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As áreas urbanas: dinâmicas internas

 A organização das áreas urbanas


 Espaço rural e espaço urbano
O modo como a população ocupa o território origina uma grande diversidade de paisagens que
apresentam diferentes características, tais como a densidade populacional, o tipo de atividades
económicas dominantes e a organização social e política do espaço.
Atualmente, é cada vez mais difícil estabelecer uma distinção entre o espaço rural e o espaço
urbano (área de forte concentração demográfica e de grande densidade de edificações, sobretudo
em altura, densa rede de vias de comunicações e de transportes, que funciona como polo de
atração e cuja população trabalha, sobretudo, nos setores secundário e terciário), pois a
expansão urbana atenuou essa fronteira. O crescimento da população e o desenvolvimento dos
transportes conduziram à difusão espacial da população e das atividades económicas, à
descentralização de equipamentos e à expansão do modo de vida urbano para as áreas
envolventes, originando uma diversificação funcional e profissional nas áreas rurais. A difusão
progressiva do espaço urbano em periferias cada vez mais extensas intensificou as relações
entre o campo e a cidade e deu origem a paisagens terrestres que exigem novas interpretações.
Porém, as cidades continuam a destacar-se no espaço geográfico enquanto polos privilegiados
de atividades e para a organização dos territórios.

 O conceito de cidade

Embora o modo de ocupação do solo e a dimensão do aglomerado sejam características


habitualmente atribuídas à cidade, não há um consenso universal sobre a sua definição, em
grande parte devido à questão da dimensão, que varia de país para país e, por vezes, no mesmo
país.
De forma genérica, a cidade é um espaço que apresenta um conjunto de características comuns:
- forte densidade populacional;
- elevado número de habitantes;
- elevado preço do solo;
- população com um modo de vida urbano;
- elevada oferta de equipamentos sociais, culturais e desportivos;
- forte concentração de edifícios de diferentes dimensões e variados estilos arquitetónicos;
- concentração de atividades económicas dos setores secundário e terciário;
- intensa mobilidade de pessoas e de transportes.
Como o conceito de cidade não gera consenso, torna-se difícil estabelecer parâmetros unânimes
para delimitar as áreas urbanas. Por essa razão, cada país estabeleceu determinados critérios
quantitativos e/ou qualitativos ajustados à sua escala espacial, que foram sofrendo alterações ao
longo dos tempos. Para além do critério morfológico e do modo de vida urbano, destacam-se os
critérios demográficos, funcionais e jurídico-administrativos.
Critérios de classificação de uma cidade/Limitações
- Demográfico: define um número mínimo de habitantes ou de eleitores (população absoluta) e
um número total de habitantes por unidade de superfície (densidade populacional); Não permite
comparações universais dado que varia de país para país, dentro do mesmo país, e entre os
países desenvolvidos e os países em desenvolvimento

- Funcional (setores secundário e terciário): considera o tipo de atividades a que a


população urbana desempenha e as funções urbanas que servem a população e a
influência exercida sobre as áreas envolventes; Ausência de valores universais sobre a
percentagem mínima de população residente ativa nos setores secundário e terciário, Existência
de situações em que a população ativa trabalha predominantemente nos setores terciário e
secundário mas reside noutro aglomerado urbano, Existência de profunda desigualdade:
- PD: aceitável considerar como cidade um núcleo em que a população ativa empregada no
setor primário seja inferior a 25%.
  - PED: perfeitamente razoável considerar-se um nível percentual na casa dos 80%.
- Jurídico- administrativo (capital de distrito e sede de bispado): a atribuição do título de cidade
por decisão legislativa (capitais de distrito e as cidades criadas por decreto administrativo) e a
valorização de aspetos históricos, culturais e arquitetónicos de interesse nacional, mesmo que o
espaço urbano não cumpra os critérios anteriores; A elevação de uma povoação à categoria de
cidade é determinada por organismos político-administrativos, que são, em Portugal, a
Assembleia da República e as Assembleias Regionais das Regiões Autónomas da Madeira e dos
Açores que legislam, designam e determinam a classificação de um aglomerado populacional
como cidade, no cumprimento da Lei nº11/82 de 2 de junho – o título de cidade é atribuído aos
aglomerados que combinem os critérios demográficos e funcional com o jurídico-
administrativo, ou seja, mais de 8000 eleitores em aglomerado populacional contínuo e a
existência de um determinado conjunto de infraestruturas e equipamentos com razões de
natureza histórica, cultural e arquitetónica.
Em Portugal, os critérios que suportam a elevação de uma vila a cidade foram variando ao longo
do tempo, desde a mudança do valor mínimo do critério demográfico até à sua combinação com
aspetos administrativos.
A partir de 1960, o INE passou a classificar como centro urbano todos os aglomerados com
mais de 10000 habitantes ou todos aqueles que, não cumprindo esse critério numérico, fossem
capitais de distrito.
Os conceitos de centro urbano, que apenas considera um número total de habitantes, e cidade
são frequentemente utilizados com o mesmo sentido, o que pode não corresponder à verdade
tendo em conta o valor populacional mínimo de cada.
O decréscimo do valor mínimo do critério demográfico, na legislação em vigor deveu-se a:
- melhoria das condições de vida da população, que se refletiu num aumento do consumo;
- difusão de equipamentos e infraestruturas com maior qualidade;
- elevada oferta de serviços nos centros urbanos de menor dimensão.

 O processo de urbanização em Portugal


As áreas urbanas constituem focos de atração para as populações, pois representam centros de
concentração e diversidade de atividades económicas, oportunidades de trabalho e de negócios,
de lazer e de cultura, de contactos e interações permanentes.
De um modo geral, nas últimas décadas, registou-se um aumento da população em todos os
centros urbanos de Portugal continental, sobretudo nas áreas envolventes de Lisboa e do Porto,
originando novas centralidades (urbanização – processo de longo prazo, de desenvolvimento
das cidades, caracterizado pelo aumento do número de população e pela extensão geográfica das
áreas urbanas, como resultado de alterações na atividade económica e no modo de vida da
população), que vieram dificultar a delimitação geográfica das cidades. Este crescimento da
população nas áreas urbanas refletiu-se no comportamento da taxa de urbanização (percentagem
de população, urbana em relação à população total do território) em Portugal.
No contexto da União Europeia, Portugal apresenta uma taxa de urbanização inferior à média
comunitária, embora tenha registado um aumento da população urbana nas últimas décadas,
cada vez mais concentrada nas áreas urbanas do litoral.
Com o aparecimento de novas centralidades foi necessário redefinir a tipologia das áreas
urbanas e reajustar o valor mínimo do critério demográfico que passou de 10000 habitantes para
5000 habitantes. Neste contexto, surgiu o conceito de lugar urbano (aglomerado com dois mil
ou mais habitantes).

 A organização das áreas urbanas


A cidade é um espaço que oferece uma grande diversidade de funções que, geralmente, se
encontram organizadas de forma mais ou menos homogénea constituindo as áreas funcionais.
O espaço urbano oferece diversas funções:
- Comercial/serviços – a mais comum, dado que o comércio e os serviços são as atividades mais
frequentes.
- Industrial – presente na maioria das cidades e relacionada com a origem do centro urbano.
- Residencial – disseminada por todo o espaço urbano e é a que permite a fixação da população.
- Religiosa – presença de lugares de culto e de peregrinação.
- Turística – deve-se à existência de atividades recreativas e de lazer e está associada ao período
de férias.
- Defensiva – presença de castelos e de muralhas.
- Político-administrativa – cidades que concentram sedes de poder e de decisão estatal, regional
ou internacional.
- Cultural – ligada à presença de importantes universidades, bibliotecas, museus.

Organizadas em áreas funcionais:


- Residencial – vocacionada para habitações
- Terciária – engloba atividades ligadas ao comércio e serviços
- Industrial – concentra atividades ligadas à indústria
A localização e a organização das áreas funcionais dependem de vários fatores, como a renda
locativa (preço do solo que determina também o valor das rendas dos imóveis) que é
condicionada por (gera uma diferenciação espacial):
- Acessibilidade: o centro da cidade e a área de maior acessibilidade (onde se concentram as
diversas funções e onde convergem os principais eixos de transporte, sobretudo os rodoviários)
- Distancia ao centro: o preço do solo varia com a distancia ao centro da cidade (diminui com a
distancia ao centro e aumenta em áreas de maior especialização de determinada função e
acessibilidade)
O centro da cidade é a área mais atrativa para a instalação de diversas atividades económicas,
pois engloba atividades que geram maiores receitas e que melhor suportam as elevadas rendas
que aí se praticam. Esta área privilegiada é alvo de uma forte competição por espaço, o que
origina elevados preços do solo e conduz à especulação fundiária (sobrevalorização do preço do
solo em consequência de uma elevada procura ou reduzida oferta) uma vez que a procura é
superior à oferta.
À medida que aumenta a distância ao centro, diminui o preço do solo, originando oportunidades
para a instalação de indústrias e de áreas residenciais de valor mais baixo. O preço do solo
diminui em direção à periferia, porque:
- Diminui a acessibilidade, o prestígio das áreas, a procura e o nível dos equipamentos e
infraestruturas
- Aumenta a disponibilidade de terrenos
Contudo, este modelo teórico de organização espacial não é estático e a renda locativa pode
variar com a distancia ao solo, devido ao aparecimento de novas áreas na periferia, cuja aptidão
para determinadas funções eleva o preço do solo. São áreas servidas por melhores vias de
comunicação e transportes, com maior disponibilidade e melhor qualidade de espaço urbano
cuja acessibilidade proporciona a localização de novas atividades terciárias.
Por outro lado, estas novas áreas mais afastadas do centro podem apresentar também outras
características igualmente atrativas que influenciam os preços do solo, tais como:
- amplos espaços verdes;
- baixos índices de poluição;
- construção habitacional de elevada qualidade e arquitetura vanguardista;
- características socioeconómicas da população residente.

 As áreas terciárias
O centro da cidade
Todas as cidades, independentemente da sua dimensão, possuem uma área central que se
destaca pelo dinamismo gerado pela terciarização das atividades que aí se desenvolvem e pela
forte disputa pelo solo. Esta área central corresponde, em muitas cidades, ao centro histórico, e
em Portugal é designada por Centro ou Baixa ou CBD.
A área central da cidade é uma área prestigiada e individualiza-se das restantes áreas da cidade,
porque nela se concentram inúmeras atividades económicas do setor terciário, tais como:
- Comércio: especializado como bens raros ou artigos de luxo; a retalho como bens vulgares
acessíveis à população em geral
- Serviços: de nível superior como serviços especializados como do governo e da administração
pública, da finança e da economia, de apoio empresarial e ao cidadão, de hotelaria e
restauração; vulgares como serviços banais acessíveis à maioria da população
Verifica-se, assim, que há uma especialização de funções raras nos lugares mais centrais da
cidade, que beneficiam de uma melhor acessibilidade e, consequentemente, mais clientela. Estas
atividades são as que mais competem pela centralidade e as que possuem maior poder
económico para pagar as elevadas rendas que aí se cobram.
A elevada procura e concentração da função terciária nas áreas centrais têm sido acompanhadas
pelo decréscimo da função residencial no centro que se concentra nos pisos superiores dos
edifícios. Estas caracterizam-se pelo elevado grau de degradação e são ocupados por população
mais envelhecida e com parcos rendimentos.
Outra característica das áreas centrais da cidade é a existência de uma população flutuante,
proveniente de áreas periféricas, que trabalha na cidade e/ou visita-a durante o dia, em busca
dos seus serviços.
A diferenciação funcional das áreas centrais
No centro das cidades, a distribuição das atividades terciárias reflete uma diferenciação
funcional (distribuição das funções urbanas no espaço urbano em resultado do desigual valor do
solo), isto é, uma tendência para um zonamento vertical (disposição das funções por andares
dentro dos edifícios) e um zonamento horizontal (especialização das várias ruas em
determinadas funções), que originam uma certa segregação funcional (diferenciação do espaço
urbano ao nível das suas funções, em que as funções de nível superior se localizam nas ruas
mais atrativas e de maior acessibilidade, enquanto as de menor importância se localizam nas
ruas de menor circulação).
- Zonamento vertical: pisos superiores – ocupados por funções menos nobres e que requerem
um menor contacto com o público
pisos térreos – ocupados por atividades de maior prestígio e que exigem
uma maior proximidade com o consumidor
- Zonamento horizontal: ruas principais – ocupadas por funções de maior prestígio e que
necessitam de maior contacto com o consumidor – comércio a retalho
ruas secundários – ocupadas por funções menores – comércio
grossista
As novas centralidades
Do ponto de vista funcional, o centro da cidade constitui um espaço dinâmico onde as diversas
funções foram sofrendo transformações ao longo do tempo para se adaptar às necessidades da
população. Assim, se na segunda metade do século XX a cidade assistiu à substituição das
funções industrial e residencial pela função comercial e outras atividades terciárias, atualmente
também verifica-se a descentralização destas funções para outras áreas da cidade mais
espaçosas e igualmente bem servidas de transportes.
A descentralização de atividades terciárias deveu-se a fatores como:
- especulação fundiária;
- intenso tráfego automóvel e a dificuldade de estacionamento;
- escassez de solo para a expansão das atividades terciárias;
- diminuição da acessibilidade devido ao aumento do tráfego.
Ou seja, as atividades terciárias acompanharam a expansão urbana e fixaram-se em áreas mais
periféricas, junto de grandes eixos de circulação radiais, logo de grande acessibilidade. Desta
forma, nasceram novas centralidades.
O declínio das áreas centrais
Os fatores de descentralização das atividades terciárias e o aparecimento de novas centralidades,
contribuíram para a alteração das características funcionais, demográficas, económicas e sociais
das áreas centrais, tornando-as menos influentes enquanto centros económicos e sociais, mas
também como lugares de intercambio de informação.
Neste sentido, tornou-se imperativa a definição de políticas urbanísticas que promovessem a
revitalização do centro das cidades e garantissem novamente a sua capacidade de atrair
população.
Estratégias para revitalização das áreas centrais:
- criação de ruas e praças pedonais para facilitar a circulação e permitir a fruição do espaço em
segurança;
- melhoramento dos transportes públicos urbanos e suburbanos;
- criação de espaços de estacionamento mais eficientes;
- renovação do edificado para atração de novas atividades económicas;
- implementação de programas e iniciativas de revitalização e requalificação urbana.
As áreas residenciais
A função residencial desempenha um papel importante nas cidades e encontra-se disseminada
por todo o espaço urbano, desde o centro à periferia. A sua distribuição reflete fortes contrastes,
pois está diretamente relacionada com o preço do solo, ou seja, as áreas residenciais estão
organizadas de acordo com o nível económico dos seus moradores, o que permite individualizá-
las no espaço urbano.
Fatores de individualização das áreas residenciais:
- preço do solo
- qualidade ambiental e paisagística
- imagem prestigiante ou menos positiva do lugar
- desenvolvimento de transportes públicos
- proximidade das vias de comunicação
Neste sentido, pode falar-se num fenómeno de segregação espacial – tendência para organização
do espaço em áreas de grande homogeneidade intensa e forte disparidade entre elas, também em
termos de hierarquia, com base na segregação social dos seus moradores.
Classe alta:
- área planeada
- elevada acessibilidade
- qualidade ambiental e paisagística
- espaços verdes e de lazer
- afastada das áreas industriais
- vivendas unifamiliares ou condomínios fechados de luxo, que oferecem segurança, conforto e
estatuto social
- moradias com estilo arquitetónico cuidado, materiais de construção de elevada qualidade e
áreas amplas
- áreas servidas por serviços de proximidade e a comércio de luxo, pouco concentrado
- elevado preço do solo

Classe média
- ocupam a maior parte do espaço urbano
- habitações plurifamiliares
- arquitetura uniforme, com materiais de construção de menor qualidade
- áreas com boas acessibilidades e bem servidas de transportes públicos
- preço do solo mais acessível
- dotadas de equipamentos sociais diversificados e comércio de proximidade
- habitação de melhor qualidade, mais espaçosa e a menor custo na periferia, procurada por
famílias jovens
- uso frequente do automóvel particular originou o aumento da mobilidade permitindo o
afastamento entre o local de residência e o local de emprego

Classe baixa
- No centro: localizam-se em espaços mais degradados e insalubres, constituídos por habitações
devolutas ou com rendas muito baixas, onde residem idosos e emigrantes
- Nas áreas mais afastadas do centro: tratam-se de habitações em bairros sociais construídos
pelo Estado ou pela autarquia para alojar famílias de menores recursos ou acolher vítimas de
catástrofes; apresentam uma arquitetura uniforme, áreas de pequena dimensão e os materiais de
construção são de fraca qualidade
- Nos subúrbios: localizam-se em áreas de menor qualidade ambiental e paisagística, ocupando
solos expectantes; tratam-se de bairros de habitação precária e ilegal, construídos sem
planeamento e com uma arquitetura orgânica, isto é, construídos consoante as necessidades da
família; não oferecem condições de habitabilidade condigna e são construídos com materiais de
fraca qualidade
Estes bairros clandestinos e de lata são habitados por população imigrante com fracos recursos
económicos, baixos níveis de escolaridade e formação profissional, o que dificulta o seu acesso
e integração no mercado de trabalho. Por esse motivo, são associados a fenómenos de exclusão
e segregação social e à prática de atividades ilegais.
Os diversos problemas sociais que estas áreas residenciais segregadas apresentam têm sido
objeto de intervenção por parte do Estado e das autarquias que procuram desenvolver ações de
recuperação. Em situações mais graves, têm optado pela demolição de bairros degradados e pelo
realojamento da população noutros bairros com maior qualidade.
Nas últimas décadas, assistiu-se à reabilitação do edifício degradado nas áreas residenciais do
centro da cidade na sequencia de novas políticas de intervenção por conta da crescente
turistificação e reestruturação económica que acelerou o crescimento do setor terciário
qualificado. Esta teve impactos ao nível dos usos do solo e da valorização fundiária e
imobiliária do centro da cidade que se refletiu na sua composição sociodemográfica. Estas
mudanças atraíram uma população mais jovem. Este processo designa-se por gentrificação ou
nobilitação urbana.
As áreas industriais
As cidades sempre foram lugares privilegiados para a localização de atividades económicas.
Porém, desde meados do século XVIII, também se tornaram lugares atrativos para a localização
das unidades fabris, pois reuniam um conjunto de fatores que promoviam o seu funcionamento e
minimizavam os custos de produção.
Fatores de localização industrial:
- abundante e diversificada mão de obra a baixo custo oriunda da periferia e das áreas rurais.
- desenvolvimento dos meios de transporte e a expansão das vias de comunicação favoreceram
o acesso à mão de obra, aos mercados e às matérias primas.
- elevado número de consumidores, provenientes da própria cidade, da periferia ou até de
mercados internacionais.
- concentram diversos serviços de apoio como bancos, companhias de seguros, escritórios de
contabilidade.
- acesso a capitais.
No caso português, o processo de industrialização só ganhou expressividade no século XX,
contribuindo decisivamente para a emergência das cidades. Nas últimas décadas, a dinâmica
funcional e a evolução das cidades têm condicionado a expansão da função industrial e a
instalação de novas unidades fabris no interior do espaço urbano.
Fatores que contribuíram para a deslocalização industrial:
- o preço do solo urbano é elevado.
- necessita de amplos espaços para a instalação de indústrias modernas
- congestionamento do tráfego no interior da cidade e sente dificuldades no estacionamento.
- produz poluição atmosférica e ruído, incompatíveis com as atuais normas ambientais.
- necessita de concentrar a segmentação do processo produtivo.
- a melhoria da rede de transporte e das vias de comunicação melhoraram a acessibilidade dos
lugares.
- o baixo custo do solo e a boa rede de infraestruturas permitem a construção e o apoio aos
parques industriais e empresariais.
Assim, tem-se assistido à substituição da função industrial pela função terciária nas áreas
centrais da cidade. Nas periferias, os planos de urbanização contemplam espaços devidamente
planeados, infraestruturados e estrategicamente localizados que permitem a relocalização das
unidades fabris, onde estas beneficiam de:
- preços mais baixos
- benefícios fiscais
- surgimento de inúmeros serviços de apoio
- proximidade de mão de obra mais barata, com diferentes níveis de qualificação
- parques industriais ou empresariais que permitem estabelecer complementaridades e reduzir os
custos de produção
- maior disponibilidade de espaço
No entanto, no interior das cidades ou mesmo no centro, ainda permanecem algumas indústrias,
localizando-se nas traseiras das respetivas lojas ou nos andares superiores:
- são indústrias pouco poluentes
- pouco consumidoras de espaço e energia
- exigentes no contacto direto com o cliente
- produtoras de bens de consumo diário ou frequente ou de bens raros e de elevado valor
Os espaços industriais são transformados para dar lugar a novas funcionalidades.
Novas tendências de organização das cidades
Atualmente, a mistura social e funcional que se verifica nas cidades originou novos processos
de organização do espaço urbano, que culminaram na “cidade fragmentada”:
- policentrismo: novas centralidades terciárias, marcadas pela elevada acessibilidade e poder de
atração de clientes
- fragmentação social: coexistência de grupos sociais distintos no mesmo espaço com a
gentrificação
- formação de enclaves: criação de espaços que contrastam com o meio envolvente
- espaços com múltiplas funcionalidades: edifícios onde coexistem diferentes funções.

 A expansão urbana
As áreas urbanas exerceram desde sempre uma forte atração sobre a população, pois constituem
grandes centros de emprego e de oportunidades de negócio devido à concentração de diversas
atividades ligadas ao setor secundário e, sobretudo, terciário.
Em Portugal, o processo de urbanização registou um crescimento significativo a partir da
segunda metade do século XX. A crescente procura das cidades pela população proveniente dos
campos (êxodo rural) e pela população urbana e na densificação de aglomerados, determinando
novas formas de organização e de apropriação do espaço, quer pela população quer pelas
atividades económicas.
O aumento da população urbana e o dinamismo funcional impulsionaram o crescimento das
cidades e, consequentemente, conduziram à expansão para a periferia.

O crescimento urbano desenvolveu-se em duas fases distintas:


1ª fase – Centrípeta: concentração demográfica e económica no interior do perímetro urbano
- período de crescimento da cidade como resultado da concentração demográfica (êxodo
rural e imigração) e económica (setores secundário e terciário) no centro urbano
- a cidade adquire uma configuração compacta, com limites bem definidos
- a inexistência de transportes coletivos obriga à aproximação entre o local de residência
e o local de trabalho
Consequências: - crescimento muito rápido do centro em população e em atividades;
- aumento dos rendimentos familiares que originou um aumento do consumo;
- terciarização do centro
- aumento da renda locativa
- sobrelotação de infraestruturas
- dificuldades de estacionamento

- Degradação da qualidade de vida da população urbana


- Saída de pessoas e de atividades económicas para a periferia

2ª fase – Centrífuga: desconcentração e deslocação da população e das atividades económicas


do centro para a periferia
- período de desconcentração urbana, que se caracteriza pela deslocação da população e
das atividades económicas do centro para a periferia, segundo um padrão de localização
tentacular, relacionado com os eixos de circulação a partir da cidade
- a cidade adquire uma configuração territorial extensa, sem limites definidos
- a evolução dos transportes e das vias de comunicação permite a deslocação
demográfica e funcional para a periferia
Causas: - aumento populacional devido ao crescimento do saldo natural e do saldo migratório
- densificação do centro com atividades do setor terciário, levando ao afastamento dos
residentes
- preço do solo mais baixo na periferia, e uma maior disponibilidade de terrenos
- (re)localização das atividades industriais e terciárias, que originaram novos postos de
trabalho na periferia
- melhoria dos transportes coletivos e das infraestruturas de transportes
- generalização do uso de transporte individual
A evolução dos transportes, determinou a expansão das cidades para a periferia. Esta expansão
ocorreu ao longo dos seus principais eixos de acesso, fenómeno designado por expansão
tentacular. Ou seja, para além do aumento demográfico, o processo de urbanização periférica
tem como força motriz a mobilidade social, assegurada pelo desenvolvimento dos transportes e
dos eixos viários de ligação.

 Os subúrbios e as áreas periurbanas


A suburbanização
Processo de crescimento da cidade para a periferia. É gerado pelo crescimento demográfico e
pela restauração interna das cidades.
O processo de expansão urbana para as áreas envolventes das cidades designa-se por
suburbanização. É um fenómeno que se regista por todo o território nacional desde a segunda
metade do século XX, com a chegada de população rural e imigrante, não estando apenas
associado às áreas metropolitanas.
A suburbanização resulta da conjugação de vários fatores, entre os quais se destacam:
- desenvolvimento dos transportes coletivos e das vias de comunicação: a oferta de uma rede de
transportes cada vez mais densa e o desenvolvimento dos transportes de passageiros
aumentaram a acessibilidade ao centro principal e permitiram reduzir os tempos e os custos das
deslocações
- aumento da taxa de motorização das famílias: a vulgarização da utilização do automóvel
particular conferiu uma maior mobilidade à população, permitindo-lhe percorrer distancias
maiores entre o local de residência e o local de trabalho; contribuiu para o congestionamento do
tráfego, a poluição atmosférica e sonora no interior da cidade
- disponibilidade de terrenos na periferia: a escassez de espaço para satisfazer as necessidades
de expansão e modernização das empresas levou-as para a periferia, onde o custo do solo era
baixo
- escassez de habitação e o elevado valor da renda locativa: a falta de habitação e o seu elevado
custo no interior da cidade obrigou as famílias com menores recursos económicos a procurar
residência nos subúrbios, onde a habitação tinha um valor mais acessível
As áreas urbanas registaram um crescimento muito rápido quer em população quer em
atividades, originando vários problemas. Por isso, numa fase inicial, os subúrbios cresceram de
uma forma não planeada dando origem aos bairros-dormitório, espaços cuja principal função era
a residencial. Eram constituídos por blocos de habitação plurifamiliares, de menores custos,
inseridos em cinturas de forte densidade de construção urbana, localizados ao longo dos
principais eixos de acesso ao centro.
O processo de suburbanização foi acompanhado por investimentos em transportes coletivos de
passageiros, que estabeleciam ligações entre o centro e a periferia, promovendo assim a
hegemonia do centro. Para dar resposta às necessidades de uma população cada vez mais
numerosa nos subúrbios, foram surgindo inúmeras atividades económicas que, para além de
criarem postos de trabalho, diversificaram as funções urbanas desses espaços e alteraram a
identidades desses antigos povoados rurais. O elevado dinamismo demográfico e económico de
alguns subúrbios, além de reduzir a sua dependência face à área central, contribuiu para a sua
elevação a cidade. Atualmente, assistimos a relações de interdependência e complementaridade
entre o centro e a periferia e entre as cidades e as áreas suburbanas.
Nas últimas décadas, assistimos a um aumento dos rendimentos das famílias portuguesas que se
refletiu na forma de apropriação do espaço pela população e, consequentemente, na forma das
áreas urbanas devido:
- a generalização do uso do automóvel;
- ao desenvolvimento de novos padrões de consumo;
- à aquisição de habitação própria, sobretudo, de caráter unifamiliar.
Por estes motivos, assiste-se ao aumento generalizado dos perímetros urbanos, caracterizados
pela diminuição da densidade populacional.
A desconcentração urbana implicou um aumento da mobilidade das famílias que se traduziu em
intensos movimentos pendulares e, consequentemente, em problemas que reduzem a qualidade
de vida da população. Destacam-se problemas de natureza:
- Económica: aumento das despesas com os transportes coletivos e/ou com o combustível para o
transporte particular
- Saúde: stress, cansaço e nervosismo provocados pela rotina dos movimentos pendulares, pelos
engarrafamentos, filas de espera, e sobrelotação de espaços público
- Ambiental: destruição dos solos agrícolas e florestas devido ao avanço da urbanização;
diminuição de espaços verdes; aumento da poluição e da produção de resíduos
- Identidade: alteração da paisagem urbanística, que se torna desorganizada, e perda de
identidade dos residentes, podendo potenciar situações de conflito ou de marginalidade local
Noutros casos, e mais recentemente, o planeamento urbano permitiu o crescimento organizado
dos subúrbios, dotando-os de boas acessibilidades, maior qualidade ambiental e uma maior
oferta de serviços, transformando-os em novas centralidades. Estas características conjugadas
proporcionam ambientes de maior qualidade de vida e atraem grupos sociais economicamente
mais favorecidos, cuja fixação também contribui para a promoção desses espaços.
Periurbanização
Processo de amplo crescimento do espaço urbano que inclui as periferias da cidade-centro e os
espaços mais afastados, com menor densidade.
O processo de urbanização não termina nas áreas suburbanas. Estas continuam a expandir-se,
devido ao prolongamento da rede viária que facilitou o acesso a áreas cada vez mais distantes
do centro da cidade.
Assim, para lá da cintura suburbana, é possível encontrar uma mistura de estruturas urbanas
com caráter rural, e que dificultam o estabelecimento de fronteiras entre a cidade e o campo.
Estes fenómenos designa-se por periurbanização.
Na origem das áreas periurbanas estão diversos fatores como a:
- construção de vias de comunicação: a construção de estradas, autoestradas e vias ferroviárias
aumentaram a acessibilidade das áreas mais afastadas ao centro e os movimentos pendulares da
população
- oferta de atividades terciárias: a existência de comércio que atrai e promove a fixação de
população e de outras atividades económicas
- qualidade ambiental e paisagística: atraem e favorecem a fixação de novos residentes com a
disponibilidade de terrenos com maior superfície e a preços mais baixos; a oferta de habitações
com qualidade arquitetónica e de caráter histórico; a menor pressão urbanística; um ambiente
menos congestionado e poluído
Nas áreas periurbanas, é possível assistir à coexistência de uma população que se dedica a
atividades agrícolas e uma população urbana com hábitos de consumo e estilos de vida urbanos.
Deste modo, estes espaços caracterizam-se por:
- declínio da atividade agrícola;
- fragmentação da propriedade agrícola;
- implantação de unidades industriais;
- ocupação difusa do espaço pela habitação;
- desenvolvimento de atividades terciárias;
- predomínio de baixas densidades de ocupação do espaço;
- coexistência do modo de vida rural e do modo de vida urbano
A rurbanização
Processo de descentralização que envolve um movimento de pessoas e empregos das grandes
cidades para pequenas povoações e áreas rurais localizadas fora dos limites da cidade e para
pequenas vilas situadas a maior distancia.
Atualmente, assiste-se nos países desenvolvidos ao fenómeno designado por rurbanização. Esta
reflete uma nova forma de expansão urbana, que abrange áreas mais vastas e que resulta da
desconcentração de áreas urbanas mais pequenas. O espaço rural, outrora desconsiderado e
abandonado, ou apenas visto como um fornecedor de matérias-primas à cidade, é agora alvo de
uma forte procura para fugir ao stress e aos problemas da urbanização, para um maior contato
com a natureza e para recuperar um estilo de vida mais próximo da comunidade.

 As Áreas Metropolitanas
A suburbanização que ocorreu, sobretudo no litoral, em torno das cidades de Lisboa e do Porto,
conduziu ao crescimento de alguns aglomerados periféricos que adquiriram dinâmicas
territoriais próprias. Entre a periferia e a cidade estabeleceram-se relações de
complementaridade que determinaram uma gestão conjunta dos concelhos envolvidos,
conduzindo à formação de duas áreas metropolitanas, que constituem/formam:
- amplas áreas urbanizadas, que englobam uma grande cidade e esta, por sua vez, exerce um
efeito polarizador sobre as restantes aglomerações urbanas, com as quais estabelece relações de
interdependência económica e funcional
- sistema urbano policêntrico, ligado por relações de complementaridade, que fortalecem a
coesão do território e fomentam uma gestão estratégica de desenvolvimento territorial
Deste modo, destacam-se pelas seguintes características:
- polarização do território: o elevado dinamismo económico e funcional atrai população e
emprego
- intensos fluxos de pessoas e bens: motivados pelo trabalho, cultura, ensino, ou outros,
população e vens deslocam-se frequentemente para a cidade principal
- movimentos pendulares: consequência da desconcentração urbana, que obriga a população a
realizar diariamente deslocações entre casa/trabalho
- decréscimo da população na área central da cidade principal
- desconcentração das atividades ligadas à indústria, ao comércio e aos serviços

 As áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto


As AML e AMP foram criadas, administrativamente, em 1991, como espaços individualizados
(Lei nº 44/91 de 2 de agosto). O seu objetivo seria assegurar a articulação de investimento e
serviços de âmbito supramunicipal.
Contudo, o regime jurídico das áreas metropolitanas só foi definido em 2003, com a Lei
nº45/2008 de 27 de agosto. Este documento estabeleceu, igualmente, o regime jurídico do
associativismo municipal, representado através das Comunidades Intermunicipais (CIM), que
são coincidentes com as NUTS III. Posteriormente, a Lei nº75/2013 de 12 de setembro veio a
estabelecer o atual regime jurídico das autarquias e das CIM, e redefiniu também as atribuições,
os órgãos e as competências das AM.
A AML corresponde a 3,3% do território nacional. É constituída por 18 concelhos, 9 em cada
margem. A AMP representa 2,21% do território nacional.

As AM têm como missão potenciar o desenvolvimento e a competitividade dos seus municípios


através de relações de complementaridade e de solidariedade territorial. Deste modo, estes
territórios que tinham uma estrutura monocêntrica do ponto de vista funcional, e radiocêntrica
em termos da rede viária, adquiriram uma estrutura mais policêntrica e reticular em que os
diferentes centros urbanos se complementam do ponto de vista funcional e a rede viária se
expande e favorece a sua interligação.

 Dinâmica demográfica
As AM registaram, ao longo das décadas, um aumento da população residente, facto que lhes
confere um caráter polarizador, pois concentram cerca de 45% da população residente no país.
A AML tem registado, década após década, um crescimento populacional positivo, enquanto a
AMP registou uma ligeira diminuição na última década. Em ambos, registou-se um crescimento
demográfico em alguns conselhos periféricos, enquanto nos municípios centrais, como Lisboa e
Porto, verificou-se uma diminuição.
Relativamente, à variação demográfica ocorrida na AML, registou-se um ganho de população
de 1,4% desde 2011, com maiores registos em Mafra, Palmela e Alcochete e maiores perdas em
Amadora, Lisboa e Barreiro
Já na AMP registou-se uma variação populacional negativa de -1,3%. Aumentou em São João
da Madeira, Vila do Conde e Póvoa de Varzim. E com perdas em Vale de Cambra, Arouca e
Santo Tirso.
A variação demográfica está relacionada com a estrutura policêntrica que as AM foram
adquirindo:
Perda de população: municípios centrais deveu-se aos elevados custos do solo e elevados
valores de habitação, que levaram à saída de população para a periferia, onde beneficia de boa
acessibilidade em relação ao centro
Ganho populacional: periferia deveu-se aos amplos espaços para construção, menor custo de
habitação e elevada acessibilidade ao centro, que intensificaram os processos de suburbanização
e periurbanização
O sistema policêntrico metropolitano desenvolveu-se na sequência da melhoria das
acessibilidades entre a periferia e o centro. No caso da AML, a construção da Ponte Vasco da
Gama, da Gare do Oriente e da via ferroviária na Ponte 25 de abril aproximou os municípios de
ambas as margens do rio Tejo. No caso da AMP, a estação ferroviária da Campanha cujas
melhorias estruturais alargaram a sua oferta intermodal, a modernização dos transportes
coletivos suburbanos e a construção da A41 – CREP (circular regional exterior do Porto), uma
autoestrada que permitiu descongestionar a VCI e facilitar as ligações entre o sul e o leste da
região.
O crescimento ou declínio demográfico registado também está relacionado com as
características etárias da população. As AM caracterizam-se por uma população
maioritariamente jovem e com o índice de envelhecimento mais elevado. Igualmente, a
percentagem de população instruída e altamente qualificada é superior à média, o que lhes
confere mais competitividade e empreendedorismo e contribui para o seu dinamismo
económico.

 Dinâmica económica
As duas AM apresentam um conjunto de fatores que constituem uma mais-valia para o seu
desenvolvimento económico:
- fatores naturais: localização junto ao litoral; acessibilidade natural; relevo plano ou pouco
acidentado; clima ameno
- fatores sociais: concentração demográfica; concentração de população ativa; predomínio de
população jovem
- fatores socioeconómicos: concentração de mão de obra qualificada; localização de sedes de
empresas e organismos internacionais; sistema produtivo diversificado
Estas condições permitiram que a AM se transformassem nos dois grandes polos dinamizadores
da economia nacional e, atualmente, concentrem cerca de 46% do emprego do país e produzam
cerca de 55% do PIB nacional.
Relativamente ao emprego, a mão de obra distribui-se pelos três setores de atividade económica.
Contudo, e apesar da relevância da atividade industrial, verifica-se que é o setor terciário que
emprega mais mão de obra na maioria dos concelhos. No caso de Lisboa, também se deve ao
facto da cidade desempenhar a função administrativa, na qualidade de capital do país. Quando
comparadas, as duas AM refletem diferenças no peso económico, na qual se destaca a AML.

 O setor secundário nas AM


A atividade industrial exerceu, desde sempre, um forte poder de atração e marcou o
desenvolvimento económico das AM. No entanto, o avanço da terciarização fê-la perder alguma
importância no dinamismo económico destas áreas.

Quando se compararam os perfis da industrialização da AM, ficam algumas diferenças:


AML
- padrão de localização industrial disperso, nos concelhos periféricos, seguindo o traçado dos
grandes eixos de circulação rodoviária e ferroviária
- tendência para uma associação da industria aos serviços de armazenagem e distribuição e ao
comércio grosso, em parques industriais
- diversidade do tecido industrial, com destaque para a indústria de capital intensivo, mas
também alimentar e de tabaco
- concentração de indústrias de bens de equipamentos
- utilização de mão de obra muito qualificada e especializada
- níveis de produtividade elevados e dimensão das empresas maior que na AMP

AMP
- concentração do tecido industrial à volta do concelho do Porto e padrão de localização
disperso no restante território
- concentração de indústrias de bens de consumo tradicionais, que requerem uma utilização
mais intensiva da mão de obra pouco qualificada
- concentração das indústrias de vestuário, calçado e mobiliário, com alguma especialização, e
associada à exportação
- crescente aposta na inovação científica e tecnológica
- tendência para a diversificação industrial devido à deslocalização de setores intensivos em
mão de obra
- predomínio de pequenas e médias empresas

Verificam-se igualmente diferenças no volume de negócios dos estabelecimentos industriais.


Neste sentido, destaca-se nitidamente a AML, pois a dimensão das suas empresas é superior, o
que contribui para os elevados valores de VAB.
Relativamente ao número de trabalhadores associados à atividade industrial, verifica-se que a
AMP apresenta valores superiores. Esta situação deve-se à concentração de indústrias cuja
atividade requer uma utilização mais intensiva de mão de obra.

 A indústria transformadora à escala nacional e regional


Em Portugal, a distribuição espacial da indústria transformadora revela assimetrias regionais,
das quais se destacam:
- forte contraste entre o litoral e o interior
- maior concentração da atividade industrial e do pessoal ao serviço das duas áreas
metropolitanas
- predomínio do setor secundário na região Norte, que concentra cerca de metade do emprego
nesse território. Norte – indústrias intensivas em mão de obra, Lisboa – indústrias tecnológicas.
À escala regional, também é notória uma certa especialização da indústria transformadora,
justificada pela concorrência e pela complementaridade que se estabelece entre empresas de
diferentes ramos de atividades, e que favorecem o desenvolvimento e a inovação industrial.

 Mobilidade da população
A suburbanização e a periurbanização resultam da melhoria das vias de comunicação,
da rede de transportes e dos meios de transporte que promovem a acessibilidade à
cidade-centro. Sendo utilizado mais frequentemente o transporte individual que permite
maior flexibilidade e acesso a territórios mais distantes.

 Problemas urbanos

 As questões urbanísticas e ambientais


A crescente concentração de população nas áreas urbanas e a formação e expansão dos
subúrbios provocaram um conjunto de problemas resultantes da sua incapacidade de acolher a
população que aí se fixou e de responder às suas necessidades. A falta de planeamento urbano
resultou num desajustamento das infraestruturas face às necessidades da população e deu
origem a problemas.
Estes problemas refletem-se no dia a dia das cidades e na vida daqueles que as frequentam,
pondo em causa a sustentabilidade do espaço urbano, a qualidade de vida e o bem-estar da
população urbana.
Degradação do parque habitacional (urbanístico)
Apesar dos processos de reabilitação urbana, os centros históricos das cidades portuguesas
continuam ocupados por prédios muito antigos e degradados. Esta situação resulta de vários
fatores:
- o arrendamento predominante na maioria dos prédios, não permite aos proprietários proceder a
obras de recuperação, pois as rendas, fixas e de longa duração, são de baixo valor
- os moradores que, nalguns casos, são os proprietários do imóvel, são sobretudo pessoas idosas
que não têm capacidade financeira para realizar obras de melhoria ou de conservação
- a saída da população para as periferias ou outras cidades e/ou para o estrangeiro, onde
procuram melhores condições de vida
- o envelhecimento da população que vive nos centros históricos e a diminuição da natalidade
Um outro problema surge quando os edifícios desocupados ou em risco de desmoronamento são
novamente ocupados por uma população com poucos recursos económicos. Estes dão origem às
chamadas bolsas de habitação precária, onde se combinam situações sociais de extrema pobreza
e de marginalidade.
Saturação das infraestruturas e equipamentos (urbanístico)
O contínuo crescimento demográfico nas áreas urbanas conduz à saturação do espaço e à
incapacidade de resposta das infraestruturas físicas e dos equipamentos. Deste modo, as cidades
deparam-se com vários problemas:
- insuficiência das redes de distribuição de água e de energia, e de saneamento, devido à elevada
produção de resíduos
- insuficiência e ineficácia da rede de meios de transporte coletivos
- dificuldades de estacionamento que exige a construção de parques de estacionamento
subterrâneos, cuja construção altera a circulação de linhas de água no subsolo e desestabiliza os
alicerces dos edifícios vizinhos
Poluição sonora (ambientais)
Os níveis de ruído constituem um problema de saúde pública e condicionam a qualidade de vida
das populações, sendo por isso um bom indicador da qualidade de vida urbana. O ruído
produzido nas cidades deriva da atividade humana e do transporte, atividades industriais,
atividades comerciais, atividades de lazer.
Poluição atmosférica (ambientais)
Produzida pela excessiva concentração de população, atividades económicas, transportes,
produção de resíduos e pelo modo de vida urbano. Coloca em perigo a saúde humana.
Ocupação e impermeabilização dos solos (ambientais)
A construção foi invadindo áreas e ocupando solos com várias aptidões como leitos de cheia,
encostas íngremes e zonas ribeirinhas, ou seja, solos sensíveis do ponto de vista ambiental.
Como consequência da falta de organização do território, assistimos à diminuição da infiltração
e ao aumento do escoamento superficial que aumentam o risco de inundação e põe em perigo as
populações.
Aumento da temperatura – “ilhas urbanas de calor” (ambientais)
A pressão construtiva das cidades tem contribuindo para a redução significativa de espaços
verdes e a concentração de gases poluentes, resultantes da atividade humana. Como
consequência, verifica-se uma subida da temperatura, que afeta o conforto térmico humano.
Este padrão térmico designado por IUC, resulta:
- modificações na própria geometria urbana, isto é, nas entradas e saídas energéticas da cidade,
bem como na densidade dos edifícios que contribuem para a diminuição da velocidade do vento
devido ao aumento da rugosidade
- impermeabilização dos solos
- climatização artificial e iluminação de edifícios diversos e ruas
Pobreza e exclusão social (socioeconómicos)
As crises económicas provocam o encerramento de empresas, o desemprego e a precaridade do
emprego. O desemprego é agravado nas cidades dado que as famílias vivem exclusivamente dos
salários para se alimentarem e cumprirem os seus compromissos financeiros. Assim, aumenta as
bolsas de pobreza que impedem o acesso a bens e serviços essencial e que, por sua vez, geram
situações de exclusão social, que afetam grupos como os idosos, que vivem das pensões ou
reformas, os trabalhadores mal remunerados, as minorias étnicas e os imigrantes ilegais, que
vivem em condições precárias, as famílias monoparentais, e os jovens em risco de
toxicodependência.
Insegurança e criminalidade (socioeconómico)
A degradação das condições socioeconómicas das populações e o aumento das desigualdades
sociais, como consequência da crise económica, geram um aumento dos índices de
criminalidade, do sentimento de insegurança, da mendicidade, da prostituição e
toxicodependência. Estes inibem a circulação da população em espaços públicos.
Fadiga e stress (sociais)
O modo de vida urbano é responsável pelo agravamento da qualidade de vida das populações
urbanas. Em consequência dos movimentos pendulares e das longas horas que passam nas filas
de transito, da falta de tempo para as refeições, da ausência de estreitas relações sociais e da
demora no acesso aos serviços públicos, assistimos ao aumento dos sinais de fadiga, de irritação
e de stress nos cidadãos.
Despovoamento, envelhecimento e solidão
A expansão da terciarização nas áreas centrais ditou o aumento do valor do solo e,
consequentemente, a expulsão dos seus residentes mais jovens que encontraram nas periferias
melhores condições de vida, ao nível da habitação e das acessibilidades. Paralelamente ao
abandono das áreas centrais, assistiu-se à degradação do edificado e ao envelhecimento
populacional daqueles que permaneceram nessa área. O despovoamento de espaços verdes são
também responsáveis pelo aumento de casos de solidão, por abandono e exclusão social deste
grupo.

 Medidas de melhoria das condições de vida urbana


A ausência de uma politica de planeamento urbano que promovesse um crescimento ordenado,
coeso do ponto de vista social e viável do ponto de vista económico, contribuiu claramente para
a diminuição da qualidade de vida nas cidades. Para inverter este cenário, assistimos em
Portugal a uma promoção do ordenamento do território, onde o planeamento urbano surge como
um processo fulcral que visa não só a prevenção como a resolução de problemas nas áreas
urbanas.
A partir dos anos 80 do século passado, Portugal começou a implementar um conjunto de
planos de ordenamento do território que atuam a várias escalas, desde o nível nacional (PNPOT
– Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território), ao regional (PROT –
Programas Regionais de Ordenamento do Território) e ao municipal (PMOT – Planos
Municipais de Ordenamento do Território, que é subdividido em PDM – Plano Diretor
Municipal, PU – Plano de Urbanização, PP – Plano de Pormenor) e visam a recuperação da
qualidade de vida das cidades, valorizando-as. Estes instrumentos de gestão territorial estão
enquadrados pela lei de bases gerais da política pública de solos, de ordenamento do território e
de urbanismo.
Revitalização urbana
A degradação da qualidade de vida das cidades tornou urgente a revitalização urbana, ao nível
do edificado, das atividades económicas e do espaço público. Através de ações de reabilitação,
requalificação e de renovação, a revitalização urbana visa a recuperação da centralidade, da
vitalidade e da competitividade do espaço urbano.
Reabilitação urbana
Consiste no processo de transformação urbana que envolve a execução de obras de conservação,
recuperação e readaptação de edifícios e de espaços urbanos, com o objetivo de melhorar as
suas condições de uso e habitabilidade, respeitando o seu caráter arquitetónico, os usos do solo e
o estatuto socioeconómico dos moradores.
Neste domínio, Portugal promoveu vários programas como o PRAUD (Programa de
Recuperação das Áreas Urbanas Degradadas), através do apoio técnico e financeiro, o RECRIA
(Regime Especial de Compartição na Recuperação de Imóveis Arrendados), o Urban I e o
Urban II (Programa de Reabilitação Urbana), o Jessica (Iniciativa da Comissão Europeia para
investimentos sustentáveis em áreas urbanas, com o apoio do Banco Europeu de Investimento) e
o IFRRU (instrumento financeiro para a reabilitação e revitalização urbana).
Requalificação urbana
Compreende intervenções que visam restituir a qualidade a um determinado espaço,
melhorando as condições físicas dos edifícios e/ou dos espaços urbanos. Contempla a alteração
funcional do edificado ou de espaços e, consequentemente, a redistribuição da população e/ou
de atividades anteriormente existentes.
O principal programa de promoção de requalificação urbana foi o programa Polis – Programa
Nacional de Requalificação Urbana e Valorização Ambiental das Cidades. Teve como principal
objetivo a melhoria da qualidade de vida urbana e a revalorização da paisagem, apoiando
operações urbanísticas essencialmente de caráter ambiental e/ou patrimonial, desenvolvidas em
parceria entre as autarquias locais e a administração central.
Renovação urbana
Envolve intervenções mais profundas, que incluem a demolição total ou parcial de edifícios
e/ou infraestruturas degradadas. Estes são substituídos por um novo padrão urbano, moderado e
atrativo, servido de melhores acessibilidades e equipamentos que são reocupados por classes
sociais de estatuto mais elevado e por funções terciárias de nível superior. O Programa Especial
de Realojamento (PER) proporciona a erradicação de barracadas e o realojamento da população
em habitações de custos controlados.

Restituir a qualidade de vida às cidades significa também humaniza-las e valorizá-las para que a
população se identifique com o espaço. É possível implementando boas práticas, o aumento de
espaços verdes, a melhoria da recolha e tratamento de resíduos sólidos urbanos, a melhoria da
mobilidade urbana e do estacionamento, a criação de emprego para atração de jovens, a criação
de serviços de apoio às crianças e aos idosos, incluindo políticas de envelhecimento ativo e
atividades intergeracionais, bem como a construção de equipamentos coletivos que promovam a
cultura, o lazer e o convívio social urbano.

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