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DEFINIÇÃO DE CIDADE
A cidade foi, durante muito tempo, um espaço bem definido, com características e funções que a distin-
guiam claramente do espaço envolvente, predominantemente rural. Com a expansão das cidades e a
difusão do modo de vida urbano, tornou-se cada vez mais difícil criar uma definição universal de cidade,
até porque existem diferentes critérios, de acordo com o país e o momento histórico. Os critérios mais
utilizados são de caráter demográfico, funcional e jurídico-administrativo.
N.o
180
Número de cidades
DOC. 1 QUATRO MILHÕES EM CIDADES
156 159
160 3
Continente - 146 As 141 cidades portuguesas, em dezembro de 2004,
140 2012 30 concentravam aproximadamente 4 milhões de indivíduos,
126
39% da população recenseada no país, em 2001. Estas
120
cidades ocupam apenas 2% do território nacional e regis-
Madeira - 7 Açores - 6
100 tavam uma densidade populacional média de 2187
45
hab./km2, quase vinte vezes superior à média nacional.
81
80 Contudo, a taxa de crescimento da população,
36 entre 1991 e 2001, para a média das cidades (3,9%)
60
ficou aquém do crescimento do conjunto do território
45
40 nacional (5,0%), o que indicia um fenómeno de des-
povoamento dos centros de algumas cidades, sobre-
20 45 45 81 126 156
tudo de Lisboa e Porto.
Cerca de metade da população residente em cida-
0
1979 1980 a 1989 2000 a 2009 2010 a 2012 des estava concentrada em 14 cidades com mais de
Cidades existentes Cidades novas Fonte: INE, 2013 50 mil habitantes, sendo que 8 destas detinham mais
FIG. 1 Evolução do número de cidades, em Portugal (da década de 70 de 100 mil habitantes (Lisboa, Porto, Vila Nova de
a 2012). Gaia, Amadora, Braga, Almada, Coimbra e Funchal).
Adaptado de Atlas das Cidades, Volume II – 2004, INE, 2005
Em 2011, quase metade da população residia em «cidades estatísticas» (centros urbanos com mais de
10 mil habitantes e capitais de distrito), verificando-se o maior índice de concentração urbana na
Região Autónoma da Madeira e o menor na dos Açores (Quadro I).
Augusta;
• o comércio de bens mais valiosos e tam-
bém onde se localizam as sedes dos Rossio
As casas a preços mais baixos encontram-se em áreas cada vez mais afastadas, pois os preços das habi-
tações nas periferias tornam-se progressivamente mais elevados, sobretudo naquelas que são favore-
cidas pela construção de novas vias de comunicação.
Estas novas periferias são procuradas, sobretudo, por casais jovens para compra da primeira habitação
e por famílias com filhos ainda em idade escolar, que procuram uma habitação com mais divisões que,
em áreas mais próximas da cidade, têm preços que não podem suportar.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Enunciar as características da cidade e os critérios que, em Portugal, permitem elevar uma vila a cidade.
¸ Descrever a evolução da população urbana e do número de cidades, em Portugal.
¸ Caracterizar o CBD do ponto de vista funcional, incluindo a diferenciação espacial.
¸ Explicar a recente tendência de deslocalização das funções terciárias.
¸ Caracterizar as áreas residenciais das classes mais favorecidas e das classes médias.
ÁREAS RESIDENCIAIS DAS CLASSES MENOS FAVORECIDAS
A população das classes mais pobres reside em diferentes áreas da cidade ou da sua periferia, ocupando
edifícios degradados do centro, bairros de habitação precária ou bairros de habitação social, construí-
dos em terrenos mais baratos ou desocupados.
¸ Principalmente nas cidades de Lisboa e Porto e nas suas periferias, ainda se encontram bairros de
habitação precária, os chamados «bairros de lata»:
Habitação precária
¸ Os bairros de habitação social são construídos pelo Estado ou pelas autarquias para a população
Habitação social
¸ As que ocupam maior espaço, sobre o qual, ¸ Preços do solo e das rendas mais baixos, mui-
geralmente, há grande pressão do mercado tas vezes infraestruturados.
imobiliário. ¸ Melhores acessibilidades, que permitem uma
¸ As que têm emissões de efluentes perigosos e circulação mais rápida e menor perda de
provocam maior poluição atmosférica e mais tempo, o que aumenta a produtividade.
ruído. ¸ Maior disponibilidade de mão de obra com
¸ As que são geradoras de grande circulação de níveis de qualificação diversos.
veículos pesados.
A indústria é, assim, uma atividade económica cada vez menos presente no interior da cidade. Os anti-
gos espaços industriais vão sendo ocupados com novos usos, nomeadamente comércio, serviços, lazer,
escritórios e, no caso dos edifícios com valor arquitetónico, com atividades culturais, museológicas, etc.
Mais uma vez se pode referir o exemplo da zona oriental de Lisboa, fortemente industrializada até finais
da década de 80 e que, atualmente, é ocupada por uma área de comércio, serviços e habitação.
Como resposta a esta realidade, têm surgido, de forma planeada e, geralmente, na periferia das cidades
ou no espaço rural, zonas industriais, parques industriais e parques empresariais, que disponibilizam
espaço, infraestruturas e serviços às empresas que neles se instalam.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Caracterizar as áreas residenciais das classes menos favorecidas.
¸ Explicar a evolução da localização industrial em relação à cidade.
A EXPANSÃO DAS CIDADES
O crescimento das cidades está intimamente relacionado com o próprio crescimento demográfico e
pode ocorrer em altura, através do aumento do número de pisos dos edifícios, ou em extensão, em dire-
ção às áreas periféricas da cidade. Geralmente, estes dois processos são simultâneos e associam-se ao
próprio dinamismo interno da cidade, que provoca a alteração dos padrões de localização das diferentes
funções. Assim, é possível identificar duas fases na evolução demográfica e funcional das cidades.
Gradualmente, o aumento dos preços do solo urbano, muito disputado pelas diversas
funções, provoca a deslocação, para a periferia, da população e das atividades que
ocupam mais espaço. Este movimento de desconcentração urbana para as áreas
Fase centrífuga
periféricas – fase centrífuga – faz diminuir a população no centro e provoca a expan-
são das áreas urbanas envolventes, com a migração da função residencial e das ati-
vidades económicas, que tendem a adotar um padrão de localização difusa.
A SUBURBANIZAÇÃO
A este movimento de expansão das cidades em direção à periferia atribui-se a designação de suburba-
nização, ou seja, a ocupação urbana dos subúrbios (arrabaldes da cidade).
O crescimento destas áreas não se deu uniformemente, mas acompanhou os principais eixos de acesso
à cidade (caminhos de ferro, estradas nacionais e autoestradas) e, muitas vezes, adquiriu uma forma
«tentacular». A expansão das áreas suburbanas também se deu de acordo com o mesmo padrão, a par-
tir de localidades que constituíam locais privilegiados de acesso à grande cidade, como é o caso das que
tinham as principais estações de caminho de ferro e das que se situam próximo de nós de autoestradas.
Essas localidades começaram por crescer nas suas áreas envolventes próximas e, posteriormente, deu-
-se a expansão ao longo das vias rodoviárias em direção a outras localidades mais afastadas. Com o
aumento da motorização das famílias, a expansão das áreas suburbanas libertou-se dos principais eixos
de circulação dos transportes públicos e tornou-se mais difusa e complexa.
A suburbanização deu origem a áreas de contínuos urbanos, isto é, áreas onde não se distingue a sepa-
ração entre localidades diferentes, pois a ocupação urbana é contínua.
A expansão dos subúrbios foi facilitada por diversos fatores, nomeadamente:
• a falta de habitação e o seu elevado custo no interior das cidades;
• o desenvolvimento dos transportes públicos e das vias de comunicação;
• o aumento da motorização das famílias, que aumenta a mobilidade e torna mais flexível a escolha
do local de residência;
• a existência de vastas áreas desocupadas, na periferia da cidade, onde o preço do solo é menor;
• a expansão e modernização da construção civil.
Em Portugal, o processo de suburbanização ganhou expressão na segunda metade do século XX, com o
êxodo rural, mas intensificou-se sobretudo a partir dos anos 70. Foi particularmente importante nas
áreas do litoral, principalmente nas regiões da Grande Lisboa e do Grande Porto.
A suburbanização, inicialmente, desenvolveu-se numa relação de grande dependência face às cidades,
desempenhando uma função residencial de tipo «dormitório». Porém, com a expansão das atividades
económicas, tanto as que saem da cidade, como as que são criadas em função do crescimento popula-
cional dos diferentes aglomerados (serviços de saúde, escolas, comércio, etc.), muitas áreas suburba-
nas desenvolveram uma dinâmica própria, tornando-se polos de atração e de oferta de emprego para as
suas áreas envolventes. Deste modo, embora se mantenha a relação de dependência face à grande
cidade, esta vai diminuindo e, gradualmente, transforma-se numa relação de complementaridade.
Foi este processo que conduziu à elevação a cidade de muitos aglomerados populacionais suburbanos,
principalmente nas áreas da Grande Lisboa e do Grande Porto.
PERIURBANIZAÇÃO E RURBANIZAÇÃO
Para lá da cintura suburbana, vão surgindo funções urbanas que se instalam em áreas rurais, com um
padrão de localização descontínua e difusa, num processo denominado por periurbanização.
Geralmente, dá-se a instalação de atividades económicas, como indústrias e serviços de armazenagem
que, a pouco e pouco, vão induzindo o aparecimento de áreas residenciais, mantendo simultaneamente
a ocupação rural.
A expansão suburbana dá também origem a um processo de rurbanização, ou seja, deslocação de pes-
soas e atividades económicas das grandes cidades para pequenas povoações e áreas localizadas fora
dos limites da cidade e/ou para pequenas cidades e vilas situadas a maior distância, em espaço rural.
EFEITOS DA SUBURBANIZAÇÃO
O crescimento dos subúrbios, para além da expansão da mancha urbana, tem consequências que podem
ser consideradas negativas, principalmente o aumento:
• dos movimentos pendulares que, mantendo um fluxo dominante da periferia para a cidade princi-
pal, se efetuam agora também em sentido inverso e entre diferentes pontos das áreas suburbanas;
• do congestionamento das vias de acesso à grande cidade;
• do consumo de combustível e, consequentemente, dos níveis de poluição;
• da despesa das famílias em transportes e do tempo gasto no percurso de casa para o emprego;
• dos problemas de saúde associados à poluição, à fadiga e ao stress;
• da ocupação desordenada do espaço.
Verificam-se também alguns impactes territoriais negativos como a destruição de solos agrícolas e de
solos ocupados com floresta, a falta de equipamentos de apoio social e cultural nas novas áreas resi-
denciais e o aparecimento de bairros de habitação precária.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Descrever as duas fases que é possível identificar no processo de evolução das cidades.
¸ Explicar como se processou a suburbanização, indicando os fatores que a favoreceram.
¸ Caracterizar as relações que se estabelecem entre as cidades e as áreas suburbanas.
¸ Explicitar o significado de periurbanização e rurbanização.
¸ Enumerar os aspetos negativos da suburbanização.
AS ÁREAS METROPOLITANAS DE LISBOA E DO PORTO
O processo de suburbanização, no nosso país, ocorreu sobretudo no Litoral, tendo sido particularmente
importante nas áreas de Lisboa e do Porto. A expansão destas áreas urbanas envolveu algumas cidades
próximas e um grande número de aglomerados populacionais. A instalação de atividades económicas
gerou emprego, diminuindo a dependência face à grande cidade e intensificando relações de interde-
pendência e complementaridade, que passaram a ser cada vez mais complexas, estabelecendo-se tam-
bém entre as diferentes áreas suburbanas.
Surgem, assim, extensas áreas urbanizadas com problemas e potencialidades comuns que é necessá-
rio gerir em conjunto, pelos municípios que nelas se localizam. Por isso, em 1991, foram criadas as Áreas
Metropolitanas de Lisboa (AML) e do Porto (AMP), que incluem várias cidades, a maioria com mais de 25
mil habitantes, pela lei n.o 44/91, de 2 de agosto.
Porém, a regulamentação das competências das áreas metropolitanas só foi efetuada em 2003, com a
Lei Quadro das Áreas Metropolitanas, complementada, em 2008, com a Lei de 27 de agosto que estabe-
lece o Regime Jurídico das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto e que integra mais dois concelhos
na Área Metropolitana do Porto – Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra. Em 12 de setembro de 2013 foi
publicada a lei n.o 75/2013, que define a nova constituição de Área Metropolitana do Porto, à qual passa
a integrar o munícipio de Paredes. (Fig. 1 e Doc. 1).
N
Póvoa de
Área Metropolitana do Porto DOC 1 LEI N.O 75/2013 DE 12 DE SETEMBRO
Varzim
Santo Tirso Artigo 67.º
Vila do
Conde Trofa Atribuições das áreas metropolitanas
ântico
Paredes
Oceano A
Porto
Gondomar a) Participar na elaboração dos planos e programas de
V.N. de Gaia
investimentos públicos com incidência na área
Espinho Sta. Maria metropolitana;
da Feira
b) Promover o planeamento e a gestão da estratégia de
S. João Arouca
da Madeira desenvolvimento económico, social e ambiental do
Vale de
Oliveira de território abrangido;
0 50 km Cambra
Azeméis
c) Articular os investimentos municipais de caráter
metropolitano;
N Área Metropolitana de Lisboa
d) Participar na gestão de programas de apoio ao
Mafra
V. F. Xira desenvolvimento regional, designadamente no
Loures âmbito do Quadro de Referência Estratégico
Sintra Odivelas Nacional (QREN);
Amadora
Cascais Lisboa Alcochete Montijo e) Participar, nos termos da lei, na definição de redes de
Oeiras Montijo
Moita serviços e equipamentos de âmbito metropolitano;
Almada Barreiro
Palmela f) Participar em entidades públicas de âmbito metropo-
ântico
Seixal
litano, designadamente no domínio dos transportes,
tl
Sesimbra Setúbal
Oceano A
Em cada uma das áreas metropolitanas, desenvolvem-se relações de complementaridade entre os diver-
sos concelhos e cidades que as constituem, aumentando o seu dinamismo e a sua competitividade.
Forma-se, assim, uma estrutura policêntrica em que os diferentes centros urbanos se complementam.
A POPULAÇÃO DAS ÁREAS METROPOLITANAS DE LISBOA E DO PORTO
Nas duas áreas metropolitanas de
Lisboa e do Porto concentra-se mais de
40% da população residente em Por- 26,43% 26,87%
tugal, verificando-se um ligeiro cresci-
2008 56,44% 2012
56,87%
mento na AML e uma tendência de 16,70% 16,69%
estagnação na AMP (Fig. 1). AML
AMP
A nível concelhio evidenciam-se algu- Resto do país
mas diferenças (Fig. 2). Nota: Para 2008 foram considerados os mesmos concelhos que fazem parte das áreas
metropolitanas de Lisboa e do Porto na atualidade.
Fonte: Estimativas Anuais da População Residente – 2012, INE, 2013
FIG. 1 Evolução da distribuição demográfica pela AML e AMP e pelas restantes
regiões do país (2008 a 2012).
Milhares de habitantes
600
2008 2012
500
400
300
200
100
sim l
No C go
si n a
ad P s
Pa tijo
o
Lo o a
Mo ta
S a
Se ra
l
Es ofa
Pa Gaia
le Ma ira
Ca ira
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Od fra
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Al ete
V V im
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Ba ada
Ma M r
co ra
S. Ma Az ca
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V. Sin s
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Nota: Para 2008 foram considerados os mesmos concelhos que fazem parte das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto na atualidade.
Fontes: Estimativas Anuais da População Residente – 2012, INE, 2013
FIG. 2 Evolução da população dos concelhos das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto (2001 a 2008).
Os concelhos de Lisboa e do Porto foram os que registaram um maior decréscimo da população, o que
se explica pelas tendências de distribuição da população no espaço urbano e se reflete no crescimento
demográfico de outros concelhos onde se deu uma melhoria das acessibilidades, aliada à disponibilidade
de espaço para construção e ao menor preço da habitação. Na AML, Cascais e Mafra tiveram o cresci-
mento demográfico mais acentuado. Na AMP, Vila Nova de Gaia continua a distanciar-se do Porto.
maior peso económico e que existe uma dife- Centro 7,70 8,8
De 1995 para 2007, a maior parte das regiões diversificaram as suas especializações. O Norte e o Centro eram as únicas
NUTS II especializadas nas indústrias transformadoras em ambos os anos em análise. Em 2007, Lisboa foi a única região a
especializar-se exclusivamente em atividades terciárias, reforçando os níveis de especialização em serviços de elevada produ-
tividade. Em 2006, a região de Lisboa evidenciava maior intensidade tecnológica do processo produtivo, sendo a única onde
o nível tecnológico da atividade produtiva (17%) superava a média nacional. Na Grande Lisboa, a proporção de VAB dos ser-
viços resultante de serviços intensivos em conhecimento de alta tecnologia ultrapassava 18%, gerando um distanciamento
claro face ao Grande Porto, onde aquela proporção era de 6%. No que diz respeito ao efeito motor da inovação, Lisboa des-
taca-se das restantes regiões na generalidade dos indicadores. Porém, nas aplicações do processo produtivo e na capacidade
relativa de exportar bens de alta tecnologia, destacam-se o Grande Porto e o Douro.
Adaptado de Retrato de Portugal 2007, INE, 2008
As áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto também apresentam algumas diferenças no que respeita
às características da atividade industrial.
Na AML, existe uma maior diversidade industrial, Na AMP predominam as indústrias de bens de con-
com grande representatividade das indústrias de sumo, sobretudo dos têxteis, do vestuário, da
bens de equipamento, principalmente as metalúr- madeira e mobiliário e do couro e calçado.
gicas de base. É uma indústria mais intensiva em mão de obra,
É uma indústria mais intensiva em capital, com como decorre da sua contribuição para o emprego,
maior especialização tecnológica e, como tal, com mas com muitos casos de empresas inovadoras e
maiores níveis de produtividade. com grande sucesso a nível das exportações.
Lisboa e Porto apresentam algumas diferenças face às respetivas áreas metropolitanas. Nas duas cida-
des, perdem importância as indústrias metalúrgicas e ganham relevo as de papel, edição e impressão e
as de confeção de setores especializados, por exemplo a alta costura, todas sensíveis às vantagens da
aglomeração e, em Lisboa, à centralidade da capital.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Descrever a evolução da população nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, explicando as principais diferenças
entre o comportamento demográfico a nível dos concelhos.
¸ Caracterizar as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto relativamente ao dinamismo económico e à indústria trans-
formadora, referindo as principais diferenças entre a AMP e a AML.
A INDÚSTRIA TRANSFORMADORA EM PORTUGAL
A indústria transformadora apresenta-se Portugal
desigualmente distribuída no território Norte
nacional, tendo as empresas características Centro
bastante diferentes na estrutura profissio- Lisboa
nal, em que o setor secundário tem uma Alentejo
representatividade maior nas regiões do Algarve
Norte (superior à média nacional) e Centro e Açores
menor nas regiões do Algarve e Lisboa (Fig. 1). Madeira
Setúbal, o Cávado, o Ave e o Tâmega FIG. 1 População empregada segundo o setor de atividade, por NUTS II,
em 2012.
(Fig. 2);
• no número de empresas, a Grande
Lisboa, o Grande Porto e o Ave (Fig. 3 ).
N N
19,9 35,8
64,2
80,1
Norte
Açores
tlântico
18,3 21,7
N.o de estabelecimentos
81,7
Oceano A
Fonte: Anuários Estatísticos Regionais 2011, INE, 2013 Fonte: Anuários Estatísticos Regionais 2011, INE, 2013
FIG. 2 Número de trabalhadores e estabelecimentos da indústria FIG. 3 Emprego no setor secundário, por NUTS II (2011).
transformadora, por NUTS III (2011).
PRINCIPAIS PROBLEMAS
É habitual afirmar-se que a cidade atrai população devido às condições de vida que oferece, enuncian-
do-se vantagens como o fácil acesso a bens e serviços e a abundância de habitação e de emprego.
Porém, atualmente, o crescimento das cidades coloca problemas de sustentabilidade, em termos de
qualidade de vida, que tornam cada vez menos claro que assim seja. É, pois, importante refletir sobre os
principais problemas que afetam o espaço urbano e que contribuem para uma menor qualidade de vida
dos seus habitantes.
Muitos dos problemas decorrem do próprio Estes problemas geram outros que advêm, sobretudo, das
crescimento das cidades. perdas de tempo devido às esperas nas filas de trânsito e
A partir de certa altura, dá-se a saturação de outros serviços, que originam maiores consumos de
das diferentes infraestruturas, das redes energia, aumentando as despesas dos cidadãos, e desen-
de transporte, dos serviços públicos, etc., cadeiam problemas de saúde associados ao nervosismo e
que começam a ficar congestionados e ao stress, que, por sua vez, se vão refletir negativamente
sem capacidade de responder às necessi- na produtividade profissional, na vida familiar, na educa-
dades da população (Doc. 1). ção dos mais jovens, etc.
Esses edifícios, aos poucos, vão sendo abandonados pelos seus inquilinos ou os seus moradores mor-
rem, pois a maioria é idosa, e quando não são imediatamente demolidos há sempre quem os ocupe –
população pobre ou marginal e imigrantes. Criam-se, assim, bolsas de habitação precária onde se asso-
ciam a pobreza e a marginalidade.
A partir dos anos 80, generalizou-se o hábito de compra de habitação própria e o mercado de arrendamento
tornou-se incipiente. No entanto, surgem também problemas de envelhecimento e degradação dos edifícios,
embora seja mais frequente a sua manutenção, uma vez que são habitados pelos proprietários. Também o
hábito de colocar marquises e equipamentos para os quais os edifícios não estavam preparados, como os apa-
relhos de ar condicionado, fazem surgir, em certas áreas, uma paisagem urbana desfigurada e pouco atrativa.
Outro problema que descaracteriza as cidades é a intrusão de edifícios novos sem qualquer enquadra-
mento arquitetónico, relativamente aos edifícios já existentes, o que decorre, não da falta de legislação,
mas sim do seu incumprimento e da falta de fiscalização.
ENVELHECIMENTO, SOLIDÃO E POBREZA NO ESPAÇO URBANO
O envelhecimento da população acompanha o dos edifícios e, na cidade, vão ficando sobretudo os mais
velhos, pois as novas gerações, quando se tornam adultas, adquirem habitação, geralmente nas áreas
suburbanas. Mesmo os bairros das áreas mais periféricas das cidades apresentam, atualmente, uma
grande percentagem de população idosa. Este envelhecimento demográfico levanta graves problemas
sociais de abandono e solidão, sobretudo entre os idosos mais pobres.
Outro fator de solidão na cidade é o anonimato. As pessoas cruzam-se no elevador, na rua, no supermer-
cado, etc., mas não se conhecem e criam poucas relações de vizinhança. Ou seja, encontram-se sós, no
meio de muita gente.
Nas cidades e, principalmente nas áreas suburbanas, são as crianças e os adolescentes que sofrem de
outro tipo de solidão – a ausência dos pais. Pertencem à chamada «geração da chave», pois desde muito
novos têm a chave de casa e, ficando entregues a si próprios durante todo o dia, crescem sozinhos, mui-
tas vezes sem a presença de um adulto. Esta forma de abandono reflete-se na indisciplina e no insuces-
so escolar, características marcantes da escola urbana, mas também na dependência de vícios como a
droga e o álcool, porta aberta para a delinquência.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Descrever a distribuição da indústria transformadora, em Portugal.
¸ Enumerar problemas do espaço urbano relacionados com as infraestruturas, os edifícios e a população urbana.
PROBLEMAS AMBIENTAIS
A componente ambiental tem vindo a Zonas/Aglomerações
Norte Litoral
ganhar importância no contexto da qua- Norte Interior
lidade de vida urbana, sendo um dos Braga (a)
Vale do Ave (a)
aspetos que ajudam a explicar a tendên- Vale do Sousa (a)
Porto Litoral (a)
cia de saída das grandes cidades. As ati- Zona de Influência de Estarreja
Centro Interior
vidades económicas, o movimento e o Aveiro/Ílhavo (a)
modo de vida característicos do espaço Centro Litoral
Coimbra (a)
urbano são fatores de grande pressão Vale do Tejo e Oeste
AML Norte (a)
ambiental, tanto direta como indireta- AML Sul (a)
Setúbal (a)
mente. Península de Setúbal/Alcácer do Sal
Alentejo Litoral
As fontes domésticas e industriais e, Alentejo Interior
Algarve
muito especialmente, o tráfego motori- Portimão/Lagoa(a)
zado são responsáveis por emissões de Albufeira/Loulé (a)
Faro/Olhão (a)
poluentes atmosféricos que comprome- Açores
Funchal (a)
tem a qualidade do ar que se respira nas 0 50 100 150 200 250 300 350 400
cidades (Fig. 1). Classe de qualidade
Muito bom Bom Médio Fraco Mau
À poluição do ar originada no espaço
(a) aglomeração Fonte: Estatísticas do Ambiente 2011, INE, 2012
urbano junta-se a que é motivada pela VL Diário = 50 ug/m
Valor a não exceder mais 35 vezes no ano
produção de energia necessária ao fun-
FIG. 1 Índice de qualidade do ar em 2011
cionamento das cidades (Doc. 1).
Em Lisboa, a autarquia propôs a instalação de 11 equipamentos, que vão ser colocados em semáforos e permitem identi-
ficar a matrícula dos veículos, o local da infracção, a data e a hora. Ao ler a matrícula, o sistema cruza os dados do registo
automóvel e verifica se os carros são anteriores a 1992 ou a 1996 (consoante a zona) e se têm ou não catalisador – que não
podem circular no centro da cidade. Tudo isto para apertar a fiscalização dos veículos mais poluentes, de modo a melhorar a
qualidade do ar, particularmente na zona da Avenida da Liberdade/Baixa, e evitar que Portugal seja multado em cerca de dois
milhões de euros pela Comissão Europeia, por continuar a ultrapassar os níveis de poluição no centro da capital.
Adaptado de Público, 23/10/2013
As cidades são espaços geradores de enormes quantidades de resíduos sólidos e de efluentes líquidos
que é necessário recolher e tratar. Mais de três quartos das despesas dos municípios no setor do
ambiente destinam-se ao domínio dos resíduos (Fig. 2).
Os aterros sanitários, incineradoras e ETAR,
apesar de reduzirem os impactes ambien-
2,6%
tais das cidades, são também agentes
poluidores.
0,2% 17,7%
A pressão urbana sobre o ambiente exerce-
Gestão de resíduos
se também através da ocupação de espa- 0,1%
Proteção da qualidade do ar e clima
ços cada vez mais latos, com usos agrícolas Proteção e recuperação dos solos,
79,4% de águas subterrâneas e superficiais
e florestais e de muitas áreas ribeirinhas, Proteção da biodiversidade e paisagem
com todos os problemas que esta pode ori- Outros domínios do ambiente (a)
ginar, tanto para os ecossistemas hídricos (a) Dados do domínio Gestão de águas residuais não disponíveis
Fonte: Estatísticas do Ambiente 2011, INE, 2012
como para os próprios habitantes dessas
áreas (infiltrações, cheias, etc.). FIG. 2 Despesas da administração local por dominios de ambiente, em 2011.
RECUPERAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA URBANA
O PAPEL DO PLANEAMENTO
A resolução e prevenção dos problemas inerentes ao espaço urbano deve passar por um planeamento e
respetiva concretização que tenham em conta, não apenas as áreas pontuais de intervenção, mas o
todo, desde o centro da cidade à sua periferia, bem como todos os aspetos físicos e sociais.
O planeamento é um processo essencial na prevenção e resolução dos problemas urbanos, porque parte
do estudo do espaço de intervenção, tanto ao nível físico como humano, para fazer opções relativa-
mente aos usos do solo, valorizando as potencialidades, encontrando soluções para as condicionantes
e tendo sempre em vista garantir a qualidade de vida da população.
Nas últimas décadas, em Portugal, assistiu-se a uma crescente valorização das políticas de ordenamento
territorial e de desenvolvimento regional e local, tendo sido criados diversos instrumentos legais de pla-
neamento e gestão do território. Para o ordenamento do espaço urbano, assumem particular importância
os Planos Diretores Municipais (PDM), os Planos de Urbanização (PU), e os Planos do Pormenor (PP).
Integra
N Ourém F. Zêzere
Nazaré Tomar
Sardoal
VERIFIQUE SE SABE
¸ Enumerar os principais problemas ambientais gerados pelo espaço urbano.
¸ Enunciar os principais instrumentos de ordenamento do espaço urbano, indicando as respetivas áreas de inter-
venção.
A REVITALIZAÇÃO DAS CIDADES
A revitalização das cidades é, hoje, uma preocupação motivada por interesses económicos, sociais e
políticos e, para o CBD, é a única forma de torná-lo competitivo em relação às novas centralidades que
vão surgindo. Pode ser efetuada através de ações de reabilitação, requalificação e renovação urbana.
¸ Intervenção em áreas degradadas com vista a melhorar as condições físicas dos edi-
REABILITAÇÃO fícios.
URBANA ¸ Mantém os usos do solo e o estatuto dos residentes e das atividades.
¸ Procede ao restauro e conservação dos imóveis.
Programas PRAUD – Programa de Reabilitação das Áreas Urbanas Degradadas, concede ajudas,
e incentivos através das autarquias locais, para apoiar projetos de reabilitação ou recuperação de
áreas urbanas degradadas, incluindo a sua preparação e acompanhamento.
RECRIA, REHABITA, RECRIPH e SOLARH – incentivos que apoiam financeiramente o restauro e a conservação de
edifícios degradados com ocupação residencial nas áreas antigas das cidades, pretendendo fazer face ao pro-
blema da degradação de edifícios de rendas baixas.
REQUALIFICAÇÃO ¸ Procede à alteração das funções urbanas dos edifícios ou dos espaços, acompanhada
URBANA de uma redistribuição da população e das atividades económicas.
RENOVAÇÃO ¸ A renovação urbana aplica-se a áreas da cidade que se encontram degradadas e/ou
URBANA subaproveitadas.
¸ As ações de renovação urbana provocam grandes mudanças nas áreas de interven-
ção:
• demolição total ou parcial de edifícios e estruturas;
Exemplo • construção de novos edifícios e espaços com novas funções urbanas;
• ocupação das áreas residenciais por uma população de nível socioeconómico superior.
Em Portugal, o exemplo que melhor ilustra a renovação urbana é a intervenção efetuada na zona oriental de
Lisboa, que substituiu um área industrial antiga e degradada por uma área urbana de comércio e serviços, na
sua maioria qualificados, e com uma componente residencial predominantemente destinada à classe média
alta, originando o espaço designado como Parque das Nações, que se transformou numa nova centralidade da
cidade de Lisboa.
MELHORAR AS CONDIÇÕES DE VIDA
A revitalização urbana também passa pela componente humana da cidade – os seus habitantes. Por
isso, é muito importante melhorar a qualidade de vida, sobretudo da população que vive em condições
precárias, encontrar formas de fixar população jovem, de modo a travar o envelhecimento e a perda de
população das maiores cidades, e dar apoio à população idosa que se encontra mais sozinha, princi-
palmente nos centros das cidades. É com esses objetivos que têm sido criados vários programas e ini-
ciativas.
A iniciativa URBAN I (lançada em 1994) e URBAN II, integrada no III Quadro Comunitário de
Apoio. Destina-se a apoiar intervenções em áreas urbanas problemáticas do ponto de
URBAN
vista socioeconómico, com vista a melhorar as condições de vida, reduzindo a pobreza,
exclusão social, criminalidade e delinquência.
Outras ações que poderão contribuir para melhorar a qualidade de vida urbana são:
• uma melhor gestão do tráfego urbano, de modo a reduzir a sua intensidade, promovendo a quali-
dade dos transportes públicos e incentivando a sua utilização;
• o alargamento dos serviços de acompanhamento das crianças e jovens, com vista a diminuir as
situações de risco social;
• o desenvolvimento de serviços de apoio à população idosa, que promova o acompanhamento domi-
ciliário e a redução das situações de solidão;
• a construção de jardins com espaços de lazer convívio, promovendo a sua segurança.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Indicar as diferentes ações de revitalização urbana e os programas/iniciativas que as apoiam.
¸ Enumerar as principais ações e formas de promoção da qualidade de vida urbana.