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JOÃO MARCOS RODRIGUES SEABRA

CRÔNICAS DE VIAJANTE
1a Edição

Fortaleza, 2003

Capa: Felipe Rodrigues Seabra


Fotos: Tereza Prado e João Marcos Seabra

Contato com o autor


-mail – jmseabra201@gmail.com

Seabra, João Marcos


Crônicas de viajante / João Marcos Seabra. Fortaleza:
2003
Copyright de João Marcos Rodrigues Seabra
Impresso no Brasil em 2003

ÍNDICE

Dedicatória / 06
Agradecimentos / 08
Introdução / 10
Perdendo a mochila, não a cabeça / 12
Figuras / 22
24 horas em um trem / 30
Paris desconhecida / 38
Os maus tratos compensam / 46
Reencontrando Paris / 56
Vida fácil, de se perder, em Amsterdã / 66

Apêndice:
I - Aprendendo viajando – dicas para sofrer menos / 72
II – Endereços importantes / 76
III – Roteiro imperdível / 77
IV – Opiniões de quem viajou com o autor / 78
Agradecimentos

Aos que participaram diretamente e que sem eles essas crônicas


não seriam reais. São eles:
Alexandre Azevedo, Vitor Almeida (o Vas), Tereza Prado, Nagoya
(japonês do trem), Morocco (marroquino fugitivo), Paulo (guia português),
Richard (inglês), Nancy (australiana), Hernandes (mexicano), Nehaal
(americano) e Gonçales (mexicano).
Um agradecimento especial a minha esposa Milena que leu e releu
minhas resenhas sempre que a pedia.

Dedico estas crônicas a minha mãe, Westh Ney, que viajou comigo em
cada página deste livro.
INTRODUÇÃO

A Europa é um dos principais e mais desejados destinos para viajantes


independentes por ter bastantes opções de acomodação com centenas de albergues e
um sistema de transporte eficiente como o trem. A maioria dos aspirantes a
aventureiros sonha em fazer uma viagem dessas, pulando de cidade em cidade,
apenas com uma mochila nas costas.
Este livro conta histórias que aconteceram em duas viagens ao velho
continente, na forma de crônicas. São sete capítulos, cada um independente e um
apêndice com dicas e informações para quem ainda tem dúvidas em fazer uma
viagem dessa.
PERDENDO A MOCHILA,
NÃO A CABEÇA
(Europa – julho de 1999)

Uma das coisas que qualquer pessoa que viaja está sujeita é a perder as malas.
Mas o que seria pior do que perder as malas em uma conexão? Perder as malas
numa conexão em sua primeira viagem internacional...
Tudo começou quando meu amigo Alexandre iniciou um namoro com uma
filha de missionários brasileiros que moravam na Itália. Planejamos a viagem
durante meses e ele partiu 15 dias antes de mim ficando tudo combinado para que
me pegassem no aeroporto de Milão. Porém, na véspera do embarque recebo a
noticia por e-mail de que não daria certo e me “ensinavam” como proceder para
chegar a Ferrara, cidade onde moravam. Meu programa de viagem mudara
subitamente e teria pouco tempo para organizar-me, agora não bastava chegar a
Milão, era preciso chegar à estação ferroviária e de lá pegar um trem para Ferrara,
distante mais ou menos 3 horas. A ansiedade pela viagem que já era grande tornou-
se agora enorme, havia feito um curso de seis meses de italiano e embora soubesse
fazer algumas perguntas nem sempre entendia as respostas.
Era julho de 1999, alta estação, e o vôo que sairia às 23hs de Fortaleza rumo a
Lisboa estava com quase 3 horas de atraso. Pela minha inexperiência, não pensava
na conexão que faria uma hora após a chegada no aeroporto e que este atraso
complicaria a já complicada viagem a Itália. O amigo leitor talvez pergunte: “O que
há de complicado entre chegar em Milão, seguir para a estação e pegar um trem para
Ferrara?” A principio nada, era o que respondia a mim mesmo durante o vôo da
Transbrasil.
Pousamos no aeroporto Portela, em Lisboa, às 10:30h e aí começa minha
aflição, percebo as pessoas saindo do avião às pressas para ganhar tempo na
alfândega e, sozinho, sigo a multidão sem saber bem o que aconteceria, ouço
algumas pessoas falando que perderam suas conexões e de repente estou também
correndo como os outros. Escolho uma das 10 filas (a mais lenta) para a
“sabatinagem” portuguesa, após longos 30 minutos está tudo resolvido e posso
considerar que estou na Europa, embora não consiga viver a alegria da minha
primeira viagem internacional sem saber onde colocariam minha bagagem (a
mochila trocaria de avião, mas quê avião se a conexão estava perdida?). Esse foi
meu primeiro erro e uma também uma lição: em vôos com conexão é mais seguro
retirar a bagagem no primeiro destino e despachar normalmente, assim não se corre
o risco de ir pra Europa e as malas pra África.
Procurei o escritório da companhia aérea TAP pra saber que conexão pegaria.
Imaginem a cena: aeroporto lotado, filas de mais de 15 pessoas para onde se olha,
nenhum rosto conhecido, turmas de amigos falando alto, famílias se encontrando,
criança chorando e você, o décimo segundo na fila da TAP, torcendo para que a
atendente portuguesa de mais ou menos 50 anos esteja num dia bom e não desconte
em ti as reclamações dos onze da sua frente (o que obviamente não aconteceu,
sobrou pro brasileiro).
Quando soube que não haveria mais conexões e deveria procurar a
companhia aérea Alitalia pra tentar embarcar, pois minha mala só seguiria pela
próxima conexão (dia seguinte) comecei a pensar se teria sido uma boa idéia viajar
por conta própria e não por uma excursão.
Desesperadamente, convenço a me deixarem voltar para as esteiras das
bagagens a fim de tentar retirar minha mochila. Localizo uma fila de mais de 30
pessoas. Só podia ser lá que reclamavam sobre extravios e etc. Furo a fila (já havia
deixado a educação com a balconista da TAP) e sob protestos em francês, inglês e
outros idiomas desconhecidos explico em 15 segundos (tentando não ser
interrompido e mandado de volta ao fim da fila) toda minha história ao operador,
que surpreendentemente me ajuda explicando em inglês aos outros que era um caso
mais grave (ou algo parecido), cessando os palavrões que eram ditos.
Reclamação feita, alguns dados no computador e se tudo desse certo em
Milão pegaria minha mochila.
Saio confiante e feliz por ter dado certo a furada de fila (não que tenha
gostado do ato em si, mas porque me poupou cerca de 40 minutos). Lembro-me que
tenho que pegar algum vôo e novamente corro escadas acima procurando o guichê
da Alitalia. Mais filas, desta vez maiores e mais confusas, entro na menor e fecho os
olhos pedindo a Deus que tudo dê certo, pois não teria onde ficar em Lisboa, além,
de não conhecer ninguém. Chega minha vez e após muita explicação consigo lugar
num vôo. “Graças a Deus”, pensei eu. Só não gostei quando a funcionária pergunta
se fiz seguro e diz que provavelmente perderia a mala...
Durante as quatro horas seguintes que esperei o embarque para Milão não
consegui ligar nem para Itália e nem para o Brasil, sentia uma sensação de abandono
e solidão, ninguém sabia meu paradeiro. E se alguma coisa me acontecesse? Já
deveria ter chegado a Ferrara, no entanto ainda faltava mais da metade do caminho.
Foi numa dessas reflexões que tive mais uma lição: Não devemos tratar um
problema como um todo e sim por partes. Então meu objetivo não era mais a
mochila (pois tinha feito o seguro) e sim chegar à Milão, estando lá meu objetivo
seria chegar à estação e assim por diante. De certo modo, aquilo que estava
vivenciando me ajudaria a enfrentar qualquer coisa que acontecesse nos próximos
45 dias de viagem.
Finalmente, estou no ar seguindo para Milão, são quase 17hs e ainda não
almocei, havia até me esquecido diante de tantas emoções. Ao meu lado viaja um
italiano, conheço logo pelo formato do nariz. Puxo conversa pra ver se sei falar
mesmo, conto minha situação e ouço que não me preocupasse, pois: “I italiani sono
tutto bonna gente”. Faço amizade com o “Nose” (vamos chamá-lo assim porque não
me lembro seu nome) e no desembarque percebo mais uma faceta da minha
aventura: Milão tem dois aeroportos!!! Para variar um pouco minha maré de azar
percebo que minha mala e eu seguiríamos originalmente para o aeroporto Linate e
com minha troca de companhia aérea havia parado no Malpensa, ou seja, sem mala e
sem instruções de como chegar a estação (este aeroporto é muito mais longe). Mas
nada difícil se você tem um amigo como o “Nose”, que me deu total ajuda tanto pra
descrever a mochila como para indicar onde pegaria o ônibus especial do aeroporto
à estação. Vai aqui mais uma grande lição: Faça amizade! (E leve uma foto da
mochila pra evitar ter que descreve-la).
A bordo do ônibus tive mais tempo para pensar e coordenar as idéias. Estaria
alcançando mais um dos pequenos objetivos e partiria para o próximo: entrar no
trem que me levaria a Ferrara. A chegada à estação foi fácil, não tinha erro como
havia previsto Nose. Em poucos minutos estava com a passagem na mão.
Até o momento não havia ligado para o pessoal que me recepcionaria e
finalmente consigo um cartão telefônico. Já havia passado das 22hs e estavam todos
preocupados. Ainda demoraria 2 horas para que o trem saísse, mais umas 2 horas de
viagem até Bolonha, uma espera de 1 hora para pegar outro trem e finalmente mais
30 minutos até Ferrara. O sono já imperava, mas uma cochilada poderia me custar às
últimas coisas que tinha: o passaporte, o dinheiro e os guias de viagem.
Tudo era novo para mim: descobrir o trem que me levaria, a plataforma que
estaria, o vagão específico e mesmo andar nele. Conhecia estórias de pessoas que
entravam em um vagão errado e numa dessas paradas onde o trem desmonta sua
composição iam parar em outro país.
Conheci um senhor que viajou no mesmo vagão, fomos conversando e
pensava sempre: Será que ele vai me roubar? Mas ele se encantou tanto com a
conversa sobre o Brasil, que se queria, desistiu. Aliás, uma dica boa que aprendi
para não dar bandeira e ser alvo de roubos é falar logo que é do Brasil. Se não dá
para disfarçar que é gringo pelo menos deixamos claro que não temos dinheiro. Essa
“técnica” deve ser feita somente para casos de roubos iminentes, pois em outras
situações pode ser melhor se passar como europeu ou americano pra não ser
discriminado, o que é bem comum em países da Europa.
Não deu pra resistir e acabei cochilando. O senhor me acordou na estação que
devia descer. Beleza, pensei eu, não me roubou e ainda me ajudou, valeu a dica da
amizade. O trem seguiu viagem e fiquei sozinho na plataforma, que mais parecia um
cemitério de trens. A lâmpada fluorescente piscava ameaçando desligar e não se via
ninguém, de repente percebo uma pessoa saindo de uma escadaria que vinha do
subsolo. Não é que havia vida lá em baixo? Várias pessoas andando e tudo
iluminado. Descubro que é por ali que iria me deslocar de uma plataforma a outra e
noto que estava na errada (Iria pegar o trem errado depois de tudo).
Finalmente estou no trem correto a menos de 5 minutos de Ferrara, está
lotado e o que consigo entender é que os passageiros vinham de um show de rock.
Esforço-me para me manter imóvel e não pisar em alguém deitado no chão. Até
agora não pediram pra ver minha passagem desde Milão. Três rapazes conversam
com um fiscal de passagens e fico na minha tentando parecer menos gringo possível
(testando o outro lado da “técnica anti-roubo”), mas sou descoberto quando
subitamente param de falar e olham para mim, os quatro. Aqueles segundos que
trocamos olhares só seriam quebrados quando falasse algo tipo: “Io no capito
niente”. Até hoje não sei do que falavam, mas sei que era de mim e quiseram ver
minha reação. O fiscal viu minha passagem e perguntou para onde estava indo. Para
Ferrara respondi. É a próxima, disse ele enquanto o trem abria as portas.
Na estação, um alívio ao reencontrar um rosto conhecido. Foram 24 horas de
viagem que valeriam por uma semana por tantos acontecimentos. Três dias depois a
mochila chega intacta no endereço que especifiquei, errou a atendente da Alitalia,
acertaram Nose e o operador de Milão, que entendeu a descrição da mochila.
Adeus seguro-bagagem.
FIGURAS
(Suíça – Fevereiro de 2001)

- Cabine... Seis. Poltronas três e quatro, pronto, é aqui.


- E cadê as camas?
- É mesmo, né? Devia ter uma cama por aqui.
- Uma não, quatro.
- Será que tem alguma coisa de puxar... Deve ser isso aqui... Depois a gente
se informa, vamos guardar as coisas antes que chegue mais alguém.
- Será que vai lotar?
- Esses trens que vão pra Amsterdã sempre vão lotados...

Toc, toc, toc...

- Hi... “one is here”?


- Yes…

O “Nagoya” era um japonês muito engraçado, daqueles que pareciam saídos


de filme. Quando entrou já despertou risos em mim e em meu amigo Vitor (Vas),
mas por questão de educação, seguramos. Era um tipo meio gordo, mais alto que a
média, tinha uma mochila preta e um guarda-chuva amarelo, daqueles grandes que
mais parecia um guarda sol. Meu inglês era sofrível, o dele não era melhor, então
nos entendíamos.

- De onde você é? – perguntei em inglês, já


querendo tornar o ambiente mais familiar.
- Japan
- Nós somos do Brasil.

Meu amigo sorriu e apertaram as mãos, estava


iniciada nossa amizade. Nagoya não era seu nome verdadeiro, mas por razões óbvias
(esquecimento
mesmo) vamos chamá-lo assim. Trabalhava fazendo bolos decorativos e tinha umas
fotos para provar.

- Está a trabalho?
- Nooo. (com sotaque japonês). Estou passeando.

Olhei para meu amigo que franziu a testa, onde iríamos achar alguém que
fizesse bolo e pra relaxar viajasse de férias pela Europa. Era um choque para nós.
Não ficamos atrás e tiramos nosso primeiro cd de música clássica que havíamos
gravado com outros amigos, afinal, se ele podia viajar fazendo bolo nós também
podíamos tocando música clássica no Brasil...
Oferecemos o cd.

- It´s for you… a gift.


- No, no… is too much
- For you…

Nagoya balançava a cabeça negativamente e


apertava o cd contra o peito, parecia que ia explodir tamanho era a importância do
presente que recebia. Talvez na cultura dele se um desconhecido oferecesse algo ele
deveria ser grato eternamente.
Rapidamente Nagoya sacou um origami (objeto feito de papel que possui
movimento) que ele mesmo havia feito e nos deu, um para mim e outro a meu amigo
Vas. Fico até hoje pensando se Nagoya não tinha um estoque de origamis para dar
aos futuros amigos ou se teria feito durante alguma espera na estação.
O trem ainda não havia saído e enquanto comentava com Vas que estava
quase na hora surge mais uma figura: Morocco.
Até hoje não sei bem de onde vinha nem pra onde foi, pois Morocco não
sabia falar nenhuma língua a não ser a de seu país, o Marrocos. Assim que ele se
acomodou na poltrona, a Controladora do trem se apresentou e nos pediu os
passaportes. Morocco não tinha. Ela pergunta em inglês, em espanhol, em italiano,
em alemão e Morocco nada fala, imóvel (enquanto dois brasileiros e um japonês
parecem acompanhar uma partida de tênis entre os dois). Ela desiste e, quando a
porta se fecha, Morocco abre um sorriso (acho que Morocco era brasileiro).
O trem finalmente saia e queria quebrar o gelo com o Morocco antes das
luzes se apagarem. Todos estavam quietos e meu medo era amanhecer sem os
sapatos.
- Vas...
- Hum
- A maçã...
- Que tem?
- Dá a maçã...
- Nãã...
- Fazê amizade... dá a maçã...
- Só tenho uma...
- Melhor a maçã que as calças!

Vas mal tirou a maçã e Morocco já estava com


ela nas mãos, o pobre coitado devia ter fugido de alguma prisão ou saído de alguma
obra pois estava todo sujo e com um chinelo velho, parecia ter andado muito e seus
pés estavam inchados, ele os lavou na pia da cabine, para surpresa geral.
Ensaiei uma apresentação:

- Mi... Bra-sssil, He is Japón, y tu, donde és?


- Morocco!

Daí, não tivemos mais dúvidas de que ele nos entendia. Morocco começou a
falar e a gesticular com os pés:
- Brassil...Ronaldo... Cafú, soccer.

Nós ríamos, os quatro. Enquanto ele gesticulava com as mãos.


- Japonê... Caratê...Iáááááá.

A fiscal retornou e transformou nossas poltronas em dois beliches, apagaram-


se as luzes.
Pela manhã, Morocco já não estava, devia ter descido pelo caminho.
Nagoya saiu cedo sem nos acordar.
Minha bota ainda estava lá, salva pela maçã.
E em alguma confeitaria do Japão deve-se ainda ouvir um cd brasileiro.
24 horas em um trem
(Itália – julho de 1999)

A viagem já começou diferente. Saí da casa em que estava hospedado em


Ferrara de bicicleta até a estação às 4h da manhã. Pegaria o trem das 4h30min com
destino à Tirano, fronteira com a Suíça e iria fazer o passeio na estrada de ferro mais
alta da Europa. Seis sanduíches prontos e embalados, dois filmes de 12 poses, meu
passe de 3.000 km, passaporte e o cadeado da bike. Lá vou eu!
O percurso até a estação é rápido, uns vinte quarteirões. Mas estar sozinho
naquelas ruas um tanto escuras era meio apavorante. A vontade de fazer o passeio
me fazia pedalar mais rápido e não pensar nisso. O “bicicledódromo” estava lotado.
Onde andariam os donos daquelas bicicletas?
O trem chegou no horário.
Levaria três horas até Milão e mais umas duas até Tirano. Havia tempo de
sobra para se apreciar a paisagem. Uma moça negra sentava na minha cabine e
começamos a conversar. Ela era de Angola e trabalhava em Milão, mostrei meu guia
em português e ela se encantou, pois achava fácil entender mesmo só sabendo
italiano. Aproveitava para conversar treinando o idioma e cada vez que não conhecia
a palavra apelava para o inglês, e assim ia. Lá pelas oito, comecei meu café, era meu
primeiro “sanduba”, mas não havia nada para beber. Minha amiga angolana não
soltava o guia e me ofereceu um suco de maça. Estava dando certo aquela troca,
pena que só duraria até Milão.
O trem para Tirano era ótimo e as paisagens que se viam da janela faziam-me
esquecer tudo. Quanto mais se aproximava da Suíça mais se percebia uma mudança
de ares, com pessoas mais sorridentes e casas mais bonitas. Em Tirano, todos
descem do trem, vários japoneses e americanos, só um brasileiro. Eu!! Todos vão
entrando na plataforma que dá acesso ao Bernina Express - um trem turístico de
apenas dois vagões - e tento passar desapercebido até que um guarda me pergunta
algo em alemão e me descobre. Mostro meu passaporte e...Pronto, tenho que esperar
que todos entrem para que o meu seja carimbado (só o meu!).
A viagem que se inicia é mágica. As casas que surgem pelo caminho tem a
bandeira da Suíça e a emoção de estar saindo da Itália toma conta. Já ouço poucas
vozes em italiano e começo a me preocupar, pois não sabia falar muito bem inglês e
muito menos o alemão, torceria para não precisasse me comunicar.
À medida que o trem subia, a paisagem mudava ficando mais cinzenta;
estávamos no verão e aquela área era coberta de neve durante a maior parte do ano.
Aliás, ver neve para mim já era novidade e a visão do gelo derretendo nos picos e
formando lagoas azuis me deixava sem palavras... Ainda restavam quatro
sanduíches...
“Três sanduíches para a volta deviam bastar”, pensei. Já era quase 15hs e
pelos meus cálculos não daria para ir até a estação final e retornar no mesmo dia.
Como o trem fazia muitas paradas, resolvi descer e pegar o trem que voltaria. Lá
estava eu, sozinho de novo, numa estação fantasma: Morteratsh. Não se via
ninguém e ouvia-se somente o barulho de um rio. Comecei a pensar se haveria ainda
um trem de volta ou o porque da estação estar vazia... E aquele nome: Morteratsh...
O que significaria...
Quarenta minutos depois algumas pessoas surgem da mata e em poucos
minutos a estação está cheia; o trem chega e embarcamos todos de volta.
A volta é sempre mais triste, como uma despedida. À medida que me
aproximo de Tirano deixo aquelas colinas na certeza de que um dia voltaria.
Passaporte carimbado, já são quase 17hs e sou informado que não há mais
guichês abertos para validar meu passe, mesmo assim arrisco subir no trem e lá
mesmo validá-lo. O trem da volta é bem velho, talvez para completar a sensação de
tristeza. Só possui três pessoas: o maquinista, o cobrador e eu. Não havia aquelas
divisões com portas entre um vagão e outro e a cada curva podia-se olhar todo o
trem. Cadeiras e mais cadeiras vazias.
Termino meu último sanduíche. “Agora só amanha”, pensei. Aliás, pensar é o
que mais se faz numa viagem como essa. Chegaria em Milão no começo da noite e
esperaria ainda muito tempo para pegar o mesmo trem que conheci em meu primeiro
dia na Itália.
As três e meia chego finalmente em Ferrara, a bicicleta ainda está lá com as
outras e parece que o dia não passou. Volto pedalando já cansado - estou a quase
24hs sem dormir – e penso novamente onde estariam os donos daquelas outras
bicicletas... Lembro-me da minha amiga angolana e sinto vontade de tomar outro
suco de maçã.
Paris, agosto de 1999
Paris desconhecida
(França – Agosto de 1999)

“Provavelmente perderá sua mala...”


Acordei assustado, estava tendo um pesadelo lembrando que quase havia
perdido a mochila no começo da viagem a Europa, mas agora estava tudo resolvido
e seguia para Paris com minha amiga Tereza, que por feliz coincidência estava de
férias na casa de sua irmã, na Suíça, onde não perdi a chance de me hospedar.
Estava na sala e comentei, decidido: “Vou para Paris”. Os olhos de Tereza
brilharam, era um sonho dela ver a torre, mas apesar de estar a poucas horas de trem,
suas férias terminariam sem que de lá saísse. Foi fácil convencê-la:

- Vamos Tereza, uma semana lá, a gente fica num albergue, sai baratinho,
quando você vai ter outra chance como esta?
- Mas não é perigoso? Você sabe mesmo ir?
- Claro!

É claro que eu não sabia “mesmo” como ir, por isso insistia para que fosse
comigo, afinal, ela já havia feito um curso de francês na adolescência e eu só
sabia falar, e mal, o italiano, que da Suíça em diante não me serviria mais.
E lá estávamos nós, no trem, chegando em Paris. As minhas sensações eram
de euforia por estar finalmente na França e preocupação, pois Tereza confiava em
mim.
Ligamos para o Albergue e havia lugar. Fomos para lá pegando o metrô e em
pouco tempo chegávamos na estação Ledru-Rolin. Uma olhada no mapa e, ao
sairmos do subsolo, o primeiro contato com Paris. Aquela primeira impressão que
fica. Gostamos.
Há 200 metros estava nosso destino.
Não teria lugar no albergue como haviam dito, mas a proposta de irmos para
um hotel um pouco mais caro, mas três estrelas, por um dia, era tentadora. Depois
soubemos que o hotel era do mesmo dono do albergue, assim ficava “tudo em casa”.
Fomos para o hotel já com a promessa de duas camas no albergue dia
seguinte, afinal, não teríamos como nos manter na cidade por muito tempo pagando
aquele preço. Manhã seguinte tomaríamos café no albergue.
Aquela tarde foi toda gasta com a acomodação. Mas onde estava Paris? Só
víamos os corredores do metrô e resolvemos que a partir do dia seguinte iríamos
caminhar.
Dito e feito, após o café do albergue, um tour a pé. Fomos para a Bastilha, de
lá Champs-Ellysées, arco do triunfo e Torre Eiffel. Aliás, quero registrar que quando
vi a torre pela primeira vez, dobrando uma esquina, tive uma das maiores emoções
da viagem. Era inacreditável estar vivendo aquilo porque Paris ainda era um sonho.
E se realizava a cada passo.
Antes de viajar, uma amiga que conheci através da internet e que era da
minha mesma cidade me deu várias dicas, pois havia morado lá. Uma delas foi um
guia português chamado Paulo, que ela por sua vez conhecera dentro do metrô.
O plano era o seguinte: levaria um cd brasileiro dessa minha amiga para
Paulo e em troca tentaria alguma “facilidade turística”.
Fiz um contato por telefone e combinamos de nos encontrar em frente ao
Louvre, para a entrega do “pacote”.
Paulo era guia e trabalhava num ônibus de turismo, ganhava bem para os
padrões brasileiros, mas reclamava dizendo que “em Paris trabalha-se demais e vive-
se de menos”, seu sonho era voltar para Lisboa, onde: “a vida transcorria num ritmo
mais suave e tranqüilo” (acho Paulo meio esquisito).
Não entendia porque reclamava que trabalhava demais se estava num dia da
semana, à tarde, jogando conversa fora. Definitivamente, ele não conhecia o Brasil.
Com receio de que as tendências de Paulo aflorassem resolvi somente aceitar os dois
ingressos para o passeio de barco no rio Sena, que ele nos presenteava.
Mercadoria entregue, bilhetes na mão e Paulo seria só uma lembrança.
Tereza infelizmente ficou somente quatro dias em Paris. Teria que voltar ao
Brasil, pois acabavam suas férias. Eu ficaria mais um no albergue. Agora já estava
“aclimatado” ao ar parisiense.
Ensinei Tereza como voltar. Levei-a na estação e até seu trem. Só saberia se
tudo desse certo quando nos encontrássemos no Brasil. Agora estava sozinho
novamente.
Voltei ao albergue em busca de novas amizades. Conheci um inglês que
estava na minha mesma situação de quatro dias atrás. Chegara e era encaminhado ao
hotel, porém parecia bem nervoso, falando alto. Pelo que entendi, já havia pago esta
estadia semanas antes. Embora o albergue estivesse cheio, deram um jeito de
recolocá-lo (queria ver se ele fosse brasileiro).
Quando a poeira baixou trocamos algumas idéias. Richard morava em
Londres e estava passando o fim de semana em Paris (mais ou menos como alguém
que vive em São Paulo e passa um fim de semana no Rio de Janeiro). Diz que adora
caminhar pela cidade e que vai a montmartre. Ofereço-me para acompanha-lo,
imaginando que a tal montmartre fosse uma padaria e não um bairro, como era de
fato. Só fui perceber quando já havia andado mais de 5 minutos com meu amigo
silencioso e nada do cheiro de pão aparecer...
“Ok, vou ficando nessa”. Era tudo que queria dizer, mas minha limitação com
o idioma me impedia. Como me livrar daquela situação? Seriam quantos
quilômetros? Pararia de andar simplesmente e deixaria que Richard seguisse seu
caminho sem perceber meu súbito desaparecimento? Resolvi apelar para a “torcida
de pé”.
E lá estava eu, me contorcendo e fazendo sinais para que ele prosseguisse
sem mim... E não é que deu certo?
Volto por outra rua, queria aproveitar ao máximo o último dia em Paris, mas
já considerava os principais pontos turísticos vistos e não me restava opção, a não
ser o albergue.
Lá encontro Hernandes, um mexicano que tentava a vida em Paris, havia
deixado a namorada para trás em busca de um sonho, mas estava desistindo e iria
voltar. Não tinha mais dinheiro para se manter, pois estava a mais de quarenta dias
procurando emprego. Resolvo deixa-lo ler seus classificados em paz e começo a
conversar com uma australiana aventureira.
Nancy estava de bicicleta e iria de Paris a Barcelona no dia seguinte,
exatamente no mesmo dia que eu. Senti-me humilhado diante da disposição dela,
ainda mais se levando em conta que devia ter quase cinqüenta anos.
Fui dormir pensando nisso e decidi que mudaria, depois do fiasco com
Richard e a humilhação com Nancy tive convicção de que precisava caminhar mais
e me exercitar, faria isso amanhã em Barcelona.
De manhã bem cedo estava com tudo arrumado. “Último banho em Paris”,
pensava enquanto me enxugava. “Daria até nome de filme...”. É incrível como nossa
mente funciona sem parar quando estamos sozinhos. Procuro não deixar nada pra
trás.
O albergue já está pago e só me resta sair. Não falo com ninguém, apenas
sigo para o metrô me despedindo a cada passo enquanto amanhece a cidade. Será
que Tereza acertara o caminho de volta?
Sinto um cheiro de pão fresco no ar...
Reencontrando Paris
(França – Fevereiro de 2001)

A chegada em Paris foi tumultuada. Estávamos a quase dez horas tentando


chegar de Amsterdã por caminhos pouco comuns. Mas conseguimos, restava apenas
procurarmos o albergue que já conhecia e garantir nossas vagas.
Partimos de metrô, eu e meu amigo Vas. Para mim algo normal, pois me
reencontrava com a Paris de dois anos antes. Vas parecia confuso com o sistema do
metrô enquanto eu, que já havia passado dessa fase, liderava a caminhada pelas
galerias e corredores.
Já do lado de fora, a mesma rua que conhecia silenciosamente me dava boas
vindas. Seria algo simples chegar ao albergue e se caso estivesse cheio, tentar o
plano B, ou seja, a mesma facilidade que conseguira na viagem anterior: o hotel três
estrelas do mesmo dono.
O plano A falhou, o albergue era concorridíssimo mesmo e já estava lotado,
recebendo estudantes franceses em excursão. Restava o plano B, porém fui
informado que não era mais possível.
Estava agora sem nenhuma direção e precisava encontrar algum lugar antes
que a noite caísse. Implorei para que a funcionária do albergue me desse alguma
dica e, apesar de relutante, nos deu o telefone de um “hotel escola” ou algo parecido.
Lá fomos nós de volta para o metrô.
A estação próxima de onde ficaríamos era bem afastada, já nos subúrbios de
Paris. Mas não tivemos tanta dificuldade graças à instrução precisa da atendente do
albergue.
O quarto era espaçoso e possuía quatro beliches, havia três camas livres e
pudemos escolher a vontade, estávamos cansados e naquela hora preferíamos nos
acomodar para sairmos por Paris somente ao amanhecer.
Pela manhã, alguns já não estavam e em nosso quarto éramos somente quatro.
Eu, Vas, Nehall e Gonçales. Nos cumprimentamos e iniciamos uma aproximação.
Eles - Nehall e Gonçales - se conheceram no aeroporto, desembarcando de
seus países e pelo que contaram, ambos não tinham onde ficar e resolveram procurar
juntos um lugar.
Nehall era americano, descendente de indianos, era formado em economia e
estava em Paris para aprender francês, voltaria para os Estados Unidos após um ano
para fazer MBA em Nova York. Gonçales era mexicano, trabalhava na alfândega do
aeroporto de sua cidade e ganhara uma viagem de avião para qualquer destino que
escolhesse. Passaria apenas uma semana em Paris. Os dois já estavam a três dias
juntos no albergue.
A partir desse dia começamos a sair os quatro, assim a viagem ficava mais
divertida e segura e era extremamente confortante ter o inglês fluente de Nehall por
perto.
Pagamos apenas três diárias nesse albergue, pois queríamos conhecer
primeiro para poder então, se fosse o caso, pagar os outros quatro dias. O café da
manhã foi um dos mais fantásticos que já tive oportunidade de experimentar. Era
incluso na diária, que apesar de um pouco mais cara que a de um albergue comum
era compatível com nossos bolsos. Depois que provamos todas as iguarias
decidimos que era lá que ficaríamos o restante da viagem. Fomos acertar as quatro
diárias restantes, mas para nossa surpresa não havia disponibilidade para o período,
ou seja, mal chegamos e já teríamos que arranjar outro local.
Para nossa sorte, Nehall e Gonçales estavam na mesma situação então
decidimos procurar juntos. Guias de turismo na mão e Nehall ao telefone. Foram
mais de quatro ligações e todos lotados. Tivemos então a idéia de procurarmos um
hotelzinho barato e racharmos as despesas que ficariam quase no mesmo valor, sem
café da manhã, mas com banheiro privativo e televisão.
O dono do hotel era estranho, meio afeminado, e se engraçava pro lado do
Nehall, que não negava nem confirmava Talvez pelo fato de estarmos os quatro em
duas camas de casal o francês tenha se animado conosco. Por via das dúvidas, dividi
minha cama com Vitor.
Havia uma lavanderia quase em frente ao hotel e pela primeira vez lavei
roupa, não tinha mais nada pra usar, tudo reciclado, pelo menos o clima frio garantia
que não suasse muito. O cheiro era apenas mais uma forma de me passar
desapercebido na multidão.
Com Gonçales fiquei impressionado com o gosto dos mexicanos por pimenta.
Tudo o que comíamos ele pedia para acrescentar, e sempre demais.
Nehall era viciado em mascar fumo e comprava numas tabacarias - em
qualquer esquina - e vinham em latinhas parecidas com as de graxa de sapato, a cor
inclusive. Era como se estivesse mesmo com uma latinha daquelas na mão e de
tempos em tempos colocasse entre os dentes e a bochecha um naco de massa. Dava
arrepios.
Viciado mesmo estávamos eu e Vitor num tal de Greek. Era um sandubão de
carne de cordeiro com batatas fritas. Algo não muito recomendável pelos
nutricionistas, mas que era barato e garantia o dia todo sem fome. Na verdade,
tomávamos café da manhã e lá pelo meio da tarde um greek desses, que fazia com
que o jantar fosse esquecido.
Gonçales foi o primeiro a partir. Levava vários presentes e, como era
funcionário da alfândega, aproveitava para extrapolar. Disse-me que possuía
passagem livre pelo posto fiscal, podendo levar muito mais do que o valor
permitido. Bom para ele, pensei. Manhã seguinte Gonçales partiu e nos despedimos.
Agora seriam só nós três e a diária do hotel pesaria mais.
Nehall dividia seu tempo passeando conosco e procurando uma escola de
francês para estrangeiros. Já havia comprado um celular e estava religado aos seus
pais. Parecia que tinha muito dinheiro embora não ostentasse. Passei vergonha
quando ele quis que tirássemos uma foto dele numa feira livre, pois ele nunca havia
visto uma. Voltamos ao albergue que conhecia para que ele garantisse uma vaga
quando nós nos fossemos.
Enfim nossa estadia chega ao fim e nos preparamos para seguir a Londres.
Nos despedimos de Nehall na portaria do hotel. Seguimos para o metrô enquanto
Nehall, que iria para o albergue, encerrava a parte dele.
Já na estação de trem, faço uma retrospectiva da última semana. Havia estado
novamente em Paris, mas desta vez tudo pareceu diferente, sob nova ótica. Voltar a
um lugar que já se conhece é como ver novamente um filme e compreender ainda
mais e melhor. Conheci pessoas e lugares que me ajudaram a ver outra Paris. Menos
turísticas e mais cotidiana. Muito bacana.
Vida fácil, de se perder, em Amsterdã
(Holanda - Fevereiro de 2001)

Chegamos em Amsterdã às 06:30h da manhã. Estava muito frio e uma névoa


cobria a cidade criando uma atmosfera de contos de mistério. Além de não
conhecermos as ruas que nos conduziriam ao albergue não era possível enxergar
muito longe. Andamos muito até as imediações do albergue e ao encontrarmos uma
viajante também mochileira soubemos que estávamos próximos.
O albergue era cristão, nos murais internos víamos horários para reuniões de
oração ou passagens bíblicas, já os hospedes não pareciam tão comprometidos com
o espírito do lugar. A verdade é que estávamos a menos de 50 metros da perdição,
no bairro da luz vermelha, e era como se atravessando a entrada do albergue
estivéssemos num refúgio. Qualquer problema a gente corre para lá, comentei com
Vas.
Iríamos passar somente duas noites no albergue e seguiríamos para Paris. O
check in foi tranqüilo, deixamos nossa bagagem acorrentada numa estante com mais
uma dezena de mochilas. Lembro-me dos maus tratos em Florença quando
chegamos cedo ao albergue. Definitivamente não existia nada de mais em chegar
cedo e deixar as malas. Saímos para desbravar a cidade, voltaríamos ao albergue
somente no final da tarde e aí sim poderíamos tomar banho e trocar de roupa.
Não estávamos com fome, pois havíamos tomado café da manhã no trem -
naquela última viagem fomos muito bem tratados - dormimos com cobertores e logo
pela manhã fomos servidos dentro da cabine. Não estávamos acostumados após tudo
que sofrêramos.
Até hoje não sei se Amsterdã possui ônibus, pois fazíamos tudo a pé. E na
região central onde ficamos, era difícil vermos carros e sim bicicletas.
O tal bairro da luz vermelha é, na verdade, uma rua principal com várias
vitrines emolduradas por um néon vermelho, daí a origem do nome. Nas vitrines, os
“materiais” oferecidos são as mulheres. Várias, para todos os gostos. Trajando na
sua maioria biquínis americanos, daqueles grandes. Posso dizer que o que vi não era
atraente e sim deprimente. Vi algumas mulheres que tinham por volta de 50 anos e
imaginei que tipo de vida levavam tendo que se mostrar numa vitrine para, caso
algum “freguês” se interessasse, ganhar alguns dólares. Foi uma experiência
diferente ver o sexo como mercadoria assim, tão exposto.
Para completar o clima de contraste a cada esquina que dobrava me ofereciam
drogas. Parecia que estávamos na avenida principal do inferno com drogas e
mulheres à disposição. Era muito fácil “se perder” ali...
O segundo dia era também o último e confesso que estava ansioso para seguir
para Paris, cidade que já conhecia e que teria muito mais para se ver e fazer. Após
caminhar por todas as ruas e vielas, me perdendo e me achando, encontro uma
lanchonete curiosa com salgados em compartimentos na parede, uma invenção de lá,
li em algum guia tempos depois. Estava cheia de holandeses e nenhum turista e por
isso mesmo era ali que queria estar, vivendo como um deles. Vas preferiu um fast
food.
O funcionamento era básico, colocava-se uma moeda de valor equivalente e a
portinha se abriria, após tirar o salgado e fechar a porta um funcionário faria a
reposição, havia uma máquina de refrigerantes, dessas de moeda também, de forma
que o “almoço” ficava completo. Estranhei o modo como a maioria “almoçava”.
Alguns pegavam o salgado sem papel nem nada e saiam comendo pela rua, como se
estivessem atrasados para o trabalho. Estranhei porque isso seria mais comum de se
ver no Brasil do que na Holanda. A noite também me revelou surpresas. Resolvi que
jantaria bem e numa de minhas andanças sem destino encontro um bairro onde tudo
era oriental, um mercadinho só com enlatados chineses e um restaurante que até hoje
não sei se era coreano ou tailandês... Mas não era chinês.
Entrei e pedi uma sopa. Escolhi uma ao acaso pois não entendia nada do
menu. Era fraca demais, água com sal e umas coisas estranhas que me deram nojo.
Resolvi apelar - não sei em que língua, pois eles não entendiam inglês - e pedi com
mímicas o mesmo que estavam comendo na mesa ao lado. Era frango.
A música que embalava aquela minha última noite em Amsterdã, naquele
restaurante, não tinha nada a ver com a cidade. Parecia que estávamos em um
monastério budista no Nepal. O incenso aceso me fazia lembrar que a qualquer
momento teria uma crise de espirros.
Volto ao albergue onde Vas já deveria estar uma vez que detestava o frio.
Cruzo o bairro da luz vermelha e em meio a drogas e prostitutas entro no albergue
cristão. Estava a salvo. Amanhã seria só tomar o café e seguir para a estação, Paris
era logo ali...
Os maus tratos compensam
(Itália e Holanda – Fevereiro de 2001)

Quem nunca foi maltratado em uma viagem internacional que atire a


primeira pedra.
Provavelmente, analisando esta frase você lembrará de algum momento em
que se sentiu inferior numa viagem. Seja pela grosseria (cultural ou adquirida) ou
simplesmente pela ignorada que qualquer um é capaz de sofrer. Não tenha dúvida,
se até hoje você escapou ileso e pensa que isso é apenas “privilégio” dos outros,
aguarde sua vez e torça para que ela passe logo.
Não há jeito. O povo brasileiro é o melhor povo da terra. E, mal acostumados
como somos, a probabilidade de nos sentirmos para baixo cresce à medida que
carimbamos o passaporte. A cada cultura que nos propomos a conhecer nos
sujeitamos mais a ter contato com coisas estranhas que nos agridem. Às vezes, o que
sentimos como um “mau trato” é tão comum entre eles, que nem percebem nada de
ofensivo.
Sei bem o que é isso.

Parte I

Eram mais ou menos 6:30h quando chegamos na estação ferroviária de


Firenze, Itália. Nosso albergue, o Vila Camerata, havia sido reservado e pago ainda
no Brasil. Nos dirigimos para lá, eu e Vas (amigo brasileiro que estava viajando
comigo desse o início de nossa aventura), para confirmarmos se tudo estava correto
e tentar deixar as bagagens guardadas durante o dia que se iniciava, uma prática já
comum em qualquer albergue do mundo, menos nesse.
Esperamos dar 7hs para falarmos com a recepção, respeitando um cartaz
escrito a mão que dizia: “check in 7h –12h”. Ao iniciarmos a abordagem,
inocentemente, somos recebidos com gritos. Ficamos duros, sem acreditar que fosse
conosco, olhamos para trás ainda na esperança de não sermos o centro daquela
situação. Mas éramos. Será que havíamos quebrado algo? Novamente ouvimos o
grito e dessa vez pude entender que o problema era estarmos tão cedo no albergue,
pois o mesmo só receberia hóspedes após 16hs. Aquele aviso de check in não fazia o
menor sentido. Ficamos com aquela cara de choro e sorriso amarelo sem saber como
agir diante de tamanho despreparo daquela jovem, se ao menos Richard (o inglês
que havia conhecido em Paris dois anos antes) estivesse ali poderíamos ter
enfrentado o “bicho” no grito, de igual para igual. Preferimos apelar para o
constrangimento falando que apenas queríamos confirmar a reserva que já havíamos
pago, inclusive. Talvez dessa forma ela mudasse a forma de nos tratar. Não deu
certo, nos éramos mesmo um mal “desejado”. Arrependo-me de ter pago duas
diárias adiantado, agora teria que agüentar. Sem nenhum clima para passearmos pela
cidade deixamos as mochilas em um porta-bagagem da estação e aproveitamos
nosso passe de trem para seguirmos para Pisa, retornaríamos somente à noite. O
incidente nos ensinou a não pagarmos antecipado por algo que não conhecemos.
Já à noite vou para a lanchonete do albergue a fim de conhecer alguém e
tentar saber se todos passaram por aquela mesma situação. Encontro um coreano
paquerador que, sem sucesso, atira “olás” para todas as garotas que passam.
Começamos a conversar e descubro que nada aconteceu a ele. Sorte, penso eu. O
nome dele era Chú. Confesso que na hora que ouvi tive vontade de rir pois não era
acostumado a esses nomes orientais verdadeiros, só conhecia aqueles de piadas:
“Takacara Nakombi”, “Mijaru Nomuro”, etc... E ali estava Chú, o chato, cantando
as garotas e interrompendo a conversa toda vez que alguma passava. Mas por
educação, não ri de seu nome.
Meu nome quis saber. João, respondi e para desgosto meu Chú não teve a
mesma educação.

- Hi hi hi… Ju –ão...hehehe…Jo – au... hi hi hi... Jõ-au

Lá estava ele, se divertindo com a fonética, falando meu nome de várias


formas. O som do til devia ser demais, pois não conseguia se conter. Eu,
calado, guardava pra mim todas a combinações, que não eram poucas, que
poderia fazer com o nome Chú.
Sessão comédia no fim restava-me apenas uma noite de sono para apagar esse
dia da viagem.
Parte II
Alguns dias depois saíamos da Itália, dispostos a não voltarmos nos próximos
anos, tamanha a frustração que tivera nos causado. O trem avançava rumo a
Chiasso (pronuncia-se “quiaço”), cidade italiana fronteira com a Suíça. Devia
ser mais ou menos duas da madrugada quando o trem finalmente pára. Era a
última parada em território italiano e o primeiro contato com a Suíça. Ainda
sonolento, ouço passos no corredor do trem e barulho de portas se abrindo,
eram as das cabines e a qualquer momento a nossa seria aberta. Vas ainda
dormia, mas foi subitamente acordado, aos gritos, pelo fiscal da alfândega.
Pelo meu estado sonolento não conseguia separar o sonho da realidade e
aquele soldado gritando me fazia imaginar que estávamos indo para um
campo de concentração.

- Customers! Customers! – Gritava ele.

E eu lá sabia o que era “customers”...

- Drugs! Drugs! – Continuava a gritar.


- No, I am a Tourist.

Ficou claro que a dúvida dele era se tínhamos


drogas, respondi que não, éramos apenas turistas. Como se isso bastasse... Aposto
que não deve ser muito comum alguém responder: “Claro que sim, seu guarda,
temos muitas drogas aqui”.

- We are brazilians. - Disse eu, já desiludido.

Até hoje não sei se tivemos de tirar tudo das


mochilas por causa da minha última frase ou se ele fazia isso com todos.
Para nós ficou provado que o “risco Brasil” era grande e quanto mais
ficássemos calados melhor passaríamos o resto de nossa viagem.
Parte III

Muitos dias depois, já no final de nossa estada em Amsterdã, hora de pegar o


trem que nos levaria a Paris. A estação estava lotada e o que seria algo simples
tornou-se complicado. Entramos na fila para validação de nosso passe e reserva de
assento no trem, mas a balconista grosseira nos comunica que não há mais vagas.
Perguntamos se haveria alguma forma ou possibilidade de chegarmos a França e
somos subitamente interrompidos por ela, que chamava pelos próximos da fila.
Éramos um caso passado e sem solução.
Estávamos numa fria, acabávamos de encerrar a conta no albergue e não
podíamos seguir viagem. Resolvemos improvisar, pois o tempo passava enquanto
tentávamos compreender o porquê de tantos maus tratos.
Olhamos no mapa e decidimos seguir para França, através da Bélgica, pelo
menos estaríamos saindo daquele lugar. Pegamos um trem regional que ia para
alguma cidadezinha belga e de lá seguiríamos para Bruxelas, para então tentar
chegar em Paris.
A viagem foi longa, pois o trem era lento e parava em TODAS as estações.
Viajamos no corredor, entre um vagão e outro, com vários locais. Dava para
perceber que não havia nenhum turista naquele trem. Estávamos apreensivos, pois
não tínhamos reservas para nenhum albergue em Paris e o tempo passava, tornando
uma chegada noturna em nosso destino algo possível e apavorante.
Chegamos em Bruxelas e da estação de chegada, mais simples, até a
internacional, melhor, deveríamos pegar o metrô. O problema é que só tínhamos
francos franceses (naquele tempo não existia o Euro) e não havia lugar para
trocarmos. Ficamos por ali, próximo aos guichês de compra de bilhetes pensando o
que faríamos até que duas americanas se aproximam e nos oferecem de graça seus
tickets, que eram válidos por todo um dia e que não iriam mais precisar. Tivemos
muita sorte naquele dia.
Já chegando na estação de metrô correta seguiríamos com pressa para
ganharmos o tempo perdido. Mas antes fiz questão de dar nossos bilhetes para duas
garotas que reviravam suas bolsas atrás de alguma moeda. Pude perceber a alegria
delas embora a minha talvez fosse maior. Havia acabado de cumprir um
mandamento: “De graça recebeste, de graça daí”.
Pegamos as duas últimas poltronas do trem, no setor de fumantes. Iríamos de
“trem-bala”, a tempo de procurar um albergue. Quem disse que era impossível ir de
Amsterdã a Paris naquele dia? Mulher de pouca fé...
Final
Na chegada ao aeroporto internacional Pinto Martins em Fortaleza, um dos
brasileiros que estavam no nosso vôo grita alto para um fiscal da alfândega (desta
vez brasileiro):
“Ferra esses gringos, bota pra F...”
Todos riram, estávamos vingados.

***

Se você é um(a) viajante contumaz, deve ter muitas histórias como essas para
contar, maus tratos que enriquecem qualquer aventura.
Quem sabe, um mesmo pensamento: Igual ao nosso país, não há lugar melhor
para se voltar.
APÊNDICE

I - Aprendendo viajando
(Dicas para sofrer menos)

Viajar nos ensina muitas coisas e a maioria aprendemos quando


estamos vivendo a situação. Não seria muito melhor se soubéssemos algumas
coisas antes de viajar que nos poupassem algum sofrimento?
Então vamos lá:

 Antes de viajar faça seguro de saúde e de bagagem. É uma forma de se


precaver caso tenha algum problema, lembre-se que uma consulta no
exterior além de complicada ainda será caríssima.
 Coloque alguma identificação na mochila e o endereço de onde estará
durante a viagem, assim aumentam suas possibilidades de reaver a
bagagem.
 Leve consigo tudo que for de valor e necessário para continuar a viagem,
caso venha a ficar sem a mochila.
 Tire fotos da mochila para identificá-la mais facilmente, mas não esqueça
de levá-la consigo e não dentro da mochila.
 No caso de viajar por muitos paises leve um pouco de dinheiro de cada
país, pode-se evitar muito sofrimento (atualmente para a maioria dos
países da Europa o Euro acabou com essa dificuldade).
 Leve dois cadeados. Um para a mochila e outro para os armários ou
correntes do albergue.
 Se viajar sozinho considere a possibilidade de fazer amizade com outros
viajantes que estão na sua mesma situação. É sempre melhor enfrentar a
adversidade com alguém por perto.
 Antes de viajar coloque todas as roupas que pretende levar e então deixe a
metade, é impressionante como levamos peso inútil que muitas vezes não
são utilizados. Na Europa há muitas lavanderias.
 Despache sempre a mochila para seu primeiro destino assim não se corre
o risco de perdê-la numa conexão
 Leve umas fotos 3X4 porque em algumas ocasiões pode-se fazer uma
carteira de descontos. E é muito mais prático já ter a foto do que tirá-la
por lá.
 Não viaje a noite de um país a outro pensando em economizar porque a
diferença será mínima entre o suplemento do passe que se paga no trem e
a diária do albergue, além de perder muitas paisagens fantásticas.
 Para os que querem gastar pouco uma dica boa é aproveitar o café da
manhã ao máximo para fazer a segunda refeição lá pelas 16hs, assim já se
economiza o do jantar.
 Compre comida no supermercado. É bem mais em conta.
 É melhor reservar um albergue de uma cidade a outra do que deixar tudo
esquematizado desde o Brasil. É muito fácil encontrar onde ficar na
maioria dos países. Considere a reserva se fizer a viagem em alta estação e
se seu destino for muito procurado, como Paris, Roma ou Londres. Essa
dica minimiza a possibilidade de se pagar por uma roubada e ter que ficar
lá para não perder o dinheiro.
 Não dê bobeira expondo-se em albergues, lembre-se que ali estão várias
pessoas diferentes e desconhecidas, a maioria está na mesma situação que
você e tem os mesmos receios, porém a oportunidade e a facilidade
podem causar grandes problemas. A regra é clara: Ouça mais e fale
menos. E não manuseie dinheiro na frente de todos.
 Leve uma camisa que identifique o Brasil, é bem mais fácil para iniciar
alguma conversa no albergue quando sabem de onde você é.
 Na medida do possível tente parecer o menos turista possível. É uma
forma de evitar que aproveitadores se aproximem.
 Evite beber durante as refeições. Além de se sentir mais leve para as
caminhadas seu bolso agradecerá. Um simples refrigerante pode custar
mais de quatro vezes o preço do Brasil.
 A não ser que você realmente queira não vá a um fast food, paga-se caro e
perde-se a experiência de conhecer a cultura local também através de sua
culinária, mas cuidado para não ter as férias frustradas com aquele
tempero laxante.
 Não caia na besteira de comprar como recordação garrafas de vinho, como
fiz. Pesam muito e suas costas sofrerão.
 Não leve saco de dormir pensando no frio que passará. A maioria dos
locais possui aquecimento sendo totalmente desnecessário e incômodo.
 Muito importante é ter os endereços e telefones das embaixadas brasileiras
nos países por onde passar. Caso venha a perder seu passaporte é lá que
precisará ir.

Embora todas estas dicas sejam seguidas, às


vezes é possível que algo não planejado aconteça. Nestas horas o melhor é manter a
calma. Vai aí minha principal dica: analise seu problema dividindo-o por partes e
resolva então cada uma delas, assim como na matemática, e ficará surpreso quando
aquele problemão estiver solucionado.
II - Endereços importantes

Principais consulados:

Roma, Itália
Consulado Brasileiro em Roma, na via Santa Maria dell’Anima, 32 - Tel.
6/687-78-91

Paris, França
Consulado Geral do Brasil, 12 rue de Berri (travessa da Avenue Champs-
Ellysées) Tel. 01/4225-3479

Albergue de Paris

Auberge internacionale des Jeunes


Rue Trousseau, 10 – Metrô Ledru-Rollin
Tel: 01/4700-6200
Preços em torno de 19 dólares por cama, com direito a café da manhã.

III – Roteiro imperdível

Bernina Express (cap. 3)


Muitos guias de viagem não trazem este passeio, o que é uma pena, pois é
realmente imperdível. Partindo da cidade de Tirano, na Itália, o Bernina Express
(um trem turístico de cor vermelha) vai com destino a Chur, na Suíça, passando pela
estação de esqui St. Moritz.
Cruza, através da linha férrea mais alta da Europa, paisagens fantásticas em
meio a florestas, lagos e montanhas cobertas de neve. Um passeio que pode ser feito
em um só dia, mas é necessário que se leve o passaporte. Informações e reservas em
Tirano (Tel. 0342/701-353).
IV – Opiniões de quem viajou com o autor

Gostaria de descrever o autor, meu amigo João, contemplando todas as suas


qualidades de bom viajante que, por ser metódico e precavido, não passou por
maiores apuros.
Meses antes de cada viagem, João já tinha três guias sobre cada destino. Não
era qualquer tipo de guia, eram verdadeiros manuais de sobrevivência dos grandes
centros. Ensinavam a comprar bilhetes de metrô, trens, continham mapas, rotas e
sugestões. Quase tudo era programado, contado e cronômetrado.
Ele não se limitava aos guias de viagens, lia na internet páginas com
experiências de viajantes e dicas, muitas dicas... Tudo foi realmente aproveitado em
suas aventuras. Infelizmente só participei da primeira ida ao velho mundo em 1999.
João é a companhia certa para se viajar, mesmo que ele próprio esteja
completamente perdido nos passa a segurança necessária para não corrermos à
procura de abrigo em uma embaixada brasileira.

Alexandre de O. Azevedo

Aquela viagem, em fevereiro de 2001, com o João foi bem bacana por dois
motivos: O primeiro é que ele já conhecia muito dos lugares por onde passamos
então era como estar com um guia particular. O segundo é que tínhamos pouco
dinheiro! O lado bom de não ter dinheiro foi o fato de termos de andar MUITO e
de dormir em lugares que a maioria dos turistas endinheirados nem pisariam.
Pudemos conhecer as cidades, como o João fala em um trecho do livro, na
sua forma mais cotidiana e perceber que, apesar de serem de primeiro mundo elas
também possuem ruas sujas e feiras livres!
Tão divertida quanto à viagem foi poder relembrar nossas aventuras neste
livro.

Vitor Almeida dos Santos, o Vas

"Paris era um sonho de infância que a cada dia tornava-se mais distante até
ter a oportunidade de estar na hora certa, no lugar certo, mas, sobretudo, com o
"guia" certo. A alegria de ver agora registrados os fatos inerentes à viagem só é
superada pela segurança de viajar com um amigo como o João Marcos. Ademais
devo a ele os quatro dias mais sonhados de pelo menos 40 anos.
Tudo em Paris foi mágico e novo para mim, ao mesmo tempo em que me
trouxe muitas lições de vida. Só posso desejar sucesso nessa nova empreitada e
registrar minha admiração por mais esse dom revelado.

Teresa Prado

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