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A faixa “Toda forma de poder”, composição de Humberto Gessinger, foi lançada pelo
grupo musical Engenheiros do Hawaii no ano de 1986, no álbum “Longe demais das
capitais”. Possui uma letra com altas críticas a política de uma forma geral, apresentando um
posicionamento a toda forma de poder, frase que dá nome a canção.
O primeiro verso da canção (Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não dizem
nada...) faz referência aos discursos de políticos que são sempre vazios, contendo sempre
aquilo que as pessoas querem ouvir e que por muitas vezes beiram o óbvio. Isso sempre
aconteceu, mas um momento histórico em que isso se evidenciou no Brasil foi na Era Vargas,
onde o populismo que sempre existiu na política ganhou força. Políticos demonstram serem
treinados para apenas falarem palavras vazias de significado, mas de maneira que possam ser
aplaudidos e ovacionados pelo povo. Na atual política brasileira, sobram exemplos de figuras
políticas que não nos poupam de ouvir o vácuo de suas frases em seus discursos, vamos a
alguns exemplos.
“Se hoje é o Dia das Crianças, ontem eu disse que criança... O Dia da Criança
é dia da mãe, do pai e das professoras, mas também é o dia dos animais.
Sempre que você olha uma criança, há sempre uma figura oculta, que é um
cachorro atrás, o que é algo muito importante”.
Ao ser questionado num programa de rádio sobre como faria para mudar o perfil da
dívida brasileira, o então candidato à presidência da república Ciro Gomes respondeu:
“Pagando!”
Mais uma vez, a ex-presidente Dilma Rousseff conseguiu se superar afirmando: “Não
acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar ou perder, vai ganhar ou perder,
vai todo mundo perder”.
Trazendo essa afirmação ainda mais para a nossa realidade, o então vereador Edvaldo
Vigilante, afirmou em uma audiência pública sobre o fechamento de uma escola do campo no
distrito de Cepilho, Areia-PB: “Podiam fechar qualquer outra escola, menos essa!”, o que me
faz questionar o que aconteceria se algumas das maiores escolas do município como o Carlota
Barreira e o Ministro José Américo de Almeida fossem fechadas.
É exatamente como o eu lírico afirma, nós tentamos entender o que eles dizem, mas o
que eles acabam dizendo é somente aquilo que as pessoas querem ouvir, muitas vezes não
significando nada.
No próximo verso (Fidel e Pinochet tiram sarro de você que não faz nada...), figuras
como Fidel Castro e Augusto Pinochet, líderes de ditaduras em Cuba e Chile,
respectivamente, zombam da cara das pessoas se aproveitando do seu status de poder. Tais
figuras podem ser facilmente substituídas por personagens da política atual brasileira sem
mudar muito o contexto da canção. Em uma fala a respeito de manifestações contra algumas
ações do governo, o presidente Jair Bolsonaro afirmou sobre os manifestantes: “A maioria ali
é militante, não tem nada na cabeça, se perguntar sete vezes oito não sabe, se perguntar a
fórmula da água não sabe. São uns idiotas úteis, uns imbecis”. Da mesma maneira, o ex-
presidente Lula, em uma reunião se orgulha da maneira que falava sobre o povo brasileiro no
exterior: “Eu cansei de viajar o mundo falando mal do Brasil. Era bonito a gente viajar o
mundo e falar: ‘no Brasil tem 30 milhões de crianças de rua’.”. E é impressionante como
sempre existem pessoas que são alvo de palavras como essas, mas acabam ficando quietas,
pois preferem manter a integridade do seu político de estimação, a se defender dos ataques
proferidos por eles.
E dessa maneira, as pessoas acabam se acostumando com tudo que o governo faz,
mesmo que sejam coisas absurdas. Um boçal jogar uma bomba na embaixada pode ser
comparada às trágicas filas nos hospitais públicos, pessoas que tentam trabalhar, mas tem sua
mercadoria apreendida pelos fiscais da prefeitura. Tudo isso causa a uma família um estrago
que se assemelha ao de uma bomba, mas que de tanto se repetir, nem se estranha mais.
No refrão, a letra muda totalmente de foco, não mais falando do que vinha falando até
o momento. De uma maneira genial, o autor profere um discurso completamente vazio de
significado, fazendo o ouvinte experimentar o que ele afirma no primeiro verso da música.
Nós prestamos atenção no ele canta, e até cantamos junto, mas ele não diz nada. Muitas vezes
o refrão é a única parte de uma música que as pessoas lembram. (se tudo passa, talvez você
passe por aqui, e me faça esquecer tudo o que eu vi).
No próximo verso, o eu lírico traz um viés anárquico na música quando diz que toda
forma de poder é uma forma de morrer por nada, dando descrédito a qualquer forma de
governo, seja de direita ou de esquerda. O mundo já passou por muitas guerras, não curioso
que todas elas causadas pelos governos. Nas guerras pessoas são convocadas a ir para um
campo de batalha lutar e certamente morrer em nome do governo do seu país, ou seja, morrer
por nada.
Na sequência (toda forma de conduta se transforma numa luta armada...), armas são
trazidas ao texto, mostrando que toda forma de conduta instituída por um poder de governo,
se torna em violência. As pessoas se revoltam contra o governo quando este institui regras
sem sentido, que apenas servem para fortalecer hegemonia do Estado, e como única solução
viável, procuram se manifestar para reverter tal situação. A luta é armada, mas apenas há
armas de um lado. Aliás, esta é a única razão de se haver proibição na posse e porte de armas
de fogo. Nunca foi sobre armas, mas sim sobre controle. Dessa maneira o governo pode e faz
o que quiser com a garantia de que sem armas, a população não tem força suficiente para
enfrentá-lo.
Os problemas são uma realidade na vida de qualquer pessoa, e isso acaba sendo o
principal foco dos políticos quando tentam se reeleger. Estes surgem com a solução para os
problemas de todos, ou pelo menos da maioria, já que na democracia, basta ter mais votos.
Hitler disse que a razão do problema da Alemanha eram os judeus (que eram mais ricos) e
todos aqueles que não pertenciam a raça ariana, Stalin, Mao, Kin, Maduro, e vários outros
afirmaram que o problema estava naqueles que eram ricos. E em todos esses casos, ao longo
da história, ditaduras aconteceram. Este verso diz que “a história se repete, mas a força deixa
a história mal contada...” e acaba refletindo perfeitamente na atualidade quando vemos
modelos de governo sendo tentados novamente, mesmo havendo exemplos na história que
mostram o quão miseravelmente fracassaram. Mas como quem sempre sobra pra contar a
história é quem ganha a guerra, nunca saberemos de fato o que aconteceu. No final desse
verso, o intérprete repete as duas últimas sílabas da palavra “contada”, fazendo menção ao
som de armas e também a história que nunca é contada por completo, mas lhe é retirada as
partes que convém àqueles que estão no poder.