Você está na página 1de 9

ç

UNIDADE 3 – A rede urbana e as novas relações cidade/campo


CARACTERÍSTICAS DA REDE URBANA

REPARTIÇÃO ESPACIAL E DIMENSÃO DEMOGRÁFICA Rede urbana ou sistema urbano:


conjunto das cidades e suas
A rede urbana nacional caracteriza-se por um acentuado desequilíbrio periferias, integradas num
no que respeita à distribuição espacial, à dimensão demográfica e ao dado território, que estabele-
cem entre si relações de or-
número e importância das funções urbanas: dem hierárquica, de depen-
• a grande maioria das cidades localiza-se no litoral, encontrando- dência ou complementari-
dade. Pode considerar-se uma
-se as de maior dimensão entre Setúbal e Viana do Castelo; rede urbana às escalas regio-
• no interior, além de haver menor número de cidades, a maioria tem nal, nacional ou internacional.
uma pequena dimensão demográfica; Equilíbrio da rede urbana:
uma rede urbana é tanto mais
• apenas sete cidades têm mais de 100 mil habitantes em 2011, equilibrada quanto menores
predominando as de menos de 25 mil habitantes, pelo que as cida- forem os contrastes na distri-
buição espacial, na dimensão
des de média dimensão são em número reduzido; demográfica e na importância
• destacam-se, pela sua dimensão demográfica e pela importância das funções que oferece.
das funções urbanas, as cidades de Lisboa e do Porto que, no entanto,
apresentam uma grande diferença entre si (Fig. 1).

N Viana do
Póvoa do Varzim
Castelo Braga
Bragança
Trofa
Vila do Conde Vila Real
Maia
S. Mamede de Infesta
Matosinhos Ermesinde
Alfena Paredes
Sra. da Hora Rio Tinto Valongo Viseu
ntico

Porto Valbom Aveiro Guarda


Gondomar
o Atlâ

Vila Nova de Gaia


Fiães
Espinho
Ocean

Lourosa Coimbra
Sta. Maria da Feira Castelo Branco
Leiria
São João da Madeira
Oliveira de Azeméis Vale de Cambra
Portalegre

Santarém

Vila Franca de Xira Évora

Loures Alverca do Ribatejo


P. Sta. Iria
Agualva-Cacém Odivelas Sacavém Beja
Queluz
Lisboa
Amadora Montijo
Costa de Caparica Almada 0 50 km
Barreiro
Seixal
Amora

Setúbal Faro
600
0 25 km 300
Cidades 100
Fonte: Censos 2011, INE, 2012. Milhares de habitantes 10
FIG. 1 A rede urbana em Portugal Continental: repartição espacial e dimensão demográfica em 2011.

Nas regiões autónomas, as cidades localizam-se todas junto ao mar, por se terem desenvolvido a partir
de portos marítimos. Destaca-se a cidade do Funchal, com mais de 100 mil habitantes.
HIERARQUIA DAS CIDADES SEGUNDO A IMPORTÂNCIA DAS FUNÇÕES
As cidades desempenham um papel fundamental como centros
Lugar central:
organizadores do território, pois interagem com as suas áreas lugar que oferece bens e serviços à sua
envolventes, prestando serviços, distribuindo bens e difundindo área envolvente e que, por isso, atrai a
população.
ideias e modos de vida. Assim, podem ser consideradas lugares
Área de influência:
centrais. área sobre a qual a cidade exerce a sua
influência, através da oferta de produtos,
As áreas envolventes da cidade encontram-se sob a sua serviços e emprego. A extensão desta
influência, uma vez que a população aí se desloca para adquirir área depende do dinamismo económico,
social e cultural da cidade e a amplitude
bens e serviços ou para trabalhar. Deste modo, podemos falar e intensidade das relações de interde-
da área de influência das cidades. Mas, como esta área tam- pendência dependem das característi-
cas dos produtos e serviços que a cidade
bém presta serviços à cidade e lhe fornece produtos e mão de oferece e dos sistemas de transporte.
obra, pode designar-se por área complementar.
Os produtos e serviços oferecidos por um lugar central são considerados bens centrais – só podem ser
encontrados em determinados locais, pelo que a população terá de se deslocar para os adquirir – a que
correspondem funções centrais. Ao contrário, consideram-se bens dispersos os produtos e serviços que
são distribuídos, como a água da rede pública, a eletricidade, a ligação à rede telefónica, etc.
Os bens (produtos ou serviços) podem ainda ser classificados segundo a frequência com que são utili-
zados, da qual depende o maior ou menor número de lugares onde podem ser adquiridos. Os produtos ou
serviços de utilização frequente, que se encontram com facilidade, constituem bens vulgares, opondo-
-se aos de utilização pouco frequente, que se encontram disponíveis apenas em determinados lugares,
considerados bens raros, geralmente especializados ou muito especializados.
É possível estabelecer uma hierarquia dos lugares centrais, de acordo com o tipo de bens e funções que
oferecem. No nível superior encontram-se os lugares que oferecem bens e funções mais raros, com uma
área de influência mais vasta. No nível inferior estão os lugares que oferecem sobretudo funções e bens
vulgares, cuja área de influência é menor.
As cidades, sendo lugares centrais, podem ser hierarquizadas de
acordo com os bens e as funções que oferecem. Uma forte concen-
tração de funções de nível superior num pequeno número de cida- N
Índice de
des denota um desequilíbrio da rede urbana (Doc. 1). Centralidade dos
Centros Urbanos
15 + 35
DOC. 1 ÍNDICE DE CENTRALIDADE EM PORTUGAL CONTINENTAL E MADEIRA 18
9
De acordo com a teoria dos lugares centrais, a centralidade traduz a extensão Restantes
35
das funções prestadas pelo lugar central, sendo que centros urbanos que prestem 18
9
funções mais raras, mais especializadas, apresentarão índices de centralidade mais NUTS III
elevados.
ntico

A geografia do índice de centralidade coloca em evidência a concentração


o Atlâ

de centros urbanos com elevado índice de centralidade no Norte Litoral e na Área


Metropolitana de Lisboa. No Norte Litoral a concentração é mais relevante na
Ocean

Área Metropolitana do Porto (Vila Nova de Gaia, Porto, Matosinhos e Maia) e


nos vales sub-regionais que a envolvem (Braga, Guimarães, Vila Nova de
Famalicão e Santa Maria da Feira). Na Área Metropolitana de Lisboa, destacam-
-se cinco centros urbanos (Lisboa, Cascais, Oeiras, Sintra e Almada). Porém, o
centro urbano de Lisboa evidencia-se com um índice de centralidade que é quase
o dobro do segundo centro urbano mais central – Vila Nova de Gaia.
0 50 km
Adaptado de Sistema Urbano: Áreas de Influência e Marginalidade Funcional, INE, 2004
ç

ECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO
A concentração urbana no litoral explica-se pela tendência de
Economias de escala:
litoralização que caracteriza a distribuição geográfica da popula- economias em que os investimentos
ção e das atividades económicas, sobretudo as dos setores procuram conseguir o menor custo
unitário e obter o máximo lucro. Tal
secundário e terciário. É um processo de influência mútua: as significa que determinados investi-
áreas urbanas atraem as atividades e estas, por sua vez, contri- mentos em equipamentos e infra-
estruturas só serão lucrativos se vie-
buem para a expansão das áreas urbanas. rem a ter um grande número de utili-
zadores.
No espaço urbano também se aplica o princípio da economia de
escala, fazendo com que as grandes concentrações urbanas fun-
cionem como economias de aglomeração, ou seja, a população e as
N
várias empresas utilizam as mesmas infraestruturas, tornando-as
mais rentáveis. Além disso, podem estabelecer relações de com-
plementaridade entre si, o que também trará benefícios, tanto para
as empresas como para a população da área onde se inserem.

tlântico
Em Portugal Continental, as regiões do litoral mais urbanizadas

Oceano A
são as que melhor funcionam como economias de escala.
Analisando a proporção de nascimentos de empresas em setores
de alta e média-alta tecnologia, é notório que esse tipo de
empreendorismo se concentra marioritariamente no litoral
(Fig. 1)

DESECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO
As vantagens da aglomeração só existem até determinados limi-
R.A. Açores
tes, a partir dos quais a concentração passa a ser desvantajosa. O
%
crescimento demográfico e o aumento do número de empresas R.A. Madeira 2,1 - 3
1,6 - 2,1
fazem com que, a dado momento, as infraestruturas, os equipa- 0,5 - 1,6
0 50 km
mentos e os serviços deixem de ter capacidade de resposta ade- NUTS III
NUTS II
quada, atingindo a saturação. Surgem, então, problemas que pro-
FIG. 1 Proporção de nascimento de empresas de
vocam o aumento dos custos das atividades económicas e se média e alta tecnologia, por NUTS III, em 2011.
refletem negativamente na qualidade de vida da população. Por
exemplo, os congestionamentos de trânsito prejudicam a produ-
tividade e o rendimento das empresas e causam transtorno e até
problemas de saúde à população.
Nessa altura, é necessário proceder a novos investimentos para redimensionar as infraestruturas, os
equipamentos e os serviços, de modo a que possam responder cabalmente às necessidades da popula-
ção e das empresas. Por vezes, os investimentos necessários são demasiado elevados face aos benefí-
cios que permitirão obter, tornando-se inviáveis. Inicia-se, assim, uma deseconomia de aglomeração, em
que os custos da concentração se tornam superiores aos benefícios.
O desenvolvimento de outras aglomerações urbanas não congestionadas no iInterior, que permita a difu-
são das empresas e a redistribuição da população, é uma forma de minorar os efeitos da deseconomia
de aglomeração de muitos centros urbanos do litoral, contribuindo, também, para reduzir o desequilí-
brio da rede urbana nacional.
ATENUAR OS DESEQUILÍBRIOS
Podemos afirmar que o sistema urbano português, além das desigualdades já mencionadas, apresenta
uma acentuada bipolarização, ou seja, o domínio claro de duas áreas urbanas – Lisboa e Porto, com um
grande destaque para a capital.
Este desequilíbrio da rede urbana reflete-se negativamente no dinamismo territorial e social, tanto à
escala regional como nacional, e cria dificuldades:
• na articulação e inserção das economias regionais na economia nacional;
• nas relações de complementaridade entre os diversos centros urbanos, tornando-as menos inten-
sas e menos eficazes do ponto de vista do dinamismo económico e social que podem criar;
• ao nível da competitividade do nosso país no contexto europeu e mundial, uma vez que impede a
criação de sinergias próprias de uma rede urbana equilibrada.
Assim, é muito importante promover um maior equilíbrio da rede urbana nacional, sobretudo através de
investimentos em:
• atividades económicas, principalmente das que vão ao encontro das potencialidades e especifici-
dades regionais e aproveitem os recursos endógenos;
• equipamentos e infraestruturas que garantam uma boa qualidade de vida e possam atrair popu-
lação.
Deste modo, poderão ser dinamizados centros urbanos que, aproveitando as vantagens das economias
de aglomeração, possam funcionar como polos de desenvolvimento regional e ser fatores de coesão
nacional.
De salientar que as cidades do interior têm a vantagem de ainda poderem oferecer um estilo de vida
mais saudável, porque são mais calmas e têm um ambiente menos poluído. Se a esses fatores forem
acrescentados equipamentos sociais, infraestruturas e serviços qualificados, poderão tornar-se cida-
des muito atrativas e intensificar, no nosso país, a tendência que a nível internacional se vem registando
– a saída da população das grandes cidades para outras de pequena ou média dimensão e mesmo para
áreas rurais.
A promoção de um maior equilíbrio da rede urbana nacional será uma forma eficaz de reduzir as assi-
metrias territoriais e sociais, uma vez que as cidades têm um papel importantíssimo na organização do
território e na dinamização do desenvolvimento económico e social.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Caracterizar a rede urbana portuguesa no que respeita à distribuição espacial e à dimensão demográfica das cidades.
¸ Definir lugar central e área de influência.
¸ Distinguir bens centrais de bens dispersos e bens raros de bens vulgares.
¸ Caracterizar a rede urbana nacional quanto ao número e importância das funções urbanas.
¸ Explicitar o significado de economias de escala e de economias de aglomeração.
¸ Explicar como uma economia de aglomeração se transforma numa deseconomia de aglomeração.
¸ Indicar as possíveis consequências do acentuado desequilíbrio da rede urbana nacional.
¸ Sugerir formas de atenuar esse desequilíbrio.
ç

A REORGANIZAÇÃO DA REDE URBANA PORTUGUESA

O PAPEL DAS CIDADES MÉDIAS


O reduzido número de cidades de média dimensão (50 a 100 mil habi-
N
tantes), sobretudo no interior, evidencia o desequilíbrio do sistema
urbano português (Fig. 1).

ntico
O desenvolvimento de cidades de média dimensão é fundamental para o

o Atlâ
equilíbrio da rede urbana e para a coesão regional, porque:

Ocean
• contribuem para a dinamização de relações de interdependência e
complementaridade mais ricas e mais produtivas entre as diferen-
tes áreas urbanas, favorecendo a economia nacional;
• são fatores de desenvolvimento regional não só porque atraem ati-
vidades económicas e população, mas também porque promovem
o desenvolvimento das respetivas áreas de influência;
• estendem os benefícios do seu desenvolvimento às áreas rurais
envolventes, pelos serviços que oferecem. Áreas
metropolitanas
Têm sido tomadas diversas medidas para promover uma maior coesão 0 50 km
Cidades médias
da rede urbana nacional, apoiadas em programas como o PROSIURB –
Fonte: Sistema Urbano
Programa de Consolidação do Sistema Urbano Nacional e de Apoio à Nacional - Síntese, DGOTDU, 2003

Execução dos Planos Diretores Municipais, que decorreu de 1994 a 1998, FIG. 1 Cidades de média dimensão,
fora das áreas metropolitnas, em
apoiando ações de qualificação urbana e ambiental e a dinamização dos Portugal Continental.
centros urbanos da rede complementar.

Mais recentemente, a Política das Cidades, POLIS XXI, tem como objetivos fazer com que as cidades
portuguesas sejam «territórios bem planeados e governados; de inovação e competitividade; de cida-
dania e coesão social e que ofereçam qualidade ambiental e de vida» (do site da DGOTDU). Esta política
integra-se na Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS), designadamente no que
respeita ao seu quinto objetivo – melhor conectividade internacional do país e valorização equilibrada
do território –, em cujo âmbito também se integra o instrumento de política urbana Redes Urbanas
para a Competitividade e a Inovação que pretende valorizar o policentrismo, ou seja, o desenvolvimento
das cidades de forma integrada e articulada com a rede urbana regional e nacional (Doc. 1).

DOC. 1 REDES URBANAS PARA A COMPETITIVIDADE E A INOVAÇÃO

Em Portugal, um dos principais problemas da competitividade territorial prende-se com as debilidades do sistema urbano,
na medida em que à frágil projeção internacional das duas áreas metropolitanas se alia, fora destas áreas, a inexistência de
centros urbanos com dimensão demográfica e funcional de cidade média de acordo com os padrões europeus (de 50 a 100
mil habitantes). As debilidades do sistema urbano nacional exigem um salto qualitativo em que as cidades deixem de ser vistas
isoladamente e disputando as mesmas funções e equipamentos e passem a organizar-se em rede, valorizando as diferenças,
reforçando sinergias e complementaridades e aumentando a sua conectividade interna e externa.
No âmbito da Política de Cidades POLIS XXI, foi dado relevo ao instrumento de política Redes Urbanas para a
Competitividade e a Inovação que visa promover a formulação de estratégias de cooperação e a constituição de redes de cida-
des (eixos ou sistemas urbanos) com massa crítica suficiente para atrair e desenvolver novas funções urbanas e atividades ino-
vadoras, nomeadamente através da criação e fixação de conhecimento sobre novos modelos e instrumentos de desenvolvimen-
to e da exploração das tecnologias de informação e comunicação.
Adaptado de Diário da República, 2.ª série – N.º 192 de 4 de outubro de 2007- Despacho n.º 23 021/2007
O PAPEL DAS REDES DE TRANSPORTE
Para se conseguir um maior equilíbrio
População das N
territorial é necessário desenvolver cidades em 2001
uma rede urbana policêntrica e articu- 554 657 Arco
100 000
10 000 Metropolitano
lada, que permita valorizar e potencia- do Porto
lizar a complementaridade funcional Capitais
entre centros urbanos de diferentes Arco ou Sistema
Metropolitano Sistema
dimensões. Outros Sistemas Metropolitano
Urbanos do Centro Litoral
As redes de transporte desempenham, Centralidades
aqui, um papel fundamental. Só uma Potenciais
Rodovias
boa acessibilidade interurbana poderá Eixos Interiores
Grandes
permitir a concretização dos objetivos Corredores
IC Capital
da Política de Cidades POLIS XXI. Por Arco
IP
isso, o Programa Nacional de Política Rede de Alta Metropolitano
Velocidade de Lisboa
de Ordenamento do Território, de 2006 1.a fase
2.a fase

lântico
(PNPOT), prevê o reforço das acessibili-
Portos
dades interurbanas, bem como dos Nível 1
Nível 2 Oceano At
eixos de ligação terrestre à Europa, Aeroportos
contribuindo para o desenvolvimento Internacional

de áreas urbanas com dinamismo eco- Fonte: PNPOT, 2006.


0 80 km
nómico e social e capacidade competi- Arco Metropolitano do Algarve
Fonte: PNOPT, 2006
tiva, no interior do país (Fig. 1).
FIG. 1 Sistema urbano, acessibilidades e povoamento, no horizonte 2015.

O reforço da acessibilidade e da articulação da rede urbana pressupõe também a especialização funcio-


nal, valorizando a complementaridade, de modo a permitir uma gestão mais eficaz dos recursos dispo-
níveis, sobretudo no que se refere às funções mais raras e especializadas (Doc. 1).

DOC. 1 POLIS XXI: DIMENSÕES DE INTERVENÇÃO

A prossecução dos objetivos da Política de Cidades POLIS XXI concretiza-se em três eixos de intervenção, traduzindo uma
visão de cidade a diferentes escalas territoriais:
• Eixo Regeneração urbana
Dirige-se a espaços intraurbanos específicos e visa a coesão e coerência do conjunto da cidade, isto é, das várias comu-
nidades que a constituem, e a qualificação dos fatores determinantes da qualidade de vida da população.
• Eixo Competitividade / Diferenciação
Coloca a ênfase na cidade enquanto nó de redes de inovação e competitividade de âmbito nacional ou internacional, e
visa o reforço do seu papel e da sua capacidade competitiva e a valorização dos fatores de diferenciação. Envolve o apoio
a estratégias de afirmação internacional, a criação de equipamentos urbanos e infraestruturas diferenciadores em termos
de inserção em redes nacionais e internacionais e a cooperação entre cidades portuguesas para a valorização partilhada
de recursos, potencialidades e conhecimento.
• Eixo Integração regional
Esta dimensão de intervenção incide sobre a cidade-região, definida como o espaço funcionalmente estruturado por uma
ou várias cidades e envolvendo uma rede sub-regional de centros e de áreas de influência rurais, e coloca o enfoque nas
interações cidade-região e no reforço do efeito cidade como fator de desenvolvimento das áreas sob sua influência direta.
Envolve iniciativas que visam estruturar aglomerações, ganhar dimensão urbana através da cooperação de proximidade,
fomentar complementaridades e economias de aglomeração e racionalizar e qualificar os equipamentos e serviços que
a cidade disponibiliza à sua região.
Adaptado de: Portugal: Política de Cidades POLIS XXI 2007-2013, MAOTDR, 2008
ç

A INSERÇÃO NA REDE URBANA EUROPEIA


A dinâmica económica das regiões depende muito da capacidade que as suas cidades têm para se afir-
marem no contexto nacional e internacional. As cidades portuguesas, mesmo as duas maiores, ocupam
um lugar relativamente modesto no contexto europeu, tanto no que se refere à sua dimensão demográ-
fica, relacionada com a população total do país, como à sua dinâmica económica (Fig. 1).

Guadalupe Martinica Reunião

Guiana (FR)
N

Canárias (ESP)

Açores (PT)
co
nti

Madeira (PT)
â
Atl
no
a
Oce

N.o habitantes
10 000 000
1 000 000
500 000
100 000
PIB/habitante
em PCP (Poder de FIG. 1 As principais cidades dos
Compra Padrão) Estados-membros da UE-27: di-
UE 27 = 100 mensão demográfica e económi-
>150 ca. A capital portuguesa apre-
125-150 senta um PIB/habitante inferior à
100-125 da maioria das capitais da UE-15,
75-100 situando-se ao nível de Praga e
Varsóvia e de outras cidades não
50-75
capitais, como, por exemplo,
<50
Barcelona. No entanto, situa-se
0 1000 km acima da média das cidades da
UE-27.
Fonte: State of European Cities Report, Comité das Regiões, 2010

As duas maiores cidades portuguesas, Lisboa e Porto, embora de dimensão pouco significativa no con-
texto europeu e mundial, constituem os grandes polos de dinamização da cultura e da economia nacio-
nal, assumindo particular importância na projeção internacional do nosso país.
Este papel não contraria a necessidade de desenvolver outras cidades ou áreas urbanas, pois não se
trata de concentrar ainda mais o desenvolvimento socioeconómico em Lisboa ou no Porto, mas antes de
divulgar a imagem de Portugal e, através dela, aquilo que o nosso país pode oferecer, pois atualmente a
penetração nos mercados internacionais passa, também, pelo marketing da imagem nacional.
A realização de eventos de caráter internacional como a «Expo 98», as atividades culturais associadas às
Capitais Europeias da Cultura ou competições desportivas, como o «Euro 2004» e a Red Bull Air Race, são
excelentes oportunidades de promoção das próprias cidades e do nosso país.
Os intercâmbios de alunos entre universidades europeias, como é o caso do Programa Erasmus, é outra
forma de divulgação da cultura e dos modos de vida, bem como de animação das cidades onde se loca-
lizam os estabelecimentos de ensino superior.
POSIÇÃO INTERNACIONAL DAS DUAS MAIORES CIDADES PORTUGUESAS
O papel das principais cidades na interna-
cionalização da economia e da cultura DOC. 1 CIDADES – FATORES DE PROJEÇÃO INTERNACIONAL
portuguesa passa em larga medida, como As cidades são concentrações de capital e de potencialidades de
já foi referido, pela sua função de ligação desenvolvimento. Cada cidade apresenta elementos diferenciadores
ao mundo, nomeadamente através dos que podem ser valorizados na perspetiva da afirmação internacional
portos e aeroportos e das suas ligações do país.
às redes terrestres em plataformas inter- A inserção de Portugal nas dinâmicas globais será fortemente
modais (Doc. 1). determinada pela atratividade das cidades e pela forma como estas se
assumirem como motores de inovação, de desenvolvimento económi-
Naturalmente, neste aspeto, as cidades co e de criação e qualificação do emprego. A competitividade do país
de Lisboa e Porto, mas particularmente exige cidades bem equipadas, atrativas e funcionais, com níveis eleva-
Lisboa, assumem uma maior importân- dos de coesão social, com forte qualificação do capital humano e ins-
titucional, cultural e económico, e bem integradas nos respetivos terri-
cia, como espaço de ligação do país ao
tórios. Uma atenção particular deverá ser dada, neste contexto, à con-
mundo e de promoção da sua imagem
solidação e desenvolvimento dos sistemas de Ensino Superior e de
internacional. Investigação e Desenvolvimento.
Esse papel torna-se visível, também, pela Portugal precisa de uma política de cidades que tenha uma forte
componente de valorização dos fatores específicos de cada cidade e
participação em iniciativas internacio-
de qualificação dos fatores de atração de atividades inovadoras.
nais associadas à contribuição das cida- As cidades serão um referencial fundamental para reduzir os
des para o cumprimento de metas am- impactes da situação periférica de Portugal e tornar o território nacio-
bientais, sociais ou culturais – as redes nal mais atrativo do investimento estrangeiro e dos atores que agem
internacionais de cooperação interurbana. numa perspetiva global.
Na maioria das situações são as cidades Adaptado de: Portugal: Política de Cidades POLIS XXI 2007-2013, MAOTDR, 2008
de Lisboa e do Porto que têm maior dinâ-
mica de participação neste tipo de inicia-
tivas (Doc. 2).

DOC. 2 PORTO INTEGRA REDE EUROPEIA DE CIDADES VERDES

O Porto foi a primeira cidade portuguesa a integrar o Pacto de Autarcas, iniciativa da União Europeia que culminou no com-
promisso formal de ultrapassar os objetivos comunitários de reduzir as suas emissões de CO2 em mais de 20 por cento até 2020.
O grupo de 95 cidades europeias aderente ao Pacto de Autarcas compromete-se a atingir essa meta através do uso de
energias renováveis e de medidas de eficiência energética. «Cada autarquia que integra esta rede de “cidades verdes” euro-
peias terá de realizar um plano de ação que contenha metas e medidas concretas para a redução de CO2 no domínio da efi-
ciência energética e uso de renováveis.»
O Porto junta-se assim ao grupo de cidades, onde se inclui Londres, Helsínquia, Riga, Berlim, Bona, Milão, Veneza, Nantes,
Liubliana e Varsóvia, que se formou no lançamento da iniciativa.
Adaptado de Ambiente on-line, fevereiro de 2008

VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicar o papel das cidades de média dimensão na reorganização da rede urbana portuguesa.
¸ Indicar os instrumentos de política urbana e seus objetivos.
¸ Justificar a importância do reforço das acessibilidades para o desenvolvimento de uma rede urbana equilibrada.
¸ Contextualizar as principais cidades portuguesas na rede urbana europeia.
¸ Explicar o papel das cidades na projeção internacional do nosso país.
ç

AS PARCERIAS ENTRE AS CIDADES E O MUNDO RURAL


As relações entre a cidade e o campo e as funções tradicionalmente desempenhadas por cada um des-
ses espaços têm vindo a registar alterações, sobretudo no que se refere às áreas rurais próximas de
centros urbanos.
A crescente urbanização não se manifesta apenas no espaço geográfico. Traduz-se também pela modi-
ficação das práticas quotidianas e dos consumos da população rural, cada vez mais próximos dos da
população urbana e motivados sobretudo pela crescente interação entre a cidade e o espaço rural, cuja
população cada vez mais se desloca diariamente para estudar ou trabalhar nos centros urbanos.
O aumento das acessibilidades, pela construção ou melhoria das infraestruturas de transporte, tem per-
mitido o alargamento das áreas de influência das cidades de regiões predominantemente rurais e a
intensificação dos movimentos pendulares, envolvendo os espaços rurais próximos dos centros urbanos.
As áreas rurais, tradicionalmente fornecedoras de bens alimentares, mão de obra e espaços/atividades
de lazer, assumem funções complementares das cidades, oferecendo habitação, principal ou secundá-
ria; novos produtos provenientes de atividades tradicionais recuperadas e da expansão de atividades
urbanas; emprego, nos serviços públicos e nas novas atividades que se instalam nas áreas rurais.
A promoção do desenvolvimento equilibrado do território e a correção das assimetrias regionais terá de
passar pelo reforço das parcerias urbano/rurais – formas de cooperação entre as cidades e as áreas
rurais. O reforço dessas parcerias deverá criar condições de vida e oportunidades de realização pessoal
e profissional para a população que opta por viver nos pequenos centros urbanos ou nas áreas rurais e
passa por:
• desenvolver serviços de qualidade nos centros urbanos de pequena e média dimensão;
• revitalizar, diversificar e valorizar as economias rurais;
• proteger e valorizar o património natural e cultural;
• promover a complementaridade de competências e especializações económicas que aumentam a
integração e a competitividade das regiões, contribuindo para a coesão territorial.
As relações de complementaridade institucional cidade/campo são fundamentais para promover as
especificidades locais e encontrar formas de colmatar as dificuldades comuns. São exemplos de coope-
ração urbano/rural, em torno de projetos de desenvolvimento:
• as iniciativas comunitárias como o INTERREG, que envolve regiões fronteiriças, afastadas dos prin-
cipais eixos de desenvolvimento do país, e tem vindo a intensificar a cooperação com os espaços
vizinhos em território espanhol, através de projetos comuns que promovem o desenvolvimento;
• a iniciativa comunitária LEADER, de apoio ao desenvolvimento rural;
• as Ações Integradas de Base Territorial (AIBT), no âmbito dos Programas Operacionais Regionais,
que transpõem os objetivos do QREN para cada região.
A coordenação de ações e a cooperação entre as diferentes entidades responsáveis pelo ordenamento
do território constituem o suporte do desenvolvimento regional. A atribuição de novas competências às
regiões, às autarquias e às associações de municípios, através da integração de instrumentos de orde-
namento do território, reforça a intervenção e responsabilidade local e regional no próprio processo de
desenvolvimento. O planeamento deve garantir a sustentabilidade das estratégias e projetos e contri-
buir para a coesão territorial, impedindo a excessiva pressão urbana sobre os campos mais próximos
das cidades ou o abandono das áreas rurais em declínio agrícola.

Você também pode gostar