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A Igreja Ortodoxa, J.

Meyendorff IV

A Herança de BYZANCE ;
Estrutura canônica, liturgia,

espiritualidade, monaquismo.

P. 55 até 70.

Vimos mais acima como as querelas cristológicas do séc. V tinham afastado da


Igreja ortodoxa a grande massa das comunidades orientais não
gergas( COPTES,ARMENIENS, SYRIENS, ETHIOPIENS)cujas algumas recusavam as
decisões do Concílio ecumênico de EPHÈSE, e permaneciam numa profissão de
fé nestoriana , outras aceitando EPHÈSE , recusavam CHALCÉDOINE(451) e
professavam a heresia diametralmente oposta ao nestorianismo ; o
monofisísmo. Umas e outras alimentavam a mesma suspição em relação á
Igreja de Império, sustentada pelos BASILEIS bizantinos e que tinha se tornado
em larga medida, uma igreja greco – latina.

A Igreja de BYZANCE, apesar das perdas que ela sofria assim no Oriente
pemanecia porém , como a Igreja latina, uma igreja ativamente missionária. Foi
assim que a maioria dos paises eslavos receberam o Evangelho de
CONSTANTINOPLA e , com o Evangelho, aliturgia, o direito canónico e a
piedade bizantina. O metódo de evangelização dos Bizantinos consistia , de
fato, essencialmente em traduzir o rito bizantino numa língua falada no pais e a
criar assim novas comunidades que imitavam em todas as coisas a « GRANDE
IGREJA » de CONSTANTINOPLA. Esse metódo era fundamentalmente diferente
do modo ocidental que em todo lugar forçava ao uso do Latim como língua
litúrgica ; ela mantinha porém, com os povos novamente convertidos , a
unidade de culto. Essa uniformidade se tornou logo total no Oriente , pois as
comunidades não gregas do ORIENTE Medio , que preservavam as antigas
liturgias de ANTIOCHE e de ALEXANDRIE, tinham deixado, na sua maioria, a
Igreja ortodoxa. Esse centralismo litúrgico não era , para os Bizantinos , uma
questão de princípio ; a Igreja ortodoxa sempre admitiu a multiplicidad ede
ritos, mas o prestígio cultural e político de CONSTANTINOPLA era tão grande

.... faltam as p. 56 e 57. Falei com o DC por mail nesse dia 20 /06/2019.
Inicio p. 58.

_ de perder , no decorrer da Idade Média , a maior parte de seu antigo brilho. A


invasão árabe reduziu o número dos seus fiéis e os isolou do resto da
cristandade. A Igreja de CONSTANTINOPLA tornou –se assim o centro
verdadeiro do mundo ortodoxo ; os antigos cânones, a decadência dos tronos
orientais, a expansão missionária , o prestígio da « Grande Eglise » Santa
SOPHIE lhe deram uma autoridade sem igual. A decadência política do Império
bizantino contribuia por se – mesma em realçar o prestígio do patriarcado que
guardava, no plano espiritual, o poder que cada vez mais escorregava entre so
dedos do Impérador(2).

(2). A esse respeito, ver G. OSTROGORSKY, «  Histoire de l’ état byzantin », Paris, 1956, p. 575.

Foi assim que no séc. XIV, podemos ver o patriarca intervir em todas as coisas
religiosas ou políticas da EUROPE Oriental, resolver as querelas intestinas dos
príncipes feodais russos, negociar com o Rei da POLOGNE sobre a situação de
seus sujeitos ortodoxos e fazer fracassar tentativas de união com ROMA.
Jamais , portanto, essa autoridade de fato escorregou numa pretenção de
infalibilidade ; a história , aliás, trazia por demais exemplos de patriarcas
heréticos para que essa pretenção possa tomar corpo e , ainda em 1347, JEAN
CALÉCAS foi deposto por ter sustentado doutrinas de um monge condenado,
AKINDYNOS.

A centralização de fato que caracteriza o mundo ortodoxo à partir do séc. IX


colocou uma marca bizantina sobre todos os aspectos históricos da Igreja
ortodoxa ; pousando os « DISTINGUO » necessários, podemos dizer que essa
última é hoje « Bizantina » ao mesmo título que a Igreja católica é
« Romana ». O fato pode ser observado no nível da liturgia e da piedade, como
no plano da estrutura canónica.

A liturgia cristã conheceu , no decorrer dos tempos e atraves os paises de


Oriente e de Ocidente onde o Evangelho foi pregado, formas diversas
determinadas pelas condições históricas nas quais a Igreja vivia. A igreja de
CONSTANTINOPLA que não possuia , antés do séc. IV , tradição litúrgica
própria, cria progressivamente um rito, no qual a influência antioquina é
dominante. Esse rito , que nos séc. IX , já possuia o essencial de suas formas
atuais e conheceuuma fortuna extraordinária (3); celebrado hoje em diversas
línguas , esse rito constitui um traço de união poderoso entre os ortodoxos de
diversas nacionalidades que todos encontram nele a expressão de sua fé única.

(3).As reformas ulteriores , notadamente aquelas do Patriarca PHILOTÉE no séc. XIV, apenas
concerniam aspectos menores do rito e das rubrícas.

O uso de línguas faldas e entendidas pelos fiéis contribuiu poderosamente em


enraizar a liturgia dentro do povo que enxergua geralmente na participação á
oração comum da Igreja o signo essêncial de sua pertence ao Corpo de Cristo.
Não é apenas simples ritualismo, mas sim uma concepção comunitária do
recado evangélico, juntamente com a convicção que a vida novatrazida pelo
Cristo, manifesta – se e comunica – se na realidade sacramental do culto cristã.
Eis porque o leigo ortodoxo sempre estará atento á forma e á maneira de
celebrar o culto ; jamais vai ver no culto - ao exemplo do irmão ocidental que,
até as recentesreformas, estava acostumado a uma liturgia celebrada numa
língua que ele nem conhecia – um ato no qual o sacerdote apenas é activo,mas
sentir – se à responsável por tudo o que se passa no templo de Deus. Esse
estado de coisas, facilmente entendido torna difícil as reformas – boas ou não –
do culto ; verdadeiros cismas já foram provocados por modificações de ordem
menor incluidas na liturgia ; o controle de fato que a Igrej inteira exercita assim
sobre a liturgia joga de anté – mão – erradamente aliás - uma dúvida de
heterodoxia sobre os ritos que a Igreja ortodoxa não conheceu desde a Idade
Média, notadamente sobre os diferentes ritos ocidentais. Nâo tira que essa
liturgia « eminentemente viva » - enraizada na língua do pais e que ,
freqüentemente , cria essa l’ingua – é uma verdadeira escola da fé. Sob o jugo
turco e mongólico, os cristões de Oriente encontraram , na permanência do
culto, o meio de permanecer fiéis á Ortodoxia. E é esse culto que ainda hoje, na
Rússia, permanece a única escola cuja Igreja dispõe para comunicar as
verdades da fé aos simples fiéis saturados de marxismo ; o despertar do
cristianismo na U.R.S.S mostra novamente que essa escola pode ser das mais
fecundas.

Aqui, não nos é possível demorarmos - nós sobre uma descrição detalhada de
liturgia bizantina.(4).
(4). Recomendamos ao leitor as numerosas publicações existentes a respeito, notadamente as
introduções de textos litúrgicos publicadas pelo priorado benedictino de CHEVETOGNE (Belgique) :
«  La prière des Églises de rite bizantin »(3Vol.)Cfr. Também S. SALAVILLE, « Liturgies orientales- La
messe », vol . I-II, Paris, Bloud et Gay 1942 ; Nicolas CABASILAS, «  Explication de la divine Liturgie »,
col «  Sources chrétiennes », 4, Paris, 1943.

Os diversos ciclos litúrgicos – cilcos diário, semanal, anual e Pascal –


correspondem numa ampla medida áqueles das outras liturgias tradicionais no
Oriente e no Ocidente. Diferentemente do rito latino , esses ciclos são de
excepcional riqueza.O saltério e outros textos bíblicos , constituindo o
essêncial do ofício diário ( Vésperas, Completas, Oração da meia noite,Matinas,
Prime, Terça e Nona) encontram – se de fato completadas por um grande
número de hinos refletindo os diversos momentos do ano litúrgico. Esses hinos
encontram – se reunidos em 4 livros correspondendo cada um a um ciclo :

O TRODION oferece os hinos de Quaresma, cujos muitos devidos ao S.


THÉODORE STUDITE ( início do séc. IX) ;

O PENTEKOSTARION corresponde ao tempo pascal ;

O OCTOECHOS ou « Livro dos 8 tons » comporta um ciclo de 8 semanas que


inicia – se no 1° domingo depois de PENTECOSTES e repete – se até a
Quaresma do ano seguinte ; cada semana é marcada com um sistema de
melodias particular ; (TOM ou EKHOS). Assim o Octoekhos religa cada dia do
ano á Pascoa, a « Festa das festas » ; a sua composição é tradicionalemente
ligada ao nome de S . João DAMASCÈNE ( Séc. VIII).

O MNAION, enfim, corresponde ao santoral e celebra as festas e santos do


calendário , independentemente do ciclo pascal.

Assim , cada dia , o ofício é constituido da combinação de uma parte


invariável , particularmente bíblica, de uma série de hinos do OCTOEKHOS, do
PENTECOSTARION, ou do TRIODION e de outra série tirada do MENAION. Nem
precisa dizer que apenas os mosteiros estão aptos em celebrar o ofício em sua
integralidade, conformando – se ás recomendações do TYPIKON, livro cuja
redação atual remonta aos séc. XIV e XV e que codifica as diversas combinações
possíveis entre os ciclos. O ofício bizantino é assim essencialmente monástico e
as paroquis adaptam – se com ele segundo as suas disponibilidades (5). Nisso
está um dos sinais do posicionamento excepcional reconhecido
tradicionalmente ao monaquismo na Igreja ortodoxa.
(5). O Patriarcado de CONSTANTINOPLA publicou há uns 50 anos , um TYPIKON abreviado em
função das necessidades das paroquias. Esse novo TYPIKON está em uso nas igrejas de língua grega.

O costume de celebrar quotidianamente a liturgia eucarística estabeleceu mais


tarde no Oriente que no Ocidente ; jamais foi totalmente generalizado : a
Igreja ortodoxa não conhece , de fato, a obrigação para o sacerdote da
celebração quotidiana da missa – que não é a sua ocupação particular, mas sim
um ato da Igreja inteira – e ela preservou , numa ampla medida, a noção de
liturgia « OBRA COMUM », cuja realização é um ato solene e comunitário,
reservado normalmente aos domingos e festas. (6).

(6). Nenhum regulamento impõe , nem proibe, a celebração quotidiana da Liturgia. Tal celebração
está praticada , de fato, em numerosos mosteiros e nas grandes paroquias.

Se a Igreja ortodoxa insiste menos sobre a noção de freqüência das missas,


apiedade que ela herdeu de BYZANCE não é por isso menos centrada sobre a
vida sacramental ; ao mesmo tempo memorial e antecipação escatológica, a
Eucaristia é o lugar onde a Igreja identifica –Se com o Reino de Deus. É ali, ,
por excelência, a solenidade do « oitavo dia » da semana, o Dia do Senhor.

A variedade litúrgica que existia na antiga Igreja ficou preservada em parte no


rito bizantino ; duas liturgias eucarísticas , a de S. João Chrisóstomo e a de S.
Basílio, são celebradas regularmente. Uma 3° liturgia , celebrada em
JERUSALÉM e episodicamente noutros lugares, é atribuida a S. JACQUES, irmão
do Senhor. (7).
(7). Nós não entraremos aqui no problema da autenticidade d’ essas atribuições cujo significado é
totalmente menor, a liturgia sendo sempre a Liturgia da Igreja e não do nome de tal ou tal santo
Padre. Os historiadores parecem estar de acordo hoje, para reconhecer a mão mesmo da S. Basílio
de CÉSARÉE no texto do cânone eucarístico que lhe é atribuido. Quanto ao S. J. Chrisósotomo, ele
certamente não escreveu a liturgia que foi posta mais tarde na sua proteção e que se tornou o rito
eucarístico mais comum na Igreja ortodoxa. As duas liturgias receberam aliás modificações de
estruturas e adições até depois do séc. XIV. Quanto á liturgia de S. JACQUES, ela pertence ela
também ao tipo bizantino. Não é possível , porém , atribuir ela com certeza ao irmão do Senhor.

Durante a Quaresma, a liturgia eucarística propriamente dita apenas é


celebrada , conforme as decisões de antigos Concílios , no sábado e no
domingo ; o significado próprio de jejum e, de fato, destinada em lembrar aos
cristões do estado decaído no qual eles encontram – se até a Parousia, apesar
de ter sido assegurados de salvação que já se encontram com eles. A
Quaresma é então um periódo de espera que apenas é interrompida pelas
liturgias dominicais e que se termina triunfalmente na Eucaristia pascal ,
antecipação da 2° vinda de Cristo. Durante a Quaresma , celebra – se porém
nalguns dias um rito vesperal de Comunhão aos Santos Dons, especialmente
reservados no domingo precedente ; ali está «  a liturgia dos Dons Pre –
santificados », atribuida ao S. GRÉGOIRE o Grande, papa de Roma.

Assim como todas as orações eucarísticas tradicionais, o « cânone »  bizantino


possui uma forma de ação de graças solene endereçada a Deus – Pai, pelo
bispo ou sacerdote em nome de toda a assembléia. Por ela ser o CORPO do
Cristo, Filho de Deus , a Igreja possui o privilégio de endereçar – se assim
direitamente ao Pai para comemorar a obra redentora do Filho e invocar a
descida do Espírito Santo  « Sobre nos e sobre os Dons aqui apresentados ( liT.
de S. J. Chrisóstomo)para mudar eles em CORPO e SANGUE de Cristo Senhor. »

Esse carácter triadológico do Cânone que encontra o seu ponto culminante na


invocação final do Espírito(EPICLÉSIA) é admitido como essêncial pela Igreja
ortodoxa e desde a Idade Média , considera – se como deficiência grave a
ausência dessa invocação na missa romana actual. É o Espírito Santo, de fato,
que , desde a ASCENCÃO do Cristo, manifesta na Igreja a graça da redenção.

« Quando virá o Paráclito que Eu vos enviarei da parte do Pai, Espírito de


Verdade, que provém do Pai, Ele me dará testemunho »(João , XV, 26).

O ensinamento da Igreja ortodoxa insiste com força sobre a realidade da


mudança ( N Tr. : permutação, compensação,transformação,
modificação)sacramental (........... em grego),do pão e do vinho em Corpo e
Sangue de Cristo . Porém, nem a liturgia, nem os Santos Padres , nem nenhum
texto ortodoxo autoriza , anteriormente ao séc.XVI, ter como recorrer ao termo
de TRANSUBSTANCIACÃO (........em grego), para expressar esse mistério. Nas
confissões de fé posteriores , destinadas em definir o dogma ortodoxo face à
teólogia reformada, esse termo está sendo usado , mas com a reserva
expressa que ele não é um termo no meio de muitos outros e que ele não
supõe a adoção pela Igreja da filosofia áristotelica sobre a forma e a matéria.

Ao lado da Eucaristia, a Igreja admite 6 outros sacramentos , sem por isso dar
ao número «  7 » o mesmo carácter absoluto que a teólogia ocidental coloca
nele. Nenhum Concílio ortodoxo tem, de fato, definido com precisão o número
dos sacramentos.

8 linhas sem tinta...

....

São GRÉGOIRE PALAMAS , por sua vez, fala de Batismo e da Eucaristia como
« recapitulando » por eles mesmos apenas «  toda a obra do Deus – Homem » ;
(9).
(9). Sem tinta.

Sem negar evidentemente a eficácia dos outros sacramentos, ele estabelece


assim entre eles uma hierárquia . No que vai aparecer assim como imprecisão
terminólogica, é preciso ver particularmente , nos teólogos bizantinos , a
convicção que o mistério cristão é um mistério único cujos diversos atos
sacramentais expressam aspectos diferentes. E não há dúvida nenhuma que ,
no meio desses atos, a Eucaristia é , segundo a expressão do PSEUDO - DENYS,
o «  Mistério dos mistérios ». A doutrina dos « 7 sacramentos » seria então
francamente inexata se ela pre - supunha que a Unção dos Doentes é um ato
tão importante quanto a Eucaristia ou Batismo ou ainda que a graça redentora
não é ativa nos atos de valor sacramental como a Benção das Águas

....Meia p.sem tinta...

O sacramento de Ordenação agrupa os 3 degraus tradicionais do sacerdócio –


episcopado, sacerdócio,e diaconato – e duas ordens menores – sub - diaconato
e leitorado . Desde do séc. VI, (legislação de JUSTINIEN, Concílio in TRULLO) , o
episcopado recruta – se exclusivamente no meio dos monges. Um homem
casado pode , porém , ser ordenado diacono e sacerdote.(13).

(13).O casamento depois da ordenação e o segundo casamento dos sacerdotes viúvos são
completamente excluídos.

O Casamento é celebrado com grande solenidade dentro de um rito chamado


« coroação ». O precepto do Cristo concernindo a unicidade do casamento é
tido por absoluto e exigências disciplinárias muito estritas são apresentadas
nesse assunto ao clero – impossibilidade por um homen que contratou
casamento com uma viúva de ser ordenado sacerdote - mas o divorcio é
admitido nos casos em que a graça do sacramento encontra – se
manifestamente privada de sua eficácia, seja por falha de um dos conjugues
(adultério) ou impossibilidade material de realizar o laço conjugal.

A Penitência , como no Ocidente, hoje, se tornou um ato « privado ». Ela


apresenta – se, por uma parte, como a reconciliação de um pecador que as
suas faltas afastaram da Igreja e por outra parte, como uma « Cura da alma »
ou « confissão ». As diversas fórmulas de absolvição em uso têm uma forma
deprecativa - oração do sacerdote para o perdão do penitente: nessas orações,
sempre é Deus que perdoa e não o sacerdote. Porém, no séc.XVII, o
metropolita de KIEV, PIERRE MOGHILA, introduziu no Ritual eslavo que ele
publicou, uma oração de inspiração latina que comporta uma fórmula de
absolvição redigida na 1° pessoa pelo sacerdote, ( Ego Te absolvo ) . Essa
fórmula está actualmente em uso nas igrejas eslavas e da Romênia.

A vida litúrgica encontra – se assim no centro da piedade ortodoxa ; ela realiza


e expressa o mistério da presença divina na Igreja, proclama a Verdade
dogmática ; ela resolve também , numa ampla medida, o comportamento
moral dos fiéis, incitando – os , tanto pela penitência quanto pelo jejum, tanto
á glorificação do Criador e a alegria do banquete messiánico.Ela ritma as suas
vidas associando – as a cada manhã e cada noite , cada dia da semana , cada
estação do ano, e assim em cada acontecimento maior da vida do homem –
seu nascimento, seu casamento, sua morte – aos grandes fatos da Revelação e
comunicando –lhes , em cada ocasião, a graça única da Redenção.

Essa vida litúrgica sendo, essencialmente, um culto comunitário, o edifício que


serve regularmente de sitio á assembleia adquire, naturalmente, uma
importância particular ; E nisso de novo, BYZANCE criou uma arte que, no
decorrer de todo o seu desenvolvimento, foi um sucesso notório na expressão
pictural dos dogmas critãos e na resposta que ela dava aos problemas do
sentimento religioso. A importância que essa arte adquiriu na vida da Igreja do
Oriente foi tão grande que ela suscitou , nos séc. VIII e IX , a grande crise
iconoclasta : apenas uma arte intimamente ligada aos dogmas e á vida
religiosa podia suscitar ao mesmo tempo uma oposição tão feroz e um número
tão importante de defensores apaixonados. No decorrer dessa crise, a Igreja
vai definir a natureza dogmática da veneração das imagens ; ali , está a
matéria das decisões do VII Concílio ecumênico (NICÉE. 787). Os Santos Padres
proclamam ; « Nós definimos que as Santas Imagens - em cores, mosaicos, ou
qualquer outra matéria – devem ser expostas nas santas igrejas de Deus , sobre
os vasos e vestidos litúrgicos , sobre as paredes e móveis, nas casas e nas
estradas ; a imagem de nosso Senhor Deus e Salvador Jésus – Cristo, a de nossa
Soberana , a imaculada e santa Mãe de Deus ; as dos veneráveis Anjos e as de
todos os Santos homens. Essas representações , de fato, a cada vez que são
contempladas , levam aqueles que as contemplam a comemorar e amar os
seus Protótipos. Nós definimos também que elas sejam beijadas e que sejam
o objeto de veneração e de honra (.... ..... em grego) , mas não objeto de um
verdadeiro culto (..... em grego) que concerne o Objeto de nossa fé e convém
apenas á única natureza divina...A veneração oferecida á imagem transmite –
se , de fato, ao Protótipo ; aquele que venera a imagem , venera nela a
realidade que ela representa ».

A distinção estabelecida pelo VII ° Concílio entre « CULTO » ou « ADORACÃO »


(.... em grego) de Deus , e a VENERACÃO (.... em grego) das Santas Imagens está
destinada antés de tudo a refutar as acusações de idolatria cujos ortodoxos
eram objeto por parte dos iconoclastas. Ela guarda toda a sua atualidade hoje,
notadamente para definir para os protestantes o sentido verdadeiro dos
ícones na ortodoxia ; muito freqüentemente , de fato, fala – se de um
« CULTO » e adoração das Imagens Santas, enquanto que essas palavras não
poderiam serem usadas aqui , na medida em que elas nem coincidem com a
palavra grega « ..... », formalmente excluida pela decisão de NICÉE. Mas sobra
disso tudo que um valor dogmático positivo é atribuido á veneração dos
ícones ; esse valor, está essencialmente baseado sobre a realidade da
ENCARNACÃO do VERBO, Filho de Deus , afirmam todos os defensores das
Imagens, de S : J. DAMASCÈNE até o patriarca NICÉFORE, reconhecendo que
Ele tornou – Se verdadeiramente homem ; invisível, incognocível , e
indescriptível , tornando – Se visível, cognocíve l e podendo ser descrito na
carne que foi d’ Ele. Essa carne, portanto é deificada ; ela ,em se – mesma,
tornou – se fonte de graça. As imagens que A representam, devem então
reflectir esse carácter divino ; eis porque a arte bizantina , com as suas
convenções e tradicionalismo, encontrou – se particularmente apta em tornar
– se uma verdadeira arte cristã... Como todas as controvérsas dogmáticas dos
primeiros séc. ,as querelas iconoclastas tinham tudo á ver com a cristologia ;
no fundo , os iconoclastas recusavam a realidade da Encarnação e defendiam a
noção de um Deus totalmente transcendente ; quanto aos ortodoxos, mesmo
afirmando a realidade da natureza humana em Cristo , eles não esqueciam que
essa natureza era deificada, que ela pertencia em próprio á única hipóstase do
Verbo e que então, as imagens de Cristo , assim como as da Virgem e dos
Santos que comungam em Cristo á deificação, devem ser imagens santas e
veneradas.

Essas imagens constituem então um elemento essêncial da piedade ortodoxa.


Algumas dessas imagens tem reputação de serem milagrosas e reconhecidas
como tais pela Igreja que instituiu para elas festas litúrgicas especiais : assim
como retratos de personagens particularmente célebres ou queridas podem
suscitar em nos sentimentos particularmente fortes , assim também certos
ícones podem ter o privilégio de aproximar particularmente o Protótipo do
coração dos fiéis, suscitando neles atos de fé e manifestar assim, enfim, o
poder soberano de Deus.

Esses diversos aspectos da piedade e da espiritualidade que caracterizaram e


ainda caraterizam o cristianismo bizantino encontraram , no decorrer da Idade
Média, os seus melhores defensores no meio dos MONGES.

Mais acima anotamos que o MONAQUISMO cristão apareceu nos séc. III e IV ,
como uma antítese á nova situação de relativo conforto que a Igreja tinha
encontrado sob a proteção do Império. A elite dos cristões preferiu fugir para
o deserto e testemunhar assim que o Reino de Deus é um Reino futuro e que
a Igreja não podia encontrar na terra um refúgio permanente. O sucesso
contínuo da ideia monástica em BYZANCE prova que esse sentimento
escatológico nunca enfraqueceu – se ; o monaquismo bizantino tornou – se até
o apoio da Igreja contra o arbitrário dos soberanos e impediu – A tornar – Se
uma Igreja de Império.

A sociedade bizantina reconheceu aos Monges esse papel excepcional ; de


fato, foi nos mosteiros que foram procurados os candidatos ao episcopado, foi
ali que se modelou a LEX ORANDI bizantina em sua forma definitiva, são os
Monges que obtiveram sobre os iconoclastas uma brilhante vitória moral e
provocaram assim o retornamento do poder imperial para a Ortodoxia.

No decorrer de Sua história, o monaquismo ortodoxo conheceu formas


diversas, desde o anacoretismo , cujas origens estão nos desertos do EGÍTO ou
de PALESTINA , até as grandes comunidades , disciplinadas pelas REGRAS de S.
PACÔME ou de S. BASÍLIO .

O Eremitismo , ainda chamado no Oriente de « HESICASMO »(.... em grego ,


querendo dizer « quietude, repouso espiritual »), está fundamentado sobre a
prática contínua pelo Monge de uma oração interior, constante e
« monológica » ; « Que o nome de Jésus permaneça colado a tua respiração ; Tu
conhecerás então a alegria do repouso ! »(14).

(14).  « Echelle du Paradis, degrés 27 ». Trad . francesa em J . GOUILLARD, « Petite Philocalie de la
prière du coeur », coll. « LIVRE DE VIE », Ed. SEUIL, Paris, 1968, p. 86-93.

Cidadão do céu, o monge encontrará – se em comunhão constante com o seu


Senhor, retomando continuamente e sem nenhuma interrupção - durante o
seu trabalho e também durante o seu sono – uma curta oração invocando o
nome de Jésus : as vezes o « ... ... em grego », as vezes « Senhor J. C, Filho de
Deus vivo , tem piedade de mim ! ».As vezes até , ele dará um sentido literal ás
palavras de S. J. Clímaco e ordenará a oração de Jésus no ritmo de sua
respiração . Ele procurará o Reino de Deus «  no interior de se – mesmo » ; o
Batismo e a Eucaristia conferem , de fato, a todo cristão o privilégio de viver em
Cristo e de possuir em seu coração o dom do Espírito Santo. Grandes místicos
ortodoxos estão surgindo então do meio hesicasto ; S. MAXIME LE
CONFESSEUR , (séc. VII), S. SYMÉON O NOVO TEÓLOGO (séc. XI), S. GRÉGOIRE O
SINAÏTA (séc. XIV). No séc. XIV , os hesicastos - encabeçados por um grande
teólogo ; S. GRÉGOIRE PALAMAS, arcebispo de THESSALONIQUE – vão se
posicionar na avant – guarda para defender a ortodoxia dos danos de uma
filosofia que negava a possibilidade de uma real comunhão com Deus desde a
terra. Foi para PALAMAS a oportunidade de fazer adotar uma série de
Concílios (1341, 1347, 1351) com formulas teólogicas que confirmavam a plena
realidade de comunhão com Deus , acessível aos cristões em Igreja, comunhão
que os Padres gregos chamavam de « DEIFICACÃO ».( 15).

(15). Cfr. J. MEYENDORFF. « S. GRÉGOIRE PALAMAS e a mística ortodoxa » (Coll. « Maîtres
spirituels », Ed. SEUIL, Paris, 1959) e « Introduction à l’ étude de Grégoire Palamas », Coll. « Patristica
Sorbonensia », Ed.SEUIL , Paris, 1959).

Ao lado do hesicasmo, o Oriente cristão conheceu igualmente outro tipo de


vida monástica, que se tornou clássico no Ocidente ; a grande comunidade
disciplinada e litúrgica. S. Pacôme e particularmente S. Basílio de Césarée
deram aos monges de seu tempo REGRAS que conheceram uma permanêcia
notória durante séculos. S. THÉODORE , abade de um grande mosteiro de
CONSTANTINOPLA de STOUDIOS ( ?) e defensor da ortodoxia contre o
iconoclasmo ( séc. IX) foi o grande codificador dessa REGRA na época
bizantina. Submetidos em todas as coisas ao abade , os Monges « studites »
estavam enxergando o uso do seu tempo como totalmente regulamentado
entre a Igreja, o refeitório e trabalho. Nos mosteiros comunitários desse tipo a
Liturgia e a hinografia bizantinas conheceram o seu desabrochar definitivo ; a
antiga hinografia - em particular a de S.ROMAIN o MÉLODE, o genial poeta do
séc.VI – foi derretida dentro de um sistema estrito que se conformava com as
formas de um ofício monástico, adotado tal qual pelo conjunto da Igreja de
hoje.

A tendência hesicasta e a tendência cenobítica existiram todas as duas dentro


da Igreja bizantina e existam ainda na Ortodoxia de hoje. Mesmo se as vezes
entravam em conflito, elas conheceram algumas formulas de coexistência. As
vezes , as grandes comunidades viram aparecer no seio delas místicos que
praticavam a mais pura espiritualidade hesicasta conformando – se também ás
regras da comunidade : assim , um S.J. Climaque pôde ser o abade de um
grande mosteiro sinaíta ; assim o hesicasmo pôde florescer em pleno
STOUDIOS, nos séc. X e XI, junto de S. SYMÉON o PIEDOSO e S. SYMÉON o
NOVO TEÓLOGO. Formula original da vida monástica, as federações de
mosteiros – no Monte ATHOS, no Monte – OLYMPE, no Monte S. AUXENCE-
toleraram em seus seios ao mesmo tempo grandes comunidades e eremitérios
hesicastas. Apenas a comunidade do Monte ATHOS sobreviveu até os nossos
dias. Na origem , a península atónita estava povoada de anacoretas ; S.
ATHANASE (séc. X) fundou ali a primeira grande « LAVRA » (N.T. ; estabelecimento
monástico com celas separadas umas das outras) ; mais tarde o território inteiro do
ATHOS foi dividido entre os grandes mosteiros federados sob a autoridade de
um governo central , PROTATON, porém os diversos estatutos – que variaram
no decorrer da história – sempre providenciaram a existência do SKITI e de
KELLIA onde vivem os hesicastos mergulhados na « oração pura ». As REGRAS
das comunidades prevêem, elas também, a prática pelos Monges da oração de
Jésus.
Assim o monaquismo bizantino mostra uma unidade notória de inspiração ,
mesmo se deixa aos diversos temperamentos pessoais o meio de expressar –
se livremente. O Monge, que ele viva sozinho ou em comunidade, é uma
testemunha e um proféta do Reino de Deus que há de vir.O seu ministério é o
ministério destinado em servir a Igreja e o mundo. É notório constatar a esse
respeito que a Igreja sempre recusou aprovar as tendências que isolavam os
Monges da Igreja e lhes atribuiam uma missão « essencialmente » diferente e
superior á dos outros cristãos ; no plano institucional, os mosteiros, na Igreja
ortodoxa, sempre são submetidos á autoridade do bispo da diocése sobre a
qual eles se encontram e são assim integrados a vida da diocése. A Igreja do
Oriente jamais conheceu ordens religiosas « DISPENSADAS »da submissão
cânonica aos bispos diocesanos. É mesmo dentro da Igreja e para a Igreja que
o monaquismo é chamado a realizar a sua missão particular.

Os ritos litúrgicos de BYZANCE, a riqueza inesgotável da arte religiosa, a


autoridade espiritual dos Monges, o uso na liturgia de uma língua
compreensível para o conjunto dos fiéis, um clero casado, e então
psicologicamente próximo dos fiéis, uma concepção de Igreja que permite uma
ampla responsabilidade do conjunto do povo cristão na vida eclesial, todos
esses elementos - aos quais BYZANCE deu a forma que nós lhes conhecemos
hoje - permitiram á Igreja ortodoxa de preservar nos séculos uma vida eclesial
extraordinariamente orgânica. Também de Byzance, ela herdeu traços
históricos menos positivos, como a noção de um Estado sagrado que justificou
excessos de nacionalismo moderno. É á nossa época que pertence distinguir ,
nessa herança, por parte, a Tradição da Igreja, expressão do que é revelado, e
por outra parte, as tradições humanas que, no decorrer dos séculos,
amontoaram – se inevitávelmente.

Essa distinção , freqüentemente dolorosa, as vezes progressiva, apenas pode


ser feita com a participação do Espírito Santo que ensina em « toda verdade ».
É Ele que , sem nada retirar á liberdade humana, guia a Igreja até a realização
final.

Fim p. 69.
A Igreja russa de S. Thereza não possui exemplar desse livro , para emprestar e
permitir preencher as lacunas existentes, nesse capítulo , de 4 páginas. Vou
procurar perto da Igreja russa de Súiça, VEVEY, como já lhe informei.

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