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O conceito de cidade
As áreas terciárias
O centro da cidade
Todas as cidades, independentemente da sua dimensão, possuem uma área central que se
destaca pelo dinamismo gerado pela terciarização das atividades que aí se desenvolvem e pela
forte disputa pelo solo. Esta área central corresponde, em muitas cidades, ao centro histórico, e
em Portugal é designada por Centro ou Baixa ou CBD.
A área central da cidade é uma área prestigiada e individualiza-se das restantes áreas da cidade,
porque nela se concentram inúmeras atividades económicas do setor terciário, tais como:
- Comércio: especializado como bens raros ou artigos de luxo; a retalho como bens vulgares
acessíveis à população em geral
- Serviços: de nível superior como serviços especializados como do governo e da administração
pública, da finança e da economia, de apoio empresarial e ao cidadão, de hotelaria e
restauração; vulgares como serviços banais acessíveis à maioria da população
Verifica-se, assim, que há uma especialização de funções raras nos lugares mais centrais da
cidade, que beneficiam de uma melhor acessibilidade e, consequentemente, mais clientela. Estas
atividades são as que mais competem pela centralidade e as que possuem maior poder
económico para pagar as elevadas rendas que aí se cobram.
A elevada procura e concentração da função terciária nas áreas centrais têm sido acompanhadas
pelo decréscimo da função residencial no centro que se concentra nos pisos superiores dos
edifícios. Estas caracterizam-se pelo elevado grau de degradação e são ocupados por população
mais envelhecida e com parcos rendimentos.
Outra característica das áreas centrais da cidade é a existência de uma população flutuante,
proveniente de áreas periféricas, que trabalha na cidade e/ou visita-a durante o dia, em busca
dos seus serviços.
A diferenciação funcional das áreas centrais
No centro das cidades, a distribuição das atividades terciárias reflete uma diferenciação
funcional (distribuição das funções urbanas no espaço urbano em resultado do desigual valor do
solo), isto é, uma tendência para um zonamento vertical (disposição das funções por andares
dentro dos edifícios) e um zonamento horizontal (especialização das várias ruas em
determinadas funções), que originam uma certa segregação funcional (diferenciação do espaço
urbano ao nível das suas funções, em que as funções de nível superior se localizam nas ruas
mais atrativas e de maior acessibilidade, enquanto as de menor importância se localizam nas
ruas de menor circulação).
- Zonamento vertical: pisos superiores – ocupados por funções menos nobres e que requerem
um menor contacto com o público
pisos térreos – ocupados por atividades de maior prestígio e que exigem
uma maior proximidade com o consumidor
- Zonamento horizontal: ruas principais – ocupadas por funções de maior prestígio e que
necessitam de maior contacto com o consumidor – comércio a retalho
ruas secundários – ocupadas por funções menores – comércio
grossista
As novas centralidades
Do ponto de vista funcional, o centro da cidade constitui um espaço dinâmico onde as diversas
funções foram sofrendo transformações ao longo do tempo para se adaptar às necessidades da
população. Assim, se na segunda metade do século XX a cidade assistiu à substituição das
funções industrial e residencial pela função comercial e outras atividades terciárias, atualmente
também verifica-se a descentralização destas funções para outras áreas da cidade mais
espaçosas e igualmente bem servidas de transportes.
A descentralização de atividades terciárias deveu-se a fatores como:
- especulação fundiária;
- intenso tráfego automóvel e a dificuldade de estacionamento;
- escassez de solo para a expansão das atividades terciárias;
- diminuição da acessibilidade devido ao aumento do tráfego.
Ou seja, as atividades terciárias acompanharam a expansão urbana e fixaram-se em áreas mais
periféricas, junto de grandes eixos de circulação radiais, logo de grande acessibilidade. Desta
forma, nasceram novas centralidades.
O declínio das áreas centrais
Os fatores de descentralização das atividades terciárias e o aparecimento de novas centralidades,
contribuíram para a alteração das características funcionais, demográficas, económicas e sociais
das áreas centrais, tornando-as menos influentes enquanto centros económicos e sociais, mas
também como lugares de intercambio de informação.
Neste sentido, tornou-se imperativa a definição de políticas urbanísticas que promovessem a
revitalização do centro das cidades e garantissem novamente a sua capacidade de atrair
população.
Estratégias para revitalização das áreas centrais:
- criação de ruas e praças pedonais para facilitar a circulação e permitir a fruição do espaço em
segurança;
- melhoramento dos transportes públicos urbanos e suburbanos;
- criação de espaços de estacionamento mais eficientes;
- renovação do edificado para atração de novas atividades económicas;
- implementação de programas e iniciativas de revitalização e requalificação urbana.
As áreas residenciais
A função residencial desempenha um papel importante nas cidades e encontra-se disseminada
por todo o espaço urbano, desde o centro à periferia. A sua distribuição reflete fortes contrastes,
pois está diretamente relacionada com o preço do solo, ou seja, as áreas residenciais estão
organizadas de acordo com o nível económico dos seus moradores, o que permite individualizá-
las no espaço urbano.
Fatores de individualização das áreas residenciais:
- preço do solo
- qualidade ambiental e paisagística
- imagem prestigiante ou menos positiva do lugar
- desenvolvimento de transportes públicos
- proximidade das vias de comunicação
Neste sentido, pode falar-se num fenómeno de segregação espacial – tendência para organização
do espaço em áreas de grande homogeneidade intensa e forte disparidade entre elas, também em
termos de hierarquia, com base na segregação social dos seus moradores.
Classe alta:
- área planeada
- elevada acessibilidade
- qualidade ambiental e paisagística
- espaços verdes e de lazer
- afastada das áreas industriais
- vivendas unifamiliares ou condomínios fechados de luxo, que oferecem segurança, conforto e
estatuto social
- moradias com estilo arquitetónico cuidado, materiais de construção de elevada qualidade e
áreas amplas
- áreas servidas por serviços de proximidade e a comércio de luxo, pouco concentrado
- elevado preço do solo
Classe média
- ocupam a maior parte do espaço urbano
- habitações plurifamiliares
- arquitetura uniforme, com materiais de construção de menor qualidade
- áreas com boas acessibilidades e bem servidas de transportes públicos
- preço do solo mais acessível
- dotadas de equipamentos sociais diversificados e comércio de proximidade
- habitação de melhor qualidade, mais espaçosa e a menor custo na periferia, procurada por
famílias jovens
- uso frequente do automóvel particular originou o aumento da mobilidade permitindo o
afastamento entre o local de residência e o local de emprego
Classe baixa
- No centro: localizam-se em espaços mais degradados e insalubres, constituídos por habitações
devolutas ou com rendas muito baixas, onde residem idosos e emigrantes
- Nas áreas mais afastadas do centro: tratam-se de habitações em bairros sociais construídos
pelo Estado ou pela autarquia para alojar famílias de menores recursos ou acolher vítimas de
catástrofes; apresentam uma arquitetura uniforme, áreas de pequena dimensão e os materiais de
construção são de fraca qualidade
- Nos subúrbios: localizam-se em áreas de menor qualidade ambiental e paisagística, ocupando
solos expectantes; tratam-se de bairros de habitação precária e ilegal, construídos sem
planeamento e com uma arquitetura orgânica, isto é, construídos consoante as necessidades da
família; não oferecem condições de habitabilidade condigna e são construídos com materiais de
fraca qualidade
Estes bairros clandestinos e de lata são habitados por população imigrante com fracos recursos
económicos, baixos níveis de escolaridade e formação profissional, o que dificulta o seu acesso
e integração no mercado de trabalho. Por esse motivo, são associados a fenómenos de exclusão
e segregação social e à prática de atividades ilegais.
Os diversos problemas sociais que estas áreas residenciais segregadas apresentam têm sido
objeto de intervenção por parte do Estado e das autarquias que procuram desenvolver ações de
recuperação. Em situações mais graves, têm optado pela demolição de bairros degradados e pelo
realojamento da população noutros bairros com maior qualidade.
Nas últimas décadas, assistiu-se à reabilitação do edifício degradado nas áreas residenciais do
centro da cidade na sequencia de novas políticas de intervenção por conta da crescente
turistificação e reestruturação económica que acelerou o crescimento do setor terciário
qualificado. Esta teve impactos ao nível dos usos do solo e da valorização fundiária e
imobiliária do centro da cidade que se refletiu na sua composição sociodemográfica. Estas
mudanças atraíram uma população mais jovem. Este processo designa-se por gentrificação ou
nobilitação urbana.
As áreas industriais
As cidades sempre foram lugares privilegiados para a localização de atividades económicas.
Porém, desde meados do século XVIII, também se tornaram lugares atrativos para a localização
das unidades fabris, pois reuniam um conjunto de fatores que promoviam o seu funcionamento e
minimizavam os custos de produção.
Fatores de localização industrial:
- abundante e diversificada mão de obra a baixo custo oriunda da periferia e das áreas rurais.
- desenvolvimento dos meios de transporte e a expansão das vias de comunicação favoreceram
o acesso à mão de obra, aos mercados e às matérias primas.
- elevado número de consumidores, provenientes da própria cidade, da periferia ou até de
mercados internacionais.
- concentram diversos serviços de apoio como bancos, companhias de seguros, escritórios de
contabilidade.
- acesso a capitais.
No caso português, o processo de industrialização só ganhou expressividade no século XX,
contribuindo decisivamente para a emergência das cidades. Nas últimas décadas, a dinâmica
funcional e a evolução das cidades têm condicionado a expansão da função industrial e a
instalação de novas unidades fabris no interior do espaço urbano.
Fatores que contribuíram para a deslocalização industrial:
- o preço do solo urbano é elevado.
- necessita de amplos espaços para a instalação de indústrias modernas
- congestionamento do tráfego no interior da cidade e sente dificuldades no estacionamento.
- produz poluição atmosférica e ruído, incompatíveis com as atuais normas ambientais.
- necessita de concentrar a segmentação do processo produtivo.
- a melhoria da rede de transporte e das vias de comunicação melhoraram a acessibilidade dos
lugares.
- o baixo custo do solo e a boa rede de infraestruturas permitem a construção e o apoio aos
parques industriais e empresariais.
Assim, tem-se assistido à substituição da função industrial pela função terciária nas áreas
centrais da cidade. Nas periferias, os planos de urbanização contemplam espaços devidamente
planeados, infraestruturados e estrategicamente localizados que permitem a relocalização das
unidades fabris, onde estas beneficiam de:
- preços mais baixos
- benefícios fiscais
- surgimento de inúmeros serviços de apoio
- proximidade de mão de obra mais barata, com diferentes níveis de qualificação
- parques industriais ou empresariais que permitem estabelecer complementaridades e reduzir os
custos de produção
- maior disponibilidade de espaço
No entanto, no interior das cidades ou mesmo no centro, ainda permanecem algumas indústrias,
localizando-se nas traseiras das respetivas lojas ou nos andares superiores:
- são indústrias pouco poluentes
- pouco consumidoras de espaço e energia
- exigentes no contacto direto com o cliente
- produtoras de bens de consumo diário ou frequente ou de bens raros e de elevado valor
Os espaços industriais são transformados para dar lugar a novas funcionalidades.
Novas tendências de organização das cidades
Atualmente, a mistura social e funcional que se verifica nas cidades originou novos processos
de organização do espaço urbano, que culminaram na “cidade fragmentada”:
- policentrismo: novas centralidades terciárias, marcadas pela elevada acessibilidade e poder de
atração de clientes
- fragmentação social: coexistência de grupos sociais distintos no mesmo espaço com a
gentrificação
- formação de enclaves: criação de espaços que contrastam com o meio envolvente
- espaços com múltiplas funcionalidades: edifícios onde coexistem diferentes funções.
A expansão urbana
As áreas urbanas exerceram desde sempre uma forte atração sobre a população, pois constituem
grandes centros de emprego e de oportunidades de negócio devido à concentração de diversas
atividades ligadas ao setor secundário e, sobretudo, terciário.
Em Portugal, o processo de urbanização registou um crescimento significativo a partir da
segunda metade do século XX. A crescente procura das cidades pela população proveniente dos
campos (êxodo rural) e pela população urbana e na densificação de aglomerados, determinando
novas formas de organização e de apropriação do espaço, quer pela população quer pelas
atividades económicas.
O aumento da população urbana e o dinamismo funcional impulsionaram o crescimento das
cidades e, consequentemente, conduziram à expansão para a periferia.
As Áreas Metropolitanas
A suburbanização que ocorreu, sobretudo no litoral, em torno das cidades de Lisboa e do Porto,
conduziu ao crescimento de alguns aglomerados periféricos que adquiriram dinâmicas
territoriais próprias. Entre a periferia e a cidade estabeleceram-se relações de
complementaridade que determinaram uma gestão conjunta dos concelhos envolvidos,
conduzindo à formação de duas áreas metropolitanas, que constituem/formam:
- amplas áreas urbanizadas, que englobam uma grande cidade e esta, por sua vez, exerce um
efeito polarizador sobre as restantes aglomerações urbanas, com as quais estabelece relações de
interdependência económica e funcional
- sistema urbano policêntrico, ligado por relações de complementaridade, que fortalecem a
coesão do território e fomentam uma gestão estratégica de desenvolvimento territorial
Deste modo, destacam-se pelas seguintes características:
- polarização do território: o elevado dinamismo económico e funcional atrai população e
emprego
- intensos fluxos de pessoas e bens: motivados pelo trabalho, cultura, ensino, ou outros,
população e vens deslocam-se frequentemente para a cidade principal
- movimentos pendulares: consequência da desconcentração urbana, que obriga a população a
realizar diariamente deslocações entre casa/trabalho
- decréscimo da população na área central da cidade principal
- desconcentração das atividades ligadas à indústria, ao comércio e aos serviços
Dinâmica demográfica
As AM registaram, ao longo das décadas, um aumento da população residente, facto que lhes
confere um caráter polarizador, pois concentram cerca de 45% da população residente no país.
A AML tem registado, década após década, um crescimento populacional positivo, enquanto a
AMP registou uma ligeira diminuição na última década. Em ambos, registou-se um crescimento
demográfico em alguns conselhos periféricos, enquanto nos municípios centrais, como Lisboa e
Porto, verificou-se uma diminuição.
Relativamente, à variação demográfica ocorrida na AML, registou-se um ganho de população
de 1,4% desde 2011, com maiores registos em Mafra, Palmela e Alcochete e maiores perdas em
Amadora, Lisboa e Barreiro
Já na AMP registou-se uma variação populacional negativa de -1,3%. Aumentou em São João
da Madeira, Vila do Conde e Póvoa de Varzim. E com perdas em Vale de Cambra, Arouca e
Santo Tirso.
A variação demográfica está relacionada com a estrutura policêntrica que as AM foram
adquirindo:
Perda de população: municípios centrais deveu-se aos elevados custos do solo e elevados
valores de habitação, que levaram à saída de população para a periferia, onde beneficia de boa
acessibilidade em relação ao centro
Ganho populacional: periferia deveu-se aos amplos espaços para construção, menor custo de
habitação e elevada acessibilidade ao centro, que intensificaram os processos de suburbanização
e periurbanização
O sistema policêntrico metropolitano desenvolveu-se na sequência da melhoria das
acessibilidades entre a periferia e o centro. No caso da AML, a construção da Ponte Vasco da
Gama, da Gare do Oriente e da via ferroviária na Ponte 25 de abril aproximou os municípios de
ambas as margens do rio Tejo. No caso da AMP, a estação ferroviária da Campanha cujas
melhorias estruturais alargaram a sua oferta intermodal, a modernização dos transportes
coletivos suburbanos e a construção da A41 – CREP (circular regional exterior do Porto), uma
autoestrada que permitiu descongestionar a VCI e facilitar as ligações entre o sul e o leste da
região.
O crescimento ou declínio demográfico registado também está relacionado com as
características etárias da população. As AM caracterizam-se por uma população
maioritariamente jovem e com o índice de envelhecimento mais elevado. Igualmente, a
percentagem de população instruída e altamente qualificada é superior à média, o que lhes
confere mais competitividade e empreendedorismo e contribui para o seu dinamismo
económico.
Dinâmica económica
As duas AM apresentam um conjunto de fatores que constituem uma mais-valia para o seu
desenvolvimento económico:
- fatores naturais: localização junto ao litoral; acessibilidade natural; relevo plano ou pouco
acidentado; clima ameno
- fatores sociais: concentração demográfica; concentração de população ativa; predomínio de
população jovem
- fatores socioeconómicos: concentração de mão de obra qualificada; localização de sedes de
empresas e organismos internacionais; sistema produtivo diversificado
Estas condições permitiram que a AM se transformassem nos dois grandes polos dinamizadores
da economia nacional e, atualmente, concentrem cerca de 46% do emprego do país e produzam
cerca de 55% do PIB nacional.
Relativamente ao emprego, a mão de obra distribui-se pelos três setores de atividade económica.
Contudo, e apesar da relevância da atividade industrial, verifica-se que é o setor terciário que
emprega mais mão de obra na maioria dos concelhos. No caso de Lisboa, também se deve ao
facto da cidade desempenhar a função administrativa, na qualidade de capital do país. Quando
comparadas, as duas AM refletem diferenças no peso económico, na qual se destaca a AML.
AMP
- concentração do tecido industrial à volta do concelho do Porto e padrão de localização
disperso no restante território
- concentração de indústrias de bens de consumo tradicionais, que requerem uma utilização
mais intensiva da mão de obra pouco qualificada
- concentração das indústrias de vestuário, calçado e mobiliário, com alguma especialização, e
associada à exportação
- crescente aposta na inovação científica e tecnológica
- tendência para a diversificação industrial devido à deslocalização de setores intensivos em
mão de obra
- predomínio de pequenas e médias empresas
Mobilidade da população
A suburbanização e a periurbanização resultam da melhoria das vias de comunicação,
da rede de transportes e dos meios de transporte que promovem a acessibilidade à
cidade-centro. Sendo utilizado mais frequentemente o transporte individual que permite
maior flexibilidade e acesso a territórios mais distantes.
Problemas urbanos
Restituir a qualidade de vida às cidades significa também humaniza-las e valorizá-las para que a
população se identifique com o espaço. É possível implementando boas práticas, o aumento de
espaços verdes, a melhoria da recolha e tratamento de resíduos sólidos urbanos, a melhoria da
mobilidade urbana e do estacionamento, a criação de emprego para atração de jovens, a criação
de serviços de apoio às crianças e aos idosos, incluindo políticas de envelhecimento ativo e
atividades intergeracionais, bem como a construção de equipamentos coletivos que promovam a
cultura, o lazer e o convívio social urbano.