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Ficha informativa

Geografia A – 11.º ano

A reorganização da rede urbana1.


O papel das cidades médias

A rede urbana portuguesa apresenta um acentuado desequilíbrio marcado pelo domínio das áreas
metropolitanas de Lisboa e Porto e pela urbanização difusa em algumas regiões do país, o que coloca obstáculos
ao desenvolvimento harmonioso e homogéneo do território nacional.
Neste sentido, a coesão do território português só é possível com o desenvolvimento de centros de média
dimensão (sistema urbano policêntrico), que se afiguram fundamentais no equilíbrio da rede urbana e na
dinamização do território. As cidades médias constituem aglomerados importantes que ajudam a valorizar os
recursos regionais e locais e a dinamizar económica e socialmente as áreas menos desenvolvidas. Recentemente,
em 2019, o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT) atribuiu uma grande
importância à afirmação das cidades médias no contexto de consolidação de um sistema urbano policêntrico.
A cidade média deverá ter a capacidade de atrair atividades económicas e criar emprego, oferecer diversidade e
qualidade de bens, disponibilizar serviços de qualidade nas áreas da educação, da saúde, da cultura ou do lazer, e,
ainda, ser capaz de resolver problemas como o desemprego, a insegurança e a pobreza. Desta forma, as cidades
médias representam polos urbanos que desempenham um papel fundamental de equilíbrio no sistema urbano,
pois contribuem para a redistribuição da população e das atividades económicas, travam o despovoamento e o
envelhecimento demográfico e reforçam a competitividade do país. No contexto nacional destacam-se algumas
cidades, entre elas, Vila Real, Viseu, Covilhã, Castelo Branco e Faro.

Promover um sistema urbano mais equilibrado

Uma rede urbana mais equilibrada e um território mais coeso e competitivo requerem o desenvolvimento de um
sistema urbano de padrão policêntrico, onde as cidades de média e pequena dimensão estão distribuídas de
forma mais homogénea e estabelecem relações de articulação e complementaridade funcional com a sua área de
influência.
No caso português, evidenciam-se várias cidades de média dimensão no interior do país que constituem
subsistemas urbanos polarizados, ligados por redes viárias que facilitam os contactos e promovem o
desenvolvimento económico.
A valorização das cidades médias contribui para:
— um abrandamento do crescimento das grandes aglomerações que constituem as áreas metropolitanas de
Lisboa e do Porto, bem como do efeito polarizador que estas exercem sobre o território nacional;
— o reforço das relações entre o meio urbano e o meio rural envolvente;
— um aumento da competitividade regional e nacional que permitirá a sua integração nos espaços ibérico,
europeu e mundial.

A reorganização da rede urbana nacional depende muito das acessibilidades interurbanas e da melhoria das redes
de transportes, nomeadamente rodoviário e ferroviário, que desempenham um papel fulcral na promoção da
cooperação interurbana (fig. 9, pág. 146), no desenvolvimento de funções interdependentes e de economias de
escala.

A inserção na rede urbana europeia

Para além do contexto ibérico e europeu, Portugal insere-se num mundo cada vez mais globalizado, onde a
capacidade de afirmação internacional das cidades é fundamental para projetar o país e a região onde se
inserem. Essa capacidade de afirmação internacional depende, sobretudo, de um sistema urbano policêntrico
equilibrado que promova sinergias e relações de complementaridade entre os centros urbanos que o compõem.

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Ficha informativa de apoio aos conteúdos das páginas 146 a 157
Internacionalmente, a hierarquização das cidades avalia-se através de vários critérios:

Neste sentido, Portugal não possui nenhuma cidade que se destaque a esse nível. A pequena dimensão das
cidades portuguesas e das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto (AML e AMP), quando comparada com as
áreas metropolitanas de outros países, não lhes permite evidenciar-se na rede urbana ibérica e europeia. À
exceção das áreas metropolitanas, Portugal apresenta um baixo nível de potencial de desenvolvimento do
policentrismo, considerando os três critérios apresentados: hierarquia da estrutura urbana, padrões de
acessibilidade e conectividade, práticas de cooperação territorial (fig. 16, pág. 152).
Relativamente à participação das áreas urbanas funcionais portuguesas nas redes europeias e globais de
economia e inovação, a situação também não é muito favorável, tendo-se agravado com o alargamento da União
Europeia a Leste. No geral, a participação foi considerada como "fraca", destacando-se apenas as AML e AMP
como áreas possuidoras de uma "modesta" participação (fig. 19, pág. 154).
As projeções sobre a variação populacional nas áreas urbanas funcionais revelam que, contrariamente ao ciclo
positivo para os países do centro da europa, a tendência é geralmente negativa em Portugal (fig. 18, pág.154).
No que diz respeito ao desempenho económico, a AML destaca-se com um nível de desenvolvimento razoável à
escala europeia e, da análise do fluxo de passageiros, verifica-se que a procura nos aeroportos de Faro, Lisboa e
Porto tem vindo a aumentar, mas com efeitos na degradação da capacidade de desempenho dos mesmos. A
degradação das infraestruturas, bem como a falta de coordenação estratégica e de planeamento associada à
posição geográfica periférica do país, entre outras razões, têm contribuído para o enfraquecimento do potencial
aeroportuário de Portugal e da interação com outras cidades e regiões mais desenvolvidas.

A inserção na rede urbana ibérica

A rede urbana ibérica é constituída por uma rede de metrópoles, médias cidades e pequenos centros urbanos, de
onde resultam eixos e subsistemas urbanos polinucleados, essenciais na organização funcional dos territórios (fig.
24). Assim, é possível identificar três áreas urbanas estruturantes nesta rede urbana.

O sistema urbano ibérico é policêntrico e encontra-se organizado em torno de regiões funcionais, onde se
evidencia a centralidade e a capacidade de polarização de Madrid e a localização marginal de Lisboa. As ligações
principais desenvolvem-se com ou a partir de Madrid, sendo significativas com Lisboa e pouco representativas
com a cidade do Porto (fig. 15, pág. 151). Neste sentido, são vários os obstáculos ao desenvolvimento da rede
urbana ibérica:
✓ Posição periférica no contexto urbano europeu, mas forte ligação a Atlântico;
✓ Fraca conectividade interna, sobretudo de Portugal para o centro da Península Ibérica e da península para
o resto da Europa;
✓ Afastamento das duas capitais ibéricas acentuado pelo despovoamento da fronteira.

Medidas para uma afirmação internacional

Desenvolver um sistema urbano policêntrico requer a afirmação das cidades médias para que haja uma
desconcentração demográfica e económica em prol de um desenvolvimento territorial mais equilibrado. A
afirmação internacional de cidades médias portuguesas implica adotar, entre outras medidas:
• uma maior cooperação interurbana entre cidades com diferentes funções, que permitem criar sinergias;
• a valorização dos recursos endógenos e as potencialidades regionais (por exemplo, turismo e atração de
agroindústrias ou ligadas à exploração de recursos florestais);
• o desenvolvimento da rede de transportes e das comunicações, sobretudo, as ligações rodoviárias e
ferroviárias de nível secundário às redes principais;
• a organização de eventos internacionais e a marcação de presença em redes urbanas internacionais.

As parcerias entre cidades e o mundo rural

O desenvolvimento harmonioso e equilibrado do território requer o desenvolvimento das áreas rurais e a


diminuição das assimetrias regionais.
A expansão urbana e o consequente aumento das acessibilidades fizeram com que as áreas rurais assumissem
novas relações de complementaridade e interdependência com as cidades.
Tradicionalmente associadas à produção de bens alimentares e ao fornecimento de mão de obra, as áreas rurais
apresentam-se cada vez mais como espaços de lazer, de residência, de emprego, de realização pessoal e de
qualidade de vida.
A implementação de políticas de ordenamento do território integradoras e eficazes que visam o desenvolvimento
regional requer a descentralização de competências do poder central para os órgãos de poder local e regional,
pois só a aproximação do Estado aos cidadãos facilitará a promoção de sinergias em torno dos recursos
endógenos de cada território.

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