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Em um primeiro momento, tem-se que, para que seja propriamente definido como
conflito, o enfrentamento em questão deve ter natureza intraespecífica, isto é, faz-se
necessário, para a configuração do conflito, que a disputa se desenvolva entre seres da mesma
espécie. Não é possível haver, dessa maneira, um conflito entre um homem e um cão, por
exemplo3. Faz-se necessário destacar, nesse ponto, que um conflito pode acontecer entre duas
vontades conflitantes dentro de um mesmo sujeito, ao que se denomina de “conflito
subjetivo”. O que interessa ao estudo do Direito e do presente trabalho, no entanto, é o
conflito intersubjetivo de interesses, isto é, aquele que ocorre entre dois ou mais indivíduos e
que pode representar perigo para o Estado, na medida que sua solução, caso não haja controle,
pode ser extremamente violenta4.
A autocomposição, por sua vez, apesar de também não possuir a figura de um terceiro
imparcial responsável por tomar uma decisão coercitiva, já se mostra mais avançada em
termos de garantir a justiça efetiva. Caracteriza-se sobretudo por ser uma forma de solução
altruísta, na qual uma das partes, estabelecendo diálogo com a outra, opta voluntariamente,
através de um acordo, por renunciar total ou parcialmente sua pretensão em face do
reconhecimento da pretensão do adversário8. O fato de não haver um terceiro responsável por
5
BENASAYAG, Miguel. Éloge Du Conflit. Apud: BUITONI, Aldemir. Mediar e conciliar: as diferenças
básicas. Jus Navigandi, n. 2.707, ano XV, Teresina, nov. 2010. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/17963/mediar-e-conciliar-as-diferencas-basicas/2. Acesso: 22 dez. 2016.
6
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. p. 9
7
GRINOVER, Ada Pellegrini. et al. Teoria Geral do Processo. 29ª ed. São Paulo: Malheiros Editores Ltda.,
2013. p. 29.
8
ALVIM, Op. cit. p. 9.
proferir e impor uma decisão, não significa, em absoluto, a impossibilidade de participação de
terceiros nos processos autocompositivos. Afinal, dois dos principais métodos de
autocomposição – a mediação e a conciliação – fazem uso de um terceiro (mediador e
conciliador, respectivamente) para auxiliar na resolução de controvérsias.
A conciliação, por outro lado, acontece, de maneira geral, quando não há vínculos
anteriores entre as partes, e o foco do procedimento não está no conflito, mas em sua
resolução. Nesse sentido, o conciliador não ultrapassa, como faz o mediador a “superfície do
conflito”12, preocupando-se mais com a realização de um acordo e menos em entender as
razões intersubjetivas que levaram ao conflito. Faz-se necessário, assim, um alto grau de
criatividade por parte do conciliador, a fim de que possa criar alternativas de acordos que
equilibrem os interesses de ambas as partes. É mister pontuar, aqui, que o conciliador poderá,
9
BRASIL. Lei nº 13.140, de 26 de junho de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm. Acesso: 22 dez. 2016.
10
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso: 22 dez. 2016.
11
CAHALI, Francisco José. Curso de Arbitragem: mediação, conciliação, Resolução CNJ 125/2012. 5ª ed. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 87.
12
BUITONI, Aldemir. Mediar e conciliar: as diferenças básicas. Jus Navigandi, n. 2.707, ano XV, Teresina,
nov. 2010. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/17963/mediar-e-conciliar-as-diferencas-basicas/2. Acesso:
22 dez. 2016.
conforme previsto no art. 165, § 2º do CPC, sugerir às partes possíveis soluções para o
conflito, desde que não ocorra nenhum tipo de constrangimento para que as partes se
conciliem, haja vista o caráter voluntário da autocomposição.
13
DIDIER JR. Fredie. Curso de Direito Processual Civil: Introdução ao Direito Processual Civil, Parte Geral e
Processo de Conhecimento. Vol. 1. 17ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2015. p. 277-278.