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PROJETO DE PESQUISA

1. DADOS DO PROJETO
Título:
O ensino de Administração no Brasil: Evidências de uma institucionalização de um
modus operandi problemático.
Professor Responsável:
Jose Lindenberg Julião Xavier Filho (http://lattes.cnpq.br/5224764351459285)

2. JUSTIFICATIVA TEÓRICO-EMPÍRICA

O Que a Academia em Administração está Fazendo: Abordando “Cientificamente” o que


não está lá ou não “Vendo” o que está Explícito?1

Desde os primórdios da administração como a conhecemos, ou seja, como um


conhecimento estruturado de saberes para o desempenho de uma função, Fayol discute que é
possível ―ensinar‖ administração àqueles que desejam ingressar neste ofício.
No entanto, desde Fayol, uma discussão vem tomando corpo quando se discute a
contribuição da instrução, ou escola, na formação do administrador, como em Nicolini
(2003), Mintzberg e Gosling (2003), Kirshbaum, Porto e Ferreira (2004), Bennis e O’Toole
(2005), Walsh, Meyer e Schoonhoven (2006), Melo, Robles e Assumpção (2010), Bertero et al.
(2009; 2013a; 2013b), Lima e Wood Jr. (2014), Santos e Silveira (2015) e Carrieri, Perdigão e
Aguiar (2015), parecendo haver um lugar comum de estranhamento diante da formação de
gestores na academia: O distanciamento entre a teorização e o mundo empírico, já que a
performance deste profissional está intimamente relacionada à tomada de decisão (BARNARD,
1938), tendo também este entendimento o próprio Conselho Nacional de Educação
(CNE/CES, 2005) quando afirma que ―o curso de graduação em administração deve ensejar,
como perfil desejado do formando, capacitação e aptidão para compreender as questões
científicas, técnicas, sociais e econômicas da produção e de seu gerenciamento‖, com
importante ponderação de serem ―observados níveis graduais do processo de tomada de
decisão‖ (CNE/CES, 2005, art. 3º).
Como se observa, é inevitável tratar da relação entre teoria e prática na formação do
administrador. Inclusive, como bem discutem Walsh, Meyer e Schoonhoven (2006), a partir
de uma ampla revisão histórica das escolas de negócios, as primeiras escolas que graduaram
egressos formados em administração tinham uma clara mescla em seu corpo docente,
contando com professores executivos com larga experiência no ambiente de negócios para
lecionar disciplinas aplicadas e acadêmicos tradicionais para lecionar disciplinas de apoio,
como direito, ciência política, história, economia e demais disciplinas de base e não
vinculadas ao exercício profissional do discente.

1
Todo o capítulo ―2‖ é a reprodução do texto submetido ao EnANPAD 2015 em co-autoria com Jefferson
Lindberght de Sousa e Suélen Matozo Franco. Outro texto derivado do mesmo grupo, agora com abordagem
empírica, foi submetido ao SEMEAD 2015, ainda em análise, com título ―Faça o que eu digo e faça o que eu não
faço: Evidências do entendimento da Academia Brasileira de Administração dos problemas que assolam o ensino
de Administração‖, em co-autoria com Alex Filipe Silva Martins, Mariane Lima de Sales, Jose Allan Gomes de
Souza e Myrna Suely Silva Lôreto.
1
Ao longo do tempo essa relação entre teoria e prática foi se esvaindo. Hoje é possível
encontrar professores bem posicionados na academia, lecionando domínios da gestão, que
nunca colocaram tiveram experiência com o exercício da profissão (BENNIS; O´TOOLE,
2005). Segundo Hughes (2005), alguns programas de doutorado estão exigindo dos
candidatos artigos publicados, mas nenhuma experiência empresarial é necessária. Em
contrapartida, muitos programas de MBA exigem de dois a cinco anos de experiência em
negócios para serem aceitos. Assim, em alguns casos, o aluno pode ter mais experiência
profissional do que o professor (HUGHES, 2005).
A pesquisa é necessária para a difusão do conhecimento e posterior aprimoramento da
prática, entretanto, o que ocorre nas escolas de administração é a ênfase nas experiências em
laboratório em detrimento das experiências concretas. Em determinadas situações esses
métodos são úteis, necessários e esclarecedores, mas eles são meras representações, que
muitas vezes não refletem a forma como o negócio funciona na vida real, comprometendo a
identificação e análise de questões complexas (BENNIS; O´TOOLE, 2005).
A sala de aula é o lugar para se afastar e refletir, enquanto a organização é o lugar para
ligar o que foi aprendido à prática atual. Isso significa que a educação gerencial tem de se
estender pela organização, usando o trabalho desenvolvido na sala de aula nas áreas sobre as
quais causa impacto (MINTZBERG; GOSLING, 2003), razão pela qual o grande problema,
como citado por Mintzberg (1973), é que o ensino tende a ser estruturado e o desempenho da
profissão não estruturado.
Os currículos adotados no Brasil nos anos 50, e usados inercialmente até hoje, foram
importados de escolas americanas e reproduzidos em todo o país (FISCHER, 2001). ―O ensino
de graduação em Administração no Brasil caracterizou-se, desde seu início, pela transferência
de tecnologia de gestão, principalmente norte-americana, e posteriormente pela
desvinculação das atividades de ensino e pesquisa‖, afirma Nicolini (2003, p. 44) em
comentário incisivo e claro diante da problemática relação entre teoria e prática no ensino de
gestão. O ensino em Administração hoje é estruturado a partir do ideário da gerência
científica afastando-se cada vez mais do mundo dos negócios e da gerência prática
(CARRIERI; PERDIGÃO; AGUIAR, 2015).
Desde a institucionalização do ensino de administração no Brasil muitas mudanças
ocorreram, entre elas encontra-se o aumento significativo do número de escolas, no entanto, a
expansão quantitativa não tem sido acompanhada de um alto nível de ensino (FISCHER,
2001). As escolas de negócios tornaram-se literalmente um negócio. Isto pode caracterizar
uma das possíveis causas da crise de identidade enfrentada no ensino das escolas de
administração (OLIVEIRA; LOURENÇO; CASTRO, 2013).
As causas, apontadas pelos discentes, entre outros pontos, são a desarticulação entre
teoria e prática, a distância entre a formação e as exigências do mercado, a falta de incentivo à
pesquisa e a desarticulação entre disciplinas da grade curricular. ―Assim, técnicas e métodos
importados provavelmente nunca funcionarão satisfatoriamente, pois foram concebidos em
outro contexto e, quando transferidos, passam a apresentar problemas‖ (NICOLINI, 2003, p.
52). Tais problemas podem ser definidos pelo modo como estruturas não se encaixam,
apresentando um choque entre a estrutura pura, abstrata e universal (Gestão) e àquele campo
de prática (gestão) (CARRIERI; PERDIGÃO; AGUIAR, 2015).
Numa perspectiva pós-estrutural, nos termos de Deleuze (1988), não há nenhum
problema virtual ou ideal até que seja um problema para uma situação atual. ―O problema não
teria importância sem sensações reais que ele condiciona e que o expressem‖ (WILLIAMS,
2013, p. 100). Logo, uma situação histórica em que tais preocupações ganham terreno é, como
expressão objetiva ao pensamento pós-estrutural de Deleuze (1988), a relação entre um
modelo teórico e suas aplicações práticas, como se depreende do ―academismo e do caráter
espistemologizante, falta relação com a prática, ou seja, com o processo de gestão e com os

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problemas enfrentados no exercício da profissão por executivos e consultores‖ (BERTERO,
2009, p. 90-91).
Isso não significa, que os pesquisadores devam se preocupar plenamente com os
problemas momentâneos de empresários e executivos. Tampouco significa que os
pesquisadores posam ignorar o mundo da prática. O grande desafio é unir esses dois mundos
(BERTERO, 2013b). Em Deleuze (1988) se reconhece que os problemas são inacabados e
contínuos, razão pela qual são promotores de mudanças políticas, uma vez que ―se há
estruturas condicionando tanto a realidade atual quanto a imaginação, então deve haver
problemas, pois de outro modo as estruturas iriam apelas a uma ou a outra‖ (WILLIAMS,
2013, p. 99).
A questão, por fim, que guia nossa inquietação e, consequentemente, este texto é
como a academia vem abordando o dualismo conceitual teoria-prática na formação dos
seus membros e egressos? Já se observa o direcionamento onto-epistemológico neste
enunciado, ou seja, administração enquanto prática profissional sugere que a abordagem que
carregamos e, assim, nossa orientação, é a pragmática da linguagem.
Adotando um formato de ensaio teórico, a metodologia utilizada consiste no
levantamento da literatura pertinente e na seleção bibliográfica, se alinhando ao modelo de
compilação apresentado por Eco (1991), em que busca-se compulsar criticamente parte
significativa da literatura pertinente disponível e expô-la de forma clara tendo a inquietação
inicial como critério de seleção e uso. Por fim, com base nestas considerações iniciais, este
paper terá duas seções, além desta introdução e considerações finais: (1) Qual a situação da
pesquisa em Administração? e; (2) O Ontem Eterno e as Mudanças Institucionais, que
representa traços de uma análise institucionalista com base no novo institucionalismo
histórico

2.1. Qual a situação da pesquisa em Administração?

Serra, Fiates e Ferreira (2008) empreenderam uma significativa pesquisa para a


academia brasileira de administração, sobretudo porque apontaram as dificuldades
enfrentadas pelos pesquisadores nacionais no tocante à publicação de suas produções
textuais. De forma clara, os autores indicam dois pontos discutíveis: (1) dedicação exclusiva a
pesquisa para reduzir a curva de aprendizagem; e (2) qualidade do artigo no aspecto teórico,
que passa necessariamente pelo desenvolvimento teórico como lente para observar a realidade
empírica, e empírico no que diz respeito a ser significativo e impactante para o mundo real.
Um direcionamento que chama a atenção no aspecto empírico indicado por Serra,
Fiates e Ferreira (2008) é que esse impacto não pode — e não deve — se dar apenas a partir
do pesquisador, carecendo de consultas aos praticantes da gestão, da administração. Esse
entendimento remete-nos a pensar acerca das comunidades de prática que possuem regras de
conduta, de legitimidade e de comportamentos distintos, ou seja, a comunidade científica
possui ditames de legitimidade que se diferenciam da comunidade de praticantes da gestão.
Essa característica é tão importante para a significância do trabalho que Serra, Fiates e
Ferrera (2008, p. 46) afirmam que para os entrevistados (revisores internacionais) ―a
qualidade do artigo refere-se à sua significância traduzida pela consistência teórica e pelo
impacto do artigo no mundo real, ou seja, o quanto é aplicável de fato‖.
Nota-se que esta é uma distinção importante entre o entendimento de qualidade pelos
revisores e métricas nacionais, que privilegiam impacto por meio de citações ou fator de
impacto, ou seja, a legitimidade da produção acadêmica em administração no Brasil passa,
prioritariamente, pelos pares acadêmicos. Parece então que é importante discutir o que vem a
ser esse aplicável ―de fato‖ como critério de qualidade nas pesquisas e, para conversar acerca
de tal indicação, recorreremos ao pensamento de dois autores que julgamos serem
representantes de um pensamento que compartilhamos: Pedro Lincoln Carneiro Leal de
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Mattos, professor titular aposentado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e
Jorge Larrosa Bondía, professor da Universidade de Barcelona.
Em sua longa trajetória acadêmica, Mattos dissertou agudamente acerca de muitos
tópicos, mas pontualmente, publicou três obras que despertaram profundo interesse, todas
em periódicos de alto impacto, nos critérios nacionais como discutiram Serra, Fiates e
Ferreira (2008). Em todas elas, há um fio condutor: a pragmática da linguagem, com a qual
tendemos a entender o mundo empírico.
Mattos (2003b) trata de não discutir a dicotomia entre teoria/prática, pois entende,
como todo pragmático, que o sentido dos proferimentos, das sentenças e, assim, das teorias,
está no uso, legitimado pelas comunidades de fala às quais se dirige tais proferimentos. Essa
comunidade de fala é entendida por Wittgenstein (1984) como jogo de linguagem, que
representa uma forma de vida e, como tal, o significado não se dá a priori, como uma teoria
abstrata, mas sim na prática, no uso das teorias ou nas práticas teóricas.
Desta relação Mattos (2003b, p. 38) indica que ―não existem teorias, só existem
práticas teóricas‖, deixando claro que toda linguagem, mesmo a desenvolvida com o rótulo
de teórica, é uma atividade linguística de natureza interativa, algo humano e social, de todo
contextualizada, tendo naturalmente impacto no mundo real, pois é o próprio mundo real.
Assim, a dicotomia teoria/prática não apenas é incoerente na pesquisa em Administração,
como simplesmente não existe sob a perspectiva teórica da pragmática, como defende Mattos
(2003b), indicando que ciência e não ciência (ou pseudociência) são conceitos modernos que
não se sustentam pragmaticamente (MATTOS, 2009). Parece, então, que esta discussão está
demorando a chegar à administração, em especial na comunidade nacional de pesquisa em
administração, que ainda admite a distinção teoria/prática. Mas será realmente este o caso?
Ora, Walsh, Meyer e Schoonhoven (2006, p. 658) indicam, com uma grande revisão
histórica, que as primeiras escolas de negócios norte-americanas graduaram seus alunos em
Business em 1884, tendo, em seu corpo docente, um mix de acadêmicos tradicionais,
lecionando direito, ciência política, história, economia e demais disciplinas de base e não
vinculadas ao exercício profissional do discente, e ―practical businessmen‖ lecionando
disciplinas ligadas à gestão e, assim, ao exercício profissional do discente.
Parece, então, que, com a intenção política de elevar o conhecimento de gestão
(business) ao status de ciência, modificou-se a base de docentes, admitindo acadêmicos com a
possibilidade de nenhuma vivência executiva e aplicando como método o rigor da ciência,
sobretudo o positivismo, distanciando os docentes da prática diária das organizações e,
encurtando a história, cá estamos, no campo de administração como conhecemos, com toda
essa institucionalização de dedicação exclusiva (DE), eventos grandiosos com baixa
participação de executivos, dificuldade em implementar estudos empíricos em pequenas
organizações (pois não possuem dados secundários para análise) e tendo a gestão ordinária
com pouca atenção (CARRIERI; PERDIGÃO; AGUIAR, 2015), admitindo pesquisadores
disfarçados de professores em virtude de ―pesquisar‖ administração no Brasil passa,
comumente, pela carreira docente.
Mas até que ponto a carreira de pesquisador em organizações pode/deve se distanciar
da carreira de executivo, de gestor, de praticante da gestão? Não vamos discorrer muito, mas
sob o manto da pragmática não há de se considerar tal distância, pois simplesmente não
existe. Não existe teoria, como já dito, apenas prática teórica (MATTOS, 2003b), e o lugar de
teorizar é na prática, é na linguagem, que é, por si, uso. Esse uso vai ao encontro do que Serra,
Fiates e Ferreira (2008) revelaram como qualidade nos periódicos internacionais pelos
avaliadores e revisores. Esse apelo por privilegiar a prática mesmo quando do
desenvolvimento de ―teoria‖ é um aspecto interessante a considerar. Obviamente é preciso
considerar que os revisores e avaliadores ouvidos por Serra, Fiates e Ferreira (2008) são de

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periódicos norte-americanos e que há um atendimento, senão à produção, ao mainstream da
área de negócios, que é uma área fortemente funcionalista.
Não queremos iniciar uma discussão epistemológica quanto à orientação
paradigmática, mas é de se entender que a área de gestão ou administração é funcionalista por
gênese, embora acolha, como ciência social aplicada, diversos desenvolvimentos de áreas
correlatas, como sociologia, antropologia, ciência política entre outras, ou distantes, biologia,
física, informática entre outras. Essa assertiva se dá em virtude dos trabalhos e autores que
caracterizam seu surgimento enquanto conhecimento estruturado. Basta ver que Henri Fayol,
Henry Ford, Frederick Taylor, Elton Mayo, Chester Barnard, Herbert Simon e tantos outros
possuem uma forte vivência empírica daquilo que acabaram por teorizar.
O próprio Barnard (1938) discute no apêndice de seu livro que o fenômeno
administrativo deve ser entendido por dentro, uma vez que envolve pessoas em contexto de
decisão. Embora a rigor esse entendimento dê suporte a inferir que a pragmática sempre
esteve presente na administração, enquanto contexto histórico para sua gênese, vem
gradativamente aumentando a distância entre academia e as organizações. Essa distância
pode ser notada, de forma contundente, quando se analisam as práticas ou tradições de
pesquisa nas ciências sociais, que englobam a administração.
Entende-se por tradição de pesquisa em Creswell (2007), ou estratégias de
investigação em Denzin e Lincoln (2011), o conjunto de ferramentas, habilidades, suposições e
práticas que movem o pesquisador do paradigma para a coleta e análise de material empírico
num contexto de projeto de pesquisa, apresentando diversas tipologias ou taxonomias, tais
como as definidas por Merriam (2002), Godoi, Bandeira-de-Mello e Silva (2006), Creswell
(2007), Flick (2009) e Denzin e Lincoln (2011), não findando a lista. No entanto, para os fins
desta pesquisa, considerou-se como abordagem mais completa e plural a apresentada por
Creswell (2007) por meio das cinco tradições de pesquisa qualitativa, a saber: Pesquisa
Narrativa, Fenomenologia, Grounded-Theory, Etnografia e Estudo de Caso.
Contudo, Creswell (2007) escreve a respeito da pesquisa qualitativa de modo geral, ou
seja, para todos os campos da ciência social aplicada sem detalhar ou especificar
particularidades de tais campos. Por isso, acrescenta-se a este rol a Pesquisa-Ação, tratada
como estratégia de pesquisa no livro organizado por Godoi, Bandeira-de-Mello e Silva (2006)
e definida por Thiollent (1997) como uma pesquisa passível de ser realizada nas organizações.
Por motivos específicos, não serão discutidas as tradições de Pesquisa Narrativa,
Fenomenologia, Grounded-Theory, Etnografia e Estudo de Caso, pois não apresentam a
característica única da pesquisa-ação, que queremos enaltecer aqui. Focaremos nossa
discussão na pesquisa-ação, tradição que remonta às pesquisas no domínio dos estudos
psicológicos de campo, tendo seu criador Kurt Lewin (BRYDON-MILLER; GREENWOOD;
MAGUIRE, 2003). Para Thiollent (1997), defensor desta estratégia de pesquisa, a pesquisa-
ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita
associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os
pesquisadores e os participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de
modo cooperativo ou participativo.
Nota-se a proximidade da conceituação de Mattos (2003b, p. 38) do entendimento
dado por Thiollent (1997) à pesquisa-ação, quando aquele indica que ―perde sentido o famoso
dualismo teoria/prática, referindo-se o segundo desses termos à compreensão única que se
tem da situação administrativa, quando nela envolvido‖ [grifo nosso], em especial ao contexto
vívido de um problema coletivo e uma ação — que é sobretudo linguística por ser coletiva e
social. É possível notar, também, certa proximidade com o critério de qualidade apontado
pelos revisores ouvidos por Serra, Fiates e Ferreira (2008).
Martins e Theóphilo (2009, p. 73) são felizes em afirmar que na pesquisa-ação ―o
objeto da investigação não é constituído pelas pessoas, e sim pela situação social e pelos
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problemas de diferentes naturezas encontrados‖ [grifos nossos]. Tal situação social pode ser
perfeitamente entendida como uma organização. Além disso, a pesquisa-ação é um tipo de
pesquisa participante engajada, em oposição à pesquisa tradicional (moderna) que se
considera, ou busca se considerar, independente, não reativa e objetiva, o que pretendeu a
ciência da administração como discute Walsh, Meyer e Schoonhaven (2006).
No entanto, o que diferencia a pesquisa-ação da consultoria organizacional, sua
coirmã em objetivo, é a reflexividade pedagógica que aquela propõe, como bem ressaltam
Kemmins e McTaggar (2005, p. 564), necessitando de uma profunda reflexão não apenas das
ações em vias de solucionar ou mitigar o problema, mas do processo, das tomadas de
decisão e de suas consequências organizacionais, que é a porção pedagógica desta
estratégia de pesquisa, sua reflexividade. Mais precisamente, Kemmin e McTaggar (2005, p.
568) indicam que a ―participatory action research aims to transform both theory and practice‖ [grifos
nossos], por meio da reflexividade a partir dos resultados alcançados e do processo. É notória a
finalidade da pesquisa-ação no que diz respeito a desenvolver o conhecimento e a
compreensão como parte de uma prática socializada e contextualizada.
Também chamada de pesquisa intervencionista, a pesquisa-ação possibilita conhecer
o sistema em ação, eliminando o distanciamento histórico do positivismo e indo ao encontro
da afirmação de que só se pode compreender um sistema até tentar mudá-lo (KEMMINS;
McTAGGAR, 2005). Percebe a sutileza e profundidade desta afirmação? Ou seja, como
conhecer uma organização e as forças ali atuando (ideológicas, políticas, informais etc.) sem
intervir no sistema? Existe meio melhor de entender a cultura? O poder? A organização social
formal e informal? Qual tradição de pesquisa possui esse objetivo explicitamente definido? É
interessante constatar que, embora tenha tal potencial, essa tradição de pesquisa possui
participação ínfima na academia brasileira de administração, contando com 75 artigos
desenvolvidos sob esta tradição entre os 29.097 documentos disponíveis na base de dados
SPELLi, menos de 0,26% do conjunto de textos disponíveis (29.097)
As tradições de pesquisa etnografia, fenomenologia e outras de cunho interpretativista
se propõem a entender o sentido dado à ação, porém este saber se configura como um saber
da coisa e não um saber da experiência, como discute Bondía (2002). A esse respeito, esse
conceituado professor inicia seu texto, intitulado ―Notas sobre a experiência e o saber da
experiência‖, com a desconstrução do dualismo ciência/técnica, remetendo a uma posição
discursiva do iluminismo e a prevalência da razão plena, gerando, também, o dualismo
teoria/prática, numa posição política e ideológica. Neste sentido, os dois dualismos acabam
por conceber ―sujeitos técnicos que aplicam com maior ou menor eficácia as diversas técnicas
pedagógicas produzidas pelos cientistas‖ (BONDIA, 2002, p. 20) e, no segundo dualismo
apresentado, o sujeito aparece como um ―crítico que, armados de distintas estratégias
reflexivas, se compromete, com maior ou menor êxito, com práticas educativas concebidas na
maioria das vezes sob uma perspectiva política‖ (BONDIA, 2002, p. 20), entenda-se,
ideológica, paradigmática.
Fugindo da discussão já engessada na academia entre os dualismos propostos, que
basicamente remetem ao iluminismo, Bondía (2002) sugere refletir acerca de outro dualismo,
tratado por ele como sendo mais existencial, que é a experiência/sentido.
Trata experiência como sendo ―o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca.
Não o que se passa, não o que acontece, ou o que toca‖ (BONDÍA, 2002, p. 21), diferenciando-
a da informação acerca da experiência. Continua dizendo que ―o que gostaria de dizer sobre o
saber de experiência é que é necessário separá-lo de saber das coisas, tal como se sabe
quando se tem informação sobre as coisas, quando se está informado‖ (BONDÍA, 2002, p. 22).
Essa informação de Bondía acolhe recentes desenvolvimentos a respeito do entendimento dos
diversos tipos de saberes docentes, que estou tratando de forma análoga aos saberes da

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profissão do administrador e, mais literalmente ainda, aos saberes necessários ao professor de
Administração.
A experiência que Bondía (2002) trata não é uma experiência tempo-espacial, ou seja,
não é participar de algo. Essa participação gera opinião, que, com um sujeito mais informado
em virtude da difusão da informação proporciona um imperativo da opinião, que nos torna
sujeitos opinativos de tudo. Nossa aprendizagem tem sido desenvolvida no processo de
informar-se e opinar, com o máximo de informação em um espaço de tempo cada vez menor.
Por experiência entende-se algo transformador, a ―possibilidade de que algo nos aconteça ou
nos toque, requerendo um gesto de interrupção‖ (BONDÍA, 2002, p. 24), suscitando uma
práxis, requerendo:

[...] parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar
mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-
se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade,
suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e
os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros,
cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço
(BONDÍA, 2002, p. 24).

Bondía (2002) não permite questionamentos acerca da fundamental necessidade das


ações requeridas para a experiência no fazer profissional, quer na função docente quer, por
nossa analogia, na função administrador, visto que o gesto de interrupção se dá no contexto
da prática profissional. Sendo assim, a característica do sujeito da experiência é a abertura,
sua exposição, com toda a vulnerabilidade e risco que decorre dela. Por isso é ―incapaz de
experiência aquele que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se propõe, mas não se expõe‖
(BONDÍA, 2002, p. 25, grifo nosso).
É nesse sentido, admitindo a pragmática da linguagem como epistemologia e o saber
de experiência como epistémé, que discutimos a prática contemporânea da pesquisa nacional
em administração, que privilegia o recorte da realidade não vivenciada para análises
desprovidas de sentido prático/empírico, que alimenta a dicotomia entre teoria e prática e
vem contribuindo para o distanciamento entre o acadêmico e o prático.
É verdade, como já discutido, que a pesquisa de Serra, Fiates e Ferreira (2008) traz
resultados enviesados pela concepção norte-americana de administração e produção.
Entretanto, se mesmo na lista Qualis CAPES — bem nossa! — é notória a presença de
periódicos internacionais nas referências, sobretudo norte-americanos, é válido também
admitir que fazem o papel de casa no que diz respeito ao fator de impacto ou citações (nosso
padrão de qualidade) e, adicionalmente, mas ao que parece é seu objetivo, tem impactos no
mundo real. Nota-se, de maneira mais clara, que o periódico Harvard Business Review é recheado
do que se chama pop management e figura no estrato A1 de nossa classificação.
Será que, mantendo as coisas como estão, pesquisando de forma pontual no tempo e
no espaço, num modelo de ir, coletar e voltar, sem permitir a experiência e, mais que isso, o
saber advindo da experiência, admitindo que o saber das coisas é suficiente para ―contribuir
com o avanço do conhecimento da área‖, objetivo que Bertero et al. (2013b, p. 185) atribuem à
pesquisa em Administração e com o qual concordamos, será que estamos avançando? Será que
estamos entendendo mais a administração enquanto prática profissional ou a academia está
―se autoalimentando, frequentemente não a partir da experiência e da realidade extra muros,
mas de trabalhos realizados na própria academia‖ (BERTERO, 2009, p. 90), fomentando um
―caráter epistemologizante‖ à área (BERTERO, 2009, p. 91)?
É certo, como discutem Pezzi e Steil (2009), que a existência da pós-graduação está
atrelada à produção de conhecimento. Esse objetivo é inquestionável. O que se discute é que
conhecimento é esse? Qual o papel dele na mudança da realidade? Qual seu papel na
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compreensão da realidade? E, pelo que comentamos, que realidade é esta na qual os estudos
desenvolvidos na pós-graduação se debruçam? Será que a lacuna entre teoria e prática na
perspectiva dos estudantes de pós-graduação stricto sensu em Administração evidenciada por
Melo, Robles e Assumpção (2010), bem como sugestões de Bertero et al. (2013a) para
aproximar prática de teoria, não dão evidências suficientes para inferir que há algo errado?
Será que pelo ―produtivismo acadêmico‖ (BERTERO et al., 2013a, p. 191), que acaba por
classificar os pesquisadores em nosso sistema de pontuação, não se mantém a forma como a
pesquisa em administração é conduzida no Brasil, não inovando em tradição sob o risco de
não publicar? Barbosa et al. (2013) tocam nesta ferida aberta em nosso sistema nacional de
avaliação e discutem que, embora possam ter intenção de inovar, os pesquisadores nacionais
em administração são compelidos a lutar por um espaço no campo científico da administração
no Brasil, o que compromete a mudança nas práticas de pesquisas já legitimadas pelo sistema
de avaliação. Essa institucionalização parece explicar a permanência de tais práticas que
alimentam o discurso de teoria distinta e distante da prática, ao passo que dificulta sua
mudança.
A esse respeito é interessante a constatação de que acreditamos que, para discutir
produção acadêmica, é imprescindível produzir academicamente para viver as dificuldades e,
no entanto, para discutir administração não vemos a necessidade de vivenciar a administração
enquanto prática profissional.
Como receber o comentário agudo, tanto quanto lúcido, de Lima e Wood Jr. (2014, p.
462) quando afirmam que, mesmo reconhecendo o avanço do campo cientifico da
administração no Brasil, ―considering that the goal of science is to advance knowledge for the good of
society, we conclude that the benefit of administrative science in Brazil is unknown and perhaps
insignificant‖. Pensamos que essa constatação, tomando por base a discussão introduzida
neste ensaio, deve integrar nossa pauta de temas a serem investigados e, com esforço hercúleo,
sensibilizar os jovens integrantes da comunidade científica para lograr de mudanças no
transcorrer da história. Afinal de contas, o que estamos fazendo se os praticantes de nosso
saber não dão importância ao conhecimento que estamos produzindo?

2.2. A Fossilização das Instituições: Um breve olhar para a pesquisa em


administração no Brasil

Com base no discutido anteriormente, uma evidência salta aos olhos: Se é tão
discutível que há um desvio comprometendo a pesquisa e o ensino em administração, por que
esse desvio ainda se mantém?
Essa inquietação, que aponta para a manutenção de uma institucionalização de
práticas, pode ser analisada por diversas abordagens teóricas, indo desde as comunidades
linguísticas de Wittgenstein até a análise arqueológica de Foucault para ver a verdade deste
discurso. Porém, acreditamos que, dentre as lentes possíveis, aquela que se dedica a análise da
gênese, manutenção e mudança institucionais, possuindo certa crítica à abordagem
comportamentalista e a racionalidade instrumental, pode nos fornecer insights interessantes
para compreender essa manutenção.
Então, admitimos que o neo-intitucionalismo será a lente complementar de análise
adotada neste ensaio. Para tanto precisamos definir qual neo-institucionalismo estaremos por
considerar, haja vista que desdobramentos dessa corrente de pesquisa iniciada por DiMaggio
e Powell (1991) se dão na economia, na sociologia e na ciência política, não sendo
mutualmente excludentes (HALL; TAYLOR, 2003; MARCH; OLSEN, 2006).
No que se refere à abordagem do neo-institucionalismo sociológico, que trata de como
as instituições tendem a assemelhar-se com o tempo de forma distinta daquela da
racionalidade meio e fins, ou seja, não necessariamente porque aumentassem sua eficácia
8
abstrata (HALL; TAYLOR, 2003), pensamos que o trabalho de Kirshbaum, Porto e Ferreira
(2004), como o de Pegino (2014), é exemplar quando analisa a produção acadêmica em
administração, criticando a CAPES como órgão disciplinador do meio acadêmico num
momento em que a academia não necessita mais de tal órgão para garantir o volume de
pesquisa e a interação com a comunidade. Contudo, com base no já discutido na seção
anterior, essa interação com a comunidade está sendo reposicionada na agenda de pesquisa.
Fica clara em tal pesquisa a relação entre a forma de institucionalização da pesquisa
em administração no Brasil e as leis e regras impostas, num típico comportamento
isomórfico coercitivo, sobretudo a partir dos editais de fomento da CAPES e as regras de
avaliação que institui para os programas de pós-graduação stricto sensu. Tais regras, como
relatam Kirshbaum, Porto e Ferreira (2004, p. 10), não ―reconhecem a pesquisa aplicada como
produção acadêmica para fins de avaliação‖, dando indícios suficientes que a prática de
pesquisa em administração não se dá para a aplicação da teoria na resolução de problemas,
visto não atender às demandas instituídas pela CAPES e, assim, não alcançar recursos, status e
demais espaços na comunidade científica, como já comentaram Barbosa et al. (2013). Não
discutiremos aqui as mediações entre universidade e a comunidade, quer seja por consultorias
e/ou patrocinadores. Sugerimos para isso a leitura completa da pesquisa de Kirshbaum, Porto
e Ferreira (2004), mas também tem impactos na institucionalização do modus operandi da
pesquisa em administração no Brasil.
No entanto, percebe-se na pesquisa em administração no Brasil que possuímos traços
de comportamentos isomórficos miméticos (imitação) e normativos (condutas e práticas
comuns aos profissionais do ramo de atividade), embora não tão proeminentes quanto o
coercitivo (KIRSHBAUM; PORTO; FERREIRA, 2004), haja vista que, como propõem Bertero
et al. (2013b), a publicação em periódicos internacionais é um flagrante registro de mimetismo,
alcançando a legitimidade via imitação das práticas das comunidades cientificas
internacionais.
Os programas imitam-se para serem legitimados! E, além disso, o que esperar de
doutores em formação, que experimentaram tal institucionalização enquanto mestrandos e
bolsistas de iniciação científica? Repetir, num flagrante de comportamento isomórfico
normativo, em que os profissionais pesquisadores estão embebidos neste modus operandi. Estão
sendo formados assim e, quando profissionais, tendem a repetir suas práticas, pois foram
legitimas em sua formação.
Como se vê, separar na análise os comportamentos isomórficos é difícil. Evidencia-se o
comportamento isomórfico da pesquisa nacional em administração pelos comentários acima,
já que ―o isomorfismo é inerente a qualquer atividade humana, e também na academia‖
(KIRSHBAUM; PORTO; FERREIRA, 2004, p. 11). Porém, pode-se ir mais adiante.
Em 2009, como forma integrante de um relatório de pesquisa, Bertero (2009) dá uma
retrospectiva digna de uma análise histórica que consolida a abordagem institucionalista para
a pesquisa em Administração no Brasil, destacando o papel inicial do CFE (Conselho Federal
de Administração) na consolidação da pós-graduação em torno de linhas de pesquisa,
culminando na interferência da CAPES no modus operandi. Contudo, embora tenha traços
marcantes do institucionalismo sociológico, sobretudo o mimético, pode-se visualizar
também o neoinstitucionalismo político, em especial o neoinstitucionalismo histórico (HI) no
desenvolvimento da instituição pesquisa em administração no Brasil.
Percebe-se que atribuímos o termo instituição à ―pesquisa em administração no Brasil‖
e ao fazer isso demonstramos a dificuldade em definir o que vem a ser instituição para o
neoinstitucionalismo. Creditamos a March e Olsen (2006, p. 3) um esforço plausível por
definir os contornos do que vem a ser instituição, sobretudo na ciência politica, quando
afirmam que é:

9
[…] a relatively enduring collection of rules and organized practices, embedded in structures of
meaning and resources that are relatively invariant in the face of turnover of individuals and
relatively resilient to the idiosyncratic preferences and expectations of individuals and changing
external circumstances.

Assim podemos trabalhar com a ―pesquisa em administração no Brasil‖ como sendo


uma instituição, que atravessa o tempo mantendo parte de suas práticas e regras e, portanto,
podemos analisá-la pelo prisma institucionalismo histórico (HI), que tem por objetivo
compreender a ação dos indivíduos e suas manifestações coletivas, as mediações entre as
estruturas sociais e os comportamentos individuais (THERET, 2003). Além disso, para
Sanders (2006, p. 39):

The central assumption of historical institutionalism (HI) is that it is more enlightening to study
human political interactions: (a) in the context of rule structures that are themselves human
creations; and (b) sequentially, as life is lived, rather than to take a snapshot of those interactions at
only one point in time, and in isolation from the rule structures (institutions) in which they occur.

É interessante notar que esta corrente do neoinstitucionalismo político retém do


enfoque dos grupos a ideia de que o conflito entre grupos rivais pela apropriação de recursos
escassos é central à vida política, mas buscavam melhores explicações, que permitissem dar
conta das situações políticas e, em particular, da distribuição desigual do poder e dos
recursos. Parece que este aspecto é central na análise do institucionalismo nas práticas de
pesquisa em administração no Brasil, senão pelo que vejamos.
Kirshbaum, Porto e Ferreira (2004) classificam os pesquisadores nacionais em gestão
em dois grupos: (1) aqueles que lecionam e participam de consultoria e; (2) aqueles ―puro
pesquisadores‖. Já discutimos que os critérios acadêmicos de pontuação não reconhecem as
pesquisas aplicadas, possibilitando a escalada na carreira mais rapidamente e, de certo modo,
legtima sob os critérios CAPES aos integrantes do grupo (2). Em particular uma mudança
trouxe mobilizações no meio acadêmico nos últimos anos. Estamos fazendo referência à
mudança na pontuação de eventos e de periódicos no currículo dos acadêmicos. Nessa
perspectiva de análise (HI), as estruturas entram em conflito de tal modo que determinados
interesses são privilegiados em detrimento de outros.
Tais conflitos vão conduzindo os resultados até engendrarem situações sociais e
políticas próprias, incluindo o desenho institucional específicos das instituições. É bem
verdade que esta corrente (HI) se desenvolveu na análise do legislativo norte-americano, com
suas regras internas que condicionam as ações dos agentes e privilegiam disputas de poder.
Mas parece que é semelhante ao que estamos discutindo, pois se há dois grupos integrando a
comunidade científica nacional na pesquisa de gestão há, necessariamente, concorrência pelos
recursos e, assim, disputas de poder.
Desse modo, a tomada de decisão mediada pelas instituições consideram assimetrias
de poder associadas ao funcionamento e ao desenvolvimento das instituições e sua relação
com os grupos ou interesses. As instituições, então, funcionam como uma maneira de regular
conflitos inerentes ao desenvolvimento da diferenciação e da assimetria de poder, o que
contrasta com a postura do institucionalismo sociológico e do institucionalismo da escolha
racional, que a veem como uma solução para problemas de coordenação. Se os conflitos estão
sendo geridos pelas instituições sem que as preferências e o apelo coletivo sejam rechaçados
mantem-se a instituição, do contrário muda (HALL; TAYLOR, 2003; MARCH; OLSEN,
2006).
Ao que tudo indica, parece haver no sistema de avaliação da CAPES uma inclinação
para pontuar melhor pesquisas veiculadas nos eventos e nos periódicos ante a práticas mais
próximas das organizações, tais como consultoria. Como já discutido por Bertero (2009), a

10
avaliação para periódicos é realizada seguindo isomorfismos miméticos das práticas norte-
americanas, no sistema Blind Review, e executada por renomados e praticantes pesquisadores
do modus operandi da pesquisa em gestão, que acabam por ter como elemento comum a
distância do mundo empírico como regra de formação (KIRSHBAUM; PORTO; FERREIRA,
2004; BERTERO, 2009).
Eles mesmos fazem parte do comitê de decisões da CAPES, formado por
professores/pesquisadores de programas de pós-graduação avaliados, num tipo de decisão
colegiada, mas que mantém o elemento comum como liga para seus integrantes, ou seja,
presença majoritária dos componentes do grupo ―puros pesquisadores‖. Nada mais natural
que entender tal decisão a partir do conflito de poder e da marcação pela alteridade que faz
parte de qualquer comunidade. Fica mais fácil de compreender esta mudança no sistema de
avaliação quando potencializa aqueles participantes da comunidade científica nacional que
está mais intimamente relacionado com o modus operandi do que àqueles que militam por meio
de consultorias e pesquisas aplicadas.
Estes — do grupo ―puros pesquisadores‖ — mais ligadas ao academismo (BERTERO,
2009, p. 90) entendem as regras de legitimação do grupo, são mais ajustados a elas, possuem
uma estrutura que dá apoio a tais práticas (DE, bolsas, fomento etc.) e, portanto, terão acesso
contínuo ao recurso, aos espaços e, por fim, ao exercício do poder na área, manifestado,
inclusive, no sistema de avaliação.
E as preocupações da relação teoria e prática, historicamente presentes desde a gênese
do ensino administrativo (BERTERO, 2009)? E o retorno à sociedade a partir do investimento
e das pesquisas? E as melhorias nas práticas administrativas e, por fim, das organizações, a
partir das pesquisas? Paremos um pouco. Quem dita às regras para o campo? Grupo (1) ou
(2)? Nota-se que esse percurso analítico que estamos traçando, tomando por base apenas uma
manifestação da instituição ―pesquisa em administração no Brasil‖ — que é o sistema de
avalição da CAPES — tende a manter o status quo, que aliás, como comentam Hall e Taylor
(2003), bem como Nascimento (2009), é o ponto forte do institucionalismo histórico (HI), já
que, como afirmam Hall e Taylor (2003, p. 199), esse tipo de análise (HI) sugere que as
estratégias induzidas por um ―contexto institucional podem fossilizar-se ao longo do tempo e
tornar-se visões de mundo, que são propagadas por organizações oficiais e terminam por
moldar a imagem de si e as preferências dos interessados‖.
E, ao mesmo tempo em que as preferências são imagens dos integrantes, as instituições
resistem ―a serem postas radicalmente em causa porque elas estruturam as próprias decisões
concernentes uma eventual reforma que o indivíduo possa adotar‖ (HALL; TAYLOR, 2003, p.
199). Por essa razão o HI é muito mais honesto em explicar a permanência das instituições do
que a discutir sua gênese (NASCIMENTO, 2009).

2.3. Mudança que reforça a norma: à guisa da conclusão

Retornando ao objetivo desta discussão, o de lançar luzes na relação entre a academia


(pós-graduação stricto sensu) e o desenvolvimento da administração enquanto prática
profissional, já podemos delinear alguns pontos:

 Ponto 1: É indiscutível que estamos passando por crise existencial na pesquisa em


administração, pelo menos a partir de entendimento pragmático. A prática
profissional para a qual olhamos (administração ou gestão em seus diversos níveis —
macro, meso e micro), que dá nosso lócus de investigação enquanto pesquisadores, não
nos considera como depositário de saber para seu exercício profissional. Nesse hiato,
pode residir o fato de não estar havendo a transformação fundamental, ou se estiver,
pode não estar recebendo o empenho necessário por abarcar a nova concepção acerca
11
da imbricação teoria-prática. Essa discussão crucial deve receber pauta destacada,
caso contrário, o dualismo conceitual prevalecerá em nossas investigações científicas
e, igualmente, continuaremos a distanciar a teoria da prática, longe de entendermos a
complexidade e a incerteza recorrentes nas organizações contemporâneas. Essa visão
inadequada inverte o papel do pesquisador na medida em que, em vez de trazer
contribuições teóricas alinhadas às práticas, torna-se refém de modelos de prescrição,
uma vez que estão incapacitados de teorizar diante do algo inovador, do limite
estrutural. Não basta adicionar implicações gerenciais nos resultados quando nunca lá
fomos!

 Ponto 2: Tende a não mudar no curto e médio prazo. As próximas gerações de


integrantes dos conselhos da CAPES, da ANPAD, do CFA, dos órgãos de fomento e
das demais instituições deliberantes da pesquisa, não só em administração, já estão
formadas em seu core. Como qualquer mudança institucional observada pelo viés do
institucionalismo histórico (HI), o desenvolvimento institucional privilegia situações
críticas e as consequências imprevistas mesmo para o grupo de interesse com acesso
as expressões de poder. Nesse sentido, predomina a seguinte máxima: a mudança
reforça a norma, ou seja, se houver algum tipo de mudança imediata deverá legitimar
as condutas e os comportamentos em voga. É importante entender isso para não
frustrar aqueles que desejam mudança. Um aviso aos navegantes: A mudança será
lenta, gradual, mas deve ser constante... é na fricção entre instituição e sociedade que
se dá a mudança (NASCIMENTO, 2009), como reflete Lieberman (2002) da ordem
institucional, a qual pode ser teorizada enquanto um mecanismo de ajustes e reajustes
entre instituições e ideias. Enquanto no plano das ideais ainda não estiver desenhada a
mudança, pouco se pode esperar de efeitos nas estruturas reais.

E como começar a mudança? Não queremos sugerir a leitura da obra Multidão, de


Hardt e Negri (2005), mas parece inevitável. Uma libertação para os que se sentem oprimidos
por uma força que, de certo modo, bebe do mainstream parece que é um caminho viável para o
despertar da área. O modo de atuação em rede, por exemplo, é vital para que o ruído se torne
audível. Aglutinar esforços para uma mobilização de programas de pesquisas, linhas de
pesquisa, pesquisadores e entusiastas em ver a pesquisa na área de gestão retomando seu
espaço, sendo chamada para discussões que envolvem organizações, que reverberarão em
desenvolvimento das organizações, emprego, renda, patentes, royalties e demais fenômenos
que há tempos atrás éramos intimamente relacionados.
Que ao menos se entenda que a pesquisa aplicada, discutida com possível caminho a
pesquisa-ação, possa ser encarada com a tradição legítima de pesquisa em nossa área. Que a
pesquisa possa ocupar seu lugar de destaque na oxigenação do ensino, que por consequência
formará o profissional. Por isso Mattos (2003a) entende o continuun entre a teoria e seu ensino
distanciado da ação, em um extremo, e a técnica e o ensino baseado para sua execução, no
outro, tendo, ao longo dos polos, o desenvolvimento de tecnologias de gestão, sendo estas o
jogo de linguagem teórico que se dirige para a ação gerencial, até mesmo porque muitas vezes
se originou diretamente da experiência dela, constituindo um jogo de linguagem próprio,
talvez aquele ―saber teórico próprio‖ indicado por Paula (2001, p. 78) quando faz um resgate
do legado de Tragtenberg para a pesquisa e ensino em administração.
Parecem caminhos longos e tortuosos a percorre, mas se é caminho alguém já
percorreu! Pode ser que esteja sozinho, mas alguém já vê o caminho. Que essa discussão não
acabe em um paper com baixo impacto na acadêmica por não agradar aos gatekeepers e
repercuta nas práticas da pesquisa, de ensino e de gestão.

12
3. PLANO DE DESENVOLVIMENTO: DANDO CONTINUIDADE À PESQUISA

O tópico ―2‖ apresentou um esforço teórico por ler a situação e pensar ela a partir de
um quadro epistemológico capaz de iluminar a situação problema.
O desafio agora é proferir perguntas corretas, como bem sugere Sarlo (2004, p. 10)
quando indica que a eleição de questões problematizadoras em problemas sociais não é para
definir uma solução, mas ―trata-se antes de perguntar para fazer ver do que para encontrar, de
imediato, um plano de ação. Não são perguntas sobre o que fazer, mas sobre como armar uma
perspectiva para ver‖.
Por isso pensamos em aprofundar as causas da situação já comentada no item 2, dando
ênfase aos integrantes da ―cena‖ da educação superior em Administração no Brasil, em
particular: Os docentes, os Discentes e os dirigentes das IES em Administração. Para tanto a
questão central da investigação é, considerando atestada a distância entre o mundo
acadêmico e o da gestão, e que isso é um problema para um tipo de conhecimento que emana
da prática como o é a administração: Como o distanciamento entre o mundo acadêmico e o
mundo da gestão se mantém nas IES que ofertam a formação em Administração no
Brasil?
As questões a seguir delineiam melhor as inquietações que se projetam no bojo deste
questionamento:

 Quais disciplinas integram o currículo de administração e quais estão alinhadas


ao ofício de decidir?
A ideia nesta inquietação é entender como o currículo do curso de administração internaliza o ofício
de decidir. Como pressuposto básico ou hipótese de trabalho espera-se que a matriz do pensamento
que condicionou a estruturação do currículo centre-se na pressuposição de que o saber estruturado,
compartimentalizado, atomizado dos saberes que se acredita serem indispensáveis para a gestão
esteja na base do currículo. O problema desse posicionamento é o já apresentado por Mintzberg
(1973), ou seja, o ensino tende a ser estruturado e o desempenho da profissão não estruturado. A
certeza vigente – sem fundamentos empíricos – de que o saber teórico pode auxiliar o praticante no
contexto de tomada de decisão ainda se projeta como utopia. Aliás, como nos mostra o que se
convencionou chamar de teoria das organizações, é contra a certeza que evolui o conhecimento
administrativo, considerando desde a racionalidade limitada de Herbert Simon e culminando na
teoria da contingência, última escola bem delimitada no campo das teorias organizacionais. Se o
ofício do administrador é decidir parece que a formação profissional deste aponta mais para uma
decisão no pais das maravilhas, como Shapero (2011, p. 30-31) contundentemente afirma:
Vinte e cinco anos de GESTÃO resultaram em um cenário de Análise no País das Maravilhas, em que
abstrações são a realidade, e pessoas e coisas são cifras e dificuldades a serem enfrentadas. Na visão
de mundo da GESTÃO, uma tarefa gerencial típica consiste em utilizar um E.D.P. (eletronic data
processing) com um M.I.S. (management information systems) para medir o R.O.I. (return on
investiment) e com isso permitir ao C.E.O. (chief executive officer) satisfazer o conselho
administrativo com os resultados das projeções da estratégia competitiva corporativa conforme
representados nos gráficos de L.R.P. (long range planning) [...] Mais cedo ou mais tarde, a estranha
cultura da GESTÃO baterá em retirada. Com efeito, ela só chegou onde chegou porque,
independentemente de como um sistema é projetado, são seres humanos reais que o fazem funcionar. A
cada dia, centenas de milhares de gestores dedicam sua imensa boa vontade e aptidões naturais a
compreender o enorme fosso existente entre a GESTÃO e a caótica realidade da vida cotidiana. Com
os sentimentos de culta e inadequação diante dos últimos métodos que são impelidos a usar, eles
13
aceitam a GESTÃO da boca para fora e continuam a produzir e vender conforme necessidade.
Quando renegamos a GESTÃO, renunciamos a racionalidade? É essa a lição dos últimos 25 anos?
Não! Nunca precisamos tanto da racionalidade como agora – mas da espécie de racionalidade
arraigada em fenômenos observados. Precisamos retomar uma racionalidade voltada para a
desordem natural da vida, e não dedicada a abstrações elegantes. Não há linhas retas na natureza, e,
apresar da linearidade retratada pela GESTÃO, tampouco há linhas retas na gestão.
Será que o currículo permite “ensinar” a lidar com incertezas, a assumir responsabilidades, a não contar com os recursos
ótimos para fins de decisão? Será que as disciplinas, sua composição como colcha de retalhos, permitem integrar as
disciplinas a fim de formar um “decisor”? Será que a crença tradicional ainda se sustenta, qual seja primeiro estude,
aprenda, pratique no laboratório abstrato (sala de aula, estudos de caso etc.) para depois, já formado, vá ao mundo
empírico no qual você terá sua performatividade atestada com problemas reais, não-estruturados, caóticos que você não
tem controle? Por fim, tentaremos captar pelo currículo se os conhecimentos (conteúdo ementário), práticas institucionais
(projeto pedagógico) podem proporcionar um ambiente pedagógico capaz de vencer a distância entre mundo acadêmico e
mundo empírico, tendo por elemento matizador que o profissional formado em administração deve ser capaz de decidir em
contextos imprecisos, caóticos e não-estruturados, inclusive porque isso faz parte da resolução do MEC (CNE/CES,
2005, art. 3º) que regula o curso de administração.

 Quem leciona Gestão?


Continuando a estudar os elementos que compõem a cena do ensino de administração, um elemento
vital ao sistema é o docente. Qualquer que seja o sistema quem o coloca para rodar são pessoas, em
nosso caso os docentes têm uma função nobre que é mediar o processo de aprendizagem. Porém, sua
ação não é desprovida de ideologias profissionais, carregadas por meio de sua formação. Implica dizer
que o docente enquanto pratica a docência não deixa sua ideologia profissional de lado e tal
interferência vai, inclusive, para a ementa e o projeto pedagógico, pois estes são, também, documentos
políticos. Por isso, entender quem é o docente de administração pode revelar traços constitutivos da
prática do ensino em administração. Orientei uma monografia em 2014 na UFPE/CAA, curso de
administração, que procurou verificar o perfil do bom professor em administração e percebemos que a
experiência prática do docente fora do magistério não contou pontos para o perfil do BOM docente,
porém, relacionar a teoria com a prática foi elementos que distinção do BOM professor. Isso indica
que se o docente já viveu aquilo que leciona pode contribuir para a formação do discente, inclusive por
tornar o conteúdo ementário mais atrativo. Lembro do que disse o prof. Mário Sérgio Cortella,
quando disse que ninguém perde interesse pelo que é interessante e a vida organizacional, seus
desafios, seus problemas são, de todo, interessantes, razão pela qual diversas disciplinas, pensadores e
estudantes dedicam sua vida laboral a entender as organizações e as pessoas nas organizações. Logo,
a formação acadêmica e a experiência extra magistério serão estudadas no bojo desta inquietação,
consultando como ferramenta central de análise o currículo LATTES dos professores das IES. Esta é
uma linha importante no entendimento de como o distanciamento entre o mundo acadêmico e o
mundo empírico das organizações se institucionalizou.

 Como contribuem os projetos de extensão das IES para a formação do


profissional e para a mudança nas organizações?
Complementarmente à inquietação anterior, será que os projetos de extensão desenvolvidos nas IES
contemplam os objetivos das atividades de extensão, qual sejam:
“As atividades de extensão se constituem num importante e eficaz instrumento institucional que promove a
troca de saberes e a integração com a sociedade. Além disso, ao mesmo tempo em que beneficia a
população, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida, inclusão sócio-produtiva e defesa do meio
ambiente, as ações extensionistas – que incluem atividades técnicas, científicas, culturais e artísticas –
propiciam ao estudante a oportunidade para um aprendizado teórico-prático
contextualizado, desenvolvimento cultural, responsabilidade social e formação da cidadania” (UFPE,
2015).
14
“A Extensão é uma das funções sociais da Universidade, realizada por meio de um conjunto de ações
dirigidas à sociedade, as quais devem estar indissociavelmente vinculadas ao Ensino e à Pesquisa. Num
âmbito geral, sua finalidade é a promoção e o desenvolvimento do bem-estar físico, espiritual e social, a
promoção e a garantia dos valores democráticos de igualdade de direitos e de participação, o respeito à pessoa e
à sustentabilidade das intervenções no ambiente” (UNICAMP, 2015).

Além da própria inclinação legal promovida pela LDB (Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional) quando indica, em seu artigo 43º, VII, quando diz que é finalidade da educação superior
“promover a extensão, aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e
benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica
geradas na instituição”. Logo, a ideia desta linha de inquietação é capturar o valor de mudança,
emancipação e difusão do conhecimento gerado na academia para as organizações e, num giro
secundário, ma sociedade. Faremos para isso o mapeamento nos sites das pró-reitorias de extensão
das IES e analisaremos os programas de extensão em andamento.

 Quem são os discentes? Quais suas motivações e expectativas?


Por fim, e não menos importante, o discente deve ser analisado. A intenção aqui é de fácil justificativa:
Sem entender quem são, o que procuram, o que esperam e o que fazem após o curso fica difícil entender
a contribuição do curso para a formação do profissional. Esta investigação vai no sentido de: (1)
Descrever quais as expectativas e motivações do estudante “novato” no curso de administração, tais
como o que direcionou sua escolha, o que espera da profissão, o que pensa em fazer após terminar o
curso, qual sua expectativa de salário, de empregabilidade, qual a imagem que tem do curso de
administração e dos profissionais em administração; (2) Analisar os egressos do curso, inquirindo as
mesmas questões do aluno “novato” com adição de questões como o que achou do curso de
administração, se sente preparado para exercer a função de administrar. O rol de perguntas ainda
será melhorado mas a intenção é acompanhar pelos discentes motivações e expectativas. Algumas
máximas já se projetam, tais como uma grande fatia dos egressos está mirando em concursos públicos
e isso é um problema para um curso que tem grande quantidade de matriculadosii. Nossa intenção é
acompanhar os discentes em pelo menos dois semestres na entrada e dois semestres na saída, num
trabalho semelhante ao que já fizemosiii.

Percebe-se que o conjunto de questões tanta abarcar três integrantes centrais no


ensino: As IES, os docentes e os discentes.
Detalhamos no quadro 1 o cronograma e as atividades a serem realizadas.
Planejamento
Temporal
Etapa/Atividade Detalhes da atividade Planejado
Início Fim
Consulta as bases Scielo, Spell,
ANPAD e SEMEAD em busca de
evidências empíricas dos problemas
relacionados ao perfil do discente e
do docente e das dificuldades
Levantamento de literatura instituições em promover 2015.2 2015.2
mudanças. Além disso, casos de
sucesso nacionais e internacionais
relatando práticas pedagógicas bem
sucedidas serão considerados como
benchmarking.
15
Com base na literatura, e nas
questões já indicadas,
Estabelecimento dos instrumentos de coleta estabeleceremos os formulários e
questionários necessários ao 2015.2 2016.1
(questionários, entrevistas etc.)
cumprimento dos objetivos e a
resposta às questões.

Consideraremos neste período o


Aplicação de instrumento envio eletrônico dos formulários e a 2016.1 2016.2
aplicação presencial.

Redação dos resultados 2016.2 2016.2

4. PESSOAS E RECURSOS NECESSÁRIOS


Para a realização desse projeto serão necessários:

a) Computador com acesso livre à base de dados do Periódicos CAPES (Já disponível na
sala do professor responsável e no laboratório de Informática do CAA);
b) 2 (dois) alunos bolsistas de permanência, preferencialmente já tendo cursado as
disciplinas Contabilidade Geral e Custos (ADM 3º) e Contabilidade Gerencial (ADM 4º).
c) Sala para leitura e reflexão (Já disponível na sala do professor responsável).

Como se vê, não há consumo de recursos específicos para este projeto, visto que o
gasto será com os alunos e estes já são contemplados com bolsa permanência pela UFPE.

5. RELATÓRIO, PLANO DE APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E RETORNO AOS INTERESSADOS


Como resultado final do projeto, destaco abaixo as ações a serem verificadas:

a) Entrega do portfólio de artigos submetidos – ou mesmo aprovados – durante o


período contemplando a temática do projeto e os envolvidos (professor e alunos);
b) Evento na UFPE/CAA aberto ao público, contanto com 3 horas de atividade
complementar, em que será apresentado o projeto e os principais resultados à
comunidade acadêmica e empresarial interessada. Este evento ocorrerá no semestre
2015.2, tendo como organizadores o professor responsável, os alunos bolsistas e,
possivelmente, um convidado empresário que na investigação empírica demonstrou
um pleno uso da informação contábil em seus processos decisórios.

Referências
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administração: Alguns apontamentos sobre disputas entre paradigmas e campo cientifico.
Cadernos EBAPE.BR, v. 11, n. 4, art. 9, dez., 2013.
BARNARD, C. The Functions of the Executive. Cambridge: Harvard University Press, 1938.
BENNIS, W. G.; O’TOOLE, J. How business schools lost their way. Harvard Business
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16
BERTERO, C. O. Ensino e Pesquisa em Administração – Relatório GVPesquisa 11/2009.
FGV: 2009. Disponível on-line em:
<http://gvpesquisa.fgv.br/sites/gvpesquisa.fgv.br/files/publicacoes/Ensino%20e%20Pesquisa%
20em%20Administra%C3%A7%C3%A3o.pdf>, acesso em 26 jun. 2014.
BERTERO, C. O. et al. Os desafios da produção de conhecimento em administração no Brasil.
Cadernos EBAPE.BR, v. 11, opinião 1, mar., 2013a.
BERTERO, C. O. et al. Produção científica brasileira em Administração na década de
2000. Revista de Administração de Empresas, v. 53, n. 1, p. 12-20, 2013b.
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BRYDON-MILLER, M.; GREENWOOD, D.; MAGUIRE, P. Why action research? Action
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Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração,
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CRESWELL, J. W. Qualitative inquiry & Research design: Choosing among five
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DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. (Eds.). The Sage handbook of qualitative research. 4 ed.
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