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CASO SÍLVIO SANTOS

DRAMA EM REPRISE - CASE DO SEQÜESTRO - SILVIO SANTOS


Na manhã do dia 21 de agosto de 2001, São Paulo mais uma vez vira palco de um
seqüestro, envolvendo a filha mais velha do apresentador e empresário Silvio Santos.
Antes de realizarmos alguns questionamentos técnicos, cabe a nós como consultores e
atuantes neste mercado ressaltar que o seqüestro da filha de Silvio Santos, Patrícia
Abravanel, poderia ser considerado como previsível e enquadrado no perfil exato do alvo no
Brasil.
Muitas empresas de consultoria estrangeiras, falam e escrevem sobre a questão do
risco de um executivo de empresa multinacional ser alvo de um seqüestro profissional ou
realizado por quadrilheiro, visando a pura extorsão. Isto é pura bobagem, pois o risco
histórico no Brasil, é de menos de 1% de um estrangeiro ou executivo de empresa ser alvo
de seqüestro.
Fica claro que quando falamos de seqüestro, estamos falando daquele que visa a
extorsão mediante a troca da vida de seu refém. No Brasil os casos envolvendo estrangeiros
ou executivos de empresas só aconteceram na época do regime militar e por pura
motivação política. O momento era outro!
Deve ficar claro que o que aconteceu com a família de Silvio Santos foi por pura falta
de consciência do perigo, que ele e sua família estavam expostos, e, em função disto a total
falta de um esquema mínimo de segurança pessoal e empresarial.
Por esta razão Silvio Santos acaba de reforçar as estatísticas onde a principal
motivação do crime de seqüestro no Brasil é o dinheiro - 98%; 97% dos "alvos" não
possuíam qualquer esquema de segurança. Ressaltamos quando falamos em esquema de
segurança estamos falando de um esquema profissional e não de um vigia, sem
qualificação e treinamento adequado, com o objetivo de abrir e fechar os portões da
residência.
O maior problema do empresariado brasileiro é a questão da negação. Isso mesmo
negação, ele consegue negar internamente, como se fosse uma defesa a possibilidade de
vir a ocorrer o seqüestro com ele ou com qualquer membro de sua família. Por esta razão
não toma os cuidados mínimos e necessários para dissuadir e dificultar a ação dos
marginais.
A análise do caso Silvio santos, infelizmente engrossa esta nossa tese, pois como é
possível uma pessoa da projeção dele não possuir absolutamente nada em segurança,
como se fosse um cidadão invisível!

O SEQÜESTRO
O seqüestro ocorreu, conforme as estatísticas falam: ou os marginais montam
estratagema para emboscar a vítima ao redor da sua residência ou do trabalho, locais onde
a pessoa é obrigada a passar todos os dias. Por esta razão é que o seqüestro só acontece
durante os dias de semana, por que a vítima possui uma rotina!
A segunda opção, quando esta é muito fácil é realizar o seqüestro na residência de
seu alvo ou às vezes no seu local de trabalho. No caso de Silvio Santos a escolha foi à
residência, pois inexistia qualquer barreira seja humana ou eletrônica, implantada de forma
profissional. Tanto é que é verdade que os dois seqüestradores, que não eram profissionais,
ficaram dentro da garagem quase que 15 minutos, esperando o primeiro membro da família
que saísse para ser seqüestrado.
O acesso na residência foi realizado burlando o vigia, passando-se por falso carteiro.
Quando o vigia abriu a porta para receber a correspondência foi rendido pelos dois
seqüestradores, que já conheciam a rotina da residência. Aí entra um ponto importante:
como é que ninguém percebeu, num bairro como o Morumbi, cheio de empresas de pronta
resposta e equipes de segurança, pessoas paradas observando a rotina de uma residência
e seguindo a vítima até seus locais de rotina, sem nada perceber!
Quando a Patrícia desceu para pegar seu automóvel, foi rendida e levada no seu
próprio veículo para o cativeiro. Outro erro grande por parte dos marginais, o que
demonstrou total amadorismo, pois se o carro tivesse sistema de rastreamento este seria
bloqueado automaticamente ou o sistema dizeria onde o veículo foi levado.

OS QUADRILHEIROS
Os marginais que realizaram o seqüestro podem ser considerados como amadores,
pois embora tivessem realizado um planejamento da ação, levantado informação através do
livro de biografia de Silvio Santos, levantado dinheiro para locar o cativeiro, cometeram
inúmeros erros, erros esses que acabaram por denunciá-los.
Uma operação de seqüestro exige uma logística muito bem elaborada, uma
determinação para uma negociação longa, visando obter um retorno considerável sobre o
investimento realizado. A forma como foi feita toda a operação demonstrava que os
marginais eram amadores em seqüestro, sem uma noção clara da infra-estrutura que
necessita.
Eram de classe média baixa, sem passagem pela polícia, com uma capacidade de
raciocínio boa, tanto é que o local do cativeiro foi locado muito próximo da própria residência
da família, fato inédito e até podemos dizer inteligente. A polícia no mesmo dia realizou
diversas operações de busca em locais considerados críticos, tendo em vista o nível dos
marginais - serem amadores - sem nada encontrar.

O RESGATE
Com objetivo de haver uma comunicação rápida e eficiente, os seqüestradores
deixaram na residência um telefone celular pré-pago.
A negociação foi realizada pela própria família - Silvio Santos - em 6 dias corridos, no
dia 27 de agosto foi pago o resgate à noite.
Pelo amadorismo dos marginais, estes marcaram o local de entrega do resgate com
cal - cerca de 4 km - o que levantou suspeitas de uma patrulha da guarda municipal da
cidade de Cotia. Seguiu o rastro, trocou tiros com os seqüestradores e acabou prendendo
um deles.
Na mesma noite Patrícia foi levada até a marginal, em seu próprio carro e depois
solta para retornar a sua residência por volta das 2:30 da madrugada.
Teoricamente acabava mais um caso de seqüestro, com a volta da vítima para o
aconchego do lar.

DAY AFTER
Silvio Santos e sua filha Patrícia, deram uma coletiva no dia seguinte a sua chegada,
erro que deve ser evitado, pois a vítima sempre encontra-se abalada e muito sensibilizada.
Tanto é que na coletiva Patrícia chegou a falar:
”Eu perdôo os sequestradores. Não perdôo o sistema de corrupção. Quero que o
juízo de Deus venha sobre o sistema de corrupção do Brasil, porque o povo brasileiro
merece ser cuidado. Isso aconteceu para vocês buscarem a Deus. Isso serviu para vocês,
para o Brasil..." "Ele acordou na segunda feira e falou "hoje você vai embora, não importa se
você pagar o resgate ou não, você vai embora". Eu estava com a bíblia lá e ele escreveu
assim: Você é a melhor pessoa do mundo..."
Isto claramente demonstra que Patrícia estava sob o efeito da Síndrome de
Estocolmo.
O crime de SEQÜESTRO deixa a vítima na condição de refém, onde o isolamento no
cativeiro desgasta o físico e o psicológico de tal maneira que os efeitos pós libertação são
drásticos. A mais comum é a chamada Síndrome de Estocolmo. Esta síndrome foi
descoberta em razão de um assalto a banco que teve lugar em Stockolm, Suécia, em 23 de
agosto de l973, durante o qual quatro reféns foram mantidos na caixa forte por l3l horas.
Depois da libertação, os reféns estavam confusos e suas reações eram as de que ainda
estivessem sendo mantidos como reféns.
As reações foram analisadas e classificadas sob três aspectos:
l) - Reações positivas da vítima perto do seqüestrador;
2) - Reações negativas da vítima perto das autoridades;
3) - Reações positivas do seqüestrador perto da vítima.

A reação positiva entre o seqüestrador e o seqüestrado deve ser alimentada, para


uma melhor sobrevivência dos reféns. No passado, pensava-se que o tempo era o único
fator importante para o aparecimento da Síndrome de Estocolmo, mas estudos recentes
comprovam que o "fator tempo" não é o único e nem o mais importante.
O surgimento dos sentimentos positivos depende exclusivamente do tipo de contato entre os
seqüestradores e o refém.
A síndrome de Estocolmo pode ter outro impacto nas negociações. Os reféns partem
para uma ajuda ostensiva aos seus seqüestradores. Citamos como exemplo o incidente do
Prince's Gate - Inglaterra onde os reféns ajudaram a fuga de um dos seqüestradores. Em
outras ocasiões, durante um ataque, os reféns seguiram as instruções dos seqüestradores e
não as dos policiais que tentavam resgatá-los. Casos mais comuns também são os reféns
recém-libertados de seus cativeiros, onde estes proporcionam informações falsas ou
incorretas para a polícia, num visível esforço de proteger os seqüestradores.
O melhor caminho para a proteção destes efeitos para os "possíveis alvos" é estar
preparado para os contatos positivos dos seqüestradores e tentar elaborar internamente as
barreiras psicológicas, impedindo os efeitos da síndrome de Estocolmo. Não se pode
combater os contatos positivos, mas sim tentar retirar destes contatos uma melhor maneira
de sobreviver no cativeiro procurando não se envolver na relação.
Outro erro grande por parte da família de Silvio Santos foi a não implantação de um
sistema de segurança profissional, pois o articulador do seqüestro ainda se encontrava em
liberdade, solto. Seus companheiros já se encontravam presos e por esta razão seria
prudente implantar reforço da sua segurança pessoal e de sua família.

PRISÕES
Através da prisão do sequestrador no dia da entrega do resgate, outro membro da
quadrilha foi preso, o irmão de Fernando Dutra Pinto. A partir daí a caçada começava até
que no dia 29 de agosto Fernando foi identificado em um flat e policiais foram até o local
para averiguação. Houve erro na operação, troca de tiros e Fernando conseguiu fugir
novamente.
Assustado, pois matara dois policiais na troca de tiros, resolveu em um ato de
desespero, voltar a residência de Silvio Santos, com o objetivo de tentar sua vida.
Dormiu em um bosque próximo e logo de manhã invadiu a casa, pulando o muro da
casa. Pegou toda a família como refém e tudo novamente começava.

NEGOCIAÇÃO SUI GÊNERIS NO CASO SILVIO SANTOS (Lílian Ferracini)


30 de agosto, 7h30. Silvio Santos descera para tomar café e ler os jornais do dia
quando, entre a cozinha e a sala de ginástica de sua mansão, deparou-se com Fernando
Dutra Pinto, seqüestrador de sua filha Patrícia. Silvio Santos sugeriu que os dois sentassem
à mesa da cozinha, ofereceu café e prometeu que o ajudaria.
Fernando ficou nervoso quando viu a chegada de seguranças de uma empresa
acionada pelos vigias da mansão e de policiais militares que se postaram diante da casa.
Começou a gritar, ameaçando matar o apresentador se houvesse invasão. O momento mais
crítico ocorreu quando ele viu dois PMs entrarem pela lateral da residência.
Um dos policiais era o major Serpa, do Batalhão Policial do Morumbi. Ele prometeu a
Fernando dar-lhe todas as garantias caso ele se entregasse. O seqüestrador mandou os
PMs saírem da mansão, mas aceitou o pedido do apresentador de liberar sua família e os
empregados.
Com a chegada de delegados e investigadores da Polícia Civil, Fernando voltou a
ficar nervoso e a fazer ameaças ao apresentador. Exigiu que os civis deixassem a casa e
disse que só negociaria com a Polícia Militar, que enviou soldados e oficiais do Grupo de
Ações Táticas Especiais (Gate) ao local.
A partir daí, a negociação foi realizada pelo Capitão Diógenes Viegas Dalle Lucca,
comandante do GATE e gerenciada pelo Comandante Geral da PM, Cel. Rui César Mello
que já estava no local. Eram 13 homens do grupo, preparados para todas as quatro
alternativas táticas: a negociação, o uso de força não-letal, o tiro de comprometimento e, em
último caso, a invasão.
Silvio Santos tomou conta da negociação, conversando com os policiais e informando
quais eram as novas exigências de Fernando. Foram requeridas as presenças do
governador Geraldo Alckmin e do secretário da Segurança, Marco Vinício Petrelluzzi.
Segundo Dalle Lucca, "essa ocorrência é surpreendente em todos os sentidos. A
começar pelo fato do criminoso ter retornado à casa do Silvio Santos. É fácil entender esse
comportamento uma vez que ele tinha no dia anterior se envolvido na morte dos dois
policiais, que gerou uma perseguição muito grande. Ele sabia que estava para ser preso e
tinha medo de acabar sendo morto. Então a princípio acredito que ele voltou para lá para
poder achar um local seguro, mas obviamente é muito comum depois que o sujeito
experimenta uma situação de domínio, fazer algumas exigências como, por exemplo, pedir
um helicóptero para ir para outro local".
Cap. Lucca assegura que em nenhum momento pensaram em atender essa
exigência, pois uma das premissas do gerenciamento de crise é impedir que o marginal se
desloque. "Nós temos alguns princípios básicos dentro do gerenciamento de crise. O
primeiro deles é o isolamento do local e nisso a Polícia avançou muito nos últimos anos.
Hoje o isolamento é levado muito mais a sério; já tivemos muitos problemas no passado por
falta de organização nesse isolamento o que gera muitas dificuldades para a ocorrência.
Isso porque aqui no Brasil o marginal que faz o refém é o criminoso comum, ele não é o
mentalmente perturbado e nem o politicamente motivado; normalmente nem tem a intenção
de fazer o refém, ele só o faz quando sua delitiva dá errado, é cercado pela Polícia, e o
medo de morrer em confronto o leva a fazer um refém. Ora, ele pega o refém com um único
objetivo: garantir a própria vida e se esse é objetivo dele, qual é o remédio que a Polícia tem
que dar para liberar essa situação de uma forma muito tranqüila? Dar garantias de que ele
não vai morrer. E você faz isso com um bom isolamento do local. O segundo ponto
importantíssimo é a contenção da crise que implica criar condições para que o sujeito não
mude de um local para outro como, por exemplo, ele estava para ocupar um outro aposento,
uma outra casa ou mesmo pedir um carro (algo que já aconteceu no passado e que
devemos evitar ao máximo). Essa foi uma das primeiras coisas que eu falei, porque ele
queria sair dali e ir para o quarto do Silvio Santos que é mais amplo. E o terceiro passo é o
início das negociações".
Assim, deu-se início o processo de trazer o criminoso trazer o sujeito à calma, pois
dessa forma ele é capaz de raciocinar e de interagir com o negociador. Depois, estabelecer
uma relação de confiança entre o criminoso, pois ele tem que ver o negociador como um
caminho para conseguir sair dali vivo.
"Outro ponto surpreendente foi o fato do Silvio Santos conversar mais comigo do que
o próprio Fernando. Ele estava agindo de duas formas: egoísta e altruísta. Em princípio,
para uma pessoa que não é muito do ramo, parecia que ele estava defendendo o Fernando,
mas na verdade o Silvio Santos aproveitando o ferramental que lhe é peculiar - por ser um
grande comunicador, uma pessoa muito rápida na sua inteligência verbal - percebeu que
tinha condição de assumir o controle e aí entra o aspecto egoísta porque ele era a pessoa
que corria o maior risco. Então, para ele era muito interessante criar todo esse cenário para
poder mostrar para o Fernando que era ele que estava no controle da situação e iria fazer
tudo para ajudá-lo. Quem estava de fora, ou até mesmo eu que estava negociando, sentia
isso como uma dificuldade, sem dúvida, porque o Silvio Santos para mostrar esse domínio
para o Fernando, acabava até sendo um pouco cômico e às vezes um pouco inconveniente
na negociação. Como por exemplo, houve uma hora em que o Silvio falou: 'olha, se o
governador não vier, eu não vou falar com ninguém. Vou ficar jogando baralho porque
comida e bebida tem à vontade, não tem problema'. E isso deu segurança para o Fernando,
mas para nós virou um grande complicador, porque não queríamos mobilizar um recurso
maior porque era uma crise muito fácil de resolver, nós sabíamos que o Fernando estava ali
para garantir a vida dele.
Cap. Lucca também pondera outros fatores que interferiram naquele caso. Apesar de
em situações como essas, negociações demoradas serem benéficas para a solução da
crise, a comoção social que o caso gerou, com o acompanhamento da mídia, principalmente
a televisiva, criou uma necessidade de solucionar rapidamente a questão. Além disso, o
comitê de crise já havia lhe informado da disposição do Governador Geraldo Alckmin de ir
até a casa do Silvio Santos. Por isso, o governador foi levado até o local, embora não ser
essa uma atitude tecnicamente adequada. "Nós tínhamos um problema de tempo
comprimindo nossa ação. E eu, embora contrário à doutrina, fui obrigado a me sensibilizar,
pois percebi que se aquela exigência fosse atendida resolveria a crise de imediato".
Àqueles que se surpreenderam com a atitude do Capitão - que dá treinamentos e
palestras em todo o país - ele responde dizendo que a doutrina é um parâmetro para ser
seguido, mas é preciso bom senso e naquela situação ele agiu de forma totalmente
consciente. "Aliás, medida preocupo porque hoje o GATE é referência no país. Eu participo
com muita freqüência de seminários, congressos e encontro de pessoas de forças especiais
e sempre defendo algumas questões referentes à aplicação da doutrina. Muitos
questionaram o fato de se abrir um precedente, mas quero deixar claro que a doutrina serve
para nós como uma viga mestra, mas permite algumas flexibilidades e acho que foi muito
razoável o que fizemos lá. Foi uma atitude pensada. A doutrina não pode ser uma coisa
estanque, deve apenas servir como um encaminhamento, como uma trilha e não como um
trilho. Por exemplo, já aconteceu comigo de eu garantir para um marginal que mantinha
reféns que ele seria transferido e depois que ele entregou as armas, eu poderia não ter
cumprido o acordo, mas fizemos questão de atender o pedido porque buscamos a
credibilidade. Até pouco tempo atrás eu achava que não estaria até vivo para ver o bandido
chamar a Polícia. É por falta de confiança que o bandido chamava repórter, deputado,
padre, porque não acreditava na Polícia. Essa ocorrência do Silvio Santos projetou ainda
mais o nome do GATE nesse aspecto da preservação da vida, da integridade física, da
dignidade, independente do sujeito ter feito o que fez. O Fernando não é um bandido
comum, é um bandido perigoso, mas nós estamos aqui para cumprir a lei. Se a lei não é
adequada, se a lei vai colocar o Fernando de novo nas ruas em pouco tempo, não importa.
Eu vou cumprir a lei porque esse é o nosso parâmetro".
O comandante do GATE afirma, ainda, que o Governador não correu perigo algum
porque a situação foi muito bem analisada. Geraldo Alckmin não foi até lá para negociar, e
sim apenas para legitimar a negociação que já havia sido realizada. Além disso, o
governador estava protegido por dois escudos balísticos e por diversos policiais.
O GATE foi criado há 13 anos e tem como missões principais o atendimento de
ocorrência com reféns localizados, marginais domiciliados em locais de difícil acesso, locais
onde sejam precisos trabalhos em altura, técnicas de rapel, uso de helicóptero para poder
acessar ocorrências com explosivos e ocorrência envolvendo.É uma tropa com 64 policiais
militares que têm três momentos únicos: treinar, dar treinamento e operar. Todos os oficiais
do GATE têm cursos no exterior, principalmente seu comandante que tem vários cursos no
exterior em seu currículo, além de ser um TEDAX - Técnico Especialista em Desativação de
ArtefatosExplosivos.

NOSSA OPINIÃO - NEGOCIADOR


Como bem falou o Capitão Lucca, a doutrina tem de ser seguida, sabemos que a
posição dele, em especial era extremamente crítica, pois a decisão não dependia dele como
negociador, mas sim de uma variável incontrolável: a política.
A negociação de reféns, igual a qualquer outro estudo envolvendo comportamento
humano, é uma ciência inexata e está em constante mudança. Existem muitos pontos de
vista a respeito alguns dos quais são contraditórios. A situação pode mudar de uma hora
para outra, dependendo da forma como a negociação fosse ser conduzida.
Os aspectos mais importantes da negociação com reféns são:
- preservar a vida dos reféns;
- garantir a libertação dos reféns, dentro dos métodos em concordância com a política
do governo;
- estabelecer e manter comunicações;
- ganhar tempo;
- obter informações;
- tranqüilizar o(s) seqüestrador(s);
- estabelecer entendimentos;
- persuadir.
Porque Negociar? Uma variedade de alternativas é possível para que o GATE
pudesse lidar com a crise, incluindo:
- entendimento e negociação;
- entendimento e exigência de rendição;
- uso de elementos químicos;
- uso de atiradores de elite;
- assalto e resgate.

O assalto e resgate são uma ação arriscada e possui um percentual alto de mortes.
As chances de perda de vida num assalto são grandes. Atiradores de elite podem atirar e
atingir a pessoa errada, engenhos explosivos podem detonar automaticamente, agentes
químicos são muito lentos, e existe a ameaça de fogo. As exigências para rendição
normalmente resultam em mais acidentes e tomam muito mais tempo.
Acima de tudo, quando se realiza uma investida primeira, pode ser difícil à retomada
das negociações, mas começando pelas negociações ainda se terá todas as outras
alternativas abertas. Qual seja o assalto!
Se formos realizar uma análise da negociação, onde o governador foi um interlocutor,
ou um avalista da negociação, podemos considerar que houve uma quebra de doutrina, foi
aberta uma exceção que poderá custar caro daqui para frente. Podemos citar como exemplo
a negociação entre os guerrilheiros do MRTA que tomaram a residência do embaixador do
Japão no Peru. Assim que tomaram a residência, lançaram o seguinte comunicado:
"NOSSA MISSÃO É LIBERTAR NOSSOS COMPANHEIROS, TEMOS
PRISIONEIROS DE GUERRA AQUI E GARANTIMOS QUE SEUS DIREITOS SERÃO
RESPEITADOS, MAS, SE O GOVERNO NÃO CEDER, COMEÇAREMOS A EXECUTAR
ESSES PRISIONEIROS"
Este comunicado foi feito pelo comandante Huerta, e exigia também que o Presidente
Fujimori fosse o negociador direto desta crise. O primeiro sintoma ou sinal de que os
guerrilheiros não estavam preparados para matar ou morrer, foi identificado no próprio
comunicado, pois este não dava prazo para que o governo peruano respondesse. O
segundo sintoma foi quando o governo designou o Ministro da Educação como interlocutor e
os terroristas não deram resposta alguma. Aliás, esta foi uma resposta clara que o governo
não iria fazer concessão aos guerrilheiros.
A colocação do Ministro da Educação como interlocutor oficial, foi a principal tática,
do governo peruano para ganhar tempo, pois o "NEGOCIADOR" não possui plenos poderes
para a tomada da decisão. A primeira ordem nos métodos é a de ganhar tempo, o qual é
necessário pelas seguintes razões:
- reduzir a tensão ambiental;
- conduzir as negociações para fora da zona de conflito;
- permitir a implementação de medidas para resolver a situação de crise, entende-se
como obter informações e traçar planos alternativos de realizar o resgate.
Por esta razão, entendendo a posição do Capitão Lucca, como negociador e não
tendo opção de comando, não podemos aceitar a quebra de uma regra básica. A colocação
do governador como avalista e decisor número um, junto com o seqüestrador, abriu um
precedente que poderá ter conseqüências no futuro.

FONTE: ANTONIO CELSO RIBEIRO BRASILIANO, Superintendente da Brasiliano &


Associados
CASO DA EMBAIXADA IRANIANA EM LONDRES
30 de abril a 05 de maio de 1980 – Londres
Mataram 01 refém e jogaram o corpo fora
06 terroristas iranianos
11 minutos
Polícia atendeu inicialmente e depois passou para o Exército (SAS)
Grandes danos porcausa do incêndio

TERRORISTAS
Grupo Árabe Mártires
Número total de 06
Antitomada islâmica
Treinados no Iraque
Passaportes falsos (Iraque) com vistos estudantis
Um membro desistiu

REFÉNS
Número total de 26 (homens e mulheres)
Iranianos, ingleses e paquistaneses
O policial Trevor Locke estava no local com um revólver e seis munições; ele quem passava
as informações e acalmava os reféns.

ARMAMENTO
02 Pistolas polonesas
03 Pistolas Browing High Power
01 Revólver
05 Granadas de mão russas
400 Munições

1º DIA
Tensão em todos os envolvidos
Reféns separados
Exigências:
soltura de 91 prisioneiros árabes
independência para Khuzestan
aeronave pronta para partir em 24 horas
Terroristas colocavam barricadas nas janelas e escadarias
Achavam que o assalto seria pelo teto
Foi colocado dispositivo de escuta no apartamento vizinho

2º DIA
50 cafés da manhã são entregues
HT foram entregues para negociação
09:00 – tiro disparado dentro da Embaixada
11:25 – refém masculino é solto (simula doença)
12:00 – primeiro prazo final expira
14:00 – novo prazo final
Mudaram a rota das aeronaves passando por cima da Embaixada para encobrir o barulho
das escavações
Trouxeram uma tradutora que ficou em estado de choque, não suportou a tensão e acabou
sendo dispensada
Novas exigências
solicitada presença dos embaixadores de Iraque e Argélia

3º DIA
Reféns relocados
Terroristas encontram-se com a TV BBC
Terroristas planejam fuga
Terroristas informados sobre a cobertura da mídia
Vigilância eletrônica estabelecida dentro da embaixada
Mulher iraniana informa ter ouvido barulhos

4º DIA
Refém solto em troca da cobertura da mídia
Cigarros são entregues no cativeiro
Mulher paquistanesa solta por estar estocolmizada
Reféns relocados
Descobre que Iraque financiou os terroristas

5º DIA
Terroristas começam a discutir entre si
Lovansani (refém) chama atenção
Último refém foi solto
Embaixador iraquiano recusa-se se encontrar com terroristas
Terroristas passam recado ao policial Locke
Lovasani é morto (ele era refém pró Aiatolá Khomeini)
Mulla (religioso) conversa com terroristas
Mais tiros – corpo de Lovasani jogado para fora
Controle da operação passa para o SAS

AÇÕES DO SAS
30 de abril
12:00 terroristas são avisados pela BBC que SAS assumiu o controle
13:03 aviso da Scotland Yard
15:00 grupo precursor do SAS voa para Londres
17:00 grupo do SAS recebe briefing
19:30 Time antiterror é chamado
23:59 Time antiterror chega a Londres

01 de maio
02:30 SAS estabelece perímetro
03:30 SAS em Stand by

02 de maio
vigilância eletrônica
Briefing de reféns soltos
Construção de cargas explosivas
Cabos posicionados no telhado
Ensaios
Planos atualizados constantemente
Outras opções planejadas
Troca de times
Repouso dos homens

OPERACIONAIS DO SAS
Total de 44 operacionais
14 homens para recepção de reféns
04 entraram pela frente
06 entraram pelos fundos do 1º andar
04 entraram pelos fundos do porão
08 entraram pelos fundos do 3º andar
04 entraram pelos fundos do 4º andar
02 fizeram a cobertura frontal
02 fizeram a cobertura nos fundos

05 dias treinando e ensaiando mas nada foi aplicado, acabaram fazendo um assalto de
emergência.

19:00 iniciou o assalto porque era o horário de jantar da imprensa. Controle dos reféns foi
feito fora, nos jardins, porcausa do gás no interior do prédio.

LIÇÕES
Chegar o mais rápido no local da crise
Pouca informação passada aos operacionais
Mecanismos de distração/gás (faca de dois gumes)
Controlar reféns
Entrada explosiva é essencial
Cabos novos não são confiáveis
Vestir operacionais iguais
Planos simples (exercícios básicos)

SUCESSO DEPENDE DE:


Alto nível de treinamento
Operacionais altamente motivados e disciplinados
Ordens claras
Ensaios
Todos totalmente comprometidos com a missão
O número de policiais vai depender do número de reféns e suspeitos
Cuidado com: “meu pé está na frente e minha mente está atrás”
CERCO DA EMBAIXADA DO IRÃ EM LONDRES
A tomada da embaixada do Irã em Londres por terroristas, entre 30 de abril e 05 de
maio de 1980, atraiu a atenção mundial e colocou o S A S em grande evidência: o desfecho
ocorreu sob as vistas de fotógrafos e cameramen de televisão e o sucesso no resgate criou
no público uma expectativa de vitória certa, sempre que o SAS entra em cena.
A embaixada do Irã em Londres fica na Princes Gate nº 16, do outro lado do Hyde
Park. Foi tomada às 11h30min de uma quarta-feira, 30 de abril, por seis homens armados
com três pistolas automáticas de 9mm e granadas de mão de fabricação chinesa.
Oan, de 27 anos, comandava os outros cincos homens, todos na faixa dos vinte e
poucos anos. Todos eram da região do Arabistão ou Khuzistão, no extremo sul do Irã, e
resistiam aos arianos do norte do país, então no poder. Muitos apoiaram o golpe do aiatolá
Khomeini contra o xá apenas para descobrir que o novo governante não era muito diferente
de seu antecessor no trato com as minorias do País.
Na ação em Londres, eles disseram representar o chamado Movimento Democrático
Revolucionário para Liberação do Arabistão, grupo de orientação marxista-leninista, com
base na Líbia, e cuja causa na época era a autonomia regional (não a independência) do
Arabistão.

NEGOCIAÇÕES
Havia 29 pessoas na embaixada quando os terroristas a tomaram: quatro ingleses e
25 iranianos, homens e mulheres, três dos quais conseguiram escapar nos primeiros
minutos. Inicialmente, os rebeldes queriam que 91 prisioneiros arabistaneses fossem soltos
pelo aiotolá, com prazo final marcado para as 12 horas da quinta-feira, 1º de maio. Nessa
noite, conseguiram contato com a Polícia de Londres e com a imprensa.
Um dos reféns, uma mulher iraniana estava doente, foi solta na noite de quarta-feira.
Um inglês, igualmente doente, saiu na manhã seguinte. Conseguiu-se um adiamento do
prazo dado pelos terroristas quando a Polícia concordou em transmitir uma mensagem
deles para a imprensa. Assim, a hora fatal – 14 horas na quinta-feira- passou sem que
nenhum dos lados tivesse alguma iniciativa.
Na Sexta-feira de manhã, haviam sido feitos muitos contatos entre a Polícia e os
terroristas, mas as vidas dos reféns continuavam sendo ameaçadas. As negociações
continuaram por todo o sábado e conseguiram a libertação de outros dois reféns em troca
de uma transmissão pelo rádio dos motivos e objetivos dos rebeldes.
Um desses reféns foi solto no início da noite de Sábado, mal começou a transmissão
pelo noticiário das 21 horas da BBC. Depois que os terroristas confirmaram que sua
mensagem fora reproduzida palavra por palavra, o outro refém saiu. O clima dentro da
embaixada melhorou, ainda mais depois do jantar, uma boa refeição enviada pela Polícia.
Ao longo do domingo, o governador inglês discutiu o problema com vários embaixadores
árabes, mas não houve solução. Dentro da embaixada, o fato de maior importância até
então foi a libertação de um refém iraniano que começou a passar muito mal.
Na segunda-feira, os terroristas estavam evidentemente nervosos. Uma discussão
aos berros entre dois reféns ingleses e a Polícia, por volta do meio-dia, certamente não
ajudou em nada. Ás 13h30min a paciência do líder rebelde Oan aparentemente se esgotou -
e houve um tiro: o próprio Oan atirou em Abbas Lavasani, do corpo de funcionários da
embaixada, durante uma discussão pelo telefone com a Polícia. Foi a gota d’água. Havia
dúvidas sobre se o refém tinha sido morto ou não - mas só até às 19 horas, quando o corpo
de Lavasini foi atirado à rua pela porta da frente da embaixada.
Os homens do SAS tinham observado o local já no primeiro dia da invasão, e
estavam o tempo todo acampados em barracas a cerca de 03km dali. A Polícia de Londres
tinha descoberto em que parte da embaixada os terroristas e suas vítimas estavam e o que
eles estavam fazendo. Assim, os homens do SAS foram bem informados sobre a situação
quando a Polícia pediu ajuda.

O RESGATE
No plano original, agiriam doze homens dividido em três grupos – formação
costumeira. Dois grupos entrariam por trás do prédio pelo telhado e desceriam por cordas.
Quatro desses homens iriam até o chão, e os outros tentariam entrar pelo balcão do
primeiro andar. O terceiro grupo entraria pela lateral do prédio a partir do balcão do prédio
vizinho. Uma vez na embaixada, os três grupos tentariam libertar os reféns sem que fossem
feridos.
Tudo foi preparado para que o impacto da entrada, assim que percebida, fosse o
maior possível. Os doze homens se vestiriam de preto, dos pés à cabeça, incluindo
máscaras contra gás de borracha preta. Entrariam usando cargas explosivas, granadas de
atordoamento (flash bangs) e bombas de gás lacrimogêneo CS. A combinação de explosão,
barulho, fumaça, velocidade de ação e a própria aparência dos homens deveria funcionar
perfeitamente. Para isso, os SAS tiveram de estudar detalhadamente a planta do prédio e
gastar algumas horas decorando o rosto de cada refém.
Precisamente às 19h26, os homens da retaguarda começaram a descer do telhado.
Os dois primeiros não tiveram o menor problema mas um dos homens do segundo par teve
sua corda travada, acidente comum nesse tipo de ação. Na frente, os SAS apareceram no
balcão do prédio número 15 e rapidamente passaram à embaixada (nº 16) - imagem
registradas nas fotos da imprensa. Ao mesmo tempo a Polícia falava ao telefone com os
terroristas para distraí-los. Foi então que as granadas atordoantes explodiram, as luzes se
apagaram e tudo virou confusão para os rebeldes. Irromperam alguns incêndios,
provocados pelas bombas e granadas e então alguns homens da parte de trás estavam
ainda nas cordas - que imediatamente cortaram, atirando-se ao balcão, risco preferível ao
de ser queimado.
Os SAS irromperam rapidamente na sala. Dois terroristas foram mortos no ato: um
deles começou a atirar nos reféns de uma sala do andar de cima, mas só provocou alguns
ferimentos. Em poucos minutos, cinco dos seis homens armados estavam mortos, enquanto
o sexto se protegia entre os reféns. Então, todos os sobreviventes foram levados para o
jardim. Nenhum refém foi morto na ação.

Elaborado por: ONIVAN Elias de Oliveira


Fonte: Command & Control Course – T.E.E.S. Brazil – 2000 eTropas de Elite – Ed. Nova
Cultural
CASO DA EMBAIXADA JAPONESA NO PERU
Num rápido e brutal assalto, as tropas de Fujimori resgataram todos, menos um dos
72 reféns.
Os Comandos peruanos esperaram toda noite embaixo da residência do embaixador
japonês em Lima, fossilizaram-se dentro de um tortuoso túnel rodeado de aço, carregados
com armas, munições e coletes, eles ainda tinham uma sala suficiente para descansar e
tentar dormir. Os túneis eram trabalho de mineiros profissionais e as tropas podiam
caminhar eretos, de duas em duas pessoas andando lado a lado, através de câmaras
iluminadas e ventiladas. Pela manhã, depois de uma sessão final de planejamento, os
oficiais chegaram escorregando através das edificações vizinhas e de dentro dos túneis
para juntarem as Forças de Operações Especiais do Exército, Marinha e Força Aérea no
subsolo para o ataque.
O Coronel Juan Valez Sandoval, líder de uma Esquadra, sentou para escrever uma
carta de despedida para os homens que ele treinou por meses. “Se amanhã vocês lerem
esta carta é porque eu já estarei morto”.
Além disso os oficiais de inteligência estavam ouvindo aos microfones que eles
tinham infiltrado na residência, rasteando os movimentos dos 14 guerrilheiros do Tupac
Amaru e seus 72 reféns Vips. Os oficiais sabiam o que aguardar: ao meio dia os reféns
estariam no quarto do primeiro andar e os rebeldes que estavam retendo os prisioneiros
teriam começado seu regular jogo de futebol, provisoriamente na sala de estar do térreo. Foi
mais ou menos dessa forma que as três horas da tarde, os ouvidores escutaram oito
guerrilheiros, inclusive seu comandante Nestor Cerpa Cartolini, deixando seus fuzis e
começado uma gritaria, um jogo de golpes.
O Exército passou a palavra rapidamente ao Presidente Alberto Fujimori, que estava
do outro lado da cidade com sua mulher Suzana. Instantaneamente ele deu a ordem para
atacar. “Nós sabíamos que era o momento de menor risco”.
Ainda era um risco. O assalto poderia tornar-se um desastre sangrento. Mas não foi.
Foi um triunfo para Fujimori e seus mais criticados militares. Somente 15 minutos após os
comandos de explosão e tiros dentro da residência, 71 reféns estavam livres, todos os
guerrilheiros estavam mortos e apenas um refém e dois soldados estavam mortos.
Fujimori nunca teve uma oportunidade de resolver o problema pacificamente. Do
começo, dia 17 de dezembro quando os rebeldes invadiram a residência do Embaixador
durante um coquetel de gala, Cerpa tinha demandado notícia de 400 dos seus camaradas
em prisões peruanas. Então, Fujimori disse que nunca iria concordar. Fez mais uma
tentativa de negociação só para encobrir as preparações para o assalto. Ele arranhava a
promessa de passagem segura para Cuba para os rebeldes, se eles quisessem e apontou o
Arcebispo Juan Luís Cipriani como negociador especial. Depois da incursão, como o
Arcebispo expressou sua simpatia para com as famílias dos mortos, ele cobriu seus olhos
com sua mão.
Cerpa deixou centenas de reféns caminharem fora da porta, mas ele mantinha
justamente, os 72 reféns de maior valor: Oficiais Seniores peruanos, o irmão de Fujimori,
Diplomatas estrangeiros e o Embaixador Japonês. O Presidente peruano assumiu que
eventualmente teria que combater para tê-los de volta. “As conversas com os guerrilheiros
não iriam chegar a lugar nenhum”, disse um oficial militar de alta patente. “Assim que os
túneis e os Comandos estavam prontos, eles agiram”. Os Estados Unidos ofereceram ajuda,
como também os britânicos, germânicos e israelenses, mas todos eles foram negados.
Embora Fujimori tivesse prometido informar o Governo Japonês antes de fazer qualquer
ação militar, ele não o fez, presumindo que o 1º Ministro Hyutaro Hashimoto diria “não”.
Fujimori prosseguiria sozinho. Ele articulou o dia 15 de fevereiro como o dia “D” para
o assalto, o oficial militar disse à TIME. Mas o ataque de fevereiro foi abortado porque os
guerrilheiros e os reféns estavam trocando de posições dentro da embaixada e o serviço de
inteligência não podia localizá-los. Então ele escolheu uma data no início de março, que foi
novamente adiada devido a Cerpa ter ouvido o barulho das construções dos túneis – o
Exército tentou encobri-las colocando caixas de som tocando música marcial – prevenindo-
se da escavação, Cerpa cessou as conversas com os mediadores do Governo e transportou
os reféns para o primeiro andar.
Depois que Fujimori articulou a data para a última semana de março para o assalto, o
Exército foi remanejado para infiltrar no mínimo 11 terminais de escutas dentro da
Embaixada. Alguns eram pequenos microfones infiltrados que permitia os oficiais de
inteligência comunicarem-se com o Comandante do Exército e da Polícia que estavam
sendo mantidos lá dentro. Os microfones foram levados para Embaixada quatro dias antes
da incursão pelos agentes de inteligência postos lá como doutores para checar a saúde dos
reféns. Os terminais foram cedidos pela C.I.A., de acordo com o oficial militar, e foram
ocultadas em peças pessoais como livros, violões e garrafas térmicas, que supostamente
foram enviadas pelas famílias. Os reféns sinalizavam abrindo as cortinas quando era seguro
comunicar-se.
Então, Fujimori deu a ordem para agir na semana passada, os Comandos não
atacaram imediatamente. Eles falaram com seus colegas lá dentro, contando a eles que
teriam 10 minutos para transmitir a notícia para os outros reféns que descessem e
cobrissem. E eles tinham uma solicitação especial: “tentem abrir uma porta pesada de metal
reforçada que conduz para a sacada do lado de fora do quarto principal”. Os peruanos
sussurravam suas advertências aos outros, incluindo o Embaixador Boliviano Jorge
Gumucio Granier. As notícias assustaram Gumucio, que lembrou-se instantaneamente que
os guerrilheiros praticaram mais de vinte vezes como eles reagiriam a uma incursão –
jogando granadas nos quartos ocupados por reféns. Gumucio não lembrou-se depois
quantos minutos ele esperou para o ataque começar, mas ele disse: “para mim foi uma
eternidade”. Juan Julio Wicht, um padre jesuíta que esteve na embaixada, embora com uma
oferta de liberdade, sustentou a palavra que os Comandos estavam vindo.
Os 126 de mais aborrecimento do que terror, de comidas mal realizadas e sem
banhos, reduziram o moral dos rebeldes e dos prisioneiros igualmente. Mas tornou-se pior
para os rebeldes, que tornaram-se desanimados e desatentos. “Isto nunca acabará”, disse
Gumucio. “Eles nunca esperariam algo em plena luz do dia”.
Assim que os guerrilheiros jogando fulbito (mini – futebol) estavam gritando “gol!”, o
chão explodiu embaixo de seus pés. Cinco foram mortos instantaneamente, e os outros
disputaram sua armas em direção à escada. No mesmo momento outra carga de explosivos
plásticos explodiram abrindo mais entradas dos túneis para o interior da embaixada. Ainda
outras explodiram do lado da fora da embaixada, e uma destruiu o quintal. “A casa inteira
balançou como papelão” , diz um tenente do Exército, e a fumaça rolou no céu assim que as
armas automáticas começaram a fazer barulho.
Comandos saíram dos túneis atirando. No balcão do lado de fora do quarto principal,
os Comandos encontraram uma porta exterior de madeira ainda trancada, ainda que os
reféns tenham aberto o interior do painel de metal. Um dos rebeldes atirou com sua AK-47
através da madeira e matou o tenente-coronel Valer. Este não é o relato da morte de Valer
dada por Fujimori, mas é a reportagem de um oficial que guerreou próximo ao coronel. As
tropas de Valer não golpearam a porta abrindo com uma granada e atacaram. O ministro
estrangeiro Francisco Tudela Van Bruegal-Douglas foi ferido na perna ao escapar. O
Comandos, interceptaram os guerrilheiros ao vir da sala de estar, atiraram neles na escada.
Numa outra sala no primeiro andar, um rebelde atirou num representante da Suprema
Corte da Justiça Carlos Giusti Acuña. Giusti morreu a caminho do hospital, possivelmente de
um ataque cardíaco. Durante um violento tiroteio em que o tenente-coronel Raul Jimenez
Salazar foi morto, outro refém, Ministro da Agricultura Rodolfo Muñante Sanguinette, teve
uma vista fechada. Um guerrilheiro entrou de forma violenta no quarto ele estava se
escondendo com outros e levantou seu fuzil, mas ele não apertou o gatilho. “Ele saiu sem
atirar ou jogar uma granada em nós” , Muñante relembrou. “Eu tive a impressão que o rapaz
subitamente sentiu-se mal sobre o que ele e os rebeldes tinham feito”. Fujimori, mudando a
voz, louvou Jimenez depois por sua liderança, dizendo, “ele foi o primeiro a abrir o caminho
para os seus companheiros”.
Todos os 14 guerrilheiros foram mortos e as conseqüências foram acusações, ou no
mínimo suspeita que alguns tentaram se render mas foram executados. Fujimori bravamente
negou que tivesse emitido a ordem de atirar para matar. “Minha única ordem”, ele contou
aos repórteres, “foi de resgatar os 72 reféns”. É quase a mesma coisa, claro. Tropas de
Operações Especiais são treinadas para matar rapidamente, para deter o cumprimento de
suas ameaças aos seus reféns. Comandos freqüentemente consagram seus reféns.
Comandos freqüentemente avisam os reféns para deitarem-se porque eles atiram em quem
se levantar. Quando as tropas especiais usando máscaras de gás arrebentaram a fumaça
grossa dos corredores da embaixada semana passada, eles tiveram a preocupação de
destinguir reféns de guerrilheiros. Um tenente-coronel gritou; “quem se mover receberá um
tiro”. Ele quase atirou num refém que agarrou sua mão.
Assim que a fumaça começou a clarear lá dentro, os Comandos organizaram uma
fileira de reféns nas suas mãos e joelhos como rastro de formiga, como elas se colocam em
fila. Eles rastejaram para o balcão do quarto e embaixo do lado de fora para a escada por
segurança. “Manti meu nariz no chão”, disse Gumucio, “mas sabia que naquele momento
parar-nos era a última coisa que os rebeldes poderiam fazer”.
Verdade, eles estavam mentindo em relação a multidão ensangüentada em volta da
residência. Cada vez que um Comandos passando por um dos corpos, um oficial do exército
contou à TIME, ele bombeara-o com mais uma bala para certificar-se. “ Cada terrorista
deveria ter levado 500 tiros quando tudo acabasse”, disse o oficial. “As cabeças deles
estavam destruídas”.
Se o Tupac Amaru que operava desde 1982, será destruído é menos certo. Fujimori
reivindicou antes, e foi desaprovado a captura da residência do embaixador em dezembro.
Agora ele não está tão confiante. “Eles não estão necessariamente eliminados”, disse ele.
“Há outros terroristas lá fora, e manteremos os olhos com mais cuidados neles”. Se eles
pudessem, aqueles guerrilheiros iriam tentar mostrar Que ainda estavam no negócio com
outro ataque”. Outra grande organização peruana, Conduta Reluzente, provavelmente
gostaria de pôr outro ultraje para embaçar a vitória de Fujimori.
A popularidade do presidente pulo de 38% para 67% numa pesquisa feita semana
passada, durante a crise dos reféns. Mas se Fujimori quer disputar com sucesso a eleição
daqui a três anos, terá que fazer mais que perseguir guerrilheiros. Ele governa com um
quieto e frígido autoritarismo que terá de suavizar-se se for fazer sala para as reformas
sociais e democracia adicional que ele prometeu. Mas, semana passada, com seu rigor
antiquado, deslumbrou-se ao ver o corpo de Cerpa na subida da escada,
inquestionavelmente trabalho feito.

Traduzido por: ONIERBETH e ONIVAN Elias de Oliveira


Fonte: Revista TIME, Ed. 5 maio de 1997

CASO WACO - TEXAS


O ASSALTO
04 agentes ATF mortos
16 agentes ATF feridos
Várias pessoas mortas
51 dias de cativeiro
75 mortos ao final (homens, mulheres e crianças)
Ataque pelo Exército americano
Compra de armas automáticas pelos correios (seguidores da seita)

JUNHO 1992
ATF inicia investigações

JANEIRO 1993
ATF inicia vigilância

PLANO DE ASSALTO
Corpo inicial: 75 agentes
Entrada dinâmica
Caminhão de gado utilizado para aproximação e penetrar no local
Helicópteros
Posto de Comando distante 03 milhas do rancho
03 dias de treinamento numa base do Exército próximo
artigo no jornal (chamaram a imprensa para publicidade, promoção pensando que iria dar
tudo certo)

27 Fev 93
Artigos publicados em jornais
Nenhuma mudança de rotina no cativeiro
153 quartos de hotel para pessoal de apoio
policial/médico deu a dica para um repórter
28 Fev 93
80 veículos no comboio
07:00 mídia chega ao local da crise
07:30 saíram da base do Exército ao local da crise
Carteiro avisou a Koresh que Polícia estava chegando
Plano comprometido
Caminhões e helicópteros sob fogo
ATF sai e entra FBI

A TOMADA
Incidente de barricada
Armamento, comida, água, tinham tudo no cativeiro
Guerra psicológica

O PLANO DE GÁS
Crianças, idosos e mulher grávida
Incêndios

JUSTIFICAÇÃO
Condição de higiene (pessoas feridas, mortos, faltava comida, sem luz)
Promessas não cumpridas

PLANO DE GÁS APROVADO


Crianças a salvo do perigo
Somente Juiz Federal poderia abortar a missão

18 Abr 93
Presidente dos EUA foi informado e autorizou
Início do gás: 06:00
Sai o último sobrevivente: 15:30

RESULTADOS
ATF/FBI demonstram falta de preparo
15 reuniões no Congresso
FBI re-estrutura doutrina de Gerenciamento de Crises
Bomba de Oklahoma 02 anos depois houve críticas de grupos anti-governo porcausa de
Waco

LIÇÕES
Estrutura de comando e controle
Experiência dos comandante e líderes de times
Considerar todas as opções
Documentar ordens operacionais

Elaborado por: ONIVAN Elias de Oliveira


Fonte: Command & Control Course – T.E.E.S. Brazil - 2000
CASO ÔNIBUS 174

Todos puderam acompanhar de perto, pela a televisão, em 12 de junho do de 2000, o


assaltante Sandro do Nascimento, sobrevivente da chacina da Candelária, em 1993,
seqüestrou um ônibus da linha 174 (Gávea-Central), no Jardim Botânico, Zona Sul do Rio
de Janeiro .
Dez passageiros foram feitos reféns, entre eles, a professora Geisa Firmo Gonçalves,
morta ao final do incidente, assim como o próprio assaltante.
Sandro entrou no ônibus com um revólver calibre 38 e pulou a roleta. Vinte minutos
depois, dois policiais que passavam pela rua em uma viatura interceptaram o veículo,
alertados pelo sinal de um passageiro.
O motorista, o cobrador e outras pessoas conseguiram fugir, mas dez passageiros
ficaram retidos. A negociação para libertar os reféns teve início uma hora mais tarde,
quando o Batalhão de Operações Especiais chegou ao local com dezoito homens.
Sandro obrigou uma mulher a escrever mensagens nos vidros dos ônibus, simulou a
execução dela e colocou o revólver na boca de outras duas.
Às 18h49, o assaltante deixou o veículo usando a professora Geisa como escudo.
Um policial disparou um tiro que deveria atingir Sandro, a bala acertou ele. O bandido,
então, atirou na professora à queima-roupa, atingindo-a duas vezes nas costas e uma no
tronco.
Ele foi imobilizado e levado, ileso, para um camburão. Dez minutos depois, foi
asfixiado e morto por um policial.
Perto de 35 milhões de brasileiros acompanhou em tempo real o drama dos
passageiros do ônibus. Muitas orações foram feitas, muita tensão e um ar de muitas
emoções pairou sobre aquele ônibus. Sentimentos de vingança, insegurança, raiva e
tristeza.
No dia seguinte o ônibus estava de volta às ruas. Mas sempre quando ele passava ali
perto do clube militar, aonde teve o acontecimento; podia-se ouvir várias pessoas rezando
dentro do ônibus, apesar de nenhum dos passageiros ali dentro estar rezando. Não
importando o horário em que ele passava isso sempre acontecia, mesmo com o ônibus
vazio. Para terror do motorista e do trocador, quando o ônibus passava de madrugada por
ali os dois sempre ouviam a mesma reza, e nenhum passageiro estava sendo transportado.
Uma equipe de TV da rede Globo chegou a preparar uma reportagem sobre esse
fenômeno, mas na ultima hora foi cancelada. O que aconteceu foi que depois de um mês
rodando após o incidente, o ônibus quebrou e nunca mais voltou a rodar. Estava parado na
oficina da empresa servindo de sucata e tendo suas peças reutilizadas em outros ônibus.
A superstição sobre o 174 ficou tão forte que a empresa teve de acabar coma linha,
no lugar entrou a linha 158 (Gávea - Central), que faz o percurso idêntico.

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