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ÇDQR

Volume 3

Capítulo 9
Colonizações espanhola
e inglesa na América 2
Capítulo 10
Colonização portuguesa
na América 18

Capítulo 11
Comércio atlântico
de escravizados 34
Capítulo 12
Brasil Colonial: a sociedade
açucareira 48
Colonizações
9
capítulo
espanhola e
inglesa na América
©World Pictures/Alamy Stock Photo/Fotoarena

RIVERA, Diego. Chegada de Hernan Cortés a Veracruz. 1951. 1 afresco. Palácio Nacional, Cidade do México. Detalhe.

o que você O artista mexicano Diego Rivera representou um pou-


vai conhecer co da história de seu país em sua obra. A imagem dessa
página faz parte de um mural produzido por Rivera. Nele,
x Colonização espanhola constam elementos da colonização espanhola na América.
na América
Observe a imagem e responda: Como os espanhóis e os
x Administração
indígenas foram retratados pelo artista? Considerando a
espanhola na América
imagem, como você descreveria o processo de colonização
x Colonização inglesa
na América espanhola?

2 Ç

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objetivos do capítulo
x Caracterizar o modelo de administração principais características econômicas e
espanhola na América. sociais.
x Analisar os diferentes impactos da con- x Identificar os principais aspectos da
quista europeia na América espanhola colonização inglesa na América.
para as populações ameríndias. x Analisar o impacto do estabelecimento
x Descrever os elementos da sociedade dos colonos ingleses na América do
estabelecida na América espanhola. Norte sobre as populações nativas.
x Localizar geograficamente as Treze
Colônias inglesas, destacando as suas

Colonização espanhola na América


Ao chegar às terras americanas em 1492, Cristóvão Colombo pensou ter alcançado as
Índias. Por esse motivo, chamou os habitantes de índios, denominação que permaneceu para
designar os povos mais antigos que habitavam o continente americano, mesmo após a ela-
boração do termo “pré-colombianos”.
Os exploradores europeus impuseram a sua cultura a esses povos, muitas vezes por meio
da violência e da escravização. Mas houve reação por parte dos nativos, pois eles desejavam
preservar seus costumes.
Os conquistadores portugueses, espanhóis Colonização espanhola na América

Talita Kathy Bora


e franceses falavam línguas procedentes do la-
tim. Assim, as regiões por eles conquistadas – e,
depois, colonizadas – receberam a denominação
de América Latina.
Em 1494, Portugal e Espanha assinaram o
Tratado de Tordesilhas, documento que esta-
beleceu uma linha imaginária de 370 léguas (no
final do século XV, essa distância equivalia a cer-
ca de 2500 km) a oeste da ilha de Santo Antão,
no arquipélago de Cabo Verde. O tratado previa
que o território a oeste da linha ficaria com a Es-
panha, e a leste, com Portugal. Foi a partir desse
acordo que os espanhóis planejaram a conquista
e a dominação da região.
O território colonial espanhol foi dividido em
áreas administrativas distintas, independentes
entre si e que respondiam diretamente a Madri.

Fonte: ATLAS histórico escolar.


7. ed. Rio de Janeiro: Fename, 1977.
p. 50. Adaptação.

História 3
organizando a história

Observe o mapa da página 3. Em seguida, pesquise os nomes atuais dos países que foram colônias
espanholas até meados do século XIX.
América do Sul:

América Central:

América do Norte:

Conquistas dos astecas e dos incas


Os espanhóis iniciaram o processo de conquista pela região do Caribe. Entre 1508 e
1511, as ilhas de Porto Rico, Jamaica e Cuba foram dominadas. A partir desses pontos, os
navegadores espanhóis conseguiram contornar o continente e chegaram ao Oceano Pacífico
em 1513. Exploraram a região do Rio da Prata em 1516.

As riquezas atribuídas ao
Em 1519, atraído pelas notícias sobre riquezas do Império As-
Império Asteca estavam teca, o militar Hernán Cortez investiu na conquista desse Império,
relacionadas às consideráveis que corresponde a uma parte do atual território do México. Esse
reservas de ouro presentes processo foi concluído em 1521.
no território. ENTRADA de Cortez no México.
1 ilustração. Biblioteca do Congresso,
Washington, D.C.

©Biblioteca do Congresso, Washington, D.C.


Quando Hernán Cortez chegou pelo mar, foi confundido
com o deus Quetzalcóatl (divindade que tinha a forma
de uma serpente de plumas e asas) e recebido pelo
im
mperador Montezuma de forma amistosa.

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Numericamente menor, o exército de Cortez soube aproveitar as vantagens de que dis-
punha. Com uma frota de 11 navios, 600 canhões, 16 cavalos, dois intérpretes e 600 solda-
dos, os espanhóis conseguiram subjugar uma população de mais de 200 mil habitantes. Além
das armas de fogo, das armaduras, dos cavalos e dos cães ferozes, o explorador fez uso das
intrigas existentes entre tribos descontentes com a dominação asteca para instigar uma luta
interna.
©Wikimedia Commons/Manuel de Yañez

Os tlaxcaltecas faziam parte de um reino


que não havia sido conquistado pelos
astecas. Eles formaram uma aliança com
os espanhóis, invadiram a capital asteca
Tenochtitlán e forneceram guerreiros
para os confrontos. A luta entre reinos
nativos, influenciados pelos espanhóis,
gerou uma diminuição da população
guerreira, acarretando a redução da
resistência contra os conquistadores.
Os tlaxcaltecas, por lutarem ao lado dos
espanhóis, desfrutaram de privilégios
que os distinguiam de outros povos
nativos americanos, como o porte de
armas de fogo e a autonomia de governo
em seus povoados.

CONQUISTA de Tototlan. 1 ilustração, color.


Tlaxcala Canvas Edition, 1982. Universidade
Nacional Autônoma do México.

Outro fator importante na vitória espanhola foi a dissemina- Ameríndios é um dos nomes
ção de doenças desconhecidas na América. A catapora, a varíola ou dados aos povos que viviam no
continente americano antes
mesmo variações do vírus da gripe inexistentes no continente se
da chegada dos europeus,
espalharam rapidamente entre os povos ameríndios. Essas doen- assim como indígena ou
ças provocaram a morte de milhares de pessoas e enfraqueceram nativo americano.
rapidamente o contingente guerreiro dos nativos.
©Fine Art Images/Album/Album/Fotoarena

Finalmente, a destruição
do modo de produção coletiva desses povos também
enfraqueceu a resistência e possibilitou a conquista.
Na América do Sul, Francisco Pizarro e Diego de Al-
magro iniciaram a conquista do Império Inca, atual Peru,
entre 1531 e 1533. A exploração desse território, junto
ao dos astecas e dos maias, deu à Espanha grande quan-
tidade de ouro e prata.

COUTAN, Amable-Paul. Retrato de Francisco


Pizarro. 1835. 1 óleo sobre tela, 72 cm × 54 cm.
Palácio de Versalhes, França.
Utilizando técnicas militares inovadoras, Pizarro
derrotou os incas e conquistou o Peru

História 5
Francisco Pizarro chegou a Cuzco, capital do Império Inca, em 1532. Sua chegada se deu
logo após uma disputa pelo poder entre os irmãos Huáscar e Atahualpa. O Império Inca es-
tava dividido e era governado por Atahualpa. Com 180 homens e 27 cavalos, Pizarro se apro-
veitou das disputas internas pelo

©Museu de Arte de Lima, Peru


poder e do uso de armas de fogo
pelo exército espanhol para domi-
nar e conquistar as principais cida-
des incas.
Pizarro fundou a cidade de Lima
em 1535 e continuou sua campanha
de conquista. As forças incas tenta-
ram retomar Cuzco, mas foram der-
rotadas por Almagro.

LEPIANI, Juan. A captura de Atahualpa.


[ca. 1920-1927]. 1 óleo sobre tela,
60 cm × 85 cm. Museu de Arte de Lima, Lima.

interpretando documentos

Leia a citação a seguir sobre as conquistas espanholas na América.

Trinta anos depois de pisarem os espanhóis o continente americano, ninguém que visitas-
se as paragens do México ou do Peru seria capaz de desconfiar, sequer, que ali existiram dois
impérios adiantados, fortes, populosos, encerrando mundo de tradições. Tudo desaparecera.
[...] ninguém cumprira jamais façanha igual: eliminar duas civilizações de tal forma que até as
tradições se perderam [...].
BOMFIM, Manoel. A América Latina: males de origem. Rio de Janeiro: Topbooks, 1993. p. 87.

De acordo com a citação e com seus estudos, marque V para as alternativas verdadeiras e F para as
falsas. Depois, no caderno, reescreva as falsas para que se tornem verdadeiras.
a) ( ) De acordo com Manuel Bomfim, apesar da conquista espanhola, as tradições incas e aste-
cas permaneceram inalteradas.
b) ( ) As armas utilizadas pelos espanhóis nas batalhas já eram conhecidas dos nativos americanos.
c) ( ) As doenças contagiosas mataram em larga escala os povos pré-colombianos porque estes
não tinham imunidade contra elas.
d) ( ) Na conquista do Império Asteca, os espanhóis contaram com o apoio de tribos de nativos
americanos que estavam descontentes com a dominação asteca.
e) ( ) Entre as principais motivações para a conquista espanhola na América estava a busca
pelo ouro.

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Administração espanhola na América
As colônias espanholas na América eram consideradas propriedades pessoais do rei da
Espanha. A monarquia espanhola impôs um rígido controle administrativo e fiscal sobre a
região. O território americano que coube à Espanha foi dividido em capitanias-gerais e vice-
-reinos. Os capitães-gerais e vice-reis eram escolhidos pelo governo espanhol para comandar
esses territórios, devendo obediência e lealdade aos reis espanhóis.

Nesse período, a Espanha praticava uma política mercantilista, assim, suas colônias na
América foram inseridas nesse contexto. O processo de colonização das terras americanas
teve como base o Pacto Colonial, um conjunto de leis estabelecido pelas metrópoles que
deveria ser cumprido pelos colonos. O Pacto Colonial prezava pela exclusividade: a colônia
enviava matéria-prima (produtos tropicais e metais preciosos) para a metrópole, e a metró-
pole enviava produtos manufaturados e escravizados para a colônia.

Inicialmente, a exploração dos metais preciosos na América foi deixada a cargo de par-
ticulares, os adelantados. Eles deveriam pagar impostos referente a um quinto de todo o
metal explorado para a Coroa espanhola, e dela recebiam o direito de fundar cidades, cate-
quizar os nativos, construir fortalezas, comandar exércitos e impor leis.
Conforme a exploração se intensificava, a administração colonial deixou de ficar apenas
a cargo dos adelantados. Foram enviados para a América os chapetones, funcionários da
Coroa que se encarregaram da administração dos territórios. Eram eles que fiscalizavam as
atividades dos espanhóis na América. Os chapetones eram subordinados aos vice-reis.
Estima-se que 30 mil toneladas de prata foram extraídas apenas das minas de Potosí. O
trabalho nas minas profundas dos Andes, onde o ar é rarefeito, provocava doenças pulmo-
nares graves.

Em Potosí a prata levantou templos e palácios, mosteiros e cassinos, foi motivo de


tragédia e de festa, derramou sangue e vinho, incendiou a cobiça e gerou desperdício
e aventura.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Porto Alegre: L&PM, 2010. p. 18.

pesquisa
Busque informações sobre o que foi feito com a prata retirada das minas das colônias
espanholas. Depois, anote o que você encontrou.

História 7
Ainda na primeira metade do século XVI, foram criados os órgãos administrativos nas
colônias. O mais importante deles era o Conselho das Índias, de 1524, responsável por ela-
borar leis, aplicar a justiça e designar os funcionários públicos que seriam enviados para a
América. A esse conselho se submetiam todos os outros órgãos.
Para fiscalizar o trabalho dos vice-reis e dos capitães-gerais, o Conselho das Índias auto-
rizava a formação de audiências e enviava, aleatoriamente, visitadores para inspecionar a
colônia. Compostas de ouvidores, as audiências eram abertas como um Tribunal Superior, às
quais os colonos poderiam recorrer de penas ou acusações consideradas injustas.
As maiores autoridades governamentais das colônias eram os vice-reis e os capitães-
-gerais. Nas cidades, os órgãos responsáveis pelas funções judiciais e administrativas eram
os cabildos, que funcionavam como câmaras municipais controladas pelas elites locais. Os
criollos (filhos de espanhóis nascidos na América) poderiam participar dos cabildos. Os de-
mais cargos eram ocupados exclusivamente por pessoas nascidas na Espanha.
©Shutterstock/Diego Grandi O controle econômico era realizado pela Casa
de Contratação. Nela, era estabelecida a fre-
quência com que os navios partiriam da América
e a qual porto se dirigiriam. Esse órgão definiu o
regime de porto único, ou seja, as embarcações
que transportavam riquezas das colônias ameri-
canas deveriam se encaminhar ao porto de Sevilla
e, posteriormente, ao de Cádiz; elas não podiam
se dirigir a outros portos europeus. O objetivo era
combater a pirataria e o contrabando de metais
preciosos.

Prédio do Cabildo de Salta, na Argentina.


Atualmente, essa construção abriga o
Museu Histórico do Norte, com exposições
sobre o passado colonial do país.

organizando a história

O mercantilismo regia a política econômica da maior parte dos países europeus no século XVI. Dian-
te disso, pode-se afirmar que as colônias da América tinham a função de
a) servir de moradia aos refugiados políticos desses reinos.
b) aumentar a riqueza de suas metrópoles, provendo metais preciosos que gerariam uma balança
comercial favorável.
c) fornecer produtos industrializados que seriam revendidos por suas colônias para toda a Europa.
d) promover a formação de uma população detentora dos conhecimentos europeus em conjunto
com os saberes dos povos nativos da América.
e) prover mão de obra que seria exportada para a Europa.

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O trabalho nas colônias espanholas
Até a chegada dos espanhóis, os habitantes da América mantinham a propriedade das
terras nas mãos do Estado, o qual concedia o direito de uso delas mediante o pagamento de
impostos. Afora os tributos, o excedente era de uso coletivo.
Os espanhóis implantaram a lógica mercantilista na produção agrícola, concentrando as
terras nas mãos de alguns proprietários, fato que disseminou a fome entre muitos indígenas.
As formas de trabalho impostas aos ameríndios eram variadas. As mais conhecidas foram a
encomienda e a mita.

©Wikimedia Commons/Florián Paucke


Encomienda: nesse sistema, os indí-
genas da América deveriam cultivar ali-
mentos e, em troca, os espanhóis se com-
prometiam a catequizá-los e protegê-los.
Tratava-se de uma condição muito pareci-
da com a da escravidão. No entanto, juri-
dicamente, esses indígenas eram homens
livres, e o trabalho era visto como uma for-
ma de tributo. Essa condição não era per-
manente nem hereditária.

PAUCKE, Florián. Encomienda de


indígenas em Tucumán. [séc. XVIII].
Indígenas trabalhando em uma propriedade rural em Tucumán

Mita: também chamada pelos espanhóis de


©Historia Americae sive Novi Orbis

repartimiento de trabajo, era uma forma de trabalho


semelhante à praticada pelos incas e astecas antes
da conquista espanhola. Consistia na demanda de
mão de obra indígena para o trabalho nas minas e em
grandes obras públicas. Embora fosse uma atividade
remunerada, era obrigatória, e as condições se
assemelhavam às da escravidão. Foi bastante usada
nas minas para a extração de ouro e prata.
A gravura representa Potosí, uma grande
montanha repleta de minas de prata. A mineração
era a principal atividade lucrativa da colonização
espanhola na América.
BRY, Théodore. Mineração em Potosí. 1596. 1
gravura. História Americae sive Novi Orbis.

Os maus-tratos sofridos pelos ameríndios em decorrência das condições de trabalho causa-


ram a morte de muitos deles, contribuindo para a diminuição da população nativa da América.
A escravidão africana também foi praticada nas colônias espanholas, sobretudo no Cari-
be. Porém, o recurso à mão de obra africana ocorreu principalmente em regiões nas quais os
espanhóis não podiam explorar o trabalho indígena.

História 9
A imposição da religião cristã também foi um recurso de dominação usado pelos espa-
nhóis. A proibição da prática das religiões tradicionais fez com que parte da cultura indígena se
perdesse, forçando esses povos a se aproximar cada vez mais dos padrões culturais europeus.
Para tanto, foram construídas as chamadas missões ou reduções, comunidades nas quais
os indígenas viviam de acordo com o ritmo de trabalho europeu, constituíam famílias aos
moldes cristãos, praticavam o catolicismo e aprendiam técnicas agrícolas e arquitetônicas,
tudo sob a supervisão dos padres.

interpretando documentos

O frei Bartolomeu de Las Casas viveu na América entre os anos de 1502 e 1547. Em razão
da convivência com a realidade dos indígenas americanos, ele se envolveu na defesa dessa
população. Em 1552, publicou uma obra na qual denunciava a violência dos conquistadores
e dos colonos espanhóis contra as populações nativas da América. O fragmento a seguir traz
uma reflexão sobre a violência praticada pelos europeus. Leia-o com atenção.

Com que direito haveis desencadeado uma guerra atroz contra essas gentes que viviam pa-
cificamente em seu próprio país? Por que os deixais em semelhante estado de extenuação? Os
matais a exigir que tragam diariamente seu ouro. Acaso não são eles homens? Acaso não pos-
suem razão e alma? Não é vossa obrigação amá-los como a vós próprios?
LAS CASAS, Bartolomé de. O paraíso destruído: a sangrenta história da conquista da América Espanhola. 2. ed. Porto
Alegre: L&PM, 2007. p. 13.

Com base na citação, responda às questões propostas.


1 Quais foram as críticas feitas por Bartolomeu de Las Casas ao comportamento dos espanhóis?

2 Segundo Las Casas, como a postura dos espanhóis em relação aos indígenas americanos prejudica-
va os projetos da Igreja na América?

Sociedade colonial espanhola


A estrutura administrativa criada pelos espanhóis gerou uma sociedade colonial rigida-
mente ordenada.
Os chapetones, indivíduos nascidos na Espanha que vinham para a América assumir cargos
administrativos, estavam no nível mais elevado. Somente eles podiam assumir tais cargos, pois

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eram escolhidos entre as pessoas mais
próximas e de confiança do rei ou dos
conselheiros que o assistiam.
Abaixo dos chapetones estavam
os criollos, filhos de espanhóis nas-
cidos na América. Eles faziam parte
da elite colonial, eram proprietários

©Wikimedia Commons
de terras, oficiais militares, altos clé-
rigos, advogados, comerciantes, mas
não podiam assumir os principais
cargos administrativos pelo fato de
terem nascido na América. Essa foi FAMÍLIA Fagoaga Arozqueta. 1730. 1 óleo sobre tela. Cidade do México.
a raiz do conflito entre os colonos e A família Fagoaga Arozqueta era de origem criolla da classe alta da Cidade
os espanhóis, que mais tarde deu ori- do México
gem aos primeiros movimentos pela
independência da América espanhola.
Os mestiços, os indígenas e os escravizados trazidos da África compunham o grupo
que arcava com a maior parte do trabalho.
Nas colônias espanholas, havia uma hierarquia racial. Quanto mais próxima da “pureza
racial” espanhola, mais privilégios uma pessoa poderia ter na sociedade colonial. Assim, os
mestiços, filhos de espanhóis e indígenas, eram hierarquicamente inferiores aos criollos,
mas ainda tinham alguma projeção social. Constituíam um grupo médio, como pequenos
comerciantes, artesãos ou prestadores de serviços às famílias criollas e aos chapetones.
Nessa sociedade, os indígenas eram excluídos e não tinham os mesmos direitos dos des-
cendentes de espanhóis. A maioria estava submetida ao trabalho compulsório em regime
de semiescravidão. Embora estivessem nessa condição, eram juridicamente superiores aos
escravizados. Seu trabalho era, por vezes, remu-
©Galeria de Castas Mexicanas, Cidade do México

nerado, não podiam ser comprados ou vendidos


e seus filhos não estavam, necessariamente, re-
duzidos às obrigações do trabalho compulsório.
Na base da pirâmide social estavam os es-
cravizados, geralmente de origem africana. Em-
bora não tenham sido a principal força de tra-
balho nas colônias espanholas, a mão de obra
escravizada africana foi fundamental no Caribe.
Sua situação jurídica era inferior à dos indígenas,
embora, na prática, fossem tratados da mesma
forma.

CABRERA, Miguel. Pintura de castas.


1763. 1 óleo sobre tela. Galeria de Castas
Mexicanas, Cidade do México.
Família mestiça da América espanhola

História 11
A Igreja Católica teve um papel

©Shutterstock/Heikoneumann Photography
fundamental no processo de coloni-
zação dos territórios da Espanha na
América.
A Igreja foi o braço direito da Co-
roa espanhola, pois se dedicou à euro-
peização dos povos indígenas, conver-
tendo-os ao catolicismo, ensinando a
língua espanhola às crianças, impon-
do a moral cristã, etc.
CATEDRAL Metropolitana da Cidade do México. 2005. 1 fotografia.
Cidade do México.

Hernán Cortez ordenou a construção de uma igreja sobre as ruínas do antigo Templo Maior Asteca. Posteriormente,
essa igreja foi demolida e teve início a construção da Catedral do México.

organizando a história

1 Com base em seus conhecimentos sobre a colonização espanhola na América, analise as afirmativas
a seguir.
I. Na sociedade colonial espanhola, os chapetones eram o grupo que arcava com a maior parte do
trabalho, como a produção de alimento.
II. Os mestiços eram hierarquicamente inferiores aos criollos, contudo tinham alguma projeção social.
III. A Igreja Católica trabalhou ao lado da Coroa espanhola no processo de colonização na América.
De acordo com a análise, assinale a alternativa correta.
a) Todas as afirmativas são verdadeiras.
b) Todas as afirmativas são falsas.
c) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
d) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.
e) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras.
2 Escreva o nome e as atribuições dos grupos que faziam parte da sociedade colonial espanhola na
América.

12 ÇDQRÉ9ROXPH
Colonização inglesa na América
A expansão marítima e a colonização inglesa, em comparação com a ibérica, acontece-
ram de maneira tardia. Dois elementos explicam essa situação: um externo, a Guerra dos
Cem Anos (1337-1453), que mobilizou Inglaterra e França, e outro interno, a Guerra das Duas
Rosas (1455-1485) – disputa pelo trono inglês entre as famílias Lancaster e York.
A Inglaterra foi derrotada no conflito externo e,
©Museu Thyssen-Bornemisza, Madri

no interno, passou por uma guerra civil que abalou as


finanças do reino. A Guerra das Duas Rosas terminou
quando Henrique Tudor derrotou Ricardo III na Batalha de
Bosworth. O novo rei assumiu o poder como Henrique VII
e unificou as duas alas da nobreza, dando início à dinastia
Tudor, consolidadora do Absolutismo na Inglaterra.
No século XVII, com a organização da economia, o Es-
tado inglês, em aliança com a burguesia, teve condições
de investir recursos nas grandes navegações.

HOLBEIN, Hans. Retrato de Henrique VIII da Inglaterra.


1537. 1 óleo sobre tela, 28 cm × 20 cm. Museu
Thyssen-Bornemisza, Madri.
Rei Henrique VIII, segundo monarca inglês
pertencente à dinastia Tudor

As regiões tropicais do continente americano, com potencial agrícola e onde se concen-


travam minas de ouro e prata, já haviam sido conquistadas por outros países. Para não ficar
de fora da exploração do continente americano, os ingleses recorreram à pirataria corsária.
O Oceano Atlântico se tornou um lago de corsários, que promoviam saques a mando
dos seus governantes. Seus alvos principais eram as naus espanholas e portuguesas que se
dirigiam à Península Ibérica carregadas de riquezas.

©Abadia de Buckland, Devon, Inglaterra


Os corsários recebiam um documento chamado Carta de Corso,
indicando que estavam autorizados pela Coroa inglesa a saquear
navios estrangeiros. Os piratas faziam o mesmo, contudo trabalhavam
por conta própria e dividiam os lucros entre a população.

Francis Drake foi um dos principais


corsários ligados à Inglaterra. Por suas
conquistas, recebeu títulos de nobreza
da rainha Elizabeth I.

GHEERAERTS, Marcus. Sir Francis Drake.


1590. 1 óleo sobre tela, 86 cm × 76 cm. Abadia
de Buckland, Devon.

História 13
Além dessas atividades, os ingleses conquistaram territórios na América do Norte, no
Caribe, na América Central e do Sul, os quais correspondem, atualmente, a parte dos Estados
Unidos e do Canadá, das ilhas de Bahamas, Jamaica, Bermudas e Trinidad e Tobago, e aos
territórios de Belize e da Guiana Inglesa.

As Treze Colônias Quando chegaram à Améri-


ca, os ingleses estabeleceram-
Marilu de Souza

-se na região litorânea da Amé-


rica do Norte.
A ocupação inglesa da
América deu origem às Treze
Colônias. Essas colônias apre-
sentavam características so-
ciais, econômicas e políticas
distintas.

Fonte: ATLAS histórico escolar. Rio


de Janeiro: MEC/Fename, 1973. p. 48.
Adaptação.

A ocupação do território americano pelos ingleses só começou efetivamente no século


XVII e com objetivos e preocupações diferentes dos que tinham os ibéricos. As terras ameri-
canas foram vistas como a possibilidade de um território para onde enviar cidadãos ingleses
que causavam problemas à Coroa.
Dessa forma, algumas pessoas foram incentivadas a se deslocar para a América. A reli-
gião oficial da Inglaterra era o anglicanismo. Os fiéis de outras igrejas cristãs eram persegui-
dos e impedidos de praticar sua fé. Famílias inteiras que se viam nessa situação optaram por
se mudar para a América e iniciar a colonização das Treze Colônias.
Como poucas pessoas tinham condições financeiras de pagar a viagem até a América,
desenvolveu-se uma nova forma de trabalho: a servidão por contrato. Uma pessoa financiava
a viagem em troca de trabalho gratuito até que a dívida fosse paga. Os colonos pobres leva-
vam cerca de sete anos para garantir sua liberdade.

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Como a intenção dos ingleses era viver na América, diferentemente de portugueses e
espanhóis, que almejavam apenas levar as riquezas para a Europa, desde o início, a coloni-
zação inglesa buscou desenvolver uma infraestrutura, que envolvia a construção de casas,
enfermarias, oficinas e demais edificações necessárias para a vida em comunidade.
Na administração, em vez de enviarem funcionários para administrar suas posses na
América (como haviam feito os ibéricos), os ingleses organizaram governos locais, escolhen-
do representantes para as assembleias.

interpretando documentos

Observe, no material de apoio, a imagem que representa o Dia de Ação de Graças dos
colonos norte-americanos. De acordo com seus estudos sobre a colonização inglesa na Amé-
rica, assinale a alternativa correta.
a) Os colonos procuravam manter a cultura europeia e não integravam seus hábitos aos dos indí-
genas.
b) De acordo com a imagem, percebemos que os colonos rapidamente incorporaram à sua cultura
hábitos dos indígenas da América do Norte.
c) Os colonos ingleses transformaram a colonização em uma missão religiosa, buscando ensinar
aos indígenas os fundamentos da fé católica.
d) Os ingleses estimularam acordos comerciais e casamentos com os indígenas.
e) A ação colonizadora inglesa na América respeitou a posse da terra dos povos nativos, buscando
regiões que ainda não tinham ocupação humana.

Diferenças entre as Treze Colônias


De acordo com as condições climáticas de cada colônia, foram estruturadas suas bases
econômicas, políticas e sociais. As colônias do Norte, compostas de Massachusetts, Rhode
Island, New Hampshire, Connecticut, Nova Iorque, Nova Jérsei, Delaware e Pensilvânia, não
puderam se dedicar à agricultura em virtude do clima temperado. Nelas, então, prevalece-
ram as cidades, a atividade comercial, a instalação de manufaturas, os minifúndios com pro-
dução variada, o desenvolvimento do mercado interno e a mão de obra livre, pois não havia
recursos suficientes para a importação de escravizados em grande escala.
A pouca relevância econômica dessas colônias para a Inglaterra fez com que o Pacto Co-
lonial, que deveria limitar as liberdades comerciais da colônia, não fosse respeitado. Diante
disso, esses territórios desenvolveram maior autonomia.
As colônias do Sul, formadas por Maryland, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina do Sul e
Geórgia, de clima ameno, dedicaram-se à agricultura e seu modo de organização era diferen-
te daquele estabelecido nas vizinhas do Norte. Nas colônias do Sul, a mão de obra escrava
era utilizada em grande escala.

História 15
Nas colônias do Sul, prevaleceu o modelo de plantation, também adotado no Brasil. A
produção se concentrava em grandes propriedades, os latifúndios. Nesses locais, predomi-
nava a produção de apenas um gênero agrícola, o algodão. Esse produto ganhou importân-
cia ao longo do tempo, já que era a matéria-prima essencial para o processo da Revolução
Industrial na Inglaterra, cuja base era o setor têxtil. O cultivo de apenas um produto é cha-
mado de monocultura.
As colônias do Sul eram, portanto, rurais e, em razão da sua importância para a indústria
inglesa, todas as atividades eram rigidamente controladas pela Inglaterra. O comércio era mo-
nopolizado pelas companhias de comércio, empresas mistas, privadas e estatais, que estabele-
ciam regras e preços, além de realizarem o transporte de mercadorias para a Inglaterra.

O Destino Manifesto
Depois de colonizar o litoral, os ingleses iniciaram a expansão para o interior do conti-
nente. Pelos locais onde se estabeleciam, os colonos levavam o seu modo de vida. Essa ex-
pansão, porém, encontrou uma barreira nos povos indígenas que habitavam o interior, como
os apaches, os sioux e os cheyennes. Os ingleses, no entanto, dispostos a estimular o cres-
cimento e o desenvolvimento das suas colônias, promoveram ataques aos povos indígenas.
Na busca por justificar a expansão territorial e a dizimação de indígenas, em 1845, o
jornalista John O’Sullivan teria publicado a seguinte frase na Revista Democrática: “Nosso
destino manifesto atribuído pela Providência Divina para cobrir o continente para o livre de-
senvolvimento de nossa raça que se multiplica aos milhões anualmente.”. Depois dessa pu-
blicação, propagou-se a ideia de que os colonos eram o povo escolhido por Deus para levar
a cultura e o seu modo de vida a todos os cantos da América. Tal ideia passou a ser chamada
de Destino Manifesto.

A ideia de superioridade, manifestada nesse período, foi retomada em vários momentos da


história dos Estados Unidos como forma de legitimar a dominação de outros povos e territórios.

troca de ideias
A imagem ao lado é uma das repre-
©Autry Nacional Museu do Oeste Americano, Los Angeles

sentações do Destino Manifesto que


os colonos ingleses usavam para justi-
ficar a apropriação de terras indígenas.
Reúna-se com um colega e jun-
tos analisem a imagem. Em seguida,
identifiquem os elementos que ex-
pressam a ideia do Destino Manifesto
apresentados na pintura.

GAST, John. Progresso americano. 1872. 1 óleo sobre


tela, color., 45,08 cm × 54,61 cm. Autry Nacional
Museu do Oeste Americano, Los Angeles.

16 ÇDQRÉ9ROXPH
Embora tenha gerado benefícios à Inglaterra, a colonização inglesa na América foi trági-
ca para as populações nativas. Os indígenas norte-americanos tiveram suas terras tomadas,
e muitas de suas práticas culturais foram desestruturadas à medida que os colonos europeus
avançavam. Estima-se que a população indígena que vivia na região, que atualmente forma
os Estados Unidos, era de 25 milhões no século XVI. No início do século XIX, era de 2 milhões.

interpretando documentos

Leia com atenção o trecho a seguir.

Para conseguir 20 000 quilos de ouro, remetidos à Espanha entre 1503-1530 (antes disso
não há registro), os espanhóis saquearam, mataram e roubaram. Os historiadores discutem o
número de mortos, mas ninguém nega a tragédia. Se a ilha de São Domingos tinha 8 milhões de
habitantes em 1492, em 1514 restavam 32 mil homens. Se o vale do México comportava 25 mi-
lhões de pessoas, no final do século não passavam de 70 000 pessoas. Sessenta e oito por cento
dos Maias pereceram nas mãos dos espanhóis. A população do Peru, que em 1530 era calculada
em 10 milhões, em 1560 caiu para dois milhões e meio. Um desastre demográfico.

PEREGALLI, Enrique. A América que os europeus encontraram. São Paulo: Atual, 1987. p. 4-5.

Com base no texto e nos seus estudos, escreva duas semelhanças e duas diferenças entre as colo-
nizações espanhola e inglesa na América.

o que já conquistei

Leia as afirmativas a seguir e marque V para as verdadeiras e F para as falsas. Depois, reescreva no
caderno as afirmativas falsas de modo que se tornem verdadeiras.
a) ( ) Os vice-reis poderiam ser escolhidos entre a nobreza espanhola ou entre as famílias criollas.
b) ( ) A Igreja Católica era uma das principais instituições na América espanhola.
c) ( ) Os indígenas estavam abaixo de todas as outras castas sociais na América espanhola.
d) ( ) Os colonos ingleses que vieram para a América buscavam um novo mundo para viver; os
ibéricos buscavam riquezas para levar para a Europa.
e) ( ) O Conselho das Índias era o principal órgão administrativo da América espanhola.
f) ( ) Entre as colônias inglesas na América, as do norte se dedicavam à agricultura em grandes
áreas, a chamada plantation.
g) ( ) Os cabildos eram proprietários de terras que recebiam grandes quantidades de indígenas
para trabalhar na forma de encomienda.

História 17
Colonização
10
capítulo
portuguesa na
América
©Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

MEIRELLES, Victor. A primeira missa no Brasil. 1860. 1 óleo sobre tela, 268 cm × 356 cm. Museu Nacional de
Belas-Artes, Rio de Janeiro.

A imagem desta página representa, de forma alegórica,


o que você como foi a primeira missa celebrada em território brasileiro.
vai conhecer O evento ocorreu provavelmente na atual região de Porto Se-
x Crise do comércio guro, quatro dias depois da chegada dos portugueses. O cele-
com as Índias brante foi o frei Henrique de Coimbra.
x Contatos, escambos Observe a imagem e converse com seus colegas sobre
e feitorias as seguintes questões: Qual é a postura dos dois grupos que
x Organização da aparecem na imagem? É possível dizer que o contato entre
política colonial portugueses e nativos foi pacífico?

18 Ç

DQRÉ9ROXPH
DQRÉ9ROXPH
objetivos do capítulo
x Explicar as razões que levaram os x Compreender os elementos das
portugueses a iniciar a colonização estruturas políticas e econômicas no
do Brasil. processo de colonização portuguesa.
x Analisar as relações estabelecidas x Conhecer as características estrutu-
entre portugueses e indígenas nas rais do Governo-Geral e sua relação
primeiras décadas da colonização. com as Capitanias Hereditárias.
x Descrever o processo de formação
das Capitanias Hereditárias.

Crise do comércio com as Índias


Em março de 1500, sob o comando de Pedro Álvares Cabral, uma esquadra formada por
13 navios partiu de Lisboa com uma tripulação de mil e quinhentos homens, entre nobres,
funcionários da corte, padres, marujos, soldados e degredados. Foi a maior frota reunida para
cruzar o Atlântico até aquele momento. O objetivo oficial era fundar um entreposto comercial
em Calicute, na Índia.
©Shutterstock/casadaphoto
Afastando-se, teoricamente, da rota original, na tarde de 22
de abril, a frota portuguesa aportou no litoral do atual estado da
Bahia, onde foi fixado o brasão real. O marco coonf
nfir
irrma
mavav a
va
posse dass te
terr
r ass pel
rr elaa
Assim, os portugueses tomavam posse das terras que lhes fo- Coroa po
ort
rtug
ugue
uesasaa.
ram asseguradas pelo Tratado de Tordesilhas, assinado entre Por-
tugal e Espanha em 1494.
Na carta que enviou ao rei português, o cronista da viagem,
Pero Vaz de Caminha, descreveu suas primeiras impressões sobre
as terras encontradas.

Vendo do mar, o sertão nos pareceu muito grande, porque, ao


estender os olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos
a perder de vista. Até agora, não pudemos saber que haja aqui
ouro, prata, ou alguma coisa de metal ou ferro; nem o vimos. Po-
rém a terra em si tem um ótimo clima, frio e temperado [...]. As
águas são muitas, infindas. E esta terra é tão graciosa que, que-
rendo aproveitá-la, tudo dará, em razão das águas que tem. [...]

CARTA de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, Adhemar; BERUTTI, Flávio; FARIA,
Ricardo. História moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2008. p. 70.

Marco de posse português colocado


em Porto Seguro, sul da Bahia

19
A expedição portuguesa permaneceu no litoral brasileiro até os primeiros dias do mês
de maio. Depois, sob o comando de Gaspar Lemos, uma embarcação retornou a Portugal a
fim de levar a notícia da posse da terra, enquanto Cabral seguiu para as Índias com o restante
da expedição.

organizando a história

Analisando a descrição feita por Pero Vaz de Caminha e tendo em mente o destino principal da ex-
pedição de Cabral, assinale a alternativa correta.
a) Em razão das riquezas encontradas de imediato pelos portugueses, a frota de Cabral retornou a
Portugal para solicitar ao rei o início da colonização.
b) O objetivo da frota de Cabral era chegar às Índias. A América, embora tivesse clima e solos bons,
aparentemente não possuía metais preciosos, por essa razão ficou em segundo plano.
c) Os portugueses não sabiam da existência de terras na região onde atualmente fica o Brasil, por essa
razão o Tratado de Tordesilhas foi apenas um golpe de sorte que garantiu a posse desse território.
d) Quando os portugueses chegaram ao Brasil, os espanhóis já haviam passado por aqui e estabelecido
os primeiros contatos com os indígenas brasileiros, dificultando a tomada de posse do território.
e) Em virtude da inexistência de riquezas na região, da falta de água e de solos férteis, os portugue-
ses abandonaram o Brasil, retornando apenas 50 anos depois.

A primeira iniciativa da Coroa portuguesa em relação ao novo território foi determinar a


vinda de expedições destinadas a reconhecer o litoral. Assim, em 1501, Gaspar Lemos liderou
uma expedição e, em 1503, Gonçalo Coelho comandou a segunda. Entre 1516 e 1526, duas
outras expedições, sob o comando de Cristóvão Jacques, foram enviadas com o objetivo de
proteger a costa brasileira de possíveis ataques estrangeiros, as expedições guarda-costas.
Foi durante essas viagens que os portugueses descobriram uma madeira nobre.

©Shutterstock/Marafona
Inicialmente, a terra conquistada pelos
portugueses foi denominada Terra de Vera
Cruz, por conta da Cruz da Ordem de Cristo,
desenhada nas caravelas. Posteriormente,
o rei de Portugal Dom Manuel denominou-a
Terra de Santa Cruz. Com o início da extra-
ção da madeira do pau-brasil, o nome Brasil
foi adotado.

A cruz era o símbolo da Ordem e Cavalaria de Cristo,


fundada pelo papa João XXII a pedido de D. Dinis
em 1319. Com o objetivo de proteger os viajantes,
a cruz estava presente nas velas das caravelas que
exploravam mares desconhecidos.

CARAVELA. 1 pintura em azulejo.

20 ÇDQRÉ9ROXPH
pesquisa
Além dos nomes portugueses dados ao nosso país, algumas tribos indígenas usavam outro
termo para identificar a terra onde viviam. Faça uma pesquisa, descubra qual era esse nome e o
que significava.

Apesar da vastidão do novo território, o Brasil não parecia ter ouro, prata ou pedras pre-
ciosas, algo de valor substancial a ser explorado. O pau-brasil, embora fosse lucrativo para os
comerciantes, ainda não gerava o lucro que o comércio com as Índias oferecia.
O desinteresse português pelo Brasil explica a razão de a colonização do território ter
começado apenas 30 anos depois da chegada dos lusos a terras brasileiras. A crise do co-
mércio com as Índias influenciou profundamente o início da colonização.
Todos os anos, os navios portugueses se dirigiam às Índias contornando a África; essa
viagem era chamada de “carreira das Índias” – trajeto entre Lisboa e os portos de Cochim e
Goa. Até meados de 1530, os negócios de Portugal na Índia foram bastante lucrativos, e os
portugueses ultrapassaram os venezianos no controle do comércio de especiarias.

©Atlas de Braun et Hogenberg


A ci
c da
dade
de de Go
Goa,, no atua
uall te
t rrrit
itór
ório
ór io daa
Índi
dia,
a ficcou
o sob o controle portuguê ês porr
mais
i dde 400 anos. T Tornou-se a capital it l d
do
BRAUN, Georg; HOGENBERG, Franz. Cidade de Goa. 1509. In:
Império português na Índia, região de
Civitates orbis terrarum. 1617.
imensa importância econômica.

N primeira
Na i i metadet d d
do século
é l XVIXVI, por várias razões, esse comércio começou a declinar.
O motivo mais importante para isso foi a entrada de outras nações na corrida colonial e na
expansão marítima, como Inglaterra, França e Holanda. Esses países não respeitavam a di-
visão do mundo estabelecida por Espanha e Portugal no Tratado de Tordesilhas e passaram
a concorrer com os portugueses, tomando algumas colônias, assediando outras, assumindo
parte do comércio de especiarias e atacando navios portugueses por meio dos corsários.
Os franceses começaram a traficar pau-brasil clandestinamente, depois invadiram as
atuais regiões do Rio de Janeiro e do Maranhão. Portugal não tinha recursos militares sufi-
cientes para fazer frente a essa disputa, e o domínio sobre tais regiões passou a ser inviável.
A distância entre Portugal e as Índias acabou contribuindo para a crise. Os navios aguen-
tavam apenas uma viagem de ida e volta, a manutenção da frota tinha alto custo, os naufrá-
gios eram comuns e a defesa das diversas feitorias espalhadas pelo Oriente ficou cada vez
mais difícil após a disputa comercial com outras potências. Assim, o volume de gastos com as
viagens não compensava o lucro obtido com o comércio de especiarias na Europa.

História 21
A descoberta de ouro e prata pelos espanhóis,

©Museu de São Roque, Lisboa


em suas colônias na América, estimulou a monar-
quia portuguesa a intensificar a procura por me-
tais em sua colônia americana.
Os portugueses precisavam fazer uma esco-
lha: ou concentravam recursos na manutenção
das suas posições nas Índias, o que se mostrava
cada vez mais complicado, ou iniciavam a coloniza-
ção na América, a fim de buscar riquezas minerais
e preservar os territórios da ameaça estrangeira.
A segunda opção foi escolhida, assim, o processo
efetivo de conquista e colonização da América foi
iniciado na década de 1530.

D. João III, Rei de Portugal entre 1521 e 1557, é conhecido


como “o colonizador”, por ter iniciado a colonização de vários
LOPES, Cristóvão. Retrato de d. João III. 1522. territórios, entre eles o do Brasil, em 1532.
1 óleo sobre tela. Museu de São Roque, Lisboa.

organizando a história

1 O navegador Cristóvão Jacques foi o responsável por liderar expedições para proteger a costa bra-
sileira de invasores estrangeiros. Essas expedições ficaram conhecidas como:
a) Expedições punitivas. d) Expedições guarda-costas.
b) Expedições de guerra. e) Expedições de garantia.
c) Expedições de reconciliação.
2 Por volta de 1530, a posse portuguesa do Brasil se efetivou. Assinale os fatores que contribuíram
para que essa decisão fosse tomada pela monarquia portuguesa.
( ) O rei D. João III não queria colonizar nenhum território, então apostou em utilizar novas técni-
cas de navegação e intensificar o comércio de especiarias.
( ) Foram descobertas riquezas minerais nas colônias espanholas.
( ) As viagens até as Índias tinham um alto valor.
( ) Os territórios portugueses na América sofriam ameaça estrangeira.
( ) Foi feita uma aliança com franceses na colonização do Brasil.

Contatos, escambos e feitorias


Como vimos, os portugueses não encontraram minas de ouro e prata nas primeiras via-
gens que fizeram para a colônia americana, por isso não deram grande atenção ao território.
Ainda assim, alguns negociantes viram na extração do pau-brasil um negócio lucrativo e con-
seguiram do rei autorização para explorá-lo.

22 ÇDQRÉ9ROXPH
A árvore do pau-brasil era encontrada facilmente em várias áreas da Mata Atlântica, desde
a atual região de Pernambuco até o Rio de Janeiro. O interesse comercial por essa árvore se
devia a dois motivos: da madeira triturada obtinha-se uma tinta vermelha, que era utilizada
para tingir tecidos; e a madeira era bastante resistente.
O primeiro negociante português a ob-
©British Library, Londres

ter o direito sobre o monopólio da extração


e da comercialização do pau-brasil foi Fer-
nando de Noronha. Ele assumiu o compro-
misso de mandar anualmente seis navios
carregados de madeira para o reino; para
isso, construiu uma feitoria na Colônia.

Feitoria era um núcleo fortificado de ocupação


portuguesa, cercado por paliçadas de madeira ou
de pedra. Era administrada por um feitor escolhido
pela Coroa portuguesa. Além dele, poderia haver ali
um escrivão. A maior parte das pessoas que viviam
em seus limites eram militares. Era utilizada como
depósito para madeira, animais, peles e outros
produtos que se destinavam a ser embarcados.

TINGIMENTO de tecido.
[ca. 1500]. 1 gravura, color.
Biblioteca Britânica, Londres.

Conhecido pelos indígenas como ibirapitanga,

©Fotoarena/Rita Barreto
o pau-brasil era uma árvore comum em vasta ex-
tensão da costa litorânea brasileira. Sua madeira,
de tom avermelhado, era empregada na Europa
com a finalidade de produzir um corante deno-
minado brasileína. A madeira era procurada para
fabricação de mobiliários finos e ornamentados
e, por ser muito resistente, era usada também
na construção naval. Sua exploração, constante
e predatória por vários anos, quase o levou à ex-
tinção. Os primeiros comerciantes que atuavam
na exploração do pau-brasil ficaram conhecidos
/ Visicou
como brasileiros. rst
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te
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©S

História 23
Para explorar o território brasileiro, foram organizadas feitorias em vários pontos do li-
toral. Nelas, os portugueses armazenavam os produtos extraídos das matas brasileiras, prin-
cipalmente o pau-brasil. Depois, esses produtos eram embarcados nas caravelas e enviados
a Portugal, a fim de serem vendidos em todo o continente europeu. Quando as reservas de
madeira de uma região terminavam, os portugueses deslocavam-se para novas áreas do ter-
ritório, o que provocou sérios danos ambientais em parte da Mata Atlântica. Era o início da
exploração predatória das riquezas naturais do Brasil por Portugal.
©Biblioteca Nacional de Paris, França

No Atlas Miller, elaborado por Lopo


Homem em conjunto com outros
cartógrafos, por volta do ano 1519,
há um mapa com a representação
de indígenas cortando e
transportando pau-brasil. Também
podem ser observadas caravelas
no litoral.

HOMEM, Lopo. Terra Brasilis.


[entre 1515 e 1519].
1 manuscrito iluminado sobre
pergaminho, 41,5 cm × 59 cm.
Département de Cartes de la
Bibliothèque Nationale, Paris.
(Detalhe).

Eram os indígenas os responsáveis por derrubar as árvores, cortá-la em pequenos tron-


cos, transportá-los até o litoral e acondicioná-los nas caravelas. Em troca, eles recebiam ob-
jetos considerados de pouco valor na Europa, como pentes, anzóis, espelhos, colares, facas
e machados de metal. Por esse motivo, muitos historiadores afirmaram que a troca de pau-
-brasil era realizada por “bugigangas”.
A amistosidade dos primeiros contatos logo acabaria. Os indígenas não entendiam o
trabalho como uma atividade contínua, visando à acumulação de mercadorias. Também não
tinham a ideia de lucrar com a comercialização. Por isso, muitos resistiam ao trabalho força-
do fugindo para locais ainda desconhecidos dos colonos ou atacando as fortificações em que
estes viviam.

24 ÇDQRÉ9ROXPH
No mapa ao lado, observe a Extração do pau-brasil
extensão da região de onde se

Talita Kathy Bora


extraía o pau-brasil.
Para extrair essa madeira,
os indígenas se deslocavam para
o interior – observe no mapa as
áreas mais afastadas do litoral.
Depois, andavam vários quilôme-
tros para transportar o produto
até o litoral.

Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel M. de.


Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro:
FAE, 1988. p. 28. Adaptação.

interpretando documentos

A presença francesa no litoral do Brasil foi intensa. Uma das evidências disso foi o episódio da Festa
de Rouen, em 1550. Sobre esse evento, leia o trecho a seguir.

Uma “festa brasileira” foi realizada diante do monarca francês Henrique II e da regente Ca-
tarina de Médicis. Para receber o casal reinante, a cidade de Rouen resolveu fazer uma grande
cerimônia. Construíram-se vistosos monumentos – obeliscos, templos e arcos do triunfo –, e
nesses locais aconteceu uma festa do Novo Mundo. Meio século depois da chegada dos portu-
gueses ao continente, a voga parecia ser encenar os “homens do Brasil”: os “bravos Tupinambá”,
aliados dos franceses. E assim se fez: cinquenta Tupinambá foram simular um combate perto
do rio Sena e na presença da nobreza local. Para dar maior amplitude à festa, os indígenas fo-
ram misturados com mais de 250 figurantes vestidos à moda, e representavam cenas de caça,
de guerra e de amor, além de aparecerem carregados de bananas e papagaios.

SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloísa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 36.

Com base no texto e em seus conhecimentos, marque V para as afirmações verdadeiras e F para as falsas.
( ) Os europeus tinham curiosidade sobre a vida e os costumes dos nativos da América.
( ) Os portugueses tinham total controle da costa brasileira e impediam qualquer aproximação de
outras nações.
( ) Os indígenas não suportavam a presença dos europeus, salvo em situações de trocas comerciais.
( ) Os franceses fizeram grandes esforços para conquistar partes do território brasileiro, inclusive
alianças com povos indígenas locais.
( ) Os povos indígenas brasileiros fizeram diferentes alianças com os europeus.
( ) A Festa de Rouen foi uma forma de aproximação entre os franceses e os Tupinambá, além de
uma maneira de apresentar os nativos aos reis.

História 25
Organização da política colonial
Diante das ameaças de invasões estrangeiras e da diminuição dos lucros com as expe-
dições às Índias, o rei de Portugal determinou o início da conquista e a ocupação das terras
portuguesas na América. O período entre 1500 e 1530, quando a ação portuguesa foi ca-
racterizada por expedições de reconhecimento, policiamento do
litoral e extração do pau-brasil, ficou conhecido na História
lo
Pa
u tradicional como Período Pré-Colonial. Essa denomina-
o

ção vem do fato de não ter havido povoamento pelos



a,t
lis

portugueses nesses anos.


au
uP
us e

Em 1532, Martim Afonso de Sousa aportou no lito-


©M

ral que atualmente faz parte do estado de São Paulo


e fundou a primeira vila do Brasil, chamando-a de São
Vicente. No ano seguinte, foi criada a Vila de Santo
André da Borda do Campo, no Planalto de Piratininga.

Martim Afonso de Sousa, nascido no ano de 1500, homem culto,


versado em Letras e Matemática, era amigo de infância do rei
D. João III.

RODRIGUES, J. Wasth. Martim Afonso. [18--].


1 óleo sobre tela, color. Museu Paulista, São Paulo.

Composta de cinco embarcações, a expedição de Martim Afonso trouxe 400 pessoas,


animais domésticos destinados ao consumo, transporte e tração – vacas e cavalos –, além
das primeiras mudas de cana-de-açúcar. Essa planta de origem asiática tinha como subpro-
duto o açúcar, que era muito procurado no comércio europeu.
©Museu Paulista, São Paulo

CALIXTO, Benedito. Fundação


de São Vicente. 1900. 1 óleo
sobre tela, color., 65 cm × 100 cm.
Museu Paulista, São Paulo.

No ano de 1900, o pintor Benedito


Calixto representou, de modo
idealizado, a fundação da Vila de
São Vicente.

26
Capitanias Hereditárias
As terras brasileiras eram extensas. Para cuidar de todo o território e povoá-lo, Portugal
precisaria dispensar grandes investimentos, e o rei não tinha essa intenção. Ao contrário, ele
buscava um modo de tomar conta da nova terra e explorá-la sem precisar investir muito. A
expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa, embora tenha proporcionado um me-
lhor reconhecimento do litoral brasileiro e a fundação de algumas vilas, mostrou-se de alto
custo. Assim, essa forma de expedição não voltou a ocorrer.
D. João III, que governou Portugal de 1521 a 1557, fez uso de um sistema que já havia
experimentado nas ilhas da Madeira e dos Açores. Ele determinou que as terras fossem re-
partidas e doadas a pessoas interessadas em colonizar a América. Esse sistema ficou conhe-
cido como Capitanias Hereditárias e consistia na divisão do território em faixas de terras
que variavam de 20 a 100 léguas de largura. Todas começavam no litoral e prosseguiam com
a mesma largura até a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas.
Em 1534, o território brasileiro foi dividido em 15 faixas; elas foram entregues a 12 pes-
soas de confiança do rei e pertencentes à aristocracia portuguesa. Os beneficiários de terras
eram chamados de donatários. Eles tinham o direito de explorar as riquezas encontradas em
sua capitania, contudo, deveriam arcar com as despesas empregadas para a exploração e a
colonização do território. Os donatários também se responsabilizavam por arrecadar impos-
tos e aplicar a justiça.
©Biblioteca da Ajuda, Lisboa

A Carta de doação e o Foral eram os documen-


tos que oficializavam o recebimento da terra pelo
donatário e o início de suas obrigações com o rei
de Portugal.

Após a morte do donatário, a capitania era pas-


sada para seu filho mais velho, por isso o nome “he-
reditárias”. Essas terras não poderiam ser vendidas
nem divididas.
Receber uma capitania no Brasil era uma hon-
raria e também um negócio arriscado. Os donatá-
rios, além de investir o próprio dinheiro em terras
distantes de Portugal, estavam expostos a diversos
perigos, como a hostilidade de alguns povos nati-
vos, as doenças tropicais e a possibilidade de não
encontrar riqueza alguma. Também havia a pirata-
ria corsária à espreita e a completa falta de infraes-
TEIXEIRA, Luís. Capitanias Hereditárias. 1574. trutura – portos, pontes, estradas.
1 mapa. Biblioteca da Ajuda, Lisboa.
Do projeto inicial, apenas duas capitanias foram
Representação cartográfica das Capitanias
Hereditárias consideradas lucrativas: São Vicente, que havia re-
cebido incentivo real quando foi fundada a Vila de
São Vicente, em 1532; e Pernambuco, em virtude

História 27
do estabelecimento de famílias responsáveis por grandes propriedades de terras produto-
ras de açúcar e da proximidade com Portugal, se comparada com a localização das demais
capitanias.
Os objetivos iniciais da Coroa não foram atingidos. Vários donatários não vieram para a
Colônia, outros não dispunham de recursos suficientes para trabalhar a terra recebida. Mes-
mo entre os que resolveram investir, nem todos foram bem-sucedidos.
Desse modo, muitas capitanias foram abandonadas à própria sorte. As capitanias de Per-
nambuco e São Vicente se dedicaram à produção de cana-de-açúcar, o que possibilitou o
desenvolvimento do povoamento.

organizando a história

1 Que motivos levaram D. João III a escolher o sistema de Capitanias Hereditárias para a administra-
ção da colônia portuguesa na América?

2 Quais eram os deveres e os direitos dos donatários?

Os portugueses que vieram para a Colônia tiveram muitas dificuldades, uma vez que o
território, as pessoas, a comida e o clima eram diferentes daqueles que conheciam na Euro-
pa. Os indígenas tiveram um grande papel nesse processo de adaptação. Os donatários que
permaneceram na América escreveram ao rei solicitando ajuda, pois as dificuldades amea-
çavam o domínio português. Diante dessa situação, a Coroa portuguesa resolveu enviar um
representante do rei para a Colônia. Assim, em 1548, foi criado o Governo-Geral.

interpretando documentos

Leia o texto a seguir sobre os primeiros anos dos portugueses na América.

Os índios, também chamados de brasís, ensinaram os por-


bignoniácea: espécie de planta
tugueses a utilizar a flora variada na vida prática: folhas de ca- cujos frutos são, geralmente,
pim selvagem serviam de lâminas de barbear; o fruto da longos e com hastes que lembram
bignoniácea era usado como pente; o capim-flecha se transformava em pontas.

delicadas pinças para arrancar pelos. As castanhas de caju, como afir-


ma um viajante de passagem na Pernambuco seiscentista, serviam de calendários: “Quanto aos
algarismos, não passam de cinco. Devido a isso, utilizavam-se de castanhas de caju – cujo fruto

28 ÇDQRÉ9ROXPH
torna-se maduro apenas uma vez por ano – em vez de um calendário, para marcar o ano [...] Por
isso, quando se desejava saber deles há quanto tempo aconteceu isso ou aquilo ou a idade desta
pessoa, tem que se perguntar pelo número de castanhas.” [...]
Dependentes da cultura e saberes indígenas, os colonos deles se apropriaram. Ocorreu entre
brancos e índios um jogo de trocas e reciprocidades. Os nativos acabaram se inserindo na eco-
nomia colonial como produtores de excedentes para trocas. Seus grupos passaram a depender
de produtos manufaturados: anzóis, machados, armas. Em resposta, ofereciam suas mulheres,
alimentos e produtos tropicais como formas de inserção numa sociedade nascente. Mas ai des-
tes se resistissem ao projeto de colonização. Eram massacrados.
DEL PRIORE, Mary. Histórias da gente brasileira: volume 1 – colônia. São Paulo: LeYa, 2016. p. 24.

1 Com base no texto, assinale as alternativas corretas.


a) Os indígenas continuaram em grupos isolados sem se integrar à economia colonial.
b) Os nativos passaram a utilizar produtos manufaturados.
c) De acordo com o texto, é possível afirmar que a interação entre indígenas e portugueses era
completamente pacífica.
d) Os indígenas não se esforçaram em ensinar aos europeus sobre a flora nativa.
e) Os europeus se apropriaram dos ensinamentos indígenas.
f) Os nativos continuaram com suas técnicas para plantar e caçar sem nada utilizar do que era tra-
zido pelos europeus.
2 A forma como os indígenas calculavam o tempo causou estranheza a um viajante europeu. Explique
como era feito esse cálculo.

3 Quais saberes indígenas podem ser identificados no texto?

4 Em que situação a reciprocidade pacífica entre indígenas e europeus terminava?

História 29
Governo-Geral
A criação do Governo-Geral em 1548 não significou o fim das Capitanias Hereditárias,
as quais existiram até a segunda metade do século XVIII. O objetivo do Governo-Geral era
centralizar a administração colonial. Para tanto, foi nomeado um governador-geral e es-
colhida a Capitania da Bahia de Todos os Santos para servir de sede do novo instrumento
administrativo.
Com a instalação do Governo-Geral, novos órgãos foram organizados e um número
maior de funcionários foi nomeado para apoiar os governadores. Entre os principais órgãos
estavam a Ouvidoria-Mor, responsável pela justiça, e a Provedoria-Mor, responsável pelos
assuntos fiscais, ou seja, pelo recolhimento de impostos. Havia ainda órgãos que cuidavam
da defesa, chefiados pelo capitão-mor.
O primeiro governador-geral do Brasil nomeado pelo rei de Portugal foi Tomé de Sousa.
pal de São Paul
nici o
Mu
ca
te
Como primeiro governador-geral da Colô-
lio
ib
©B

nia, Tomé de Sousa era responsável por tra-


zer famílias para povoar o território, combater
o contrabando de pau-brasil, fundar vilas e auxiliar
donatários na ocupação das terras.

AZEVEDO, Manoel Victor de. Retrato de


Tomé de Sousa. [séc. XVII]. 1 óleo sobre tela,
color., 35 cm × 45,5 cm. Biblioteca Municipal
de São Paulo.

Na Capitania
itania da Bahia, em 1549, Tomé de Sousa fundou a cidade de Salvador. Essa cida-
de passou a ser a primeira capital do Brasil e sede do governo na Colônia. Foi também em
Salvador que ficou sediado o primeiro bispado, residência da principal autoridade religiosa
da Colônia. Salvador preservou a condição de capital da Colônia até 1763, quando foi trans-
ferida para o Rio de Janeiro.

a
am
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Pelourinho, Centro Histórico de Salvador az
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hu
©S

30
pesquisa
Na atualidade, o Centro Histórico de Salvador é um bairro formado por ruas e
construções feitas durante o Período Colonial no Brasil. Busque informações sobre uma
obra arquitetônica que compõe esse bairro e cole, no espaço a seguir, uma imagem da
construção escolhida. Depois, preencha a ficha com as informações que você encontrou.

Nome da construção:

Endereço do monumento:

Função original:

Função atual:

Provável data da construção:

Se, por um lado, a presença do Governador-Geral e o apoio de um corpo de funcionários


auxiliavam os donatários, por outro, eles se incomodavam com uma autoridade que limitava
sua autonomia. No sentido de facilitar a administração e resolver tais tensões, foram esta-
belecidas câmaras municipais.

História 31
Membros da elite das vilas eram
selecionados para serem vereado-
res e juízes. Eles eram denominados
homens bons. Em algumas vilas e ci-
dades, havia ainda um terceiro juiz,
nomeado pela Coroa e denominado
Juiz de Fora.

Antiga casa da Câmara de Vereadores


do Centro Histórico de Porto Seguro
©Pulsar Imagens/Chico Ferreira

Além de Tomé de Sousa, dois governadores-gerais tiveram destaque na administração


da Colônia no século XVI: Duarte da Costa e Mem de Sá.
No período de 1572 a 1578, por conta da extensão territorial da Colônia, o rei de Portu-
gal dividiu o Governo-Geral em duas sedes: Rio de Janeiro e Salvador. O intuito era facilitar
a administração das capitanias. O duplo Governo-Geral funcionou até a chegada da Família
Real portuguesa ao Brasil, em 1808.

Chegada dos jesuítas


Foi durante a administração de Tomé de Sousa, entre os anos 1549 e 1553, que os pri-
meiros jesuítas chegaram ao território colonial português. Eles eram liderados pelo padre
Manuel da Nóbrega e tinham a tarefa de catequizar os indígenas.
Ao lado de outros 12 jesuítas, entre eles José de Anchieta, Manuel da Nóbrega fundou o
primeiro colégio do Brasil, na região da atual cidade de São Paulo. O objetivo dessa fundação
era alfabetizar colonos e indígenas, ensinando-lhes orações e hinos. A escola e o povoamen-
to ao redor dela deram origem à cidade de São Paulo em 1554.
©Shutterstock/Diego Grandi

Atualmente, o local denominado de Pateo do Collegio é uma reconstituição, visto que o


edifício original foi praticamente demolido em 1896 para dar lugar a novas construções. Do
prédio original, resta apenas parte de uma parede, que foi preservada quando o conjunto foi
todo reconstruído para as celebrações do IV Centenário, em 1954.

O Pateo do Collle
l gio
o foi se
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e do gove
vern
rno
o pa
p ul
ulis
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entre os anos de 1765 e 1912.

32
o que já conquistei

1 A colonização na América teve início logo após a chegada dos portugueses? Justifique sua resposta.

2 Por que Portugal resolveu iniciar a colonização da América?

3 De acordo com o contexto histórico estudado, qual o significado da expressão “homens bons”?

4 A primeira riqueza natural da América explorada pelos portugueses foi o pau-brasil. Para quais fina-
lidades era comercializado?

5 Associe corretamente.
1. Expedições guarda-costas ( ) Fundador da Vila de São Vicente.
2. Donatários ( ) Tinha o objetivo de auxiliar na administração das colônias
3. Martim Afonso portuguesas na América.
4. Foral ( ) Uma das únicas capitanias que prosperaram.
5. Pernambuco ( ) Titulares da capitania com vários direitos e deveres sobre o
seu território.
6. Governo-Geral
( ) Expedições que tinham como objetivo proteger a costa bra-
sileira de possíveis ataques estrangeiros.
( ) Um dos documentos que oficializava a doação da capitania
ao seu titular.

História 33
11
capítulo
Comércio atlântico
de escravizados
©Museu Itaú Cultural, São Paulo

RUGENDAS, Johann Moritz. Navio negreiro. 1830. 1 gravura, 35,5 cm x 51,3 cm. Museu Itaú Cultural, São Paulo.
Os escravizados africanos eram transportados para a América nos navios negreiros, também chamados de “tumbeiros” em razão da alta
mortalidade durante a viagem

o que você A mão de obra escrava de africanos foi um recurso utili-


vai conhecer zado em todo o continente americano. Entre os séculos XVI
e XIX, mais de cinco milhões de africanos foram retirados
x Exploração portuguesa de sua terra natal à força e submetidos ao trabalho escravo
na África Atlântica
x Escravidão na na América. Observe a pintura de Johann Moritz Rugendas,
África Atlântica que representa o interior de um navio negreiro, e respon-
x Viagem na Calunga da: Em quais condições os africanos eram transportados?
Grande Qual é a idade e o sexo das pessoas retratadas?
x Chegada aos portos
americanos
34 Ç

DQRÉ9ROXPH
DQRÉ9ROXPH
objetivos do capítulo
x Compreender a presença portuguesa x Analisar os mecanismos e as dinâmi-
na costa africana como fator que cas do comércio de escravizados em
impulsionou o tráfico de escravizados. suas diferentes fases, identificando
x Diferenciar as formas de escravidão os agentes responsáveis pelo tráfico e
praticadas em alguns reinos africanos as regiões e zonas africanas de proce-
e as praticadas pelos europeus. dência dos escravizados.
x Caracterizar a ação dos europeus e x Compreender como era a rotina dos
suas lógicas mercantis. escravizados no Brasil Colônia.

Exploração portuguesa na África Atlântica


O contato entre portugueses e africanos teve início no contexto da expansão marítima do
século XV. Na busca por um caminho alternativo para o Oriente, os portugueses exploraram o
Oceano Atlântico contornando a costa da África. Nesse período, a costa africana era habitada
por vários povos e grande parte deles vivia da pequena agricultura.
Ao contrário das regiões cen-
©Wikimedia Commons/Damien Halleux Radermecker

trais do continente africano, for- O Castelo de São Jorge da Mina foi constru uído por portug gue
u ses em
madas por vastos e poderosos rei- 1482 e se trransformou u em um dos pr p ininci
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nos, na costa, a população estava saír
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ados
os que che
hega gara
ramm ao Bra rasil.
reunida em povoados menores, o
que facilitou a conquista daquelas
regiões por parte dos portugueses.
Durante os séculos XV e XVI,
os portugueses estabeleceram
uma série de feitorias em fortifi-
cações na costa africana, as quais
serviam de bases militares e entre-
postos comerciais.

Castelo de São Jorge da Mina, Elmina

Em 1420, Dom Henrique de Portugal iniciou a colonização das ilhas do arquipélago da


Madeira, introduzindo na região o cultivo de cana-de-açúcar e a plantação de uva malvasia
para a fabricação de vinho. A partir de 1430, a ocupação sistemática dos Açores se deu com
a introdução da criação de gado naquelas terras, seguida das ilhas do arquipélago de Cabo
Verde, importante porto de escala de navios portugueses.
Entre os produtos africanos explorados, estavam o marfim, o ouro e a pimenta-malagueta.
Os portugueses exploraram de forma sistemática o comércio de escravizados, que se tornou
um produto altamente rentável para os exploradores.

História 35
Os lucros obtidos do contato com os povos africanos foram tão significativos que os por-
tugueses trataram de estender suas relações comerciais a diversas regiões da costa africana.

organizando a história

Estudamos sobre as navegações portuguesas iniciadas no século XV. A respeito desse tema, analise
as afirmativas a seguir.
I. Os portugueses tiveram dificuldades na conquista do litoral africano, principalmente por conta
dos grandes reinos instalados naquelas regiões.
II. Mesmo navegando pelo litoral do continente africano, os portugueses não demonstraram inte-
resse em conhecer ou estabelecer possessões na região.
III. Os portugueses estabeleceram contato com povos de diversas culturas e etnias em variados
pontos do litoral africano.
De acordo com a análise, assinale a alternativa correta.
a) Todas as afirmativas são verdadeiras. d) Todas as afirmativas são falsas.
b) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras e) Apenas a afirmativa III é verdadeira.
c) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.

Escravidão na África Atlântica


Desde a Antiguidade, a escravidão é praticada como forma de exploração do trabalho.
No continente africano, ela fez parte das tradições de vários povos. Entretanto, com o início
do comércio atlântico, a escravização de pessoas aumentou.

©Shutterstock/ EV-DA
Antes da chegada dos europeus, as tribos e os reinos africanos já praticavam a escravidão
no continente. Porém, em um modelo diferente daquele adotado pelos europeus.
A escravidão praticada pelos europeus era do tipo mercantilista, ou seja, visava ao acúmu-
lo de capitais por meio da exploração nas colônias. No caso do modelo africano, a escravidão
ocorria após uma derrota militar, quando os escravizados trabalhavam para pagar a sua liber-
dade. Não se tratava, portanto, de uma exploração puramente econômica, pois as guerras
não ocorriam com a finalidade de escravizar, mas sim conquistar terras ou por vingança con-
tra algum tipo de ofensa.
Os escravizados eram utilizados para o trabalho ou para promover o poder dos reis – em
algumas culturas, por exemplo, as de origem banta, a quantidade de pessoas de um reino
realçava o poder do rei.

A escravidão na África passou a apresentar características diferentes quando alguns che-


fes tribais e reis perceberam o interesse que a venda de pessoas escravizadas despertava
nos comerciantes europeus.

36 ÇDQRÉ9ROXPH
O comércio entre africanos e portugueses era feito por meio de escambo, ou seja, a
troca de produtos: os chefes tribais ou seus representantes entregavam as pessoas escravi-
zadas e, em troca, recebiam produtos, como tecidos, aguardente, açúcar, fumo, vinho, armas
de fogo, pólvora, espadas, facas, arcos e flechas.
Os africanos eram capturados no interior da África e levados para a costa, onde aguar-
davam os navios negreiros para serem levados a outros continentes. Entre a captura e a
dispersão para outras áreas, muitos africanos morreram.

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Costa da Mina,
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ue os levar aria
iam para a Europa ou
p ra a América
pa caa.

©Universidade da Virgínia, Virgínia


COOK, J. W. Canoas no rio Níger. 1841. Universidade da Virgínia, Virgínia.

O valor pelo qual os escravizados eram comercializados variaram ao longo do tempo. Há


relatos de que, na região do Senegal, por exemplo, por volta de 1446, 25 a 30 escravizados
podiam ser adquiridos em troca de um cavalo já idoso; em 1460, no Congo, um cão podia
valer até 22 escravizados.
Portugal recebeu os primeiros escravizados de origem africana em 1443. Eles desem-
penhavam diversas funções tanto nos centros urbanos como na área rural. Com o tempo,
os escravizados passaram a representar uma necessidade fundamental no reino português.
O estabelecimento de colônias europeias na América impulsionou a busca por mão de
obra. Como o comércio de escravizados proporcionava lucros altos, a opção de várias colô-
nias americanas, entre elas o Brasil, foi empregar o trabalho de povos africanos.
Em 1559, os portugueses trouxeram os primeiros africanos para o Brasil. Com o aumen-
to da produção açucareira e a descoberta de ouro no centro-sul brasileiro, a entrada de afri-
canos na colônia aumentou.
Os comerciantes portugueses faziam negociações na região da Guiné, na altura do ar-
quipélago de Cabo Verde, nas regiões de Ajudá (no Golfo do Benin), Lagos (atual Nigéria) e
da costa do atual território de Angola. O comércio de pessoas escravizadas ficou conhecido
como tráfico negreiro.

História 37
interpretando documentos

Leia o texto a seguir sobre a captura de africanos para o comércio com os europeus.

A operação [de captura] começava com o apresamento em guerra ou emboscada dos fu-
turos escravos pelos traficantes, seguido de uma extensa viagem pelo interior africano. Os ca-
tivos eram obrigados a percorrer longas distâncias até alcançarem os portos de embarque, e
muitos não resistiam ao esforço físico ou às doenças que apanhavam durante o deslocamen-
to. Realizavam a operação os reinos africanos aliados dos portugueses; estes últimos nunca
se envolveram em tais atividades internas. Com o tráfico, elites africanas tinham acesso a
armas e bens de consumo que caíram no gosto local, como aguardente e tabaco.

SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloísa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 82.

Com base no texto, assinale a alternativa correta.


a) Os portugueses entraram em guerra com todas as nações africanas e, em virtude de sua superio-
ridade militar, venceram-nas e escravizaram os sobreviventes.
b) Os portugueses faziam alianças com várias nações africanas e estas abriam seus territórios para
que os traficantes entrassem e perseguissem seus habitantes.
c) Os reinos africanos aliados de Portugal, em troca de produtos como tabaco e aguardente, caça-
vam e capturavam membros de tribos inimigas, depois os vendiam aos traficantes portugueses
nas feitorias.
d) Embora o tráfico de escravizados africanos fosse importante, no Brasil, ele não foi fundamental,
pois a maior parte da mão de obra escravizada era indígena.
e) Os reinos africanos que apresavam escravizados para Portugal não tinham interesses econômi-
cos, queriam apenas se livrar de inimigos de guerra.

Com a chegada dos europeus e o estímulo econômico que eles trouxeram, as guerras
tribais se intensificaram, várias nações foram exterminadas e os campos deixaram de ser
cultivados. Além dos portugueses, ainda no século XV, outros europeus passaram a comer-
cializar pessoas nos portos africanos.

troca de ideias
Reúna-se com um colega e conversem sobre as questões a seguir. No caderno, anotem as con-
clusões a que chegaram.
1 A escravidão de pessoas é uma atividade que só existiu no passado?
2 Caso a resposta da questão 1 seja negativa, existem organizações que combatem a escravidão
de pessoas atualmente?
3 Podemos dizer que a escravidão na atualidade é um problema menos grave do que era no século XV?

38 ÇDQRÉ9ROXPH
Viagem na Calunga Grande
O trajeto entre a África e o Brasil durava cerca de três meses, dependendo do local de
destino e das condições de navegação. Em razão das precárias condições no transporte dos
africanos, esses navios foram chamados de tumbeiros.
O tráfico negreiro durou do século XVI até o século XIX. Foi uma das atividades econô-
micas mais rentáveis, cruéis e desumanas da história da formação do Brasil. No início, foi
realizado pelos portugueses e, a partir do século XVIII, ficou por conta dos comerciantes que
habitavam a Colônia.
Observe a planta de um navio negreiro europeu do século XVIII:

Os navios utilizados para o

©Biblioteca do Congresso Nacional, EUA


transporte de escravizados africa-
nos eram de grandes proporções.
Haviam sido projetados para trans-
portar mercadorias, mas passaram
por uma adaptação para que pu-
dessem ser usados no tráfico de
pessoas. Os porões tinham três
níveis: o porão propriamente, onde
ficava o armazenamento de água
e comida; a falsa coberta, onde fi-
cavam os escravizados; e a cober-
ta, para a tripulação. Nos porões,
não havia janelas nem ventilação,
pois não se poderia correr o risco
de que as pessoas se jogassem em
alto-mar. As condições de trans-
porte eram desumanas. Centenas
de pessoas eram amontoadas, de
forma que não podiam se mexer,
nem para esticar suas pernas ou se
levantar.
DESENHO da planta de um navio negreiro europeu, do século XVIII,
utilizado para o transporte de africanos que teriam como destino a
escravidão na América. In: MOURA, Carlos E. M. de. A travessia da
Calunga Grande: três séculos de imagens sobre o negro no Brasil. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000. p. 313.

O cotidiano nos navios negreiros era angustiante. A alimentação para os escravizados


era escassa, não havia banheiros. O abafamento provocado pelo aglomerado de pessoas em
ambientes sem janelas em conjunto com o sacolejo do mar gerava um mal-estar contínuo. As
pessoas que não resistiam a essas condições eram jogadas ao mar.

História 39
Durante fortes tempestades, era comum que os traficantes escolhessem mulheres e
crianças e as lançassem ao mar, na tentativa de diminuir o peso da embarcação.
A insalubridade do ambiente, a alimentação deficiente e a aglomeração geravam um am-
biente propício a doenças, que se propagavam rapidamente devido ao acúmulo de pessoas.

interpretando documentos

Leia o trecho a seguir sobre a viagem nos navios negreiros.

A viagem era longa; maior ainda o fastígio. Calunga grande é o mar, a enormidade de
seu destino e de seu horizonte. Calunga pequeno é a terra que recebe esses corpos e os
transforma em semente. Mas no caso da escravidão, reinventada no
fastígio: auge, ponto mais alto,
Novo Mundo, a terra tragou os corpos desses milhares de cativos,
plenitude.
cativos: pessoas sem liberdade,
que foram antes transformados em prisioneiros, brutalizados pela
presos, encarcerados. violência desse sistema que supôs a posse de um homem por outro.

SCHWARCZ, Lilia. Carlos Eugênio Marcondes de Moura. A travessia da Calunga Grande. Três séculos de imagens sobre o
Negro no Brasil. (1637-1899). Revista de Antropologia, São Paulo, v. 44, n. 2, 2001.

De acordo com o texto e seus estudos sobre o transporte de africanos que seriam escravizados na
América, faça o que se pede.
1 Indique quais sentimentos os escravizados africanos associavam para cada um dos termos a seguir.
a) Calunga grande

b) Calunga pequena

2 Sublinhe no texto o termo que representa a América.


3 É correto afirmar que a autora do texto considera que a terra, no processo de escravidão reinven-
tado no Novo Mundo, manteve o mesmo significado que tinha para os africanos? Transcreva a frase
do texto que justifica sua resposta.

40 ÇDQRÉ9ROXPH
Mesmo com as condições desfavoráveis, os africanos aprisionados nos navios negreiros
tentavam se rebelar. A maior parte das tentativas fracassava, e os revoltosos eram castiga-
dos na presença dos demais prisioneiros, para que ninguém mais tentasse o mesmo.
A mais conhecida rebelião acontecida no período

©Sociedade Histórica da Colônia de New Haven, New Haven


do tráfico negreiro foi no veleiro espanhol chamado
La Amistad. No ano de 1839, os africanos haviam sido
capturados na região onde atualmente está situada
Serra Leoa. A intenção dos traficantes era levá-los
para Cuba, onde seriam comercializados. Um homem
chamado Sengbe Pieh liderou outros 52 africanos e
tomou o controle do navio. Eles mataram a tripula-
ção poupando apenas dois navegadores, que foram
orientados a conduzir o navio de volta à África.

Sengbe Pieh, mais tarde conhecido como Cinqué, nasceu em


meados de 1814 no território onde atualmente se encontra
Serra Leoa. Era um agricultor de arroz, casado, com três
filhos quando foi capturado ilegalmente pelos traficantes de
escravizados africanos em 1839.

JOCELYN,
OC Nathaniel.
h l Retrato dde SSengbe
b Pieh
h ((Joseph
h
Cinqué). 1840. 1 óleo sobre tela. Sociedade Histórica da
Colônia de New Haven, New Haven.

No entanto, os marinheiros levaram o navio para a costa dos Estados Unidos, onde a Ma-
rinha norte-americana o apreendeu. Nesse período, em razão de uma série de acordos inter-
nacionais, era proibido comercializar escravizados nascidos na África. Sengbe Pieh represen-
tou o grupo de africanos perante a Corte norte-americana, que tomou a decisão de enviá-los
novamente para África em 1840, uma vez que a captura havia sido feita ilegalmente.

NAVIO La Amistad.
1839. 1 óleo sobre
©Sociedade Histórica da Colônia de New Haven, New Haven

tela. Sociedade
Histórica da Colônia
de New Haven,
New Haven.
Veleiro espanhol La
Amistad, próximo da
costa de Nova Iorque,
em agosto de 1839.
À esquerda, o navio
USS Washington da
Marinha dos Estados
Unidos, responsável
pela interceptação
do navio na costa
americana

História 41
Chegada aos portos americanos
No século XVI, os portugueses utilizaram o trabalho dos escravizados nas lavouras brasilei-
ras; essas pessoas eram trazidas de várias partes do continente africano.
A região da atual Angola foi uma importante área fornecedora da mão de obra escrava
para a Colônia. Benguela, Luanda e Cabinda eram os principais portos de onde essas pessoas
eram enviadas para o Brasil. A presença de pessoas escravizadas oriundas dessa região nos
engenhos do Nordeste foi tão significativa que o padre Antônio Vieira se referia ao Brasil
açucareiro com a seguinte frase: “Quem diz Brasil diz Angola”.

Tráfico negreiro para o Brasil


Talita Kathy Bora

Fonte: SANTON, Kate; MCKAY, Liz. Atlas de la historia del mundo. Barcelona:
Parragon, 2006. Adaptação.
A maior parte dos africanos que vieram para o Brasil durante o Período Colonial pertencia
a dois grupos: sudaneses e bantus. Eles eram subdivididos da seguinte maneira:
 nações iorubás ou nagôs (Nigéria) e daomeanos (Benin) eram as mais numerosas e for-
mavam o grupo de cultura sudanesa;
 nações fulas, mandingas e haussás integravam o grupo de cultura guineano-sudanesa
islamizada;
 povos dos grupos angola-congoleses e de Moçambique constituíam o grupo de cultura
bantu.
Sobre a quantidade de africanos que vieram para a América, leia a citação a seguir.

Foram transportados para as Américas de 8 milhões a 11 milhões de africanos durante


todo o período do tráfico negreiro; desse total, 4,9 milhões tiveram como destino final o Brasil.

SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloísa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 82.
42 ÇDQRÉ9ROXPH
A longa viagem dos navios negreiros realizada pelo Atlântico tinha como destino cidades
na América. No Brasil, os principais portos ficavam no Rio de Janeiro, em Salvador, no Recife
e em São Luís. Nesses portos, funcionavam os “mercados de escravos”.
Depois do desembarque, era registrado o número de recém-chegados por sexo e idade,
bem como o número de crianças. O traficante, então, deveria pagar os impostos estabele-
cidos para as autoridades locais. Em seguida, os escravizados eram conduzidos para locais
onde seriam leiloados.
Enquanto aguardavam as negociações, eram mantidos em grandes galpões sem ventila-
ção. No Rio de Janeiro, o Mercado de Valongo era o mais famoso local de leilões.

Depois de uma longa e tensa viagem, alguns africanos conseguiam chegar em condições
aceitáveis para o trabalho e logo eram vendidos. Outros chegavam debilitados (doentes, ma-
gros demais); nesses casos, o comerciante os mantinha por algum tempo para que sua saúde
fosse restabelecida e ele pudesse conseguir um bom valor pelos escravizados. Como estra-
tégia para valorizar a “mercadoria”, os escravizados eram limpos, os homens eram barbeados
e seus cabelos, raspados. Muitas vezes, passava-se óleo na pele na tentativa de esconder
doenças.

A necessidade da mão de obra escrava para manter a Colônia produzindo tornou-se tão
grande que os africanos eram vistos pelos colonizadores como “coisas” ou objetos que po-
diam ser negociados de todas as formas: comprados, vendidos, emprestados, trocados. Nos
mercados, eram chamados de “peças”, pois os negociantes não consideravam seres huma-
nos as pessoas naquela condição, mas sim seres inferiores que podiam ser comercializados.

organizando a história

1 A respeito da chegada dos escravizados africanos ao Brasil, assinale a alternativa correta.


a) Eles chegavam ao Porto de Salvador, único ponto da costa brasileira que tinha autorização para
o recebimento de navios negreiros.
b) Imediatamente após a chegada, todos os escravizados eram vendidos aos senhores de terras. A
ótima condição de saúde dos cativos possibilitava a venda imediata.
c) Por causa das condições da viagem, muitos escravizados eram colocados em barracões para que
recuperassem as forças e atingissem valores mais altos na comercialização.
d) A comercialização dos escravizados era realizada em grupos de cativos. Familiares não poderiam
ser separados por ordem do rei de Portugal.
e) Os locais de leilão de escravizados eram localizados na proximidade das fazendas de cana-de-
-açúcar, no interior do país.
2 Explique por que os escravizados eram chamados de "peças" nos mercados.

História 43
As pessoas escravizadas que trabalhavam nos afazeres domésticos, tanto homens quanto
mulheres, cozinhavam, arrumavam a casa e limpavam os grandes quintais. Em passeios, car-
regavam seus senhores nos ombros, em cadeirinhas de arruar ou em redes. Ainda assim, elas
tinham condições melhores de sobrevivência do que aquelas que trabalhavam nos engenhos.
Os escravizados domésticos recebiam roupas melhores e dormiam em porões. Por conta do
convívio, acabavam se relacionando mais proximamente com a família de seu senhor.

©Museus Castro Maya, Rio de Janeiro


Nas cidades, para aumen-
tar seus rendimentos, mui-
tos senhores utilizavam os
escravizados como “escravos
de ganho”. Eles trabalhavam
vendendo todo tipo de mer-
cadoria e eram obrigados a
dividir com os senhores o que
ganhavam.

DEBRET, Jean-Baptiste. Angu da


quitandeira. 1 aquarela sobre papel,
color., 16,2 cm × 22,4 cm. Museus
Castro Maya, Rio de Janeiro.

Com exceção dos mestres de açúcar e


©John Carter Brown Library, Estados Unidos

dos feitores, as pessoas escravizadas tra-


balhavam de sol a sol nos canaviais, sob
péssimas condições de vida e submetidas
a todos os tipos de castigo, como o tronco,
o uso da gargalheira, da máscara de flan-
dres e de correntes.
A rotina de trabalho era pesada: acor-
davam cedo, trabalhavam durante muitas
horas, quase sempre sob um sol escaldan-
A gargalheira era usada paraa punir as pessoas
pesso que
t
tentavam fugir da escravidãoo. te. Essa rotina extenuante era agravada
pela alimentação inadequada, por isso
muitos adoeciam ou morriam. A época da
colheita era o período de trabalho mais
intenso. Frequentemente, avançavam noi-
te adentro fazendo uso de tochas para a
iluminação.
No Período Colonial, o trabalho manual era desvalorizado e considerado “coisa de escra-
vizados”. As pessoas escravizadas desenvolviam os mais variados ofícios: atividades domés-
ticas, na produção açucareira e nas lavouras de subsistência; nos centros urbanos, trabalha-
vam como sapateiros, pedreiros, barbeiros, entre outras atividades. Alguns cobravam por
seus serviços, devendo prestar contas ao seu senhor.

44 ÇDQRÉ9ROXPH
No século XIX, o pintor Jean-Baptiste Debret representou várias cenas do cotidiano das
pessoas escravizadas no Brasil Colonial: nas atividades domésticas, nos afazeres urbanos ou
na produção açucareira.
©Museus Castro Maya, Rio de Janeiro

DEBRET, Jean-Baptiste.
Barbeiros ambulantes. 1826.
1 aquarela sobre papel, color.,
18,7 cm × 23 cm. Museus Castro
Maya, Rio de Janeiro.
Escravizados trabalhando como
barbeiros ambulantes

©Museus Castro Maya, Rio de Janeiro


DEBRET, Jean-Baptiste. Padaria.
[entre 1820 e 1830]. 1 aquarela
sobre papel, color., 15,2 cm × 22 cm.
Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
Escravizados trabalhando na
produção de pães

pesquisa
A alimentação no Brasil, mesmo com as peculiaridades regionais, tem ícones consagrados,
como a feijoada e o uso variado da mandioca. Hábitos adaptados dos africanos, dos indígenas e
dos europeus são a marca distintiva da cultura nacional.
Busque informações sobre outras tradições culturais africanas que permanecem na atualidade
em nosso país. Depois, anote no caderno o que você encontrou.

História 45
Resistência à escravidão

©Biblioteca Municipal Mário de Andrade, São Paulo


Mesmo com todos os infortúnios, os africanos
escravizados não se deixavam abater e resistiam de
várias maneiras ao sistema que os rodeava. Uma for-
ma de resistência foi a preservação de algumas de
suas tradições, como os cânticos, os rituais, os cultos
religiosos e mesmo algumas festas, que contribuí-
ram para a formação de novas sociedades.
Nas poucas horas de descanso concedidas pelos
senhores, eram comuns os batuques, as danças, a ca-
poeira e a narração de histórias feita pelos mais ve-
lhos. Era também nessas horas que os escravizados
cuidavam de pequenas roças onde cultivavam milho RUGENDAS, Johann Moritz. Batuque. 1835. 1
litogravura, color. Biblioteca Municipal Mário de
e mandioca.
Andrade, São Paulo.
A rebelião também foi uma forma de resistência, O batuque africano no Brasil sob o ponto de vista
europeu
mas envolvia maiores riscos. Para expressar sua revol-
ta, alguns se suicidavam – na tentativa de se livrar dos maus-tratos
mocambos: esconderijos.
–, outros matavam seus senhores e capatazes e muitos fugiam e se
quilombos: acampamentos
escondiam no interior da mata. Nesse caso, os fugitivos formavam fortificados de guerreiros. Um
comunidades, os chamados mocambos ou quilombos. Os quilombos quilombo poderia abrigar vários
mocambos.
foram uma expressiva resposta coletiva à brutalidade da escravidão.
Um dos quilombos mais importantes pelo tamanho de sua população e por sua prolon-
gada existência foi o dos Palmares.

Por volta de 1590, uma notícia assombrou a Capitania

©Museu Antonio Parreiras, Niterói, RJ


de Pernambuco. Um grupo de 40 escravizados havia se
amotinado em um engenho de Porto Calvo. Foi um banho
de sangue. Eles mataram senhores e feitores, puseram a
casa-grande abaixo, queimaram plantações e fugiram sem
deixar vestígios. Mais tarde, descobriu-se o paradeiro dos
revoltosos: escondidos dentro de uma mata na Serra da
Barriga. Era o começo do Quilombo dos Palmares.
Palmares foi uma comunidade que aceitava, além de
escravizados, indígenas e brancos perseguidos pelos por-
tugueses. Era quase um país dentro do Brasil. Seu povo
guerreiro enfrentou 18 expedições militares organizadas
por Portugal, Espanha e Holanda. Quatro gerações luta-
ram contra invasores em Palmares. A última, liderada por
Zumbi, foi derrotada pelo bandeirante Domingos Jorge
Velho. Esse sertanista enriqueceu vendendo como es-
cravizados os negros que prendeu. Zumbi fugiu, mas foi
morto um ano depois (1695) e decapitado. Sua cabeça foi PARREIRAS, Antonio. Zumbi. 1917. 1 óleo
sobre tela, color., 113 cm × 86 cm. Museu
exposta no povoado de Recife. Em 2003, a provável data Antonio Parreiras, Niterói.
da morte de Zumbi, 20 de novembro, é celebrada como o Representação de Zumbi dos Palmares, um
Dia da Consciência Negra no Brasil. dos líderes da resistência negra

46 ÇDQRÉ9ROXPH
o que já conquistei

1 Sobre a escravidão no Brasil, responda às questões a seguir.


a) Quais foram as principais finalidades econômicas que levaram os portugueses a traficar africa-
nos para o Brasil?

b) A mão de obra africana sempre foi utilizada na Colônia?

2 Observe a imagem a seguir.


Descreva as condições físicas das pes-
©Museus Castro Maya, Rio de Janeiro

soas escravizadas representadas na obra


de Debret comparando-as às figuras dos
comerciantes que aparecem na imagem.

DEBRET, Jean-Baptiste. Mercado de escravos na Rua do Valongo. [18--].


1 aquarela sobre papel, 17,5 cm × 26,2 cm. Museus Castro Maya, Rio
de Janeiro.
3 No Brasil Colonial, houve a predominância da mão de obra escrava. Sobre a presença de pessoas
escravizadas na sociedade brasileira, assinale a alternativa INCORRETA.
a) Influenciou na construção de hábitos culturais que perduram até a atualidade na sociedade brasileira.
b) Contribuiu para a consolidação de preconceitos étnicos e sociais, além de promover discrimina-
ções políticas.
c) Criou hierarquias sociais com base em questões étnicas com repercussões nas relações de poder.
d) Trouxe a possibilidade de trocas culturais significativas, provenientes de diferentes povos, para
a constituição da sociedade brasileira.
e) Não teve repercussões na formação religiosa popular, visto que, nesse campo, não houve in-
fluência entre as religiões.
4 Sobre o tráfico negreiro ocorrido entre europeus e africanos, assinale a alternativa correta.
a) Antes da chegada dos europeus, a venda de pessoas escravizadas já gerava lucros para reinos
africanos.
b) O tráfico negreiro era uma atividade realizada seguindo padrões de higiene e de cuidados com
os seres humanos envolvidos.
c) A instalação de colônias na América não influenciou o tráfico de escravizados.
d) Os navios usados para transportar pessoas capturadas na África eram chamados de tumbeiros
por conta do número de mortes que as viagens ocasionavam.

História 47
Brasil Colonial:
12
capítulo
a sociedade
açucareira
©Museu Paulista, São Paulo

CALIXTO, Benedito. Moagem da cana na Fazenda Cachoeira. 1920. 1 óleo sobre tela, color., 105 cm × 136 cm. Museu
Paulista, São Paulo.

o que você Neste capítulo, você vai conhecer como a dinâmica


vai conhecer da economia açucareira gerou uma organização social
x Economia açucareira que influenciou profundamente a cultura brasileira.
x Engenho Observe a imagem que retrata a moagem da cana-
x Sociedade açucareira -de-açúcar. As pessoas trabalhavam com o auxílio de
x Vilas e cidades carros de boi, que faziam a engrenagem girar. Quem
x Comércio interno são os trabalhadores na imagem? Os equipamentos pa-
x Festejos no Brasil Colonial recem acessíveis a qualquer agricultor?

48 Ç

DQRÉ9ROXPH
DQRÉ9ROXPH
objetivos do capítulo
x Compreender a importância do x Conhecer os principais grupos
açúcar na economia do Brasil Colônia. sociais que formavam a sociedade
x Analisar a estrutura criada no Brasil açucareira no Brasil Colônia.
Colonial para viabilizar o cultivo da x Identificar os principais aspectos
cana-de-açúcar. culturais surgidos na sociedade açu-
x Destacar a importância do trabalho careira com a fusão de costumes
dos escravizados, indígenas e africa- indígenas, africanos e europeus.
nos para a consolidação da econo-
mia açucareira.

Economia açucareira
À medida que a colonização do Brasil avançava com a chegada de famílias e a formação
de novos núcleos de povoamento, surgia a necessidade de expandir a economia colonial
tanto para o sustento das populações locais como, principalmente, para que a Metrópole
obtivesse lucros com a Colônia.
A primeira riqueza explorada por Portugal na Colônia foi o pau-brasil, madeira de cor
avermelhada muito apreciada na Europa, utilizada para a fabricação de móveis e caravelas e
também para o tingimento de tecidos. O extrativismo do pau-brasil teve grande importância
econômica nos primeiros 40 anos de exploração da América pelos portugueses. Posterior-
mente, esse produto deixou de ser o centro da economia, mas continuou sendo explorado.
Para garantir o avanço da conquista e da colonização da América, Portugal precisou en-
contrar outras fontes de riqueza. A solução foi a cultura da cana-de-açúcar. No Nordeste,

©Shutterstock/Jeep2499
especialmente nas capitanias da Bahia e de Pernambuco, essa atividade aos poucos foi pros-
perando, o que deu origem a um intenso comércio entre Metrópole e Colônia.
A organização da economia açucareira não foi um processo simples nem rápido e teve
diversas fases: prosperidade, estabilidade e crise. Durante todo o Período Colonial, o açúcar
foi um dos principais produtos de exportação.

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49
organizando a história

1 Quais razões motivaram Portugal a dar início à colonização efetiva do Brasil?

2 Podemos dizer que a exploração da cultura da cana-de-açúcar estava ligada ao avanço da conquista
da América pelos portugueses? Explique sua resposta.

A cana-de-açúcar fez um longo percurso até ser trazida ao continente americano. Ori-
ginária da Índia, ela foi levada para a China, a Síria e o Egito, chegando à Europa entre os
séculos X e XIV. No século XV, os portugueses a cultivaram em seus domínios no Atlântico:
as ilhas de Açores, da Madeira, de Cabo Verde e de São Tomé. Ela foi trazida ao Brasil pelos
primeiros colonizadores portugueses, com a expedição de Martim Afonso de Sousa, entre
1530 e 1532.

Trajetória do açúcar
Talita Kathy Bora

Fonte: FERLINI, Vera L. A. A civilização do açúcar: século XVI a XVIII. São Paulo: Brasiliense, 1984.
(Tudo é História). Adaptação.

50 ÇDQRÉ9ROXPH
Como os portugueses já se dedicavam há tempos a essa atividade, conheciam os pro-
cedimentos técnicos necessários para a obtenção do açúcar. Além disso, as fazendas e os
engenhos foram criados em regiões próximas do litoral, o que facilitava o escoamento da
produção, primeiro em pequenos barcos ou carros de boi e, depois, em grandes navios, que
seguiam rumo à Europa.

Cultura da cana-de-açúcar
A escolha da cana-de-açúcar para o cultivo na Colônia se deu por vários motivos: seu ele-
vado valor comercial, a experiência dos portugueses no cultivo em grande escala e as condi-
ções geográficas do Brasil, como o clima quente e úmido e a existência do solo de massapê.
Mesmo com as condições favoráveis, era necessário investir recursos para que a produ-
ção fosse lucrativa. Portugal não dispunha dos recursos necessários para a implantação da
cultura açucareira no Brasil, então promoveu uma aliança com a Holanda.

Os holandeses financiavam o estabelecimento dos engenhos e a compra da mão de obra


escrava. Os portugueses produziam na Colônia o açúcar até o seu estado bruto, denomina-
do pão de açúcar. Este era transportado para Portugal e de lá para Amsterdã, onde o pro-
duto era refinado e vendido. A Holanda ficava com a maior parte do lucro da venda porque
realizava a comercialização do produto.

©Coleção Stapelton, Londres

FABRICAÇÃO de açúcar. [ca. 1600]. 1 gravura. Philipp Galle, Coleção Stapelton, Londres.
Gravura holandesa do século XVII representando a produção de açúcar

Depois de refinado, o açúcar era embarcado em navios da frota mercante holandesa.


Produzidos pelos estaleiros holandeses de forma rápida e com grande técnica, os navios
tinham grandes porões para o transporte de mercadorias.

História 51
Ao estabelecer o cultivo da cana-de-açúcar na Colônia, os portugueses desenvolveram
uma atividade econômica lucrativa e permanente. Isso possibilitou o avanço da colonização
em território brasileiro.
O cultivo desse produto exigia um grande número de trabalhadores, visto que era ne-
cessário limpar os terrenos, preparar o solo para o plantio da cana, plantar as mudas, cortar
a cana, colhê-la e transportá-la para o engenho. Na realização dessas tarefas, os portugueses
empregaram a mão de obra escrava de origem africana, barateando o custo da produção.
Os engenhos de açúcar eram imensas áreas onde se plantava um produto em grande
escala, a fim de atender ao mercado externo. O cultivo de outros gêneros agrícolas somente
era permitido com a finalidade de fornecer alimento para a população que ali vivia. O traba-
lho dos escravizados foi fundamental para a prosperidade dos engenhos. Observe as regiões
de cultivo da cana-de-açúcar no Brasil Colonial no mapa a seguir.

Regiões de cultivo da cana-de-açúcar

Marilu de Souza

Fonte: ATLAS histórico escolar. Rio de Janeiro: Fename, 1988. Adaptação.

52 ÇDQRÉ9ROXPH
interpretando documentos

O texto a seguir trata dos engenhos de cana-de-açúcar. Leia-o e, depois, responda às questões.

Durante todo o período (do século XVI ao XIX), a área que mais sobressaiu foi, sem dúvida,
a Bahia. Sendo a mais rica, concentrava em seus espaços as maiores unidades produtoras, prin-
cipalmente no século XVIII. É interessante notar que, apesar dessa importância, as unidades
produtivas baianas não se enquadram no padrão latifundiário escravista descrito por vários
historiadores, que afirmam estar a produção canavieira assentada em unidades com centenas
de escravos.
No fim do século XVIII e início do século XIX, as mais ricas freguesias açucareiras do Recôn-
cavo Baiano tinham, em média, 11,7 escravos por unidade produtora. Somente 17% dos cativos
se encontravam em engenhos com mais de 150 escravos. A maioria estava em propriedades
com menos de 20 escravos, do que se conclui que a maior parte da população escrava se encon-
trava na pequena ou média propriedade.

FRAGOSO, João et al. A economia colonial brasileira (séculos XVI–XIX). São Paulo: Atual, 1998. p. 54.

1 Em qual capitania havia o maior número de propriedades produtoras de cana-de-açúcar?

2 Todas as propriedades produtoras de cana-de-açúcar tinham a mesma quantidade de pessoas


escravizadas?

O engenho
O engenho de açúcar era uma unidade produtiva na qual se desenvolvia a maioria das
atividades econômicas da colônia. Nesse espaço, eram estabelecidas as relações de poder
entre senhor e pessoas escravizadas, pais e filhos, assalariados e agregados, homens e mu-
lheres. Era uma grande propriedade (latifúndio) com economia autossuficiente. O proprietá-
rio era chamado de senhor de engenho. Os primeiros engenhos eram construções rodeadas
de mata; com o aumento dos lucros oriundos do cultivo da cana-de-açúcar, esses locais se
transformaram em grandes complexos, contendo muito espaço para lavouras.
Além da plantação de cana-de-açúcar, que ocupava a maior parte da propriedade, todo
engenho desenvolvia lavouras de subsistência para alimentar sua população. Muitos enge-
nhos produziam cachaça e rapadura, que serviam de alimentação e de moeda em transa-
ções comerciais.
Entre as diversas construções que compunham o engenho, estavam as residências de
diferentes grupos sociais, como a família do senhor, os agregados e as pessoas escravizadas.

História 53
Casa-grande
Mais que uma residência, a casa-grande era o centro administrativo e econômico do en-
genho. Nela, viviam o senhor de engenho, sua família e agregados de confiança. Os senhores
de engenho eram proprietários de escravizados e chefes de uma pequena milícia militar;
eles ajudavam a financiar as tropas que defendiam a costa brasileira e os colonos de ataques
indígenas e eram eles que os governadores consultavam para tomar decisões. Todo esse po-
der permitia ao senhor julgar crimes de acordo com o seu próprio arbítrio, votar e ser eleito
nas eleições das câmaras municipais, entre outros privilégios.
A casa-grande era estrategicamente construída na parte mais elevada do terreno, per-
mitindo uma visão total da propriedade. Próximos a ela eram construídos o engenho (local
onde acontecia a moenda da cana-de-açúcar), a senzala e a capela.
Nos primeiros tempos da colonização, a casa-grande era rústica, com móveis feitos no
próprio engenho pelos escravizados; com o tempo, os proprietários mais ricos conseguiam
construir moradias maiores e mais confortáveis. A rotina nessas casas podia ser bem movi-
mentada: carregar água para o interior, cortar lenha, lavar roupa, cuidar das crianças, prepa-
rar alimentos. Nas ocasiões em que havia alguma celebração, como a motivada pelo nasci-
mento de um herdeiro, os convidados para o evento eram recebidos e podiam ficar vários
dias na casa.

A casa-grande era construída com o objetivo de proporcionar segurança aos moradores e


atender às suas necessidades. A preocupação com a segurança tinha origem na possibilidade
de ataques indígenas ou de levantes de escravizados. Esse receio deixava a casa-grande com
um aspecto de fortaleza.
Existia um ambiente restrito à família do senhor de engenho – que incluía cozinha, quar-
tos e sala – e outro local para atender visitas e fechar negócios. A varanda, comum em muitas
construções dessa época, era utilizada tanto para inspecionar o movimento da propriedade
como para proporcionar o contato entre os habitantes da casa e as demais pessoas que vi-
viam na propriedade. As grandes janelas contribuíam para arejar os ambientes, uma vez que
os europeus não estavam acostumados ao clima tropical.

©Pulsar Imagens/Hans Von Manteuffel

Imagem atual da capela e


casa-grande no Engenho Poço
Comprido, em Pernambuco

54
Casa do engenho
Era o conjunto de instalações para o preparo do açúcar. Muitas vezes, constituía-se de
várias construções próximas ou isoladas, cada uma com uma função. A casa da moenda, a
casa das caldeiras, a casa de purgar e os galpões formavam a casa do engenho.
A cana-de-açúcar era cortada e levada em carros de boi até a casa da moenda. Nesse lo-
cal, os feixes de cana eram transformados em caldo, que era levado para a casa das caldeiras,
onde era feito o melado. O melado, por sua vez, era levado para a casa de purgar para que
as impurezas fossem retiradas.
Nos galpões, o açúcar em estado bruto (pães de açúcar) era colocado em caixas de ma-
deira, e estas em malas de couro, a fim de evitar a umidade da travessia do oceano. Uma vez
na Europa, os holandeses transportavam o açúcar de Lisboa a Amsterdã, onde o produto era
refinado e, depois, vendido.
Nos séculos XVI e XVII, era necessário que cada engenho de açúcar mantivesse vários ho-
mens e mulheres prontos a produzir e a cuidar do produto guardado nos armazéns. A grande
maioria dessas pessoas era escravizada.

©Museus Castro Maya, Rio de Janeiro

DEBRET, Jean-Baptiste. Engenho manual que faz caldo de cana. 1822. 1 aquarela sobre
papel, color., 17,6 cm × 24,5 cm. Museus Castro Maya – IPHAN/Minc, Rio de Janeiro.
Representação de pessoas escravizadas no trabalho de moer a cana

Alguns dos escravizados recebiam tarefas especializadas, como a de barqueiro, carpinteiro,


e caldeireiro. Havia um pequeno número de trabalhadores livres, que desempenhavam funções
de vigilância ou outras que exigiam certos conhecimentos no preparo do açúcar.
A figura mais importante era a do mestre de açúcar, pois ele comandava todas as etapas
do fabrico do produto. Esse profissional tinha conhecimento técnico da produção açucareira,
era livre e bem pago. Apenas o mestre conhecia o segredo do tempo de cozimento correto,
que garantia a qualidade do açúcar e o rendimento da produção. Sobre os mestres do açúcar,
leia a citação a seguir.

História 55
Um “mestre de açúcar”, encarregado de manipular a caldeira até a obtenção de um xarope
impecável, graças à manutenção de temperatura específica, era contratado durante, e pago
de acordo com a qualidade produzida. [...] Em 1790, na área de Campos, receberia no mínimo
entre 600 e 800 réis por dia.

DEL PRIORE, Mary. Histórias da gente brasileira: volume I – colônia. São Paulo: LeYa, 2016. p. 76.

Os “mestres de açúcar” eram normalmente de origem africana, libertos e que começa-


ram a receber mais por seu trabalho a partir do século XVIII. Essas pessoas adquiriram esse
conhecimento específico por conta de anos de trabalho. Os valores expressos na citação
apresentam uma boa quantidade de dinheiro para o período.

Para manter um engenho, era necessária a administração constante. O plantio e a colhei-


ta da cana requeriam força de trabalho de várias pessoas. Os serviços no engenho – e as eta-
pas posteriores de ensacar, transportar e vender – exigiam trabalhadores qualificados. Des-
de as instalações até a mão de obra, o custo,

©Shutterstock/Natinn
bastante alto, era do proprietário. Quando o
açúcar chegava às alfândegas metropolita-
nas, era hora de pagar taxas e impostos para
a Coroa, que não gastava nada com o proces-
so. As fazendas de cana representaram uma
importante fonte de riqueza para a Colônia
e a Metrópole, até que os holandeses, ex-
pulsos do Nordeste, levaram para a região
do Caribe as técnicas de cultivo da cana e da
produção de açúcar, oferecendo ao mercado
europeu um produto de melhor qualidade e
mais barato.
Cana-de-açúcar em estado natural e açúcar refinado

Senzala
Construída com tijolos, madeiras ou pedras, coberta com palha ou telhas, a senzala era a
habitação para a população escravizada. Com raras exceções, não tinha ventilação, tampou-
co possibilitava privacidade às pessoas.
Modelo de senzala utilizado no Brasil Colonial ©Worldwide Picture Library/Alamy Stock Photo/Fotoarena

56
Capela
A capela era um local no engenho onde se realizavam as cerimônias religiosas, como
casamento, batizado, primeira comunhão, além de cultos diários. Era, portanto, um dos cen-
tros de reunião da comunidade. Em muitos engenhos, ali se enterravam os membros faleci-
dos da família do proprietário.
Algumas capelas eram construídas no alto dos morros. Poderiam também estar localiza-
das junto à casa-grande ou na entrada do engenho.

©Wikimedia Commons/Paul R. Burley


Capela de Nossa Senhora da Conceição do Engenho Poxim em Sergipe

interpretando documentos

Observe a imagem a seguir.


©The Picture Art Collection/Alamy/Fotoarena

POST, Frans. Engenho


de Pernambuco. [séc.
XVII]. 1 óleo sobre tela,
50 cm × 74,5 cm. Acervo
artístico do Ministério
das Relações Exteriores,
Brasília.

História 57
Sobre as estruturas que faziam parte de um engenho, responda às questões.
1 Quais eram as principais instalações nas propriedades rurais que cultivavam cana-de-açúcar no Bra-
sil Colônia?

2 Quais partes compunham as casas do engenho?

3 O plantio, o processamento e o transporte da cana-de-açúcar tinham um alto custo. Por quem eles
eram custeados e qual era o papel da Coroa portuguesa nesse processo?

4 Identifique, na imagem do pintor Frans Post, estruturas que faziam parte de um engenho.

5 Volte à página de abertura deste capítulo e observe novamente a imagem produzida por Benedito
Calixto. Em seguida, faça o que se pede.
a) Qual instalação de engenho foi retratada pelo artista?

b) Explique o funcionamento dessa instalação utilizando os elementos da imagem.

Sociedade açucareira
A sociedade formada nos engenhos era dividida em segmentos bem definidos e com
pouca mobilidade social. Dela faziam parte: senhores, escravizados e trabalhadores livres
(estes em menor quantidade). Era difícil um trabalhador livre chegar à condição de senhor
de engenho, e raramente um escravizado conquistava sua liberdade. Houve casos de ex-
-escravizados que se tornaram traficantes de outros escravizados, em especial no século XIX.
©Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil
DEBRET, Jean-Baptiste. Um
funcionário a passeio com a sua
família. 1839. 1 litografia,
21 cm x 34 cm. Pinacoteca do
Estado de São Paulo, São Paulo.

O quadro representa a hierarquia


familiar no Brasil Colonial. À
frente, o pai, seguido de suas
filhas e mulher. Em seguida, uma
mulher mestiça, talvez uma filha
fora do casamento com uma
das escravizadas, e, por fim, os
escravizados domésticos da família

58 ÇDQRÉ9ROXPH
O senhor de engenho era uma das figuras centrais da socie-
A organização de uma sociedade
dade colonial, a qual podemos classificar como patriarcal. Era o patriarcal confere aos homens
chefe de tudo e de todos. a centralidade do poder,
tanto no convívio familiar
Sob a proteção do senhor de engenho, viviam na propriedade como na esfera política.
a esposa, seus filhos (legítimos ou não), sobrinhos, irmãs soltei-
ras e afilhados. Havia, ainda, agregados, os quais eram pessoas
livres pobres, e ex-escravizados que haviam conquistado a liber-
dade, formando uma espécie de força militar dentro do engenho. Quanto maior o número
de dependentes, maiores o prestígio e o poder do senhor de engenho. Todos que viviam no
engenho deviam obediência ao senhor, proprietário das terras.
A família do senhor de engenho estava no topo da sociedade colonial.
Segundo a historiadora Mary del Priore, na sociedade colonial brasileira, a mulher não ti-
nha direitos formais; ela se dedicava aos afazeres da casa e a atividades relacionadas à Igreja.
©Museus Castro Maya, Rio de Janeiro

DEBRET, Jean-Baptiste.
Uma senhora de algumas
posses em sua casa. 1823.
1 aquarela sobre papel,
16,2 cm × 23 cm. Museus
Castro Maya, Rio de
Janeiro.
Representação de uma cena
familiar no Brasil Colônia

©Acervo Banco Itaú S.A., São Paulo, Brasil

DEBRET, Jean-Baptiste.
Visita a uma chácara nos
arredores do Rio.
1 aquarela sobre papel,
15,1 cm × 21,1 cm. Museus
Castro Maya, Rio de Janeiro.
Representação de um
senhor com as pessoas
em seu entorno

História 59
As mulheres eram vistas como responsáveis pelo sucesso e pela felicidade do casamen-
to. Elas deveriam obedecer cegamente às ordens do marido, sem faltar-lhe com o respeito,
e estar sempre atentas às necessidades e às vontades dele.
Contudo existiram casos em que as mulheres estiveram à frente dos engenhos. A citação
a seguir trata dessa situação.

Assim como estiveram à frente de fazendas e outras atividades agrícolas, as mulheres


também dirigiram engenhos. Quando fez sua Descripção do Districto dos Campos Goiata-
caz, em 1785, Couto Reis recenseou 124 engenhos, dos quais dez pertenciam a mulheres. Para
além destas senhoras de engenho, o cartógrafo identificou inúmeras lavradoras, como Doro-
thea Barreta, Raimunda Rodriguez, Rosa Maria, Úrsula Campelo e Maria Almeida, envolvidas
com o cultivo de cana. Com pouquíssimas exceções, todas possuíam, no mínimo, um escravo
ou escrava e produziam anualmente milho, farinha de mandioca e, sobretudo, açúcar. De 10
arrobas, como o fazia Paula da Cruz com um escravo, a 700 arrobas, como Marcela Soares,
que possuía treze escravos: duas mulheres e onze homens.

DEL PRIORE, Mary. Histórias da gente brasileira: volume I – colônia. São Paulo: Leya, 2016. p. 83.
©Museus Castro Maya, Rio de Janeiro

Pelos pequ uenos


povoados do d
Brrassill Colônia,
exxissti
t am mulheres
m
de vár á ias origens:
portrtuguesaas,
indí
díge
g nas, africanas
e me estiças,, livres e
escr
c av
cr a izadaas. Muitas
condnduziam m os
próp
pr óprios ne e
egócios,
s nd
se do com merciantes,
f ze
fa endeiira r s,
l va
la vade
d ir iras,
parttei
pa eira
ras, ffiandeiras,
costur
co u ei
eira
r ss,
faabr
b iccan
antetess e
v nd
ve ndededororaas de
doce es,
s rend das e fios.

DEBRET, Jean-Baptiste. Caboclas lavadeiras no Rio de Janeiro. 1827. 1 aquarela sobre papel, color.,
15,5 cm × 21,8 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
Representação de mulheres desenvolvendo seus trabalhos na Colônia

Os casamentos dos filhos do senhor de engenho eram acordos políticos e econômicos.


Por meio desses acordos, firmavam-se alianças e uniam-se patrimônios.
O primogênito, ou seja, o filho mais velho, tinha o direito de herdar as propriedades. Em
caso de morte precoce do pai, ele seria responsável pela mãe e pelos irmãos. Algumas vezes,
o segundo filho dedicava-se ao pequeno comércio que ia surgindo na Colônia ou seguia a
formação religiosa, tornando-se padre. As famílias de grandes posses e recursos financeiros
chegavam a enviar seus filhos à Europa, a fim de que continuassem seus estudos.

60 ÇDQRÉ9ROXPH
organizando a história

1 A sociedade colonial brasileira pode ser classificada em


a) matriarcal. c) livre. e) patriarcal.
b) igualitária. d) laica.
2 Quais eram as atribuições do senhor de engenho?

3 Quais eram as atribuições das mulheres livres nessa sociedade?

Vilas e cidades
As primeiras povoações no Brasil foram as feitorias. A precursora foi a de Cabo Frio (1504).
Nelas, o pau-brasil cortado pelos indígenas era trocado por objetos variados. Após o início da
colonização, em 1532, surgiu a primeira vila no litoral brasileiro: São Vicente. Ao contrário da
colonização espanhola, os portugueses se concentraram, no início, nas regiões litorâneas.
Com a criação do Governo-Geral, surgiu a primeira cidade, Salvador (1549), na Bahia
(também a primeira capital do país), à qual todas as outras cidades poderiam recorrer em
caso de necessidade. Em Salvador, foi estabelecido o primeiro bispado do Brasil. O território
foi governado desse local até o século XVIII, quando a capital foi transferida para o Rio de
Janeiro.

pesquisa
O Brasil tem mais de cinco mil cidades. Faça uma pesquisa e descubra:
a) Quando a cidade onde você mora foi fundada?

b) Quem foi o fundador?

c) Busque uma informação complementar sobre sua cidade. Pode ser sobre a história,
personalidades que nasceram nela, principal atividade econômica ou a distância entre ela e
a capital do país.

História 61
d) Cole aqui uma imagem de sua cidade.

As vilas coloniais eram construídas


©Acervo da Mapoteca do Itamaraty, Brasília

sempre ao redor dos edifícios


públicos mais importantes, a igreja
e a Câmara Municipal. No caso da
América portuguesa, as cidades não
costumavam ser planejadas com
quarteirões simétricos em formato
de xadrez, como acontecia nas
colônias espanholas. Assim, as cidades
tinham um caráter pouco ordenado,
complicando a organização à medida
que cresciam.
ALBERNAZ, João Teixeira. Planta de restituição da Bahia. 1631.
As primeiras vilas do Brasil esta-
Representação da cidade de Salvador após a expulsão dos holandeses
da região vam distribuídas ao longo do litoral
durante o ciclo açucareiro. Elas se espalharam definitivamente pelo território brasileiro com
a descoberta das minas de ouro e diamantes no centro-sul da Colônia no final do século XVII.
Em Minas Gerais, encontramos algumas das vilas e cidades mais antigas do Brasil.

Embora algumas cidades tenham surgido já nos primeiros anos da colonização, o Brasil só
se tornaria um país urbano, ou seja, com a maioria da população vivendo nas cidades, a partir
da década de 1960. Até esse período, mais da metade dos brasileiros viviam na zona rural, o
que nos remete à importância do campo na história econômica do país.

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Comércio interno
A economia colonial brasileira era voltada para o mercado externo, mas, para sustentar
os trabalhadores, escravizados, prestadores de serviços e funcionários públicos que habita-
vam nas vilas e nos campos, foi criada uma rede interna de comércio que abastecia os mer-
cados com os mais diversos produtos, como peixes, grãos, carne-seca, couro, vegetais, etc.
Nas vilas, concentrava-se um número considerável de pequenos comércios e oficinas
que, normalmente, ocupavam as ruas próximas à praça central. Ali, costureiras, sapateiros,
açougueiros, etc. ofereciam seus serviços. Havia ainda os estabelecimentos comerciais que
vendiam produtos vindos da Europa.
Na colônia, a criação de bovinos foi uma importante atividade, uma vez que eram usados
como animais de tração nas fazendas e para a produção de couro. Existia também a criação
de burros e mulas, utilizados pelas tropas que transportavam as mercadorias por toda a colô-
nia. Essas atividades contribuíram para o enriquecimento de muitas pessoas. O lucro obtido
da venda dos rebanhos ou dos produtos – como couro, carne e leite – circulava e se fixava na
Colônia, não na Metrópole.
©Museus Castro Maya, Rio de Janeiro

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DEBRET, Jean-Baptiste. Gaúchos condutores de tropas. 1 aquarela sobre papel, color.,


16,5 cm × 22,9 cm. Museus Castro Maya, Rio de Janeiro.
Representação de um tropeiro

Algodão e fumo também foram culturas praticadas em certas áreas. Assim como a cana-
-de-açúcar, o fumo era manufaturado. As folhas, depois de secas, eram juntadas e torcidas,
formando, então, grandes rolos. Para evitar que molhassem (danificando a mercadoria),
eram embaladas em uma espécie de saco de couro. Parte da produção de fumo era destina-
da ao comércio, sendo trocada por pessoas na África. Havia, ainda, a produção de alimentos.
Além da pequena propriedade que produzia para o sustento da família, existiam outras que
se dedicavam ao cultivo de mandioca, feijão e milho a serem fornecidos ao comércio e à base
da alimentação na Colônia. O abastecimento do mercado interno envolvia muitas pessoas e
movimentava a economia.

História 63
Aos poucos, as rotas comerciais criadas pelos tropeiros deram origem a estradas, novas
vilas e cidades e ajudaram a interligar o território colonial. Isso possibilitou a ampliação dos
territórios ocupados pelos portugueses e as fronteiras da Colônia.

Festejos no Brasil Colonial


Desde o século XVI, o Brasil foi caracterizado por uma mistura de etnias e culturas. Os
portugueses, desde os primeiros anos, misturaram-se aos indígenas, aos quais vieram se so-
mar vários povos africanos. Essa rica mescla cultural fez com que as festividades nacionais
fossem influenciadas por várias culturas.

©Viagem Pitoresca através do Brasil

O lundu, dança de
matriz africana, era
também praticado
pelos portugueses,
evidenciando a
influência africana
RUGENDAS, Johann M. Dança do lundu. 1835. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
na cultura da época.
Casal de portugueses dançando ao som do violão sob a presença de familiares, africanos e um clérigo

No Brasil Colonial, as principais festividades tinham caráter religioso. Procissões, missas e


celebrações litúrgicas marcavam as vidas das pessoas e eram espaços naturais de socialização.
Além de festas e eventos religiosos de origem católica, ocorriam festas não religiosas
ou de religiões de matriz africana. Podemos citar como exemplo o lundu, uma dança de
origem africana que foi trazida de Angola para o Brasil e passou a ser dançada também
pelos demais grupos étnicos que aqui se encontravam.

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Uma das comemorações que até a atualidade marcam o Brasil, inclusive no exterior, é o
carnaval. As folias de carnaval foram trazidas para a América pela corte do príncipe D. João,
em 1808. Inicialmente, era comemorado apenas na corte, mas, com o tempo, tornou-se uma
celebração popular, chamada de entrudo no século XIX.

troca de ideias
No material de apoio, você vai encontrar dois quadros representando a festa do en-
trudo no século XIX. Uma delas se passa em uma casa da elite e a outra nas ruas. Observe-
-as e descreva quais diferenças podem ser elencadas entre uma comemoração do entru-
do popular e outra da elite. Converse com os colegas sobre isso.

outras histórias
©Museu do Prado, Madri
A aliança estabelecida entre Portugal e Holanda nos
primeiros anos da exploração da cana-de-açúcar em terri-
tório brasileiro chegou ao fim em virtude da oposição en-
tre Holanda e Espanha por volta de 1630, quando, na União
Ibérica, a Espanha passou a controlar a Coroa portuguesa e
a Colônia brasileira.
A União Ibérica aconteceu entre os anos de 1580 e
1640. Foi a unificação das Coroas espanhola e portugue-
sa. Essa união ocorreu em virtude da crise sucessória do
trono português. Com o desaparecimento de D. Sebastião
na Batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, em 1578, seu
tio-avô, D. Henrique I, assumiu o poder em Portugal, pois
D. Sebastião não havia deixado herdeiros. Em 1580, D. Hen-
rique I faleceu, marcando o fim da dinastia de Avis. Com
isso, o trono português passou a ser disputado por outras
dinastias europeias, que buscavam ligações de parentesco ANGUISSOLA, Sofonisba. Retrato
com D. Sebastião. de Filipe II. 1573. 1 óleo sobre tela,
88 cm × 72 cm. Museu do Prado,
Filipe II, rei da Espanha, era neto de D. Manuel, que, por
Madri.
sua vez, era tio de D. Sebastião. Essa ligação foi utilizada Rei Filipe II da Espanha
para legitimar a invasão espanhola a Portugal em 1580, ga-
rantindo para Filipe II o poder em territórios portugueses. Com a Unificação Ibérica,
Filipe II passou a ser rei tanto da Espanha como de Portugal. A gestão ficou marcada
por sua habilidade política e administrativa.
As invasões de outros países ao Brasil, como Holanda e França, ocorreram no pe-
ríodo da União Ibérica. Antes mantendo uma relação amistosa com Portugal, essas
relações confrontaram-se diretamente com a Espanha. No caso da invasão holandesa,
o principal motivo foi de ordem econômica: o controle do comércio de açúcar e da
extração de metais. Um dos motivos para a invasão francesa foi a religião: a Espanha
era católica e parte dos franceses havia aderido ao protestantismo.

História 65
o que já conquistei

1 Apresente os motivos que levaram os portugueses a trazer a cana-de-açúcar para a sua Colônia
na América.

2 Por que os engenhos foram instalados no litoral do Nordeste?

3 Havia criação de gado no Brasil Colônia? Qual era sua serventia?

4 Sobre os engenhos, assinale a alternativa correta.


a) A maior parte da mão de obra utilizada nos engenhos era indígena.
b) Uma das funções da casa-grande era servir de proteção para a família do senhor de engenho.
c) As fazendas coloniais no Brasil cultivavam apenas cana-de-açúcar.
d) A senzala era um local arejado, afastado das demais estruturas físicas do engenho.
e) Todo engenho tinha a mesma capacidade de processamento de cana-de-açúcar.
5 Sobre as vilas e as cidades coloniais, analise as afirmativas a seguir.
I. Surgiram especialmente na região litorânea do Brasil.
II. As vilas coloniais eram construídas ao redor de edifícios públicos, como a igreja e a Câmara
Municipal.
III. As primeiras vilas foram organizadas e planejadas em quarteirões.
De acordo com a análise, assinale a alternativa correta.
a) Todas as afirmativas são verdadeiras. d) As afirmativas I e III são verdadeiras.
b) Todas as afirmativas são falsas. e) As afirmativas II e III são verdadeiras.
c) As afirmativas I e II são verdadeiras.
6 Sobre a vida na sociedade colonial brasileira, assinale a resposta correta.
a) A sociedade era formada por uma mistura de etnias e culturas.
b) Nas vilas, o comércio era voltado unicamente para produtos derivados da cana-de-açúcar.
c) Não havia muitos eventos religiosos nas cidades, pois os senhores de engenho ficavam apenas
nas fazendas.
d) O algodão e o fumo, produtos apreciados pelos moradores da Colônia, eram importados da Europa.
e) As festividades que aconteciam no Brasil Colônia não são mais praticadas pelos brasileiros.
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©Granger, NYC./Alamy/Fotoarena
Capítulo 9 – Interpretando documentos – página 15

BROWNSCOMBE, Jennie Augusta. O primeiro Dia de Ação de Graças em Plymouth. 1914. 1 óleo sobre tela. Pilgrim Hall Museum, Plymouth.

História
7.° ano – Volume 3
Material de Apoio

1
Capítulo 12 – Troca de ideias – página 65

©Biblioteca Nacional da Austrália


EARLE, Augustus. Carnaval no Rio de Janeiro. 1822. 1 aquarela, 21 cm x 34 cm. Biblioteca Nacional da Austrália.

©Museus Castro Maya, Rio de Janeiro

DEBRET, Jean-Baptiste. Cena de carnaval. 1823. 1 aquarela, 18 cm x 23 cm. Biblioteca Nacional da Austrália.

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