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engenharia
INTRODUÇÃO
Hoje, talvez mais que em outras épocas, o ensino em engenharias procura se moldar às
necessidades que o mercado tem em buscar profissionais com capacidade para
desempenhar atividades inerentes aos diferentes setores de desenvolvimento. Em
decorrência da chamada Terceira Revolução Industrial, do avanço e disseminação das
novas tecnologias da informação e da comunicação e de uma nova ordem social, o
mundo do trabalho tem passado por substantivas modificações. Tal cenário vem
configurando um mercado que cada vez mais exige dos profissionais qualificações e
eficiência necessárias para desempenhar atividades e nele sobreviver. Tratam-se de
renovadas relações entre um mercado de trabalho modificado que demanda um novo
padrão de profissionalismo.
Essa nova conduta do mercado traz consigo reflexos para o processo de formação do
profissional de engenharia, que cada vez mais é solicitado a atualizar-se e apresentar-se
aberto à incorporação de inovações técnicas e científicas. Assim, na medida em que vêm
ocorrendo essas mudanças, o engenheiro precisa e tem como contribuir na formação,
ainda na esfera acadêmica, de futuros profissionais que também irão sentir esses
reflexos no dia-a-dia da sala de aula.
Isso nos leva a uma reflexão sobre o caráter da formação e o teor da prática do docente
em engenharia no cotidiano da sala de aula. Entra em questão o modo como está
ocorrendo a educação, seja como um processo de formação profissional, que supõe
permanente transformação e construção do conhecimento centrado no aluno, seja como
um treinamento para capacitar um profissional estritamente técnico. Este seria formado
para simplesmente assumir cargos específicos, para realizar tarefas que preencham as
necessidades das organizações de trabalho e para adequar-se ao mercado.
Por hora, não se pretende, e nem cabe neste artigo, insinuar uma forma especial para se
alcançar resultados e/ou indicar mudanças no modelo de ensino tradicional do
profissional de engenharia. Interessa apenas mostrar que o modelo de formação está
mudando com a influência de forças que regem o mercado capitalista. Forças essas que
alimentam a ciência, a tecnologia, o progresso e o próprio capitalismo.
Nessa perspectiva, os profissionais de engenharia têm uma nova função na sala de aula:
"ensinar" o que sabem e o que fazem, com uma intencionalidade e uma prática
pedagógica própria. Em um contexto da "sociedade em rede" (Castells, 1999), em que a
informação circula de forma rápida, o papel do professor e o ensino são redefinidos. O
professor deixa de ser o centralizador das informações. Ele vai conduzir um processo de
aprendizagem, definindo diretrizes, metodologias, objetivos e mediar as relações dos
alunos com a realidade.
Terceira Revolução Industrial, no Brasil dos anos 90, caracterizada pelo salto do
desenvolvimento da microeletrônica e da indústria da informática, pelos substanciais
avanços da química fina e na biotecnologia. A nova ordem mundial, traduzida pela
internacionalização do capital, ou globalização, constituiu-se de integração mundializada,
onde foi conjugada a ação de grandes grupos entre si e no interior de cada um deles,
ultrapassando a fronteira dos países (Laudares; Ribeiro, 2000, p. 495).
Dentre os vários impasses que o professor enfrenta em seu cotidiano, está a relação
teoria e prática, vista como um dos desafios postos aos educadores. Ela está ainda
distante do modelo de ensino necessário para suprimir essas diferenças, entre o que é
transmitido e o que é fundamental para que esse futuro profissional se mantenha apto
ao trabalho, na área de especialidade para a qual se formou. Segundo Kenski (1996
apud Bianchini e Gomes, 2005, p. 2): "[...] na sala de aula tradicional muitas vezes o
que ocorre é o diálogo de surdos. Corajosamente, o professor tenta 'passar' o conteúdo
de uma matéria de forma basicamente textual e linear. Os alunos recebem esses
ensinamentos sem interesse maior, sem saber o que fazer com eles".
Os alunos sentem-se desmotivados, pois não entendem onde irão usar o que estão
aprendendo, ficam desatentos, não conseguem ligar os interesses comuns entre aquilo
que têm de aprender e o que vão precisar aprender para conseguir o tão almejado
futuro emprego. Essa diferença é importante, pois aquilo que têm de aprender relaciona-
se, na maioria das vezes, aos conteúdos das consideradas disciplinas básicas, compostas
por conhecimentos abstratos (Matemática, Física, entre outras), necessários para
subsidiar as disciplinas profissionalizantes, que são geralmente as que se encaixam
naquelas que vão precisar aprender.
Nessa nova concepção de ensino, supõe-se uma maior articulação da teoria com a
prática. Para tal, é necessário que o aluno se mantenha integrado no processo de
aprendizagem, é fundamental que ocorra sua participação como elemento ativo e
pensante no processo. Ele precisa passar de uma condição periférica no processo de
ensino-aprendizagem para uma condição central juntamente com o professor,
assumindo um dos papéis principais nesse processo. Afinal é ele quem, ao final do
percurso, deverá ter desenvolvido as devidas habilidades que um profissional de
engenharia deve possuir.
Nesse contexto, surge uma nova perspectiva para os papéis do professor-aluno, em que
o aluno passa a ser o autor da aprendizagem, tornando-se mais ativo e construtivo,
desenvolvendo o pensamento crítico, a iniciativa e a colaboração. É fato que nem
sempre isso acontece, depende muito da maturidade em que se encontra o aluno. A
velocidade em que ocorre a mudança na forma de buscar e/ou construir conhecimento
fica a cargo do aluno e, de certa forma, está relacionada à sua capacidade em querer ou
estar em condições de poder aceitar essa mudança. O professor passa a atuar como
mediador do processo de aprendizagem. "Tanto Leontiev (1978, p. 271-273) como
Vygotski (1991b, p. 97-101) apud Basso (1998) apontam essa ação mediadora" [...].
Esse conceito de mediação, desenvolvido por Vygotski e seus seguidores, é de suma
importância para a compreensão do trabalho que se realiza na escola e que, nos dias
atuais, tem avançado cada vez mais. É o caso da "educação a distância, via Internet:
uma forma de aprendizagem em que a mediação tecnológica é destacada, nos mais
diversos 'ambientes de aprendizagem'" (Barreto, 2004, p. 1196).
Sabendo que a escola não pode deixar de incorporar as novas transformações, cabe ao
professor a responsabilidade de buscar e intervir para sistematizar as diversas
ferramentas disponíveis, integrando-as como recurso pedagógico, a fim de criar
condições favoráveis à construção do conhecimento.
Nesse sentido, torna-se possível uma nova relação entre um novo ambiente tecnológico,
uma nova realidade social e a educação. Para Lévy ([1997?], p. 1), ocorre "uma
mutação contemporânea da relação com o saber" em que:
O aluno, como centro do processo educativo, de modo geral, tem sua formação inspirada
no regime produtivo predominante e baseada na educação profissional. Contudo, o foco
situa-se no trabalhador-profissional, nas suas ações, no seu comportamento, sendo
negligenciada a complexidade de sua formação, tida como objeto de maior preocupação
dentro da nova concepção de ensino. Como exemplo, tem-se a polivalência, que oferece
diversas possibilidades de aplicação ou emprego em relação à especialização adquirida,
ainda na graduação em engenharia e, mais tarde, como profissional. Capacidade de
exercer várias funções, possuir diversas habilidades, passou a ser uma exigência e um
fator de empregabilidade.
Hoje, faz-se necessário que o profissional tenha capacidade de atuar em vários ramos
dentro de sua especialidade profissional, e não mais se prender a uma única linha de
trabalho, como era praticado. De modo mais especial, referindo-se ao profissional de
engenharia, considera-se que ele, através de sua formação acadêmica e
profissionalizante, tenha que se equiparar ao padrão de exigência imposto pelo mercado.
Ele deve ser capaz de trabalhar com situações que fogem à sua especialidade técnica de
trabalho e, para lidar com esses percursos tortuosos, deve preparar-se para o dia-a-dia,
ter capacidade de adaptação a qualquer problema que lhe for colocado no seu trabalho.
Enfim, deve ser seguro, mas versátil e aberto às oportunidades de formação
permanente.
Como as escolas de engenharia estão preparando o estudante para essa realidade, elas
passaram a adotar o mesmo padrão de capacitação profissional usado nas empresas e,
assim, terminam reproduzindo as relações do ambiente industrial. Para alguns
estudiosos (Valente, 1993 apud Belhot, 2005), essa prática é conhecida como
"Massificação da Educação". Na educação em massa, o princípio é o mesmo utilizado
pelas empresas, isto é, a produtividade dos recursos, em que medidas de produtividade
são estabelecidas: alunos formados, evasão, reprovação, alunos por sala etc.
Belhot (2005) deixa bem clara sua comparação do processo de ensino massificado com o
processo de uma produção fabril qualquer. Os estudantes de um curso de graduação,
que tenham potencial e interesses mais específicos e que tentam buscar o conhecimento
em fontes paralelas e complementares às da sala de aula, têm sua capacidade de
aprendizagem e de desenvolvimento intelectual controlada por uma educação
uniformizadora e não conseguem desenvolver sua capacidade de aprendizagem. Ao
contrário do que se tivessem uma orientação focalizada em seus interesses e
experiências específicos, próximos a um trabalho de natureza artesanal, baseado na
autonomia e na criatividade, e não semelhante a um processo de linha de montagem de
produtos.
A questão sobre se as escolas devem ou não seguir um modelo para formação dos
profissionais para o mercado é um tanto quanto polêmica. O que acontece é que a
escola passa a se orientar pela mudança das necessidades que o mercado adquire com o
crescimento e evolução de si próprio. Hoje as instituições estão à mercê do nicho de
mercado que as envolve. Se uma instituição não se adaptar ao modelo de formação que
o mercado exige de um profissional, o que acontecerá é a exclusão desse profissional.
Sem as competências devidas não haverá lugar para ele no mercado de trabalho.
Hoje, como é sabido, quem rege as regras é o mercado capitalista. Se um produto não
está de acordo com as especificações necessárias exigidas pelo cliente, esse cliente não
o adquirirá, essa "condição negativa" se propagará no mercado, e essa empresa
fornecedora estará fadada ao fracasso. Resumindo, irá à falência caso não se adéqüe ao
mercado e à sua necessidade.
Existem várias outras perguntas a serem feitas além dessa. Mas quais são as perguntas?
O que é preciso perguntar, questionar? Seriam essas suficientes para excitar uma
procura com o fim de encontrar alguma solução para essas mudanças? E as mudanças
propostas por essas soluções? O que é preciso mudar, modificar, criar? As mudanças são
aceitas a partir do momento em que se sabe por que e para que mudar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS