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A ÁGUA NA TERRA
Mais de dois terços da superfície terrestre encontram-se cobertos de água e, desta, cerca de 97% é
água salgada. Da água doce, aproximadamente 2% encontra-se nas calotes polares e glaciares e a res-
tante nos rios, lagos e reservas subterrâneas. Ou seja, a água disponível para utilização humana corres-
ponde a menos de 1% da água presente no nosso Planeta. A água circula continuamente na Natureza,
passando pelos diferentes estados físicos – sólido, líquido e gasoso (Fig. 1).
oração
20)
Evapotranspiração:
evaporação das águas su-
perficiais, da água do solo e
da água libertada pela res-
piração e pela transpiração
dos seres vivos
Infiltração
Escoamento subterrâneo
Escoamento superficial (40)
Unidade: 100 km3
Fonte: Physical Geography, A. Strahler e A. Strahler, 1996
FIG. 1 O ciclo hidrológico.
Pela ação da energia solar, a água dos oceanos, mares, rios e lagos evapora-se e passa para a atmosfera
sob a forma gasosa – vapor de água. Este, por arrefecimento do ar, condensa, formando nuvens e precipi-
tação. A água regressa aos oceanos e continentes, muitas vezes em locais bem distantes daqueles em que
foi evaporada. Isto deve-se à constante circulação do ar, graças à qual apenas 75% da água que se evapora
dos oceanos volta a precipitar-se sobre eles. Da água que cai sobre os continentes, uma parte escorre à
superfície e outra infiltra-se no solo, acabando por chegar de novo ao mar. A água utilizada pelas plantas e
pelos animais volta à atmosfera através da respiração e da transpiração. Assim, o ciclo hidrológico repete-
-se continuamente, mantendo-se mais ou menos constante a quantidade de água no nosso Planeta.
O ciclo hidrológico exerce também uma ação purificadora, pois as substâncias diluídas na água (sais
minerais, bactérias e toxinas) são depuradas pelos processos de passagem da água de um estado físico
a outro. Desta forma, apesar de constantemente utilizada pelos seres vivos e em especial pela popula-
ção do Planeta, a água é um recurso renovável.
A população utiliza a água na maioria das atividades económicas, de que se destacam:
• a agricultura, que utiliza a água sobretudo para irrigação das culturas;
• a indústria, que utiliza a água como matéria-prima e nos sistemas de limpeza e de refrigeração;
• a produção de energia e a construção civil e obras públicas;
• as atividades de turismo e lazer;
• os transportes aquáticos, que utilizam a água dos rios e dos mares como vias de comunicação.
O CLIMA EM PORTUGAL
OS PRINCIPAIS FATORES
A localização geográfica de Portugal, nas latitudes intermédias da Zona Temperada do Norte, coloca-o
sob a influência das dinâmicas de circulação atmosférica que ocorrem a estas latitudes.
Um dos aspetos a realçar é a deslocação latitudinal das massas de ar e dos principais centros de pres-
são atmosférica que, devido à variação anual da temperatura, motivada pelo movimento de translação
da Terra, no inverno, se deslocam mais para norte e, no verão, mais para sul. Por isso, ao considerar os
fatores climáticos globais que influenciam o clima português, temos de ter em conta essas duas épocas
do ano. Assim, em Portugal, o clima é influenciado:
• no inverno, pelas baixas pressões subpolares, pelas mas-
sas de ar frio polar e pelos anticiclones de origem térmica
formados sobre o continente europeu;
• no verão, pelas altas pressões subtropicais (principalmen-
te o anticiclone dos Açores), pelas massas de ar quente
tropical e pelas depressões barométricas que se formam
sobre o continente europeu; Ar frio
Ar quente
• nas estações intermédias, dá-se a transição das situações
características do inverno para o verão e vice-versa;
FIG. 1 Superfície frontal e frente.
• durante todo o ano, faz-se sentir ainda a influência dos
ventos de oeste.
A FORMAÇÃO DE FRENTES
Quando se encontram duas massas de ar de características
Superfície frontal fria
diferentes e com sentidos de deslocação opostos e convergen-
tes, forma-se uma superfície frontal – área de contacto entre
duas massas de ar. À interseção da superfície frontal com a Ar frio
superfície terrestre chama-se frente, termo que também Ar quente
VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicar a importância da água para a vida na Terra e para a vida humana.
¸ Descrever o ciclo hidrológico e explicar a sua importância na renovação da água.
¸ Indicar os principais fatores que influenciam o clima português.
¸ Distinguir uma frente fria de uma frente quente.
AS PERTURBAÇÕES FRONTAIS E SUA INFLUÊNCIA NO ESTADO DO TEMPO
A formação de frentes acontece frequentemente nas latitudes médias dos dois hemisférios, onde a con-
vergência das massas de ar quente tropical com as de ar frio polar dá origem à formação da frente polar,
cujas perturbações são responsáveis por muitas situações de mau tempo sentidas nessas latitudes.
Por vezes, uma frente quente associa-se a uma frente fria, formando-se entre elas uma depressão
barométrica. Quando isto acontece, estamos em presença de uma perturbação frontal (Fig. 1).
A B
B
Ar frio
990
posterior 1000
A B
Ar frio 1010
Ar quente anterior 1020 Ar quente
1030
1040
Frente
Frente
t ffria
ria
i Frente
Frente
t quente
quente
t
Vento Frente fria Frente quente
FIG. 1 Uma perturbação frontal: plano vertical (A) e plano horizontal (B).
À medida que a perturbação frontal evolui, o estado do tempo sofre alterações, embora predomine o
mau tempo:
• na passagem da frente quente, o estado do tempo caracteriza-se por céu muito nublado e chuva
contínua e de fraca intensidade, porque o ar quente sobe lentamente, e vento moderado;
• na passagem do setor central, dá-se uma ligeira melhoria do estado do tempo: céu pouco nublado
e curtos períodos de chuva fraca e vento moderado;
• com a passagem da frente fria, o estado do tempo agrava-se: céu muito nublado (nuvens de desenvol-
vimento vertical) e chuvas intensas, pois a subida do ar quente é mais rápida e violenta, e vento forte.
Numa perturbação frontal, embora as duas frentes avancem no mesmo
Frente oclusa:
sentido, a frente fria progride mais depressa do que a quente, porque o frente resultante da junção da
ar frio introduz-se por baixo do ar quente e obriga-o a subir mais rapida- frente fria de uma perturbação
frontal com a frente quente.
mente. Assim, a frente fria aproxima-se cada vez mais da quente e,
quando a alcança, o ar frio posterior junta-se ao ar frio anterior, obrigan-
do todo o ar quente a subir. A superfície frontal entra, então, em oclusão
e, gradualmente, extingue-se – frente oclusa (Fig. 2).
PRECIPITAÇÕES FRONTAIS
A ascensão do ar quente numa superfície frontal origina precipitações frontais:
• numa frente fria, a superfície frontal tem maior declive, pois o ar frio, ao introduzir-se por baixo do
ar quente, provoca a sua ascensão de forma rápida e violenta, o que dá origem a nuvens de grande
desenvolvimento vertical, que levam à ocorrência de precipitações intensas, tipo aguaceiro;
• numa frente quente, a superfície frontal tem menor declive, pois o ar quente desliza sobre o frio,
subindo mais lentamente, o que dá origem a nuvens de desenvolvimento horizontal, que levam à
ocorrência de precipitações menos intensas, mas contínuas e de maior duração.
Como o norte de Portugal Continental, sobretudo o noroeste, sofre grande influência das perturbações
da frente polar, nessa região as chuvas frontais são frequentes, principalmente no inverno.
PRECIPITAÇÕES CONVECTIVAS
Quando existe um intenso aquecimento da
superfície da Terra, o ar em contacto com a su-
perfície aquece e sobe formando-se baixas pres-
sões de origem térmica. A rápida convergência e
subida do ar dá origem a nuvens de grande de-
senvolvimento vertical e a precipitações convec-
tivas – intensas e de curta duração, por vezes
acompanhadas de trovoada (Fig. 1). Supe íc
Su í em
mu t
As precipitações convectivas ocorrem, sobre- q e d
PRECIPITAÇÕES OROGRÁFICAS
As precipitações orográficas devem-se à ação do relevo. As vertentes provocam a ascensão do ar, que arrefece,
desencadeando a condensação do vapor de água, a formação de nuvens e de precipitação (Fig. 2).
Este processo é frequente nas vertentes expostas a
ventos húmidos. Nas vertentes opostas, o ar desce e Altitude (m)
3000
aquece, pelo que a precipitação é muito menor. Ar seco
As precipitações orográficas são mais frequen- Ar húmido
tes em todas as áreas montanhosas expostas a 2000
NO INVERNO
No inverno, as temperaturas médias, quer diárias quer mensais, são relativamente baixas, pois nesta época
do ano o aquecimento é menor.
A figura 1 representa a situação meteorológica mais frequente no inverno: uma depressão barométrica
associada a uma perturbação da frente polar, localizada bastante a sul, afetando sobretudo o norte de
Portugal.
985
995
1000
Com a passagem da frente quente, pode prever-se a 10 40 20 10 0 1000 10
990
30 5
05
1010 B 10 0
50 1010
ocorrência de precipitação contínua e de longa dura- 1015
1020
ção e de vento fraco ou moderado, em todo o país, mas 1025 1015
da massa de ar frio. 30
1015
Outra situação meteorológica característica do in- FIG. 1 Situação meteorológica mais frequente no inverno.
verno, mas menos frequente, deve-se à formação de
anticiclones sobre o continente ou sobre a península
40 30 20 10 0 1 01 0
10
Ibérica, devido ao grande arrefecimento do ar em 1 0 00
50 005
1
contacto com o solo muito frio. 1010 1015 5
10 2
1015
1010
A carta sinótica da figura 2 permite-nos verificar que
1020
o anticiclone, bastante deslocado para sul, forma B
40 1030
uma barreira à influência das perturbações da frente
polar e afeta todo o território do Continente. Assim, é
A
previsível céu limpo e a descida das temperaturas,
pelo que poderá formar-se geada durante a noite,
sobretudo, no interior do país. 30
VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicar a irregularidade intra e interanual da precipitação, em Portugal.
¸ Caracterizar as duas situações meteorológicas mais frequentes no inverno português.
NO VERÃO
No verão, as temperaturas médias, quer diárias quer mensais, são quase sempre altas, devido à menor
obliquidade com que os raios solares incidem sobre a superfície e à maior duração dos dias, nesta época
do ano. Além disso, o território português também recebe a influência das massas de ar quente tropical.
A precipitação é fraca, pois a influência das perturbações da frente polar e das depressões subpolares
raramente se faz sentir, uma vez que se encontram deslocadas mais para norte. Pelo contrário, aumenta
a influência das altas pressões subtropicais, também elas localizadas mais a norte. Destaca-se o antici-
clone dos Açores que, nesta época do ano, se posiciona a norte ou nordeste desse arquipélago e que
estende a sua influência a todo o território português, atingindo também grande parte da Europa
Ocidental.
1010
0
1005
Na figura 1 observa-se a situação meteoro-
10
1015
102
101
40 30 20 10 0 10
00
20
B
10
50
lógica mais frequente no verão: a influência 9 95
B
do anticiclone dos Açores impede o avanço
da depressão barométrica situada sobre a
1025
Europa Central, prevendo-se bom tempo
para todo o território nacional – céu limpo 40
1020
ou pouco nublado, vento fraco e tempera- A
0
turas elevadas. 101
aquecimento da superfície. 40 30 20 10 0 10
B
50
Na carta sinótica da figura 2 verifica-se que
Portugal está sob a influência de uma 1020
depressão barométrica de origem térmica,
prevendo-se a ocorrência de precipitação,
40
com probabilidade de trovoadas estivais.
1010
A influência destas depressões faz-se sen- B
A 1015
tir, sobretudo, no interior de Portugal Con-
tinental.
30
NO CONTINENTE
VERIFIQUE SE SABE
¸ Caracterizar as duas situações meteorológicas mais frequentes no verão português.
¸ Caracterizar as situações meteorológicas mais frequentes nas estações intermédias.
¸ Identificar os principais domínios climáticos que podem ser considerados em Portugal Continental.
¸ Enunciar as principais características desses domínios climáticos e indicar os respetivos fatores (já anteriormente
estudados).
As características térmicas e pluviométricas dos diferentes domínios climáticos de Portugal
Continental podem representar-se em gráficos termopluviométricos (Fig. 1).
30 60 30 60 30 60
20 40 20 40 20 40
10 20 10 20 10 20
0 0 0 0 0 0
JF MAMJ J A S OND JF MAMJJ A S OND JF MAMJJ AS OND
Faro P (mm) Lisboa P (mm) Beja P (mm)
260 260 260
Lisboa 240 240 240
220 220 220
200 200 200
180 180 180
160 160 160
Beja
140 140 140
120 120 120
100 100 100
80 80 80
30 60 30 60 30 60
Faro 20 40 20 40 20 40
10 20 10 20 10 20
50 km
0 0 0 0 0 0
0
JF MAMJ J A S OND JF MAMJJ A S OND JF MAMJJ AS OND
FIG. 1 Gráficos termopluviométricos representativos dos domínios climáticos de Portugal Continental.
N
Santa Cruz
Santana Porto das Flores
Santo
Funchal Porto Santo P (mm)
80 Ponta Delgada
Santana P (mm) 30 60
260 20 40 Santa Cruz Oceano Atlântico
240 10 20 das Flores
220
P (mm)
0 0 200
200 J F M A M JJ A S O N D
180 Ponta Delgada P (mm)
180 Funchal P (mm) 160 160
160 160
140 140
140 140
120 120 120
120
100 100 100
100
80 80 80
80
30 60 30 60 30 60
30 60
40 40 20 40 20 40
20 20
10 10 20 10 20 10 20
20
0 0 0 0 0 0 0 0
JF MAMJ JAS ON D J F MA M J J ASO ND JF MAMJ JA SON D JF MA M J JA S O ND
FIG. 2 Gráficos termopluviométricos representativos do clima FIG. 3 Gráficos termopluviométricos representativos do clima
da Madeira. dos Açores.
Na Madeira, situada a uma latitude mais baixa, o Nos Açores, a maior influência do oceano permite
clima é mediterrânico, mas com significativa dife- que o clima do arquipélago apresente tempera-
renciação. turas médias amenas ao longo de todo o ano,
A vertente norte da ilha da Madeira tem a preci- com uma amplitude da variação térmica anual
pitação mais elevada. A vertente sul, mais abri- moderada ou fraca e precipitação abundante,
gada, é mais quente e seca. sobretudo no outono e no inverno. No verão, a
estação seca nunca é superior a dois meses.
O Porto Santo tem temperaturas mais elevadas,
precipitações mais fracas e uma estação seca
mais prolongada.
AS DISPONIBILIDADES HÍDRICAS EM PORTUGAL
Hungria
Países Baixos
Bélgica
Alemanha
Polónia
Rep. Checa
Rep. Eslovaca
Grécia
Luxemburgo
Dinamarca
Reino Unido
Itália Água gerada no país
Espanha
Escoamento fluvial proveniente de outros países
França
Portugal
Turquia
Nota:
Suíça
A escala horizontal é logarítmica pelo que cada
Áustria subdivisão representa uma decuplicação dos
Irlanda recursos hídricos!
Suécia
Finlândia
Noruega
Islândia
100 1000 10 000 100 000 1000 000
Recursos hídricos (m3 per capita por ano)
Fonte: Agência Europeia do Ambiente, 2009
FIG. 1 Disponibilidade de água doce em alguns países europeus e na Turquia.
Apesar de Portugal ter uma certa abundância de recursos hídricos, a maioria dos quais gerados em ter-
ritório nacional, a irregularidade da precipitação, tanto no que respeita ao volume total anual como no
que se refere à sua distribuição ao longo do ano, dificulta bastante a sua gestão. Este problema ganha
maior significado se pensarmos que as maiores necessidades de consumo se verificam na época de
menor disponibilidade hídrica – o verão.
Devido a esta irregularidade, no nosso país tanto podem ocorrer períodos de seca mais ou menos pro-
longados, como verificar-se períodos de chuva tão intensa que origina cheias, com graves consequên-
cias para a população.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Relacionar a disponibilidade dos recursos hídricos com o regime de precipitações representado na página anterior,
para Portugal Continental e para as regiões autónomas.
AS ÁGUAS SUPERFICIAIS
As águas superficiais, que se encontram nos continentes, em rios, lagos, lagoas e albufeiras, consti-
tuem importantes recursos hídricos, os mais acessíveis e os que proporcionam maior variedade de
utilizações. Porém, as águas superficiais são também mais vulneráveis aos efeitos negativos da sua uti-
lização e da ocupação humana das regiões em que se inserem.
A REDE HIDROGRÁFICA
Em Portugal, a rede hidrográfica é relativamente densa, sobretudo N Minho
tlântico
que nascem em território nacional, destacam-se o Mondego e o Vouga
o
deg
Sado (Quadro I). Mon
Oceano A
Lis
Quadro I. Os maiores rios portugueses
jo
Te
Bacia
Local Percurso
Designação Local da foz hidrográfica
na
ia
de origem km
km2
ad
Gu
Sad
o
Douro Serra de Urbião (ES) Porto 97 713 927
Tejo Serra de Albarracin (ES) Lisboa 81 000 1 100
Vila Real de Mir
Guadiana Lagoa da Ruidera (ES) 67 000 810 a
Sto. António
Minho Serra de Meira (ES) Caminha 17 080 300
0 50 km
Mondego Serra da Estrela Figueira da Foz 6 659 253
Fonte: INAG, 2006
Fonte: Portugal em Números 2011, INE, 2013 FIG. 1 Rede hidrográfica em Portugal Conti-
nental.
o
lântico
Lima
e
1172 Douro
ân
err
maioria das quais em território Ave/Leça Douro
lântico
dit
1520 18570
Oceano At
Me
nacional. As mais extensas, Tejo, Tejo
r
Ma
Oceano At
Vouga
Douro e Guadiana, são luso- 2334 Mondego Guadiana
6658 As superfícies das bacias
-espanholas, o que nos coloca hidrográficas luso-espanholas
Lis correspondem a 64% do
numa posição de certa depen- 837 território português e a 42%
do território espanhol.
dência face às disponibilidades Rib. do Oeste
1655 Tejo
hídricas nessas bacias hidro- 26460
gráficas (Fig. 1).
Nas regiões autónomas, os cursos Sado
6271
de água, por serem de pequena
Guadiana
extensão, são denominados por Mira 11 300
1025
ribeiras e escoam em vales 814 - área da bacia
Rib. do Algarve hidrográfica (km2)
estreitos e profundos, com fortes 1683
Limites da bacia
0 50 km hidrográfica FIG. 1 Principais bacias hidrográficas
declives. As respetivas bacias
Fonte: INAG, MCOTA, 2013 portuguesas e luso-espanholas
hidrográficas são também de
reduzida dimensão (Quadro I).
Como se deduz do Quadro I e como consequência das diferenças já referidas sobre os rios portugueses,
também a nível do caudal médio, no Continente, se evidencia um contraste norte-sul.
Norte Sul
Nas regiões autónomas, os caudais das ribeiras, no inverno, atingem frequentemente volumes elevados,
secando muitas delas no verão. Nos Açores, a irregularidade dos caudais é menos acentuada, devido à
menor variabilidade da precipitação.
A ação humana pode influenciar o regime fluvial, como acontece com a construção de barragens, que
contribuem para regularizar o caudal dos rios:
• na época de maior precipitação, retêm a água nas albufeiras, evitando muitas cheias;
• na época estival, mantêm um escoamento mínimo, impedindo que os cursos de água sequem.
A influência da ação humana nas bacias hidrográficas pode ser negativa, quando provoca:
• a obstrução de linhas de água;
• a ocupação de leitos de cheia;
• a impermeabilização dos solos, que impede a infiltração da água e aumenta a escorrência superficial;
• a desflorestação, que contribui para o assoreamento dos rios, porque deixa os solos desprotegidos
e favorece o arrastamento de terras para os cursos de água.
LAGOS, LAGOAS E ALBUFEIRAS
Os lagos e lagoas (a designação depende da dimensão – os lagos são maiores e as lagoas menores)
constituem também importantes reservatórios de água doce, embora, em alguns casos, a água seja
salobra. Por exemplo, nos Açores, grande parte da água para consumo é captada em lagoas.
Em Portugal Continental, tendo em conta o processo de formação, podemos considerar três tipos de
lagoas.
Nos Açores, existem numerosas lagoas de origem vulcânica, em depressões resultantes do abatimento
de antigas crateras. As mais conhecidas são as maiores de S. Miguel (Sete Cidades, Furnas e Fogo), mas
também se encontram lagoas noutras ilhas, como, por exemplo, nas Flores e no Corvo.
As albufeiras são reservatórios construídos para a acumulação de água que se destinam ao abasteci-
mento da população e das atividades económicas, mesmo em épocas de seca.
Em Portugal Continental, a distribuição geográfica do relevo e as características da rede hidrográfica
explicam a existência de maior número de barragens nas regiões norte e centro que, além da função de
armazenamento de água, dispõem, na sua grande maioria, de centrais de produção de eletricidade.
No sul, as albufeiras têm contribuído sobretudo para melhorar a gestão da água, nomeadamente no que
se refere às reservas para usos doméstico e agrícola, embora também existam importantes centrais de
produção de eletricidade, como é o caso da barragem do Alqueva. No Algarve, com uma rede hidrográfica
pouco extensa e constituída sobretudo por ribeiras, as albufeiras têm apenas a função de armazena-
mento de água para a agricultura e para o abastecimento das populações.
Dada a necessidade de aumentar a produção de energia a partir de fontes renováveis, o Programa Nacional
de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH) prevê a construção de novas barragens e tem
como meta atingir uma capacidade hidroelétrica instalada, a nível nacional, superior a 7000 MW, em 2020.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Explicar a variação intra-anual do caudal dos rios portugueses.
¸ Descrever as diferenças entre o caudal médio dos rios do norte e do sul do país, relacionando-as com a variação espa-
cial da precipitação e do escoamento médio anual.
¸ Explicar a contribuição das barragens para a regularização dos caudais dos rios.
¸ Enunciar as principais lagoas portuguesas, de acordo com a sua origem.
¸ Indicar as funções que as albufeiras têm no nosso país.
AS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
OS AQUÍFEROS
A precipitação é a principal fonte de abastecimento das águas subterrâ-
Toalhas freáticas:
neas – toalhas freáticas e aquíferos. lençóis de água subterrânea
que circulam ou se acumulam
A formação de aquíferos, bem como as suas características, dependem em aquíferos.
da maior ou menor permeabilidade das rochas: Aquíferos:
• as formações rochosas de xisto, granito e basalto são pouco per- formações geológicas per-
meáveis, cujo limite inferior e,
meáveis, não favorecendo a formação de aquíferos importantes; por vezes, também o superior,
• as formações rochosas sedimentares de natureza calcária têm cal- é constituído por rochas im-
permeáveis.
cite na sua composição. Esta dissolve-se na água, o que provoca a Toalha cársica:
abertura de fendas e fissuras por onde a água se infiltra, originando toalha freática em áreas de
formações geológicas de na-
um sistema de escoamento subterrâneo – toalha cársica; tureza calcária.
• as formações rochosas como os arenitos e as areias – rochas sedi- Produtividade aquífera:
mentares de origem detrítica – são bastante permeáveis, facilitando quantidade de água que é
possível extrair continua-
a infiltração da água e a formação de aquíferos importantes. mente de um aquífero, em
condições normais, sem afe-
Devido à sua maior permeabilidade, os aquíferos das formações rocho- tar a reserva e a qualidade da
sas de origem sedimentar têm maior produtividade aquífera, pelo que água.
Hespérico
éi
al
ent
Ocid
t
Oceano A
Orla
Orla Meridional
Granitos e outras
rochas plutónicas Bacias do Tejo e Sado: predomínio de rochas sedi-
Xistos mentares de natureza detrítica de grande per-
Rochas sedimen- meabilidade.
tares detríticas
Rochas calcárias
e margas 0 50 km
Basalto
Outras rochas
FIG. 1 Unidades hidrogeológicas (A) e produtividade aquífera (B), em
vulcânicas Portugal Continental.
DOC. 1 DIFERENTES ORIGENS Água captada (m3) por localização geográfica e origem do caudal,
% em Portugal Continental (2009)
As origens de água superficial continuam a ser 100
Pinhal Litoral
Península de Setúbal
Alentejo Litoral
Alentejo Central
Minho-Lima
Tâmega
Entre Douro e Vouga
Baixo Vouga
Serra da Estrela
Cova da Beira
Grande Lisboa
Ave
Oeste
Algarve
Cávado
Grande Porto
Douro
Alto Trás-os-Montes
Baixo Mondego
Dão-Lafões
Médio Tejo
Lezíria do Tejo
Alto Alentejo
Baixo Alentejo
é de origem superficial.
Adaptado de Relatório Anual dos Serviços de Águas e
Resíduos em Portugal – 2013, Vol. 4, Entidade Reguladora
dos Serviços de Águas e Resíduos, 2013
Subterrânea
Superficial Fonte: Estatística do Ambiente – 2012, INE, 2014
As reservas de águas subterrâneas apresentam algumas vantagens: não há perda de água por evapora-
ção; não se verifica deposição de sedimentos e não têm custos de manutenção. No entanto, é funda-
mental que seja garantida a preservação das reservas, em quantidade e em qualidade. Essa conserva-
ção depende das recargas naturais – água infiltrada que, escoando verticalmente, atinge a superfície
freática – mas também da intensidade da exploração e dos cuidados na sua preservação. Ou seja, a cap-
tação de águas subterrâneas deve ser inferior à produtividade dos aquíferos, de modo a evitar a sua
sobreexploração. Se os aquíferos são explorados acima da sua capacidade de renovação, existem riscos
de deterioração, em muitos casos irreversível.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Relacionar a formação de aquíferos com as características das formações rochosas.
¸ Explicar a localização das áreas de maior produtividade aquífera em Portugal Continental.
¸ Enunciar as principais utilizações das águas subterrâneas.
A GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
A sua composição e os seus efeitos são, no essencial, semelhantes aos dos efluen-
tes domésticos, mas uma exploração pecuária pode produzir uma quantidade de
Efluentes de
resíduos equivalente à de povoações de média dimensão. Em Portugal ainda há ins-
origem pecuária
talações com deficiências no controlo dos resíduos e casos de incumprimento da
legislação, que proíbe o seu lançamento nos meios hídricos sem tratamento.
OUTROS PROBLEMAS
ântico
tl
%
Oceano A
100 97 97 97
92 94
91 91
85 87
82
80
80
60
40
R.A. Aç
Açores % de
20 população
<90,0
R.A. M
Madeira 90,0 - 94,0
0 94,1 - 98,0
1990 1994 1998 2002 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
>98,0
Fonte: Rel. Anual do Setor de Águas e Resíduos em Portugal – 2012, ERSAR, 2014 0 50 km
FFonte:
onte: INE, 2014
FIG. 1 Evolução da população servida por abastecimento de água em
FIG. 2 População com abastecimento de água
Portugal.
pela rede pública, por NUTS III ( 2012).
VERIFIQUE SE SABE
¸ Enunciar as principais fontes de poluição dos meios hídricos, de acordo com as suas origens.
¸ Explicar os processos de eutrofização e de salinização e seus efeitos nas reservas de água doce.
¸ Indicar as consequências da desflorestação para os cursos de água.
SISTEMAS DE ABASTECIMENTO E CONTROLO DA QUALIDADE DA ÁGUA
São numerosas e diversificadas as entidades gestoras dos
N
serviços de abastecimento de água, com diferentes
modelos de gestão e organização administrativa distintos,
o que põe em causa a eficiência e sustentabilidade finan-
ntico
ceira dessas empresas, o cumprimento dos normativos
o Atlâ
legais, a qualidade do serviço prestado, além de gerar
Ocean
grandes desigualdades nos preços ao consumidor.
O Plano Estratégico de Abastecimento de Águas e de
Saneamento de Águas Residuais: 2000-2007 (PEAASAR I),
previa a criação de sistemas plurimunicipais – meta de Limites dos Sistemas
Plurimunicipais
atendimento 95% da população, em 2006 –, foi em parte Municípios não
conseguido. Todavia, a meta de 95% de população atendi- integrados
Sistemas
da não foi alcançada. Este objetivo é retomado no PEAASAR II: Intermunicipais
Sistemas
2007-2013 (Fig. 1). Apesar dos progressos nos índices de Multimunicipais
cobertura e sistemas de abastecimento de água e na qua-
lidade do serviço, a estratégia do setor está em revisão. 0 50 km
80 80 90
80
60 60
70
40 40
60
20 20
50
0 0 40
1995
2005
1993
2000
2003
2013
1999
2009
2001
2011
2007
Quadro I. Capacidade de armazena- Quadro II. Capacidade de armazenamento das albufeiras previstas
mento de água nas albufeiras, por no PNBEPH – Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial
bacia hidrográfica, em 2006 Hidroelétrico
Capacidade Área da bacia Capacidade
Bacia Bacia
de armazenamento Aproveitamento hidrográfica da albufeira
hidrográfica hidrográfica
total (hm3) (km2) (hm3)
Minho 0,2 Foz Tua Douro 3822 310
Lima 400 Padroselos Douro 315 147
Cávado 1180 Alto Tâmega (Vidago) Douro 1557 96
Ave 100 Daivões Douro 1984 66
Douro 1078 Fridão Douro 2630 195
Vouga 1 Gouvães Douro 100 13
Mondego 540 Pinhosão Vouga 401 68
Rib. Oeste 1 Girabolhos Mondego 980 143
Tejo 2750 Almourol Tejo 67 323 20
Sado 771 Alvito Tejo 968 209
Mira 486 Total 1266
Guadiana 4610 Fonte: PNBEPH, MAOTDR, 2009
Rib. Algarve 63
Total 11 980,2
Fonte: PNA e INAG, 2007
A construção de grandes barragens onde as disponibilidades hídricas são menores, como é o caso do
Alentejo, torna-se um fator de mudança importantíssimo, principalmente para o espaço rural. A maior
disponibilidade de água, sobretudo se do empreendimento, além da barragem, fizer parte a implantação
de perímetros e sistemas de rega, aumenta muito o potencial agrícola da região, nomeadamente no que
respeita à área agrícola de regadio, à diversidade de culturas, à qualidade e quantidade da produção e,
consequentemente, ao rendimento dos agricultores. Pode também contribuir para a prática de ativida-
des de turismo e lazer, com a consequente dinâmica económica e social que vai contribuir para o desen-
volvimento da região.
As barragens permitem também um outro tipo de gestão da água os transvases – transferência de reservas
hídricas entre diferentes bacias hidrográficas. Assim, é possível fazer uma redistribuição espacial da água. A
opção pelos transvases é sempre polémica, pois poderá ter implicações negativas como, por exemplo, a
redução do escoamento a jusante do transvase e as perdas de água devido à maior evaporação e infil-
tração, se o transporte não se efetuar por condutas fechadas.
TRATAR E PRESERVAR OS RECURSOS HÍDRICOS
Para garantir o abastecimento e a qualidade da água é necessário que esta não seja considerada como
um bem inesgotável. Por isso, é fundamental que a água seja tratada antes de devolvida à Natureza, para
não colocar em risco a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos disponíveis.
As redes de drenagem e de tratamento das %
100
águas residuais são infraestruturas funda- META 2013 90%
N N
ântico
ântico
tl
tl
Oceano A
Oceano A
0 20 km 0 20 km
0 20 km 0 20 km
Índice de
Índice de drenagem
drenagem Índice de
Índice de tratamento
tratamento
estimado
estimado ((%)
%) estimado
estimado (%)
(%)
0 0
1-50
1- 50 1-50
1- 50
51-75
5 1-75 51-75
5 1-75
776-89
6- 8 9 0 50 km 776-89
6- 8 9 0 50 km
≥ 90 ≥ 90
SS// d
dados
ado s SS// d
dados
ados
Região
Regg iã o Região
Regg iã o
hidrográfica
h idrog ráf ica hidrográfica
h idrog ráf ic a
FFonte:
onte: INS
INSAAR,
AAR, 2013 FFonte:
onte: INSAAR,
INS AAR, 2013
FIG. 2 População servida por sistemas de drenagem de águas resi- FIG. 3 População servida por sistemas de tratamento de águas resi-
duais, em Portugal (2010). duais, em Portugal (2010).
Além do alargamento das redes de drenagem e tratamento de águas residuais, outras medidas podem
contribuir para a preservação dos recursos hídricos:
• regulamentação, fiscalização e criminalização do lançamento de efluentes poluidores nos cursos
de águas;
• melhoramento das práticas agrícolas de modo a privilegiar as mais amigas do ambiente;
• criação de incentivos às empresas para a reconversão da tecnologia, de forma a torná-la mais eco-
lógica, e para implementação de medidas inovadoras na área da preservação ambiental;
• aplicação do princípio «poluidor-pagador», com coimas progressivas, segundo a gravidade dos danos;
• dinamização de campanhas de educação ambiental para a população em geral.
PLANEAMENTO E GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
VERIFIQUE SE SABE
¸ Enunciar os principais documentos orientadores da Política Nacional da Água e seus principais objetivos.
¸ Explicar a importância da Lei da Água.
AUMENTAR A EFICIÊNCIA NO CONSUMO DA ÁGUA
Uma boa gestão dos recursos hídricos terá de definir medidas e ações
Eficiência da utilização da água:
que permitam reduzir os consumos, eliminando os desperdícios. É este relação entre o consumo útil e
o principal objetivo do Programa Nacional Para o Uso Eficiente da Água a procura efetiva, expressa em
percentagem.
(PNUEA), que identifica os principais desperdícios de água e aponta para
Consumo útil:
uma maior racionalização do seu consumo, de modo a aumentar a efi- consumo mínimo necessário
ciência da sua utilização. para garantir a eficácia da uti-
lização.
Procura efetiva:
volume efetivamente utili-
zado, geralmente superior ao
mínimo necessário.
¸ Utilizar máquinas de lavar ¸ Utilizar tecnologias mais efi- ¸ Efetuar o transporte da água
roupa/loiça com doseador de cientes que evitem a perda em condutas fechadas, pa-
água consoante a carga. de água durante o processo
¸ Criar hábitos pessoais que de produção. ra evitar a evaporação e infil-
evitem desperdícios. ¸ Reutilizar a água (por exem- tração.
¸ Usar autoclismos com menor plo, a água dos sistemas de ¸ Utilizar modernas técnicas
volume de água ou de dupla refrigeração pode ser usada de rega que forneçam às
descarga. para produzir eletricidade). plantas apenas a água ne-
¸ Manter os equipamentos em ¸ Tratar as águas residuais pa- cessária.
boas condições. ra serem reutilizadas no pro- ¸ Selecionar culturas bem ada-
¸ Reutilizar a água, depois de
cesso produtivo. ptadas às características cli-
máticas.
¸ Reutilizar a água tratada.
tratada, em autoclismos e na
rega de jardins.
VALORIZAR OS RECURSOS HÍDRICOS
Os recursos hídricos podem ainda ser valorizados através de muitas atividades relacionadas com a uti-
lização da água como meio de lazer e de criação de riqueza.
VERIFIQUE SE SABE
¸ Enunciar o principal objetivo da Programa Nacional para o Uso Eficiente da Água (PNUEA).
¸ Comparar a situação atual com a prevista no PNUEA, relativamente aos diferentes setores da sua utilização.
¸ Apontar formas de aumentar a eficiência da utilização da água para cada um dos setores.
¸ Referir atividades que podem valorizar os recursos hídricos, como meios de lazer e de criação de riqueza.
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL
Existem muitos rios cujo percurso se estende por mais de um Estado, o que obriga a que os países que
partilham as suas águas se entendam e definam formas de cooperação, de modo a garantir a partilha e
a gestão da água desses rios sem conflitos. Este facto levou à definição, a nível internacional, de princí-
pios e normas sobre a utilização da água dos rios internacionais.
No caso da península Ibérica, em que Portugal e Espanha
partilham as bacias hidrográficas de vários rios, foi assi- DOC. 1 CONVENÇÃO DE ALBUFEIRA
nada, em 1998, a Convenção sobre Cooperação para
Artigo 2.o
Proteção e o Aproveitamento Sustentável das Águas das
Objeto
Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas, frequentemente
designada como Convenção de Albufeira, por referência 1 – O objeto da presente Convenção é definir o
quadro de cooperação entre as Partes para a prote-
à cidade onde foi assinada (Doc. 1).
ção das águas superficiais e subterrâneas e dos
Para Portugal, a regulamentação e o cumprimento das ecossistemas aquáticos e terrestres deles direta-
normas comunitárias relativamente à partilha de bacias mente dependentes, e para o aproveitamento sus-
tentável dos recursos hídricos das bacias hidrográ-
hidrográficas internacionais e dos acordos estabelecidos
ficas discriminadas no n.o 1 do artigo 3.o
na Convenção de Albufeira assume maior importância, 2 – Na prossecução desta cooperação, as
uma vez que é ao território português que afluem as águas Partes observam as normas da presente Convenção
vindas de Espanha, podendo ocorrer problemas como: e os princípios e as normas de direito internacional
• a redução dos caudais em tempo de seca, pois a e comunitário aplicáveis.
capacidade de armazenamento das albufeiras Artigo 3.o
espanholas é considerável; Âmbito de aplicação
• a poluição das águas espanholas que vem refletir- 1 – A Convenção aplica-se às bacias hidrográ-
-se em Portugal; ficas dos rios Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana.
• a construção de novas barragens ou de transvases 2 – A Convenção aplica-se às atividades desti-
em Espanha, o que pode reduzir os caudais; nadas à promoção e proteção do bom estado das
• o agravamento de situações de cheias, quando as águas destas bacias hidrográficas e às atividades
de aproveitamento dos recursos hídricos, em curso
barragens espanholas fazem descargas volumosas.
ou projetadas, em especial as que causem ou
Embora a Convenção Luso-Espanhola tenha como obje- sejam suscetíveis de causar impactes transfrontei-
tivos prevenir problemas como os enunciados, obri- riços.
gando os dois países ao respeito e à cooperação, sur- De: Convenção sobre Cooperação para a Proteção e o
Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas
gem, por vezes, situações problemáticas, apesar de exis- Luso-Espanholas, 1998
tir um enquadramento legal que ajuda à sua resolução
(Doc. 2).
O Movimento ProTejo pediu ao Governo que peça esclarecimentos a Espanha sobre a autorização dada a novos transvases
do Tejo para a bacia do Segura, sublinhando que estes põem em causa o caudal do rio no lado português. O Governo, porém,
garante que os espanhóis estão a cumprir os mínimos exigidos.
No entanto, no comunicado assinado pelo porta-voz do movimento ProTejo, lê-se que «os transvases diminuem as reservas
da cabeceira do Tejo, deixando ao troço médio do Tejo em Espanha apenas as águas residuais mal depuradas de Madrid, acres-
cendo as potenciais dificuldades de cumprimento dos caudais mínimos estabelecidos na Convenção de Albufeira.»
Em resposta, o Governo sublinha que Portugal «acompanha regularmente a evolução e o cumprimento do regime de cau-
dais» estabelecido na convenção.
Adaptado de Público, 15/02/2013