemente em todos os
ecossistemas, sendo encontradas em habitats de água doce ou em costões rochosos
marinhos, estando arranjadas em faixas visíveis em relação aos níveis das marés.
As algas marinhas têm sido utilizadas há centenas de anos como fonte de
alimento para alguns povos do mundo. No Brasil, existem poucas informações sobre o
potencial de aproveitamento das algas marinhas como alimento humano. Este campo
de pesquisa, ainda pouco explorado no Brasil, busca encontrar fontes alternativas para
melhorar a dieta de populações de baixa renda, seja pela incorporação da própria alga
ou dos carotenóides dela extraídos em alimentos normalmente consumidos por estas
populações.

◆ ASPECTOS ECONÔMICOS

As algas fornecem um amplo espectro de produtos e benefícios para o


homem, apresentando aplicação em nutrição animal e humana, fertilização do solo,
indústria de alimentos e outras áreas biotecnológicas (HARVEY, 1988). A principal
utilização dessas algas como alimento ocorre na Ásia, onde o cultivo de algas marinhas
tem se tornado uma grande indústria (ARASAKI; ARASAKI, 1983; XIA; ABBOTT, 1987;
ABBOTT, 1988).
Existe um interesse crescente quanto ao estudo de algas marinhas de valor
econômico no Brasil. O estudo químico e bioquímico de algas marinhas poderá abrir
um novo caminho na tentativa de se encontrar formas alternativas para melhorar a
alimentação, principalmente das populações menos favorecidas, em termos
quantitativos e certamente qualitativos pela incorporação de nutrientes essenciais na
dieta dessas populações. Entretanto, para que isso ocorra é necessário obter dados
químicos e bioquímicos que mostrem que as algas marinhas e seus produtos são boas
fontes de nutrientes essenciais.
Em 1991 a Comunidade Européia sob o Ato “COST 48 – Biomassa de Alga”,
estabeleceu um Grupo de Trabalho em Alimentos e Rações para estudar o uso de alga
como alimento humano. Este Grupo se reuniu em Sorrento - Itália em 1992 e concluiu
que havia possibilidade de se desenvolver um mercado para produtos a base de algas
marinhas para consumo humano na Europa e que uma importante parte desse trabalho
dependeria de análises químicas e bioquímicas cujos resultados seriam importantes
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para promover os produtos de algas marinhas. Esse programa, que inclui Inglaterra,
França e Bélgica, e conta com a participação de alguns países em desenvolvimento,
tem como objetivo estudar algas marinhas potencialmente úteis como alimento
humano. Embora a maioria dos países da Europa e o Brasil não apresentem uma
tradição no consumo de algas marinhas como fazem as populações orientais, é
possível utilizar o potencial existente com o objetivo de estabelecer um mercado hoje
inexistente. Com base em dados químicos e bioquímicos analíticos, mostrando que as
algas marinhas e seus produtos são boas fontes de nutrientes essenciais como as
vitaminas, seria possível promover o uso de algas marinhas como alimento ou como
ingredientes no enriquecimento de alimentos que já fazem parte do hábito alimentar da
população desses lugares.

◆ O POTENCIAL NUTRICIONAL DAS ALGAS MARINHAS

Os orientais as consomem principalmente como suplemento vitamínico ou


aditivo alimentar. Algas cruas são picadas e adicionadas a pratos. Elas podem ainda
ser coletadas, submetidas a um processo de salga e, posteriormente, comercializadas.
Em regiões costeiras, as algas marinhas têm sido diretamente utilizadas como
ingredientes para ração animal com efeitos benéficos. Esses efeitos podem estar
relacionados com o alto teor vitamínico e de minerais (CHAPMAM; CHAPMAM, 1980).
Os ocidentais, no entanto, parecem saber pouco sobre o valor das algas como
fonte de alimentos. Portanto, trabalhos nesse sentido são de grande importância, uma
vez que a população do mundo pode, um dia, depender das algas como uma fonte de
alimento que pode ser cultivado na água para suplementar os alimentos que são
cultivados na terra.
As análises químicas e bioquímicas das algas frescas freqüentemente mostram
que elas são boas fontes de importantes nutrientes tais como: minerais, aminoácidos e
ácidos graxos essenciais, e vitaminas hidrossolúveis e lipossolúveis.
As algas marinhas representam uma grande fonte importante de carotenóides e
pro-vitamina A. Os carotenóides são um dos mais importantes grupos de pigmentos
naturais, devido a sua grande distribuição, diversidade estrutural e numerosas funções.
As pesquisas, que antes focalizavam somente a atividade do -caroteno como
precursor de vitamina A, têm abordado mais recentemente a capacidade dos
carotenóides como potentes antioxidantes e seqüestradores de radicais livres
(GRASSMAN et., 2002).
Durante as últimas duas décadas, a comunidade científica demonstrou um
interesse crescente pelo estudo das vitaminas lipossolúveis, principalmente as pró-
vitaminas A e as vitaminas A e E, na prevenção do câncer, na degeneração macular e
cataratas, na inibição do aparecimento de úlceras, na redução de ataques cardíacos e
doenças coronarianas (JORDI et al, 2000; DRISKO et al, 2003).
As algas marinhas possuem muitos polissacarídeos resistentes à
hidrólise pelas enzimas endógenas do tubo digestivo, portanto são considerados
como fibras dietárias (Michael et al, 1996). O teor de fibras dietárias varia de 33 a
75% do peso das algas consiste principalmente de polissacarídeos solúveis ( na faixa
de 17 a 59 % ) (Jimenez-Escrig & Cambrodon, 1999). As fibras algais diferem química
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e fisico-quimicamente daquelas das plantas terrestres e assim, podem induzir efeitos


fisiológicos diferentes, daí a importância de se investigar o valor das algas como
alimentos ricos em fibras. A preocupação das fibras alimentares é de grande
importância, uma vez que a cada dia o consumo deste constituinte alimentar é
reduzido nas dietas ocidentais, as quais têm se tornado cada vez mais refinadas,
portanto a cada dia o consumo de fibra é menor e são mais frequentes os problemas
de prisão de ventre e má nutrição, as algas constituem um alimento ideal, uma vez
que, para além do ligeiro efeito laxante que possuem, fornecerem nutrientes
essenciais para a saúde.
Devido à grande proporção de fibra que possuem, as algas constituem um
complemento ideal nas dietas de emagrecimento. Para além de satisfazerem o prazer
de comer, proporcionam a sensação de estômago cheio e saciado (pela dilatação da
fibra). Isto é da maior importância para que o enfermo se mantenha firme na árdua
tarefa de seguir a dieta e emagrecer sem o mínimo esforço.
Acompanhar com algas as comidas gordas e fortes, permitirá efetuar uma mais
fácil digestão, pois as mucilagens das algas recobrem as paredes do estômago e
protegem a mucosa gástrica do excesso de acidez. Por outro lado, facilitam o trânsito
dos alimentos através do intestino.

◆ VIRTUDES GERAIS RECONHECIDAS

Até há cerca de três décadas, o mundo ocidental desconhecia praticamente tudo


acerca das algas. As raras pessoas que as utilizavam faziam-no com um certo receio, e
mesmo assim quase sempre as procuravam pelo exotismo de tal atitude. Já se ia
dizendo que eram boas para tratar a celulite, mas até os que afirmavam isto eram
olhados com desconfiança.
Pesquisas têm sido feitas e descoberto o grande potencial das algas marinhas.
As algas tratam as afecções cutâneas e retardam o envelhecimento da pele;
tonificam os tecidos; estimulam a circulação; e – principalmente –, são excelentes
coadjuvantes dos regimes de emagrecimento. Outra interessante característica das
algas é a sua grande capacidade de assimilação pelos organismos animais, tanto por
osmose como pelo processo digestivo.
As algas são ricas em proteínas, mucilagens, oligoelementos, vitaminas e
princípios ativos de importância vital, tais como: Iodo, fósforo, potássio, cloro, enxofre
e outros. Os oligoelementos que possuem, tanto em diversidade como em freqüência,
não são tão comuns nos outros alimentos. Por isso, até em quantidade diminuta, as
algas revestem-se sempre de grande interesse.
A industria alimentar recorre já a algumas das propriedades das algas,
inserindo-as cada vez com maior freqüência na composição de diversos alimentos
processados.
Por surpreendente que possa parecer a alguns, o mais certo é todos já as
termos consumido, como ingrediente de um pudim ou gelado, porventura agradável,
ou numa compota ou marmelada, ou no creme de uma sopa instantânea, ou ainda no
recobrimento de um enchido, etc..
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O seu consumo direto – não incorporado noutros alimentos –, está dia a dia
mais acessível (ainda que o interesse do consumidor não vá ao encontro de tal
facilidade), e podemos encontrar à venda embalagens com diversas espécies de
algas, sendo as mais frequentes as Kombu, Nori e Wakame (que são alimentos
habituais nos países Orientais).

◆ GRUPOS MAIS UTILIZADOS COMO PRODUTOS

FUCUS
Sob o nome de Fucus, agrupam-se numerosas espécies, entre as que se
destacam: Fucus vesiculosus, Fucus spiralis, Fucus serratus, Fucus ceranoides, e
Ascophillum nodosum. Trata-se de uma alga parda do grupo das Feofíceas, que deve
a sua cor característica à fucoxantina.
Destacam-se na sua composição a algina (ácido algínico e os seus sais),
manitol, iodo em quantidades notáveis, assim como vitaminas A, B, C, e E, e
fucoidina -polissacárido mucilaginoso com uns 30 a 70 % de L-Fucosa).
Integra frequentemente complementos de dietas de emagrecimento, devido à
sua riqueza em iodo e à importância que este tem sobre o metabolismo humano.
HIZIKI
Corresponde à Hizikia fusiforme, alga do grupo das Feofíceas que se apresenta
em tiras cilíndricas de cor quase preta. É considerada como uma das fontes mais
ricas em sais minerais, especialmente em cálcio: mais de 1.400 mg. em 100 g. de
cálcio, enquanto que a mesma quantidade de leite só contém 100 mg. O seu teor em
minerais e oligoelementos, equilibra o nível de sangue no organismo e dá elasticidade
e brilho ao cabelo.
KOMBU
Trata-se de uma das espécies do género Laminaria (Laminaria Digitata,
Laminaria Japónica, etc.) que cresce espontaneamente nos mares do norte e que
apresenta uma cor verde pardacento. É uma das algas mais ricas em iodo.
O seu teor em ácido algínico faz com que atue como um higienizador natural e
eliminador de toxinas dos intestinos (muito útil contra a colite). Contém açúcares
simples como a fucosa e o manitol, que a tornam apropriada para os diabéticos, uma
vez que não aumenta o nível de açúcar no sangue. Atua como um suave estimulador
do sistema linfático e é muito benéfica no combate à hipertensão. A sua riqueza em
iodo tornam-na indicada como complemento nas dietas de emagrecimento.
MUSGO DE IRLANDA OU CARRAGAHEN
Estas algas vermelhas (Rodofíceas) englobam espécies do gênero Clondrus
cripus e Gigartia, pertencendo à família das Gigartináceas, nas quais se destaca a
presença de sais minerais, proteínas e ácidos gordos. O seu principal componente é
o carragahen, produto que lhe dá também o seu nome, basicamente formado por
carragenatos (sais sódico, potássico e cálcico do ácido carragénico) e carrageninas.
Utiliza-se como agente gelificante e de espessamento na indústria alimentar,
da mesma forma que o Agar-agar. Com o leite dá um gel líquido pela formação de um
complexo com a caseína – propriedade que se aproveita na preparação de flans
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instantâneos e outros pudins. Pode-se usar como espessante de sopas, cozidos e


molhos.
NORI
A Nori é particularmente rica em ferro, potássio, iodo e proteínas. De cor entre o
verde vivo e o roxo. As tiras secas de Nori são utilizadas como invólucro do famoso
prato japonês, o sushi..
ARAME
São semelhantes a cabelos, com fios finos e pretos. São ricas em ferro. Certas
zonas do oceano estão poluídas com metais pesados. Por essa razão, compre algas
em lojas de produtos naturais que assegurem que os seus produtos provêm de regiões
não poluídas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABBOTT, I.A. Food and Food Products from Algae. In: Algae and Human Affairs. C.A. Lembi; J.R.
Waaland (eds). Cambridge Univ. Press, Cambridge. p.135-147, 1988.

ARASAKI, S.; T. ARASAKI. Vegetables from the Sea. Japan Publications, Tokyo. 196 p., 1983.

CHAPMAN, V.J.; CHAPMAN, D.J. Seaweeds and their Uses. Chapman and
Hall, London. 3rd Edition. 344p. 1980.

DRISK, J. A. et al. The uses of antioxidant therapies during chemotherapy. Gynecology Oncology. San
Diego. v.88, n.3, p. 434-439, 2003.

GRASSMAN, J.; HIPPELI, S.; ELSIRE, E. F. Plants defense mechanism and its benefits for animals and
medicine: role of phenolics and terpenoids in avoiding oxygen stress. Plant Physiology and
Biochemistry, Paris, v.40, n. 6/8, p. 471-478, Jun/Aug. 2002.

HARVEY, W. Cracking open marine algal biological treasure chest. Biotechnol., v. 6, p. 488-491, 1988.

JIMENEZ-ESCRING, A. & CAMBRON I. G. Nutritional evaluation and physiological effects of edible


seaweeds. Arch. Lat. Amer. Nutr. v.49(2), p. 114-120. 1999.

MICHAEL, C. et al. In Vitro fermentation by human faecal bacterial of total and purified dietary fibres from
brown seaweds. Br. J. Nutr., v.75, p. 263-280. 1996.

SLATTERY, M. et al. Carotenoides and colon cancer. American Journal for Clinical Nutrition,
Bethesda, v.71, p. 575-582, Fev. 2000.
XIA, B.; ABBOTT, I.A. Edible seaweeds of China and their place in the Chinese diet. Econ. Bot., v. 41, p.
341-353, 1987.

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