Você está na página 1de 36

Por que não aprendemos?

42 Anos de colapso do crescimento

Arminio Fraga
CdG, CDPP e IFHC
29/05/2023

1
Essa apresentação é inspirada por uma mistura de Robert Lucas...

“Once one starts thinking about [growth],


it is hard to think about anything else.”
“On the mechanics of economic development”, Journal of Monetary Economics, 1988.

2
... e Amartya Sen

“What moves us (…) is that there are clearly


remediable injustices around us we want to eliminate.”
“The Idea of Justice”, HUP, 2009.

3
Sumário

1. Fatos

2. Causas próximas

3. Causas profundas

4. Existe uma cura?

4
Sumário

1. Fatos

2. Causas próximas

3. Causas profundas

4. Existe uma cura?

5
Razão de PIB per capita em queda

Brazil/US - Razão de PIB per capita


A preços constantes de 2010, US$
22%

20%

18%

16%

14%

12%

10%
1960

1970
1973
1975
1977
1980

1989
1992
1994
1997
1999

2009
2011
2014
2016
2018
2021
1963
1965
1968

1982
1985
1987

2002
2004
2006

2023
Fonte: Worl d Ba nk, Gá vea Inves timentos

6
Brazil vs. Latam e Emergentes

Crescimento do PIB - Brasil, América Latina e Emergentes


Crescimento Médio
Brasil (1) Latam Ex-Brazil (2) Diferencial (1-2) Emergentes (3) Diferencial (1-3)
1995-2002 2,5% 2,1% 0,34% 4,2% -1,70%
2003-2010 4,1% 3,7% 0,42% 6,8% -2,69%
2011-2016 0,4% 2,8% -2,35% 5,1% -4,63%
2017-2018 1,6% 1,5% 0,06% 4,7% -3,14%
2019-2022 1,5% 1,0% 0,46% 3,2% -1,71%
Fonte: IMF World Economic Outlook (es timativas de abr/2023), Gávea Inves timentos

7
PIB: 1950/80 vs. 1981/2019 (queda de 5,2 pp)

Brasil: PIB
Crescimento Anual (%)
8
7,37
7

3
2,18
2

1950-1980 1981-2019
Fonte: IBGE, Regi s Bonel l i e Edma r Ba cha , IPEA, Gá vea Inves timentos

8
PIB per capita: um gap menor (queda de 3,6 pp)

Brasil: PIB per capita


Crescimento Anual (%)
8

5
4,36
4

1 0,77

1950-1980 1981-2019
Fonte: IBGE, Regi s Bonel l i e Edma r Ba cha , IPEA, Gá vea Inves timentos

9
A década perdida de 80 pertence ao período anterior
Contabilizar 1981-1993 juntamente aos anos de rápido crescimento: delta cai de 5 para 3 pp

Brasil: PIB
Crescimento Anual (%)
8

6 5,64

3 2,52

1950-1993 1994-2019
Fonte: IBGE, Regi s Bonel l i e Edma r Ba cha , IPEA, Gá vea Inves timentos

10
Uma reinterpretação: per capita e novas datas
Contabilizar os anos de 1981-1993 junto aos de rápido crescimento: ótica do PIB per capita

Brasil: PIB per capita


Crescimento Anual (%)
8

4
2,96
3

2 1,59

1950-1993 1994-2019
Fonte: IBGE, Regi s Bonel l i e Edma r Ba cha , IPEA, Gá vea Inves timentos
11
Desigualdade vem caindo, mas segue muito alta

Índice de Gini
70

65

60

55

50

45

40

35

30

25
1974

1978
1980

1984
1986

1990
1992

1996
1998

2002

2006
2008

2012
2014

2018
2020
1976

1982

1988

1994

2000

2004

2010

2016

2022

EUA Alemanha Chile Brasil

Fonte: Worl d Ba nk, Gá vea Inves timentos

12
Sumário

1. Fatos

2. Causas próximas

3. Causas profundas

4. Existe uma cura?

13
O que deu errado em 1950-1980

• Crescimento mais “fácil”: industrialização e


urbanização

• Defeitos da estratégia:
• Economia fechada
• Foco insuficiente em educação e desigualdade
• Presença excessiva do Estado na Economia
• Captura do Estado por grupos de interesse
• Instabilidade macroeconômica (extrema)

• Colapsou nos anos 80

14
Resultados modestos em educação

15
Modest results on education

Proficiency in Math and Annual Spending per Student on Basic Education


Proficiency in Math (PISA, 9th grade)

Annual Spending per Student (US$ mns, PPP)

Source: OECD, Ricardo Paes e Barros and Laura Müler Machado


16
10
15

0
5

-10
-5
1941
1943
1945
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
Instabilidade Macroeconômica

Fonte: IBGE, Regi s Bonel l i e Edma r Ba cha , IPEA


1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
Brasil: Crescimento Anual do PIB (%)

1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
2013
2015
2017
2019
2021
17
Progresso desde os anos 90...

• Liberalização do comércio e privatizações

• Estabilidade macroeconômica

• Redução da extrema pobreza

• Maior parte das crianças na escola (qualidade ainda um problema)

• Saúde pública em foco: SUS

• Algum crescimento, ainda que modesto

• Depois de FHC e Lula.1, cenário parecia bom

• Alternância política parecia possível


18
... porém não duradouro

• Nostalgia da política econômica de Geisel

• Dilma: “gasto é vida”

• Subsídios e isenções fiscais vultosos e sem fundamento

• Presença massiva do Estado no sistema bancário

• Colapso fiscal a partir de 2014 (Lei de Responsabilidade Fiscal se foi)

• Ok, commodities também atrapalharam…

19
Colapso da responsabilidade fiscal
Brazil: Primary Budget Balance (% GDP)
4%
target: -0,5%
3%

2%

1%

0%

-1%

-2%

-3%

-4%
*
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
2020
2021
2022
2023
Source: Oxford Economics, Gávea Investimentos *Y2020 actual -9,6%, truncated at -4% Government spending on compensation of employees and social benefits
(% of Primary Spending, 2019)
80%
70%
60%
50%
10000
40%
9000
30%
8000
20%
7000
10%
6000
0%
5000
4000
3000
20
Source: IMF Government Finance Statis tics , Gávea Inves timentos 2000
Subsídios

Brasil: Evolução dos Subsídios Federais (% PIB)


7
6,7

6,1
6
5,6 5,6
5,5

4,9
5 4,7 4,8
4,7
4,4 4,5 4,5
4,2 4,2 4,3 4,5 4,5 4,4
4,3 4,4 4,3
4,2 4,2
4 3,8
3,5 3,8 3,7 3,8
3,5 3,5 3,5
3,0 3,1 3,2 3,2
3

2,1
2 2,0 2,0
1,8 1,8
1,5 1,4
1,3 1,3
1,2 1,2
1 1,0 1,0 1,1
0,8 0,7 0,8
0,7 0,6
0,5
0,3 0,3
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Subsídios Financeiros e de crédito Fiscais

Fonte: RFB, Ministério da Economia, Gávea Investimentos

21
Outra breve tentativa desde 2016

• Esforço de reforma desde então (BNDES, previdência, teto de gastos, leis


trabalhistas, Lei das Estatais, arcabouço legal do saneamento etc.)

• Investimento/PIB crescendo na margem

• Mais recentemente, o regime fiscal foi destruído, de novo.

• Evidências sugerem que as lições não foram aprendidas. Estão sob ameaça:

• Petrobrás (preços domésticos)


• Independência do Banco Central
• Responsabilidade fiscal
• Eletrobrás
• E todos os itens acima! 22
Distorções no mercado de trabalho

Brasil - Desemprego, Formalidade e Informalidade (% da Força de Trabalho)


100%

90%
35,3% 34,1% 34,7% 35,4% 35,8% 33,0% 34,8% 35,9%
80%

70%

60%

50%

40% 54,26% 52,42% 52,21% 53,22% 51,98%


56,08% 52,22% 54,83%
30%

20%

10%
11,6% 12,8% 12,4% 12,0% 13,8% 13,2%
8,6% 9,3%
0%
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Desemprego Emprego Formal Emprego Informal

Fonte: IBGE, Gávea Investimentos


23
IDH do Brasil ainda para trás

IDH: Overall de 2021


Ranking Índice Expec. Vida Expec. Anos escol. Anos Escol. Avg
Brasil 87,00 0,75 72,75 15,60 8,13
EUA 21,00 0,92 77,20 16,28 13,68
Fonte: UN Human Development Reports

24
Desmatamento da Amazônia (em 1000 km2)

Área Desmatada na Amazônia Brasileira (em 1000 km2)


30

25

20

15

10

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022

Fonte: PRODES/INPE, Gávea Investimentos

25
Colapso da produtividade: Brasil e EUA
Forte divergência entre Brasil e EUA:
PIB por Trabalhador
Crescimento Anual (%)
3,0
2,62

2,5

2,0 1,88

1,46
1,5

1,0
0,64

0,5

0,0
1950-1993 1994-2019

Brasil EUA

Fonte: IBGE, Regi s Bonel l i e Edma r Ba cha , IPEA, BEA, FRED, Gá vea Inves timentos 26
Onde estamos hoje

• Divergências quanto ao formato básico de uma estratégia de desenvolvimento


(ideias equivocadas)

• Crises macroeconômicas frequentes e graves

• Não-avaliação de políticas e instituições (conhecimento limitado e falta de


transparência)

• Captura do Estado por elites e grupos de interesse

27
Um comentário sobre a captura do Estado

• Regressiva...

• ... e fator significativo na má alocação de recursos

• País algum se desenvolveu plenamente sem um Estado funcional

28
Sumário

1. Fatos

2. Causas próximas

3. Causas profundas

4. Existe cura?

29
Um pouco de História

• Raízes coloniais: desigualdade e o papel das elites

• Eça de Queirós: “Toda a Nação vive do Estado. (…) Ora como o Estado, pobre,
paga pobremente, e ninguém se pode libertar da sua tutela para ir para a
indústria ou para o comércio, esta situação perpetua-se de pais a filhos como
uma fatalidade.” Uma Campanha Alegre, O primitivo prólogo das Farpas:
Estudo social de Portugal em 1871.

• Mas por que tão persistente?

30
Porque não aprendemos: alguns candidatos

• Instituições frágeis (ex: fiscais)

• Cultura/ capital social (Mokyr: instituições informais, evoluem lentamente?)

• Política (a seguir)

31
Pêndulo ou bola de demolição?

• Hipótese: pêndulo político-ideológico funciona bem quando é


curto

• No Brasil recente, está mais para bola de demolição

• Papel do centro (defende o status quo…)

• Partidos

32
Do povo, pelo povo e para o povo?
• Algo na nossa democracia não está funcionando (só a nossa?)
• Vítimas fáceis do populismo e grupos de interesse?
• Democracy for Realists (C. Achen e L. Bartels)
• “Folk Theory” não corresponde à realidade
• “The folk theory of democracy celebrates the wisdom of popular judgments by
informed and engaged citizens”
• Dificuldade de compreensão de relações de causalidade

33
Sumário

1. Fatos

2. Causas próximas

3. Causas profundas

4. Existe cura?

34
Difícil

• “More effective democracy would require a greater degree of economic and


social equality” (Achen & Bartels, p.325)

• Reestruturação orçamentária e revisão de gastos são necessárias.

• Reforma do Estado como um todo, incluindo RH.

• Um começo: transparência quanto a custos/ benefícios e quem ganha/ perde

• Como chegar ao eleitorado?

35
Agradecimentos:

A primeira versão deste trabalho foi apresentada em 18 de abril de 2023 como a Haddad Lecture
inaugural no David Rockefeller Center em Harvard. Agradeço a Marcos Lisboa e Marcelo Trindade
por sugestões e a Beatriz Blank por excelente apoio na pesquisa
Esta versão foi apresentada em 29 de maio de 2023 em evento conjunto da Casa das Garças, CDPP e
Fundação Fernando Henrique Cardoso, e se beneficiou de sugestões de Marta Arretche.
Erros todos meus.

36

Você também pode gostar