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UNIDADE 3 – Os recursos hídricos

ÁGUA – UM RECURSO VITAL


A água é um recurso vital e insubstituível. Sem ela não existiria vida na Terra. Daí a importância do seu
estudo e de uma gestão que garanta o seu uso responsável e de forma sustentada.

A ÁGUA NA TERRA
Mais de dois terços da superfície terrestre encontram-se cobertos de água e, desta, cerca de 97% é
água salgada. Da água doce, aproximadamente 2% encontra-se nas calotes polares e glaciares e a res-
tante nos rios, lagos e reservas subterrâneas. Ou seja, a água disponível para utilização humana corres-
ponde a menos de 1% da água presente no nosso Planeta. A água circula continuamente na Natureza,
passando pelos diferentes estados físicos – sólido, líquido e gasoso (Fig. 1).

oração
20)

Evapotranspiração:
evaporação das águas su-
perficiais, da água do solo e
da água libertada pela res-
piração e pela transpiração
dos seres vivos

Infiltração

Escoamento subterrâneo
Escoamento superficial (40)
Unidade: 100 km3
Fonte: Physical Geography, A. Strahler e A. Strahler, 1996
FIG. 1 O ciclo hidrológico.

Pela ação da energia solar, a água dos oceanos, mares, rios e lagos evapora-se e passa para a atmosfera
sob a forma gasosa – vapor de água. Este, por arrefecimento do ar, condensa, formando nuvens e precipi-
tação. A água regressa aos oceanos e continentes, muitas vezes em locais bem distantes daqueles em que
foi evaporada. Isto deve-se à constante circulação do ar, graças à qual apenas 75% da água que se evapora
dos oceanos volta a precipitar-se sobre eles. Da água que cai sobre os continentes, uma parte escorre à
superfície e outra infiltra-se no solo, acabando por chegar de novo ao mar. A água utilizada pelas plantas e
pelos animais volta à atmosfera através da respiração e da transpiração. Assim, o ciclo hidrológico repete-
-se continuamente, mantendo-se mais ou menos constante a quantidade de água no nosso Planeta.
O ciclo hidrológico exerce também uma ação purificadora, pois as substâncias diluídas na água (sais
minerais, bactérias e toxinas) são depuradas pelos processos de passagem da água de um estado físico
a outro. Desta forma, apesar de constantemente utilizada pelos seres vivos e em especial pela popula-
ção do Planeta, a água é um recurso renovável.
A população utiliza a água na maioria das atividades económicas, de que se destacam:
• a agricultura, que utiliza a água sobretudo para irrigação das culturas;
• a indústria, que utiliza a água como matéria-prima e nos sistemas de limpeza e de refrigeração;
• a produção de energia e a construção civil e obras públicas;
• as atividades de turismo e lazer;
• os transportes aquáticos, que utilizam a água dos rios e dos mares como vias de comunicação.
O CLIMA EM PORTUGAL

OS PRINCIPAIS FATORES
A localização geográfica de Portugal, nas latitudes intermédias da Zona Temperada do Norte, coloca-o
sob a influência das dinâmicas de circulação atmosférica que ocorrem a estas latitudes.
Um dos aspetos a realçar é a deslocação latitudinal das massas de ar e dos principais centros de pres-
são atmosférica que, devido à variação anual da temperatura, motivada pelo movimento de translação
da Terra, no inverno, se deslocam mais para norte e, no verão, mais para sul. Por isso, ao considerar os
fatores climáticos globais que influenciam o clima português, temos de ter em conta essas duas épocas
do ano. Assim, em Portugal, o clima é influenciado:
• no inverno, pelas baixas pressões subpolares, pelas mas-
sas de ar frio polar e pelos anticiclones de origem térmica
formados sobre o continente europeu;
• no verão, pelas altas pressões subtropicais (principalmen-
te o anticiclone dos Açores), pelas massas de ar quente
tropical e pelas depressões barométricas que se formam
sobre o continente europeu; Ar frio
Ar quente
• nas estações intermédias, dá-se a transição das situações
características do inverno para o verão e vice-versa;
FIG. 1 Superfície frontal e frente.
• durante todo o ano, faz-se sentir ainda a influência dos
ventos de oeste.

A FORMAÇÃO DE FRENTES
Quando se encontram duas massas de ar de características
Superfície frontal fria
diferentes e com sentidos de deslocação opostos e convergen-
tes, forma-se uma superfície frontal – área de contacto entre
duas massas de ar. À interseção da superfície frontal com a Ar frio
superfície terrestre chama-se frente, termo que também Ar quente

designa todo o conjunto (Fig. 1).


Existem dois tipos de frentes, cuja designação se deve às
Superfície frontal quente
características térmicas da massa de ar que avança mais rapi-
damente sobre a outra (Fig. 2):
• frente fria – o ar frio avança mais rapidamente, introdu-
Ar quente
zindo-se como uma cunha por baixo do ar quente e obri-
Ar frio
gando-o a subir de forma rápida;
• frente quente – o ar quente avança mais rapidamente, FIG. 2 Frente fria e frente quente. Quando há uma
sobrepõe-se ao ar frio, de forma gradual, e sobe lentamen- sucessão de frentes frias e de frentes quentes,
forma-se um sistema frontal.
te.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicar a importância da água para a vida na Terra e para a vida humana.
¸ Descrever o ciclo hidrológico e explicar a sua importância na renovação da água.
¸ Indicar os principais fatores que influenciam o clima português.
¸ Distinguir uma frente fria de uma frente quente.
AS PERTURBAÇÕES FRONTAIS E SUA INFLUÊNCIA NO ESTADO DO TEMPO
A formação de frentes acontece frequentemente nas latitudes médias dos dois hemisférios, onde a con-
vergência das massas de ar quente tropical com as de ar frio polar dá origem à formação da frente polar,
cujas perturbações são responsáveis por muitas situações de mau tempo sentidas nessas latitudes.
Por vezes, uma frente quente associa-se a uma frente fria, formando-se entre elas uma depressão
barométrica. Quando isto acontece, estamos em presença de uma perturbação frontal (Fig. 1).

A B

B
Ar frio
990
posterior 1000
A B
Ar frio 1010
Ar quente anterior 1020 Ar quente
1030
1040
Frente
Frente
t ffria
ria
i Frente
Frente
t quente
quente
t
Vento Frente fria Frente quente
FIG. 1 Uma perturbação frontal: plano vertical (A) e plano horizontal (B).

À medida que a perturbação frontal evolui, o estado do tempo sofre alterações, embora predomine o
mau tempo:
• na passagem da frente quente, o estado do tempo caracteriza-se por céu muito nublado e chuva
contínua e de fraca intensidade, porque o ar quente sobe lentamente, e vento moderado;
• na passagem do setor central, dá-se uma ligeira melhoria do estado do tempo: céu pouco nublado
e curtos períodos de chuva fraca e vento moderado;
• com a passagem da frente fria, o estado do tempo agrava-se: céu muito nublado (nuvens de desenvol-
vimento vertical) e chuvas intensas, pois a subida do ar quente é mais rápida e violenta, e vento forte.
Numa perturbação frontal, embora as duas frentes avancem no mesmo
Frente oclusa:
sentido, a frente fria progride mais depressa do que a quente, porque o frente resultante da junção da
ar frio introduz-se por baixo do ar quente e obriga-o a subir mais rapida- frente fria de uma perturbação
frontal com a frente quente.
mente. Assim, a frente fria aproxima-se cada vez mais da quente e,
quando a alcança, o ar frio posterior junta-se ao ar frio anterior, obrigan-
do todo o ar quente a subir. A superfície frontal entra, então, em oclusão
e, gradualmente, extingue-se – frente oclusa (Fig. 2).

1.o 2.o 3.o


Sentido de deslocação do ar
FIG. 2 Evolução de uma
Ar quente Ar frio Frente fria Frente quente Frente oclusa perturbação frontal.
OS PRINCIPAIS TIPOS DE PRECIPITAÇÃO
Para ocorrer precipitação é sempre necessário que exista um movimento ascendente do ar. Como a ascen-
são do ar pode ser desencadeada de diversas formas, a cada uma corresponde um tipo de precipitação.

PRECIPITAÇÕES FRONTAIS
A ascensão do ar quente numa superfície frontal origina precipitações frontais:
• numa frente fria, a superfície frontal tem maior declive, pois o ar frio, ao introduzir-se por baixo do
ar quente, provoca a sua ascensão de forma rápida e violenta, o que dá origem a nuvens de grande
desenvolvimento vertical, que levam à ocorrência de precipitações intensas, tipo aguaceiro;
• numa frente quente, a superfície frontal tem menor declive, pois o ar quente desliza sobre o frio,
subindo mais lentamente, o que dá origem a nuvens de desenvolvimento horizontal, que levam à
ocorrência de precipitações menos intensas, mas contínuas e de maior duração.
Como o norte de Portugal Continental, sobretudo o noroeste, sofre grande influência das perturbações
da frente polar, nessa região as chuvas frontais são frequentes, principalmente no inverno.

PRECIPITAÇÕES CONVECTIVAS
Quando existe um intenso aquecimento da
superfície da Terra, o ar em contacto com a su-
perfície aquece e sobe formando-se baixas pres-
sões de origem térmica. A rápida convergência e
subida do ar dá origem a nuvens de grande de-
senvolvimento vertical e a precipitações convec-
tivas – intensas e de curta duração, por vezes
acompanhadas de trovoada (Fig. 1). Supe íc
Su í em
mu t
As precipitações convectivas ocorrem, sobre- q e d

tudo, no interior de Portugal Continental, durante


o verão, por influência das depressões barométri- FIG. 1 Precipitações convectivas. Dão origem às chamadas «trombas
cas que se formam sobre a península Ibérica. de água» – chuvas repentinas e intensas que, por vezes, provocam
inundações.

PRECIPITAÇÕES OROGRÁFICAS
As precipitações orográficas devem-se à ação do relevo. As vertentes provocam a ascensão do ar, que arrefece,
desencadeando a condensação do vapor de água, a formação de nuvens e de precipitação (Fig. 2).
Este processo é frequente nas vertentes expostas a
ventos húmidos. Nas vertentes opostas, o ar desce e Altitude (m)
3000
aquece, pelo que a precipitação é muito menor. Ar seco
As precipitações orográficas são mais frequen- Ar húmido
tes em todas as áreas montanhosas expostas a 2000

ventos húmidos, como acontece no noroeste de


Portugal Continental e na vertente norte da ilha 1000
da Madeira.
0
FIG. 2 Precipitação orográfica.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicar a formação e a evolução de uma perturbação frontal e a sua influência no estado do tempo.
¸ Caracterizar os principais tipos de precipitação e indicar as regiões portuguesas onde são mais frequentes.
RITMOS E DISTRIBUIÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM PORTUGAL

IRREGULARIDADE INTRA-ANUAL E INTERANUAL


Em todo o território português, existem diferenças considerá- DOC. 1 DOIS EXEMPLOS
veis nos valores da precipitação, ao longo do ano – irregularida-
Temperatura
de intra-anual. Os mais elevados ocorrem, geralmente, no final O verão de 2013 em Portugal Continental
do outono, durante o inverno e no início da primavera, registan- foi caracterizado por valores médios da tem-
do-se os mais baixos no verão. As maiores diferenças verificam- peratura média do ar superiores ao valor nor-
se no norte do país, mais afetado pelas perturbações da frente mal e por valores médios da quantidade de
polar, no inverno. precipitação inferiores. No trimestre junho-
agosto verificou-se uma temperatura média de
Como Portugal se encontra em latitudes mais baixas da Zona 21,96 °C, situada em 0,71 °C acima do valor
Temperada, é bastante influenciado pela irregularidade intera- normal. O valor da temperatura máxima cor-
nual (de ano para ano) das deslocações em latitude das baixas responde ao 10º verão mais quente desde
1931. E o valor da temperatura mínima do ar
pressões subpolares e das altas pressões subtropicais. Por isso,
no verão 2013 foi próximo do valor normal.
existem grandes diferenças na distribuição interanual da preci-
pitação em Portugal (Doc. 1). Precipitação
O valor médio da quantidade de precipi-
IRREGULARIDADE ESPACIAL tação no trimestre junho-agosto no Con-
tinente, 23,3 mm, foi inferior ao valor normal
Em Portugal Continental, os valores de precipitação mais eleva-
(-36,4 mm), classificando-se o verão como
dos registam-se no noroeste e nas áreas de montanha, e os mais seco a extremamente seco em todo o territó-
baixos ocorrem no vale superior do Douro e no sul do país, sobre- rio. O valor da quantidade de precipitação cor-
tudo no interior alentejano e no litoral algarvio. Assim, de um responde ao 6º verão mais seco desde 1931.
modo geral, a precipitação diminui de norte para sul e de oeste Adaptado de Boletim Climatológico Sazonal –
para este, sendo mais evidente o contraste norte-sul (Fig. 1). Verão 2013, IPMA, 2014

O contraste norte-sul deve-se à influência da latitude, pois a pertur-


N
bação da frente polar afeta com maior frequência o norte do país,
enquanto o sul recebe uma maior influência das altas pressões sub-
tropicais, pelo que é mais seco.
O contraste oeste–este deve-se à influência do mar, que é maior no
ântico

litoral e se torna menor para o interior.


tl
Oceano A

A influência do relevo, em certas regiões, sobrepõe-se à da latitude e


da distância ao mar:
• nas áreas mais elevadas do noroeste e do centro, sobretudo nas
vertentes expostas a ventos húmidos, a altitude justifica a preci-
pitação mais alta, sendo que, no noroeste, as chuvas orográficas
Precipitação
reforçam as frontais; (mm)
• no interior norte, a precipitação reduzida, deve-se à disposição <500
500
paralela à costa das montanhas do noroeste, que impede a pene- 600
800
tração dos ventos húmidos do Atlântico;
1000
• na região centro, a disposição da Cordilheira Central permite a 1600
2000
penetração dos ventos húmidos de oeste, reduzindo o contraste >2000
0 50 km
oeste-este;
Fonte: IPMA, 2002
• na serra algarvia registam-se os valores de precipitação mais
FIG. 1 Distribuição espacial dos valores
elevados do sul do país; médios da precipitação anual em Portugal
• nas regiões autónomas, a precipitação é mais abundante nas Continental.

áreas de maior altitude e nas vertentes mais expostas aos ventos


húmidos, como a vertente norte da ilha da Madeira.
ESTADOS DO TEMPO MAIS FREQUENTES EM PORTUGAL
O estado do tempo é, por definição, uma situação de curta duração. No
Cartas sinóticas:
entanto, é possível identificar os estados do tempo que se registam mapas que representam as con-
mais frequentemente num dado território e em diferentes épocas do dições atmosféricas, num dado
território, num certo momento.
ano. Os estados do tempo correspondem a determinadas situações
meteorológicas que, geralmente, se representam em cartas sinóticas
ou meteorológicas.

NO INVERNO
No inverno, as temperaturas médias, quer diárias quer mensais, são relativamente baixas, pois nesta época
do ano o aquecimento é menor.
A figura 1 representa a situação meteorológica mais frequente no inverno: uma depressão barométrica
associada a uma perturbação da frente polar, localizada bastante a sul, afetando sobretudo o norte de
Portugal.

985
995
1000
Com a passagem da frente quente, pode prever-se a 10 40 20 10 0 1000 10

990
30 5
05
1010 B 10 0
50 1010
ocorrência de precipitação contínua e de longa dura- 1015
1020
ção e de vento fraco ou moderado, em todo o país, mas 1025 1015

sobretudo no norte e centro. A temperatura tende a


subir com a aproximação da massa de ar quente.
40
Porém, a rápida progressão da frente fria criará condi- 20
10
ções para a ocorrência de precipitação mais intensa e
de curta duração (aguaceiros) e de vento moderado a A
30

forte. A temperatura tenderá a descer com a passagem 0


102
10

da massa de ar frio. 30
1015
Outra situação meteorológica característica do in- FIG. 1 Situação meteorológica mais frequente no inverno.
verno, mas menos frequente, deve-se à formação de
anticiclones sobre o continente ou sobre a península
40 30 20 10 0 1 01 0
10
Ibérica, devido ao grande arrefecimento do ar em 1 0 00
50 005
1
contacto com o solo muito frio. 1010 1015 5
10 2
1015
1010
A carta sinótica da figura 2 permite-nos verificar que
1020
o anticiclone, bastante deslocado para sul, forma B
40 1030
uma barreira à influência das perturbações da frente
polar e afeta todo o território do Continente. Assim, é
A
previsível céu limpo e a descida das temperaturas,
pelo que poderá formar-se geada durante a noite,
sobretudo, no interior do país. 30

FIG. 2 Situação meteorológica característica do inverno, mas


menos frequente.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicar a irregularidade intra e interanual da precipitação, em Portugal.
¸ Caracterizar as duas situações meteorológicas mais frequentes no inverno português.
NO VERÃO
No verão, as temperaturas médias, quer diárias quer mensais, são quase sempre altas, devido à menor
obliquidade com que os raios solares incidem sobre a superfície e à maior duração dos dias, nesta época
do ano. Além disso, o território português também recebe a influência das massas de ar quente tropical.
A precipitação é fraca, pois a influência das perturbações da frente polar e das depressões subpolares
raramente se faz sentir, uma vez que se encontram deslocadas mais para norte. Pelo contrário, aumenta
a influência das altas pressões subtropicais, também elas localizadas mais a norte. Destaca-se o antici-
clone dos Açores que, nesta época do ano, se posiciona a norte ou nordeste desse arquipélago e que
estende a sua influência a todo o território português, atingindo também grande parte da Europa
Ocidental.

1010
0

1005
Na figura 1 observa-se a situação meteoro-

10

1015
102
101
40 30 20 10 0 10

00
20
B

10
50
lógica mais frequente no verão: a influência 9 95
B
do anticiclone dos Açores impede o avanço
da depressão barométrica situada sobre a
1025
Europa Central, prevendo-se bom tempo
para todo o território nacional – céu limpo 40
1020
ou pouco nublado, vento fraco e tempera- A
0
turas elevadas. 101

Outra situação meteorológica comum, mas


menos frequente: formação de depressões 30

barométricas no interior do continente ou


FIG. 1 Situação meteorológica mais frequente no verão.
sobre a península Ibérica, devido ao grande
1010
1015

aquecimento da superfície. 40 30 20 10 0 10
B
50
Na carta sinótica da figura 2 verifica-se que
Portugal está sob a influência de uma 1020
depressão barométrica de origem térmica,
prevendo-se a ocorrência de precipitação,
40
com probabilidade de trovoadas estivais.
1010
A influência destas depressões faz-se sen- B
A 1015
tir, sobretudo, no interior de Portugal Con-
tinental.
30

FIG. 2 Situação meteorológica característica do verão, mas menos frequente.

NAS ESTAÇÕES INTERMÉDIAS


Na primavera e no outono ocorrem situações intermédias que se caracterizam, sobretudo, pela transi-
ção entre as situações mais típicas do inverno e do verão.
Na primavera, a influência das depressões subpolares e das perturbações da frente polar ainda é fre-
quente, ocorrendo precipitação ainda significativa, até maio. A influência do anticiclone dos Açores
torna-se cada vez maior, passando a predominar o bom tempo.
No outono inicia-se a deslocação das depressões subpolares e das perturbações da frente polar, para
sul, aumentando ocorrência de precipitação para o que contribui o facto de as temperaturas ainda não
terem descido muito (por influência do mar), o que potencia a evaporação e a precipitação.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS DO TERRITÓRIO PORTUGUÊS
Em todo o território português dominam as características do clima mediterrânico: invernos suaves e
verões longos e quentes, com alguns meses secos – período seco estival –, que é mais prolongado no sul
do país e no vale superior do Douro. Todavia, é possível distinguir alguns domínios climáticos cujas par-
ticularidades se associam aos fatores que, além da latitude, exercem maior influência (Fig. 1).

NO CONTINENTE

Domínio atlântico: no norte N Domínio continental: no norte


litoral as temperaturas são interior as temperaturas mé-
amenas, com uma baixa va- dias mensais são baixas no
riação de amplitude térmica inverno e altas no verão, com
anual. A precipitação é abun- uma amplitude de variação tér-
tlântico

dante (média anual superior a mica anual acentuada. A pre-


1000 mm), mas há pelos me-
Oceano A

nos dois meses secos no verão. cipitação é pouco abundante


(média anual inferior a 800
mm), com três a cinco meses
secos no verão. Nesta região,
Domínio mediterrânico mais destaca-se o vale superior do
acentuado: no sul do país, as Douro, com temperaturas mé-
temperaturas médias são sua- dias anuais mais altas e meno-
ves no inverno e elevadas no
verão, com uma amplitude de
variação térmica anual mode- Áreas de montanha: a influên-
rada. A precipitação é pouco cia da altitude torna o inverno
abundante (valores inferiores a mais rigoroso, por vezes com
800 mm e, em grande parte queda de neve, e o verão mais
do território, inferiores a 600 fresco e húmido. A precipita-
mm), com quatro a seis meses ção é abundante (geralmente
secos. 0 50 km superior a 1000 mm).
Neste domínio, observam-se
algumas diferenciações: Clima mediterrânico a Clima mediterrânico Clima de áreas de
com grande influência b mais acentuado: montanhas mais altas
• no litoral ocidental, as tem- atlântica a - mais ameno e húmido
peraturas médias mensais b - mais quente e seco
Clima mediterrânico Alterações climáticas
são mais amenas e há maior com grande influência Clima mediterrânico induzidas pelo relevo
continental com maior influência
humidade; tropical
• no interior alentejano, regis- Fonte: Adaptado de Geografia de Portugal, Ambiente Físico, 2005
ta-se maior amplitude de
FIG. 1 Principais domínios climáticos em Portugal Continental.
variação térmica anual e me-
nor precipitação;
• o litoral algarvio, mais sujeito
às influências tropicais, tem
invernos mais suaves e ve-
rões quentes e mais prolon-
gados.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Caracterizar as duas situações meteorológicas mais frequentes no verão português.
¸ Caracterizar as situações meteorológicas mais frequentes nas estações intermédias.
¸ Identificar os principais domínios climáticos que podem ser considerados em Portugal Continental.
¸ Enunciar as principais características desses domínios climáticos e indicar os respetivos fatores (já anteriormente
estudados).
As características térmicas e pluviométricas dos diferentes domínios climáticos de Portugal
Continental podem representar-se em gráficos termopluviométricos (Fig. 1).

Braga P (mm) Bragança P (mm) Penhas Douradas P (mm)


N 260 260 260
Bragança 240 240 240
220 220 220
200 200 200
Braga 180 180 180
160 160 160
Penhas 140 140 140
tlântico

Douradas 120 120 120


100 100 100
80 80 80
Oceano A

30 60 30 60 30 60
20 40 20 40 20 40
10 20 10 20 10 20
0 0 0 0 0 0
JF MAMJ J A S OND JF MAMJJ A S OND JF MAMJJ AS OND
Faro P (mm) Lisboa P (mm) Beja P (mm)
260 260 260
Lisboa 240 240 240
220 220 220
200 200 200
180 180 180
160 160 160
Beja
140 140 140
120 120 120
100 100 100
80 80 80
30 60 30 60 30 60
Faro 20 40 20 40 20 40
10 20 10 20 10 20
50 km
0 0 0 0 0 0
0
JF MAMJ J A S OND JF MAMJJ A S OND JF MAMJJ AS OND
FIG. 1 Gráficos termopluviométricos representativos dos domínios climáticos de Portugal Continental.

NAS REGIÕES AUTÓNOMAS

N
Santa Cruz
Santana Porto das Flores
Santo
Funchal Porto Santo P (mm)
80 Ponta Delgada
Santana P (mm) 30 60
260 20 40 Santa Cruz Oceano Atlântico
240 10 20 das Flores
220
P (mm)
0 0 200
200 J F M A M JJ A S O N D
180 Ponta Delgada P (mm)
180 Funchal P (mm) 160 160
160 160
140 140
140 140
120 120 120
120
100 100 100
100
80 80 80
80
30 60 30 60 30 60
30 60
40 40 20 40 20 40
20 20
10 10 20 10 20 10 20
20
0 0 0 0 0 0 0 0
JF MAMJ JAS ON D J F MA M J J ASO ND JF MAMJ JA SON D JF MA M J JA S O ND
FIG. 2 Gráficos termopluviométricos representativos do clima FIG. 3 Gráficos termopluviométricos representativos do clima
da Madeira. dos Açores.

Na Madeira, situada a uma latitude mais baixa, o Nos Açores, a maior influência do oceano permite
clima é mediterrânico, mas com significativa dife- que o clima do arquipélago apresente tempera-
renciação. turas médias amenas ao longo de todo o ano,
A vertente norte da ilha da Madeira tem a preci- com uma amplitude da variação térmica anual
pitação mais elevada. A vertente sul, mais abri- moderada ou fraca e precipitação abundante,
gada, é mais quente e seca. sobretudo no outono e no inverno. No verão, a
estação seca nunca é superior a dois meses.
O Porto Santo tem temperaturas mais elevadas,
precipitações mais fracas e uma estação seca
mais prolongada.
AS DISPONIBILIDADES HÍDRICAS EM PORTUGAL

PRECIPITAÇÃO: FATOR CONDICIONANTE


As disponibilidades hídricas – quantidade de água disponível – depen-
Águas superficiais:
dem, essencialmente, do volume de precipitação e da sua distribuição rios, lagos, lagoas e albufeiras.
ao longo do ano. Em Portugal, da água doce gerada anualmente pela pre- Águas subterrâneas:
cipitação, quase metade evolui para recursos hídricos superficiais e encontram-se até 800 me-
tros de profundidade – nas-
subterrâneos. centes naturais e lençóis de
água que retêm a água da
Comparando as disponibilidades hídricas com outros países da Europa, infiltração.
pode dizer-se que Portugal tem uma situação favorável (Fig. 1).

Hungria
Países Baixos
Bélgica
Alemanha
Polónia
Rep. Checa
Rep. Eslovaca
Grécia
Luxemburgo
Dinamarca
Reino Unido
Itália Água gerada no país
Espanha
Escoamento fluvial proveniente de outros países
França
Portugal
Turquia
Nota:
Suíça
A escala horizontal é logarítmica pelo que cada
Áustria subdivisão representa uma decuplicação dos
Irlanda recursos hídricos!
Suécia
Finlândia
Noruega
Islândia
100 1000 10 000 100 000 1000 000
Recursos hídricos (m3 per capita por ano)
Fonte: Agência Europeia do Ambiente, 2009
FIG. 1 Disponibilidade de água doce em alguns países europeus e na Turquia.

Apesar de Portugal ter uma certa abundância de recursos hídricos, a maioria dos quais gerados em ter-
ritório nacional, a irregularidade da precipitação, tanto no que respeita ao volume total anual como no
que se refere à sua distribuição ao longo do ano, dificulta bastante a sua gestão. Este problema ganha
maior significado se pensarmos que as maiores necessidades de consumo se verificam na época de
menor disponibilidade hídrica – o verão.
Devido a esta irregularidade, no nosso país tanto podem ocorrer períodos de seca mais ou menos pro-
longados, como verificar-se períodos de chuva tão intensa que origina cheias, com graves consequên-
cias para a população.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Relacionar a disponibilidade dos recursos hídricos com o regime de precipitações representado na página anterior,
para Portugal Continental e para as regiões autónomas.
AS ÁGUAS SUPERFICIAIS
As águas superficiais, que se encontram nos continentes, em rios, lagos, lagoas e albufeiras, consti-
tuem importantes recursos hídricos, os mais acessíveis e os que proporcionam maior variedade de
utilizações. Porém, as águas superficiais são também mais vulneráveis aos efeitos negativos da sua uti-
lização e da ocupação humana das regiões em que se inserem.

A REDE HIDROGRÁFICA
Em Portugal, a rede hidrográfica é relativamente densa, sobretudo N Minho

a norte do rio Tejo, o que se explica, principalmente, pela diferença Lima o


Cávad
nos valores de precipitação (Fig. 1).
Ave

Os maiores rios são internacionais, Tejo, Douro e Guadiana, e, dos Douro

tlântico
que nascem em território nacional, destacam-se o Mondego e o Vouga
o
deg
Sado (Quadro I). Mon

Oceano A

Lis
Quadro I. Os maiores rios portugueses

jo
Te
Bacia
Local Percurso
Designação Local da foz hidrográfica

na
ia
de origem km
km2

ad
Gu
Sad
o
Douro Serra de Urbião (ES) Porto 97 713 927
Tejo Serra de Albarracin (ES) Lisboa 81 000 1 100
Vila Real de Mir
Guadiana Lagoa da Ruidera (ES) 67 000 810 a
Sto. António
Minho Serra de Meira (ES) Caminha 17 080 300
0 50 km
Mondego Serra da Estrela Figueira da Foz 6 659 253
Fonte: INAG, 2006
Fonte: Portugal em Números 2011, INE, 2013 FIG. 1 Rede hidrográfica em Portugal Conti-
nental.

O sentido de escoamento da rede hidrográfica portu-


guesa é dominantemente de nordeste para sudoeste, Contraste norte-sul
com exceções como as do rio Sado, que escoa de sul para
norte, e a do rio Guadiana, de norte para sul.
¸ maior densidade da rede hidro-
Para caracterizar o percurso e o vale dos rios, cujas gráfica;
características se associam ao relevo e à constituição ¸ perfil longitudinal dos rios mais
Norte

geológica do terreno, é habitual considerar-se: irregular e com maior declive;


¸ vales mais estreitos e profun-
• o perfil longitudinal – linha que une vários pontos do
dos;
fundo do leito de um rio, desde a nascente até à foz; ¸ maior volume de água, com
• o perfil transversal – linha que resulta da interse- menor diferença entre o inver-
ção, num dado ponto do percurso, de um plano ver- no e o verão.
tical com o vale, perpendicularmente à sua direção.
¸ rede hidrográfica menos densa;
¸ perfil longitudinal dos rios mais
Por vezes, também se designa por vale e apresenta-
-se diferente da nascente até à foz: regular e com menor declive;
¸ vales mais largos e abertos;
Sul

– curso superior – vale mais estreito e profundo;


– curso médio – o vale alarga-se e torna-se menos ¸ menor volume de água, com
profundo; maior diferença entre o inverno
e o verão.
– curso final – vale aberto, geralmente em planície.
AS PRINCIPAIS BACIAS HIDROGRÁFICAS
A rede hidrográfica de Portugal
N Minho
Continental distribui-se por di- 814 Cávado N
Lima 1593 Minho
versas bacias hidrográficas, a

o
lântico
Lima

e
1172 Douro

ân
err
maioria das quais em território Ave/Leça Douro

lântico

dit
1520 18570

Oceano At

Me
nacional. As mais extensas, Tejo, Tejo

r
Ma
Oceano At
Vouga
Douro e Guadiana, são luso- 2334 Mondego Guadiana
6658 As superfícies das bacias
-espanholas, o que nos coloca hidrográficas luso-espanholas
Lis correspondem a 64% do
numa posição de certa depen- 837 território português e a 42%
do território espanhol.
dência face às disponibilidades Rib. do Oeste
1655 Tejo
hídricas nessas bacias hidro- 26460
gráficas (Fig. 1).
Nas regiões autónomas, os cursos Sado
6271
de água, por serem de pequena
Guadiana
extensão, são denominados por Mira 11 300
1025
ribeiras e escoam em vales 814 - área da bacia
Rib. do Algarve hidrográfica (km2)
estreitos e profundos, com fortes 1683
Limites da bacia
0 50 km hidrográfica FIG. 1 Principais bacias hidrográficas
declives. As respetivas bacias
Fonte: INAG, MCOTA, 2013 portuguesas e luso-espanholas
hidrográficas são também de
reduzida dimensão (Quadro I).

Quadro I. Principais bacias hidrográficas das regiões autónomas


Madeira Açores
Bacia Vertente Área (km2) Bacia ilha Área (km2)
R.a da Janela Norte 53 R.a da Povoação São Miguel 29,1
R.a do Faial Norte 53 R.a Quente São Miguel 26,1
R.a Brava Sul 44 R.a da Areia Terceira 25,7
Fonte: Plano Regional da Água – Madeira, 2003 e Plano Regional da Água – Açores, 2002

O escoamento anual médio das bacias hidrográficas, tal como a densida-


Escoamento anual médio:
de da rede hidrográfica, reflete as diferenças no volume da precipitação parte da água da precipitação
entre a região a norte do Tejo e a que se lhe situa a sul (Fig. 2). que, em média, escorre à su-
perfície ou em canais subter-
râneos, por ano hidrográfico.
Minho
Lima
Cávado
Ave
Leça
Douro
Vouga
Mondego
VERIFIQUE SE SABE
Lis
Rib. Oeste ¸ Caracterizar a rede hidrográ-
Tejo
Sado fica portuguesa.
Mira ¸ Enunciar as principais bacias
Guadiana
Rib. Algarve hidrográficas portuguesas e
Rib. Açores luso-espanholas.
Rib. Madeira ¸ Relacionar o escoamento anual
0 150 300 450 600 750 900 1050 1200 1350 1500 médio com a distribuição espa-
Milímetros
cial da precipitação.
Fonte: INAG, 2013
FIG. 2 Escoamento anual médio das principais bacias hidrográficas portuguesas.
A VARIAÇÃO DO CAUDAL DOS RIOS
A acentuada variação da precipitação, intra e interanual, reflete-se na
Caudal:
sazonalidade do escoamento, o que vai influenciar o caudal dos rios que, volume de água que passa
em Portugal, apresenta grande irregularidade temporal e espacial. numa dada secção de um rio,
por unidade de tempo (m3/s).
A irregularidade sazonal do caudal dos rios verifica-se em todo o territó- Regime hidrológico:
rio, mas é mais acentuada nas bacias hidrográficas do sul do país, onde, variação do caudal de um rio
ao longo do ano.
nos meses de verão, o caudal de muitos cursos de água se torna nulo.
Assim, pode afirmar-se que em Portugal o regime hidrológico é irregu-
lar, com caráter torrencial (Quadro I).

Quadro I. Caudal médio e irregularidade do caudal em alguns rios portugueses


Parâmetro/Sistema Minho Douro Tejo Sado Guadiana
Caudal médio (m3/s) 460 710 500 40 200
Irregularidade (máx./min.) 4,1-4,8 5,1-37,7 10-104 14,8-180 16,2-179,7
Fonte: Plano Nacional da Água, MCOTA, 2002

Como se deduz do Quadro I e como consequência das diferenças já referidas sobre os rios portugueses,
também a nível do caudal médio, no Continente, se evidencia um contraste norte-sul.

Norte Sul

O regime dos rios caracteriza-se: O regime dos rios caracteriza-se:


¸ no inverno e início da primavera, por um caudal ¸ no inverno e início da primavera, por um caudal
elevado e pela ocorrência de cheias frequentes; relativamente elevado e pela ocorrência de
¸ no verão, pela redução do caudal, mas apresen- cheias pouco frequentes;
tando sempre escoamento. ¸ no verão, pela redução acentuada do caudal,
chegando muitos cursos de água a secar.

Nas regiões autónomas, os caudais das ribeiras, no inverno, atingem frequentemente volumes elevados,
secando muitas delas no verão. Nos Açores, a irregularidade dos caudais é menos acentuada, devido à
menor variabilidade da precipitação.
A ação humana pode influenciar o regime fluvial, como acontece com a construção de barragens, que
contribuem para regularizar o caudal dos rios:
• na época de maior precipitação, retêm a água nas albufeiras, evitando muitas cheias;
• na época estival, mantêm um escoamento mínimo, impedindo que os cursos de água sequem.
A influência da ação humana nas bacias hidrográficas pode ser negativa, quando provoca:
• a obstrução de linhas de água;
• a ocupação de leitos de cheia;
• a impermeabilização dos solos, que impede a infiltração da água e aumenta a escorrência superficial;
• a desflorestação, que contribui para o assoreamento dos rios, porque deixa os solos desprotegidos
e favorece o arrastamento de terras para os cursos de água.
LAGOS, LAGOAS E ALBUFEIRAS
Os lagos e lagoas (a designação depende da dimensão – os lagos são maiores e as lagoas menores)
constituem também importantes reservatórios de água doce, embora, em alguns casos, a água seja
salobra. Por exemplo, nos Açores, grande parte da água para consumo é captada em lagoas.
Em Portugal Continental, tendo em conta o processo de formação, podemos considerar três tipos de
lagoas.

Lagoas de origem marinha


Lagoas de origem glaciária Lagoas de origem tectónica
e fluvial

¸ Localizam-se nas áreas mais ¸ Localizam-se no Maciço Cal-


¸ Localizam-se na faixa costeira.
¸ São numerosas e de pequena
elevadas da serra da Estrela. cário da Estremadura.
¸ São pouco numerosas. ¸ São pouco numerosas.
¸ A mais importante é a Lagoa ¸ As mais importantes são as
profundidade.
¸ As mais importantes são as
Comprida, com cerca de 1 km lagoas de Mira, Minde e Ar-
lagoas de Óbidos, Pateira de
de comprimento. rimal.
Fermentelos, Santo André e
Albufeira.

Nos Açores, existem numerosas lagoas de origem vulcânica, em depressões resultantes do abatimento
de antigas crateras. As mais conhecidas são as maiores de S. Miguel (Sete Cidades, Furnas e Fogo), mas
também se encontram lagoas noutras ilhas, como, por exemplo, nas Flores e no Corvo.
As albufeiras são reservatórios construídos para a acumulação de água que se destinam ao abasteci-
mento da população e das atividades económicas, mesmo em épocas de seca.
Em Portugal Continental, a distribuição geográfica do relevo e as características da rede hidrográfica
explicam a existência de maior número de barragens nas regiões norte e centro que, além da função de
armazenamento de água, dispõem, na sua grande maioria, de centrais de produção de eletricidade.
No sul, as albufeiras têm contribuído sobretudo para melhorar a gestão da água, nomeadamente no que
se refere às reservas para usos doméstico e agrícola, embora também existam importantes centrais de
produção de eletricidade, como é o caso da barragem do Alqueva. No Algarve, com uma rede hidrográfica
pouco extensa e constituída sobretudo por ribeiras, as albufeiras têm apenas a função de armazena-
mento de água para a agricultura e para o abastecimento das populações.
Dada a necessidade de aumentar a produção de energia a partir de fontes renováveis, o Programa Nacional
de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH) prevê a construção de novas barragens e tem
como meta atingir uma capacidade hidroelétrica instalada, a nível nacional, superior a 7000 MW, em 2020.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicar a variação intra-anual do caudal dos rios portugueses.
¸ Descrever as diferenças entre o caudal médio dos rios do norte e do sul do país, relacionando-as com a variação espa-
cial da precipitação e do escoamento médio anual.
¸ Explicar a contribuição das barragens para a regularização dos caudais dos rios.
¸ Enunciar as principais lagoas portuguesas, de acordo com a sua origem.
¸ Indicar as funções que as albufeiras têm no nosso país.
AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS

OS AQUÍFEROS
A precipitação é a principal fonte de abastecimento das águas subterrâ-
Toalhas freáticas:
neas – toalhas freáticas e aquíferos. lençóis de água subterrânea
que circulam ou se acumulam
A formação de aquíferos, bem como as suas características, dependem em aquíferos.
da maior ou menor permeabilidade das rochas: Aquíferos:
• as formações rochosas de xisto, granito e basalto são pouco per- formações geológicas per-
meáveis, cujo limite inferior e,
meáveis, não favorecendo a formação de aquíferos importantes; por vezes, também o superior,
• as formações rochosas sedimentares de natureza calcária têm cal- é constituído por rochas im-
permeáveis.
cite na sua composição. Esta dissolve-se na água, o que provoca a Toalha cársica:
abertura de fendas e fissuras por onde a água se infiltra, originando toalha freática em áreas de
formações geológicas de na-
um sistema de escoamento subterrâneo – toalha cársica; tureza calcária.
• as formações rochosas como os arenitos e as areias – rochas sedi- Produtividade aquífera:
mentares de origem detrítica – são bastante permeáveis, facilitando quantidade de água que é
possível extrair continua-
a infiltração da água e a formação de aquíferos importantes. mente de um aquífero, em
condições normais, sem afe-
Devido à sua maior permeabilidade, os aquíferos das formações rocho- tar a reserva e a qualidade da
sas de origem sedimentar têm maior produtividade aquífera, pelo que água.

as disponibilidades hídricas subterrâneas são maiores nas áreas de for-


mações rochosas mais permeáveis e porosas (Fig. 1).
A B
Unidades hidrogeológicas
N

Maciço Hespérico: predomínio de granitos e de xis-


tos, formações rochosas pouco permeáveis.
Maciço
ç
llâânticcoo

Hespérico
éi
al
ent
Ocid

t
Oceano A
Orla

Baciass Orlas Ocidental e Meridional: predomínio de rochas


do Tejo
ejj
e Sa
Sado
d sedimentares de natureza calcária, bastante per-
meáveis.
0 50 km

Orla Meridional

Granitos e outras
rochas plutónicas Bacias do Tejo e Sado: predomínio de rochas sedi-
Xistos mentares de natureza detrítica de grande per-
Rochas sedimen- meabilidade.
tares detríticas
Rochas calcárias
e margas 0 50 km
Basalto
Outras rochas
FIG. 1 Unidades hidrogeológicas (A) e produtividade aquífera (B), em
vulcânicas Portugal Continental.

Em Portugal Continental, as maiores disponibilidades hídricas encontram-se nas:


• Bacias do Tejo e Sado, onde se formaram aquíferos porosos que constituem o mais extenso sistema
aquífero da península Ibérica e a mais importante unidade hidrogeológica do país;
• Orlas Ocidental e Meridional, onde as rochas sedimentares detríticas e calcárias permitem a exis-
tência de aquíferos porosos e cársicos de grande produtividade aquífera.
No território continental correspondente ao Maciço Hespérico dominam os xistos e granitos que são
pouco permeáveis, o que explica as menores disponibilidades hídricas.
A UTILIZAÇÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
A importância relativa das origens da água – superficial ou subterrânea – para abastecimento da popu-
lação e das atividades económicas tem vindo a alterar-se, verificando-se que, atualmente, a origem
superficial já predomina sobre a subterrânea (Doc. 1).

DOC. 1 DIFERENTES ORIGENS Água captada (m3) por localização geográfica e origem do caudal,
% em Portugal Continental (2009)
As origens de água superficial continuam a ser 100

as mais utilizadas para a produção de água desti-


80
nada ao consumo humano. Em 2012, a percenta-
60
gem total de água subterrânea utilizada foi de
33,35% (36,82% em 2011) e a de água superfi- 40
cial de 66,65% (63,18% em 2011). De facto, cerca
20
de dois terços da água que os portugueses bebem
0
Continente

Pinhal Litoral

Pinhal Interior Sul

Beira Interior Sul

Península de Setúbal

Alentejo Litoral

Alentejo Central
Minho-Lima

Tâmega
Entre Douro e Vouga

Baixo Vouga

Serra da Estrela

Cova da Beira

Grande Lisboa
Ave

Pinhal Interior Norte

Beira Interior Norte

Oeste

Algarve
Cávado

Grande Porto

Douro
Alto Trás-os-Montes

Baixo Mondego

Dão-Lafões

Médio Tejo

Lezíria do Tejo

Alto Alentejo

Baixo Alentejo
é de origem superficial.
Adaptado de Relatório Anual dos Serviços de Águas e
Resíduos em Portugal – 2013, Vol. 4, Entidade Reguladora
dos Serviços de Águas e Resíduos, 2013
Subterrânea
Superficial Fonte: Estatística do Ambiente – 2012, INE, 2014

As reservas de águas subterrâneas apresentam algumas vantagens: não há perda de água por evapora-
ção; não se verifica deposição de sedimentos e não têm custos de manutenção. No entanto, é funda-
mental que seja garantida a preservação das reservas, em quantidade e em qualidade. Essa conserva-
ção depende das recargas naturais – água infiltrada que, escoando verticalmente, atinge a superfície
freática – mas também da intensidade da exploração e dos cuidados na sua preservação. Ou seja, a cap-
tação de águas subterrâneas deve ser inferior à produtividade dos aquíferos, de modo a evitar a sua
sobreexploração. Se os aquíferos são explorados acima da sua capacidade de renovação, existem riscos
de deterioração, em muitos casos irreversível.

AS ÁGUAS MINERAIS NATURAIS


Ao entrar em contacto com o solo e, mais ainda, ao deslocar-se pelo seu interior, a água sofre alterações
físicas e químicas, dissolvendo ou reagindo com substâncias minerais e micro-organismos. Assim, a
composição da água subterrânea varia consoante as formações geológicas das áreas que percorre e
que lhe dão características particulares. São essas particularidades que conferem a muitas águas sub-
terrâneas grande importância económica, visto que as águas minerais naturais têm cada vez maior pro-
cura para consumo.
Muitas vezes, as águas subterrâneas, além de conterem sais minerais específicos, contêm gás carbó-
nico e são mais quentes – águas termais. A exploração destas águas é feita com fins medicinais, mas
apresenta também uma componente turística muito importante, associada ao termalismo.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Relacionar a formação de aquíferos com as características das formações rochosas.
¸ Explicar a localização das áreas de maior produtividade aquífera em Portugal Continental.
¸ Enunciar as principais utilizações das águas subterrâneas.
A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

PRINCIPAIS PROBLEMAS NA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS


A utilização dos recursos hídricos tem alguns efeitos negativos e coloca problemas que se relacionam,
essencialmente, com a poluição das águas e com o crescimento das necessidades de consumo.

PRINCIPAIS FONTES DE POLUIÇÃO

Têm uma grande componente orgânica e uma quantidade e variedade elevadas de


Efluentes bactérias e vírus. Por isso, são uma das maiores fontes de poluição dos cursos de
domésticos água e, por vezes, das águas subterrâneas, no caso das fossas de menor qualidade
e sem ligação à rede de esgotos.

Têm elevadas cargas tóxicas e teores em metais pesados, como o mercúrio. As


águas utilizadas no processo produtivo ou para lavagens e arrefecimento são con-
Efluentes
taminadas com os mais diversos produtos químicos perigosos e, mesmo sendo tra-
industriais
tadas, podem alterar o meio recetor, sobretudo porque, geralmente, encontram-
-se a temperaturas elevadas.

A sua composição e os seus efeitos são, no essencial, semelhantes aos dos efluen-
tes domésticos, mas uma exploração pecuária pode produzir uma quantidade de
Efluentes de
resíduos equivalente à de povoações de média dimensão. Em Portugal ainda há ins-
origem pecuária
talações com deficiências no controlo dos resíduos e casos de incumprimento da
legislação, que proíbe o seu lançamento nos meios hídricos sem tratamento.

Os fertilizantes, inseticidas e herbicidas utilizados na agricultura, muitos com ele-


vado teor de substâncias tóxicas, dissolvidos na água da rega ou da chuva, infiltram-
Químicos
agrícolas se no solo, contaminando as toalhas freáticas, ou escorrem à superfície, vindo a
contaminar os cursos de água. Esta forma de poluição, muito difusa, pode afetar
áreas muito extensas e, também por isso, é difícil de detetar e controlar.

OUTROS PROBLEMAS

Eutrofização Salinização Desflorestação

É um processo que resulta do É um processo que se associa à A desflorestação afeta os re-


crescimento excessivo de algas sobreexploração dos aquíferos cursos hídricos superficiais e
e de outras espécies vegetais que permite a intrusão de água subterrâneos. Como deixa o solo
que consomem o oxigénio das salgada. Este problema ocorre desprotegido, a água da chu-
águas, acabando por provocar mais frequentemente próximo va escorre e não se infiltra,
a extinção da fauna aquática. do litoral e em anos de menor comprometendo a recarga dos
Este fenómeno deve-se ao lan- precipitação, por não se dar a aquíferos. Por outro lado, o
çamento, nos cursos de água e recarga natural dos aquíferos. maior volume de lamas arras-
lagoas, de efluentes com ele- Nessa situação, o consumo tados pela água da chuva para
vada concentração de detritos deve ser racionalizado, pois, os cursos de água pode provo-
orgânicos e de fosfatos e nitra- por vezes, a salinização pode car o assoreamento dos rios,
tos que servem de nutrientes ser irreversível. diminuindo a sua capacidade
às plantas. de aprovisionamento.
IRREGULARIDADE NO ABASTECIMENTO E CONSUMO DE ÁGUA
O abastecimento de água à população tem vindo a evoluir positi-
N
vamente, verificando-se que, em 2009, 97% da população resi-
dente era servida pela rede pública (Fig. 1).

ântico
tl
%

Oceano A
100 97 97 97
92 94
91 91
85 87
82
80
80

60

40

R.A. Aç
Açores % de
20 população
<90,0
R.A. M
Madeira 90,0 - 94,0
0 94,1 - 98,0
1990 1994 1998 2002 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
>98,0
Fonte: Rel. Anual do Setor de Águas e Resíduos em Portugal – 2012, ERSAR, 2014 0 50 km
FFonte:
onte: INE, 2014
FIG. 1 Evolução da população servida por abastecimento de água em
FIG. 2 População com abastecimento de água
Portugal.
pela rede pública, por NUTS III ( 2012).

Ainda subsistem, no entanto, algumas desigualdades a nível nacional (Fig. 2).


Na grande maioria das NUTS III do Continente, pelo menos 90% da população é servida por abastecimento
público de água. Apenas em duas NUTS III essa percentagem é inferior, Tâmega e Ave.
Em muitas áreas, sobretudo onde há povoamento disperso ou aglomerados populacionais de reduzida
dimensão, os custos médios, por habitante, da instalação das redes de abastecimento são muito eleva-
dos e, além disso, por vezes, é a população que prefere fazer o seu autoabastecimento, através de furos
e poços, evitando ter despesas com o consumo de água.
As captações de água para abastecimento público são feitas em meios superficiais e subterrâneos.
A maior densidade de captações subterrâneas situa-se nas orlas sedimentares Ocidental e Meridional e
ainda na bacia do Tejo e do Sado, pela maior produtividade aquífera. As captações superficiais locali-
zam-se predominantemente nas áreas correspondentes ao Maciço Hespérico, onde as disponibilidades
hídricas subterrâneas são menores e há condições mais favoráveis à construção de barragens.
Para além destas origens, em Portugal também se faz uso de outras menos convencionais, nomeada-
mente na ilha de Porto Santo onde existe uma estação de dessalinização das águas do mar, para abas-
tecimento da população da ilha.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Enunciar as principais fontes de poluição dos meios hídricos, de acordo com as suas origens.
¸ Explicar os processos de eutrofização e de salinização e seus efeitos nas reservas de água doce.
¸ Indicar as consequências da desflorestação para os cursos de água.
SISTEMAS DE ABASTECIMENTO E CONTROLO DA QUALIDADE DA ÁGUA
São numerosas e diversificadas as entidades gestoras dos
N
serviços de abastecimento de água, com diferentes
modelos de gestão e organização administrativa distintos,
o que põe em causa a eficiência e sustentabilidade finan-

ntico
ceira dessas empresas, o cumprimento dos normativos

o Atlâ
legais, a qualidade do serviço prestado, além de gerar

Ocean
grandes desigualdades nos preços ao consumidor.
O Plano Estratégico de Abastecimento de Águas e de
Saneamento de Águas Residuais: 2000-2007 (PEAASAR I),
previa a criação de sistemas plurimunicipais – meta de Limites dos Sistemas
Plurimunicipais
atendimento 95% da população, em 2006 –, foi em parte Municípios não
conseguido. Todavia, a meta de 95% de população atendi- integrados
Sistemas
da não foi alcançada. Este objetivo é retomado no PEAASAR II: Intermunicipais
Sistemas
2007-2013 (Fig. 1). Apesar dos progressos nos índices de Multimunicipais
cobertura e sistemas de abastecimento de água e na qua-
lidade do serviço, a estratégia do setor está em revisão. 0 50 km

Fonte: PEAASAR II, MAOTDR, 2013

FIG. 1 Abrangência territorial dos Sistemas Plurimunici-


pais de abastecimento de água, em Portugal Continental,
2012.
Os sistemas de abastecimento agrupam-se em:
• sistemas em «alta», que respeitam à captação, tratamento, adução, elevação e reserva da água;
• sistemas em «baixa», responsáveis pela distribuição – ramais de ligação e reservatórios.
O PEAASAR I privilegiou a vertente em «alta» através da implementação de soluções integradas de cará-
ter plurimunicipal. No período de 2007-2013, o maior investimento deu-se na vertente em «baixa», com
destaque para a região Norte, onde as carências eram maiores.
Os sistemas de controlo da qualidade da água têm evoluído no sentido de um maior cumprimento das
normas legalmente fixadas para a água destinada a consumo humano. A percentagem de água contro-
lada considerada segura aumentou, verificando-se uma significativa melhoria da qualidade (Figs. 2 e 3).

Água segura (%)


100 100 100
Percentagem de análises em falta
Nº de análises (milhares)

80 80 90

80
60 60
70
40 40
60

20 20
50

0 0 40
1995

2005
1993

2000

2003

2013
1999

2009
2001

2011
2007

2008 2009 2010 2011 2012


N.o de análises regulamentares obrigatórias
N.o de análises efetuadas % de análises realizadas
Fonte: Relatório Anual dos Serviços de Águas e Resíduos em Portugal – 2013, Fonte: Relatório Anual do Setor de Águas e Resíduos em Portugal – 2013,
Volume 4, ERSAR, 2014 ERSAR, 2014
FIG. 2 Evolução do número de análises regulamentares e percen- FIG. 3 Evolução da qualidade da água, em Portugal Continental.
tagem de análises realizadas nos pontos de entrega.
ARMAZENAMENTO DE ÁGUA
A construção de infraestruturas de armazenamento de água, em Portugal, torna-se particularmente
importante devido à grande irregularidade da distribuição intra e interanual da precipitação e, consequen-
temente, das afluências à rede hidrográfica e aquíferos, situação que se agrava pelo facto de existir um
desfasamento temporal entre as épocas de maior disponibilidade de água e as de maior necessidade.
Também neste aspeto tem havido uma evolução no sentido de se conseguir uma reserva de água cada
vez maior. A nossa capacidade de armazenamento em albufeiras, no total, ronda os 12 mil hectómetros
cúbicos e as novas barragens previstas no PNBEPH acrescentarão mais de mil hectómetros cúbicos
(Quadros I e II).

Quadro I. Capacidade de armazena- Quadro II. Capacidade de armazenamento das albufeiras previstas
mento de água nas albufeiras, por no PNBEPH – Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial
bacia hidrográfica, em 2006 Hidroelétrico
Capacidade Área da bacia Capacidade
Bacia Bacia
de armazenamento Aproveitamento hidrográfica da albufeira
hidrográfica hidrográfica
total (hm3) (km2) (hm3)
Minho 0,2 Foz Tua Douro 3822 310
Lima 400 Padroselos Douro 315 147
Cávado 1180 Alto Tâmega (Vidago) Douro 1557 96
Ave 100 Daivões Douro 1984 66
Douro 1078 Fridão Douro 2630 195
Vouga 1 Gouvães Douro 100 13
Mondego 540 Pinhosão Vouga 401 68
Rib. Oeste 1 Girabolhos Mondego 980 143
Tejo 2750 Almourol Tejo 67 323 20
Sado 771 Alvito Tejo 968 209
Mira 486 Total 1266
Guadiana 4610 Fonte: PNBEPH, MAOTDR, 2009
Rib. Algarve 63
Total 11 980,2
Fonte: PNA e INAG, 2007

A construção de grandes barragens onde as disponibilidades hídricas são menores, como é o caso do
Alentejo, torna-se um fator de mudança importantíssimo, principalmente para o espaço rural. A maior
disponibilidade de água, sobretudo se do empreendimento, além da barragem, fizer parte a implantação
de perímetros e sistemas de rega, aumenta muito o potencial agrícola da região, nomeadamente no que
respeita à área agrícola de regadio, à diversidade de culturas, à qualidade e quantidade da produção e,
consequentemente, ao rendimento dos agricultores. Pode também contribuir para a prática de ativida-
des de turismo e lazer, com a consequente dinâmica económica e social que vai contribuir para o desen-
volvimento da região.
As barragens permitem também um outro tipo de gestão da água os transvases – transferência de reservas
hídricas entre diferentes bacias hidrográficas. Assim, é possível fazer uma redistribuição espacial da água. A
opção pelos transvases é sempre polémica, pois poderá ter implicações negativas como, por exemplo, a
redução do escoamento a jusante do transvase e as perdas de água devido à maior evaporação e infil-
tração, se o transporte não se efetuar por condutas fechadas.
TRATAR E PRESERVAR OS RECURSOS HÍDRICOS
Para garantir o abastecimento e a qualidade da água é necessário que esta não seja considerada como
um bem inesgotável. Por isso, é fundamental que a água seja tratada antes de devolvida à Natureza, para
não colocar em risco a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos disponíveis.
As redes de drenagem e de tratamento das %
100
águas residuais são infraestruturas funda- META 2013 90%

mentais para cumprir os objetivos de prote- 80 80 80 81 80 81


77 78
73 72 71 71 74
ção dos meios hídricos. 68 70
60 64 66
62 61
58
O alargamento destas redes tem vindo a efe-
40 42
tuar-se progressivamente, verificando-se que,
31
em 2009, cerca de 81% da população residen- 20
te era servida pela rede de drenagem e 71% s.d.
0
pela rede de tratamento de águas residuais, 1990 1994 1998 2002 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
subsistindo, no entanto, diferenças regionais População servida com drenagem População servida com tratamento

significativas (Figs. 1, 2 e 3). Fonte: ERSAR, 2012


FIG. 1 Evolução da população servida por redes de drenagem e de trata-
mento de águas residuais, em Portugal (1990 a 2011).

N N

ântico
ântico

tl
tl

Oceano A
Oceano A

0 20 km 0 20 km

0 20 km 0 20 km

Índice de
Índice de drenagem
drenagem Índice de
Índice de tratamento
tratamento
estimado
estimado ((%)
%) estimado
estimado (%)
(%)
0 0
1-50
1- 50 1-50
1- 50
51-75
5 1-75 51-75
5 1-75
776-89
6- 8 9 0 50 km 776-89
6- 8 9 0 50 km
≥ 90 ≥ 90
SS// d
dados
ado s SS// d
dados
ados
Região
Regg iã o Região
Regg iã o
hidrográfica
h idrog ráf ica hidrográfica
h idrog ráf ic a
FFonte:
onte: INS
INSAAR,
AAR, 2013 FFonte:
onte: INSAAR,
INS AAR, 2013
FIG. 2 População servida por sistemas de drenagem de águas resi- FIG. 3 População servida por sistemas de tratamento de águas resi-
duais, em Portugal (2010). duais, em Portugal (2010).

Além do alargamento das redes de drenagem e tratamento de águas residuais, outras medidas podem
contribuir para a preservação dos recursos hídricos:
• regulamentação, fiscalização e criminalização do lançamento de efluentes poluidores nos cursos
de águas;
• melhoramento das práticas agrícolas de modo a privilegiar as mais amigas do ambiente;
• criação de incentivos às empresas para a reconversão da tecnologia, de forma a torná-la mais eco-
lógica, e para implementação de medidas inovadoras na área da preservação ambiental;
• aplicação do princípio «poluidor-pagador», com coimas progressivas, segundo a gravidade dos danos;
• dinamização de campanhas de educação ambiental para a população em geral.
PLANEAMENTO E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

PLANOS E DOCUMENTOS ORIENTADORES


A correta gestão dos recursos hídricos é indispensável
para que a sua utilização se faça de forma sustentá- DOC. 1 OBJETIVOS DA LEI DA ÁGUA
vel, com equilíbrio entre o desenvolvimento económico
Artigo 1.o
e a preservação ambiental. Objetivos
Em Portugal, na sequência e por exigência da política 1 - A presente lei estabelece o enquadramento para
a gestão das águas superficiais, designadamente as
europeia para os recursos hídricos, tem-se desenvol-
águas interiores, de transição e costeiras, e das águas
vido um trabalho de inventariação, caracterização e subterrâneas, de forma a:
planeamento, de que resultaram vários documentos a) evitar a continuação da degradação e proteger e
orientadores: melhorar o estado dos ecossistemas aquáticos e
• Plano Nacional da Água (PNA); também dos ecossistemas terrestres e zonas
• Planos de Gestão de Região Hidrográfica (PGRH); húmidas diretamente dependentes dos ecossiste-
mas aquáticos, no que respeita às suas necessida-
• Planos de Gestão de Bacia Hidrográfica (PGBH);
des de água;
• Planos de Ordenamento das Albufeiras de Águas
b) promover uma utilização sustentável da água,
Públicas (POAAP); baseada numa proteção a longo prazo dos recur-
• Plano Estratégico de Abastecimento de Água e de sos hídricos disponíveis;
Saneamento de Águas Residuais (PEAASAR); c) obter uma proteção reforçada e um melhoramento
• Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água do ambiente aquático, nomeadamente através de
(PNUEA); medidas específicas para a redução gradual e a
cessação ou eliminação por fases das descargas,
• Planos de Ordenamento das Bacias Hidrográ-
das emissões e perdas de substâncias prioritárias;
ficas (POBH); d) assegurar a redução gradual da poluição das
• Lei da Água, que transpôs para a legislação águas subterrâneas e evitar o agravamento da
nacional a Diretiva Quadro da Água – normas sua poluição;
comunitárias relativas à utilização, conservação e) mitigar os efeitos das inundações e das secas;
e proteção dos recursos hídricos (Doc. 1). f) assegurar o fornecimento em quantidade sufi-
ciente de água de origem superficial e subterrânea
Estes documentos definem princípios, metas e normas de boa qualidade, conforme necessário para uma
da Política Nacional da Água, que tem por objetivos: utilização sustentável, equilibrada e equitativa da
• um melhor conhecimento das disponibilidades e água;
potencialidades hídricas; g) proteger as águas marinhas, incluindo as territo-
riais;
• uma melhor distribuição e utilização da água;
h) assegurar o cumprimento dos objetivos dos acor-
• uma mais eficaz proteção, conservação e requa- dos internacionais pertinentes, incluindo os que se
lificação dos recursos hídricos; destinam à prevenção e eliminação da poluição
• a definição de um quadro estável de relaciona- no ambiente marinho.
mento com Espanha face aos rios internacionais; 2 - A presente Lei da Água assegura a transposição
• uma gestão dos recursos hídricos em articula- da Diretiva n.º 2000/60/CE, do Parlamento Europeu e do
ção com os restantes setores de ordenamento Conselho, de 23 de outubro, que estabelece um quadro
de ação comunitária no domínio da política da água.
do território, nomeadamente o ambiente e a
De: «Lei n.o 58/2005», DR 249 SÉRIE I-A de 29/12/2005
ocupação humana das bacias hidrográficas.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Enunciar os principais documentos orientadores da Política Nacional da Água e seus principais objetivos.
¸ Explicar a importância da Lei da Água.
AUMENTAR A EFICIÊNCIA NO CONSUMO DA ÁGUA
Uma boa gestão dos recursos hídricos terá de definir medidas e ações
Eficiência da utilização da água:
que permitam reduzir os consumos, eliminando os desperdícios. É este relação entre o consumo útil e
o principal objetivo do Programa Nacional Para o Uso Eficiente da Água a procura efetiva, expressa em
percentagem.
(PNUEA), que identifica os principais desperdícios de água e aponta para
Consumo útil:
uma maior racionalização do seu consumo, de modo a aumentar a efi- consumo mínimo necessário
ciência da sua utilização. para garantir a eficácia da uti-
lização.
Procura efetiva:
volume efetivamente utili-
zado, geralmente superior ao
mínimo necessário.

Apesar dos progressos registados, em todos setores, há %


50
desperdícios de água, devido à utilização de tecnologia 2000
45
deficiente ou desadequada, que provoca perdas ou utiliza 2009
30
mais água do que a necessária e, ainda, por atitudes e 35
comportamentos que geram gastos de água desnecessá- 30
rios (Fig. 1). 25

As medidas propostas pelo PNUEA, visam racionalizar o 20

consumo de água, de modo a aumentar a eficiência da sua 15

utilização, reduzir os riscos da sua irregularidade e contri- 10

buir para a sua preservação. 5


0
Urbano Agrícola Industrial
Apontam também para metas de aumento de eficiência do
Fonte: PNUEA, APA, 2012
uso da água até 2020, prevendo reduzir a ineficiência até FIG. 1 Ineficiência no uso de água por setor, em Portugal
20% no setor urbano, 35% no agrícola e 15% no industrial. (2000 e 2009).

Poupar no consumo urbano Poupar no consumo industrial Poupar no consumo agrícola

¸ Utilizar máquinas de lavar ¸ Utilizar tecnologias mais efi- ¸ Efetuar o transporte da água
roupa/loiça com doseador de cientes que evitem a perda em condutas fechadas, pa-
água consoante a carga. de água durante o processo
¸ Criar hábitos pessoais que de produção. ra evitar a evaporação e infil-
evitem desperdícios. ¸ Reutilizar a água (por exem- tração.
¸ Usar autoclismos com menor plo, a água dos sistemas de ¸ Utilizar modernas técnicas
volume de água ou de dupla refrigeração pode ser usada de rega que forneçam às
descarga. para produzir eletricidade). plantas apenas a água ne-
¸ Manter os equipamentos em ¸ Tratar as águas residuais pa- cessária.
boas condições. ra serem reutilizadas no pro- ¸ Selecionar culturas bem ada-
¸ Reutilizar a água, depois de
cesso produtivo. ptadas às características cli-
máticas.
¸ Reutilizar a água tratada.
tratada, em autoclismos e na
rega de jardins.
VALORIZAR OS RECURSOS HÍDRICOS
Os recursos hídricos podem ainda ser valorizados através de muitas atividades relacionadas com a uti-
lização da água como meio de lazer e de criação de riqueza.

Em muitas áreas ribeirinhas existem condições propícias à prática de banhos, nata-


ção, navegação e pesca, estando algumas classificadas como praias fluviais por
Praias fluviais reunirem condições de segurança, terem equipamentos de apoio e controlo da qua-
lidade da água. As albufeiras de águas públicas são os locais mais procurados, exis-
tindo alguma legislação que regulamenta este tipo de atividades.

Em muitos rios pratica-se a navegação de lazer, destacando-se, no nosso país, o rio


Douro, onde foram realizadas obras que permitiram torná-lo navegável até à fron-
teira com Espanha, em Barca d’Alva.
Navegação
No Douro existem infraestruturas de apoio à navegação, como as barragens equipa-
de lazer
das com eclusas, que permitem transpor os desníveis do percurso, tornando possí-
vel uma oferta de turismo fluvial qualificada, valorizada ainda pela paisagem do Alto
Douro Vinhateiro, classificada como Património da Humanidade.

A utilização do domínio hídrico para a prática de atividades económicas e recreati-


vas associadas às espécies piscícolas é comum nas comunidades que vivem próxi-
mo de cursos de água, albufeiras e lagoas.
Culturas
biogenéticas A cultura biogenética – reprodução, engorda, crescimento ou melhoramento das
espécies aquícolas – é um exemplo comum em Portugal e está sujeita a licencia-
mento e ao cumprimento de normas que visam proteger o meio hídrico em que são
desenvolvidas.

A extração de areias é outra atividade económica associada aos meios fluviais. Só


Extração pode ser efetuada nos troços do rio onde é preciso desassorear o leito e onde a
de inertes extração de areias não coloque em risco o equilíbrio do leito fluvial.
Esta atividade é mais importante no rio Tejo e no rio Douro.

Em muitas cidades são aproveitadas as zonas ribeirinhas para espaços de recreio e


lazer, com jardins e espaços/equipamentos desportivos e para entretenimento das
Espaços crianças.
de recreio e lazer Estes espaços, além de proporcionarem melhor qualidade de vida da população,
podem contribuir para ligar afetivamente a população aos rios e, assim, mais facil-
mente se desenvolver uma cultura ambiental de respeito pelos recursos hídricos.

VERIFIQUE SE SABE
¸ Enunciar o principal objetivo da Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA).
¸ Comparar a situação atual com a prevista no PNUEA, relativamente aos diferentes setores da sua utilização.
¸ Apontar formas de aumentar a eficiência da utilização da água para cada um dos setores.
¸ Referir atividades que podem valorizar os recursos hídricos, como meios de lazer e de criação de riqueza.
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Existem muitos rios cujo percurso se estende por mais de um Estado, o que obriga a que os países que
partilham as suas águas se entendam e definam formas de cooperação, de modo a garantir a partilha e
a gestão da água desses rios sem conflitos. Este facto levou à definição, a nível internacional, de princí-
pios e normas sobre a utilização da água dos rios internacionais.
No caso da península Ibérica, em que Portugal e Espanha
partilham as bacias hidrográficas de vários rios, foi assi- DOC. 1 CONVENÇÃO DE ALBUFEIRA
nada, em 1998, a Convenção sobre Cooperação para
Artigo 2.o
Proteção e o Aproveitamento Sustentável das Águas das
Objeto
Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, frequentemente
designada como Convenção de Albufeira, por referência 1 – O objeto da presente Convenção é definir o
quadro de cooperação entre as Partes para a prote-
à cidade onde foi assinada (Doc. 1).
ção das águas superficiais e subterrâneas e dos
Para Portugal, a regulamentação e o cumprimento das ecossistemas aquáticos e terrestres deles direta-
normas comunitárias relativamente à partilha de bacias mente dependentes, e para o aproveitamento sus-
tentável dos recursos hídricos das bacias hidrográ-
hidrográficas internacionais e dos acordos estabelecidos
ficas discriminadas no n.o 1 do artigo 3.o
na Convenção de Albufeira assume maior importância, 2 – Na prossecução desta cooperação, as
uma vez que é ao território português que afluem as águas Partes observam as normas da presente Convenção
vindas de Espanha, podendo ocorrer problemas como: e os princípios e as normas de direito internacional
• a redução dos caudais em tempo de seca, pois a e comunitário aplicáveis.
capacidade de armazenamento das albufeiras Artigo 3.o
espanholas é considerável; Âmbito de aplicação
• a poluição das águas espanholas que vem refletir- 1 – A Convenção aplica-se às bacias hidrográ-
-se em Portugal; ficas dos rios Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana.
• a construção de novas barragens ou de transvases 2 – A Convenção aplica-se às atividades desti-
em Espanha, o que pode reduzir os caudais; nadas à promoção e proteção do bom estado das
• o agravamento de situações de cheias, quando as águas destas bacias hidrográficas e às atividades
de aproveitamento dos recursos hídricos, em curso
barragens espanholas fazem descargas volumosas.
ou projetadas, em especial as que causem ou
Embora a Convenção Luso-Espanhola tenha como obje- sejam suscetíveis de causar impactes transfrontei-
tivos prevenir problemas como os enunciados, obri- riços.
gando os dois países ao respeito e à cooperação, sur- De: Convenção sobre Cooperação para a Proteção e o
Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas
gem, por vezes, situações problemáticas, apesar de exis- Luso-Espanholas, 1998
tir um enquadramento legal que ajuda à sua resolução
(Doc. 2).

DOC. 2 APESAR DA CONVENÇÃO DE ALBUFEIRA…

O Movimento ProTejo pediu ao Governo que peça esclarecimentos a Espanha sobre a autorização dada a novos transvases
do Tejo para a bacia do Segura, sublinhando que estes põem em causa o caudal do rio no lado português. O Governo, porém,
garante que os espanhóis estão a cumprir os mínimos exigidos.
No entanto, no comunicado assinado pelo porta-voz do movimento ProTejo, lê-se que «os transvases diminuem as reservas
da cabeceira do Tejo, deixando ao troço médio do Tejo em Espanha apenas as águas residuais mal depuradas de Madrid, acres-
cendo as potenciais dificuldades de cumprimento dos caudais mínimos estabelecidos na Convenção de Albufeira.»
Em resposta, o Governo sublinha que Portugal «acompanha regularmente a evolução e o cumprimento do regime de cau-
dais» estabelecido na convenção.
Adaptado de Público, 15/02/2013

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