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RESUMO: Este artigo pretende fazer uma abordagem teórica sobre o papel do
gestor educacional no novo século. Para isto, parte-se da análise histórica do
surgimento desta profissão na escola e as tendências administrativas que a
acompanham para, em seguida, elencar as características esperadas do gestor
no século que se inicia.
1 Introdução
O simples mencionar a palavra gestão educacional traz à mente
daqueles que a ouvem conceitos relacionados à liderança, à autoridade, ao
comando. O gestor é sempre quem assume a direção dos trabalhos e se torna
responsável pela produção do grupo em busca de um resultado que se almeja
satisfatório. Não é possível pensar no gestor desconsiderando todos estes
elementos.
Contudo, será que os interlocutores realmente sabem o que é a gestão?
Conhecem profundamente seu sentido e sua importância numa organização
tão complexa quanto a escola?
É neste sentido que o presente trabalho vem esclarecer a função do
gestor no ambiente educacional frente às mudanças estruturais que o século
XXI impõe e definir as características essenciais para uma gestão de qualidade
diante dos obstáculos encontrados no caminho da educação de excelência.
2 O Conceito de Gestão
De acordo com o dicionário Soares Amora (GESTÃO, 2009), gestão é
ato ou efeito de gerir, o qual apresenta como sinônimos administrar, dirigir e
controlar. O gestor, por extensão, é o gerente, o administrador, o controlador.
Constitui-se como aquele que posiciona-se na direção dos rumos e do controle
1
Graduação em Pedagogia, Especialização em Gestão Escolar pelo Centro Universitário Barão
de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. E-mail do autor: isabel-dias@bol.com.br. Orientador:
Rosemary Conceição dos Santos
dos trabalhos de um grupo, muitas vezes tornando-se uma figura temida pelo
caráter de autoridade suprema e onipotência absoluta, ao colocar o poder
acima de tudo e assumir com centralidade extrema o comando da instituição.
Nos dizeres de Araújo (2009, p. 25), o administrador é visto “... como
agente integrador, decisor, voltado à consecução dos objetivos
organizacionais.”
Tal visão de gestão e gestor encontra fundamento nas Teorias
Tradicionais de Gestão (principalmente a Administração Científica de Taylor e a
Teoria Clássica da Administração de Fayol), como conceituam Lima et al
(2009). Para autores como Araújo (2009), são conhecidas como Escola
Clássica de Administração.
Estas teorias, cuja importância histórica não cabe a este trabalho
discutir, auxiliaram na organização das fábricas no início da Revolução
Industrial, enfatizando “... a produção racionalizada, a supervisão estreita e
contínua, a obediência hierarquicamente estruturada e a divisão de tarefas”
(LIMA et al, 2009, p. 08).
Com o surgimento das primeiras manufaturas e o início do processo de
industrialização primeiro na Inglaterra e depois na Europa e nos Estados
Unidos, era fundamental pensar em estratégias de organização do trabalho, a
fim de garantir identidade de interesses entre patrões e empregados (melhores
salários e condições de trabalho para estes e melhor qualidade do produto final
aliada ao baixo custo da produção para aqueles).
É por esta razão que Taylor cria a Administração Científica, propondo
uma Organização Racional do Trabalho (ORT), cujos princípios eram: seleção
científica do trabalhador, estabelecimento de um tempo padrão para a
execução de cada tarefa, plano de incentivos salariais, divisão do trabalho,
supervisão funcional, padronização das tarefas, com ênfase na eficiência e
estabelecimento de boas condições físicas de trabalho (LIMA et al, 2009). Para
a época, isto significou grande revolução.
Paralelo ao trabalho de Taylor, o francês Fayol desenvolveu a Teoria
Clássica da Administração, enfatizando a estrutura da organização. Embora
alguns de seus princípios se assemelhem à teoria de Taylor, cabe explicitá-los:
divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade, disciplina, unidade de
comando, unidade de direção, prevalência dos interesses gerais, remuneração
de pessoal, centralização, cadeia escalar ou hierarquia, ordem, equidade,
estabilidade e duração do pessoal, iniciativa e espírito de equipe (LIMA et al,
2009).
Fayol ainda inovou ao criar a gerência administrativa, estabelecendo
como funções do gestor: planejar ou prever, organizar, comandar, coordenar e
controlar (LIMA et al, 2009).
Embora estas duas visões da administração ainda marcassem o cenário
de organização das indústrias até meados da década de 1960, surgiram outras
teorias que também influenciaram os modelos de gestão adotados pelas
diversas instituições ao longo do século XX. Conforme Lima et al (2009),
podem-se citar: a Escola de Relações Humanas de Elton Mayo (conhecida por
colocar pela primeira vez no plano da administração, a preocupação com o
fator humano), as Teorias X e Y de McGregor (influenciadas fortemente pelo
Behaviorismo) e a Teoria Sistêmica de Ludwig von Bertalanffy (estabelecendo
um paralelo entre os organismos vivos e as organizações).
Para Araújo (2009), estas vertentes da administração constituem a
Escola Psicossocial, a qual “... concebe a organização como um sistema
orgânico e natural, preocupando-se com a integração funcional em função dos
objetivos organizacionais, avançando em relação à escola clássica (sic),
mantendo, entretanto, os critérios da eficiência e da eficácia...” (ARAÚJO,
2009, p. 12).
A partir da década de 1950, aparecem as Teorias Modernas de Gestão
(LIMA et al, 2009): Administração por Objetivos (APO) desenvolvida por Peter
Drucker, a Administração Contingencial (uma espécie de aprofundamento
teórico da Administração Sistêmica), a Administração Estratégica (que dominou
o cenário da administração na década de 1980), a Administração Participativa
(consolidada sobretudo nos países orientais) e a Administração Japonesa
(preocupada com a qualidade final do produto ofertado, estabeleceu os
Programas de Qualidade Total).
Finalmente, a partir da década de 1980 surgem as Teorias Emergentes
de Gestão (LIMA et al, 2009): Reengenharia e Administração Virtual. Estas
teorias são chamadas por Araújo (2009) de Escola Contemporânea de
Administração por “...(vincularem) os atos e fatos administrativos à relevância
humana, considerando, portanto, a administração e a qualidade de vida
humana dos participantes, imbuídos de suas próprias opções existenciais.”
(ARAÚJO, 2009, p. 12).
Explicitar as diferentes concepções da Teoria de Administração ao longo
do tempo é importante porque cada época histórica de organização escolar
demandou uma concepção diferente de gestão e autoridade, a qual, no caso
da escola, sempre foi vinculada à imagem do diretor. Assim, pode-se afirmar
que, ao lado da história da educação escolar, caminhou sempre uma visão do
processo de gestão.
Desta maneira, de acordo com Lima et al (2009) e Valle et al (2009), a
educação escolar brasileira foi influenciada fortemente ao longo do tempo por
cada uma das teorias da administração descritas acima.
No início do século XX, com a criação e aperfeiçoamento das primeiras
escolas, universidades e associações, havia uma estrutura administrativa
marcada pelas ideias de Taylor e Fayol, numa tentativa clara de
“...transposição dos princípios e métodos da Teoria da Administração
Empresarial para a Administração Educacional...” (ARAÚJO, 2009, p. 16).
Nas décadas da ditadura militar brasileira (meados dos anos 1960 até
meados de 1980), a era do ensino tecnicista marcou a influência da Teoria
Sistêmica e da Escola Psicossocial sobre a gestão escolar. “Utilizava-se
fartamente planilhas sofisticadas para a elaboração dos planejamentos e
nestas abundavam a citação dos inputs, outputs (comportamentos de saída) e
do feedback obtido por meio da avaliação” (LIMA et al, 2009, p. 26 – destaques
no original).
Já a partir da década de 1980, o crescimento dos movimentos sociais e
o apelo das multidões no Brasil pelo retorno à democracia abriram espaço para
o fortalecimento dos princípios da Escola Contemporânea, voltados mais para
a participação popular e as decisões colegiadas (ARAÚJO, 2009; LIMA et al,
2009).
Conforme Valle et al (2009, p. 23), “com a chegada dos anos 1980,
inicia-se uma revisão do exagero das teorias reprodutivistas, uma postura
menos ingênua e mais realista em relação ao papel social da Educação.”
Este processo resultou, durante a década de 1990, na chegada ao país
dos Programas de Controle de Qualidade, com ênfase na Qualidade Total e a
chancela ISO (princípios da Administração Japonesa), adotados principalmente
por escolas particulares (LIMA et al, 2009).
O fim do século XX e o início do século XXI trouxeram mudanças na
organização da sociedade e nos modos de produção do conhecimento.
Surgem transformações em todas as áreas, modificando os conceitos de
espaço e tempo e gerando novas formas de pensar, sentir e agir no mundo.
De acordo com Ferreira (2009, p. 10),
“Sempre que a sociedade defronta-se com mudanças significativas em suas bases
econômicas, sociais e tecnológicas, novas atribuições passam a ser exigidas da escola, da
Educação e da sua gestão. Logo, sua função social também necessita ser revista e seus limites
e possibilidades questionados, pois a escola e as diversas formas de se fazer Educação estão
inseridas na chamada “sociedade global”, também chamada de “sociedade do conhecimento”,
onde as profundas transformações no mundo do trabalho e nas relações sociais vêm causando
impactos desestabilizadores à humanidade, e consequentemente exigindo novos conteúdos de
formação, novas formas de organização da gestão da Educação, ressignificando o valor da
4 Conclusão
Já faz algum tempo que a imagem do gestor escolar não condiz com a
daquele profissional “(...) isolado em uma sala, sentado à mesa, cercado de
papéis e de burocracia(...)” (OLIVEIRA & GRINSPUN, 2009, p. 31). Hoje, o
papel do gestor ultrapassa as fronteiras do administrativo e torna-se mais que
um membro atuante da equipe escolar ou um parceiro dos professores como
contribuinte para a excelência do trabalho pedagógico desenvolvido na escola;
o gestor atualmente é o dirigente do grupo, alguém que conduz a discussão e
construção coletiva dos parâmetros almejados, aquele que motiva a equipe a
pensar por si mesma, ajudando cada indivíduo a ser protagonista de sua
própria mudança (FERREIRA, 2009).
Desta forma, o gestor do século XXI, enquanto gerente e líder do grupo-
escola em que atua, necessita desenvolver as características indispensáveis à
gestão das pessoas, a fim de alcançar o objetivo maior da educação escolar,
qual seja, a formação cidadã. Estas características constituem-se em:
fortalecer a gestão democrática, a construção coletiva do Projeto Político-
Pedagógico e a autonomia da escola; aprimorar a competência técnica, a
liderança intelectual e o conhecimento humano; incentivar a capacitação
permanente de todos os profissionais da escola, inclusive a si próprio;
estabelecer canal aberto de comunicação com todo o coletivo da escola
(professores, alunos, pais, funcionários e comunidade em geral); promover um
clima de cultura organizacional propício à formação cidadã de todos os
envolvidos no processo educativo; mobilizar pais e comunidade a participar da
gestão escolar; lutar pela educação cidadã, voltada para a qualidade social e
utilizar as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) a serviço de uma
gestão de qualidade.
Para assumir esta postura, o gestor deve ainda passar por um grande
processo reflexivo de sua própria prática, buscando referenciais teóricos
condizentes com as mudanças que pretende fazer (ARAÚJO, 2009;
FERREIRA, 2009; LIMA ET AL, 2009).
Tudo isto, tendo em mente que
“O sucesso do trabalho do gestor depende do empenho e do “saber-fazer” pedagógico
dos demais participantes da orquestra. Mas só ele pode conduzir o grupo. É tarefa do líder
propor atividades instigantes, provocadoras e, ao mesmo tempo, viáveis, para transmitir
confiança e imprimir uma perspectiva de sucesso, é preciso acionar todos os conhecimentos e
habilidades, além de manter a persistência para despertar o interesse e a vontade de todos”
REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS:
ARAÚJO, Maria Cristina Munhoz. Modelos de gestão: qualidade e
produtividade. Curitiba: IESDE Brasil S. A., 2009. 268 p.
OLIVEIRA, Eloiza da Silva Gomes de; Grinspun, Míriam Paura Sabrosa Zippin.
Princípios e Métodos de Supervisão e Orientação Educacional. Curitiba:
IESDE Brasil S. A., 2009. 160 p.