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UNIDADE 1 – As áreas rurais em mudança

AS FRAGILIDADES DOS SISTEMAS AGRÁRIOS Quadro I. Estrutura da população ativa


portuguesa (1.o trimestre de 2014)
IMPORTÂNCIA ECONÓMICA DA AGRICULTURA Milhares %
A agricultura é uma atividade económica com grande Agricultura,
importância, uma vez que o seu objetivo é a produção produção animal,
392,9 8,9
caça, floresta
de alimentos e a alimentação é a base da vida humana. e pesca
Porém, a nível económico, a sua contribuição para o
emprego e para a criação de riqueza, em termos rela- Indústria,
construção, 1055,7 23,9
tivos, tem vindo a decrescer, como o demonstra a energia e água
estrutura da população ativa e a evolução do Valor
Serviços 2979,1 67,2
Acrescentado Bruto (Quadro I e Fig. 1).
Fonte: Estatísticas do Emprego – 1.o trimestre de 2014, INE, 2014

VAB agrícola VAB agrícola no VAB nacional


Euros (milhões) %
3200 11
10
2800
9
2400 8
2000 7
6
1600
5
1200 4
800 3
2
400 1
Preços de base
0 0
1993

2003

2013
1999

2009

1989

1999

2009
2001

2011

1991

2001

2011
1997

2007

1987

1997

2007
1984

2004
1995

2004

1985

1994
1996

2002

2005
2006
1998
2000
2002

2005
2006

2012

1986

1988

1990

1992

1995
1996

1998

2000

2008

2010

2012
2003

2008
2010

2013

Fonte: Contas Económicas da Agricultura (1984-2013), INE, 2014

FIG. 1 Evolução do VAB agrícola e da sua contribuição para o VAB nacional, em Portugal.

A diminuição do contributo da agricultura para o emprego e a economia nacional deve-se, principal-


mente, ao desenvolvimento das atividades dos setores secundário e terciário que, ao ganharem maior
importância real e relativa, conduziram a uma perda do peso do setor primário.
Contudo, o valor da produção agrícola (vegetal e animal), nos últimos anos, não sofreu alterações signi-
ficativas, tendo-se registado um ligeiro crescimento em relação à década de 90, tanto a preços corren-
tes – preços reais – como a preços constantes de 2000 – sem o aumento provocado pela inflação dos
anos posteriores a esse ano (Fig. 2).
Euros (milhões)
7000

5000

3000

1000
1984
1985

1995

2004
2005
1980

1982

1986
1983

1988

1990

1992

1996
1993

1998

2000

2002

2006
2003

2008

2010

2012
2013
1989

1999

2009
1981

1991

2001

2011
1987

1997

2007
1994

Preços constantes de 2000 Preços correntes


Fonte: Contas Económicas da Agricultura (1980-2013), INE, 2014
FIG. 2 Evolução do valor da produção agrícola, em Portugal.
ç

AS REGIÕES AGRÁRIAS
Em Portugal, apesar da relativamente pequena N
dimensão do seu território, existe uma significativa Região Autónoma dos Açores
diversidade de paisagens rurais que refletem as Trás-os-
Entre Douro
características naturais de clima e relevo, bem e Minho -Montes

ântico
como a evolução dos acontecimentos históricos e

tl
das tradições locais. Assim, foram definidas nove

Oceano A
Beira
regiões agrárias – sete em Portugal Continental e Litoral Beira
Interior
duas nas regiões autónomas (Fig. 1).

0 50 km Ribatejo
e Oeste

Região Autónoma da Madeira Alentejo

Algarve
0 80 km
0 50 km
FIG. 1 Regiões agrárias.

Como principais características diferenciadoras das regiões agrárias, podemos salientar:

¸ Nas regiões do litoral norte, o clima mais húmido e de temperaturas amenas, com uma menor
amplitude de variação térmica anual, torna estas regiões mais propícias ao cultivo de uma
grande variedade de culturas e menos sujeitas a secas e à formação de geadas.
¸ Nas regiões do interior norte, o clima é menos húmido e as temperaturas são mais altas no
verão e mais baixas no inverno, apresentando, por isso, maior amplitude de variação térmica
Clima

anual, o que favorece a formação de geadas, no inverno. No verão, esta região está mais sujeita
à influência das depressões térmicas e, como tal, à ocorrência de trovoadas, muitas vezes
acompanhadas de granizo e também à ocorrência de secas.
¸ A região do Ribatejo e Oeste tem um clima com grande humidade relativa e amplitude de varia-
ção térmica anual relativamente baixa, o que favorece a agricultura.
¸ Em todo o sul do país, o clima apresenta temperaturas mais altas e, no Interior, uma amplitude
de variação térmica anual relativamente elevada. Há menor precipitação, que diminui de oeste
para este, pelo que estas regiões estão mais sujeitas a secas.

¸ O relevo é mais acidentado, nas regiões agrárias a norte do Tejo, e mais plano nas regiões que
se lhe situam a sul. Salienta-se a região do Ribatejo e Oeste por ter a maior parte do seu terri-
Relevo

tório em áreas de planície.


¸ O relevo, conjugado com fatores históricos, contribuiu para que se tenha criado um contraste
nas características das explorações, sobretudo entre o litoral norte, onde domina a pequena
exploração, e as regiões do sul, sobretudo o Alentejo, com predomínio das grandes explorações.
FATORES CONDICIONANTES DA AGRICULTURA

¸ O clima é um dos fatores que mais condiciona a produção agrícola, pela:


• temperatura, cujos contrastes norte-sul e oeste-este, nas médias anuais e na variação de
amplitude térmica anual, condiciona não só a escolha das espécies cultivadas, mas também
a regularidade e a quantidade das colheitas;
• irregularidade da precipitação que, sendo a mais ou a menos do que o habitual ou, ainda, fora
da sua época, pode causar a perda, pelo menos parcial, das colheitas.

¸ O relevo é também um fator muito relevante para a prática agrícola:


Fatores físicos ou naturais

• pela altitude, que influencia a temperatura, condicionando a escolha das espécies a cultivar;
• pelo declive, que influencia a fertilidade dos solos e limita a utilização de máquinas;
¸ Nas áreas menos acidentadas ou de planície, os solos são mais férteis, pois dá-se a acumula-
ção de materiais rochosos finos e nutrientes resultantes de materiais orgânicos, de origem
animal e vegetal. Além disso, há maior facilidade de utilização de máquinas e sistemas de rega.

¸ A fertilidade do solo pode ser natural ou resultante da ação humana:


• a fertilidade natural depende do clima, do relevo e das características geológicas, sendo
geralmente maior em áreas de clima com temperaturas e precipitação regulares e de relevo
mais plano;
• a fertilidade resultante da ação humana, pela utilização de fertilizantes ou técnicas de corre-
ção dos solos, também influencia a produção em quantidade e qualidade.

¸ A existência de recursos hídricos é fundamental, pelo que:


• a produção agrícola torna-se mais fácil e tem melhores resultados em áreas onde a precipi-
tação é mais abundante e mais regular;
• em áreas de menor precipitação, é necessário recorrer a sistemas de rega artificial.

¸ A influência histórica e cultural portuguesa permite compreender as atuais estruturas fundiá-


rias – dimensão e forma das propriedades rurais:
• no noroeste, a grande fragmentação da propriedade foi favorecida pelo caráter anárquico do
processo da Reconquista, pelo parcelamento de terras pelo clero e pela nobreza, pela elevada
densidade populacional e pelos sistema de partilha de heranças – as terras eram distribuídas
igualmente por todos os filhos;
• no sul, o predomínio de grandes propriedades está relacionado com a forma mais organizada e
tardia da Reconquista, a doação de vastos domínios aos nobres e às ordens religiosas e milita-
Fatores humanos

res e a aquisição pela burguesia de vastas propriedades da nobreza e do clero, no século XIX.

¸ O objetivo da produção influencia a ocupação do solo, pois quando a produção se destina ao:
• autoconsumo, as explorações são geralmente de menor dimensão e, muitas vezes, continuam
a utilizar técnicas mais artesanais;
• mercado, as explorações tendem a ser de maior dimensão e mais especializadas em determi-
nados produtos, utilizando tecnologia moderna.

¸ As políticas agrícolas, orientações e medidas legislativas, condicionam a agricultura porque:


• influenciam as opções dos agricultores relativamente aos produtos cultivados;
• regulamentam as práticas agrícolas, como a utilização de produtos químicos;
• criam incentivos financeiros, apoiando a modernização, etc.
ç

PAISAGENS AGRÁRIAS
O espaço rural ocupa uma parte significativa do território português e nele se desenvolvem as ativida-
des agrícolas, mas também outras, como o artesanato e o turismo que têm cada vez maior expressão.
No espaço rural, destaca-se o espaço agrário, no qual se individualiza o espaço agrícola e, neste, a
superfície agrícola utilizada (SAU).

No espaço rural

Outras
Espaço agrário ocupações
Áreas ocupadas com produção agrícola, vegetal e animal, pastagens, florestas, habita-
ções dos agricultores, infraestruturas e equipamentos associados à atividade agrícola
– caminhos, canais de rega, estábulos, etc.

Espaço agrícola Outras


Área utilizada para a produção vegetal e/ou animal ocupações

Superfície agrícola utilizada (SAU) – Outras


áreas efetivamente ocupadas com ocupações
culturas.

A conjugação dos sistemas de cultura com a morfologia dos campos e as formas de povoamento dá ori-
gem a diferentes paisagens agrárias.

Ocupação • Sistema intensivo – o solo é total e continuamente ocupado.


do solo • Sistema extensivo – não há uma ocupação permanente e contínua do solo.
Pratica-se a rotação de culturas, por vezes, com recurso ao pousio.
Sistema de culturas

Quanto à variedade das culturas, podem ser cultivadas em regime de:


• policultura – mistura de culturas no mesmo campo e colheitas que se sucedem umas às
outras, geralmente em áreas de solos férteis e irrigados;
Culturas

• monocultura – cultivo de um só produto no mesmo campo, associado a solos mais


pobres, ou, na atualidade, à moderna produção de mercado.

Quanto à necessidade de rega, podem ser de: Em Portugal, de modo geral:


• regadio– que precisam de rega regular; • o sistema de cultura extensi-
• sequeiro – com pouca necessidade de água. vo associa-se à monocultura
e aos campos de grande di-
mensão, regulares e abertos,
dos campos
Morfologia

Os campos podem ser classificados em relação à: e ao povoamento concentra-


• dimensão – pequena, média ou grande dimensão; do, sobretudo no Alentejo e do
• forma – regulares ou irregulares; norte interior;
• vedação – abertos (sem) ou fechados (com). • o sistema de cultura intensivo
associa-se à policultura, aos
campos de pequena dimen-
povoamento
Formas de

Em Portugal, o povoamento rural tradicional apresenta-se: são, irregulares e fechados e


• concentrado – em aldeias; ao povoamento disperso, so-
• disperso – as casas estão construídas nos campos; bretudo no noroeste e na ilha
• misto – mistura das duas formas anteriores. da Madeira.
CARACTERÍSTICAS DAS EXPLORAÇÕES AGRÍCOLAS
Em Portugal, à data do último Recenseamento
Exploração agrícola:
Agrícola, havia cerca de 305 mil explorações agríco- unidade técnico-económica que utiliza mão de obra e
las, valor ligeiramente superior face às cerca de fatores de produção próprios e que deve satisfazer
quatro condições:
300 mil contabilizadas, em 2005, pelo último a) produzir um ou vários produtos agrícolas;
Inquérito às Explorações Agrícolas. Quanto à dimen- b) atingir ou ultrapassar uma certa dimensão (área,
número de animais, etc.);
são das explorações, a tendência é a sua estabiliza- c) estar submetida a gestão única;
ção (Fig. 1). d) estar localizada num local determinado e identificável.
Fonte: INE, 2009

N.o (milhares)
600
500
Dimensão média da SAU (ha)
400
12,6 12
11,5
300 10,3
9,5
200
100
0
1989 1993 1995 1997 1999 2003 2005 2009 1999 2003 2005 2007 2009
Total 5 ha de SAU 5 ha de SAU

Fonte: Inquérito à Estrutura das Explorações Agrícolas 2005, Estatísticas Agrícolas 2008, INE, 2009 e
Recenseamento Geral da Agricultura – 2009, INE, 2011
FIG. 1 Evolução do número de explorações segundo a dimensão da SAU (1989 a 2009) e da dimensão média da SAU.

Em todo o país, mas sobretudo


MAD 0,4
nas regiões agrárias da Madei-
AÇO 8,9 Distribuição do número total de
ra, da Beira Litoral e de Entre explorações por região agrária
Douro e Minho, predominam as ALG 7,1
4% 4%
explorações de pequena di- ALE 16%
61,5 4%
mensão que, geralmente, cor- RO 9,8 10%
respondem a mi nifúndios – 20%
BI 10,5
pequena propriedade (Fig. 2). 13%
BL 2,5 16%
11%
O Alentejo é a única região do
TM 7,5
país com explorações de ver-
EDM 4,3
dadeira grande dimensão que,
outrora, constituíam vastos PORT 11,4

latifúndios – grande proprie- 0 20 40 60 80


hectares
dade. Por isso, o Alentejo, ape- Fonte: Recenseamento Geral da Agricultura – 2009, INE, 2011
sar do reduzido número de ex- FIG. 2 Dimensão média das explorações agrícolas, por região agrária, em 2009.
plorações, apresenta a maior
área agrícola nacional.
Em Portugal, o grande número de pequenas explorações condiciona o desenvolvimento da agricultura,
uma vez que limita a mecanização e a modernização dos sistemas de produção, o que se reflete na sua
dimensão económica, que também é predominantemente pequena.
ç

FORMAS DE EXPLORAÇÃO DA SAU


Existem várias formas jurídicas de exploração da SAU. As duas principais são:
• por conta própria – se o produtor é também o proprietário;
• por arrendamento – quando o produtor paga um valor ao proprietário da terra pela sua utilização.
A forma de exploração da SAU não tem 100%
sofrido alterações significativas, sendo a
exploração por conta própria a mais repre- 75%
sentativa 83,2%, em 2009. O arrendamento
está relacionado com a dimensão das 50%
explorações agrícolas, sendo mais impor-
tante nas explorações de maior dimensão. 25%

A exploração por conta própria predomina


0%
em todo o país, destacando-se em Trás-os-

TM

E
al

BI

RO

D
BL

AL

AL

MA
ED
ug
rt
-Montes, no Algarve e na Madeira. Nos
Po Conta própria Arrendamento Outras formas
Açores, o arrendamento é mais comum,
representando 31,2%. No Alentejo também Fonte: INE, 2013
FIG. 1 Formas de exploração da SAU, por região agrária, em 2009.
tem algum significado, sendo superior a
15%, o que se relaciona com a grande
dimensão das explorações (Fig. 1).

Existem vantagens e desvantagens nas duas formas de exploração.

¸ O proprietário procura obter o melhor resultado possível da terra mas, como está a cuidar do que
é mais vantajosa
Conta própria

é seu, preocupa-se com a preservação dos solos e investe em melhoramentos fundiários, como
porque:

a construção de redes de drenagem, a colocação de instalações de rega permanentes, etc.


¸ Os proprietários podem ter um papel decisivo na comunidade rural, participando na preserva-
ção da paisagem e das espécies autóctones, na prevenção de fogos florestais, etc. Podem,
também, com maior facilidade, aliar a atividade agrícola a outras, contribuindo para a diversi-
ficação da base económica e o desenvolvimento sustentável das áreas rurais.

¸ Desvantagens, pois os arrendatários nem sempre se interessam pela valorização e preserva-


Arrendamento
pode ter:

ção das terras, preocupando-se mais em tirar delas o máximo proveito, durante a vigência do
contrato.
¸ Vantagens, uma vez que pode evitar o abandono das terras, nos casos em que o proprietário
não possa ou não queira explorá-las.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Mencionar/localizar as regiões agrárias e indicar as suas principais características.
¸ Enumerar os fatores condicionantes da agricultura e explicar a forma como influenciam esta atividade.
¸ Descrever as paisagens agrárias, indicando os seus principais elementos.
¸ Caracterizar as explorações agrícolas, em Portugal, quanto à sua dimensão, referindo as diferenças regionais.
¸ Descrever a distribuição das principais formas de exploração da SAU, relacionando-as com a dimensão das explo-
rações.
¸ Indicar as vantagens/desvantagens das principais formas de exploração da SAU.
ESTRUTURA DA SAU
A dimensão da superfície agrícola utilizada (SAU) está diretamente relacionada com a dimensão das
explorações. Assim, tal como o número e a dimensão das explorações, a distribuição regional da SAU
também apresenta contrastes (Fig. 1):
• o Alentejo detém mais de metade da SAU do 100%

país, refletindo o facto de ter uma grande 75%


dimensão média das explorações, apesar de
50%
corresponder a apenas 10% do número
total de explorações do país; 25%

• das restantes regiões agrárias, destacam- 0%

D
BL
M
TM
al

E
BI

RO

O
AL

AL

MA
ED
ug
-se Trás-os-Montes, Ribatejo e Oeste e Beira

rt
Po
Interior que, no seu conjunto, reúnem quase
Conta própria Arrendamento Outras formas
32% da SAU do país;
Fonte: Recenseamento Agrícola – 2009, INE, 2010
• Madeira, Açores e Algarve são as regiões
agrárias com menor percentagem de SAU. FIG. 1 Distribuição da SAU por regiões agrárias, em 2009.

A desigual distribuição da SAU explica-se, sobretudo, pelas características do relevo e da ocupação


humana. Assim, no Alentejo, o relevo aplanado, a fraca densidade populacional e o povoamento concen-
trado permitem a existência de vastas extensões de áreas cultivadas. Pelo contrário, nas regiões de
relevo mais acidentado, maior densidade populacional e povoamento disperso, como a Madeira, a Beira
Litoral e Entre Douro e Minho, a área ocupada pela SAU é menor.

A superfície agrícola utilizada inclui:


• terras aráveis – ocupadas com culturas %
50
temporárias (de ciclo vegetativo anual ou
que têm de ser ressemeadas com interva- 40
los inferiores a cinco anos) e com campos
em pousio (Fig. 2); 30

• culturas permanentes – plantações que


20
ocupam as terras durante um longo pe-
ríodo, como um olival, uma vinha, um pomar, 10
etc.;
0
• pastagens permanentes – áreas onde são Terra arável Culturas Pastagens
Horta familiar
semeadas espécies por um período superior permanentes permanentes
1999 2009
a cinco anos, destinadas ao pasto de gado;
Fonte: Estatísticas Agrícolas – 2012, INE, 2013
• horta familiar – superfície ocupada com FIG. 2 Evolução da composição da SAU, em Portugal (1999 a 2009).
produtos hortícolas ou frutos destinados a
autoconsumo.

As terras aráveis têm maior importância na Beira Litoral e Entre Douro e Minho. As culturas permanen-
tes ocupam mais SAU na Madeira, no Algarve e em Trás-os-Montes, onde a produção de fruta e vinho é
importante. As pastagens permanentes ocupam quase toda a SAU nos Açores e cerca de metade em
Entre Douro e Minho, regiões com condições climáticas favoráveis à formação de prados naturais. No
Alentejo, as pastagens permanentes também ocupam um pouco mais de metade da SAU, o que reflete
o investimento na criação de prados artificiais.
ç

A PRODUÇÃO AGRÍCOLA

EVOLUÇÃO
A produção agrícola reflete as diferenças atrás enunciadas, sobretudo das condições naturais que influen-
ciam os produtos cultivados em cada região e também a produção, principalmente a vegetal. Apesar disso,
tem-se verificado uma tendência de aumento do valor da produção vegetal e animal (Fig. 1).

Euros (milhões)
4500
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
1980

1986

1988

1990

1998

2000

2008

2010

2013
2009

2011
2007
1984

1994

2004
1982

1992

1996

2002

2006

2012
Produção animal Produção vegetal
Fonte: Contas Económicas da Agricultura (1980-2013), INE, 2014

FIG. 1 Evolução do valor da produção vegetal e animal, a preços correntes em Portugal (1980 a 2008).

A produção vegetal é a componente mais importante da produção agrícola, correspondendo a cerca de


60% do total. As condições meteorológicas influenciaram a evolução da produção vegetal, facto que foi
mais evidente em 2005, devido à seca acentuada e, em 2008, ano em que afetaram o estado fitossani-
tário das culturas, provocando várias doenças, sobretudo nos cereais, vinha e pomares. A produção ani-
mal, menos dependente das condições meteorológicas, apresenta menor irregularidade na tendência
de crescimento.
Na evolução da estrutura do valor da produção, verifica-se o aumento da importância relativa dos vege-
tais e produtos hortícolas, vinho e leite, que continuavam a destacar-se, em 2013. Ao contrário, o valor
da produção de cereais, bovinos, suínos e azeite decresceu no mesmo período (Fig. 2).

Média 80-89 15 4 12 21 6 35 7

Média 90-99 13 4 9 29 5 32 9

Média 00-09 9 4 9 31 4 32 12

0% 50% 100%
Cereais Plantas industriais, azeite e outros Plantas forrageiras Vegetais e prod. hortíc. Batatas
Frutos Vinho

Fonte: Contas Económicas da Agricultura (2013–2014), INE, 2014


FIG. 2 Estrutura da produção vegetal, a preço base (2013).
CARACTERIZAÇÃO DO SETOR VEGETAL
No setor vegetal, o volume de produção, a superfície Cereais
35,0%
ocupada e a distribuição regional, apresentam algu- Frutos

mas desigualdades que se relacionam sobretudo Outros produtos


7,7% 5,5%
Hortícolas e batata
com as condições naturais, mas também com fato- 2,6%
0,2% 2,4% Vinho
res humanos, nomeadamente a maior ou menor
21,9% Culturas industriais
modernização das técnicas de produção. Em 2013, 24,7% Culturas forrageiras
os vegetais e produtos hortículas destacaram-se, Azeite
seguidos dos frutos e dos vinhos (Figs. 1 e 2).
Fonte: Estatísticas Agrícolas – 2013, INE, 2014

FIG. 1 Estrutura da produção vegetal, em Portugal, em 2013.

1,3% 0,9% 0,1%

9,2% 8,3%
1,2% 12,8%
6,1%
32,5%
23,7%
55,7% 26,5%

33,3% 83,5% 4,9%

Batata Trigo Milho Norte


1,1%
0,3% 0,1% 2,2% Centro
2,0%
1,7%
Lisboa
4,0%
Alentejo
10,0%
21,4% Algarve
35,7%

62,8% 76,6%
82,1%

Cereja Laranja Tomate (indústria)


Fonte: Estatísticas Agrícolas – 2013, INE, 2014
FIG. 2 Produção de algumas culturas por NUTS II, em 2012.

A distribuição regional das produções está diretamente associada às características de cada região:
• A batata é um tubérculo que se dá em todo o território. Como é muito utilizada na alimentação, cul-
tiva-se mais no norte (Trás-os-Montes) e centro (Oeste e Beira Litoral).
• O trigo é um cereal de sequeiro que, tradicionalmente, se cultiva em todo o interior do país, sobre-
tudo no Alentejo, onde a modernização agrícola permitiu tornar a sua produção mais rentável.
• O milho é um cereal de regadio que, tradicionalmente, se cultivava mais nas regiões de Entre Douro e
Minho e Beira Litoral. Porém, com a modernização dos sistemas de rega, o Alentejo apostou na irrigação
artificial e aumentou a sua produção, sendo o maior produtor, em parte por passar a incluir a Lezíria do
Tejo.
• A cereja e a laranja são frutos associados a climas diferentes. A cereja está bem adaptada à relativa
secura do interior norte e centro e a laranja, um fruto de inverno, está bem adaptado às tempera-
turas mais altas e ao sol do Algarve, que lhe conferem menor acidez.
• O tomate para indústria, assim como a beterraba sacarina e o girassol, são culturas industriais –
destinam-se à transformação industrial – sendo o Alentejo a apresentar maior produção, pois inclui
a Lezíria do Tejo.
ç

Nem sempre a uma maior área de cultivo corres-


Rendimento agrícola:
ponde um maior volume de produção. Há culturas relação entre a produção e a superfície cultivada (kg/ha;
que apresentam um maior rendimento agrícola do t/ha; hl/ha).
Também se utiliza a expressão rendimento agrícola no
que outras, pois este depende de outros fatores sentido económico: rendimento da atividade e rendimento
para além da extensão da superfície cultivada do agricultor, em valor monetário.

(Quadro I).

Quadro I. Culturas selecionadas segundo a superfície e a produção – 2013


Trigo Batata Tomate Laranja
ha t t/ha ha t t/ha ha t t/ha ha t t/ha
54 793 58 990 1,1 25 052 445 649 17,8 13 895 218 102 93,5 16 544 208 980 12,6
Fonte: Estatísticas Agrícolas 2013, INE, 2014

O rendimento agrícola depende:


• das características do produto – o trigo é mais leve e os pomares ocupam grandes extensões, pelo
que têm menor rendimento do que a batata, por exemplo;
• da fertilidade dos solos – em campos de dimensão igual pode obter-se produções diferentes;
• da modernização agrícola – por exemplo, o maior rendimento das culturas industriais, como o
tomate, deve-se, em larga medida, ao recurso a fertilizantes químicos.

CARACTERIZAÇÃO DO SETOR ANIMAL


O valor da produção da atividade pecuária representava, 21,2% 20,1%
em 2013, menos de metade do total do setor agrícola. Bovinos
Outros produtos
6,8%
O gado ovino é o que tem maior número de efetivos, no 9,5%
Leite
nosso país, seguido do suíno e do bovino, sendo o gado 12,6% Aves de capoeira
29,8%
caprino o que tem menor representação. No entanto, no Ovinos e caprinos

valor da produção sobressai o setor do leite, seguido do Suínos

gado bovino e do gado suíno (Fig. 3). Fonte: Estatísticas Agrícolas – 2013, INE, 2014
FIG. 3 Estrutura do valor da produção animal, em
Portugal (2013).

A distribuição geográfica dos diferentes tipos de gado não é uniforme e evidencia as condições naturais,
mas sobretudo as opções de investimento em unidades de produção intensiva (Fig. 4).

1,6% 0,2% 1,7%


0,3% 1,1% 0,7% 2,0% 0,2% 3,2% 1,5%
3,0%
18,2% 17,2%
0,6% 21,9% 26,0%

41,3%
43,3% 32,9%
55,1%
12,6% 23,1%

42,7% 3,7% 32,7%


2,2% 2,0%
9,0%

Bovinos Suínos Ovinos Caprinos

Norte Centro Lisboa Alentejo Algarve Açores Madeira


FIG. 4 Efetivos animais, por NUTS II, em 2013. Fonte: Estatísticas Agrícolas – 2013, INE, 2014
A POPULAÇÃO AGRÍCOLA
Nas últimas décadas, verificou-se uma diminuição muito significativa da população agrícola portuguesa
que, em 2011, representava apenas 9,3% da população ativa. Este decréscimo deveu-se à moderniza-
ção da agricultura, mas sobretudo à atração exercida por outros setores de atividade e teve como con-
sequências o êxodo rural e o abandono de muitos campos.
Mais recentemente, com o desenvolvimento da indústria e dos servi-
População agrícola familiar:
ços em muitas áreas rurais ou nas cidades que as servem, como as o produtor agrícola e os mem-
capitais de distrito, tem-se assistido ao êxodo agrícola, ou seja, à trans- bros do seu agregado doméstico,
trabalhem ou não na exploração.
ferência de mão de obra agrícola para outros setores de atividade,
Produtor agrícola:
mantendo-se, no entanto, a residir nas áreas rurais. Esta evolução responsável jurídico e económi-
teve reflexos nas características da população agrícola atual. co da exploração.

Estrutura etária dos produtores agrícolas


2,3%
A estrutura etária da popu-
lação agrícola é bastante 7,7%
envelhecida e evidencia-se
mais nos produtores agríco- 17,4% < 35
47,3%
las, dos quais quase metade 35 a < 45
tinha 65 ou mais anos, em 24,9% 45 a < 55
2009 (ano do último recen- 55 a < 65
seamento agrícola). > = 65

Fonte: Inquérito à Estrutura das


Explorações Agrícolas – 2005, INE, 2007

O nível de instrução da po- Nível de instrução dos produtores agrícolas


pulação agrícola reflete a 1999 2009
2,2% 2,5% 4,4%
estrutura etária. Embora
tenha vindo a aumentar, é 4,2%

ainda relativamente baixo. Só 22,1%


34,4% Nenhum
uma pequena parte tem habi-
Básico
litações que vão além do ensi-
Secundário
no básico (8,6%), correspon- 60,9%
Superior
dendo, em geral, aos mais 69,3%
jovens, associados às explora-
ções de maior dimensão eco-
Fonte: Estatísticas Agrícolas – 2013, INE, 2014
nómica.

Formação profissional dos produtores agrícolas

A formação profissional da 5,0%


grande maioria dos produ- 0,7% 1,0%
9,9%
tores agrícolas, apesar de
ter evoluído de forma posi-
tiva, continua a ser exclu- 1999 2009
sivamente prática, isto é, a
94,3% 89,2% Prática
transmissão de conheci-
mentos e experiências faz- Cursos de formação

-se de pais para filhos. Completa


Fonte: Estatísticas Agrícolas – 2013, INE, 2014

Estas características de idade, instrução e formação profissional dos produtores refletem-se negativa-
mente na atividade, pois reduzem a capacidade de inovação, de introdução de novas práticas e até a
possibilidade de aceder aos apoios comunitários por falta de informação.
ç

DIVERSIFICAÇÃO DAS ATIVIDADES E RENDIMENTOS


A mão de obra agrícola, em Portugal, Produtor agrícola Família do produtor
é essencialmente familiar, re-
presentando cerca de 80% do volu- 11%
21%
me de trabalho agrícola. Porém,
17%
apenas uma pequena parte traba-
51%
lha a tempo completo na agricultu-
28% 72% > 0 a < 50%
ra (Fig. 1).
50 a < 100%
Na maioria das situações, a agricul- Tempo completo

tura surge como segunda atividade, Fonte: Recenseamento Agrícola, INE, 2009

em acumulação com um emprego FIG. 1 Produtores agrícolas e familiares segundo o tempo de atividade na exploração, em
Portugal, em 2009.
noutros setores, como a indústria, a
construção civil, o comércio, o
turismo, o artesanato e os serviços Produtor agrícola Família do produtor
públicos locais (Fig. 2).
9,4%
Surge, assim, a pluriatividade – tra- 17,2%

balho na agricultura e noutras ativi-


53,8% 58,4% 32,3%
dades – como uma característica 29,0%
importante da população agrícola Setor primário

portuguesa. As famílias tornam-se Setor secundário


Setor terciário
multifuncionais, o que lhes permite
Fonte: INE, 2014
aumentar os rendimentos e melho-
FIG. 2 Produtores agrícolas e familiares segundo o setor de atividade fora da exploração
rar a qualidade de vida. agrícola, em Portugal, em 2013.

O plurirrendimento, isto é, a acumulação dos rendimentos provenientes da agricultura com os que pro-
vêm de outras atividades, pode, assim, tornar-se num fator de desenvolvimento rural (Fig. 3).

1999 2009

8% 5,8%
10,6%
22%

69%
83,6%
Exclusivamente da expl. agrícola
Principalmente da expl. agrícola
Principalmente de outras origens

Fonte: INE, 2014

FIG. 3 Evolução da origem do rendimento do agregado familiar do produtor (1999 a 2009).

VERIFIQUE SE SABE
¸ Caracterizar a produção agrícola nacional: evolução, principais produtos e sua distribuição regional.
¸ Enumerar as principais características da população agrícola e seus efeitos na atividade.
¸ Explicar a importância da pluriatividade e do plurirrendimento para a população agrícola e para as áreas rurais.
PROBLEMAS ESTRUTURAIS DA AGRICULTURA PORTUGUESA

CARACTERÍSTICAS DAS EXPLORAÇÕES E DA POPULAÇÃO AGRÍCOLA


Com a adesão à União Europeia, a agricultura portuguesa beneficiou de vários apoios que ajudaram a
modernizar as explorações e a melhorar a organização da atividade. Porém, persistem problemas que se
associam, sobretudo, à estrutura das explorações e às características da população agrícola e que difi-
cultam aspetos técnicos, organizativos e de inserção nos mercados.

¸ Predomínio de explorações agrícolas de ¸ Dificuldade na moderniza-


pequena dimensão. ção das formas de produção
Explorações
¸ Grande desigualdade a nível regional.
e na organização e coorde-
nação a nível nacional.

¸ Envelhecimento dos produtores. ¸ Dificuldade em inovar e


¸ Baixos níveis de instrução. modernizar as explorações,
População agrícola ¸ Formação profissional insuficiente. ao nível da gestão, da produ-
¸ Fraca densidade populacional nos meios
ção e da comercialização.
rurais. ¸ Baixa adesão ao uso das TIC.

¸ Dificuldades de autofinanciamento e aces- ¸ Dificuldade em competir


so ao crédito. nos mercados europeu e
¸ Imagem dos produtos agrícolas portugue-
mundial.
ses pouco desenvolvida nos mercados ¸ Dificuldade em manter a
externos. viabilidade económica de
Outros aspetos
¸ Fraca ligação da produção agrícola e flores-
muitas explorações.
tal à indústria. ¸ Fraca sustentabilidade so-
¸ Abandono dos espaços rurais.
cial e económica das áreas
rurais.
¸ Risco de desertificação.

DEPENDÊNCIA EXTERNA
A balança alimentar portuguesa continua a ser deficitária em grande parte dos produtos. Isto deve-se
a uma produção insuficiente para satisfazer as necessidades de consumo interno, mas também a
outros fatores, como a livre circulação de mercadorias na União Europeia, a procura de diversidade de
produtos, a facilidade de transporte e o marketing. Em 2013, o único saldo positivo registou-se nos pro-
dutos hortícolas (Quadro I).

Quadro I Balança alimentar portuguesa em 2013


Produção Importações Exportações Saldo
Produtos
(103 t) (103 t) (103 t) (103 t)
Cereais e arroz 1229 4092 408 - 3684
Raízes e tubérculos 464 602 97 - 505
Produtos hortícolas 2542 450 1598 1148
Frutos, incluindo azeitona 1311 757 494 - 263
Carne e miudezas comes-
776 311 109 - 202
tíveis
Fonte: Estatísticas Agrícolas 2013, INE, 2014
ç

NÍVEIS DE RENDIMENTO
Os problemas estruturais da agricultura portuguesa refletem-se
Rendimento dos fatores:
nos níveis de rendimento e de produtividade, que ainda são mais bai- indicador económico que permite
xos do que a média comunitária, sobretudo da União Europeia a 15. medir a remuneração de todos os
fatores de produção e é calculado
Para avaliar os níveis de rendimento da agricultura são, habitual- subtraindo, ao VAB líquido a preços
de base, os impostos sobre a pro-
mente, utilizados indicadores definidos a nível comunitário, dos dução e somando os subsídios à
quais se destacam o rendimento dos fatores, que influencia o produção.
Rendimento empresarial líquido
Rendimento Empresarial Líquido (REL), cuja evolução tem sido posi- da agricultura:
tiva (Fig. 1). saldo contabilístico obtido adicio-
nando ao excedente líquido de
exploração os juros recebidos
pelas unidades agrícolas constituí-
Euros (milhões) %
das em sociedade e deduzindo as
2400 100 rendas (isto é, rendas de terrenos
2100 e parcerias) e os juros pagos. Mede
a remuneração do trabalho não
1800 80
assalariado, das terras pertencen-
1500 tes às unidades e do capital.
1200 60 Fonte: INE, 2013

900
600 40
300
0 0
2013
1984

1994

2004
1980
1982

1986
1988
1990

1992

1996
1998

2000

2002

2006
2008
2010
2012

FIG. 1 Evolução do REL da agricultura portu-


Rendimento Empresarial Líquido (REL) Percentagem de subsídios no REL guesa e da parte que é constituída por sub-
Fonte: Contas Económicas da Agricultura (1980-2013), INE, 2014 sídios.

O rendimento agrícola, entendido como relação entre a produção e a superfície cultivada, também
influencia o rendimento empresarial, uma vez que, quanto maior for a quantidade produzida por unidade
de superfície, maior será o valor da produção e, como tal, o rendimento empresarial.
Os subsídios são uma parte importante no Rendimento Empresarial Líquido, o que significa que sem
eles, provavelmente, a agricultura portuguesa teria progredido menos.
Em 2009, os produtos que mais beneficiaram dos subsídios foram os bovinos. No entanto, os subsídios à
produção têm maior peso no total e destinam-se, sobretudo, ao domínio tecnológico e à promoção do
desenvolvimento rural (Fig. 2).
Euros (milhões) Euros (milhões)
900 1200
800
1000
700
600 800
500
600
400
300 400
200
200
100
0 0
1982

1985

1992

1995
1996

2002
1980

1983

1986

1988

1990

1993

1998

2000

2003

2006

2008
1989

1999

2009
1981

1991

2001
1987

1997

2007
1984

1994

2004
2005

Subsídios aos produtos Outros subsídios à produção Total


Fonte: Contas Económicas da Agricultura 2008, INE, 2009 e Recenseamento Geral da Agricultura – 2009, INE, 2013
FIG. 2 Evolução dos subsídios à agricultura portuguesa.
NÍVEIS DE PRODUTIVIDADE
Produtividade:
A produtividade está diretamente relacionada com a mão de obra, mas relação entre a quantidade pro-
depende também de fatores como as tecnologias utilizadas, a formação duzida e a mão de obra utilizada
ou o valor da produção e a mão
profissional e o grau de mecanização e organização. de obra utilizada.
Em termos estatísticos, a pro-
Nos últimos decénios, verificou-se um crescimento significativo da pro- dutividade agrícola é medida
dutividade da agricultura portuguesa (Fig. 1). dividindo o Valor Acrescentado
Bruto (VAB) pelo volume de mão
de obra agricola (VAB/UTA).
Fonte: INE, 2013

Produtividade (Euros/UTA) Volume de mão de obra (1000 UTA)


13 000 1300
12 000 1200
11 000 1100
10 000 1000
9000 900
8000 800
7000 700
6000 600
5000 500
4000 400
3000 300
2000 200
1000 100
1980

1990

2000

0 81 82 83 84 85 86 87 88 89 91 92 93 94 95 96 97 98 99 01 02 03 04 05 06 07 0
FIG. 1 Evolução da produtividade
Produtividade (VAB/Volume de mão de obra) agrícola em Portugal (VAB a pre-
Volume de mão de obra Fonte: Contas Económicas da Agricultura – 2008, INE, 2007 ços constantes de 2000, por UTA).

O aumento da produtividade deve-se, principalmente, à redução do volume de mão de obra que, por sua
vez, reflete as mudanças da agricultura portuguesa, nomeadamente no que respeita à mecanização.
Apesar da evolução positiva dos níveis de rendimento e de produtividade da agricultura portuguesa,
estes continuam a ser inferiores à média comunitária. Para esta situação, contribuem fatores como:
• condições meteorológicas irregulares e, muitas vezes, desfavoráveis;
• características da população agrícola: envelhecida e com baixos níveis de instrução e de formação
profissional;
• utilização ainda muito significativa de técnicas tradicionais;
• uso deficiente de adubos e pesticidas;
• predomínio de explorações de pequena dimensão;
• desajustamento frequente das culturas à aptidão dos solos;
• elevados custos de produção, incluindo custos de combustíveis e impostos superiores aos da maio-
ria dos países da União Europeia;
• pesados encargos do crédito a que os agricultores têm de se sujeitar para modernizar as suas
explorações.
Tudo isto dificulta a competitividade da agricultura portuguesa face aos parceiros comunitários e a
outros países do mundo que começam a colocar no mercado produtos a preços mais baixos, consegui-
dos pelo baixo preço da mão de obra e dos restantes custos de produção. É o caso do mercado de vinhos,
em que países como o Chile, o Brasil e a África do Sul estão a conseguir impor-se, embora com vinhos de
menor qualidade do que os nossos, mas a preços mais baixos.
A agricultura portuguesa poderá aumentar os níveis de rendimento e de produtividade se acelerar o seu
ajustamento estrutural aos níveis comunitários e apostar no desenvolvimento de uma agricultura
moderna e orientada para o mercado, aproveitando todas as nossas potencialidades específicas.
ç

A UTILIZAÇÃO DO SOLO
Uma prática agrícola sustentável e centrada na qualidade deve ter em conta a necessidade de adequar
as práticas agrícolas às exigências ambientais, nomeadamente no que se refere à utilização do solo.
Apesar de se terem vindo a verificar alterações significativas nos usos do solo, em Portugal, ainda per-
sistem práticas pouco adequadas que é necessário mudar.

¸ Mais de metade dos solos têm uma boa aptidão para floresta e apenas cerca de um quarto são
Aptidão dos solos

aptos para a agricultura. Porém, a área ocupada com atividade agrícola é maior do que a dos
solos com aptidão para esse fim, acrescendo o facto de haver solos com boa aptidão agrícola
que têm outros usos. Ou seja, muitas explorações agrícolas utilizam solos pouco adequados.
¸ Raramente se procede a estudos dos solos, de modo a permitir uma boa adequação entre as
culturas e as características dos solos.

¸ A monocultura consecutiva do mesmo produto pode levar ao empobrecimento e esgotamento


de certos nutrientes do solo.
¸ A excessiva utilização de máquinas pesadas contribui também para a compactação dos solos.
¸ A utilização do pousio absoluto, sem recursos às culturas forrageiras ou às pastagens artifi-
ciais, facilita a erosão dos solos.
¸ A utilização excessiva ou incorreta de Consumo aparente de fertilizantes
fertilizantes químicos, pesticidas, herbi- inorgânicos na agricultura
Práticas desadequadas

Kt
cidas e fungicidas degrada e polui os
120 000
solos, diminuindo a sua fertilidade, pro-
vocando também a perda de biodiversi- 100 000
dade, tanto ao nível da fauna como da 80 000
flora, e pode ainda ser prejudicial para a 60 000
saúde humana, pondo em risco a segu-
40 000
rança alimentar.
¸ O cultivo das terras segundo o declive é
20 000
0
outra prática que pode colocar em causa 2009 2010 2011
a sustentabilidade da agricultura, pois
Azoto Fósforo Potássio
facilita o desgaste e transporte de solo
Fonte: Estatísticas Agrícolas – 2012, INE, 2013
arável pelos agentes erosivos, que são
ajudados pela força da gravidade e, em
situações meteorológicas mais graves,
como chuvas torrenciais, os solos são
mais facilmente arrastados.

Conclui-se que, apesar dos progressos verificados na agricultura portuguesa, continuam a persistir algu-
mas práticas que, além de fazerem diminuir o rendimento da terra e dos agricultores e de contribuírem
para os baixos níveis de produtividade da agricultura portuguesa, condicionam a sua sustentabilidade.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Indicar os principais problemas do setor agrícola associados às características das explorações e da população agrí-
cola e a outros aspetos que dificultam a atividade.
¸ Caracterizar a balança alimentar portuguesa, indicando as principais razões que explicam o seu défice.
¸ Descrever a evolução dos níveis de rendimento e de produtividade, indicando, por um lado, as razões do seu aumento
e, por outro, os efeitos de serem ainda inferiores aos da União Europeia.
¸ Indicar os principais problemas no uso do solo e as suas consequências para a atividade.
A AGRICULTURA PORTUGUESA E A POLÍTICA AGRÍCOLA COMUM

A evolução recente da agricultura portuguesa, nos seus aspetos positi-


PAC:
vos, mas também naqueles que a condicionaram, foi influenciada pela conjunto de diretivas, normas
Política Agrícola Comum (PAC), a primeira política comunitária, insti- e apoios definidos para o setor
agrícola e rural, para toda a
tuída no Tratado de Roma. Comunidade.

O INÍCIO

¸ Aumentar a produtividade da agricultura, fomentando o pro- Pretendiam dar resposta


gresso técnico, assegurando o desenvolvimento racional da pro- à situação da agricultura
(Tratado de Roma)
Objetivos da PAC

dução agrícola e a utilização óptima dos fatores de produção, europeia, que era pouco
nomeadamente da mão de obra. desenvolvida, tinha uma
¸ Assegurar, deste modo, um nível de vida equitativo à população fraca produtividade e não
agrícola, designadamente pelo aumento do rendimento indivi- garantia o abastecimen-
dual dos que trabalham na agricultura. to interno. Além disso, a
¸ Estabilizar os mercados relativamente aos preços dos produtos e população agrícola tinha
à sua manutenção. um nível de rendimento
¸ Garantir a segurança dos abastecimentos. muito inferior ao da po-
¸ Assegurar preços razoáveis nos fornecimentos aos consumidores. pulação urbana.

Para alcançar estes objetivos, foi necessário atribuir apoios financeiros que ganharam uma grande
importância no orçamento comunitário, o que não admira, pois a agricultura constituiu a primeira prio-
ridade na construção do mercado comum, logo na fundação da CEE. A prossecução destes objetivos
assentou em três princípios fundamentais – os chamados pilares da PAC.

Unicidade Estabelecer, para cada produto agrícola, uma organização comum de mer-
de mercado cado – OCM – através da definição de regras de concorrência e de preços
institucionais.
Pilares da PAC

Preferência Evitar a concorrência de produtos estrangeiros, através da definição de:


comunitária • um preço mínimo para as importações;
• subsídios para as exportações.

Solidariedade Criação de um Fundo Comunitário, o FEOGA – Fundo Europeu de Orientação


financeira e Garantia Agrícola –, para financiamento das medidas da PAC, o que permi-
tia um apoio financeiro à agricultura.

O FEOGA subdividia-se em:

FEOGA Garantia FEOGA Orientação


Verbas destinadas ao financiamento Verbas destinadas ao financia-
de programas e projetos de melho- mento das despesas de regulação
ramento das estruturas agrícolas dos preços e dos mercados (apoio
(redimensionamento das explora- direto aos agricultores, despesas
ções, construção de infraestruturas de armazenamento, subsídios às
agrícolas, etc.). exportações, etc.).

Em 2005, o FEOGA foi substituído por um novo fundo de financiamento, o FEAGA – Fundo Europeu Agrícola
de Garantia –, de que mais à frente se falará.
ç

EFEITOS DA APLICAÇÃO DA PAC

... Positivos ... Negativos

¸ A aplicação das medidas da PAC, apoiadas ¸ No entanto, os avanços conseguidos na agricultura


num financiamento generoso, que che- comunitária fizeram surgir alguns problemas:
gou a constituir mais de metade do orça- • o financiamento da PAC, por absorver grande parte do
mento comunitário, teve como principal orçamento comunitário, comprometia a implementa-
efeito um grande desenvolvimento da ção de políticas de desenvolvimento de outros setores;
agricultura europeia, evidenciado por: • o aumento da produção foi excessivo e, a partir de certa
• um grande crescimento da produção, altura, deixou de ter escoamento nos mercados, o que
que passou para o triplo, devido à intro- acarretou custos de armazenamento muito elevados;
dução de novos métodos produtivos e à • a oferta tornou-se maior do que a procura, levando a um
utilização de fertilizantes artificiais; desequilíbrio entre a produção e as necessidades do
• uma redução da superfície e da mão de mercado, o que fazia baixar os preços e aumentar o
obra utilizada, devido sobretudo à meca- financiamento dos preços mínimos garantidos;
nização; • a utilização de numerosos produtos químicos criou gra-
• um aumento da produtividade agrícola e ves problemas ambientais;
do rendimento dos agricultores, princi- • devido às medidas protecionistas, de incentivos à expor-
palmente pela introdução de novas tec- tação, gerou-se uma tensão entre os principais exporta-
nologias e de práticas de investigação dores mundiais, o que dificultava a fluidez dos mer-
científica. cados.

AS PRIMEIRAS ALTERAÇÕES – ANOS 80


Os problemas surgidos da aplicação da PAC punham em risco a continuação do desenvolvimento da agri-
cultura e a estabilidade económica e social dos agricultores, tornando-se necessário proceder a altera-
ções. As primeiras surgiram nos anos 80, com vista a limitar a produção, sobretudo nos setores mais
excedentários.

¸ Criação de um sistema de quotas, que estabeleceu um limite de produção para cada país e
1984 penalizações em caso de superação, aplicado ao setor do leite.
¸ Alargamento do sistema de quotas a outros setores.

¸ Retirada, inicialmente voluntária e, depois, obrigatória de terras da produção, que afetou


sobretudo os cereais e as explorações com maior produção. Foi o chamado set-aside.
¸ Criação de incentivos à cessação da atividade agrícola e à reforma antecipada dos agricul-
tores.
¸ Limitação da superfície de cultivo/número de animais para os quais o agricultor tem direito
1988
a subsídios.
¸ Reconversão dos produtos excedentários, baseada na concessão de prémios aos produto-
res que se comprometessem a reduzir a produção.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Enunciar os objetivos da PAC, relacionando-os com a situação do setor, na época do Tratado de Roma.
¸ Explicar os resultados da aplicação da PAC e os seus efeitos perversos.
¸ Indicar as alterações à PAC introduzidas nos anos 80 e seu principal objetivo.
A PRIMEIRA REFORMA – 1992
As alterações dos anos 80 não resolveram completamente o problemas dos excedentes nem tentaram
resolver os problemas ambientais. Por isso, surgiu a necessidade de se proceder a uma verdadeira
reforma da PAC, que foi levada a cabo em 1992, tendo entrado em vigor no ano seguinte. Os principais
objetivos foram:
• reequilibrar a oferta e a procura, adequando a produção às necessidades do mercado e incentivando
a qualidade;
• promover o respeito pelo ambiente e a sua preservação, desencorajando a produção intensiva.

¸ Redução dos preços agrícolas garantidos.


¸ Atribuição de ajudas diretas aos produtores independentemente das
Medidas adotadas pela reforma de 1992

quantidades produzidas.
Para reequilibrar ¸ Promoção do pousio temporário.
¸ Incentivos às reformas antecipadas para os agricultores mais velhos.
a oferta

¸ Orientação da produção para novas produções industriais ou energéti-


e a procura

cas.
¸ Incentivos à pluriatividade da população agrícola.

¸ Melhorar os sistemas de produção, de modo a torná-los mais amigos do


ambiente, nomeadamente, através do incentivo:
Para respeitar • ao modo de produção biológico, que utiliza tecnologia moderna e recor-
e preservar re à investigação e apoio científico excluindo, porém, maquinaria pesa-
o ambiente da e fertilizantes químicos, pesticidas, herbicidas e fungicidas;
• ao desenvolvimento da silvicultura.

Com esta reforma, foi assumida pela PAC uma nova preocupação ambiental e também social que se
inseriu no que foi designado como novo pilar da PAC – o desenvolvimento rural, evidenciado em medidas
como o incentivo à pluriatividade, nomeadamente através de apoios à silvicultura e a serviços de vigi-
lância e proteção do ambiente.
Outra vertente das medidas da PAC aplicadas nos anos 90 foi a redução da diferença entre os preços pra-
ticados na União Europeia e os preços a nível mundial, incluindo o Acordo de 1995 celebrado no âmbito da
OMC (Organização Mundial do Comércio), que reduziu a prática dos subsídios à exportação (ou seja, a
compensação dos exportadores pela expor-
Milhares de toneladas
tação de produtos a preços do mercado
35 000
mundial, inferiores aos comunitários). 30 000

A reforma de 1992 teve alguns resultados 25 000


20 000 Milho
positivos, nomeadamente a nível da redu- Trigo duro
15 000
ção dos excedentes (Fig. 1). Centeio
10 000
Cevada
Contudo, mantiveram-se problemas de 5000
Trigo
fundo, como a ineficiência na aplicação dos 0
68/69

78/79

88/89

98/99
70/71

80/81

90/91

00/01
76/77

86/87

96/97
74/75

84/85

94/95

04/05
72/73

82/83

92/93

02/03

apoios, a intensificação dos problemas


ambientais e o acentuar das diferenças de Fonte: Política Agrícola Comum Explicada, CE, 2008
rendimento entre agricultores. FIG. 1 Evolução da armazenagem pública de cereais, na UE.
ç

A AGENDA 2000
Em 1999, na perspetiva do alargamento da União Europeia a 12 novos
Agenda 2000:
Estados-membros e no âmbito da Agenda 2000, foi feita nova reforma documento sobre o conjunto
que reforçou os objetivos da reforma de 1992, ampliando as medidas de questões que se colocam à
UE, no âmbito do alargamento
relativas ao desenvolvimento rural e valorizando mais as vertentes da e das políticas comuns.
segurança alimentar, do bem-estar animal, da preservação ambiental e
da promoção de uma agricultura sustentável (Doc. 1).

DOC. 1 UMA NOVA PERSPETIVA

Esta mudança de perspetiva, que produziu efeitos em 1999 (reforma «Agenda 2000») e promoveu a competitividade da
agricultura europeia, introduziu também um novo elemento da maior importância: uma política de desenvolvimento rural,
que encorajava diversas iniciativas rurais e, ao mesmo tempo, ajudava os agricultores a reestruturar as empresas, a diver-
sificar as atividades e a melhorar a comercialização dos produtos. Foi imposto um limite máximo ao orçamento para garan-
tir aos contribuintes que os custos da PAC não assumiriam proporções descontroladas.
Política Agrícola Comum Explicada, Comissão Europeia, 2008

A reforma de 1999 mantém os principais objetivos da PAC, ou seja, assegurar um nível de vida equitati-
vo à população agrícola, garantindo a estabilidade dos rendimentos, e manter a estabilidade dos merca-
dos, nomeadamente no que respeita ao equilíbrio entre a oferta e a procura. Além disso, e de acordo com
as novas exigências, aprofunda outros objetivos.

¸ Melhorar a competitividade da agricultura europeia nos mercados interno e externo.


¸ Garantir a segurança e a qualidade dos produtos agrícolas.
Agenda 2000

¸ Salvaguardar o bem-estar animal.


¸ Integrar os objetivos da Política Ambiental na PAC.
¸ Valorizar o papel dos agricultores na gestão dos recursos naturais e na preservação da paisagem.
¸ Incentivar a criação de fontes de rendimento e oportunidades de emprego complementares ou
alternativas, para os agricultores e suas famílias, quer na exploração, quer fora dela.

Valorização da agricultura nas suas diferentes vertentes

Económica Ordenamento Social Ambiental


Papel tradicional de do território Por ser a principal ati- Tem uma função fun-
produção, dando a sua Ocupa grande parte do vidade e forma de so- damental na prote-
contribuição para o território e, por isso, é brevivência de muitas ção da biodiversida-
crescimento econó- a matriz de enquadra- comunidades rurais. de e na salvaguarda
mico nacional. mento dos restantes dos espaços e da pai-
usos do solo. sagem.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Indicar as principais alterações introduzidas na PAC, nos anos 80.
¸ Enunciar os objetivos e principais medidas da reforma da PAC de 1992.
¸ Enunciar os objetivos e principais medidas da reforma da PAC de 1999 – Agenda 2000.
REFORMA DA PAC – 2003
Apesar das suas potencialidades, as medidas implementadas em 1999 não foram suficientes para resol-
ver problemas como a falta de competitividade no mercado mundial, a desigualdade na repartição dos
apoios entre os produtores e entre regiões e a pressão ambiental resultante dos sistemas intensivos,
ainda muito associados à produção. Ao mesmo tempo, surgiram novos contextos a que a PAC teve de dar
resposta:
• as perspetivas de expansão do mercado agrícola mundial criaram a necessidade de aumentar a
competitividade da agricultura europeia;
• a necessidade de defesa da PAC nas negociações internacionais, no quadro da Organização Mundial
de Comércio (OMC);
• o alargamento da União Europeia, a novos Estados em que o setor agrícola tem ainda grande impor-
tância e que terá de se adaptar às normas e orientações comunitárias.
Neste contexto, surge uma nova reforma da PAC, em 2003, que aprofunda as metas da Agenda 2000 e
reforça a política de desenvolvimento rural. É mais orientada para os consumidores, dando maior liber-
dade aos agricultores e maior flexibilidade aos Estados-membros.

¸ Orientação para a procura – a PAC passa a ter em conta os interesses dos consumidores e dos
contribuintes e, simultaneamente, confere aos agricultores da União Europeia a liberdade de pro-
Reforma de 2003

duzirem o que o mercado pretende.


¸ Pagamento único por exploração – grande parte da ajuda atribuída aos agricultores não é paga
em função das quantidades produzidas. Ao abrigo do novo sistema, os agricultores ainda conti-
nuam a receber apoio direto ao rendimento, com vista a manter a estabilidade das receitas, mas
a relação direta com a produção foi eliminada.
¸ Princípio da condicionalidade – os agricultores terão de:
• respeitar as normas em matéria de ambiente, segurança alimentar, fitossanidade e bem-estar
dos animais, ou ficarão sujeitos a reduções nos pagamentos diretos;
• manter todas as superfícies agrícolas em boas condições agronómicas e ambientais.

REFORMA DA PAC – 2013


A reforma de 2013 veio ajustar e reforçar os objetivos anteriores, em particular os ambientais, introduzin-
do outro, transversal, a simplificação, para facilitar o acesso dos pequenos agricultores aos fundos
comunitários. Assim, os principais objetivos, em 2013, são:
• promoção de uma agricultura mais ecológica;
• distribuição mais justa dos fundos entre os agricultores de toda a União Europeia;
• aumento da competitividade dos agricultores europeus perante países terceiros;
• simplificação dos instrumentos e mecanismos de pagamento e controlo da política agrícola.

DESAFIOS Económicos: garantir a segurança alimentar e a estabilidade dos preços.

Territoriais: promover a vitalidade das áreas rurais e a diversidade da agricultura.

Ambientais: diminuir a emissão de gases com efeito de estufa, promover a preservação dos solos, a quali-
dade da água e a biodiversidade e equilíbrio dos habitats naturais.
ç

A INTEGRAÇÃO DA AGRICULTURA PORTUGUESA


No período anterior à adesão do nosso país à União Europeia, a agricultura portuguesa caracterizava-se
por um grande atraso em relação aos países comunitários. A sua contribuição para o PIB era de 17% e para
o emprego situava-se nos 30%, o que denota o fraco grau de modernização da agricultura. Além disso, os
níveis de produtividade e rendimento eram muito inferiores aos dos restantes países da Comunidade, as
infraestruturas agrícolas eram insuficientes e as características das estruturas fundiárias dificultavam o
desenvolvimento do setor. Estas fragilidades da agricultura portuguesa foram reconhecidas no Programa
de Pré-adesão e no Tratado de Adesão, o que permitiu uma integração em duas fases:

1.a Fase de integração – até 1990 2.a Fase de integração – de 1990 a 1999

Até 1990, para facilitar a adaptação, Portugal não Deveria terminar em 1995, mas vigorou até 1999.
esteve sujeito às regras de mercado da PAC, tendo Neste período, deu-se a concretização do Mercado
beneficiado de incentivos financeiros do PEDAP – Único (1993) que expôs o setor agrícola português
Programa Específico de Desenvolvimento da à concorrência externa antes da sua total adapta-
Agricultura Portuguesa –, cujo principal objetivo ção. Decorreu também a reforma da PAC de 1992, o
era corrigir as deficiências estruturais da agricul- que contribuiu para tornar o processo de integra-
tura portuguesa e melhorar as condições de pro- ção mais difícil, devido às limitações impostas à
dução e comercialização dos produtos. produção.

AS MAIORES DIFICULDADES
Apesar dos programas de apoio à adaptação da agricultura portuguesa, a concretização do mercado
único e as alterações da PAC vieram colocar dificuldades acrescidas:
• a aplicação do sistema de quotas fez a agricultura portuguesa sofrer as consequências de uma pro-
dução excedentária para a qual não havia contribuído, impedindo o seu crescimento;
• o sistema de repartição dos apoios, em função do rendimento médio e da área de exploração, era
desfavorável a Portugal, devido ao predomínio das explorações de pequena dimensão;
• os investimentos nos projetos cofinanciados por fundos comunitários levaram ao endividamento
dos agricultores.

OS BENEFÍCIOS
Os progressos verificados na agricultura portuguesa foram, em grande
Quadro Comunitário de Apoio:
parte, resultado da integração na União Europeia e na PAC. Assim: documento onde são defini-
• no final do Segundo Quadro Comunitário de Apoio – QCA II (1994- dos, para um período de sete
anos, os eixos prioritários de
-1999), o número de explorações agrícolas tinha diminuído para ação, os programas operacio-
quase 40%, a dimensão média das explorações aumentou de 6,3 para nais e o montante das inter-
venções atribuídas pela UE,
9,3 ha e o investimento em infraestruturas fundiárias, tecnologias e nas diferentes políticas, in-
formação profissional aumentou com os apoios comunitários; cluindo a agrícola.
Desde o período de 2007-2013,
• no âmbito da reforma da PAC e da Agenda 2000, Portugal beneficiou passou a designar-se Quadro
ainda do aumento da quota para o trigo duro e para a área irrigada de Referência Estratégica Na-
cional (QREN).
dos cereais e do aumento dos limites dos prémios na pecuária.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Indicar as principais alterações introduzidas na PAC, com a reforma de 2003.
¸ Enunciar as dificuldades e os benefícios da integração da agricultura portuguesa na PAC.
POTENCIALIZAR O SETOR AGRÍCOLA UTILIZANDO OS APOIOS COMUNITÁRIOS
Mais recentemente, a modernização do setor agrícola português tem continuado ainda com apoios
comunitários significativos, geralmente disponibilizados através de programas, medidas e projetos
direcionados para determinadas áreas concretas do setor.

O Programa Operacional Agricultura e Desenvolvimento Rural –


¸Integram medidas que
Programa AGRO

AGRO – disponibilizou apoios para a modernização do setor agríco-


la e para a sua adaptação às novas realidades de um mercado glo- permitem às empresas
bal, canalizados em dois eixos prioritários estratégicos: agroflorestais candida-
• Eixo 1: Melhorar a competitividade agroflorestal e a sustentabili- tar-se a apoios que se
dade rural. destinam:
• Eixo 2: Reforçar o potencial humano e os serviços à agricultura e • à modernização das ex-
áreas rurais. plorações agrícolas;
• à transformação e co-
mercialização;
Medida AGRIS

A Medida Agricultura e Desenvolvimento Rural dos Programas • à valorização das flo-


Operacionais Regionais – AGRIS – engloba um conjunto de apoios à restas ou à formação
conjugação da agricultura, enquanto atividade produtiva, e o profissional;
desenvolvimento sustentável dos territórios rurais, nas vertentes • a outras áreas.
ambiental, económica e social.

Parte destes recursos financeiros provém dos Fundos Estruturais: o FEDER – Fundo Europeu de
Desenvolvimento Económico Regional e o FSE – Fundo Social Europeu. Em 2005, foram criados, em subs-
tituição do FEOGA, dois novos fundos de financiamento da PAC.

Fundo Europeu Agrícola de Garantia, que financia:


• as restituições fixadas para a exportação de produtos agrícolas para países terceiros;
FEAGA • as intervenções destinadas à regularização dos mercados agrícolas;
• os pagamentos diretos aos agricultores;
• as ações de informação e de promoção dos produtos agrícolas nos Estados-membros;
• as despesas ligadas às medidas de reestruturação da indústria açucareira.

Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural, que contribuirá para a realização de três obje-
FEADER tivos, correspondentes aos três eixos prioritários definidos na política comunitária de desenvol-
vimento rural, incluindo os projetos do tipo «LEADER».

As verbas destinadas ao desenvolvimento rural, em Portugal, serão aplicadas de acordo com as priorida-
des do Plano Estratégico Nacional para o Desenvolvimento Rural 2007-2013, em quatro eixos prioritários:
• Eixo 1: Aumento da competitividade dos setores agrícola e florestal.
• Eixo 2: Melhoria do ambiente e da paisagem rural.
• Eixo 3: Qualidade de vida nas áreas rurais.
• Eixo 4: Programas tipo LEADER

VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicar a influência dos programas comunitários de apoio ao setor agrícola, na agricultura portuguesa.
¸ Indicar os fundos que financiam esses programas.
ç

MELHORAR A CAPACIDADE DE COMPETIR NOS MERCADOS


Para aumentar a competitividade no mercado externo é necessário melhorar os processos de produção
e a produtividade, de modo a obter produtos de qualidade a preços competitivos. Outra forma de
aumentar a competitividade é melhorando a organização e gestão das empresas agrícolas. Tudo isto
implica investimento em tecnologia produtiva (máquinas, material de transporte, sistemas de rega e de
controlo da temperatura, humidade ou dosagem de rações /fertilizantes, etc.) e em infraestruturas,
designadamente sistemas de drenagem, caminhos, armazenamento e distribuição de água, etc.

REDIMENSIONANDO AS EXPLORAÇÕES
Na maioria das regiões agrárias, a DOC. 1 APOIO AO EMPARCELAMENTO RURAL
pequena dimensão das explorações Ações da Medida AGRIS do QCA III
dificulta a modernização, em todos os Subação 5.3 – Emparcelamento Rural
aspetos acima referidos. Investimentos a apoiar:
• operações de emparcelamento integral em zonas de grande potencial
Uma das formas de aumentar a agrícola e com uma deficiente estrutura fundiária, em termos de frag-
dimensão das explorações é o empar- mentação e dispersão da propriedade ou da exploração;
celamento – agrupamento de parcelas • operações de emparcelamento integral, em zonas de grande potencial
ao nível da propriedade, do direito de agrícola e em que se verifique um acentuado conflito entre usos agríco-
uso, ou do cultivo, que permitirá las e não agrícolas do solo;
melhorar a organização da produção e • operações de emparcelamento de exploração, com ou sem redimensio-
namento da exploração, associados ou não a processos de reconversão
a rendibilidade dos fatores de produ-
tecnológica, e visando a melhoria das condições de produção no conjun-
ção. Neste domínio, a evolução foi to da exploração ou em alguma das suas vertentes produtivas, em zonas
positiva, com o aumento da dimensão onde a deficiente estrutura da exploração possa ser limitativa destas
média das explorações. A PAC também alterações.
prevê o apoio a ações de emparcela- Adaptado de Agroportal, agosto de 2009
mento (Doc. 1).

MELHORANDO A PRODUÇÃO E APOSTANDO NA QUALIDADE


A produção terá de responder às necessidades de mercado, respeitando as preferências dos consumi-
dores, explorando vantagens e complementaridades, apresentando novos produtos ou revalorizando
produtos tradicionais, em particular os que melhor se adequam às condições naturais ou constituam
alternativa a outros cujo mercado está saturado. Assim, produzir com qualidade e apostar em produtos
que podem ser certificados e produzi-los de acordo com as respetivas normas de qualidade é uma forma
de ganhar competitividade (Doc. 2).

DOC. 2 PRODUTOS ESPECIAIS

A natureza e a qualidade excecional de alguns produtos devem-se não só ao local de produção mas também aos métodos
utilizados. Os consumidores e o comércio de produtos alimentares interessam-se cada vez mais pela origem geográfica dos pro-
dutos alimentares, assim como por outras características. A UE, que reconhece esse facto, criou três «logótipos de qualidade».
Um produto rotulado com o logótipo DOP – Denominação de Origem Protegida – deve possuir características comprovadas que
resultam exclusivamente da qualidade das terras e das competências dos produtores da região de produção à qual está associado.
Um produto rotulado com o logótipo IGP – Indicação Geográfica Protegida – possui uma característica ou reputação
específicas que o associam a determinada zona onde é realizada pelo menos uma fase do processo de produção.
O logótipo ETG – Especialidade Tradicional Garantida – utiliza-se para produtos com características peculiares, que pos-
suem ingredientes tradicionais ou foram produzidos segundo métodos tradicionais.
Política Agrícola Comum Explicada, Comissão Europeia, 2008
MELHORAR O ESCOAMENTO DOS PRODUTOS
Um dos pontos fracos da nossa agricultura é a dificuldade no escoamento da produção. Por isso, é
necessário melhorar a organização dos produtores e das redes de distribuição e comercialização.
O associativismo, ou seja, a organização dos produtores em cooperativas, associações ou por outras for-
mas, desempenha um papel muito importante, pois permite:
• facilitar o armazenamento e preparação dos produtos para a sua colocação em boas condições no
mercado;
• defender melhor os interesses dos produtores e evitar a atuação abusiva dos intermediários;
• aumentar a informação sobre os mercados e a capacidade de negociação nos mercados;
• melhorar a promoção dos produtos, através do marketing;
• facilitar o acesso ao crédito e a aquisição de tecnologia;
• proporcionar informação sobre novas técnicas e práticas de produção e sobre a possibilidade de
aceder a projetos e programas de apoios financeiros.
A utilização do marketing e das novas formas de distribuição, nomeadamente a Internet, são outras
medidas que poderão promover o consumo dos produtos, tanto no território nacional como fora dele.

VALORIZAR OS RECURSOS HUMANOS


Um dos problemas do setor está associado às características da população agrícola, pelo que o rejuve-
nescimento da população agrícola e o aumento do seu nível de instrução e qualificação profissional são
fundamentais, pois o uso de novas tecnologias, a necessidade de preencher formulários de candidatura
às ajudas, crédito e subsídios e de apresentar projetos para obter financiamentos ou as negociações
com parceiros comerciais exigem cada vez melhor preparação.

Medidas que poderão favorecer Medidas que poderão elevar o nível


o rejuvenescimento da população agrícola de instrução e de qualificação dos agricultores

¸ Criação de condições de vida atrativas à fixa- ¸ Promoção do conhecimento e desenvolvi-


ção da população jovem nas áreas rurais. mento de competências, articulando adequa-
¸ Disponibilização de ajudas e incentivos para damente a formação profissional, os serviços
que os jovens se possam dedicar à atividade e a capacidade de inovação.
agrícola, total ou parcialmente, ou a outras ¸ Aumento da escolaridade obrigatória e a cria-
atividades. Por exemplo, facilitar em termos ção de condições que evitem o elevado aban-
jurídicos a transição da propriedade/gestão dono escolar nos meios rurais, onde o acesso
das empresas de pais para filhos, reduzindo os diário à escola é mais difícil.
respetivos encargos fiscais. ¸ A criação de polos de ensino profissional, com
¸ Incentivo às reformas antecipadas para agri- cursos adequados às necessidades regionais,
cultores que pretendam passar a gestão da para melhorar a formação académica e profis-
exploração para jovens agricultores. sional da população agrícola.
¸ Agilização do processo de instalação de novos ¸ Promoção do desenvolvimento de competên-
empresários, privilegiando os mais jovens, cias no domínio da utilização das TIC.
contribuindo para a criação de um tecido
empresarial mais dinâmico e capaz de contra-
riar o abandono agrícola e rural.
ç

PROMOVER A SUSTENTABILIDADE DO AMBIENTE E DA AGRICULTURA


O impacte ambiental da produção agrícola é muito elevado e difícil de controlar, por se fazer de forma muito
difusa e pouco visível, refletindo-se, essencialmente, na qualidade dos solos e dos recursos hídricos.

Utilização de químicos Maior uso do solo Produção pecuária

A utilização de inseticidas e O menor recurso ao pousio, a Na pecuária, sobretudo nas


pesticidas em geral e a fertili- substituição do sequeiro por explorações de regime intensi-
zação do solo com nitratos e regadio e a maior frequência de vo, os dejetos sólidos e líquidos
fosfatos, sobretudo em áreas mobilização dos solos e da utili- e as águas de lavagem têm
de agricultura mais intensiva, zação de maquinaria mais po- graves impactes sobretudo nos
contamina os solos e os recur- tente contribuem para a erosão cursos de água para onde, mui-
sos hídricos, superficiais (por dos solos e a diminuição da tas vezes, são lançados sem
escorrência) e subterrâneos qualidade do habitat de muitas qualquer tratamento.
(por infiltração). espécies.

Todavia, a situação de Portugal é relativamente vantajosa em comparação com a União Europeia. Neste
aspeto, o atraso da nossa agricultura foi benéfico, uma vez que, por não ter ido tão longe na intensifica-
ção da produção, à custa da utilização intensiva de químicos e maquinaria pesada, foi possível manter
práticas agrícolas menos agressivas para o ambiente, verificando-se uma menor contaminação dos
solos e das águas. Assim, torna-se menos difícil a associação da agricultura à conservação ambiental e
paisagística exigida pela nova PAC.
A aplicação das medidas agroambientais e a con- Área ocupada em modo de produção biológico (2011)

Fonte: Estatísticas da Agricultura Biológica – 2011, GPP, 2013


versão para o modo de produção biológico tam- ALG 0,8% EDM 3,9%
TM 8,2%
bém é favorecida pelas condições agroecológicas BL 0,9%
– os solos agrícolas e os cursos de água das áreas
rurais estão pouco contaminados, o que facilita a BI
21,7%
N.o de produtores biológicos

conversão dos campos. A fauna e a flora também 3000


ALE
56,9% RO 7,6%
apresentam um grau de conservação superior ao 2500
de muitos países da União Europeia, pelo que se
2000
torna possível recorrer a práticas tradicionais de
1500
combate a pragas, com recurso a espécies ani-
mais e vegetais. 1000

A prática da agricultura biológica integra-se na 500


perspetiva de produzir com maior qualidade e de 0
forma sustentável. O modo de produção biológica, 1994 1998 2002 2006 2010 2011

tanto em área como em número de produtores FIG. 1 Evolução do número de produtores em modo de produção
biológico e área ocupada com culturas biológicas, por região
tem vindo a aumentar, em Portugal (Fig. 1). agrária, em Portugal Continental.

A associação da agricultura à conservação ambiental promove a sua própria sustentabilidade e a dos


meios e comunidades rurais, cuja base de sobrevivência é um ambiente de qualidade.
NOVAS OPORTUNIDADES PARA AS ÁREAS RURAIS

A (RE)DESCOBERTA DA MULTIFUNCIONALIDADE DO ESPAÇO RURAL


As áreas rurais correspondem a mais de 80%
do território nacional e, no entanto, nelas DOC. 1 REGIÕES DESFAVORECIDAS
reside apenas cerca de 26% da população.
De acordo com os critérios comunitários, Portugal tem 86,6%
À vasta área que ocupam corresponde uma da SAU classificada em região desfavorecida, da qual 30,8% em
grande riqueza e diversidade de recursos zona de montanha e 69,2% noutras áreas.
Todo o território das regiões autónomas está classificado
naturais, humanos e culturais. Todavia, a
como zona desfavorecida.
maioria das áreas rurais é afetada por dificul-
Uma parte significativa do território nacional, cerca de 21%,
dades comuns, encontrando-se, em grande faz parte integrante da Rede Natura, que representa 19% da SAU.
parte, inseridas em áreas consideradas des- Adaptado de Plano Estratégico Nacional – Desenvolvimento Rural 2007-2013,
favorecidas e em risco de marginalização MADRP, 2007
(Docs. 1 e 2).

DOC. 2 RISCO DE MARGINALIZAÇÃO


N
O risco de marginalização é determinado pela combinação da existência de um
conjunto significativo de explorações com baixos rendimentos e de um número

tlântico
também significativo de agricultores com idades próximas da reforma. Este risco
existe quando mais de 40% das explorações dum território têm um rendimento Oceano A
inferior a metade do rendimento médio da região e, em simultâneo, mais de
40% dos agricultores têm idade superior a 55 anos.
A análise efetuada para o país mostra que existe risco de marginalização em
vastas áreas e em todas as regiões do Continente.
Nas regiões autónomas o risco de marginalização também é elevado. Nos Açores
cerca de 48% das explorações têm um rendimento inferior a metade do rendimento
médio regional, e cerca de 42% dos produtores têm idade superior a 55 anos.
Na Madeira, apresentam risco de marginalização a ilha de Porto Santo e os con-
celhos de Porto Moniz, Calheta, Ponta do Sol e Câmara dos Lobos, sendo que 38%
Sem risco
das explorações têm um rendimento inferior a metade do rendimento médio regio- Com risco
nal e 64% dos produtores têm mais de 55 anos.
Adaptado de Plano Estratégico Nacional – Desenvolvimento Rural 2007-2013, MADRP, 2007 0 50 km

Tendo em conta o que ficou dito acima, a ênfase dada ao desenvolvimento rural pela PAC, desde 1992 e
reforçada na reforma de 2003, tem toda a pertinência, uma vez que a viabilidade de muitas comunida-
des rurais não pode depender apenas da agricultura, mas do desenvolvimento integrado e em todas as
vertentes das áreas rurais em que essas comunidades se inserem.
Ora, a revitalização das zonas rurais, incluindo o rejuvenescimento demográfico, depende muito da sua
atratividade e, esta, das condições oferecidas à população e aos empresários, pelo que é importante a
criação ou a melhoria de serviços básicos de apoio à população e às empresas. A sua revitalização passa
ainda pela capacidade de rentabilizar melhor os recursos endógenos desses territórios.
Deste modo, a multifuncionalidade e a pluriatividade associadas às áreas rurais podem contribuir para
o aumento da riqueza e do emprego, através de atividades, como as turísticas e de lazer, complementa-
das pelo comércio e pela pequena transformação.
ç

DIVERSIDADE E OPORTUNIDADES NAS ÁREAS RURAIS


Embora, nas áreas rurais portuguesas, de um modo geral, domine uma situação social e económica des-
favorável, com vários aspetos que podem ser considerados problemáticos, é possível encontrar tam-
bém muitos fatores que constituem potencialidades de desenvolvimento.

Problemas Aspetos potenciadores de desenvolvimento

¸ Perda de população e envelheci- ¸ Grande diversidade de património histórico, arqueológico, natu-


mento demográfico. ral e paisagístico rico e diversificado.
¸ Baixo nível de instrução e qualifi- ¸ Importante valor paisagístico das culturas, como a vinha, o olival,
cação dos recursos humanos. o pomar e de espécies florestais como o montado ou os soutos
¸ Predomínio de explorações de pe- (Fig. 1).
quena dimensão. ¸ Baixos níveis de poluição e, de um modo geral, elevado grau de
¸ Falta de emprego. preservação ambiental.
¸ Abandono de terras agrícolas. ¸ Condições propícias à prática da agricultura biológica.
¸ Carência de equipamentos sociais, ¸ Potencial de produção com qualidade diferenciada para o azeite,
culturais, recreativos e de serviços as hortofrutícolas, o vinho e produtos da floresta.
de proximidade. ¸ Grande número de produtos classificados como DOP, IGP e ETG.
¸ Insuficiência das redes de trans- ¸ Tendência para a melhoria das infraestruturas coletivas e equi-
porte. pamentos sociais e da rede de acessibilidades.
¸ Baixo poder de compra.

Outros fatores associados ao contexto N


atual de tendências de procura turística
e gostos gastronómicos poderão cons-
tituir também elementos de oportuni-
dade para as áreas rurais:
• crescente procura de produtos de
o
ntic

% de SAU
qualidade associadas a diferentes
Atlâ

1 - 10
ano

regiões e paisagens rurais do país; 10 - 20


Oce

20 - 30
• grande procura de atividades de lazer
>30
cuja oferta é específica do espaço
sem dados
rural, como, por exemplo, as chama-
das atividades radicais: rafting, cany-
Mar Negro
oning, etc.;
• valorização das energias renováveis
Mar Mediterrâneo
que podem ser produzidas no espaço
rural ou a partir de produtos de ori- 0 1000km

gem agroflorestal; Fonte: Community Strategic Guidlines for Rural Development, CE, 2005

• preocupação cada vez maior com a FIG. 1 Percentagem de SAU em terras aráveis com alto valor natural, na UE, em
2004.
preservação dos recursos naturais e
do ambiente.
TURISMO NO ESPAÇO RURAL

MODALIDADES DE TER
Em Portugal, o turismo, como atividade económica, é um setor cada vez
Turismo:
mais importante para a formação do PIB (9,2%, em 2010) e para a cria- deslocações para lazer com
ção de emprego (mais de 8,1%, em 2010). Essa tendência estende-se ao duração superior a 24 horas.
Turismo no Espaço Rural (TER), que tem vindo a assumir crescente Turismo no Espaço Rural (TER):
conjunto de atividades e ser-
importância para a economia das áreas rurais, ampliando a sua multi- viços de alojamento e anima-
funcionalidade. ção em empreendimentos de
natureza familiar, realizados e
No TER a principal oferta baseia-se na ligação aos valores culturais, às prestados a turistas, median-
te remuneração, no espaço
práticas agrícolas, aos recursos naturais e paisagísticos, valorizando as rural.
particularidades próprias de cada região. Distinguem-se diferentes
modalidades de TER.

É uma oferta associada a solares, casas apalaçadas ou residências de reconhecido


Turismo valor arquitetónico, com dimensões adequadas e mobiliário e decoração de quali-
de habitação dade, por vezes associado a uma dada época histórica.
Oferece um serviço de natureza familiar e de elevada qualidade.

A hospedagem é feita em casas rústicas particulares, com características regionais


Turismo (arquitetura, materiais de construção, decoração). Na sua maioria são casas peque-
rural nas onde vive o proprietário, que organiza as atividades dos visitantes, incluindo os
equipamentos necessários.

No agroturismo os visitantes podem observar e participar nas atividades agrícolas,


Agroturismo como a vindima, a apanha de fruta, a desfolhada, a ordenha, a alimentação dos ani-
mais, o fabrico de queijo, vinho e mel, etc.

Casas São casas rurais características da região ou abrigos de montanha, integradas na pai-
de campo sagem e nas quais o proprietário pode ou não residir.

Desenvolve-se em empreendimentos que incluem, no mínimo, cinco casas particula-


Turismo res inseridas em aldeias que mantêm, no seu conjunto, as características arquitetó-
de aldeia nicas e paisagísticas tradicionais da região. O Programa das Aldeias Históricas de
Portugal inclui-se nesta forma de turismo.

Estabelecimento hoteleiro situado em zona rural fora da sede de concelho que ofe-
Hotel rece serviços de alojamento. Deve ocupar a totalidade de um ou mais edifícios, com
rural dez ou mais quartos ou «suites» e cuja traça arquitetónica, materiais de construção,
equipamento e mobiliário, respeitam as características dominantes da região.

Em 2011, encontravam-se em funcionamento cerca de 1400 estabelecimentos de TER, que disponibili-


zavam mais de treze mil camas (Fig. 1). A Região Autónoma dos Açores e o Alentejo são as regiões que
mais contribuíram para o aumento que se registou nos últimos anos.
A modalidade de TER com maior oferta foi o turismo rural, seguido do turismo de habitação (Fig. 2).
ç

N.o de camas N.o de estabelecimentos


14 000 1600

12 000 1400

10 000 1200
2,0%
11%
22%
8000 1000 Turismo de habitação
18% Turismo rural

6000 800 Agroturismo


Casas de campo
14% 33%
Turismo de aldeia
4000 600
1999 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 Hotel rural

Fonte: Caracterização das Empresas de Turismo em Espaço Rural – 2012, Fonte: Estatísticas do Turismo – 2013, INE, 2014
GPP – MAMAOT, 2013 FIG. 2 Estrutura da capacidade de alojamento (n.o de ca-
FIG. 1 Capacidade de alojamento (n.o de camas) no TER, segundo as NUTS II. mas) no TER, por modalidade, em 2011.

OUTRAS FORMAS DE TURISMO EM ESPAÇO RURAL


Recentemente têm surgido novas e variadas ofertas turísticas que, apesar de legalmente não estarem
enquadradas no TER, são desenvolvidas em espaço rural, podendo igualmente enriquecer a multifuncio-
nalidade e contribuir para o plurirrendimento da população rural:
• o turismo ambiental proporciona o contacto com a Natureza e uma multiplicidade de atividades ao
ar livre, especialmente nas áreas protegidas, geralmente em áreas rurais, e que são espaços privi-
legiados para esta forma de turismo;
• o turismo fluvial, que aproveita os espelhos de água do interior e tem sido acompanhado de progra-
mas de valorização das áreas ribeirinhas, com vista a proporcionar espaços seguros para a prática
da atividade balnear, tal como a sua valorização ambiental e paisagística;
• o turismo cultural, baseado no património arqueológico, histórico e etnográfico local, proporciona
a visita a castelos, templos e museus e a participação em feiras, romarias e em recriações de ati-
vidades tradicionais;
• o turismo gustativo e o enoturismo, que aproveitam a grande diversidade e qualidade da gastrono-
mia e dos vinhos regionais, muitas vezes, apoiados nas rotas dos vinhos, que representam um con-
junto de locais organizados em rede, numa região vinícola demarcada com interesse turístico;
• o turismo cinegético, ligado à caça, cria emprego nas atividades de preservação do ambiente, nas
zonas de caça turística e associativa;
• o turismo termal, que se associa ao aproveitamento das águas termais, mas também a uma grande
diversidade de atividades que, hoje em dia, os estabelecimentos termais organizam e que se relacio-
nam quase sempre com o conhecimento da área e das características da região em que se inserem.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Indicar medidas que possam potencializar o setor agrícola, nos domínios da competitividade, do escoamento dos pro-
dutos, da mão de obra e da sustentabilidade.
¸ Explicar a importância da multifuncionalidade para a revitalização dos espaços rurais, tendo em conta a situação des-
favorável que os caracteriza, em Portugal.
¸ Enunciar alguns problemas e aspetos potenciadores do desenvolvimento das áreas rurais.
¸ Caracterizar o TER nas suas diferentes modalidades e na distribuição regional da capacidade de alojamento.
¸ Enumerar outras formas de turismo que, geralmente, são desenvolvidas no espaço rural.
O TURISMO E A SUSTENTABILIDADE DAS ÁREAS RURAIS
As potencialidades existentes nos meios rurais para a prática de atividades de lazer e turismo podem
transformar-se em fatores de desenvolvimento das comunidades que nelas vivem, uma vez que consti-
tuem atividades geradoras de rendimentos e de emprego. Em associação com as atividades turísticas,
são dinamizadas muitas outras atividades económicas como, por exemplo, a construção civil, os trans-
portes, os serviços de apoio ao turismo e à população, a restauração e o comércio, sobretudo o que se
associa ao artesanato e aos produtos característicos da região.

¸ A diversificação das atividades ligadas à exploração agrí-


TER – fator de desenvolvimento porque promove:

Por tudo isto, é muito importante


cola (pluriatividade). que a expansão do turismo nas
¸ A diversificação das fontes de rendimento dos agriculto- áreas rurais se desenvolva de
res (plurirrendimento). acordo com os princípios da sus-
¸ A elaboração de produtos tradicionais e específicos das
tentabilidade, isto é, que seja pla-
neado de modo a promover a qua-
regiões – queijos, enchidos, mel, compotas, doces, fru-
lidade da oferta, ajustando-a à
tos secos, etc.
¸ A preservação da arte e do artesanato rurais, que valori-
capacidade de ocupação dos luga-
res, para não provocar nem a de-
zam o papel dos mais idosos conhecedores das técnicas gradação do ambiente nem a dela-
tradicionais. pidação dos recursos naturais e
¸ A conservação e a melhoria da Natureza e do ambiente que, além de respeitar o patrimó-
paisagístico, valorizando o papel do agricultor como nio construído e a identidades dos
«guardião do ambiente». locais, promova a sua preserva-
¸ A dinamização de iniciativas culturais e a preservação ção, de modo que possa ser um
e/ou recuperação do património edificado. fator de sustentabilidade regional
¸ A fixação de população e a manutenção de pequenos
também para as gerações futuras.
aglomerados populacionais.

DESENVOLVER OS PRODUTOS REGIONAIS DE QUALIDADE


Em Portugal, existe uma significativa diversidade de produtos regionais, grande parte deles já certifica-
dos com as designações de qualidade da União Europeia e outros com fortes potencialidades de o
serem. Tendo em conta o crescente interesse dos consumidores por produtos de qualidade e conside-
rando as enormes potencialidades de divulgação proporcionadas pelas TIC, estes produtos podem cons-
tituir uma importante fonte de rendimentos complementares das atividades agrícolas que lhes dão ori-
gem. Ao proporcionar trabalho e rendimento, os produtos de qualidade são certamente um fator de
desenvolvimento sustentável do espaço rural.
O artesanato é outra forma de diversificar as atividades rurais e de criar emprego, para além de ser um
elemento de identidade cultural. Por isso, deve ser promovida a recuperação/inovação de ofícios arte-
sanais, de modo a evitar que o saber-fazer tradicional desapareça com os idosos que ainda o têm.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicitar o significado de desenvolvimento sustentável, referindo como pode ser promovido nas áreas rurais pelo
turismo e pelos produtos de qualidade.
ç

O PAPEL DINAMIZADOR DA INDÚSTRIA…


A indústria, pelo emprego que gera e pelos seus efeitos multiplicadores, é um fator de desenvolvimento
das regiões onde se instala. Nas áreas rurais, além do emprego direto que cria, se for uma unidade de
transformação de matéria-prima produzida na região, induz também o desenvolvimento agrícola e flo-
restal.

O que pode atrair a indústria O que pode a indústria proporcionar


para o espaço rural no espaço rural

¸ A proximidade de matéria-prima no caso das ¸ Gera emprego, direta e indiretamente, contri-


indústrias de: buindo para fixar e atrair população.
• produção agropecuária – laticínios, transfor- ¸ Promove, a montante, o desenvolvimento das
mação de fruta, vegetais e carne, indústrias atividades produtoras da matéria-prima,
de lanifícios, couro, etc.; nomeadamente a agricultura, a pecuária e a
• exploração florestal – serrações, carpinta- silvicultura.
¸ Desenvolve, a jusante, outras indústrias com-
rias, corticeiras, mobiliário;
• extração e transformação de rochas e mine-
plementares e diferentes serviços de apoio.
¸ Aumenta a criação de riqueza, pois o valor
rais.
¸ Os incentivos da política local e central, como
acrescentado às matérias-primas reverte,
oferta de loteamentos industriais infraestru-
pelo menos em parte, a favor das regiões onde
turados e a preços atrativos, facilidades de
se instala.
¸ Favorece o aumento do consumo, o que
acesso ao crédito, subsídios e incentivos fis-
cais e formação profissional da população.
¸ A existência de boas acessibilidades.
desenvolve o comércio local.

É importante salientar que a instalação de uma indústria, tal como o turismo, deve respeitar os princí-
pios do desenvolvimento sustentável e as normas relativas à criação de resíduos e ao seu tratamento,
nomeadamente o tratamento das águas residuais e os níveis de emissões para a atmosfera.

… E DOS SERVIÇOS
A maioria da população agrícola portuguesa não se dedica a tempo completo à agricultura, e dessa, a
maior parte trabalha nos serviços, o que, só por si, demonstra a importância que os serviços assumem
no desenvolvimento das áreas rurais. Os serviços apresentam sempre um múltiplo papel:
• proporcionam melhor qualidade de vida, como é o caso dos serviços associados ao abastecimento
de água, eletricidade, telecomunicações e os serviços de saúde, educação, apoio domiciliário a ido-
sos, etc.;
• criam emprego, promovendo a fixação de população;
• apoiam outras atividades económicas, como a agricultura, o turismo e a indústria, e a própria popula-
ção, como é o caso dos serviços bancários, de seguros, de transportes, de formação profissional, etc.
Os serviços são, por isso, fundamentais para o desenvolvimento sustentável das regiões, sobretudo por-
que promovem a fixação demográfica e, em particular, os serviços de apoio à qualidade de vida da popu-
lação e à agricultura. O Programa Agro – Programa Operacional Agricultura e Desenvolvimento Rural –
reconhece a sua importância ao apoiar financeiramente projetos de prestação de serviços agrorrurais.
A própria PAC, ao valorizar o papel do agricultor como agente de conservação ambiental, está a incenti-
var a criação de novos serviços na área do ambiente, que também fazem parte da multifuncionalidade
dos espaços rurais, proporcionando rendimentos aos seus habitantes.
A SILVICULTURA
As florestas constituem uma riqueza ambiental incalculável não só pela sua função na manutenção do
equilíbrio térmico e hidrológico, mas também pelos recursos naturais que nos proporcionam e pelo
emprego que geram nas atividades produtivas e nos serviços que se lhes associam (vigilância, manu-
tenção, etc). Constituem, por isso, uma importante oportunidade de multifuncionalidade e diversifica-
ção nas áreas rurais.
Funções da floresta

Social Ambiental
¸ Proporciona ar puro e espaços de lazer à população. ¸ A floresta contribui para:
• a preservação dos solos;
• a conservação da água;
Económica • a regularização do ciclo hidro-
¸ Produz matérias-primas e frutos. lógico;
¸ Gera emprego. • o armazenamento de carbono;
¸ Cria riqueza. • a proteção da biodiversidade.

Em Portugal, a floresta ocupa pouco mais de um terço do território, constituindo uma parte muito
importante das áreas rurais. Caracteriza-se por uma grande diversidade, o que se traduz numa produ-
ção variada. No entanto, subsistem problemas que põem em causa o seu desenvolvimento sustentável.

Problemas Possíveis soluções

¸ A fragmentação da propriedade flo- ¸ Promoção do emparcelamento, através de incentivos e da


restal, agravada pelo facto de, por simplificação jurídica e fiscal.
vezes, os proprietários desconhe- ¸ Criação de instrumentos de ordenamento e gestão florestal,
cerem os seus limites, o que difi- contrariando o abandono florestal.
¸ Simplificação dos processos de candidatura a programas de
culta a organização e a gestão da
floresta.
¸ A baixa rendibilidade, devido ao
apoio à floresta.
¸ Promoção do associativismo, da formação profissional e da
ritmo lento de crescimento das
investigação florestal.
¸ Promoção da formação profissional relativa às atividades
espécies mais características como
o pinheiro-bravo.
¸ O elevado risco da atividade, pelos
agroflorestais.
frequentes incêndios florestais, no ¸ Diversificação das atividades nas explorações florestais e
verão. agroflorestais.
¸ O despovoamento e o abandono de ¸ Redução da vulnerabilidade a pragas e doenças.
práticas de pastorícia e de recolha ¸ Melhorar a prevenção de incêndios:
do mato para os animais, que, assim • limpeza de matos, povoamentos e desbastes;
deixaram de limpar o substrato • melhoria da rede viária e de linhas corta-fogo;
arbustivo. • otimização dos pontos de água;
• abertura de faixas de segurança nos locais de combustão
permanente, como lixeiras;
• aquisição e otimização de máquinas e materiais para limpe-
za e desmatação;
• campanhas de sensibilização sobre práticas de bom uso do
fogo;
• melhoria da coordenação dos meios de deteção e combate
de fogos.
ç

ENERGIA E DESENVOLVIMENTO RURAL


A política energética, a nível nacional e europeu, tem metas ambiciosas (já mencionadas anteriormente)
para a produção e consumo de energia a partir de fontes renováveis. Além disso, pela última reforma da
PAC, os agricultores podem escolher as culturas a produzir, incluindo as energéticas, mantendo os apoios
à produção. Por outro lado, a maioria dos recursos naturais que podem ser utilizados como fontes de ener-
gia encontra-se no espaço rural. Ou seja, estão reunidas as condições para que a produção de energia a
partir de fontes renováveis se torne numa vertente importante do desenvolvimento das áreas rurais.

É particularmente importante, uma vez que pode resultar da exploração florestal, da


BIOMASSA produção agrícola, com possibilidades diversificadas, dos resíduos das atividades
agrícolas (podas das vinhas, olivais e pomares, por exemplo) e da pecuária.

Permite a produção de biocombustíveis.


¸ O biogás é produzido a partir de efluentes agropecuários, da agroindústria, pela degradação biológica anae-
róbica (sem oxigénio) da matéria orgânica. As explorações agropecuárias, podem produzir a sua própria ener-
gia e até vender para a rede pública, a partir dos resíduos criados, evitando problemas de poluição dos cur-
sos de água.
¸ Os biocombustíveis líquidos são produzidos a partir das chamadas culturas energéticas, de onde se obtém o
biodiesel, utilizando óleos de colza ou de girassol, e o etanol, a partir da fermentação de hidratos de carbono
da cana-de-açúcar, da beterraba, e também dos resíduos florestais e agrícolas.
A produção de biocombustíveis líquidos pode contribuir diretamente para a diversificação da produção e do
rendimento agrícola.

ENERGIA EÓLICA E SOLAR


Existem boas condições para a produção de energia eólica e solar em vastas áreas do nosso país e os locais
mais adequados situam-se, regra geral, em áreas rurais, sobretudo em áreas de montanha, onde a veloci-
dade e a regularidade do vento permitem o seu aproveitamento energético.
A instalação de parques eólicos e solares contribui para aumentar a oferta de emprego e para diversificar
a base económica da população rural. Muitas vezes, no caso dos parques eólicos, pode gerar rendimentos
a alguns agricultores que arrendam ou vendem terrenos para a instalação das unidades de produção desta
forma de energia.

ENERGIA HÍDRICA
A energia hídrica, principalmente dos cursos de água, foi sempre muito utilizada nas áreas rurais, por
exemplo, para a moagem dos cereais e da azeitona. É, também, o recurso nacional mais utilizado para a
produção de eletricidade, nas centrais hidroelétricas. Nos meios rurais, aposta-se na construção de mini-
-hídricas que têm impactes ambientais menores e podem servir melhor pequenas localidades, com a pos-
sibilidade de gerar receitas que podem ser investidas no desenvolvimento local.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicar o contributo da indústria e dos serviços para o desenvolvimento sustentável das áreas rurais.
¸ Caracterizar o setor florestal, relativamente às funções, seus problemas e possíveis soluções, evidenciando o seu
papel no desenvolvimento rural.
¸ Enunciar as fontes de energia que podem ser produzidas/aproveitadas no espaço rural e explicar a sua importância
para o desenvolvimento rural.
ESTRATÉGIAS INTEGRADAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL

A CRESCENTE IMPORTÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO RURAL


Como decorre das sucessivas reformas da PAC, o desenvolvimento rural tem vindo a ganhar cada vez maior
importância no quadro da União Europeia. Desde a Agenda 2000 que o desenvolvimento rural foi consa-
grado como segundo pilar da PAC e tem vindo a ser promovido através de medidas inseridas no âmbito do
III QCA e, mais recentemente, do QREN e financiado pelos fundos estruturais, sobretudo o FEOGA. No âmbito
do QREN, o desenvolvimento rural passou a ser financiado pelo FEADER.
Entre as principais medidas de apoio ao desenvolvimento rural, disponibilizadas a nível comunitário e
enquadradas no III QCA (2000-2006), no Programa Agro e no QREN (2007-2013), destacam-se:
• as medidas agroambientais, que incentivam a utilização de práticas agrícolas «amigas do ambiente»;
• as indemnizações compensatórias para as zonas desfavorecidas, que contribuem para a manuten-
ção de uma agricultura sustentável do ponto de vista ambiental;
• apoios à silvicultura, para a sua gestão sustentável;
• iniciativa comunitária LEADER.

INICIATIVA COMUNITÁRIA LEADER


Pela sua importância no apoio comunitário ao desenvolvimento rural, salienta-se a Iniciativa LEADER –
Ligação Entre Ações de Desenvolvimento da Economia Rural –, que incentiva projetos-piloto de desen-
volvimento rural integrado.
A aplicação deste programa de1991 a 1994 (LEADER I) e de 1994 a 1999 (LEADER II) teve efeitos positivos
nas Zonas de Intervenção que cobrem quase todas as áreas rurais do país. No III QCA (2000-2006), pas-
sou a designa-se LEADER+, continuando a abranger os mesmos territórios no período de 2007-2013.
No Plano Estratégico Nacional de Desenvolvimento Rural, os «projetos de tipo LEADER» constituem o 4.o
eixo prioritário de financiamento, pela eficácia que podem ter, pois são planeados e implementados a
nível local e, por isso, são mais adequados à realidade. Envolvem parcerias que podem ser estabelecidas
entre autarquias, agentes económicos, associações profissionais ou de outro caráter (cultural, despor-
tivo, etc.), que se constituem como Grupos de Ação Local (GAL) e elaboram os Planos de Ação Local, defi-
nindo as Zonas de Intervenção, onde esse plano será aplicado.

¸ Mobilizar, reforçar e aperfeiçoar a iniciativa, a organização e as competências locais.


da iniciativa LEADER

¸ Incentivar e melhorar a cooperação entre os territórios rurais.


para Portugal
Objetivos

¸ Promover a valorização e a qualificação das áreas rurais, transformando-as em espaços de


oportunidades.
¸ Garantir novas abordagens de desenvolvimento, integradas e sustentáveis.
¸ Dinamizar e assegurar a divulgação de saberes e a transferência de experiências ao nível
europeu.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Descrever a evolução da importância do desenvolvimento rural pela PAC.
¸ Indicar as principais medidas de apoio ao desenvolvimento rural.
¸ Explicar as vantagens da iniciativa LEADER para o desenvolvimento rural.

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