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O livro de Atos retrata o começo da história da igreja que continua até os dias de
hoje. Lá nós podemos ver como o evangelho se expande para além de Jerusalém. Desde
essa época, a perseguição cruel àqueles que pregavam o evangelho já existia, ainda mais
por parte dos imperadores de Roma que nos primeiros séculos fizeram atrocidades
contra os cristãos. Cristãos eram mortos queimados, crucificados, apedrejados, o coliseu
de Roma foi usado para que cristãos fossem devorados por feras famintas (leões,
lobos...), e, por consenso de alguns historiadores, o imperador Nero colocou fogo em
Roma e incriminou os cristãos por tal feito, levando a ainda maior perseguição. Por três
séculos, os cristãos foram cruelmente perseguidos e mortos, tendo inclusive que se
reunir as escondidas para cultuar a Deus. Mas quanto mais a igreja era perseguida, mais
ela crescia. Mesmo assim, em meio a tanta carnificina, os cristãos viviam e morriam
para a glória de Deus. Segundo Tertuliano, o sangue dos mártires era a semente da
igreja.
Mas no século quarto, após uma suposta visão que o imperador Constantino teria
tido, de uma cruz indicando sua vitória em uma batalha, ele se converte ao cristianismo,
e torna o cristianismo a religião oficial do Império Romano, com o Édito de Milão. Isso
foi bom, pois os cristãos não seriam mais perseguidos, mas, com isso, a porta de entrada
da igreja não era mais a conversão, mas a conveniência. Ser cristão agora era receber o
louvor do Estado, e com isso, todo mundo queria ser cristão. Não pelo novo nascimento,
mas pelo status. E isso trouxe para dentro da igreja heresias e ritos pagãos que
contaminaram o evangelho que até então se mantivera puro. Vale destacar que esses
sincretismos ainda hoje perduram no catolicismo romano, principalmente nas festas dos
santos, que no passado eram cultos a deuses pagãos, e que se tornaram festas praticadas
pela igreja romana, acrescentadas no catolicismo romano como forma de agradar a
todos que estavam entrando para a igreja.
Se a coisa tava ruim, conseguiu piorar. No século VII, o imperador Flávio Focas
declara o bispo de Roma, Gregório I, como o bispo universal da igreja, que é a figura do
papa que temos hoje, e ele rejeita, e ainda afirma que isso não poderia acontecer, pois o
bispo universal de Roma é Cristo, e quem tomar o seu lugar, deve ser considerado o
anticristo. Porém uns anos depois, o imperador Flávio Focas, declara o bispo de Roma,
Bonifácio III, como bispo universal da igreja, e ele aceita o título, começando então a
história do papado na igreja.
Cada vez mais, heresias iam entrando na igreja. Já que agora, temos a figura do
papa, ele pode determinar novas doutrinas, e com isso o princípio do Sola Scriptura já
não mais servia, e agora a igreja cultuava os mortos, adorava imagens, purgatório,
confessionário, a ideia da missa, a adoração aos santos, transubstanciação, e muitas
coisas estranhas a bíblia passam a ser normais na vida da igreja. A salvação não mais
era pela graça, mas por obras, e com isso, a vida e obra de Cristo são diminuídas. A fé
tem seu sentido alterado, e o pior, a glória não era mais somente a Deus.
Calvino, nas Institutas da religião cristã, afirma que “o purgatório é uma ficção
mortífera de Satanás, que anula a cruz de cristo, inflige desprezo intolerável sobre a
misericórdia de Deus e transtorna e destrói a fé. Em outras palavras, o purgatório
arranca Cristo de sua glória como Salvador misericordioso e plenamente suficiente, e
impede que tenhamos alegria em confiar nele. Além disso, Calvino afirma que a glória
de Deus não era vista apenas na salvação, mas em toda a criação, que chamava de teatro
da glória de Deus.
Mas Deus, por amor ao seu nome, levanta homens que viriam por lutar para que
a glória de Deus fossem novamente a paixão da igreja. Lutero, após entender que a
salvação era somente por fé, conforme o texto de Romanos 1:17, se levanta contra as
injustiças da igreja, fixando as 95 teses na porta da catedral de Wittenberg, deflagrando
o movimento pela reforma.
Após a reforma protestante, apesar de se afirmar que a glória deveria ser dada
somente a Deus, século após século, o ser humano continuava dando glória a qualquer
outra coisa, exceto Deus. Nos nossos tempos, o movimento neopentecostal surge de
dentro do protestantismo, mas com os problemas que a reforma combateu no século
XVI. No neopentecostalismo, que tem como uma das principais doutrinas a teologia da
prosperidade, mais uma vez a glória que deve ser dada só a Deus é dada a homens. De
acordo com essas seitas, Jesus é apenas um meio de se alcançar o sucesso,
principalmente financeiro. A glória não é dada a Deus, mas àquilo que Deus dá e,
portanto, a alegria não está em Deus, mas nas coisas que Deus dá. Além disso, o ser
humano busca a própria glória, exigindo-a de Deus.
Essa linha parece ressurgir nos últimos anos como a teologia do coach, onde
líderes tiram o evangelho do púlpito para colocar palestras de autoajuda, e mostrar que
Deus deve coisas aos homens, e que o centro do coração de Deus é o ser humano e que
o ser humano tem Deus em suas mãos para usá-lo sempre que quiser. Tudo isso aponta
para a glória ao homem e não a Deus. Deus tem virado um coadjuvante cada vez menos
participativo, na verdade um figurante que está ali apenas para compor o cenário, onde o
protagonista é o ser humano, e que a ele está sendo direcionado o louvor.