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UNIDADE 2 – As áreas urbanas: dinâmicas internas

A ORGANIZAÇÃO DAS ÁREAS URBANAS

DEFINIÇÃO DE CIDADE
A cidade foi, durante muito tempo, um espaço bem definido, com características e funções que a distin-
guiam claramente do espaço envolvente, predominantemente rural. Com a expansão das cidades e a
difusão do modo de vida urbano, tornou-se cada vez mais difícil criar uma definição universal de cidade,
até porque existem diferentes critérios, de acordo com o país e o momento histórico. Os critérios mais
utilizados são de caráter demográfico, funcional e jurídico-administrativo.

Demográfico Funcional Jurídico-administrativo

Tem em conta as atividades em A elevação a cidade dá-se por


Determina um valor mínimo para
que se ocupa a maioria da popula- uma decisão legislativa, ponde-
o número de habitantes/eleitores
ção, associando a cidade aos seto- rando situações de interesse his-
e/ou para a densidade populacio-
res secundário e terciário, e tam- tórico, cultural, político-admi-
nal, para que uma povoação pos-
bém a influência exercida sobre as nistrativo ou por ser do interesse
sa ser considerada cidade.
áreas envolventes. nacional.

Também não se aplica a todas as


É insuficiente, pois há grandes É o caso das capitais de distrito,
situações. Há pequenas cidades
aglomerados populacionais, co- elevadas a cidades pela função
com influência significativa no seu
mo os chamados «bairros dormi- político-administrativa e as ci-
meio envolvente, em que a maio-
tório», nas periferias de grandes dades criadas por vontade régia,
ria dos habitantes não se ocupa
cidades, que não oferecem a por exemplo para garantir a defesa
essencialmente nestes setores de
maioria das funções urbanas. de áreas de fronteira.
atividade.

De um modo geral conjugam-se os três crité-


rios, como acontece em Portugal (Doc. 1). DOC. 1 LEI N.O 11/82 DE 2 DE JUNHO

Sendo difícil criar uma definição única de Artigo 13.o


Uma vila só pode ser elevada à categoria de cidade quando
cidade, é possível encontrar várias caracte-
conte com um número de eleitores, em aglomerado populacional
rísticas comuns: contínuo, superior a 8000 e possua, pelo menos, metade dos
• grande densidade demográfica e de cons- seguintes equipamentos coletivos:
trução, geralmente em altura; a) instalações hospitalares com serviço de permanência;
• trânsito muito intenso e com frequentes b) farmácias;
congestionamentos; c) casa de espetáculos e centro cultural;
d) museu e biblioteca;
• predomínio de atividades do setor ter-
e) instalações de hotelaria;
ciário e também secundário, que ocu-
f) estabelecimentos de ensino, até ao nível secundário;
pam a maior parte da população; g) estabelecimentos de ensino pré-primário e infantários;
• boa oferta de serviços, muitos associa- h) transportes públicos urbanos e suburbanos;
dos ao Estado; i) parques ou jardins públicos.
• um modo de vida marcado por um ritmo Artigo 14.o
intenso e, muitas vezes, pelo isolamento Importantes razões de natureza histórica, cultural e arquitetó-
nica poderão justificar uma ponderação diferente dos requisitos
e anonimato.
enumerados nos artigos 12.o e 13.o.
Diário da República, Série I, de 02/06/1982
CADA VEZ MAIS CIDADES
Em Portugal, o número de habitantes a residir em
População urbana:
espaços com características urbanas tem aumen- população residente em áreas urbanas. Para efeitos
tado consideravelmente, sobretudo devido à atra- estatísticos, é contabilizada a população que reside em
centros urbanos.
ção exercida pelas grandes cidades do litoral, como
Centros urbanos:
Lisboa e Porto, de cujo crescimento resultaram em Portugal, são considerados os aglomerados popula-
muitas das novas cidades. Porém, a população cionais com mais de 10 mil habitantes e todos os que,
não atingindo este valor, são capitais de distrito. Centro
urbana também tem crescido pela atratividade de urbano tem um significado mais lato do que cidade,
cidades do interior, como Viseu, Castelo Branco, podendo referir-se a aglomerados urbanos sem essa
categoria.
Évora, entre outras (Fig. 1 e Doc. 1).

N.o
180
Número de cidades
DOC. 1 QUATRO MILHÕES EM CIDADES
156 159
160 3
Continente - 146 As 141 cidades portuguesas, em dezembro de 2004,
140 2012 30 concentravam aproximadamente 4 milhões de indivíduos,
126
39% da população recenseada no país, em 2001. Estas
120
cidades ocupam apenas 2% do território nacional e regis-
Madeira - 7 Açores - 6
100 tavam uma densidade populacional média de 2187
45
hab./km2, quase vinte vezes superior à média nacional.
81
80 Contudo, a taxa de crescimento da população,
36 entre 1991 e 2001, para a média das cidades (3,9%)
60
ficou aquém do crescimento do conjunto do território
45
40 nacional (5,0%), o que indicia um fenómeno de des-
povoamento dos centros de algumas cidades, sobre-
20 45 45 81 126 156
tudo de Lisboa e Porto.
Cerca de metade da população residente em cida-
0
1979 1980 a 1989 2000 a 2009 2010 a 2012 des estava concentrada em 14 cidades com mais de
Cidades existentes Cidades novas Fonte: INE, 2013 50 mil habitantes, sendo que 8 destas detinham mais
FIG. 1 Evolução do número de cidades, em Portugal (da década de 70 de 100 mil habitantes (Lisboa, Porto, Vila Nova de
a 2012). Gaia, Amadora, Braga, Almada, Coimbra e Funchal).
Adaptado de Atlas das Cidades, Volume II – 2004, INE, 2005

Em 2011, quase metade da população residia em «cidades estatísticas» (centros urbanos com mais de
10 mil habitantes e capitais de distrito), verificando-se o maior índice de concentração urbana na
Região Autónoma da Madeira e o menor na dos Açores (Quadro I).

Quadro I. Número de cidades e índice de concentração da população residente em cidades, em 2011.


Cidades estatísticas (N.o) Índice de concentração da população
por localização geográfica residente em cidades
Local de residência
2011 2011
N.o %
Portugal 158 44,81
Continente 146 44,39
Região Autónoma dos Açores 5 42,11
Região Autónoma da Madeira 7 54,59
Fonte: INE, 2013
ORGANIZAÇÃO FUNCIONAL
Um dos aspetos que diferencia o espaço urbano é a grande diversida-
Funções urbanas:
de de funções que oferece – funções urbanas – e também o facto de aquelas que se associam ao espa-
estas se localizarem com uma certa organização espacial, gerando o ço urbano, como são a habitação,
o comércio e os serviços (saúde,
que habitualmente se designa por áreas funcionais. administrativos, culturais, lazer,
etc.), mas também a função in-
A organização das áreas funcionais depende de diversos fatores, dustrial, embora esta se restrinja
salientando-se o custo do solo urbano, também designado como a certos tipos de indústria mais
adequados ao espaço urbano.
renda locativa. Esta é condicionada sobretudo pela distância e pela
Áreas funcionais:
maior ou menor acessibilidade em relação ao centro da cidade. É mais áreas mais ou menos homogéneas
elevada no centro e vai diminuindo à medida que aumenta a distância relativamente às funções que ne-
las se encontram.
ou a acessibilidade se torna menor em relação a ele.
Especulação fundiária:
Como no centro da cidade existe pouco espaço disponível, a procura de sobrevalorização do solo devido à
procura e às condições ofereci-
terrenos é superior à oferta, o que torna os preços do solo muito ele- das pelo centro.
vados, assistindo-se frequentemente a uma especulação fundiária.
A variação da renda locativa com o aumento da distância ao centro sofre distorções introduzidas pela
acessibilidade, devido sobretudo à oferta de serviços de transporte e estacionamento, além de outras
condições atrativas, geralmente associadas aos aspetos ambientais e sociais. Assim, podem surgir
áreas menos centrais e até mesmo periféricas que, pela sua aptidão para determinadas funções (habi-
tação de maior qualidade e com bom enquadramento paisagístico, comércio especializado, centros
comerciais, hotéis, etc.) e pelas acessibilidades existentes ou previstas, apresentam custos de solo
também elevados.

AS FUNÇÕES ASSOCIADAS AO SETOR TERCIÁRIO


De um modo geral, o centro das cidades individualiza-se em relação às restantes áreas, principalmente
pela importância das funções que nele se concentram. Por isso, é geralmente designado por CBD – ini-
ciais da expressão Central Business District.
As principais vias de circulação viária, na maioria dos casos, convergem para o centro da cidade. Assim,
as atividades presentes no CBD são as mais sensíveis à centralidade que este proporciona. Aí se concen-
tram atividades do setor terciário, nomeadamente o comércio especializado, e os níveis mais altos de
decisão, quer da administração pública (ministérios, tribunais superiores, etc.), como da vida económi-
ca (sedes de bancos, de companhias de seguro, etc.). No centro da cidade, também se encontram ativi-
dades de animação lúdica e cultural.
Deste modo, o CBD caracteriza-se pela:
• intensidade de tráfego, de veículos e peões, devido à concentração
Funções raras:
de funções raras que atraem um grande número de pessoas; funções que se encontram ape-
• numerosa população flutuante, presente apenas durante o dia; nas em certos lugares, obrigan-
do, por vezes, a efetuar grandes
• diminuta população residente, que é constituída sobretudo por ido- deslocações para que se possa
sos residentes em casas mais antigas de rendas baixas, mas tam- usufruir delas.
bém por uma população mais jovem que ocupa edifícios novos ou
renovados destinados a habitação.
As características do CBD podem ser mais ou menos acentuadas, consoante a dimensão da cidade e as
relações de interdependência e complementaridade que estabelece com a área envolvente e com
outras cidades.
DIFERENCIAÇÃO ESPACIAL NO CBD
As funções do CBD encontram-se organizadas no espaço, tanto horizontalmente, como em altura, de
acordo com os pisos dos edifícios:
• as funções mais nobres ou raras e os estabelecimentos de maior prestígio ocupam as ruas centrais
e os primeiros pisos dos edifícios;
• as funções mais comuns ou com menor necessidade de contacto com o público de passagem loca-
lizam-se nas ruas menos centrais e nos últimos andares dos edifícios.
A diferenciação espacial faz com que exis-
tam áreas ou ruas especializadas. Por
Av. da Liberdade
exemplo, no centro de Lisboa é possível dis- Rua da Palma
tinguir ruas onde predomina (Fig. 1):
• a oferta comercial de vestuário, calça- Rua das
Portas de S.to Antão
do e acessórios de moda, como a rua Restauradores

Augusta;
• o comércio de bens mais valiosos e tam-
bém onde se localizam as sedes dos Rossio

bancos e seguros, como a rua do Ouro;


• a oferta cultural e de lazer, como a rua
das Portas de Santo Antão, onde se
Rua Augusta
localizam o Coliseu e o Politeama, entre
outros;
Rua do Ouro
• o comércio e os serviços de grandes
marcas e os hotéis de prestígio, como
os Restauradores e a avenida da Liber-
dade;
• o comércio grossista, já na periferia do Praça do Comércio

centro, na rua da Palma, estendendo-


-se pela avenida Almirante Reis;
• a função administrativa, como a Praça
Fonte: Google Earth, agosto de 2013
FIG. 1 Centro da cidade de Lisboa.
do Comércio, onde se localizam vários
ministérios.

DINÂMICA FUNCIONAL DO CBD


No centro das cidades as funções e a sua organização espacial não se mantêm sempre iguais, verifican-
do-se uma constante dinâmica de sucessão das diversas funções. Na segunda metade do século XX,
deu-se a substituição da função industrial e residencial pelo comércio e outras atividades terciárias.
Mais recentemente, a tendência é para uma descentralização desse tipo de funções.
Esta dinâmica é provocada pela especulação fundiária e pelo congestionamento do centro da cidade,
que vai criando dificuldades de acesso, uma vez que este se localiza, geralmente, na área mais antiga,
onde as ruas são estreitas. Torna-se, assim, mais difícil e demorado o acesso ao centro, não só para as
atividades económicas, mas também para a população que aí se desloca.
Assim, as funções associadas ao CBD tendem a deslocalizar-se para outras áreas que, devido à acessi-
bilidade, se vão constituindo como novas centralidades.
NOVAS CENTRALIDADES NA CIDADE
Nas novas centralidades, que surgem noutros pontos da cidade, o espaço disponível permite oferecer
maior inovação no que respeita ao tipo de serviços e ao conforto proporcionado a quem os utiliza.
Por exemplo, o aparecimento de novas áreas de grande acessibilidade e prestígio, como é o Parque das
Nações, em Lisboa, que atraem serviços e comércio diversificados e, por vezes, de grande especializa-
ção, incluindo os serviços administrativos, privados e públicos, dá origem a novas centralidades de grande
dinâmica económica e social. Para a população que procura esse tipo de comércio e serviços o acesso é
mais rápido e cómodo, devido à confluência de numerosos e variados meios de transportes e à existên-
cia de parques de estacionamento.
Como resposta a esta tendência, atual-
mente, procura-se promover o centro das
cidades, através de medidas como:
• a organização do trânsito;
• o melhoramento dos transportes pú-
blicos;
• a criação de novos espaços de estacio-
namento, geralmente subterrâneos;
• a renovação dos edifícios;
• o encerramento ao trânsito de certas
ruas ou áreas, onde os visitantes po-
dem circular mais à vontade, sentar-
-se numa esplanada ou apreciar a ani-
mação lúdica e cultural que surge nes- FIG. 1 Na rua Augusta é frequente a presença de estrangeiros que cantam ou
tes espaços (Fig. 1). realizam qualquer outra atividade lúdica/cultural.

NOVAS ÁREAS TERCIÁRIAS


A expansão das atividades terciárias, em número e diversidade, fez com que o CBD se tornasse pouco
adequado à localização de muitas delas, sobretudo devido à falta de espaço, ao preço do solo e à dificul-
dade de circulação e estacionamento. Assim, muitos serviços, sobretudo os que exigem maior consumo
de espaço, como a armazenagem e distribuição, estão a sair da cidade, deslocando-se para as suas peri-
ferias. Privilegiam áreas de boa acessibilidade onde se cruzam diferentes vias de comunicação, muitas
vezes em zonas criadas de propósito para estas funções, onde, além de edifícios adequados aos diferen-
tes serviços, existem equipamentos complementares, como centros de congressos, restaurantes, gale-
rias comerciais e zonas de estacionamento.
Outro tipo de conjuntos de serviços que surgem também nas periferias das cidades, em áreas de grande
acessibilidade, são os chamados parques tecnológicos, onde se instalam empresas de alta tecnologia,
organismos de ensino universitário e de investigação e serviços especializados dirigidos às empresas do
parque, como são os de prospeção de mercado, contabilidade e gestão, etc.
As novas formas de comércio surgidas nas últimas décadas e associadas a estabelecimentos de grande
dimensão, como os hipermercados e outras grandes superfícies especializadas em determinados seto-
res do comércio (mobiliário, vestuário de desporto, bricolage, etc.) tendem a localizar-se também nas
periferias dos grandes centros urbanos, em áreas de boa acessibilidade e, mais recentemente, ocupando
zonas comerciais, onde se podem encontrar várias grandes superfícies com diferentes ofertas.
O sucesso de qualquer destas novas formas de comércio está aliado à acessibilidade, à facilidade de esta-
cionamento, à maior mobilidade das famílias e ao aumento do nível de vida.
DIFERENTES ÁREAS RESIDENCIAIS
Nas cidades, a função residencial é muito importante, distinguindo-se diferentes áreas de característi-
cas arquitetónicas e qualidade de construção próprias, cuja localização está diretamente relacionada
com os custos do solo e com o nível social da população que nelas reside.
As classes sociais mais favorecidas vivem em áreas residenciais:
• planeadas e relativamente afastadas do centro e de áreas industriais e, muitas vezes, com uma
envolvente paisagística atrativa, onde os custos do solo são mais elevados;
• com espaços verdes, boa acessibilidade e prestígio social;
• servidas por atividades terciárias, pouco concentradas, que, na sua maioria, são serviços de proxi-
midade e comércio sofisticado;
• constituídas por moradias unifamiliares ou apartamentos, muitas vezes em condomínios fechados,
com vários equipamentos e serviços (garagem, condutas de lixo, porteiro, jardins, piscinas, etc.);
• que podem também localizar-se na periferia da cidade, geralmente próximo do campo ou do mar, mas
com acesso fácil e rápido à cidade, valorizando a qualidade ambiental desse tipo de localização.
As classes médias, que incluem a parte mais numerosa da
população urbana, residem em bairros: DOC. 1 HABITAÇÃO MAIS CARA NAS CIDADES
• de áreas menos centrais da cidade ou das suas peri- DE LISBOA E PORTO
ferias, onde os custos do solo são menores e se Nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto,
encontram apartamentos mais espaçosos, melhor os valores médios de avaliação bancária da habita-
equipados e a menor custo (Doc. 1); ção, em setembro de 2013, fixaram-se em 1224
• constituídos, na sua maioria, por blocos de aparta- euros/m2 e 937 euros/m2, respetivamente.
mentos de vários pisos e servidos por transportes Aos concelhos de Lisboa e do Porto voltaram a
corresponder, em setembro de 2013, os valores
públicos, serviços e equipamentos sociais, como
médios de avaliação bancária de alojamentos mais
escolas, centros de saúde, espaços desportivos, etc.; elevados das Áreas Metropolitanas a que pertencem,
• que apresentam alguma uniformidade arquitetónica 1785 euros/m2 e 1208 euros/m2, respetivamente.
e menor qualidade de construção, sobretudo ao nível Adaptado de Inquérito à Avaliação Bancária na Habitação
da dimensão das divisões e dos acabamentos. INE, 2013

As casas a preços mais baixos encontram-se em áreas cada vez mais afastadas, pois os preços das habi-
tações nas periferias tornam-se progressivamente mais elevados, sobretudo naquelas que são favore-
cidas pela construção de novas vias de comunicação.
Estas novas periferias são procuradas, sobretudo, por casais jovens para compra da primeira habitação
e por famílias com filhos ainda em idade escolar, que procuram uma habitação com mais divisões que,
em áreas mais próximas da cidade, têm preços que não podem suportar.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Enunciar as características da cidade e os critérios que, em Portugal, permitem elevar uma vila a cidade.
¸ Descrever a evolução da população urbana e do número de cidades, em Portugal.
¸ Caracterizar o CBD do ponto de vista funcional, incluindo a diferenciação espacial.
¸ Explicar a recente tendência de deslocalização das funções terciárias.
¸ Caracterizar as áreas residenciais das classes mais favorecidas e das classes médias.
ÁREAS RESIDENCIAIS DAS CLASSES MENOS FAVORECIDAS
A população das classes mais pobres reside em diferentes áreas da cidade ou da sua periferia, ocupando
edifícios degradados do centro, bairros de habitação precária ou bairros de habitação social, construí-
dos em terrenos mais baratos ou desocupados.

¸ Principalmente nas cidades de Lisboa e Porto e nas suas periferias, ainda se encontram bairros de
habitação precária, os chamados «bairros de lata»:
Habitação precária

• habitados por uma população de escassos recursos, muitas vezes imigrante;


• localizam-se em solos expectantes – terrenos da autarquia ou de particulares, que estão deso-
cupados;
• não são servidos pelas redes públicas de água, drenagem de esgotos e eletricidade, embora a
última seja, muitas vezes, conseguida de forma ilegal;
• tornam-se áreas propícias ao aparecimento de problemas de exclusão social e de atividades ilí-
citas como o tráfico de droga, devido ao desemprego e à pobreza.
¸ A habitação precária também surge, por vezes, associada a muitos edifícios antigos e degradados
do centro da cidade e a edifícios inacabados e abandonados, que também não têm condições de
habitabilidade.

¸ Os bairros de habitação social são construídos pelo Estado ou pelas autarquias para a população
Habitação social

de fracos recursos, geralmente residentes em bairros de habitação precária.


¸ São, habitualmente, constituídos por edifícios idênticos, com apartamentos de pequena
dimensão.
¸ Atualmente, existe a preocupação de garantir uma certa qualidade da habitação e do ambiente,
criando serviços de apoio e promoção da população e evitando-se a construção de bairros de
grande dimensão, optando-se pela dispersão deste tipo de habitação social.

OUTRAS ÁREAS RESIDENCIAIS


Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, surgiram nas periferias das cidades, principalmente em Lisboa
e no Porto, muitos bairros de génese ilegal, conhecidos como «bairros clandestinos», em que as casas
de habitação foram construídas pelos próprios moradores, sem qualquer projeto de urbanização e sem
infraestruturas básicas. Na sua maioria, já se encontram legalizados e infraestruturados, mas conti-
nuam a caracterizar-se por uma grande heterogeneidade arquitetónica e até social.
Apesar de existirem todas estas áreas residenciais, a sua separação não é sempre muito vincada,
podendo encontrar-se áreas onde residem pessoas de diferentes condições sociais e económicas. Por
exemplo, no centro da cidade, a renovação de muitos edifícios de valor arquitetónico e histórico atrai
população mais jovem e com maiores possibilidades económicas.
O próprio planeamento de novas áreas residenciais, por opção de política social, pode promover a vizi-
nhança de classes sociais diferentes, obrigando a que os projetos contemplem habitação de luxo, de
classe média e de custos controlados. Muitas vezes, a localização de bairros sociais também procura
esta proximidade. É o que acontece, por exemplo, na Alta de Lisboa onde se encontram desde condomí-
nios fechados de luxo a bairros de habitação social. O objetivo é criar oportunidades de convivência, por
exemplo, na escola e nos espaços públicos, promovendo deste modo a integração social.
ÁREAS INDUSTRIAIS
As cidades e a indústria, desde meados do século XVIII, formaram uma parceria quase indissociável. No
entanto, com a terciarização da economia e o crescimento das cidades, durante a segunda metade do
século XX, essa associação foi-se tornando mais difícil, ficando a localização industrial no espaço
urbano cada vez mais condicionada. Esta evolução levou muitas indústrias, sobretudo as de maior
dimensão e as mais poluidoras, a deixar o espaço citadino.
A legislação sobre localização industrial que foi surgindo tornou-se mais restritiva face à fixação, nas
cidades, de indústrias pesadas e poluidoras.

Indústrias que saem da cidade Na periferia encontram vantagens

¸ As que ocupam maior espaço, sobre o qual, ¸ Preços do solo e das rendas mais baixos, mui-
geralmente, há grande pressão do mercado tas vezes infraestruturados.
imobiliário. ¸ Melhores acessibilidades, que permitem uma
¸ As que têm emissões de efluentes perigosos e circulação mais rápida e menor perda de
provocam maior poluição atmosférica e mais tempo, o que aumenta a produtividade.
ruído. ¸ Maior disponibilidade de mão de obra com
¸ As que são geradoras de grande circulação de níveis de qualificação diversos.
veículos pesados.

Indústrias que permanecem na cidade

¸ Pouco poluentes e menos exigentes em espaço e em energia.


¸ Utilizadoras de matérias-primas leves e pouco volumosas.
¸ Fornecedoras de bens de consumo diário ou frequente como, por exemplo, as tipografias e as panificadoras.
¸ Associadas a produtos especializados, como as oficinas de joalharia e de alta-costura, que se localizam em
áreas centrais de prestígio, como a Baixa-Chiado, em Lisboa, e que atraem clientes de grande poder econó-
mico.

A indústria é, assim, uma atividade económica cada vez menos presente no interior da cidade. Os anti-
gos espaços industriais vão sendo ocupados com novos usos, nomeadamente comércio, serviços, lazer,
escritórios e, no caso dos edifícios com valor arquitetónico, com atividades culturais, museológicas, etc.
Mais uma vez se pode referir o exemplo da zona oriental de Lisboa, fortemente industrializada até finais
da década de 80 e que, atualmente, é ocupada por uma área de comércio, serviços e habitação.
Como resposta a esta realidade, têm surgido, de forma planeada e, geralmente, na periferia das cidades
ou no espaço rural, zonas industriais, parques industriais e parques empresariais, que disponibilizam
espaço, infraestruturas e serviços às empresas que neles se instalam.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Caracterizar as áreas residenciais das classes menos favorecidas.
¸ Explicar a evolução da localização industrial em relação à cidade.
A EXPANSÃO DAS CIDADES
O crescimento das cidades está intimamente relacionado com o próprio crescimento demográfico e
pode ocorrer em altura, através do aumento do número de pisos dos edifícios, ou em extensão, em dire-
ção às áreas periféricas da cidade. Geralmente, estes dois processos são simultâneos e associam-se ao
próprio dinamismo interno da cidade, que provoca a alteração dos padrões de localização das diferentes
funções. Assim, é possível identificar duas fases na evolução demográfica e funcional das cidades.

Na fase centrípeta, as cidades constituem polos de atração da população e das ativi-


Fase centrípeta dades económicas, gerando uma tendência para a concentração demográfica e eco-
nómica nos centros urbanos.

Gradualmente, o aumento dos preços do solo urbano, muito disputado pelas diversas
funções, provoca a deslocação, para a periferia, da população e das atividades que
ocupam mais espaço. Este movimento de desconcentração urbana para as áreas
Fase centrífuga
periféricas – fase centrífuga – faz diminuir a população no centro e provoca a expan-
são das áreas urbanas envolventes, com a migração da função residencial e das ati-
vidades económicas, que tendem a adotar um padrão de localização difusa.

A SUBURBANIZAÇÃO
A este movimento de expansão das cidades em direção à periferia atribui-se a designação de suburba-
nização, ou seja, a ocupação urbana dos subúrbios (arrabaldes da cidade).
O crescimento destas áreas não se deu uniformemente, mas acompanhou os principais eixos de acesso
à cidade (caminhos de ferro, estradas nacionais e autoestradas) e, muitas vezes, adquiriu uma forma
«tentacular». A expansão das áreas suburbanas também se deu de acordo com o mesmo padrão, a par-
tir de localidades que constituíam locais privilegiados de acesso à grande cidade, como é o caso das que
tinham as principais estações de caminho de ferro e das que se situam próximo de nós de autoestradas.
Essas localidades começaram por crescer nas suas áreas envolventes próximas e, posteriormente, deu-
-se a expansão ao longo das vias rodoviárias em direção a outras localidades mais afastadas. Com o
aumento da motorização das famílias, a expansão das áreas suburbanas libertou-se dos principais eixos
de circulação dos transportes públicos e tornou-se mais difusa e complexa.
A suburbanização deu origem a áreas de contínuos urbanos, isto é, áreas onde não se distingue a sepa-
ração entre localidades diferentes, pois a ocupação urbana é contínua.
A expansão dos subúrbios foi facilitada por diversos fatores, nomeadamente:
• a falta de habitação e o seu elevado custo no interior das cidades;
• o desenvolvimento dos transportes públicos e das vias de comunicação;
• o aumento da motorização das famílias, que aumenta a mobilidade e torna mais flexível a escolha
do local de residência;
• a existência de vastas áreas desocupadas, na periferia da cidade, onde o preço do solo é menor;
• a expansão e modernização da construção civil.
Em Portugal, o processo de suburbanização ganhou expressão na segunda metade do século XX, com o
êxodo rural, mas intensificou-se sobretudo a partir dos anos 70. Foi particularmente importante nas
áreas do litoral, principalmente nas regiões da Grande Lisboa e do Grande Porto.
A suburbanização, inicialmente, desenvolveu-se numa relação de grande dependência face às cidades,
desempenhando uma função residencial de tipo «dormitório». Porém, com a expansão das atividades
económicas, tanto as que saem da cidade, como as que são criadas em função do crescimento popula-
cional dos diferentes aglomerados (serviços de saúde, escolas, comércio, etc.), muitas áreas suburba-
nas desenvolveram uma dinâmica própria, tornando-se polos de atração e de oferta de emprego para as
suas áreas envolventes. Deste modo, embora se mantenha a relação de dependência face à grande
cidade, esta vai diminuindo e, gradualmente, transforma-se numa relação de complementaridade.
Foi este processo que conduziu à elevação a cidade de muitos aglomerados populacionais suburbanos,
principalmente nas áreas da Grande Lisboa e do Grande Porto.

PERIURBANIZAÇÃO E RURBANIZAÇÃO
Para lá da cintura suburbana, vão surgindo funções urbanas que se instalam em áreas rurais, com um
padrão de localização descontínua e difusa, num processo denominado por periurbanização.
Geralmente, dá-se a instalação de atividades económicas, como indústrias e serviços de armazenagem
que, a pouco e pouco, vão induzindo o aparecimento de áreas residenciais, mantendo simultaneamente
a ocupação rural.
A expansão suburbana dá também origem a um processo de rurbanização, ou seja, deslocação de pes-
soas e atividades económicas das grandes cidades para pequenas povoações e áreas localizadas fora
dos limites da cidade e/ou para pequenas cidades e vilas situadas a maior distância, em espaço rural.

EFEITOS DA SUBURBANIZAÇÃO
O crescimento dos subúrbios, para além da expansão da mancha urbana, tem consequências que podem
ser consideradas negativas, principalmente o aumento:
• dos movimentos pendulares que, mantendo um fluxo dominante da periferia para a cidade princi-
pal, se efetuam agora também em sentido inverso e entre diferentes pontos das áreas suburbanas;
• do congestionamento das vias de acesso à grande cidade;
• do consumo de combustível e, consequentemente, dos níveis de poluição;
• da despesa das famílias em transportes e do tempo gasto no percurso de casa para o emprego;
• dos problemas de saúde associados à poluição, à fadiga e ao stress;
• da ocupação desordenada do espaço.
Verificam-se também alguns impactes territoriais negativos como a destruição de solos agrícolas e de
solos ocupados com floresta, a falta de equipamentos de apoio social e cultural nas novas áreas resi-
denciais e o aparecimento de bairros de habitação precária.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Descrever as duas fases que é possível identificar no processo de evolução das cidades.
¸ Explicar como se processou a suburbanização, indicando os fatores que a favoreceram.
¸ Caracterizar as relações que se estabelecem entre as cidades e as áreas suburbanas.
¸ Explicitar o significado de periurbanização e rurbanização.
¸ Enumerar os aspetos negativos da suburbanização.
AS ÁREAS METROPOLITANAS DE LISBOA E DO PORTO
O processo de suburbanização, no nosso país, ocorreu sobretudo no Litoral, tendo sido particularmente
importante nas áreas de Lisboa e do Porto. A expansão destas áreas urbanas envolveu algumas cidades
próximas e um grande número de aglomerados populacionais. A instalação de atividades económicas
gerou emprego, diminuindo a dependência face à grande cidade e intensificando relações de interde-
pendência e complementaridade, que passaram a ser cada vez mais complexas, estabelecendo-se tam-
bém entre as diferentes áreas suburbanas.
Surgem, assim, extensas áreas urbanizadas com problemas e potencialidades comuns que é necessá-
rio gerir em conjunto, pelos municípios que nelas se localizam. Por isso, em 1991, foram criadas as Áreas
Metropolitanas de Lisboa (AML) e do Porto (AMP), que incluem várias cidades, a maioria com mais de 25
mil habitantes, pela lei n.o 44/91, de 2 de agosto.
Porém, a regulamentação das competências das áreas metropolitanas só foi efetuada em 2003, com a
Lei Quadro das Áreas Metropolitanas, complementada, em 2008, com a Lei de 27 de agosto que estabe-
lece o Regime Jurídico das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto e que integra mais dois concelhos
na Área Metropolitana do Porto – Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra. Em 12 de setembro de 2013 foi
publicada a lei n.o 75/2013, que define a nova constituição de Área Metropolitana do Porto, à qual passa
a integrar o munícipio de Paredes. (Fig. 1 e Doc. 1).

N
Póvoa de
Área Metropolitana do Porto DOC 1 LEI N.O 75/2013 DE 12 DE SETEMBRO
Varzim
Santo Tirso Artigo 67.º
Vila do
Conde Trofa Atribuições das áreas metropolitanas
ântico

Maia 1 – As áreas metropolitanas visam a prossecução dos


Matosinhos Valongo seguintes fins públicos:
tl

Paredes
Oceano A

Porto
Gondomar a) Participar na elaboração dos planos e programas de
V.N. de Gaia
investimentos públicos com incidência na área
Espinho Sta. Maria metropolitana;
da Feira
b) Promover o planeamento e a gestão da estratégia de
S. João Arouca
da Madeira desenvolvimento económico, social e ambiental do
Vale de
Oliveira de território abrangido;
0 50 km Cambra
Azeméis
c) Articular os investimentos municipais de caráter
metropolitano;
N Área Metropolitana de Lisboa
d) Participar na gestão de programas de apoio ao
Mafra
V. F. Xira desenvolvimento regional, designadamente no
Loures âmbito do Quadro de Referência Estratégico
Sintra Odivelas Nacional (QREN);
Amadora
Cascais Lisboa Alcochete Montijo e) Participar, nos termos da lei, na definição de redes de
Oeiras Montijo
Moita serviços e equipamentos de âmbito metropolitano;
Almada Barreiro
Palmela f) Participar em entidades públicas de âmbito metropo-
ântico

Seixal
litano, designadamente no domínio dos transportes,
tl

Sesimbra Setúbal
Oceano A

águas, energia e tratamento de resíduos sólidos;


g) Planear a atuação de entidades públicas de caráter
metropolitano.
0 50 km

FIG. 1 Concelhos das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto (2014)

Em cada uma das áreas metropolitanas, desenvolvem-se relações de complementaridade entre os diver-
sos concelhos e cidades que as constituem, aumentando o seu dinamismo e a sua competitividade.
Forma-se, assim, uma estrutura policêntrica em que os diferentes centros urbanos se complementam.
A POPULAÇÃO DAS ÁREAS METROPOLITANAS DE LISBOA E DO PORTO
Nas duas áreas metropolitanas de
Lisboa e do Porto concentra-se mais de
40% da população residente em Por- 26,43% 26,87%
tugal, verificando-se um ligeiro cresci-
2008 56,44% 2012
56,87%
mento na AML e uma tendência de 16,70% 16,69%
estagnação na AMP (Fig. 1). AML
AMP
A nível concelhio evidenciam-se algu- Resto do país

mas diferenças (Fig. 2). Nota: Para 2008 foram considerados os mesmos concelhos que fazem parte das áreas
metropolitanas de Lisboa e do Porto na atualidade.
Fonte: Estimativas Anuais da População Residente – 2012, INE, 2013
FIG. 1 Evolução da distribuição demográfica pela AML e AMP e pelas restantes
regiões do país (2008 a 2012).
Milhares de habitantes
600
2008 2012
500

400

300

200

100

sim l
No C go
si n a
ad P s

Pa tijo
o

Lo o a

Mo ta

S a

Se ra

l
Es ofa

Pa Gaia

le Ma ira
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S. Ma Az ca

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Sa

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Ol

Nota: Para 2008 foram considerados os mesmos concelhos que fazem parte das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto na atualidade.
Fontes: Estimativas Anuais da População Residente – 2012, INE, 2013
FIG. 2 Evolução da população dos concelhos das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto (2001 a 2008).

Os concelhos de Lisboa e do Porto foram os que registaram um maior decréscimo da população, o que
se explica pelas tendências de distribuição da população no espaço urbano e se reflete no crescimento
demográfico de outros concelhos onde se deu uma melhoria das acessibilidades, aliada à disponibilidade
de espaço para construção e ao menor preço da habitação. Na AML, Cascais e Mafra tiveram o cresci-
mento demográfico mais acentuado. Na AMP, Vila Nova de Gaia continua a distanciar-se do Porto.

A população das áreas metropolitanas apre- Quadro I. Índice de envelhecimento em áreas


senta um envelhecimento demográfico infe- selecionadas (2012)
rior à média do país, embora com diferenças Área geográfica Índice de envelhecimento (IE)
ao nível municipal (Quadro I). Portugal 131,1

A maior representatividade da população A Total 122,1

jovem deve-se, em parte, à imigração que se M Lisboa (maior IE) 197,7

concentra mais nas áreas metropolitanas, L Mafra (menor IE) 78,4

sobretudo na de Lisboa, e também à maior A Total 114,7

presença de bairros de habitação precária e de M Porto (maior IE) 204,8


P Paredes (menor IE) 67,4
habitação social, onde, de modo geral, as taxas
de natalidade são maiores. Fonte: Estimativas Anuais da População Residente 2012, INE, 2013
DINAMISMO ECONÓMICO DAS ÁREAS METROPOLITANAS DE LISBOA E PORTO
As Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, Quadro I. Importância económica
sobretudo a primeira, funcionam como polos das regiões Norte e Lisboa
dinamizadores da economia nacional. A distri- Proporção de VABpm
Densidade
buição da densidade empresarial e da propor- em setores de alta e
de empresas
média-alta tecnologia
ção do VAB em setores de alta e média-
-alta tecnologia evidenciam a importância 2010 (%) N.o/km2

das regiões em que se inserem as duas áreas Portugal 10,65 12,4

metropolitanas (Quadro I). Porém, quando Continente 10,95 12,3

comparadas, verifica-se que a AML tem um Norte 7,53 17,2

maior peso económico e que existe uma dife- Centro 7,70 8,8

renciação quanto ao tipo de atividades. Nas Lisboa 15,05 113,1

NUTS de nível II e III, em que se inserem os Alentejo 5,81 2,6

concelhos da AMP, a indústria transformadora Algarve 0,68 12,3

tem uma grande importância, enquanto na R. A. Açores 1,56 11,1

Grande Lisboa, cujos concelhos fazem todos R. A. Madeira 2,12 27,0


parte da AML, são mais importantes as ativi- Fonte: Anuário Estatístico de Portugal 2011, INE, 2013

dades terciárias. No entanto, a região Norte


tem maior capacidade exportadora (Doc. 1).

DOC. 1 ESPECIALIZAÇÕES ECONÓMICAS

De 1995 para 2007, a maior parte das regiões diversificaram as suas especializações. O Norte e o Centro eram as únicas
NUTS II especializadas nas indústrias transformadoras em ambos os anos em análise. Em 2007, Lisboa foi a única região a
especializar-se exclusivamente em atividades terciárias, reforçando os níveis de especialização em serviços de elevada produ-
tividade. Em 2006, a região de Lisboa evidenciava maior intensidade tecnológica do processo produtivo, sendo a única onde
o nível tecnológico da atividade produtiva (17%) superava a média nacional. Na Grande Lisboa, a proporção de VAB dos ser-
viços resultante de serviços intensivos em conhecimento de alta tecnologia ultrapassava 18%, gerando um distanciamento
claro face ao Grande Porto, onde aquela proporção era de 6%. No que diz respeito ao efeito motor da inovação, Lisboa des-
taca-se das restantes regiões na generalidade dos indicadores. Porém, nas aplicações do processo produtivo e na capacidade
relativa de exportar bens de alta tecnologia, destacam-se o Grande Porto e o Douro.
Adaptado de Retrato de Portugal 2007, INE, 2008

Como decorre da distribuição geográfica da população, as N


duas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto concen-
tram uma parte muito significativa dos recursos huma-
nos e do emprego, nomeadamente ao nível das qualifica-
ções de nível superior. Evidencia-se a AML, pela maior con-
centração demográfica e pelo maior dinamismo económi-
tico

co, o que se reflete no poder de compra da população, que


o Atlân

é muito superior nos concelhos das duas áreas metropo-


Ocean

litanas, sobretudo na de Lisboa (Fig. 1).


Indicador
per capita (lpC)
] 110 ; 217 ]
] 100 ; 110 ]
] 80 ; 100 ]
] 75 ; 80 ]
] 60 ; 75 ]
] 49; 60 ]
0 50 km
Munic.
NUTS III
NUTS II
FIG. 1 Indicador per capita do poder de compra por município, 2011.
Fonte: PORDATA, 2014
A INDÚSTRIA TRANSFORMADORA NAS ÁREAS METROPOLITANAS DE LISBOA E DO PORTO
O dinamismo económico das áreas metropolita-
nas de Lisboa e do Porto está diretamente asso- 0,72
AML 16,61 82,67
ciado às empresas que nelas desenvolvem a sua
atividade, incluindo as da indústria transforma-
1,30
dora, sobretudo no Porto, onde este setor de ati- AMP 30,72 67,98
vidade ainda tem uma expressão superior à
média nacional (Fig. 1). 0% 25% 50% 75% 100%

Setor primário Setor secundário Setor terciário


Fonte: Recenseamento Geral da População e Habitação, INE, 2013
FIG. 1 Emprego por setores de atividade, na AML e na AMP, em 2011.

¸ Grande concentração de empresas e oferta de múltiplos


nas AM de Lisboa e do Porto
à instalação da indústria

A indústria tem maior repre-


serviços. sentatividade na AMP.
Fatores favoráveis

¸ Boas acessibilidades e infraestruturas de vários domí-


nios (energia, água, telecomunicações, etc.). Proporção de estabelecimentos
¸ Grande oferta de mão de obra, desde a pouco qualifica- da indústria transformadora no
da à de grande especialização. total do país, nas duas áreas
¸ Facilidade de criação de parcerias com estabelecimen- metropolitanas, em 2012:
tos de ensino politécnico e universitário. AML – 17,1%
¸ Facilidade de acesso aos mercados nacional e interna- AMP – 21,5%
cional. (INE, 2014)

As áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto também apresentam algumas diferenças no que respeita
às características da atividade industrial.

Indústria na AML Indústria na AMP

Na AML, existe uma maior diversidade industrial, Na AMP predominam as indústrias de bens de con-
com grande representatividade das indústrias de sumo, sobretudo dos têxteis, do vestuário, da
bens de equipamento, principalmente as metalúr- madeira e mobiliário e do couro e calçado.
gicas de base. É uma indústria mais intensiva em mão de obra,
É uma indústria mais intensiva em capital, com como decorre da sua contribuição para o emprego,
maior especialização tecnológica e, como tal, com mas com muitos casos de empresas inovadoras e
maiores níveis de produtividade. com grande sucesso a nível das exportações.

Lisboa e Porto apresentam algumas diferenças face às respetivas áreas metropolitanas. Nas duas cida-
des, perdem importância as indústrias metalúrgicas e ganham relevo as de papel, edição e impressão e
as de confeção de setores especializados, por exemplo a alta costura, todas sensíveis às vantagens da
aglomeração e, em Lisboa, à centralidade da capital.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Descrever a evolução da população nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, explicando as principais diferenças
entre o comportamento demográfico a nível dos concelhos.
¸ Caracterizar as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto relativamente ao dinamismo económico e à indústria trans-
formadora, referindo as principais diferenças entre a AMP e a AML.
A INDÚSTRIA TRANSFORMADORA EM PORTUGAL
A indústria transformadora apresenta-se Portugal
desigualmente distribuída no território Norte
nacional, tendo as empresas características Centro
bastante diferentes na estrutura profissio- Lisboa
nal, em que o setor secundário tem uma Alentejo
representatividade maior nas regiões do Algarve
Norte (superior à média nacional) e Centro e Açores
menor nas regiões do Algarve e Lisboa (Fig. 1). Madeira

Considerando as NUTS III, destacam-se: 0% 20% 40% 60% 80% 100%


• no número de trabalhadores, a Grande Setor primário Setor secundário Setor terciário
Lisboa, o Grande Porto, a Península de Fonte: Anuário Estatístico de Portugal 2012, INE, 2013

Setúbal, o Cávado, o Ave e o Tâmega FIG. 1 População empregada segundo o setor de atividade, por NUTS II,
em 2012.
(Fig. 2);
• no número de empresas, a Grande
Lisboa, o Grande Porto e o Ave (Fig. 3 ).

N N
19,9 35,8
64,2
80,1
Norte
Açores
tlântico

Pessoal ao serviço 15,9 29,9


Oceano A

< 6000 70,1


6000–15 000
84,1
15 001–30 000 Centro
Madeira
30 001–65 000
> 65 000
tlântico

18,3 21,7
N.o de estabelecimentos
81,7
Oceano A

< 500 78,3


500–1000
Lisboa Alentejo
1001–2500
2501–4000
14,5
4001–6500 0 50 km
Valores em %
6500–9000 Outros 85,5
Algarve
0 50 km
> 9000 Setor II

Fonte: Anuários Estatísticos Regionais 2011, INE, 2013 Fonte: Anuários Estatísticos Regionais 2011, INE, 2013
FIG. 2 Número de trabalhadores e estabelecimentos da indústria FIG. 3 Emprego no setor secundário, por NUTS II (2011).
transformadora, por NUTS III (2011).

A significativa concentração da indústria transformadora no litoral associa-se à repartição espacial da


população e das restantes atividades económicas sendo um dos fatores explicativos das assimetrias de
desenvolvimento que caracterizam o nosso país. Uma forma de diminuir essas assimetrias será promo-
ver a instalação de indústrias nas áreas do interior, o que muitas autarquias fazem, oferecendo incenti-
vos aos investimentos industriais e, assim, fomentando o emprego e a fixação demográfica.
CONDIÇÕES DE VIDA NO ESPAÇO URBANO

PRINCIPAIS PROBLEMAS
É habitual afirmar-se que a cidade atrai população devido às condições de vida que oferece, enuncian-
do-se vantagens como o fácil acesso a bens e serviços e a abundância de habitação e de emprego.
Porém, atualmente, o crescimento das cidades coloca problemas de sustentabilidade, em termos de
qualidade de vida, que tornam cada vez menos claro que assim seja. É, pois, importante refletir sobre os
principais problemas que afetam o espaço urbano e que contribuem para uma menor qualidade de vida
dos seus habitantes.

A SATURAÇÃO DAS INFRAESTRUTURAS

Muitos dos problemas decorrem do próprio Estes problemas geram outros que advêm, sobretudo, das
crescimento das cidades. perdas de tempo devido às esperas nas filas de trânsito e
A partir de certa altura, dá-se a saturação de outros serviços, que originam maiores consumos de
das diferentes infraestruturas, das redes energia, aumentando as despesas dos cidadãos, e desen-
de transporte, dos serviços públicos, etc., cadeiam problemas de saúde associados ao nervosismo e
que começam a ficar congestionados e ao stress, que, por sua vez, se vão refletir negativamente
sem capacidade de responder às necessi- na produtividade profissional, na vida familiar, na educa-
dades da população (Doc. 1). ção dos mais jovens, etc.

DOC. 1 LISTAS DE ESPERA Administração Total de utentes em espera Variação


Regional de Março Novembro
Na sequência do relatório e da moni- Saúde (ARS) %
2006 2007
torização necessária, a Inspeção-Geral das Norte 159 297 211 985 33,1%
Atividades de Saúde (IGAS) promoveu,
Centro 90 808 216 178 138,1%
junto das ARS e/ou dos próprios hospitais,
LIsboa e Vale
a obtenção de informação relativamente 100 390 108 871 8,4%
do Tejo
ao número de doentes em lista de espera
Alentejo 12 848 10 689 –16,8%
para consulta. O resultado do primeiro
levantamento traduziu-se nos valores glo- Algarve 9386 13 466 43,5%
bais constantes do quadro anexo. Totais 372 729 561 189 50,6%
Adaptado de Relatório – IGAS, N.º 19/2008

A ausência de planeamento ou o planea-


mento desadequado são também fatores
de falta de qualidade de vida, pois criam
situações de insatisfação na população,
tanto do ponto de vista funcional como pai-
sagístico e psicológico, uma vez que os
locais onde vivemos e trabalhamos influen-
ciam a forma como nos sentimos, pensa-
mos e agimos. Por isso, a desordem e a dis-
função dos espaços prejudicam o equilíbrio
físico e mental dos seus utilizadores (Fig. 1).

FIG. 1 Um exemplo de mau planeamento.


A DEGRADAÇÃO DA PAISAGEM URBANA
Em Portugal, até aos anos 70, a maioria das habitações do centro das cidades era arrendada. Certas pes-
soas investiam em imobiliário e viviam dessas rendas, fazendo as reparações necessárias nas casas, até
porque eram a sua fonte de rendimento.
Após a Revolução do 25 de Abril de 1974, as rendas da habitação e do comércio e serviços foram conge-
ladas durante muitos anos, ao mesmo tempo que a inflação anual dos preços e salários era muito ele-
vada, chegando a ultrapassar os 15%. As rendas tornaram-se desajustadas da realidade, impossibili-
tando os arrendatários de fazer qualquer reparação, uma vez que estas atingiam sempre um valor bas-
tante superior ao da renda. Muitas casas eram também habitadas pelos seus proprietários que, na
maioria das situações, viviam do arrendamento e empobreceram com o congelamento das rendas, o
que os impediu de conservarem as suas próprias habitações.
As sucessivas alterações à lei das rendas não resolveram o problema, principalmente das rendas mais
antigas. Assim, aliado a outros motivos, como heranças não resolvidas, e à incapacidade das autarquias
para gerir a situação dos edifícios devolutos, este problema provocou o envelhecimento e a degradação
da maioria dos edifícios dos centros das cidades, principalmente de Lisboa e do Porto, onde o mercado
de arrendamento era mais importante. Deste modo, muitos habitantes das cidades não têm as condi-
ções mínimas de habitabilidade e existe um perigo real e constante de derrocada e incêndio (Doc. 1).

DOC. 1 À ESPERA DE REPARAÇÃO

Da análise dos dados dos Censos de 2011, verificou-


Proporção Proporção
-se um decréscimo da proporção de edifícios muito de edifícios de edifícios
degradados e de edifícios com necessidade de repara- muito com necessidade
ção. Assim nos últimos dez anos é notória uma melhoria degradados de reparação
destes indicadores, em parte devido ao crescimento do (%) (%)
parque habitacional. Contudo 29,7% apresenta necessi-
Continente 1,7 29,7
dade de reparação e 1,7% um elevado estado de degra-
dação. São os concelhos onde o crescimento urbano é Reg. Aut. Açores 0,9 21,3
mais antigo que têm maior percentagem de edifícios a Reg. Aut. Madeira 1,7 32,2
necessitar de reparações.
Adaptado dos Censos 2011, INE, 2012

Esses edifícios, aos poucos, vão sendo abandonados pelos seus inquilinos ou os seus moradores mor-
rem, pois a maioria é idosa, e quando não são imediatamente demolidos há sempre quem os ocupe –
população pobre ou marginal e imigrantes. Criam-se, assim, bolsas de habitação precária onde se asso-
ciam a pobreza e a marginalidade.
A partir dos anos 80, generalizou-se o hábito de compra de habitação própria e o mercado de arrendamento
tornou-se incipiente. No entanto, surgem também problemas de envelhecimento e degradação dos edifícios,
embora seja mais frequente a sua manutenção, uma vez que são habitados pelos proprietários. Também o
hábito de colocar marquises e equipamentos para os quais os edifícios não estavam preparados, como os apa-
relhos de ar condicionado, fazem surgir, em certas áreas, uma paisagem urbana desfigurada e pouco atrativa.
Outro problema que descaracteriza as cidades é a intrusão de edifícios novos sem qualquer enquadra-
mento arquitetónico, relativamente aos edifícios já existentes, o que decorre, não da falta de legislação,
mas sim do seu incumprimento e da falta de fiscalização.
ENVELHECIMENTO, SOLIDÃO E POBREZA NO ESPAÇO URBANO
O envelhecimento da população acompanha o dos edifícios e, na cidade, vão ficando sobretudo os mais
velhos, pois as novas gerações, quando se tornam adultas, adquirem habitação, geralmente nas áreas
suburbanas. Mesmo os bairros das áreas mais periféricas das cidades apresentam, atualmente, uma
grande percentagem de população idosa. Este envelhecimento demográfico levanta graves problemas
sociais de abandono e solidão, sobretudo entre os idosos mais pobres.
Outro fator de solidão na cidade é o anonimato. As pessoas cruzam-se no elevador, na rua, no supermer-
cado, etc., mas não se conhecem e criam poucas relações de vizinhança. Ou seja, encontram-se sós, no
meio de muita gente.
Nas cidades e, principalmente nas áreas suburbanas, são as crianças e os adolescentes que sofrem de
outro tipo de solidão – a ausência dos pais. Pertencem à chamada «geração da chave», pois desde muito
novos têm a chave de casa e, ficando entregues a si próprios durante todo o dia, crescem sozinhos, mui-
tas vezes sem a presença de um adulto. Esta forma de abandono reflete-se na indisciplina e no insuces-
so escolar, características marcantes da escola urbana, mas também na dependência de vícios como a
droga e o álcool, porta aberta para a delinquência.

A pobreza é outra característica associada às Nota: O indicador de


N
grande cidades, seja a mais escondida, dos seus privação múltipla
integra variáveis
habitantes mais idosos, com pensões de reforma relativas à ocupação
profissional
muito baixas e a viver em habitação degradada, (ex: desemprego)
e às condições de
seja a mais visível, dos bairros de habitação pre- vida (ex: habitação).
cária, que teimam em não desaparecer, apesar
dos programas de realojamento, e a do número
crescente dos «sem-abrigo», para o que muito
contribui o desemprego e a toxicodependência
(Fig. 1).
As situações de abandono e de pobreza, face visí-
tlântico

vel das desigualdades sociais, presentes tam-


bém no espaço urbano, propiciam a criminalidade
Oceano A

e, com ela, a insegurança dos cidadãos que, por <-1,00


medo, muitas vezes não usufruem de espaços -1,00 - 0,00
0,00 - 1,00
como jardins públicos, parques infantis ou um 1,00 - 2,00
0 20 km ≥ 2,00
simples passeio para ver montras.
Fonte: Revista de Estudos Demográficos, n.o 45, INE, 2009

FIG. 1 Indicador de privação múltipla na AML, em 2006.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Descrever a distribuição da indústria transformadora, em Portugal.
¸ Enumerar problemas do espaço urbano relacionados com as infraestruturas, os edifícios e a população urbana.
PROBLEMAS AMBIENTAIS
A componente ambiental tem vindo a Zonas/Aglomerações
Norte Litoral
ganhar importância no contexto da qua- Norte Interior
lidade de vida urbana, sendo um dos Braga (a)
Vale do Ave (a)
aspetos que ajudam a explicar a tendên- Vale do Sousa (a)
Porto Litoral (a)
cia de saída das grandes cidades. As ati- Zona de Influência de Estarreja
Centro Interior
vidades económicas, o movimento e o Aveiro/Ílhavo (a)
modo de vida característicos do espaço Centro Litoral
Coimbra (a)
urbano são fatores de grande pressão Vale do Tejo e Oeste
AML Norte (a)
ambiental, tanto direta como indireta- AML Sul (a)
Setúbal (a)
mente. Península de Setúbal/Alcácer do Sal
Alentejo Litoral
As fontes domésticas e industriais e, Alentejo Interior
Algarve
muito especialmente, o tráfego motori- Portimão/Lagoa(a)
zado são responsáveis por emissões de Albufeira/Loulé (a)
Faro/Olhão (a)
poluentes atmosféricos que comprome- Açores
Funchal (a)
tem a qualidade do ar que se respira nas 0 50 100 150 200 250 300 350 400
cidades (Fig. 1). Classe de qualidade
Muito bom Bom Médio Fraco Mau
À poluição do ar originada no espaço
(a) aglomeração Fonte: Estatísticas do Ambiente 2011, INE, 2012
urbano junta-se a que é motivada pela VL Diário = 50 ug/m
Valor a não exceder mais 35 vezes no ano
produção de energia necessária ao fun-
FIG. 1 Índice de qualidade do ar em 2011
cionamento das cidades (Doc. 1).

DOC. 1 LISBOA MENOS POLUENTE

Em Lisboa, a autarquia propôs a instalação de 11 equipamentos, que vão ser colocados em semáforos e permitem identi-
ficar a matrícula dos veículos, o local da infracção, a data e a hora. Ao ler a matrícula, o sistema cruza os dados do registo
automóvel e verifica se os carros são anteriores a 1992 ou a 1996 (consoante a zona) e se têm ou não catalisador – que não
podem circular no centro da cidade. Tudo isto para apertar a fiscalização dos veículos mais poluentes, de modo a melhorar a
qualidade do ar, particularmente na zona da Avenida da Liberdade/Baixa, e evitar que Portugal seja multado em cerca de dois
milhões de euros pela Comissão Europeia, por continuar a ultrapassar os níveis de poluição no centro da capital.
Adaptado de Público, 23/10/2013

As cidades são espaços geradores de enormes quantidades de resíduos sólidos e de efluentes líquidos
que é necessário recolher e tratar. Mais de três quartos das despesas dos municípios no setor do
ambiente destinam-se ao domínio dos resíduos (Fig. 2).
Os aterros sanitários, incineradoras e ETAR,
apesar de reduzirem os impactes ambien-
2,6%
tais das cidades, são também agentes
poluidores.
0,2% 17,7%
A pressão urbana sobre o ambiente exerce-
Gestão de resíduos
se também através da ocupação de espa- 0,1%
Proteção da qualidade do ar e clima
ços cada vez mais latos, com usos agrícolas Proteção e recuperação dos solos,
79,4% de águas subterrâneas e superficiais
e florestais e de muitas áreas ribeirinhas, Proteção da biodiversidade e paisagem
com todos os problemas que esta pode ori- Outros domínios do ambiente (a)
ginar, tanto para os ecossistemas hídricos (a) Dados do domínio Gestão de águas residuais não disponíveis
Fonte: Estatísticas do Ambiente 2011, INE, 2012
como para os próprios habitantes dessas
áreas (infiltrações, cheias, etc.). FIG. 2 Despesas da administração local por dominios de ambiente, em 2011.
RECUPERAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA URBANA

O PAPEL DO PLANEAMENTO
A resolução e prevenção dos problemas inerentes ao espaço urbano deve passar por um planeamento e
respetiva concretização que tenham em conta, não apenas as áreas pontuais de intervenção, mas o
todo, desde o centro da cidade à sua periferia, bem como todos os aspetos físicos e sociais.
O planeamento é um processo essencial na prevenção e resolução dos problemas urbanos, porque parte
do estudo do espaço de intervenção, tanto ao nível físico como humano, para fazer opções relativa-
mente aos usos do solo, valorizando as potencialidades, encontrando soluções para as condicionantes
e tendo sempre em vista garantir a qualidade de vida da população.
Nas últimas décadas, em Portugal, assistiu-se a uma crescente valorização das políticas de ordenamento
territorial e de desenvolvimento regional e local, tendo sido criados diversos instrumentos legais de pla-
neamento e gestão do território. Para o ordenamento do espaço urbano, assumem particular importância
os Planos Diretores Municipais (PDM), os Planos de Urbanização (PU), e os Planos do Pormenor (PP).

¸ Estabelece as linhas gerais dos usos do solo no território municipal.


¸ Tem um caráter dinâmico – está em permanente avaliação, procedendo à redefinição de
PDM
estratégias para responder a novas necessidades ou aproveitar novas oportunidades.
¸ Legalmente, tem um período de vigência de 10 anos, findos os quais deve ser revisto (Fig. 1).

Integra
N Ourém F. Zêzere

Nazaré Tomar
Sardoal

¸ Os Planos de Urbanização, que de-


T. Novas
Alcobaça Alcanena V. N. Barquinha
C. Rainha Entronc.
finem a organização espacial da Golegã Abrantes
Óbidos Constância
parte do território municipal que Peniche Santarém
se integra no perímetro urbano. Bombarral Rio Maior
Lourinhã Alpiarça Chamusca
Cadaval
ântico

Alenquer Cartaxo Almeirim


Torres Vedras Azambuja
tl
Oceano A

¸ Os Planos de Pormenor, que desenvol-


S.M. Agraço S. Magos
Mafra A. Vinhos Coruche
V. F. Xira
vem e concretizam propostas de orga- Loures Benavente
nização espacial de qualquer área Sintra
Odivelas
específica do concelho, definindo com Amadora Lisboa Alcochete
Cascais Oeiras Montijo Não iniciou
detalhe as formas de ocupação. Moita
¸ Servem de base aos projetos de execu-
Almada Barreiro CA em constituição/constituída
Seixal Palmela
Estudos de caracterização
ção de infraestruturas, da arquitetura Setúbal
Sesimbra Proposta
dos edifícios e dos espaços exteriores, Parecer final
de acordo com as prioridades estabe- 0 30 km Publicado
lecidas no PDM e nos PU.
Fonte: CCDR de Lisboa e Vale do Tejo, 2009
FIG. 1 Situação do processo de revisão dos PDM dos municípios da CCRD de
Lisboa e Vale do Tejo, em julho de 2009.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Enumerar os principais problemas ambientais gerados pelo espaço urbano.
¸ Enunciar os principais instrumentos de ordenamento do espaço urbano, indicando as respetivas áreas de inter-
venção.
A REVITALIZAÇÃO DAS CIDADES
A revitalização das cidades é, hoje, uma preocupação motivada por interesses económicos, sociais e
políticos e, para o CBD, é a única forma de torná-lo competitivo em relação às novas centralidades que
vão surgindo. Pode ser efetuada através de ações de reabilitação, requalificação e renovação urbana.

¸ Intervenção em áreas degradadas com vista a melhorar as condições físicas dos edi-
REABILITAÇÃO fícios.
URBANA ¸ Mantém os usos do solo e o estatuto dos residentes e das atividades.
¸ Procede ao restauro e conservação dos imóveis.

Programas PRAUD – Programa de Reabilitação das Áreas Urbanas Degradadas, concede ajudas,
e incentivos através das autarquias locais, para apoiar projetos de reabilitação ou recuperação de
áreas urbanas degradadas, incluindo a sua preparação e acompanhamento.

RECRIA, REHABITA, RECRIPH e SOLARH – incentivos que apoiam financeiramente o restauro e a conservação de
edifícios degradados com ocupação residencial nas áreas antigas das cidades, pretendendo fazer face ao pro-
blema da degradação de edifícios de rendas baixas.

REQUALIFICAÇÃO ¸ Procede à alteração das funções urbanas dos edifícios ou dos espaços, acompanhada
URBANA de uma redistribuição da população e das atividades económicas.

¸ O mais importante é o Programa Polis – Programa Nacional de Requalificação Urbana


e Valorização Ambiental das Cidades:
Programas • destina-se principalmente a cidades que tenham um papel importante na rede
e incentivos urbana nacional;
• tem como principal objetivo apoiar projetos que permitam melhorar a qualidade de
vida urbana nas vertentes urbanística e ambiental.

RENOVAÇÃO ¸ A renovação urbana aplica-se a áreas da cidade que se encontram degradadas e/ou
URBANA subaproveitadas.
¸ As ações de renovação urbana provocam grandes mudanças nas áreas de interven-
ção:
• demolição total ou parcial de edifícios e estruturas;
Exemplo • construção de novos edifícios e espaços com novas funções urbanas;
• ocupação das áreas residenciais por uma população de nível socioeconómico superior.

Em Portugal, o exemplo que melhor ilustra a renovação urbana é a intervenção efetuada na zona oriental de
Lisboa, que substituiu um área industrial antiga e degradada por uma área urbana de comércio e serviços, na
sua maioria qualificados, e com uma componente residencial predominantemente destinada à classe média
alta, originando o espaço designado como Parque das Nações, que se transformou numa nova centralidade da
cidade de Lisboa.
MELHORAR AS CONDIÇÕES DE VIDA
A revitalização urbana também passa pela componente humana da cidade – os seus habitantes. Por
isso, é muito importante melhorar a qualidade de vida, sobretudo da população que vive em condições
precárias, encontrar formas de fixar população jovem, de modo a travar o envelhecimento e a perda de
população das maiores cidades, e dar apoio à população idosa que se encontra mais sozinha, princi-
palmente nos centros das cidades. É com esses objetivos que têm sido criados vários programas e ini-
ciativas.

Programa Especial de Realojamento (PER) – programa que promove e apoia a erradicação


de bairros de habitação precária, através do realojamento dos seus habitantes em bairros
PER sociais com habitações de custos controlados.
É complementado pelo programa PER-FAMÍLIAS, que apoia as famílias na compra de casa
própria ou na reabilitação de uma habitação de que a família disponha noutro local.

A iniciativa URBAN I (lançada em 1994) e URBAN II, integrada no III Quadro Comunitário de
Apoio. Destina-se a apoiar intervenções em áreas urbanas problemáticas do ponto de
URBAN
vista socioeconómico, com vista a melhorar as condições de vida, reduzindo a pobreza,
exclusão social, criminalidade e delinquência.

A iniciativa Porta 65 pretende dinamizar o acesso, gestão e conservação do parque habi-


tacional com vocação social, de arrendamento público e privado. Nesse âmbito, desenvol-
veu-se o programa Porta 65 — Arrendamento para Jovens, que regula os incentivos aos
jovens arrendatários, pretendendo estimular estilos de vida mais autónomos, através de
Porta 65
um apoio no acesso à habitação por parte dos jovens.
O programa pretende, ainda, dinamizar o mercado de arrendamento, estimulando, ao
mesmo tempo, a reabilitação do edificado para esses fins e a revitalização de áreas urba-
nas degradadas e de concelhos em perda demográfica.

O Programa Apoio 65 – Idoso em Segurança é uma iniciativa do Ministério da Administração


Interna, que visa garantir as condições de segurança e a tranquilidade das pessoas idosas,
Apoio 65
promover o conhecimento do trabalho da GNR e da PSP junto desta população e ajudar a
prevenir e a evitar situações de risco.

Outras ações que poderão contribuir para melhorar a qualidade de vida urbana são:
• uma melhor gestão do tráfego urbano, de modo a reduzir a sua intensidade, promovendo a quali-
dade dos transportes públicos e incentivando a sua utilização;
• o alargamento dos serviços de acompanhamento das crianças e jovens, com vista a diminuir as
situações de risco social;
• o desenvolvimento de serviços de apoio à população idosa, que promova o acompanhamento domi-
ciliário e a redução das situações de solidão;
• a construção de jardins com espaços de lazer convívio, promovendo a sua segurança.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Indicar as diferentes ações de revitalização urbana e os programas/iniciativas que as apoiam.
¸ Enumerar as principais ações e formas de promoção da qualidade de vida urbana.

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