Você está na página 1de 18

DE PORTUGAL NA UNIÃO

Tema 5: A INTEGRAÇÃONOVAS OPORTUNIDADES


EUROPEIA: NOVOS DESAFIOS,

Os desafios para Portugal do alargamento da União Europeia


A valorização ambiental em Portugal e a Política Ambiental Comunitária
As regiões portuguesas no contexto das políticas regionais da União Europeia

¸ Identificar e localizar os países que aderiram à União Europeia em 2004, 2007 e 2013.
¸ Identificar e localizar os países candidatos à adesão e os potenciais candidatos.
¸ Enunciar os critérios de adesão definidos pelo Conselho Europeu de Copenhaga.
No final deste tema deverá ser capaz de:

¸ Explicar o papel dos principais instrumentos de apoio à adesão, dos últimos países que aderi-
ram e dos países candidatos e potenciais candidatos.
¸ Indicar a principal razão que explica a necessidade da adaptação das instituições comunitárias
face ao alargamento.
¸ Explicitar os desafios e as oportunidades que o alargamento coloca para Portugal e para a
própria Comunidade.
¸ Enunciar os principais objetivos e domínios prioritários da Política Comunitária do Ambiente.
¸ Discutir as aplicações dessa política em Portugal e a evolução da política nacional em matéria
ambiental.
¸ Referir as principais ações em matéria ambiental desenvolvidas em Portugal e a nível comuni-
tário.
¸ Identificar as principais desigualdades regionais, à escala nacional e comunitária.
¸ Explicar o papel da Política Regional para a coesão económica e social.
¸ Contextualizar as regiões portuguesas no âmbito da Política Regional da União.
ç

O ALARGAMENTO DA UNIÃO EUROPEIA

UMA COMUNIDADE EM CONSTRUÇÃO


A União Europeia, com o maior alargamento da sua história, em 2004, em que aderiram 10 novos países e
com a adesão de mais dois, em 2007, e um em 2013, passou a contar com 28 Estados-membros (Fig. 1).

N Islândia

Finlândia
Suécia

Estónia

Irlanda Letónia
Reino Dinamarca
Lituânia UE-15
Unido
Alargamento de 2004
Holanda Alargamento de 2007
Bélgica Alemanha Polónia Países candidatos
Luxemburgo Países potenciais

Fonte: site oficial da Comissão Europeia, 2014


Rep. Checa candidatos
Alargamento de 2013
Eslováquia
França
Áustria
Hungria
Eslovénia
Croácia Roménia
Portugal B. Herz. Sérvia
Espanha
Montenegro
Kosovo Bulgária
Itália Macedónia
Albânia
Turquia
Grécia

0
Malta
1000 km
Chipre

FIG. 1 A União Europeia, em 2013, e países candidatos e potenciais candidatos, em 2013.

A constituição da Comunidade Económica Euro- DOC. 1 AS PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES DA UE


peia, mais tarde União Europeia, representou um
passo fundamental para a garantia de progresso O processo de decisão da União Europeia envolve várias
instituições europeias.
social e económico na Europa. Os progressos que
O Parlamento Europeu representa os cidadãos da União
foram sendo alcançados, sobretudo ao nível da Europeia. Os deputados do Parlamento Europeu (PE) são
estabilidade económica, e o objetivo de envolver diretamente eleitos pelos cidadãos da UE para representar os
um maior número de países europeus, levaram seus interesses, sendo a realização de eleições de cinco em
aos sucessivos alargamentos. Todos eles consti- cinco anos.
tuíram desafios para a própria Comunidade e para O Conselho Europeu, constituído pelos chefes de Estado
e de Governo, representa o mais alto nível de cooperação
os Estados aderentes.
política entre os Estados-membros. Nas suas reuniões, os
Em 2013 verificou-se a adesão de um único país, líderes decidem por consenso a direção e as prioridades polí-
mas os alargamentos ocorridos em 2004 e 2007, ticas gerais da UE.
pelo elevado número de novos Estados-membros A Comissão Europeia propõe legislação, políticas e pro-
gramas de ação, sendo responsável pela execução das deci-
envolvidos, representaram um desafio ainda
sões do Parlamento Europeu e do Conselho.
maior, nomeadamente no que se refere aos pro-
Adaptado de Compreender as Políticas da União Europeia – Como
cessos de decisão nas principais instituições da Funciona a União Europeia, Comissão Europeia, 2012
UE (Doc. 1).
O ALARGAMENTO A LESTE E ÀS ILHAS DE MALTA E CHIPRE
Até ao início da década de 90, seria impensável a adesão dos países da Europa de Leste (designação geo-
gráfica que contém uma conotação política: países comunistas), pelo simples facto de pertencerem ao
chamado «bloco comunista», países com um regime considerado antidemocrático e, por isso, incompatí-
vel com a cultura política da União Europeia, baseada na democracia. Acrescia, ainda, a organização eco-
nómica com grande intervenção do Estado. Com o desmoronamento dos regimes comunistas, o estreita-
mento das relações entre todos os países tornou possível a abertura da União Europeia a Leste (Doc. 1).

DOC. 1 A ABERTURA A ORIENTE E A SUL

Em 1990, imediatamente após a queda dos regimes comunistas, a União Europeia apoiou o processo de democratização
nos países ex-comunistas e prestou assistência financeira e técnica à medida que transitavam para economias de mercado. Em
meados dos anos 90, foram concluídos acordos comerciais que concediam aos países da Europa Central e Oriental o acesso pre-
ferencial ao mercado da União para a maior parte das suas exportações. Existem acordos semelhantes com Chipre e Malta, que
datam dos anos 70.
As negociações para a adesão propriamente ditas, que visavam acordar os termos segundo os quais os novos membros da
União assumiriam os direitos e responsabilidades decorrentes da adesão, realizaram-se entre 1998 e 2002. A data de adesão foi
fixada em 1 de maio de 2004.
Adaptado de União Europeia: o Maior Alargamento de Sempre, CE, 2007

A integração de novos Estados-membros depende de certas condições a cumprir antes da adesão. As


condições de adesão dizem respeito a aspetos políticos, económicos e jurídicos e foram definidas no
Conselho Europeu de Copenhaga, em 1993, que as designou como critérios de adesão. Estes aplicam-se
a todos os países candidatos e são os seguintes:
• critério político - o país candidato tem de possuir instituições estáveis que garantam a democra-
cia, o Estado de direito, os direitos humanos, o respeito pelas minorias e a sua proteção;
• critério económico – a economia do país candidato tem de ser uma economia de mercado com capa-
cidade para responder à pressão da concorrência e às forças do mercado dentro da União Europeia;
• critério jurídico – o país candidato tem de ser capaz de proceder à transposição, para o seu direito
interno, de todas as normas políticas comunitárias, e de estar em condições de assumir as suas
obrigações, incluindo a adesão aos objetivos de união política, económica e monetária.
Com base nestes critérios, a preparação da adesão da Roménia e da Bulgária foi prolongada até ao seu cum-
primento, em 2007 e, no caso da Turquia, as negociações de adesão só tiveram início em 2005 (Doc. 2).

DOC. 2 A TURQUIA: UMA ADESÃO PROBLEMÁTICA

Nos limites geográficos da Europa e da Ásia, a Turquia é, desde há alguns anos, o símbolo dos adiamentos/hesitações da
Europa. A perspetiva da sua adesão parece opor esquematicamente os que reivindicam as raízes cristãs da Europa e os que que-
rem fazer do continente o símbolo de um mundo de tolerância e de pluralismo. Na realidade, e sem ocultar a dimensão reli-
giosa e filosófica do debate, a perspetiva turca coloca outras questões à UE. Coloca, em primeiro lugar, a questão das frontei-
ras que os sucessivos alargamentos dos últimos vinte anos em muito alteraram. Coloca a questão dos valores, já que a Turquia
não é exemplo no que diz respeito aos direitos do Homem ou ao reconhecimento dos seus crimes passados. Finalmente, colo-
ca a questão do projeto europeu e das suas prioridades, assunto pouco evocado nos debates políticos nacionais.
Adaptado de La Nouvelle Revue Geopolitique, abril de 2013
ç

APOIOS COMUNITÁRIOS À ADESÃO

AOS PAÍSES DOS ALARGAMENTOS DE 2004, 2007 E 2013


O Conselho Europeu do Luxemburgo definiu em dezembro de 1997 uma Acervo comunitário :
estratégia de pré-adesão que previa: conjunto de leis e normas da UE
que cada país deve transpor
• a criação de parcerias de adesão, a celebrar com cada país, defi- para a sua legislação nacional.
nindo as prioridades nacionais de preparação para a adesão,
designadamente a adoção do acervo comunitário, e os meios financeiros para tal disponíveis;
• a definição de novos instrumentos de apoio técnico e financeiro à preparação dos países candida-
tos à adesão, de que se destacam:
– o IEPA – Instrumento Estrutural de Pré-adesão, destinado a financiar a convergência com as nor-
mas comunitárias de infraestruturas em matéria de transportes e ambiente;
– o SAPARD – Programa Especial para a Agricultura e o Desenvolvimento Rural, com vista a moder-
nizar as estruturas e os processos de produção agrícola desses países e a diversificação econó-
mica dos respetivos espaços rurais, de modo a promover a sua integração na PAC;
– o reforço do programa PHARE – Polónia e Hungria: Assistência para Recuperar a Economia desses
dois países, de modo a facilitar o cumprimento do critério económico.
Como Chipre e Malta não beneficiaram do PHARE, receberam uma ajuda de pré-adesão ao abrigo de um
regulamento específico do Conselho Europeu. Esta ajuda centrou-se no apoio aos processos de conver-
gência económica e de transposição e aplicação das normas comunitárias.

AOS PAÍSES CANDIDATOS E POTENCIAIS CANDIDATOS


DOC. 1 NOVA ESTRATÉGIA DE ALARGAMENTO
Foi definida uma nova «Estratégia de Alargamento
2001-2012», que avalia os progressos nos Balcãs Prioridades da estratégia de alargamento 2011 –
Ocidentais, na Turquia e na Islândia e anuncia as priori- 2012
dades futuras [Doc. 1]. No âmbito da sua estratégia de alargamento, a
Comissão prevê:
• consolidar o Estado de direito e a reforma da
Administração Pública;
As negociações de adesão desenvolvem-se de acordo • garantir a liberdade de expressão nos meios de
com regras bem definidas, baseadas na adoção e apli- comunicação social;
• reforçar a cooperação regional e a reconciliação nos
cação do acervo comunitário e dos objetivos políticos
Balcãs Ocidentais;
dos Tratados.
• apoiar a recuperação económica dos países candida-
A Turquia, a República da Macedónia, o Montenegro, a tos ou potenciais candidatos e incluir as suas econo-
Islândia, a Sérvia e os países potenciais candidatos mias no âmbito da estratégia Europa 2020;
beneficiam de uma estratégia de pré-adesão e de ins- • desenvolver as redes de transporte e de energia.
trumentos de apoio próprios. Adaptado de site oficial da UE, 2013

VERIFIQUE SE SABE
¸ Enumerar e localizar os Estados-membros da União Europeia e os países candidatos e potenciais candidatos.
¸ Enunciar os critérios de adesão.
¸ Indicar os principais instrumentos de apoio à adesão, nos dois últimos alargamentos e para os países candidatos e
potenciais candidatos.
OS DESAFIOS E AS OPORTUNIDADES DO ALARGAMENTO
A dimensão do alargamento de 2004 e 2007, no seu
conjunto, levantou várias questões (Doc. 1). DOC. 1 DÚVIDAS E RECEIOS
Porém, na realidade, tratou-se de um passo crucial Alguns cidadãos da União preocuparam-se com a
para a construção da União Europeia à escala con- eventualidade de os seus postos de trabalho serem amea-
tinental, tendo representado oportunidades e de- çados caso os novos cidadãos da União, dispostos a tra-
safios, tanto a nível comunitário como dos seus balhar por salários relativamente baixos, invadissem em
grande número os atuais países da União. E o que fazer
Estados-membros.
no caso de as empresas transferirem as unidades de pro-
dução para os novos Estados-membros?
Nos novos países da União, os cidadãos questiona-
¸ O grande aumento da dimensão territo- vam-se, por vezes, se as suas economias seriam capazes
Oportunidades

rial e demográfica.
¸ A expansão do Mercado Único, que pas-
de enfrentar a concorrência das empresas ocidentais ou se
os seus agricultores poderiam sobreviver ao concorrerem
sou de cerca de 370 milhões para quase com os agricultores que, durante anos, receberam o apoio
500 milhões de consumidores.
¸ O reforço da posição da União no con-
da política agrícola da União.
A nível político, os cidadãos da União Europeia inter-
texto político internacional e no merca-
do mundial. rogavam-se sobre se um alargamento desta envergadura
não iria atrasar a integração europeia ou enfraquecer as
atuais realizações.
¸ O empobrecimento registado a nível Todas estas questões e muitas outras dúvidas foram
comunitário, pois na maioria dos novos tratadas durante as negociações de adesão e nas ações
Desafios

países-membros, o PIB por habitante era práticas realizadas durante esse período. Além disso, o
bastante inferior à média comunitária. próprio alargamento proporcionará um maior crescimento
¸ Passou a existir maior heterogeneidade económico e uma maior prosperidade, promovendo, deste
económica, social e cultural, que exige modo, uma evolução positiva.
maiores esforços de conciliação de inte-
Adaptado de União Europeia: o Maior Alargamento de Sempre,
resses, na procura de consensos e na
CE, 2007
tomada de decisões.

Outro desafio é a adaptação das políticas comunitárias e da composição e funcionamento das institui-
ções. Os esforços de adaptação institucional iniciaram-se com o Tratado de Amesterdão, tendo sido
aprofundados com o Tratado de Nice e concluíram-se com o Tratado de Lisboa.
As principais alterações introduzidas pelo Tratado de Lisboa relacionam-se com o funcionamento das
instituições e pretendem, sobretudo, tornar os processos de decisão mais fáceis e rápidos. Assim:
• surge o cargo de presidente da União Europeia, com um mandato de dois anos e meio e possibilidade de
uma reeleição até um máximo de cinco anos, em substituição das presidências semestrais rotativas;
• passa a existir um «alto representante da União Europeia para a Política Externa e de Segurança», que
coordena a diplomacia da União e que, ao mesmo tempo, é vice-presidente da Comissão Europeia;
• a partir de 2014, as decisões no Conselho da União Europeia serão tomadas segundo o princípio da
chamada «dupla maioria» – 55% dos países, representando pelo menos 65% da população, em vez
da divisão de votos por país criada no Tratado de Nice (2001);
• o número de assentos no Parlamento Europeu passa de 785 para 751, sendo a repartição dos lugares
feita pelo princípio da proporcionalidade degressiva, ou seja, países de menor dimensão estão, propor-
cionalmente à sua população, mais fortemente representados do que países maiores. O limite de 751
deputados será mantido mesmo com a adesão de novos países, obrigando a uma nova repartição.
ç

OS DESAFIOS E AS OPORTUNIDADES DO ALARGAMENTO PARA PORTUGAL


Com o alargamento, Portugal enfrentou também novos desafios. Geograficamente, tornou-se mais
periférico e desde logo viu reduzidos os fundos estruturais, já que a média comunitária do PIB por habi-
tante baixou e algumas regiões portuguesas situam-se, agora acima dela. Além disso, passou a enfren-
tar maior concorrência nas exportações e na captação de investimento estrangeiro, pois os novos
Estados-membros têm algumas vantagens competitivas:
• encontram-se, de um modo geral, mais perto dos países da UE com maior poder de compra;
• dispõem de mão de obra mais instruída e qualificada e, em alguns casos, com remuneração média
inferior;
• alguns desses países apresentam uma maior produtividade do trabalho.
Mas como têm economias menos desenvolvidas, Portugal detém algumas vantagens.

Desvantagens face aos novos Vantagens face aos novos


Estados-membros Estados-membros

¸ A maioria tem uma posição geográfica mais cen- ¸ Melhores infraestruturas e estruturas produ-
tral, mais próxima dos países da União Europeia tivas mais organizadas.
com maior poder de compra. ¸ Maior desenvolvimento social.
¸ Alguns desses países apresentam uma maior pro- ¸ Maior estabilidade política e económica;
¸ Integração na Zona Euro.
dutividade do trabalho e mão de obra tendencial-

¸ Um sistema bancário mais eficiente e credível.


mente mais barata e mais instruída e qualificada.

Para vencer o desafio, há que aproveitar as opor-


tunidades e mais-valias do alargamento:
DOC. 1 O MAIOR MERCADO COMUM DO MUNDO
• maior possibilidade de internacionalização
A UE é a primeira potência comercial do mundo, repre-
da economia portuguesa e alargamento do
sentando 20% das importações e exportações mundiais. O
potencial mercado consumidor de produtos comércio livre entre os países da União Europeia é um dos
portugueses; princípios fundadores desta, que está também empenhada
• participação no maior mercado comum do na liberalização do comércio a nível mundial.
mundo, que abre oportunidades a Portugal, Trata-se do maior exportador mundial de bens e serviços
tanto na Europa como a nível mundial (Doc. 1); e do maior mercado de importação para mais de 100 países.
• com o alargamento da União Europeia, o papel Adaptado do site da União Europeia
(http://europa.eu/pol/comm/index_pt.htm), 15 de janeiro de 2014
de Portugal como interlocutor dos países da
CPLP junto da Comunidade ganha maior relevo.

O alargamento à Croácia e previsto para outros países virá também colocar novos desafios e oferecer
novas oportunidades à União Europeia e a Portugal.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Enumerar e localizar os Estados-membros da União Europeia e os países candidatos e potenciais candidatos.
¸ Enunciar os critérios de adesão.
¸ Indicar os principais instrumentos de apoio à adesão, nos dois últimos alargamentos e para os países candidatos e
potenciais candidatos.
A VALORIZAÇÃO AMBIENTAL EM PORTUGAL E A POLÍTICA COMUNITÁRIA DO AMBIENTE

A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA DO AMBIENTE


A política ambiental da União Europeia foi surgindo, em muitos casos, como resposta a problemas que se
levantaram em áreas como os recursos hídricos, a agricultura, os transportes, as cidades, etc. Atual-
mente, a União Europeia é o espaço político com as normas ambientais mais exigentes do mundo e, ao
mesmo tempo, está na dianteira da proteção ambiental, no que respeita às decisões que são tomadas a
nível mundial (Doc. 1).

DOC. 1 PROTEÇÃO AMBIENTAL, UMA MISSÃO SEMPRE INCOMPLETA!

O Relatório do Estado do Ambiente (REA), apresentado anualmente desde 1987, como determina a Lei de Bases do
Ambiente (LBA), tem cumprido o importante papel de reportar regularmente o estado das pressões e respostas ambientais em
Portugal, sendo o documento de referência da evolução do ambiente nas últimas duas décadas e meia.
Tem vindo a ser produzida, por várias entidades, informação estatística com relevância ambiental, verificando-se uma evo-
lução nesse sentido do sistema estatístico europeu, assim como o Instituto Nacional de Estatística, I.P. (INE) que desde 1993
vem produzindo Estatísticas do Ambiente.
Adaptado de Relatório do Estado do Ambiente 2012, Agência Portuguesa do Ambiente, I.P., 2012

Em Portugal, a Política do Ambiente é relativamente recente – a Lei de Bases do Ambiente data de 1987
– e enquadra-se nas preocupações e opções da União Europeia. Atualmente, todo o acervo comunitário
em matéria ambiental está transposto para a legislação nacional.
As primeiras medidas comunitárias no domínio ambiental datam de finais dos anos 60. Nas duas décadas
seguintes, a legislação ambiental comunitária centrou-se, sobretudo, na definição de normas em matéria de
produção de resíduos e de poluição do ar e da água, adotando uma perspetiva setorial do problema.
Nos anos 90, começaram a ser delineadas estratégias mais abrangentes, valorizando-se cada vez mais
o domínio ambiental e, por fim, transformando-se as medidas setoriais numa verdadeira Política do
Ambiente. Os passos fundamentais foram dados:
• pelo Tratado de Maastricht, que conferiu às ações no domínio ambiental o estatuto de política
comunitária e definiu os seus principais objetivos:
– preservação, proteção e melhoria da qualidade do ambiente;
– proteção da saúde das pessoas;
– utilização prudente e racional dos recursos naturais;
– promoção, no plano internacional, de medidas para enfrentar os problemas globais;
• pelo Tratado de Amesterdão, que colocou o princípio do desenvolvimento sustentável e a obtenção
de um nível elevado de proteção ambiental entre as principais prioridades da política comunitária.
Os Programas de Ação em Matéria de Ambiente (PAA) têm orientado o desenvolvimento da política
ambiental da União Europeia desde o início dos anos 70. Concluído o sexto programa de ação em 2012, a
Comissão Europeia propôs um programa sucessor. O novo programa apresenta um quadro global para a
política ambiental até 2020, identificando nove objetivos prioritários. Entre os objetivos encontram-se
os de tornar a União uma economia hipocarbónica, eficiente na utilização dos recursos, verde e compe-
titiva; aumentar a sustentabilidade das cidades da União e melhorar a eficácia da União na confronta-
ção dos desafios ambientais à escala regional e mundial.
ç

POLÍTICA DO AMBIENTE EM PORTUGAL


Portugal, como Estado-membro da União Europeia, tem de acompanhar e dar concretização às grandes
opções comunitárias no âmbito da política ambiental. Para isso:
• foi elaborado um quadro legislativo, em matéria de ambiente, que respeita o Direito Internacional,
e fez-se a transposição das diretivas e normas comunitárias;
• em 1990 foi criado o Ministério do Ambiente, mais tarde associado às Cidades e ao Ordenamento do
Território – Ministério das Cidades, do Ordenamento do Território e do Ambiente;
• foram também criadas as Direções Regionais do Ambiente e Ordenamento do Território;
• em 2006 foi constituída a Agência
Portuguesa do Ambiente, que tem por
1000 80

ISO 14001 (n.o total de empresas)


missão propor, desenvolver e acom-

EMAS (n.o total de organizações)


70
panhar a execução das políticas de 800
60
ambiente, exercendo também as fun-
ções de Autoridade Nacional de Ava- 600 50

liação de Impacte Ambiental; 40

• os recursos financeiros aplicados no 400 30


ambiente têm vindo a aumentar e, 20
200
em parte, são aplicados no âmbito de 10
programas comunitários; 0 0
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11
• a integração da gestão ambiental nos
Fonte: Relatório do Estado da Agência Portuguesa do Ambiente, I.P. 2010, APA, 2012
sistemas de gestão global das empre-
FIG. 1 Empresas e organizações com sistemas de gestão ambiental certificados
sas e organizações também tem au- pelas normas ISO 14001 e EMAS, em Portugal
mentado (Fig. 1).
Para o período de 2007-2013, a política ambiental, nacional e comunitária, é definida de forma integrada
com as outras políticas comuns. Procura-se, assim, que a preocupação ambiental esteja presente em
todos os domínios, de modo a que as metas relativas ao ambiente sejam mais facilmente alcançadas.
Para além dos esforços efetuados e dos progressos registados, há a registar a importância que é dada
ao princípio do desenvolvimento ambiental nas políticas nacionais, como é exemplo a Estratégia
Nacional de Desenvolvimento Sustentável 2015, que é um instrumento de orientação estratégica para o
processo de desenvolvimento do país, numa perspetiva de sustentabilidade. Defende que o progresso
depende do respeito pelo ambiente, assim como a proteção ambiental promove o desenvolvimento cien-
tífico e tecnológico e, deste modo, o desenvolvimento económico (Doc. 1).

DOC. 1 VALORIZAR O AMBIENTE PARA GARANTIR A SUSTENTABILIDADE

Nos últimos anos, Portugal tem vindo a assumir, com determinação, o desafio da modernização e da adaptação ao con-
texto competitivo global em que se quer afirmar, num quadro de desenvolvimento económico, social e ambiental sustentável.
Entre os seus objetivos encontra-se um que é fundamental para o futuro nacional – o terceiro objetivo: Melhor Ambiente e
Valorização do Património, que visa assegurar um modelo de desenvolvimento que integre, por um lado, a proteção do
ambiente, com base na conservação e gestão sustentável dos recursos naturais, por forma a que o património natural seja evi-
denciado como fator de diferenciação positiva e, por outro, o combate às alterações climáticas que, sendo em si mesmo um
desafio para diversos setores da sociedade, deve ser encarado como uma oportunidade para promover o desenvolvimento sus-
tentável. Tem-se em vista, também, a preservação e valorização do património construído.
Adaptado de Estratégia Nacional para o Desenvolvimento Sustentável 2015, Resolução do Conselho de Ministros n.º 109/2007, de 30 de junho
PRIORIDADES DA POLÍTICA DO AMBIENTE NA UNIÃO EUROPEIA
Tradicionalmente, considerava-se que o crescimento económico se associava a impactes ambientais e
que as normas de respeito pelo ambiente implicavam menor crescimento económico. Com o desenvol-
vimento científico e tecnológico ligado às áreas ambientais, cada vez se torna mais claro que é possível
dissociar o crescimento económico da degradação ambiental, através da aplicação de medidas que per-
mitem desenvolver as atividades económicas sem aumentar, ou mesmo fazendo diminuir, a pressão
sobre o ambiente.
A política ambiental comunitária, que se reflete também a nível nacional, traduz essa preocupação,
nomeadamente novos programas de ação da União Europeia para 2020 «Viver bem, dentro das limita-
ções do nosso planeta». Assim, e em resposta aos grandes problemas ambientais que mais preocupam
o mundo atual, definiu um conjunto de prioridades e objetivos.

Objetivos prioritários:
1.o Proteger, conservar e reforçar o capital natural da UE.
Prioridades temáticas 2.o Tornar a UE uma economia hipocarbónica, eficiente na utilização dos recur-
sos, verde e competitiva.
3.o Proteger os cidadãos da UE contra pressões de caráter ambiental e riscos
para a saúde e o bem-estar.

Objetivos prioritários:
4.o Maximizar os benefícios da legislação da UE relativa ao ambiente.
Quadro de viabilização 5.o Melhorar a fundamentação da política de ambiente.
6.o Assegurar investimentos para a política relativa ao ambiente e ao clima e
determinar corretamente os preços.
7.o Melhorar a integração e a coerência das políticas no domínio do Ambiente.

Objetivos prioritários:
Enfrentar os
problemas locais, 8.o Aumentar a sustentabilidade das cidades da UE.
regionais e mundiais 9.o Melhorar a eficácia da UE na confrontação dos problemas ambientais e climá-
ticos à escala regional e mundial.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Enunciar as principais etapas na construção da Política do Ambiente na União Europeia.
¸ Explicar como se processou, em Portugal, a integração na Política do Ambiente comunitária, assinalando os principais
progressos conseguidos nesse domínio.
¸ Enumerar os domínios prioritários de intervenção definidos no Sexto Programa de Ação em Matéria de Ambiente.
¸ Explicitar as finalidades para cada um desses domínios prioritários de intervenção.
ç

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
As alterações climáticas constituem um desafio importante já na atualidade e para todo o novo século.
O objetivo, a longo prazo, da União Europeia é evitar que a temperatura global aumente mais de dois
graus acima do nível da era pré-industrial. Isso significa, de acordo com a Agência Europeia do Ambiente,
que, até 2050, o mundo tem de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa pelo menos 15%.
A União Europeia cumpriu o compromisso Índice (1990=100)
105
assumido no protocolo de Quioto de, em
2000, estabilizar as emissões de CO2, em 100

níveis aproximados aos de 1990, apesar de 95

alguns Estados-membros os terem ultrapas- 90


sado. A União Europeia acordou em conseguir 85
uma redução de pelo menos 20% nas emis- 80
sões de gases com efeito de estufa da União 75
até 2020, apontando para uma possível redu-
70

2004
2000

2005
2006

2008
2009

2014
2002
2003

2010

2020
2001

2007

2018
2015
1990

2016
2013

2019
1995
1996

1998

2012
1999

2011

2017
1997
ção de 30%, no caso de outros países desen-
volvidos se comprometerem a reduções com-
UE-28 Objetivo 2020
paráveis nas suas emissões e de os países em Fonte: Eurostat, 2013
desenvolvimento contribuírem segundo as FIG. 1 Evolução das emissões de gases com efeito de estufa, na UE-15 e na UE-28.

suas responsabilidades e capacidades (Fig. 1).


A nível comunitário e nacional, têm sido adotadas várias medidas que visam diminuir as emissões de
gases com efeito de estufa e, assim, reduzir o risco de agravar o aquecimento da atmosfera que, como
se começa a constatar, tem consequências reais sobre os padrões climáticos (Doc. 1).

Algumas medidas já adotadas DOC. 1 ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS


NO ECOSSISTEMA ALPINO

O impacte das alterações climáticas sobre os


¸ Financiamento de projetos que visam otimizar a serviços ecossistémicos alpinos vai além dos
produção de energia a partir de fontes não efeitos sobre as reservas de água potável. Por
poluentes e viabilizar a sua distribuição e utiliza- cada 1 ºC de aumento da temperatura, o limite
ção.
¸ Desenvolvimento de novos veículos impulsiona-
da neve sobe cerca de 150 metros.
Assim, haverá menos neve a altitudes mais
dos a eletricidade ou outra forma de energia não
poluente. baixas. Por outro lado, as espécies vegetais estão
¸ Desenvolvimento de estruturas urbanas que con- a deslocar-se para norte e para cima. Plantas
somem menos energia e reduzem a utilização de que se adaptaram ao frio estão a ser expulsas do
transportes rodoviários. seu habitat natural em consequência da subida
¸ Apoio técnico e financeiro às empresas no senti- da temperatura. No final do século XXI, as espé-
do de reduzirem e otimizarem o consumo de cies vegetais europeias poderão ter-se desloca-
energia, para diminuírem as emissões de gases. do centenas de quilómetros para norte e 60%
¸ Criação de sistemas de monitorização da quali- das espécies vegetais de montanha poderão
dade do ar, que permitem identificar os proble- estar em risco de extinção.
mas, facilitando a sua resolução.
¸ Elaboração do Programa Europeu para as Altera-
Adaptado de Sinais da AEA 2012 – Biodiversidade,
Alterações Climáticas e Você, Agência Europeia do
ções Climáticas que enquadra a estratégia e Ambiente, 2013
ações da União Europeia neste domínio.
NATUREZA E BIODIVERSIDADE
A União Europeia está empenhada em travar a
perda de biodiversidade dentro das suas frontei- DOC. 1 PROTEGER A BIODIVERSIDADE
ras (Doc. 1). Colabora também com as Nações A Estratégia de Biodiversidade para 2020 inclui seis
Unidas, no sentido de conseguir uma redução sig- metas que contribuirão para travar a perda de biodiversidade
nificativa da perda de biodiversidade a nível mun- e a degradação dos serviços ecossistémicos. Cada uma procu-
dial. A temática da biodiversidade tem vindo a ser ra abordar uma questão específica: proteção e recuperação
tratada desde há vários anos. O Sexto Programa da biodiversidade e dos serviços ecossistémicos associados
(metas 1 e 2), reforço da contribuição positiva da agricultura
de Ação em Matéria de Ambiente para este domí-
e das florestas, redução de pressões-chave sobre a biodiversi-
nio definiu como objetivos: dade da UE (metas 3, 4 e 5) e intensificação do contributo da
• proteger e, se necessário, restaurar a estru- UE para a biodiversidade global (meta 6). Para cada meta foi
tura e o funcionamento dos sistemas natu- definido um conjunto de ações.
rais; Adaptado de Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao
• deter a perda da biodiversidade, na União Conselho, ao Comité Económico e Social Europeu e ao Comité das Regiões
– «Our life insurance, our natural capital: an EU biodiversity
Europeia e à escala mundial; strategy to 2020», 2011
• proteger os solos da erosão e da poluição;
• proteger as águas marinhas e as espécies
piscícolas ameaçadas.

O novo Programa de Ação em Matéria de Ambiente, aprovado em 2012, tem em conta diferentes iniciati-
vas estratégicas, entre as quais a estratégia da UE relativa à Biodiversidade para 2020. Esta especifica,
entre outros aspetos, que a plena aplicação das Diretivas Aves e Habitats é fundamental para a preven-
ção de maiores perdas e para o restabelecimento da biodiversidade na UE (Fig. 1).
Em Portugal, em 2001, foi aprovada a
Estratégia Nacional de Conservação da Área terrestre (%) Área marinha (milhares de ha)
35 2000
Natureza e da Biodiversidade (ENCNB),
1800
que definiu como principais objetivos: 30
1600
• conservar a Natureza e a diversidade
25 1400
biológica, incluindo os elementos
1200
notáveis da geologia, geomorfologia 20
1000
e paleontologia; 15 800
• promover a utilização sustentável
10 600
dos recursos biológicos;
400
• contribuir para a prossecução dos 5
200
objetivos dos processos de coopera-
Luxemburgo

Chipre

Reino Unido
Eslovénia
Bulgária
Espanha
Estónia
Grécia
Hungria
Itália
Suécia
Roménia
Finlândia
Malta
Eslováquia
Letónia
Áustria
Irlanda
Bélgica
Alemanha
Lituânia
Rep. Checa
Polónia
França
Holanda
Dinamarca
Portugal

0 0
ção internacional na área de conser-
vação da Natureza, nomeadamente
da Convenção sobre Diversidade
Fonte: Comissão Europeia, 2007
Biológica.
FIG. 1 Superfície protegida ao abrigo da diretiva Habitat, em 2007, na UE-27.

Até junho de 2012, segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, cerca de 22% da superfície terrestre de
Portugal Continental encontrava-se classificada no âmbito da Rede Nacional de Áreas Protegidas e da
Rede Natura 2000.
ç

AMBIENTE, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA


A poluição ambiental, nas suas múltiplas vertentes, tem reflexos na saúde e na qualidade de vida. A
prová-lo está o aumento de doenças do aparelho respiratório, de alergias, de cancros, de problemas dos
sistemas endócrino e reprodutivo, etc. (Doc. 1).

DOC. 1 AMBIENTE, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA Incidência do ozono em Bruxelas, 27 de julho de 2008

Na globalidade, o relatório de avaliação da Agência europeia do


Ambiente – SOER 2010 confirma que a política ambiental na União
Europeia e nos países vizinhos conduziu a uma melhoria substancial do
ambiente. Contudo, os principais desafios permanecem. É cada vez mais
evidente que o capital natural dos ecossistemas é essencial para a nossa
saúde, bem estar e prosperidade.
A poluição da água e a poluição atmosférica diminuíram. Houve pro-
gressos notáveis na redução dos níveis de dióxido de enxofre (SO2) e
monóxido de carbono (CO) no ar ambiente, bem como reduções significa-
tivas nos óxidos de nitrogénio (NOx). As concentrações de chumbo tam-
bém diminuíram consideravelmente. Muito alto
Contudo, a qualidade do ar ambiente e da água continua a ser insu- Alto
Moderado
ficiente e os impactos sobre a saúde generalizaram-se. A exposição a par- Ligeiro
Baixo
tículas atmosféricas (PM) e ao ozono (O3) continua a ser um dos proble-
mas de saúde mais graves, sobretudo nas cidades.
Associam-se-lhes a diminuição da esperança média de vida, consequências respiratórias e cardiovasculares graves e cró-
nicas e o nascimento de crianças com desenvolvimento insuficiente dos pulmões e peso reduzido à nascença. A exposição pro-
longada a inúmeros poluentes e químicos e a preocupação com as consequências para a saúde humana a longo prazo exigem
que se adotem programas de prevenção da poluição em larga escala.
O Ambiente na Europa — Situação Atual e Perspetivas 2010, UE 2013

Como parte integrante da Estratégia Temática sobre Poluição Atmosférica, no âmbito do Sexto Programa
de Ação em Matéria de Ambiente, em 2008, foi aprovada a nova Diretiva CAFE, Clean Air for Europe, relativa
à qualidade do ar ambiente. Foram definidos limites obrigatórios para as emissões de partículas microscó-
picas, conhecidas por PM 2.5, que são libertadas pelos automóveis e camiões e podem causar doenças res-
piratórias, estabelecendo como meta para 2020 que os Estados-membros reduzam, em média, cerca de
20% a exposição a estas partículas poluentes nas áreas urbanas, face aos níveis de 2010.
Para além da qualidade do ar que respiramos, há outros domínios ambientais que interferem com a
saúde e a qualidade de vida, tal como os meios hídricos, a produção de alimentos, a exposição ao ruído,
etc. O Plano de Ação Ambiente e Saúde identifica 13 ações, entre as quais se contam iniciativas destina-
das a melhorar os conhecimentos sobre a relação entre o ambiente e a saúde e a determinar a forma
como a exposição ambiental provoca efeitos epidemiológicos.
Em Portugal, apesar dos problemas que persistem, tem-se verificado um desenvolvimento da proteção
ambiental e da saúde, com a implementação de medidas como:
• a monitorização da qualidade do ar e da água para consumo;
• o alargamento dos sistemas de drenagem e tratamento de águas residuais e de resíduos;
• a aplicação das normas ambientais introduzidas pela PAC e pela política comunitária dos transportes;
• a definição de estratégias no âmbito da proteção ambiental e da relação ambiente e saúde;
• a elaboração do Plano Nacional de Ação Ambiente e Saúde, que pretende promover um maior
conhecimento e intervenção no domínio da relação ambiente e saúde humana.
RECURSOS NATURAIS E RESÍDUOS
A crescente procura de recursos naturais tem vindo a alterar o ambiente de uma forma que pode reve-
lar-se irreversível. A própria extração ou recolha dos recursos naturais tem impactes ambientais.
A extração de minerais provoca a poluição dos solos, da água e da atmosfera. As árvores absorvem car-
bono e diminuem assim o nível de gases com efeito de estufa, presentes na atmosfera. Por conse-
guinte, o seu abate sem substituição não só prejudica o nosso habitat natural como agrava também as
alterações climáticas. Assim, as ações no domínio da proteção dos recursos naturais e da redução do
impacte da sua exploração é muito importante (Doc. 1).

DOC. 1 GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS

As ações a realizar são:


• elaboração de uma estratégia para a gestão sustentável dos recursos, que defina prioridades e promova a redução do
consumo;
• fiscalização da utilização dos recursos; eliminação das subvenções (ajudas financeiras) que promovem a utilização
excessiva dos recursos;
• aplicação do princípio da utilização eficaz dos recursos na política integrada de produtos e nos sistemas de atribui-
ção do rótulo ecológico, de avaliação ambiental, etc.
Adaptado de Sexto Programa de Ação em Matéria de Ambiente, UE, 2013.

Neste domínio, a política da União Europeia tem como objetivos prioritários:


• assegurar que o consumo de recursos naturais e os seus impactes não excedam a capacidade de
carga do ambiente;
• dissociar o crescimento económico da utilização de recursos naturais, através de uma maior efi-
ciência no seu aproveitamento e, sempre que possível, na sua reutilização.
Para concretizar esses objetivos, a Estratégia Temática sobre a Utilização Sustentável dos Recursos
Naturais, de 2005, cria um quadro de ação que visa reduzir a pressão ambiental, sem penalizar o desen-
volvimento. Esta redução deve incidir em cada etapa do ciclo de vida dos recursos – a extração ou reco-
lha, a utilização e a sua eliminação final. A estratégia visa integrar esta noção de ciclo de vida e impacte
dos recursos em todas as políticas relacionadas com este domínio, de modo a reduzir a extração, otimi-
zar a utilização e reutilização e melhorar o tratamento ou eliminação final (Doc. 2).

DOC. 2 CICLO DE VIDA

As políticas ambientais baseiam-se cada vez mais no conceito de ciclo de vida. Uma abordagem que identifica os impactes
ambientais negativos gerados pela utilização dos recursos e da energia ao longo da sua vida e determina a sua importância relativa.
A Estratégia Temática sobre a Utilização Sustentável dos Recursos Naturais é um bom exemplo de como essa abordagem,
por tomar em consideração todo o ciclo de vida do recurso, impede que os impactes sejam transferidos de uma fase do ciclo
de vida para outra, de um local para outro ou de um meio para outro. Se os impactes globais e acumulados forem considera-
dos elos de uma cadeia de causa e efeito, será possível definir políticas eficazes tanto em termos de proteção do ambiente
como de rentabilidade económica.
Adaptado de Consumo e Gestão Sustentáveis, AEA, 2008

Em Portugal, com vista a uma utilização sustentável dos recursos naturais, foram elaborados, diversos
planos de que são exemplos: Plano Nacional da Água, Planos de Ordenamento das Bacias Hidrográficas,
Planos de Ordenamento das Albufeiras, Plano Estratégico de Desenvolvimento da Floresta Portuguesa,
Planos de Ordenamento da Orla Costeira e Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas.
Associada à exploração e utilização dos recursos naturais está a produção de resíduos que tem vindo a
aumentar, mas evidencia sinais de estabilização ou mesmo alguma redução.
ç

Os resíduos libertam poluentes que contaminam solos,


águas e ar, incluindo gases com efeito de estufa. São tam- DOC. 3 REDUZIR OS RESÍDUOS
bém um desperdício de recursos naturais. Há um elevado potencial de aperfeiçoamen-
A política comunitária dá prioridade à prevenção da produ- to da gestão dos resíduos na UE, no sentido de
melhorar a utilização dos recursos, abrir novos
ção de resíduos, à sua recuperação (reutilização, recicla-
mercados, criar novos postos de trabalho e
gem e recuperação energética) e incineração e, como últi- reduzir a dependência das importações de
mo recurso, a deposição em aterros (Doc. 3). matérias-primas, exercendo simultaneamente
% menos impactes no ambiente.
Em Portugal a
60 Anualmente, são produzidas na UE 2,7 mil
prevenção da pro- milhões de toneladas de resíduos, onde se
Total de resíduos urbanos 2011

50 dução de residuos incluem 98 milhões de toneladas de resíduos


e a sua recupera- perigosos. Em média, apenas 40% dos resíduos
40
ção são também sólidos são reutilizados ou reciclados, seguindo
30 uma preocupação o restante para aterros ou incineração. Em
(Fig. 1). alguns Estados-membros a reciclagem de resí-
20 duos ultrapassa os 70%, demonstrando que
estes poderiam ser aproveitados como um dos
10 principais recursos da UE.
Adaptado de Decisão do Parlamento Europeu e do Conselho
0 relativa a um programa geral de ação da União para 2020
Aterro Valorização Valorização Recolha em matéria de ambiente, «Viver bem, dentro das limitações
energética orgânica seletiva do nosso planeta», 2012
Fonte: APA, I.P., 2012
FIG. 1 Destino dos resíduos, em Portugal.

Em Portugal, foram elaborados o Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU II 2007-
2016) e o Plano Nacional de Prevenção de Resíduos Industriais (PNPRI), com objetivos que se enquadram
nas metas comunitárias.
No que respeita aos resíduos sólidos urbanos DOC. 4 DESTINO DOS RESÍDUOS INDUSTRIAIS
(RSU), o PERSU define:
• estratégias de redução da sua produção; No que diz respeito aos resíduos industriais, e particular-
mente para os resíduos industriais perigosos, a linha de atuação
• medidas de valorização dos resíduos
a nível nacional tem sido centrada na prevenção da produção,
(através da sua recuperação);
na promoção e desenvolvimento das opções de reutilização e
• medidas para a redução de resíduos urba- reciclagem, garantindo um nível elevado de proteção da saúde
nos biodegradáveis (RUB) depositados em e do ambiente, na promoção da eliminação do passivo ambien-
aterros – Estratégia Nacional de Redução tal e no desenvolvimento da autossuficiência do país em maté-
dos Resíduos Biodegradáveis. ria de gestão de resíduos.
A estratégia nesta área passa pela divulgação das Melhores
Relativamente aos resíduos industriais (RI), o Tecnologias Disponíveis (MTD) e pela criação de um Mercado
PNPRI define uma estratégia de redução, sepa- Organizado de Resíduos.
ração na origem e valorização (Doc. 4). Adaptado de Relatório do Estado do Ambiente 2007, APA, 2008

VERIFIQUE SE SABE
¸ Indicar os principais instrumentos da Política do Ambiente da União Europeia, para cada um dos domínios prioritários
de intervenção, definidos no Sexto Programa de Ação em Matéria de Ambiente.
¸ Enunciar os principais objetivos da política ambiental para cada um desses domínios.
¸ Enumerar medidas adotadas ou a adotar no âmbito de cada domínio prioritário de intervenção.
¸ Caracterizar a política ambiental nacional, contextualizando-a no âmbito comunitário.
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
Atualmente, assiste-se a um crescente interesse
pela proteção ambiental e ao desenvolvimento de DOC. 1 PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR
uma consciência de cidadania que compreende
O presente decreto-lei aplica-se aos danos ambientais,
que o ambiente é de todos e não tem fronteiras. bem como às ameaças iminentes desses danos, causados
Também já ninguém duvida que o desenvolvimento em resultado do exercício de uma qualquer atividade desen-
económico e social, para ser duradouro, implica a volvida no âmbito de uma atividade económica.
preservação do património ambiental. Responsabilidade objetiva
Quem, em virtude do exercício de uma atividade econó-
Os esforços no domínio da educação ambiental con-
mica, ofender direitos ou interesses alheios por via da lesão
tribuem para que, cada vez mais, se interiorize o de um qualquer componente ambiental é obrigado a repa-
entendimento de que a preservação ambiental é rar os danos resultantes dessa ofensa, independentemente
uma responsabilidade de todos. É precisamente da existência de culpa ou dolo.
neste contexto que surge a Diretiva Responsabi- Responsabilidade subjetiva
lidade Ambiental: prevenção e reparação de danos Quem, com dolo ou mera culpa, ofender direitos ou
interesses alheios por via da lesão de um componente
ambientais, em 2004 (Doc. 1).
ambiental fica obrigado a reparar os danos resultantes
Em Portugal, o Diploma da Responsabilidade Am- dessa ofensa.
biental (Decreto-Lei n.o 147/2008) estabelece o As obrigações decorrentes dos artigos anteriores são apli-
regime jurídico da responsabilidade por danos cáveis aos danos causados em virtude de uma lesão ambien-
ambientais e transpõe para a ordem jurídica tal causada por poluição de caráter difuso quando seja possí-
vel estabelecer um nexo de causalidade entre os danos e as
nacional a Diretiva atrás referida.
atividades lesivas.
Adaptado de Decreto-Lei n.º 147/2008, de 29 de julho

Existem vários sinais de que se registou uma evolução muito positiva relativamente à responsabilidade
ambiental:
• um número crescente de organizações e empresas com sistemas de gestão ambiental certificados;
• utilização de sistemas de rotulagem ecológica, de adesão voluntária, baseados em critérios
ambientais;
• maior participação dos cidadãos na discussão dos problemas e na manifestação das suas preocu-
pações e anseios relativamente à preservação ambiental, o que influencia cada vez mais as deci-
sões políticas;
• maior abertura por parte dos organismos de decisão e criação de mecanismos que regulam a par-
ticipação na discussão dos problemas e obrigam à consulta pública antes da tomada de decisões;
• desenvolvimento da responsabilidade social das empresas, conceito relacionado com a integração
voluntária de preocupações sociais e ambientais nas suas operações;
• na União Europeia, antes da adoção de uma nova proposta sobre o ambiente, todos os organismos
(Estados-membros, grupos de interesse, ONGA, especialistas, etc.) são envolvidos na decisão;
• em Portugal, as decisões importantes e os documentos que as formalizam, como os planos atrás
mencionados, são colocados em discussão pública antes da sua aprovação.
ç

AS REGIÕES PORTUGUESAS E A POLÍTICA REGIONAL DA UNIÃO EUROPEIA

DESIGUALDADES PERSISTENTES
N Canárias (E)
Os progressos económicos e sociais, Guadalupe (F)
Martinica (F)
ao longo das várias décadas de cons- Reunião (F)
trução da União Europeia, fizeram da Guiana (F)
Comunidade um espaço de cresci-
mento económico sustentado. No
entanto, ainda persistem grandes Açores (P)
desigualdades entre os diferentes
países e, a nível nacional, entre as
várias e regiões (Fig. 1).
Madeira (P)
As desigualdades económicas refle-
tem-se a nível social. Por exemplo, o
risco de pobreza – percentagem de PIB/hab (PPC) UE 27=100
<50
habitantes com rendimento inferior 50 - <75
75 - <100
a 60% do rendimento médio nacional 0 1000 km 100 - <125
>125
– é diferente nos vários países, verifi-
Fonte: Eurostat, 2014
cando-se uma distinção até ao nível FIG. 1 PIB por habitante em paridade de poder de compra (PPC), por NUTS II da UE, em 2013.
dos indivíduos (Figs. 2, 3 e 4).
%
30

Bélgica
Bulgária
República Checa 25
Dinamarca
Alemanha
Estónia
Irlanda
Grécia 20
Espanha 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
França
Mulheres Total Homens
Croácia
Itália Fonte: PORDATA, 2013
Chipre FIG. 3 Evolução do risco de pobreza, segundo o género, na
Letónia União Europeia a 27 (2005-2012).
Lituânia
Luxemburgo
Hungria %
Malta 30
Holanda
Áustria
Polónia 25
Portugal
Roménia
Eslovénia
Eslováquia 20
Finlândia
Suécia
Reino Unido 15
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
0 5 10 15 20 25
% da população total Menos de 17 anos 18-64 anos 65 anos e mais
Fonte: Eurostat, 2014 Fonte: PORDATA, 2013
FIG. 2 Risco de pobreza, em países da União Europeia, em 2013. FIG. 4 Evolução do risco de pobreza, segundo a idade, na União
Europeia a 27 (2005-2012).
COESÃO ECONÓMICA E SOCIAL
Um dos objetivos da União Europeia é conseguir desenvolver uma maior coesão económica e social no
seu território. Por isso, criou a Política Regional Comunitária que tem como objetivos fundamentais
reduzir as desigualdades entre as regiões, apoiando as que se encontram mais afastadas das médias
comunitárias e que, geralmente, são as mais periféricas. O Comité das Regiões é a instituição europeia
que tem como missão desenvolver ações que promovam a coesão regional (Doc. 1).

DOC. 1 O COMITÉ DAS REGIÕES

O Comité das Regiões é um órgão consultivo que representa as entidades locais e regionais da União Europeia. A sua fun-
ção é a de apresentar os pontos de vista regionais e locais sobre a legislação europeia, com base em relatórios sobre as pro-
postas da Comissão. É consultado sobre questões relativas à administração local e regional, incluindo sobre política de empre-
go, ambiente, educação ou saúde pública.
O Comité das Regiões tem 353 membros (e igual número de suplentes) dos 28 países da UE, que são nomeados para um
mandato de cinco anos pelo Conselho. Cada país escolhe os seus membros segundo o seu próprio método.
Adaptado do site oficial da União Europeia, 2013

A política regional desenvolve-se em três áreas essenciais:


Fundos estruturais da UE :
• acompanhamento e apoio das políticas regionais dos • Fundo Europeu de Desenvolvimento
Estados-membros e das regiões; Regional (FEDER)
• Fundo Social Europeu (FSE)
• integração da dimensão regional nas restantes políti- • Fundo Europeu Agrícola de Garantia (FEAGA)
cas comunitárias; • Fundo Europeu Agrícola para o Desenvolvi-
mento Rural (FEADER)
• reforço da coesão económica e social através dos fun- • Instrumento Financeiro de Orientação e
dos estruturais. Pescas (IFOP)

Para o período de 2007-2013,


as verbas dos fundos estrutu- N Canárias (E)
Guadalupe (F)
rais da Política Regional distri- Martinica (F)
Reunião (F)
buem-se por três grandes ob-
Guiana (F)
jetivos: convergência, compe-
titividade e cooperação, des-
tinando-se cerca de 80% do
seu valor às regiões desfavore- Açores (P)

cidas, ou seja, as que têm um


PIB por habitante, em paridade
de poder de compra, inferior a
75% da média comunitária, e Madeira (P)

que se integram no objetivo


convergência (Fig. 1).
Regiões Convergência
Todas as regiões portuguesas, Regiões Phasing-out
exceto Lisboa e Algarve, inte- Regiões Phasing-in
0 1000 km
gram-se neste objetivo. Regiões Competitividade
Fonte: Direção-Geral de Política Regional, CE, 2007

FIG. 1 Regiões da UE, por objetivos da Política Regional, para o período de 2007-2013.
ç

DESIGUALDADES REGIONAIS EM PORTUGAL


Em Portugal, as disparidades entre regiões e pessoas também continuam a ser evidentes e contribuem
para a manutenção das assimetrias regionais e das desigualdades sociais (Figs. 1 a 4).

30 000 € 15%

27 468 € 13,7%

12,4%
24 969 €
Port. 11,7% 11,8%

Port.
23 470 € nd
22 970 € 22 802 €
21 602 € 10,5%
20 643 € 20 000 € 9,8%

Alentejo

Madeira
Alentejo

Madeira

Algarve
9%
Algarve

Açores
Centro

Lisboa
Açores
Centro

Lisboa

Norte
Norte

Fonte: INE, 2013 Fonte: INE, 2013


FIG. 1 Rendimento médio líquido anual dos agregados domésticos priva- FIG. 2 Disparidade no ganho médio mensal, entre homens e mulheres
dos, por NUTS II (2010-2011). da população empregada por conta de outrém, por NUTS II (2011).

16,9%
60%

54% 21,7%
18,2%
17,5% 17,4%

Port.
48% 49%
45%
40% 39%
38%
Alentejo

Madeira
Algarve

Açores
Centro

Lisboa
Norte

30%
Homens Mulheres 0-17 anos 18-64 anos 65 e + anos
Fonte: Anuário Estatístico de Portugal, 2011, INE, 2013 Fonte: INE, 2013
FIG. 3 Taxa de desemprego e proporção de desempregados de longa dura- FIG. 4 Taxa de pobreza depois das transferências sociais, segundo o
ção em Portugal (2011). género e a idade, em Portugal (2011).

A taxa de risco de pobreza depois das transferências sociais apresentam valores idênticos para o periodo
de 2006 a 2011 (Quado I).
Quadro I. Evolução dos principais indicadores de coesão social
Taxa de risco de pobreza (após transferências sociais - %)
2006 18,1
2007 18,5
2008 17,9
2009 17,9
2010 18,0
2011 17,9
(*) 20% da população de maiores rendimentos/20% da população de menores rendimentos. Fonte: Indicadores Sociais 2007, INE, 2012

VERIFIQUE SE SABE
¸ Descrever algumas das desigualdades que se verificam no território da União Europeia.
¸ Explicar a importância da Política Regional e o papel do Comité das Regiões para a coesão a nível comunitário.
¸ Indicar as três áreas essenciais da Política Regional e a forma como são aplicados os fundos financeiros que apoiam a
sua implementação.
¸ Caracterizar o território português quanto à coesão regional e social.

Você também pode gostar