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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE AD 1

Fundação Cecierj / Consórcio Cederj


Curso de Letras – EAD
Profª Drª: Silvia Maria de Sousa
Tutora a distância: Profª DrªAna Paula El-Jaick
AD1- LINGUÍSTICA I

Instruções:
Escreva à tinta (azul ou preta) e com a maior legibilidade possível. Não escreva em tópicos. Escreva um
texto coerente e coeso, em registro linguístico compatível com o trabalho acadêmico formal.

1. Leia a seguinte afirmativa da “Nova gramática do português contemporâneo”, de


Celso Cunha e Lindley Cintra, sobre um caso de concordância: (2,0 pontos)

“Sujeitos resumidos por um pronome indefinido


Quando os sujeitos são resumidos por um pronome indefinido (como tudo, nada,
ninguém), o verbo fica no singular, em concordância com esse pronome:

Letras, ciências, costumes, instituições, nada disso é nacional (Eça de Queirós, TR, 15.)”
(CUNHA e CINTRA, 1985, p.499)

Indique se o exemplo é normativo ou descritivo, justificando sua resposta. Em seguida,


estabeleça a distinção entre as abordagens da gramática normativa e da linguística.

A afirmativa retirada da “Nova gramática do português contemporâneo”, de Cunha e


Cintra, é normativa, pois prescreve como deve ser feita a concordância verbal nos
casos em que o sujeito seja resumido por um pronome indefinido.
Trata-se de um exemplo metonímico da grande diferença que há entre a concepção
de linguagem da gramática normativa e aquela da linguística. De fato, enquanto a
gramática normativa tem um ideal de língua a ser seguido, de modo a levar os
falantes de determinada língua a usá-la de um modo determinado, considerado
“correto”, a linguística pretende entender o fenômeno da linguagem verbal
descrevendo-o, sem juízo de valor. Assim, enquanto a gramática normativa adota
uma postura prescritiva a linguística adota um ponto de vista descritivo e científico.

2. Exponha o ponto de vista da linguística em relação ao que se denomina a


“linguagem dos animais”. Embase teoricamente sua resposta. (2,0 pontos)

O objeto da ciência da linguagem é a linguagem verbal. Sendo assim, a linguagem


dos animais só pode ser entendida como linguagem num sentido amplo (conforme
dizemos linguagem musical, linguagem corporal etc.). Para ser linguagem, conforme
entendida pela linguística, é preciso, antes de tudo, que ela seja verbal, ou seja, que
seja emitida por órgãos fonadores, de modo que não precisamos ver o emissor da
fala para entendê-lo, diferentemente do que acontece com a linguagem dos animais.
Além disso, a linguagem verbal não se limita, como a linguagem animal, a uma
resposta a determinado estímulo. Isso quer dizer que a linguagem verbal,
diferentemente da linguagem animal, é imprevisível. Não sabemos de forma
apriorística qual será a resposta que obteremos do nosso interlocutor. Na linguagem
verbal, estamos sempre no risco. Outra diferença entre a linguagem animal e a
linguagem verbal é que esta última não é apenas um instrumento para falar sobre
algum fato do mundo – por exemplo, não é apenas um instrumento, como é a
linguagem das abelhas, para dizer onde há uma fonte de alimento. A linguagem
verbal fala do mundo, é claro. Mas esta é apenas uma das potencialmente infinitas
coisas que podemos fazer com ela. A linguagem verbal é, também, criadora de
mundos – ela cria o mundo, modifica o mundo, assim como inventa outros mundos
possíveis. Por fim, a linguagem verbal é passível de ser decomposta em unidades
menores, coisa que a linguagem animal não pode ser. Dessa maneira, é possível
analisá-la e recombiná-la, numa cadeia potencialmente infinita de combinações
criativas.

3. Analise as placas de trânsito abaixo, de modo a explicar por que constituem signos.
Comente o seu caráter simbólico. (2,0 pontos)

Disponível em: http://www.detran.pi.gov.br

As placas de trânsito são símbolos na medida em que, em primeiro lugar, são signos,
isto é, estão no lugar de outra coisa – nos casos apresentados, estão no lugar das
ordens “proibido parar” e “proibido parar e estacionar”, respectivamente. Em
segundo lugar, são símbolos, e não ícones, na medida em que não são fenômenos
naturais, mas convenções estabelecidas entre sujeitos de dada comunidade
linguística. Assim, não foi observando a natureza que descobrimos que, ao ver essas
placas, não podemos parar o carro em determinado lugar sob pena de sermos
multados. Foi dentro de nossa sociedade que aprendemos que essas placas
SIMBOLIZAM a interdição de se parar / estacionar um veículo em dada área.
Podemos notar que, na primeira placa, há um único traço em vermelho que é usado
para simbolizar o aviso “proibido parar”; já na segunda placa, duas tarjas vermelhas
representam duas interdições, “parar e estacionar”. Vemos, portanto, que entre o
símbolo e o conteúdo simbolizado preservam-se alguns traços comuns. Isso ocorre
somente nos signos não-linguísticos, no caso analisado, o símbolo.

4. O signo linguístico, conforme definido por Saussure, é uma entidade dupla. Do que é
constituído, então, o signo linguístico? Defina essas suas duas partes. (2,0 pontos)

Saussure definiu o signo linguístico como uma entidade dupla, constituída de


significado e significante. O significado não se confunde com a coisa no mundo, o
referente. Antes, o significado é um conceito. Tanto assim que, se o significado se
confundisse com o referente, só haveria significado para os substantivos concretos
(mesa, cadeira, livro); todo o resto não teria significação (vingança, sob, sobre etc.).
O significante corresponde a uma imagem acústica, percebida pelo nosso sentido da
audição. Significado e significante são entidades indissociáveis, ou seja, uma não
existe sem a outra – são, conforme definiu Saussure, como as duas faces de uma
folha de papel.

5. Em que consiste o chamado princípio da arbitrariedade do signo linguístico? (2,0


pontos)

O signo linguístico possui algumas características; uma delas é o assim chamado


princípio da arbitrariedade. Dizer que o signo linguístico é arbitrário é dizer que a
ligação existente entre um significado e um significante é arbitrária, isto é,
convencional. Devemos lembrar que arbitrariedade não corresponde a um
“capricho“ do falante para definir o que um significante vai significar. O princípio da
arbitrariedade do signo linguístico, antes, mostra como não há qualquer motivação
para que uma imagem acústica signifique determinado conceito. Por exemplo: o fato
de que a cadeia sonora /cadeira/ significa “mobília que serve para uma pessoa se
sentar, apoiada sobre pés, com encosto e, às vezes, braços” não foi definido por
nenhuma força natural, mas por um acordo tácito dentro de certa comunidade
linguística. Tanto não é natural que outras comunidades linguísticas “colaram”, a
este mesmo significado, outros significantes: /chair/ [inglês], /chaise/ [francês],
/silla/ [espanhol], /Stuhl/ [alemão] etc.

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