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LITURGIA ATRAVÉS DAS DIVERSAS ÉPOCAS CULTURAIS

OBJETIVO: Conhecer as diversas épocas culturais e nas quais o culto da Igreja de Deus se
encarnou, como ai foi celebrado, para ter presente as novas exigências das culturas hoje. Cada
época celebrou fundado na Sagrada Escritura, padres e nas concretizações litúrgicas das Igrejas do
Oriente e do Ocidente.

SC 21 -"Há, na liturgia, uma parte imutável, de instituição divina, e outras, sujeitas a


modificações, que podem e devem variar no decurso do tempo, desde que apresentem aspectos
menos apropriados à natureza íntima da própria liturgia ou que se tenham tornado obsoletos".

1. ÉPOCA DO NT - AS FORMAS APOSTÓLICAS FUNDAMENTAIS


Jesus e os apóstolos pertenceram a uma cultura que sabia celebrar, fazendo festa para
recordar as grandes maravilhas de Deus.
O mistério pascal de Cristo e da Igreja, é o definitivo evento a ser celebrado como
consequência da fé que aderiu ao anúncio de Jesus crucificado e glorificado, como salvador
enviado pelo Pai, no Espírito Santo.
Os diversos ritos santificavam a pessoa inteira, pois geravam a Igreja que vivia em Cristo.
Assim se compreende:
1. a celebração do batismo;
2. a fração do pão no rito fundamental da ceia da Nova Aliança;
3. as diversas orações como hinos;
4. imposição das mãos para encher do Espírito, tanto os batizados, quanto os que eram
investidos no sacerdócio apostólico, como carisma específico no ministério;
5. ungir os enfermos e impor as mãos.

A liturgia cristã primitiva passou por sérias e duras rupturas com a liturgia judáica, pela
convicção de que não eram mais ritos capazes e salvar para sempre e privados do Espírito. Com o
advento do mistério pascal, todos os sinais prefigurativos cessaram. O Sábado, a circuncisão, as
cerimônias do templo, os sacrifícios, e as diversas prescrições legais caducaram. Rompendo com o
culto sacerdotal templário, se embasam nas expressões religiosas da piedade da vida sinagogal e da
comunidade de Qumrân.
O novo aceno está em adorar o Pai no Espírito e na Verdade da Palavra Revelada, ou
precisamente, adorar o Pai, por meio de Cristo Vivo, no Espírito Santo, presente na comunidade dos
santos.
O novo culto é espiritual, trinitário, eclesial e escatológico, dentro da mais rica criatividade,
espontaneidade e liberdade de expressão, desde que conforme a sã hortodoxia.

2. ÉPOCA GREGO-ROMANA; LITURGIA E IGREJA MISSIONÁRIA

Período marcado pela abertura e transição da fé pascal para novas culturas. É a passagem do
Evangelho de Cristo do mundo hebraico e aramáico ao mundo helênico através da língua siríaca e
grega (Koiné) e latim.
-Epístola dos Apóstolos (Séc. II 130/140) - Celebração pascal anual como momento da
morte do Senhor, porém, não no 14 de Nisan, ou qualquer dia, nas somente no Domingo.
-Liturgia de festa comenorando a morte de Jesus celebrada por todos os apóstolos, durante a
noite, em vigília até o galo cantar, e terminava com a ceia eucarística.
-Domingo, dia primordial de festa, marcado pela: pela celebração eucaristia que proclamava
a morte do Senhor; dia único para a ordenação do Bispo, Presbítero e Diácono; iniciação cristã;
louvor divino (orações comunitária).
Eucaristia estreitamente cristológica - sintética; desenvolvendo a história da salvação;
influência do mundo helênico-cristão (elementos do ser, como fundamentos de todas as coisas).
-Apologias: Judaísmo e cristianismo. A teologia apologética do século II "culto sem
derramamento de sangue, sem sacrifícios materiais", leva a discutir com grupos que queriam a
verdade, fundamento do culto aos deuses. Daí a grande novidade culto cristão no espírito e na
verdade.
Os ritos pagãos: iniciação na comunidade, ritos de passagens, onde os iniciados vivem
juntos. Assim na Eucaristia, o gesto de lavar os pés, pois Jesus assim o fizera. A Igreja condenava
os ritos mistéricos e ponderava-os na liturgia. Ex: escrutínios para o batismo, que era típico dos
ritos mistéricos pagãos.

-Língua: passagem da comunidade primitiva: Aramáico, hebráico e depois o grego. A


comuidade de Roma fundada nos anos quarenta ou cincoenta, usava a Koiné. Crescendo a
comunidade dos romanos, o latim vai prevalecendo. A Latininização iniciou-se não em Roma, na
Àfrica Setentrional. No fim do quarto século, bilingue. Tem sentido celebrar em grego quanto o
povo fala latim?
-Construção e Obras de arte dos cristãos - a Domus Ecclesiae: reunião numa sala de casa de
família, pois a comunidade é o corpo de Cristo, casa espiritual e não templo como habitação da
divindade.
Casas do ano 200 foram transformadas em 232 em casa da Igreja, com quartos e pinturas.
Neste século se multiplicam essas casas. No século IV já estão presentes em todas as partes, sendo
decoradas com os eventos do AT e do NT.

3. ÉPOCA CONSTANTINIANA - SEC. IV: LITURGIA E CULTURA IMPERIAL


a) Efeitos da liberdade: proteção aos cristãos como privilégio pelos sofrimentos suportados:
-Direito de construir templos para o culto;
-Novo tratamento aos Bispos e ofertas de lugares imperiais e hospitalidade extraordinária;
-Depois do Sínodo de 313 no palácio na mulher do Imperador, foi construída a Igreja do Latrão,
sendo a primeira basílica cristã em Roma, outra em Jerusalém e em 330 se inicia a Basílica de São
Pedro.
-Passagem da Igreja doméstica para a Basílica, acarretou mudança forte na mentalidade, e tudo era
centrado na Basílica: eucaristia, batistério, tumba dos santos e mártires (sem banquete fúnebre).
Temos as Basílicas no Foro Romano (Julha e Emília); Palácio dos Flávios (palatino) no Foro
Imperial. Os arquitetos da Basílica de Cosntantino trabalharam em outras basílicas.

b) As Insígnas Litúrgicas: A Capa Magna que cobria o Imperador e seu cavalo, agora será
usada pelos Bispos e padres (aliança entre Igreja e Império). O Bispo preside no lugar de Deus, com
toda a majestade. Logo, a importância da sede para presidir, como sede de magistrado e símbolo da
dignidade divina, do triunfo. O Bispo tem jurisdição civil, exercendo forte influências nas decisões
do governo temporal.
As etiquetas da corte imperial são assumidas pela liturgia: saudação, beijo, genuflexão,
aclamação, procissão de triunfo (espécie de parusia do Senhor). Entram os pronomes de tratamento
para os dignitários investidos pela poder e a dignidade da ordem.
As vestes, mitra, anel, escola cantorum, fogo, o palium qual imperador (são os elementos
que se encontram no rito solene de entrada). São as influências imperiais na liturgia: o Bispo de
Roma como Pontíficie Máximo, equiparado ao Imperador; Bispos e padres formam uma espécie de
Senado Romano. A entrada do Imperador nos eventos com muita pompuosidade, influência na
abertura da missa. Retrato do Imperador assim o retrato do Papa. A carreira eclesiástica modela
como a carreira civil. A Igreja diante da festa pagã "Natalis solis invicti", inspira a festa do Natal
cristão.
Período do desenvolvimento pleno das famílias litúrgicas ocidentais e os ritos orientais até a
uniformidade.
4. LITURGIA ROMANA CLÁSSICA - ROMANIDADE DA LITURGIA FIM DO
SÉC. IV ATÉ SÉCULO VIII

Destaque: do século V ao VIII, liturgia para corresponder as exigências da cidade de


Roma. A liturgia clássica para ser celebrada pela nata superior da sociedade romana. O modelo
autoritário, jurídico, típico da "cultura superior", influencia toda a vida da Igreja.
O homo classico, versado na filosofia grego-romano, na retórica, na arte e no direto, exige
um culto mais especulativo, intelectual. Nos fins do século IV, os papas pertencem a estes grupos
de gênio romanos, que influenciam a liturgia, pois esta devia ser feita para as nobres autoridades.
Composição da liturgia clássica:

1). Elementos formais: ritos sóbrios, breves, delicado, prático (canto somente para cobrir os
momentos);
2). Elementos teológicos: os conteúdos dos ritos. Ex. Cano Romano, onde só o Bispo ia ao
altar, com sobriedade, severo, ninguém abria a boca. Devido a centralização na razão, nunca se
exprimia os sentimentos. Deus é invocado secamente. Eucaristia, não para comer e beber, mas panis
celesti.
3) Estilo: cursus, marcada pela cadência.

5. ÉPOCA FRANCO-GERMÂNICA: INCULTURAÇÃO EM BASE A FORMA


CLÁSSICA

Com a aliança entre papado e os francos (754), dar-se a passagem da liturgia romana a
franco-germânica.
Os livros litúrgicos romanos passam cedo para o território franco-germânico. O Gelasiano
Vetus (séc.VIII) sob Pepino, um Gregoriano (do papa Adriano sobre Carlos Magno), os Ordines
Romanus, encontrando-se com a liturgia galicana, geraram muitas influencias, sobretudo, quando
os peregrinos impressionados com a liturgia romana, transportaram-na para o novo reino.
Qual o fim de unificar toda a liturgia ? Por vontade do Rei Stefânio II (754), que queria
reinar mais unido a Roma e poder manter viva a única liturgia. Admirando a liturgia romana por ser
clara, lógica, essencial e ordenada, se poderia demonstrar maior veneração à Igreja de Pedro, pois
quanto mais unido a Pedro (Igreja de Roma), maior é a garantia de salvação.
Nesse período, cada diocese tinha a sua própria liturgia, e por questão política, se controla a
liturgia como meio de controlar a Igreja.
O Papa Adriano I, ofereceu um sacramentário Gregoriano a Carlos Magno que foi adaptado
e se tornou o "gregoriano adriano com suplemento". Este Sacramentário originou mais tarde o
Pontifical romano germânico do século X.
Este período é importante pela inculturação da liturgia ao gênio franco-alemão: os elementos
romanos clássicos são alterados. Somente depois, Roma os purificará, gerando o rito romano puro,
típico.

6. ÉPOCA MEDIEVAL: RETORNO AO ESTADO ORIGINAL DAS FORMAS


CLÁSSICAS - SÉCULO X ATÉ FINAL DO SÉCULO XII.

Período de magnífico desenvolvimento e de grandes tensões. No século X decadência da


Igreja de Roma, famílias rivais, eleições de papas indignos, investiduras, Imperadores Otonis.
Imperador queria fazer a reforma da igreja de Roma, impondo candidatos ao papado que
pertencessem ao clero germânico. Assim, os Bispos vindo para Roma traziam a liturgia romana já
restaurada. Eram os ORDINES compilados no Pontifical Franco-Germânico do século X.
A liturgia romana depende da liturgia germânica. No Império de Otone II (983-1002)
preocupado com a vida litúrgica do clero romano, percebeu a falta do CREDO na missa. Assim
Eurico II (1014) consegue que se inclua o Credo no ORDO Dominical. No pontificado do Papa
João XIX (1024-1032) em S. Pedro não eram celebrados regularmente nem os ritos da semana
santa, pois o papa se encontrava fora com os amigos.
Questão de fundo: liturgia romana degenerada, pelos abusos crescentes gerados pelo
feudalismo, simonia e concubinato. A situação se remedia com a reforma severa da liturgia
monástica Cluny (910), Cisterciensis, Premostratensis (1134). Destaca-se a celebridade de Gregório
VII, reformador da liturgia juntamente com o Papa Inocêncio III.

7. ÉPOCA SECUNDUM USUM ROMANAE CURIAE - SÉCULO XIII E XIV

História: Papas Inocêncio III até Bonifácio VIII. Império Barbarossa até Ferdinando III
(1252). Figuras extraordinárias: S Domingos, S. Francisco, Clara, etc..
A Cúria: Papa mais os capelães: comunidade residindo no palácio Papal Laterano,
fazendo o ofício em comum. Os mendicantes expandem a liturgia da cúria romana (os frades
memores). Os pregadores (dominicanos) expandem a liturgia tipo franco-romano.
Livros: pontifical da Cúria Romana; pontifical Guilherme Durand Missal e breviário.
Vida litúrgica: séculos de muito vigor, grandeza, marcada pela influência monástica,
ou no apogeu com os doutores escolásticos. O Positivo: dois séculos de crescimentos pelos frades
mendicantes. Negativo: clero faz, povo passivo, basta só vê e com pouca comunhão. Método
alegórico.
Característica da piedade diante de Jesus: mais realista, mais humano e mais
intimista; altares relicários, novas imagens de Jesus e de Maria; novas vestes; missas multiplicadas
com explicações alegóricas. A liturgia da cúria papal para a liturgia paroquial porém já adaptada.
No século XIV e início do século XV - alta idade média período de grave crise e
decadência na liturgia. Crise de autoridade na Igreja, cisma ocidental, tendo dois papas (1379-
1417).

8. ÉPOCA TRIDENTINA; CENTRALIZAÇÃO DA LITURGIA: REFORMA


E CONTRA REFORMA.

9. ÉPOCA DO BARROCO: LITURGIA E CULTURA DE FESTA; CORPUS


CHRISTI, PROCISSÕES, DEVOÇÕES MARIANAS, MÚSICA.

10. ÉPOCA DO ILUMINISMO: LITURGIA SOBRE O RACIONALISMO: O


ILUMINISMO CATÓLICO CONTRA OS RITOS EXAGERADOS E DEVOCIONISMOS
EXAGERADOS: O SÍNODO DE PISTOIA; EDIÇÕES DE LIVROS LITÚRGICOS.

11. A RESTAURAÇÃO DE 1800: REAÇÃO LITÚRGICA. O


MOVIMENTO LITÚRGICO ALEMÃO, ITALIANO, FRANCÊS; A CIÊNCIA
LITÚRGICA.

12. O MOVIMENTO LITÚRGICO CLÁSSICO E A REFORMA DO


VATICANO II

____________________________
B. NEUNHEUSER: Storia della Liturgia attraverso le epoche culturali, CLV, Roma 1983;
E. CATTANEO, Il culto cristiano in occidente, CVL, Roma 1992;
B. NEUNHEUSER, História da Liturgia, in DL, Paulinas, S. Paulo 522-543;
A. G. MARTIMORT, A Igreja em Oração - Princípios da Liturgia, Vol. I, Vozes, Petrópolis 61-90.

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