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5.10 A Análise de Entrevistas Semiestruturadas
christiane schmidt
1. Introdução
2 Procedimento e antecedentes metodológicos
1. INTRODUÇÃO
As categorias analíticas e os instrumentos para uma entrevista
semiestruturada, concebidas e realizadas no espírito da
pesquisa qualitativa, são desenvolvidas em resposta às
demandas do material coletado. Uma análise adequada à
técnica do questionamento aberto (ver 5.2, 5.3) não pode
interpretar e resumir o material de acordo com um catálogo
predeterminado de tópicos; isso só pode ser parcialmente
projetado antes que os dados sejam coletados.
Há uma variedade de técnicas analíticas para a análise de
entrevistas qualitativas (pesquisas destas podem ser
encontradas, por exemplo, em Flick 2002, caps 15–17;
Kuckartz 1997; Lamnek 1995: 107–125; Mayring 1999: 76–
101; Mayring 2000b: 51–54; Witzel 1982: 53–65). As técnicas
analíticas que são selecionadas para entrevistas
semiestruturadas no âmbito de uma investigação dependerão
dos objetivos, das questões e da abordagem metodológica –
e, não menos importante, de quanto tempo, equipamentos de
pesquisa e recursos humanos estão disponíveis.
A seguir, será apresentada uma estratégia analítica que se
provou no contexto de abordagens de pesquisa que postulam
um tipo aberto de compreensão teórica prévia, mas não
rejeitam pressupostos explícitos (ver 4.2) e a relação com as
tradições teóricas (sobre tal' abordagens orientadas para a
teoria' cf Hopf 1996; sobre a rejeição generalizada de
pressupostos explícitos, cf Glaser e Strauss, por exemplo,
1965a; cf também Fuchs 1984: 281ff.; Kelle 1996).
A estratégia analítica é aqui entendida como
253
253
reunir diferentes técnicas analíticas adequadas à análise de
entrevistas semiestruturadas. A breve descrição oferecida
aqui, que é orientada para a sequência da pesquisa prática,
destina-se a encorajar os leitores a desenvolver seus próprios
modos apropriados de análise.
2 PROCEDIMENTO E
FUNDAMENTO METODOLÓGICO
A estratégia analítica selecionada pode ser apresentada em
cinco etapas: primeiro – em resposta ao material – são
estabelecidas categorias para a análise. Numa segunda fase,
estes são reunidos num guia analítico, testados e revistos. Em
terceiro lugar, usando este guia analítico e de codificação,
todas as entrevistas são codificadas de acordo com as
categorias analíticas.
Em quarto lugar, com base nessa codificação, podem ser
produzidas visões gerais de casos; estes formam a base, na
quinta e última etapa analítica, para a seleção de casos
individuais para análises aprofundadas de caso único.
O princípio norteador dessa estratégia analítica é o
intercâmbio entre o conhecimento prévio material e teórico.
Esse processo de intercâmbio começa não apenas quando os
dados são disponibilizados de forma transcrita, mas no início
da coleta de dados – como uma espécie de interação entre,
por um lado, considerações teóricas em reação à literatura e
tradições e, por outro lado, experiência e observação durante
a exploração do campo de pesquisa. No decorrer desse
processo de intercâmbio, os pressupostos teóricos também
podem ser refinados, questionados e alterados.
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254 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA

Primeira etapa: formação orientada
para o material de categorias analíticas
A determinação das categorias analíticas começa com
uma leitura intensiva e repetida do material. O termo
'material' é usado aqui para se referir particularmente a
entrevistas transcritas completa e literalmente (ver 5.9;
sobre a inclusão de notas de campo e diários de pesquisa,
cf. Schmidt 1997: 546f.). Pressupõe-se que as entrevistas
tenham sido transcritas com o grau de 'precisão' exigido
(cf. Flick 2002: 176-220) e limpas de erros de transferência
por 'escuta corretiva' (cf. Hopf e Schmidt 1993, apêndice
C: 1 -3). É aconselhável (em todas as fases da análise sis)
trabalhar com suporte informático (ver 5.14).
A leitura de transcrições individuais é semelhante à
leitura de estudos de textos acadêmicos (sobre isso, cf.,
por exemplo, Stary e Kretschmer 1994). O próprio
conhecimento teórico prévio do pesquisador e as questões
de pesquisa orientam sua atenção na leitura das
transcrições. O objetivo é anotar, para cada transcrição de
entrevista, os tópicos que ocorrem e os aspectos individuais
destes que podem ser relacionados – em um sentido muito
amplo – a
o contexto da(s) questão(ões) de pesquisa. Para qualquer
passagem de texto é possível, nesse processo, notar mais
de um tópico ou aspecto. Para levar em conta a abertura
das entrevistas, é importante não apenas retomar as
formulações das perguntas feitas, mas considerar se os
entrevistados realmente adotam esses termos, o que os
termos significam para eles, quais aspectos eles
complementam , que eles omitem e quais novos tópicos,
que não foram vistos anteriormente no guia, realmente
aparecem nos dados coletados. O objetivo não é encontrar
os mesmos tópicos em todos os textos das entrevistas;
nesta primeira abordagem do material as entrevistas não
devem ser consideradas comparativamente. No entanto, é
útil para as etapas seguintes da análise observar quaisquer
semelhanças e diferenças marcantes entre as entrevistas;
se isso for feito, normalmente será mais fácil concentrar-se
novamente em um único caso.
O exemplo a seguir é retirado – como todos os outros
exemplos usados abaixo – da investigação (orientada para
a teoria) sobre 'família e extremismo de direita' (Hopf et al.
1995), em que as questões e pressupostos teóricos se
relacionam com tradições de pesquisa autoritarismo e
relacionamentos.

CAIXA 5.10.1 EXEMPLO PARA CODIFICAÇÃO Tópicos e aspectos individuais

[Contexto: Volker está falando sobre um jovem de (Anotações de um dos investigadores sobre a leitura
quem ele não gosta e, em resposta a perguntas da transcrição)
posteriores, ele conta como ele e seus amigos lidaram
• Um jovem que não se conforma é
com ele em uma discoteca.
rejeitado e atacado •
Citação da transcrição: '... de qualquer forma, o jeito
Força física • Maneira trivial
que ele falava, o jeito que ele andava, eu não
de falar • Força de grupo
suportava nada dele.
Particularmente a maneira como eu dançava. E então
eu o chutei para baixo algumas vezes e assim por
diante, nós apenas fizemos uma bagunça, ele foi
espancado o tempo todo.']

Texto: Volker spricht von einem Jugendlichen, den er

nicht mag, und erzählt auf Nachfragen, wie er und
seine Freunde in der Disko mit ihm umgegangen sind.
Zitat aus dem Transkript: '... auf jeden Fall die Art zu
sprechen, die Art zu gehen, ich konnte alles an dem
nicht ab. Die Art zu tanzen vor allem nicht. Und dann
hab ich ihn ein paar mal die Treppe runtergekickt und
so, haben wir nur Mist gemacht, der wurde andauernd
zusammengeprügelt.' (S.69)
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A ANÁLISE DE ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS 255
Uma leitura exata e repetida das transcrições de
entrevistas individuais é muito demorada, mas é
essencial para não relacionar trechos de texto com
muita pressa às próprias perguntas do pesquisador
e não negligenciar trechos de texto em que não se
vê inicialmente a conexão com o pergunta. Em uma
entrevista aberta semiestruturada, as passagens
importantes do texto nem sempre são encontradas
no contexto direto da pergunta que foi feita; os
aspectos que o entrevistador introduz muitas vezes
só são retomados posteriormente de forma mais
explícita, ou então aparecem (de novo) em resposta
a uma pergunta diferente dentro de um contexto bem
diferente. O importante, na leitura e na tomada de
notas, não é adequar o material às próprias
suposições teóricas, reduzindo a análise a uma
busca por locais no texto que sejam adequados como
prova ou ilustração dessas suposições. Na primeira
leitura, muitas vezes encontramos 'cotações precisas
e adequadas' que parecem ideais para uma
apresentação em um relatório final, deixando de lado
partes do texto que não se encaixam tão bem nas
expectativas do próprio pesquisador.
A leitura repetida dos textos e, em particular, o
tratamento consciente e aberto dessas suposições
ajuda o investigador a perceber não apenas as partes
do texto que correspondem a essas crenças
anteriores, mas também as partes que concordam
menos bem (sobre isso, cf. Hopf et ai., 1995: 24).
A partir dos temas e aspectos descobertos,
formulam-se agora as categorias analíticas.
Dependendo do número de entrevistas, dos recursos
humanos disponíveis e do estilo de trabalho pessoal,
é sensível começar em certa medida em paralelo
com a leitura das entrevistas. Em resposta aos
conceitos teóricos e empíricos existentes, e contra o
pano de fundo das tradições teóricas, várias
categorias (inicialmente bastante vagas) surgirão de
discussões dentro da equipe de pesquisa ou com
colegas (especialistas). Estes serão corrigidos e
complementados, no decurso da recolha de dados e
durante a preparação da análise, com base nas
observações e na experiência de campo. O
intercâmbio continua agora, contrastando os tópicos
e aspectos individuais das entrevistas com as ideias
para as categorias desenvolvidas anteriormente. Os
termos ou combinações de termos que se
desenvolvem dessa maneira chamarei categorias
analíticas.
A forma que essas categorias analíticas assumem
depende muito das questões; pode ser uma questão
de tópicos e aspectos de conteúdo, como
argumentação ou configurações de argumentos
(cf. Becker-Schmidt et ai. 1982: 109ss.); algumas
categorias também podem estar relacionadas com a
forma linguística das respostas (cf. 'maneira trivial de
falar' no exemplo acima). Procedimentos alternativos
para a formação de categorias são descritos por
Mayring (1999, 2000b) no contexto de 'resumindo
com análise de tenda' (ver 5.12), por Witzel (1996)
como uma etapa parcial na avaliação de entrevistas
focadas em problemas, e por Glaser e Strauss (1967)
como um elemento na 'codificação teórica' (ver 5.13).
Segunda etapa: montagem
das categorias analíticas em
um guia para codificação
As categorias analíticas preliminares estão agora
reunidas em um guia de análise e codificação (para
uma discussão mais aprofundada, cf. também
Crabtree e Miller 1992: 95; Lewin 1986: 284). Este
contém descrições detalhadas das categorias
individuais e, para cada categoria, são formuladas
diferentes versões. Com o auxílio deste guia, o
material coletado será codificado. Codificar – como
será explicado mais detalhadamente na próxima
seção – significa relacionar passagens particulares
no texto de uma entrevista a uma categoria, na
versão que melhor se encaixa nessas passagens
textuais. A usabilidade das categorias analíticas é
primeiramente testada e avaliada em uma série de
entrevistas – idealmente na forma de discurso dentro da equipe de pe
No processo, as categorias e suas variantes podem
ser refinadas, tornadas mais distintas ou
completamente omitidas do guia de codificação.
Aqui está um exemplo do desenvolvimento de
categorias analíticas em um processo de intercâmbio
entre pressupostos teóricos, experiência de campo e
o material coletado:
“Ao longo de nosso questionamento aos jovens,
começamos a ter cada vez mais dúvidas sobre se
o conceito de autoritarismo, e a ligação que
procura fazer entre subordinação autoritária e
agressão, era apropriado para nós como um
conceito analítico central. '. (Hopf et al. 1995: 70)
Por exemplo, nossa primeira experiência no campo
aumentou nosso ceticismo em relação à suposição
de que os jovens com tendências extremistas de
direita poderiam se encaixar na imagem clássica
do autoritário como um ciclista que se curva para
cima e pisa para baixo…. Durante as entrevistas
ou ao pensar nelas depois, muitas vezes tínhamos
a impressão de 'pisar em partidos mais fracos',
mas muitas vezes não encontramos sugestões de
subordinação autoritária. A partir disso, várias ideias
Machine Translated by Google
256 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
desenvolvido para uma revisão sistemática dos
aspectos de 'agressão autoritária' e 'subserviência
autoritária'. (Hopf e Schmidt 1993: 58)
Além de várias outras categorias analíticas relacionadas
a esses aspectos, uma categoria analítica de 'variantes
ciclistas' foi desenvolvida para o guia de codificação e
'testada e desenvolvida com base no material' (Rieker
1997: 49 ). Após uma descrição do autoritário clássico
como um 'ciclista', várias variantes diferentes desse tipo
foram descritas no guia de codificação como cinco versões
diferentes:
1 tendência ao ciclista clássico: curvar-se e pisar 2
tendência apenas a pisar, relacionado a
tendência a um comportamento bastante rebelde
ou pseudo-rebelde diante de autoritários/
pessoas mais fortes 3 tendência apenas a
pisar, não rebelde … 4 tendência apenas a
curvar-se 5 nem curvar-se nem pisar 6 não
aplicável, não solicitado, e assim por diante. A
relação com uma das categorias, apesar das
informações disponíveis, não foi possível.
Terceira etapa: codificação do material
A partir do guia de codificação, cada entrevista passa a
ser avaliada e classificada, por meio da classificação do
material de acordo com as categorias analíticas. Cada
entrevista é codificada de acordo com todas as categorias
do guia de codificação. As categorias analíticas que foram
estabelecidas a partir do material na etapa anterior da
análise são agora aplicadas ao material. Para poder
comparar os casos em relação às tendências dominantes,
a quantidade de informação deve ser reduzida nesta fase
da análise. Isso envolve aceitar uma perda de informação,
mas isso é tanto menor quanto mais diferenciadas as
categorias analíticas e suas características de conteúdo
podem ser em sua formulação. As características especiais
e os detalhes das entrevistas individuais são considerados
novamente no próximo estágio da análise sis – a
interpretação detalhada do caso (cf. Schmidt 1997: 557).
Inicialmente, a partir de cada entrevista são identificadas
as passagens que – no sentido mais amplo – podem ser
atribuídas a uma categoria analítica, e então uma descrição
é dada a todas essas localizações textuais (como a dada
acima como número 4: 'tendência apenas curvar-se'). Se
mais de uma descrição se encaixar, a dominante será
escolhida. É muito
importante neste processo de categorização que os rótulos
descritivos sejam formulados de forma muito distinta, para
que não haja sobreposição. Conforme estabelecido no
guia de codificação, todas as categorias são aplicadas em
sucessão a uma entrevista de cada vez.
A codificação em uma categoria permanecerá, assim, na
medida do possível, não influenciada pelas codificações
em outras categorias. Se, em qualquer entrevista, não
houver material para uma determinada categoria, ou muito
pouco para poder decidir sobre um rótulo descritivo, o
rótulo 'não classificável' é dado.
Se isso acontecer regularmente com uma determinada
categoria, isso pode sugerir que a formulação dessa
categoria analítica e seus rótulos descritivos foi inadequada
e que deve ser excluída ou revisada.
O que se mostrou útil na codificação – no estudo acima
mencionado sobre o extremismo de direita – é o processo
de inserir em uma cópia do guia de codificação as
avaliações e classificações por entrevista, e também
anotar como 'evidência', na forma de números de página
e linha, os locais textuais aos quais a avaliação se refere.
Uma variante de codificação que pode ser recomendada
é a codificação consensual. Neste, pelo menos dois
membros da equipe de pesquisa participam da codificação
de um caso particular. Inicialmente eles trabalham
independentemente uns dos outros na mesma entrevista.
Somente depois de codificar a entrevista de acordo com
todas as categorias, eles comparam e discutem suas
classificações. Se houver discrepâncias em sua
classificação, eles cooperam na tentativa de negociar uma
solução consensual por meio de uma discussão
aprofundada. Novas técnicas para comunicação e
cooperação assíncrona – como sistemas CSCW (Computer
Supported Cooperative Working), fóruns de discussão
baseados na Internet ou e-mail (cf. Scholl et al. 1996: 31f.
e Diepold 1996: 14 para discussão) – são formas úteis de
apoiando uma equipe de pesquisa neste trabalho.
A codificação aqui descrita é semelhante à técnica de
análise de conteúdo de estruturas escalonadas (cf. Mayring
2000b: 85ss.) e à codificação dos dados do questionário
(cf., por exemplo, Benninghaus 1994: 30; Bortz e Döring
1995: 305). Deve ser distinguido da "codificação teórica"
de Glaser e Strauss.
Eles usam o termo codificação para descrever o processo
de desenvolvimento da teoria baseada em materiais, ou
'teoria fundamentada' (cf. Wiedemann 1995: 443f.).
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A ANÁLISE DE ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS 257

Tabela 5.10.1 Pesquisa de quantificação apresentada como uma tabela

Sujeição às normas: Tende a não ser

subordinação autoritária/ A sujeição às normas prescrito ou entre
agressão autoritária tende a ser prescrita instrumental-estratégico
(mais ou menos orientação e
claramente manifesta) sujeição a normas Total

Subordinação em – 6 6
relação à agressão
– 5 5
Principalmente apenas agressão
… … ……

Total 10 quinze 25

Extrato da tabela '“Ciclista”-Mentalidade e sujeição a Normas e Consciência' (Hopf et al. 1995: 72)

Quarta etapa: quantificar os resultados das categorias analíticas individuais

pesquisas de materiais (cf. Heppner et al. 1990: 45f.; Hopf et al.
1995: 194ss.).
A próxima etapa da estratégia analítica
aqui descrito envolve a compilação de
Quinta etapa: caso detalhado
quantificar os levantamentos dos resultados da codificação.
interpretações
Do ponto de vista técnico, isso implica
apresentação dos resultados em forma de tabelas. Este
tipo de visão geral do material consiste em indicações Interpretações detalhadas de casos são a última etapa
na estratégia aqui apresentada. Os objetivos de
de frequências em análises individuais
esta fase de análise pode ser: descobrir novos
categorias. As indicações de frequência dão uma
hipóteses, para testar uma hipótese em um único
visão geral preliminar das distribuições dentro do
caso, para distinguir entre termos conceituais,
material (ver Tabela 5.10.1). Eles ainda não chegar a novas considerações teóricas ou
constituem o resultado, mas apenas fornecem
informações sobre o 'banco de dados'. A partir da visão geralrever
do os quadros teóricos existentes.
Usando as constelações derivadas das codificações,
categorias analíticas individuais materiais podem ser
selecionados e relacionados entre si na forma uma seleção motivada de casos pode ser
feito para uma análise mais detalhada. O selecionado
de tabelas de referência cruzada (Brosius 1988: 211ff.).
Mas mesmo essas 'indicações combinadas de transcrições são repetidamente lidas e interpretadas
precisamente com referência a uma questão específica.
frequência' ainda não, se consideradas isoladamente,
constituem um resultado.
O resultado da interpretação, que
refere-se a este único caso em todas as suas particularidades,
Levantamentos quantitativos de material são de
é registrado na forma escrita. Que particular
particular valor na preparação de análises posteriores
técnicas são usadas na interpretação
sis; apontam para possíveis relações que
dependem do desenho da investigação, e
pode ser perseguido em uma análise qualitativa. a
isso normalmente se baseia na tradição interpretativa
suposições dizem respeito a casos individuais e
particular que é preferida pelo
deve ser verificado para cada caso (cf. Hopf
investigador – por exemplo, uma hermenêutica
mil novecentos e noventa e seis). Para isso, no entanto, as visões gerais
(ver 3.5, 5.16) ou um psicanalítico (ver 5.20)
pode ser útil, por exemplo, no 'direcionado tradição.
procurar exceções" (Bühler-Niederberger
1995: 448).
Para contribuir para a transparência e verificabilidade LEITURA ADICIONAL
de um estudo qualitativo, também é sensível a
apresentar, para as principais categorias analíticas, um
visão geral dos resultados da codificação Crabtree, B.F. e Miller, W.L. (1992) 'A
processo para todos os casos individuais – por Abordagem de modelo para análise de texto:
exemplo, na forma de uma tabela onde cada caso é Desenvolvendo e Usando Codebooks', em
apresentado em uma única linha, e cada coluna fornece BF Crabtree e WL Miller (eds), Fazendo
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258 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
Pesquisa qualitativa. Newbury Park, CA: Sage.
pág. 93-109.
Hopf, C. (1998) 'Experiências de apego e agressões
contra minorias', Pensamento Social e Pesquisa,
21 (1-2): 133-149.
Ryan, GW e Bernard, RH (2000) 'Gestão de Dados
e Métodos de Análise', em NK Denzin e YS
Lincoln (eds), Handbook of Qualitative Research,
2ª ed.
Thousand Oaks, CA: Sage. pág. 769-802.
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5.12 Análise de Conteúdo Qualitativo
Philip Mayring
1 Objetivos da análise de conteúdo qualitativa
2 História e desenvolvimento
3 Fundamento teórico
4 técnicas
5 Conquistas e limitações
6 perspectivas recentes
1 OBJETIVOS QUALITATIVOS
ANÁLISE DE CONTEÚDO
O objetivo da análise de conteúdo é a sistemática
exame do material comunicativo (originalmente dos meios
de comunicação de massa em particular). Este
não tem que consistir exclusivamente em textos:
musical, pictórico, plástico ou outro material similar também
pode ser tratado. O essencial, porém, é que o material
comunicativo
ser fixado ou registrado de alguma forma.
A análise de conteúdo é, obviamente, uma técnica que
derivados das ciências da comunicação. Hoje,
no entanto, afirma ser capaz de servir para análise sistêmica
em uma ampla gama de domínios científicos.
A análise de conteúdo moderna, além disso, não mais
visa apenas o conteúdo do material verbal. Ambos
aspectos formais e conteúdo de significado latente podem ser
também objetos de estudo. A ideia básica de um sistema qualitativo
análise de conteúdo, então, consiste em manter
a natureza sistemática da análise de conteúdo para o
várias etapas de análise qualitativa, sem
realizar quantificações precipitadas.
2 HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO
A análise de conteúdo em sua forma atual foi desenvolvida,
em sua essência, no início do
século XX (particularmente na década de 1920) em
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269
269
Estados Unidos (cf. Lissman 1997; Merten
1983). O foco principal então foi a análise sistemática de
grandes quantidades de dados textuais
dos meios de comunicação de massa crescentes (rádio e
jornais). Inicialmente apenas procedimentos quantitativos
foram desenvolvidos para isso: análises de frequência, em
quais componentes textuais específicos foram
contados (por exemplo, quantas vezes determinados partidos
políticos foram mencionados em um jornal);
análises de indicadores, onde a frequência de
componentes textuais particulares foi definido como um
indicador de uma variável superordenada com base
de considerações teóricas (por exemplo, palavras
como 'deve', 'nunca', 'é' como um indicador do
grau de dogmatismo de um determinado texto); analisar as
séries de valência e intensidade que avaliaram a
material de acordo com escalas predefinidas (por
por exemplo, quão fortemente os comentários em um
determinado jornal expressou as posições de
os atuais partidos no governo); análises contínuas, nas quais
as inter-relações entre
diferentes componentes textuais foram analisados (por
por exemplo, com que frequência, em um jornal, determinado
políticos foram mencionados em um contexto direto
com atributos positivos). Muito em breve, porém,
esses procedimentos quantitativos atraíram críticas:
• Os procedimentos foram limitados ao primeiro plano
conteúdo textual e significado latente negligenciado
estruturas (Kracuer 1952).
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• A análise ignorou o conteúdo textual que definiu e
modificou as unidades textuais particulares.
• A lógica da análise tinha muito pouca base linguística
(Fühlau 1982). • A alegação de ser sistemática e
veri fiável não pôde ser comprovada (Rühl 1976).
Posteriormente, houve repetidas tentativas de
desenvolver uma forma qualitativa de análise de
conteúdo como alternativa. Jürgen Ritsert (1972)
desenvolveu um procedimento para rastrear conteúdos
de significado latentes, particularmente conteúdos
ideológicos, que consiste em uma aplicação passo a
passo e modificação do entendimento teórico prévio
relacionado à ideologia – incluindo o uso de certos
estágios quantitativos na análise. ver também Vorderer
e Groeben 1987). Mühlfeld et ai. (1981) propuseram uma
técnica de extração e sumarização gradual para a
análise de entrevistas abertas. Rust (1980) tentou
justificar, em linhas sociológicas culturais, uma análise
qualitativa de conteúdo preparatória para a quantificação.
Mostyn (1985) desenvolveu uma abordagem qualitativa
da análise de conteúdo que era estritamente dirigida por
hipóteses.
E a abordagem da codificação do material de entrevista
descrita por Wittkowski (1994) é semelhante ao que é
apresentado aqui.
A análise qualitativa do conteúdo da literatura popular
('Landserhefte') sobre a Segunda Guerra Mundial que
era crítica da ideologia (Ritsert 1964, 1972) permaneceu,
em muitos aspectos, exemplar até hoje. Ritsert juntou-
se à discussão pública de um possível perigo para os
jovens em histórias de guerra tão baratas no início dos
anos 1960, e provou que as acusações feitas (de
brutalização do jargão, estilo faroeste, minimização da
guerra) eram superficiais e, portanto, interpretadas
resolver o problema eles mesmos. Contra o pano de
fundo da teoria da psicologia de massa e da análise do
ego de Freud, ele deriva quatro dimensões:
• Mecanismos de defesa contra a culpa •
Racionalização da derrota • Expressões de um
narcisismo coletivo doentio (nacionalismo) • Relíquias
da dependência autoritária.
De acordo com essas dimensões, o material foi filtrado
das histórias em 33 livros de histórias de guerra
selecionados aleatoriamente, a frequência desses
tópicos nas histórias foi determinada e
ANÁLISE DE CONTEÚDO QUALITATIVA 267
os motivos de uma síndrome ideológica foram
reconstruídos. Desta forma, um 'mito de lealdade ao
Führer', caracterizado por 'pai-oficiais' e a 'camaradagem
da frente', foi cristalizado como o conteúdo central
ideológico: 'uma reprodução incrivelmente intacta da
velha mania de lealdade ao Führer de origem fascista
' (Ritsert 1972: 76).
3 FUNDAMENTO TEÓRICO
Os fundamentos a seguir determinam os procedimentos
analíticos da análise de conteúdo qualitativa.
• O material a ser analisado é entendido como inserido
em seu contexto de comunicação (Gerbner et al.
1969): quem é o transmissor (autor), qual é o sujeito
e seu contexto sociocultural (fontes), quais são as
características textuais (por exemplo, léxico, sintaxe,
semântica, pragmática, contexto não verbal), quem
é o destinatário, quem é o grupo-alvo?
• A natureza sistemática particular da análise de conteúdo
consiste em sua governabilidade por regras (a partir
de modelos procedimentais pré-formulados), sua
dependência de teoria (seguindo questões
teoricamente fundamentadas e regras de codificação)
e de seu procedimento gradual, dividindo o texto em
unidades de análise e orientadas para um sistema
de categorias (cf. Krippendorf 1980). • A análise
qualitativa de conteúdo também afirma medir-se em
relação a critérios de qualidade (ver 4.7) e confiabilidade
entre codificadores. Os requisitos são
reconhecidamente um pouco mais baixos (coeficientes
kappa de 0,70 são normalmente suficientes), mas o
objetivo continua sendo que vários analistas de
conteúdo sejam capazes de obter resultados
comprovadamente semelhantes em extratos de
materiais.
• Nisso, a análise qualitativa não procura se desligar dos
procedimentos analíticos quantitativos, mas tenta
incorporá-los ao processo analítico de forma
justificada.
4 TÉCNICAS
A seguir serão apresentados alguns métodos
processuais concretos que foram originalmente
desenvolvidos no contexto de um projeto de pesquisa
sobre o enfrentamento subjetivo do desemprego (Ulich
et al. 1985; Mayring 2000b).
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268 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA

Questão, questões de pesquisa

Definição geral de categorias, fixando os critérios de seleção e nível de abstração para formação de
categorias

Formação gradual de categorias a partir do material com referência à definição e nível

de abstração; subsunção em categorias antigas ou formação de novas categorias

Revisão das categorias após cerca de 10 a 50% do Verificação da

material processado confiabilidade formativa

Processamento final do material Verificação da confiabilidade

somativa

Análise, eventualmente análises quantitativas (por exemplo, frequências)

Figura 5.12.1 Fluxograma de procedimentos para análise de conteúdo qualitativo com o exemplo de indutivo
formação da categoria (cf. Mayring 1999)

Aqui podemos distinguir, em princípio, quatro tipos de
procedimento.
A análise de conteúdo resumido busca reduzir o
material de tal forma que os conteúdos essenciais
sejam preservados, mas produz-se um pequeno texto
gerenciável. Algum uso também foi feito da psicologia
do processamento de texto (Ballstaedt et al. 1981; van
Dijk 1980), na qual vários processos individuais de
sumarização (ou 'redutivos') são distinguidos (omissão,
generalização, construção, integração, seleção ,
empacotamento).
Análises de conteúdo resumidas são sempre adequadas
se a pessoa estiver interessada apenas no nível de
conteúdo do material e precisar condensar o material
em um texto curto gerenciável.
A ideia básica por trás da formação de categorias
indutivas é que os procedimentos de análise de
conteúdo resumidos são usados para desenvolver
categorias gradualmente a partir de algum material. O
fluxograma da Figura 5.12.1 esclarece esse procedimento.
Este procedimento foi usado, por exemplo, para
analisar questionários biográficos abertos de professores
desempregados nos novos estados (ou seja, ex-Leste)
da República Federal da Alemanha, a fim de determinar
qual visão de sua profissão os estagiários haviam
desenvolvido.
no período da RDA (Mayring et al. 1996). As categorias
mais frequentemente formadas indutivamente aqui
foram as seguintes:
• Prazer em ser professor • Cumprir
funções particulares na organização da escola •
Experiências coletivas positivas • Interesse pela
disciplina • Reconhecimento, respeito • Implementação
de objetivos partidários (solidariedade, amizade).
Esses resumos foram resumidos em duas categorias
guarda-chuva (professores por prazer profissional;
professores por compromisso com o socialismo) e foi
investigado se essas diferentes orientações tiveram
alguma influência sobre como lidar com a experiência
do desemprego.
Explicar a análise de conteúdo procura fazer o oposto
de resumir a análise de conteúdo: para componentes
textuais individuais pouco claros (termos, sentenças,
etc.), é necessário coletar material adicional para tornar
esses locais textuais inteligíveis. A ideia básica é a
coleta sistemática e controlada de material explicativo.
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Isso torna possível distinguir entre uma análise
contextual restrita que envolve apenas o ambiente
textual direto e uma análise contextual ampla que
coleta material adicional além do texto (informações
sobre os comunicadores, assunto, antecedentes
socioculturais, grupo-alvo).
A estruturação da análise de conteúdo busca filtrar
aspectos particulares do material e fazer um corte
transversal do material sob critérios de ordenação
rigorosamente determinados antecipadamente, ou
avaliar o material de acordo com critérios particulares.
Isso envolve procedimentos formais, centrados no
conteúdo, tipologizantes e escalonados, dependendo
do tipo de dimensões estruturantes que foram
desenvolvidas de acordo com alguma teoria, e estas
são então subdivididas em categorias individuais. A
idéia básica nisso é a formulação exata de definições,
passagens textuais típicas ('exemplos-chave') e regras
de codificação que resultarão em um guia de
codificação que torna a tarefa de estruturação muito
precisa.
5 REALIZAÇÕES E LIMITAÇÕES
Os procedimentos de análise qualitativa de conteúdo
têm sido utilizados em diversas áreas da pesquisa
psicológica, pedagógica e sociológica. Neste, os
seguintes provaram ser pontos fortes particulares.
• A natureza sistemática da análise de conteúdo
qualitativa segue, via de regra, modelos de
sequência estabelecidos. Isso torna o procedimento
transparente, inteligível, fácil de aprender e
facilmente transferível para novas questões de
pesquisa. • Normalmente há um sistema de categorias
no centro da análise (como na análise quantitativa
de conteúdo), mas isso é revisto no decorrer da
análise por meio de loops de feedback e é adaptado
de forma flexível ao material. • Seu procedimento
regido por regras também permite a melhor
implementação de critérios de qualidade e confiabilidade
entre codificadores.
Com a análise de conteúdo qualitativa, quantidades
razoavelmente grandes de dados podem normalmente ser processadas.
Estágios quantitativos podem ser prontamente
incorporados à análise, e isso pode tornar possível
contrariar a frequentemente criticada dicotomia entre
'qualitativo' e 'quantitativo'.
ANÁLISE DE CONTEÚDO QUALITATIVA 269
Algumas restrições e limitações da análise de
conteúdo qualitativa devem, no entanto, ser
mencionadas: se a questão de pesquisa é muito
aberta, ou o estudo é de caráter marcadamente
exploratório e também seria dificultado por uma
formação indutiva de categorias ou incapaz de
justificação teórica conclusiva , então procedimentos
mais abertos seriam mais apropriados, como aqueles
encontrados, por exemplo, na teoria fundamentada
(ver 5.13). De qualquer forma, também é possível aqui
pensar em combinações que reúnam, em etapas
individuais de pesquisa, tanto procedimentos analíticos
mais abertos quanto de conteúdo. O critério em
nenhum caso deve ser simplesmente a viabilidade
metodológica, mas a adequação do método ao material
e à questão de pesquisa.
6 PERSPECTIVAS RECENTES
Por causa de seu caráter sistemático, a análise
qualitativa de conteúdo é especialmente adequada
para pesquisas com suporte de computador (Huber
1992; Weitzman e Miles 1995; ver 5.14). Não se trata
de análise automatizada (como na análise quantitativa
computadorizada de conteúdo), mas sim de suporte e
documentação das etapas individuais da pesquisa,
bem como funções de suporte na busca, ordenação e
preparação para análises quantitativas. Neste contexto,
o programa ATLAS.ti, desenvolvido para fins de análise
qualitativa de conteúdo na Universidade Técnica de
Berlim, provou ser de particular valor (cf. Mayring et al.
1996).
LEITURA ADICIONAL
Mayring, P. (2000) 'Análise de Conteúdo Qualitativo',
Fórum: Pesquisa Social Qualitativa, 1 (2). http://
qualitative-research.net/fqs
Mayring, P. (2002a) 'Análise de Conteúdo Qualitativa
– Instrumento de Pesquisa ou Modo de
Interpretação?', em M. Kiegelmann (ed.), O Papel
do Pesquisador em Psicologia Qualitativa. Tubingen:
Verlag Ingeborg Huber. pág. 139-148.
Mayring, P. (2002b) 'Abordagens Qualitativas em
Pesquisa sobre Aprendizagem e Instrução', em B.
Ralle e I. Eilks (eds), Pesquisa em Educação
Química – O que isso significa? Aachen: Shaker
Verlag. pág. 111-118.
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5.15 Análise de Documentos e Registros
stephan wolff
1 Realidade documental
2 Documentos na história da pesquisa qualitativa
3 Análise de documentos como análise de conversas
4 Recomendações para o trabalho prático
1 REALIDADE DOCUMENTÁRIA
Documentos, aqui entendidos como textos escritos
que servem como um registro ou prova de um
evento ou fato, ocupam posição de destaque
sociedades modernas. Grande parte da realidade
que é relevante para os membros das sociedades modernas
é acessível a eles na forma de documentos
(Smith 1974, 1978). O aumento da sua importância deve-
se à tendência secular para o
legalização e organização de todas as áreas da vida,
e, em particular, ao desenvolvimento de um tipo moderno
de administração caracterizado essencialmente pelo
princípio da documentação. Alfabetização,
por um lado, aumenta o alcance da comunicação, na
medida em que a torna independente
o tempo e o lugar da mensagem (cf. Ong
1982). Mas ao mesmo tempo coloca o seu sucesso
em risco, uma vez que indicadores situacionais para
compreensão e oportunidades imediatas para
esclarecimentos são perdidos. A insistência na escrita
documentos típicos de organizações como
a forma preferida para a representação de
realidade pode levar a experiências dolorosas de
diferença, particularmente quando as pessoas são confrontadasser usado para tirar conclusões sobre as atividades,
com registros oficiais de eventos que eles
participou em.
Um exemplo disso é um recurso legal. Dentro
para julgar uma violação da lei em uma decisão judicial,
é apenas o texto da base da decisão que é relevante. Só
isso, mas não o
lembranças dos participantes, funciona como um
284
285
286
288
ponto de referência para a avaliação do que foi
e o que não ocorreu nas principais
processos. A formulação 'o que não está em
os registros não estão no mundo' já estava
um princípio fundamental dos tribunais do
Inquisição. Em claro contraste com isso, há
o princípio da oralidade que prevalece durante o
processos; de acordo com isso, pelo menos no processo
penal, apenas o que foi negociado
oralmente pode ser usado como base de uma decisão
(o que implica, por exemplo, que escrito
A prova deve, por princípio, ser
Leia em voz alta).
Os documentos são artefatos padronizados, em
na medida em que normalmente ocorrem em particular para
mats: como notas, relatórios de casos, contratos, rascunhos,
atestados de óbito, declarações, diários, estatísticas,
relatórios anuais, certificados, sentenças, cartas
ou opiniões de especialistas. Grande parte do oficial
documentos e a maioria dos documentos particulares,
destinam-se apenas a um círculo definido de destinatários
legítimos ou envolvidos. Os documentos oficiais também
funcionam como rastros institucionalizados,
o que significa que eles podem legitimamente
intenções e ideias de seus criadores ou
as organizações que representavam. tendo em vista
a arte elaborada e, por parte dos participantes, totalmente
reflexiva envolvida na produção de tais registros, o
elemento de ficção,
que é verdade para todos esses registros, torna-se
particularmente claro.
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2 DOCUMENTOS NA HISTÓRIA DA
PESQUISA QUALITATIVA
Pesquisa social qualitativa desenvolvida (em etnologia)
no contexto da investigação de culturas orais ,
ou seja, aqueles que não foram mediados por textos, ou
(na chamada Escola de Chicago) ao lidar com
com fenômenos fora ou à margem de um
sociedade baseada na organização. Por causa disso um
particular 'viés' desenvolvido em favor do verbal
comunicação ou dados verbais em redes sociais simples.
sistemas (cf. Atkinson e Coffey 1997). Se um
não se limita completamente a reduzir
documentos às informações que eles contêm,
ainda hoje qualquer trabalho com eles tem um caráter
predominantemente exegético, o que significa que eles
são vistos como fontes (Hodder 1994; Scott 1990)
que apontam para outros fenômenos subjacentes e
intenções. Uma vez que uma relação próxima é pressuposta
entre a 'força declarativa' de um documento
e sua autenticidade e credibilidade, há, ainda, uma
preferência por parte dos
pesquisadores para registros particulares (como cartas de
registros biográficos; Vejo o estudo clássico de
Thomas e Zaniecki 1918).
Qualquer pessoa que lê documentos como uma
representação básica de outra coisa está olhando para eles
como uma 'vidraça' (Gusfield 1976) até
qual está olhando para uma pessoa, uma ação ou um
facto. Essa vidraça só se torna importante quando
formulações infelizes ou inadequadas distorcem a 'visão',
e então se começa
a base de que tais obscuridades podem ser
fundamentalmente eliminadas (por meio de uma
representação mais transparente ou mais profunda
interpretação). Isso leva a um paradoxo, no entanto, que
uma análise de documentos que começa em
desta forma ocorre, em um caso ideal, sem
qualquer análise do próprio documento. no entanto
parece corresponder muito melhor ao básico
ideia de pesquisa qualitativa se reconhecermos os
documentos como criações metodológicas independentes
e inseridas situacionalmente de seus produtores
(e, em termos de recepção, de seus leitores) e
para torná-los como tal objeto de uma investigação.
Assim, o termo análise de documentos é
usado não só para caracterizar um método de pesquisa
mas também para denotar um modo específico de acesso a
registros escritos (o que, é claro, implica uma preferência
por métodos específicos).
Uma preocupação mais sustentada com documentos
como textos que têm a lógica independente
de uma realidade documental textualmente mediada apenas
desenvolvido na década de 1960. A motivação decisiva
ANÁLISE DE DOCUMENTOS E REGISTROS 285
foi resultado da abordagem de rotulagem, cuja
salientou que eram apenas os representantes
reação da sociedade que concedeu o atributo
'desviante' em ações ou indivíduos particulares.
Eles, portanto, tentaram consistentemente examinar
ombros das agências relevantes no
produção de ações desviantes. Desta forma eles
removeu de dados como as estatísticas de criminalidade
e suicídio a imagem de
fatos sociais naturais (no sentido de Durkheim) por
tornando visíveis os processos de definição e
documentação necessária para a sua produção
(Douglas 1967; Gephardt 1988). Especial
importância atribui ao trabalho de Aaron
Cicourel, que estudou os processos de avaliação e
categorização na educação e na
como a oficialidade lidou com o crime juvenil
(cf. Cicourel 1968; Cicourel e Kitsuse 1963;
Cicourel e Jennings 1974; Kitsuse e Cicourel
1963). Cicourel estava particularmente interessado em
a questão de como a tradução de detalhes
sobre pessoas e eventos, derivados de entrevistas ou
registros pré-existentes, em 'casos oficiais'
você come sobre. Descobri que as decisões
sobre a atribuição às categorias são tomadas em
respeito do 'normal' organizacional estabelecido
casos' e padrões de estabelecimento (como 'lar desfeito')
dentro da estrutura de
ou processos institucionalizados de negociação
(cf. Scheff 1966; Sudnow 1965). A realidade documental
(caso), uma vez estabelecida, assume um
dinâmica própria, e a partir disso a pessoa
categorizados – mas também os corpos posteriormente
envolvidos – podem escapar apenas com dificuldade.
Normalmente, as circunstâncias ou o pano de fundo
contra o qual foram produzidos são
não são mais visíveis nos próprios documentos.
O foco na pesquisa de rotulagem foi, portanto,
ao demonstrar o caráter retórico de
documentos (Gusfield 1976). Os documentos foram
revelados como exemplos de exibição institucional
(Goffman 1961b) ou mesmo como forma de propaganda
burocrática (Altheide e Johnson 1980),
cujo objetivo principal era gerar uma
aparência de legitimidade, racionalidade e eficiência aos
olhos de organizações
ambientes (Bogdan e Ksander 1980;
Meyer e Rowan 1977). O que é característico
desses estudos, além de sua revelação e
atitude irônica e sua concentração no
aspecto da gestão oportunista da informação, é uma
certa indiferença,
o ideal de um retrato 'correto' não era realmente
abandonado (Pollner 1987).
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286 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
Uma mudança radical de perspectiva foi então trazida
pela pesquisa etnometodológica na medida em que
consistentemente prescindiu de tratar os documentos
como recursos – ainda que deficientes – e, em vez disso,
os transformou, ou mais precisamente as práticas
socialmente organizadas de sua produção e recepção, em
objeto real. de investigação. O exemplo clássico de um
etnométodo de análise de documentos estabelecido
logicamente vem de Harold Garfinkel (1967b). No contexto
de um estudo de carreiras de pacientes, ele ficou
impressionado com o fato de que os formulários relevantes
foram preenchidos de forma incompleta e imprecisa. Esse
caso de 'dados perdidos', que era irritante para ele como
investigador, estranhamente quase não causou ofensa
entre os funcionários da clínica. Como Garfinkel não
queria atribuir esse achado à incompetência da equipe,
ele se perguntou se talvez não houvesse "boas razões"
para tais registros clínicos "ruins". A realização de um
exercício de recolha de informação do ponto de vista do
pessoal prova que a situação é, de facto, bastante
sensível, se for tido em conta o tempo disponível. Em
geral, isso significa que é preciso estar satisfeito em fazer
o trabalho da forma mais concisa possível. Além disso,
tendo em conta que os registos podem ser utilizados para
verificar a actividade ou eficiência do pessoal, é desejável
um certo grau de imprecisão na representação da
informação, pois em caso de dúvida permite a possibilidade
de explicação e justificação com referência às circunstâncias
práticas.
Por fim, todo insider competente levará em conta uma
discrepância de princípio entre as condições e
necessidades factuais da atividade documentada, por um
lado, e os requisitos específicos para o correto cumprimento
das obrigações profissionais, por outro. O 'aborrecimento'
do investigador torna-se, portanto, para os participantes,
uma forma bastante racional e compreensível de produzir
documentos (cf. Feldman e March 1981). O significado
das entradas nos prontuários do paciente só pode ser
medido por aqueles que têm uma visão do curso típico do
contato com o paciente, as circunstâncias em que as
entradas foram feitas, o público esperado e as relações
entre eles e os produtores. Em vez de supor que os
prontuários dos pacientes refletiriam (ou ocultariam) a
ordem da interação entre os participantes, seria mais
apropriado dizer que a compreensão dessa ordem é pré-
condição para uma leitura correta.
Embora, em princípio, diferentes interpretações do
conteúdo de tais registros sejam sempre possíveis,
existe, na opinião de Garfinkel, algo como uma leitura
padrão – pelo menos para o leitor autorizado e competente.
Essa pessoa sempre pode ler de forma a obter uma
impressão fundamentada sobre se e como o trabalho foi
concluído em relação ao que poderia ser esperado como
normal e sensato nas circunstâncias prevalecentes.
Os vários itens das pastas da clínica são fichas –
como peças que permitirão a montagem de um
número indefinidamente grande de mosaicos –
reunidos não para descrever uma relação entre o
pessoal clínico e o paciente, mas para permitir que
um membro da clínica formule uma relação entre
paciente e clínica como um curso normal de assuntos
clínicos quando e se a questão da normalização
deve surgir como uma questão de preocupações
práticas de algum membro da clínica. Nesse sentido,
dizemos que o conteúdo de uma pasta serve mais
aos usos do contrato do que à descrição …. (Garfinkel 1967b: 202f.)
A etnometodologia 'precoce' (ver 3.2) representada
pela investigação de Garfinkel conseguiu um esclarecimento
básico da forma como os documentos são produzidos
socialmente e legíveis situacionalmente – embora isso
sem chegar a um acordo concreto com os documentos
como textos.
Por causa do escopo limitado dos métodos etnográficos
(ver 5.5) não houve tentativas de reconstrução sistemática
dos fenômenos contidos nos registros até a década de
1980.
É certo que o próprio Garfinkel (1967b: 200f.) forneceu um
importante ponto de partida ao estabelecer a tese de que
os documentos se assemelhavam a enunciados em uma
conversa em que os participantes não se conheciam, mas
estavam em posição de entender alusões e indicações
indiretas, pois já sabiam do que se falava. O que também
favorece um procedimento de análise de conversação é o
fato de que a capacidade de ler e escrever textos se
desenvolve geneticamente com base na competência
interacional e conversacional. Portanto, é razoável supor
que as práticas metodológicas que desempenham um
papel na produção e interpretação de textos também
correspondem, ou são derivadas, daquelas que são
usadas na produção e interpretação da interação verbal.
3 ANÁLISE DO DOCUMENTO COMO
ANÁLISE DE CONVERSA
Esses estímulos foram retomados por etnometodologos
que trabalham em análise de conversação que, em
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Ao longo da década de 1980, cada vez mais começou
a se voltar para a comunicação institucional e
constelações interativas como piadas, palestras ou
histórias que têm um grau menor de 'densidade
interativa'. A partir disso, foi apenas um pequeno
passo para trabalhar com interações no modo escrito
(como trocas de cartas, cf. Mulkay 1985) e, finalmente,
com documentos produzidos em um contexto
comunicativo institucional, como artigos científicos
(Knorr-Cetina 1981; Woolgar 1980), relatórios
psiquiátricos (Knauth e Wolff 1990) ou pareceres
jurídicos (Wolff e Müller 1997).
De importância central para a análise de
documentos com um quadro de referência de
conversa ou análise de discurso1 são os escritos de
Harvey Sacks (1972) sobre o caráter metodológico
das descrições e a ideia de Dorothy Smith de 'texto
ativo' (1978, 1986). Em seu estudo 'K is Mentally Ill:
the Anatomy of a Factual Account' (1978), ela ilustra
o fato de que os textos escritos não são interpretações
passivas da realidade entregues, por assim dizer, a
seus intérpretes, mas que estruturam ativamente sua
legibilidade social. . A realização particular de um
relato factual consiste em evocar no leitor a impressão
de uma realidade ativa e estável, mas ao mesmo
tempo em invisibilizar o fato e os mecanismos de sua
mediação textual. O que deve primeiro ser esclarecido,
portanto, são os procedimentos que podem ser
empregados para tornar os documentos em qualquer
sentido legíveis como descrições da realidade.
Sacks (1972) desenvolveu o conjunto de
ferramentas metodológicas que os membros da
sociedade utilizam na produção e identificação de
descrições, usando o exemplo das duas frases 'O
bebê chorou. A mamãe pegou. Sem saber nada
sobre as circunstâncias concretas, qualquer membro
competente da sociedade pode entender essas duas
frases como uma história sobre um bebê chorando e
sua mãe, que o pega porque está chorando. Leituras
alternativas (como 'bebê' é na verdade um adulto que
é tratado por um nome de animal de estimação; a
mamãe não é a mãe do bebê; ela está pegando
algum objeto e assim por diante) são bem possíveis,
mas apenas se a variante preferida for expressamente
com desconto.
De acordo com Sacks, o fato de que os leitores
interpretam tais sentenças de maneiras muito
semelhantes depende da aplicação de regras
particulares institucionalizadas de categorização e
dedução que ele reúne sob o título de dispositivo de
categorização de membros. O efeito deste 'dispositivo'
torna-se claro se levarmos em conta o fato de que a
seleção de um determinado
ANÁLISE DE DOCUMENTOS E REGISTROS 287
categoria descritiva implica simultaneamente
referência cruzada a outras categorias adequadas e,
juntas, constituem uma 'coleção' (neste exemplo
específico: 'membros da família'). A categoria
transcende a mera rotulação no sentido de que
determinados modos de ação que podem ser
socialmente esperados também estão vinculados a
uma determinada categoria ('atividades vinculadas à categoria').
Por exemplo, porque normalmente se espera que as
mães cuidem das crianças pequenas, as frases 'O
bebê chorou'. A mãe assistiu. pode ser ouvido não
apenas como uma descrição, mas como descritivo
de um comportamento desviante . Pelo modo de
categorização selecionado, a pessoa que a realiza
pode adotar uma relação particular com o que está
sendo categorizado e, assim, alterar o caráter do
relato: pode-se imaginar que a mulher seja
categorizada não como mãe, mas como 'paciente' ou
'acusado'. Efeitos análogos, como aqueles que
derivam da identificação diferencial de indivíduos (e
aqui implícito: acusações), também podem ser
alcançados através do uso de implicações
convencionais na formulação de locais particulares
(cf. Drew 1978).
Uma vez que, em princípio, um número infinito de
versões formalmente corretas de um fato é concebível,
a forma concreta da descrição deve ser decidida. A
seletividade envolvida nisso não é um problema de
informação que poderia, por exemplo, ser removido
por meio de precisão, mas que estabelece uma
exigência inevitável quanto à formulação. Toda uma
gama de problemas estruturais podem ser postulados
com os quais autores de descrições são confrontados,
mas cuja solução também abre modos de expressão
específicos possíveis (cf. Wolff 1995).
Descrições de qualquer tipo referem-se a um
público específico (mesmo que apenas imaginário)
ou podem ser lidas como tal. Para poder adaptar
seus enunciados de uma maneira orientada para o
destinatário, os produtores de descrições devem levar
em conta as suposições convencionais sobre a
identidade e o conhecimento prévio de seus
destinatários. Eles devem se perguntar: como posso
escrever um texto que possa ser vivenciado e
compreendido por meus leitores como dirigido a eles?
Os produtores de descrições também confiam no
fato de que a adequação e a validade de suas
reivindicações são pressupostas. Eles têm então os
problemas de factualidade e de autorização. A
respeito disso, pode-se perguntar: como indico
através do meu texto até que ponto minhas
representações se relacionam com a realidade? Além disso, também
Machine Translated by Google
288 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
importante chegar a um acordo com versões
alternativas conflitantes ou concebíveis do conteúdo
factual. Nestes conflitos descritivos implícitos (ao
relatar circunstâncias extremamente improváveis;
cf. Wooffitt 1992) devem ser distinguidos de conflitos analíticos (talvez de entrevistas ou observações)
descritivos explícitos (por exemplo, quando um
supervisor tem que expressar uma opinião sobre o
trabalho de seus colegas; cf.
Knauth e Wolff 1991).
Essas configurações só podem ser alcançadas
parcialmente por meio de formulações, justificativas
e explicações explícitas: é melhor que sejam
realizadas reflexivamente, ou seja, pelo modo de
formulação do texto, ou, por assim dizer,
incidentalmente. O truque consiste em não deixar
a interpretação inteiramente para o leitor (no sentido
da teoria da resposta do leitor), nem em selar
mecanicamente o texto com instruções contra
tentativas de interpretação. Isso significa fazer da
necessidade de uma inevitável imprecisão nas
descrições uma virtude. O que funciona a favor dos
produtores de texto aqui é o fato de que essa
imprecisão é socialmente sancionada, que os
destinatários realmente esperam ser apresentados
a textos apropriadamente 'abertos' que requerem
alguma interpretação. Por outro lado, também são
utilizados os postulados convencionais do dispositivo conversação de ordenar todos os pontos. Mesmo
de categorização de membros . Por meio de
categorizações, atribuições, contrastes, ordenações
e assim por diante habilmente selecionados,
lacunas de significado e quebra- cabeças
interpretativos podem ser induzidos, e destes pode-
se supor que um leitor competente da “comunidade
interpretativa” relevante (Fish 1980) irá decodificar ou resolver eles deaté
O efeito estruturante dos 'textos ativos' encontra-
se, portanto, particularmente como resultado de
conduzir os leitores na direção de um modo de
leitura convencional particular (McHoul 1982), que
exige deles uma atividade de implicação (para
análises nesse sentido cf Silvermann 1993, 1998;
Smith 1986; Watson 1997).
4 RECOMENDAÇÕES PARA
TRABALHO PRÁTICO
Para o trabalho prático de pesquisa, são oferecidas
as seguintes recomendações no que diz respeito à
análise das realidades documentais e seu modo de
produção.
Tendo em conta a forma como são produzidos,
os documentos só podem ser utilizados de forma
extremamente limitada como prova ou indício de
conteúdo factual ou processos decisórios que sejam
abordados dentro deles. Os documentos
representam um nível independente de dados. Por
essa razão, é problemático usar declarações em
documentos em oposição a outros resultados
sobre fatos relevantes que foram obtidos em outros
níveis de dados (por exemplo, textos de julgamento
comparados à observação do tribunal; cf. Wolff e
Müller 1997). A prática atual de usar documentos,
por assim dizer, como uma segunda frente após
dados observacionais e verbais deve ser evitada.
Os documentos, mesmo aqueles que operam
expressamente como relatórios factuais, não devem
ser reduzidos à função de recipientes de informação,
mas devem ser tratados e analisados basicamente
como recursos comunicativos metodologicamente
criados. As técnicas de análise de conteúdo de
paráfrase e redução, que visam apenas o conteúdo
informativo pretendido, não apreendem essa
'independência de significado' que os documentos
possuem. Tampouco se encontra em abordagens
que tratam os documentos com uma atitude básica
(ideologicamente) crítica ou avaliativa (como
'análise crítica do discurso'; cf. Titscher et al. 2000. Ver 5.19).
Também é aconselhável, na análise de
documentos, adotar a máxima de análise de
as aparências externas (como layout, espaçamento
entre linhas, cor, qualidade do papel, ordem dos
vários pontos) ou formulações que parecem
bastante óbvias (como modos de endereçamento,
categorias ou descrições de sequenciamento) não
devem ser tratadas. coincidente ou analiticamente
insignificante
umaque se prove
maneira o contrário. As
particular.
transcrições do material (por exemplo, para que
possam ser processadas em software de análise
de texto) devem, portanto, ser vistas como
problemáticas, na medida em que a natureza do
documento como fenômeno é alterada. Infelizmente,
isso é verdade para anonimizações, que muitas
vezes, por invisibilizarem as formas relevantes de
referenciação, eliminam material analiticamente
importante. Seja qual for o caso, sempre deve haver
a possibilidade de comparar os achados com o material original.
Sabe-se que a análise das conversas é facilitada
quando os participantes sinalizam constantemente
a compreensão mútua ou corrigem supostos erros.
Na comunicação textual, este recurso está
disponível de forma bastante reduzida. Na análise
documental existe, portanto, uma grande tentação
de invocar informação contextual para ajudar no
esclarecimento em caso de dúvida. No entanto,
isso deve ser evitado pelo maior tempo possível.
Em apoio a isso, devemos lembrar que o
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produtores ou leitores de documentos são
confrontados com o mesmo problema. Mas eles só
podem confiar até certo ponto na informação
contextual necessária sendo complementada pelos
leitores e, portanto, são em grande parte compelidos
a usar a sequência interna e a ordenação do texto.
Por isso a análise deve partir, em primeira instância,
da autossuficiência do texto e esgotar as
possibilidades analíticas inerentes. Sempre que
possível, tendo em vista a natureza do material,
deve-se também analisar a 'conversa' entre o
documento investigado e os textos subsequentes ou
processuais (por exemplo, contradições, reações,
impugnações, advertências).
Como uma das importantes 'realizações' dos
documentos consiste em tornar invisíveis as
circunstâncias de sua produção, o analista deve, por
vezes, recorrer a técnicas de alienação do objeto de
investigação (Amann e Hirschauer 1997), para
chegar a tais problemas estruturais. como as práticas
locais de produção de texto. Os seguintes mostraram-
se valiosos a este respeito.
• A técnica de 'ler em voz alta' o documento em
questão. • Observações etnográficas ou
entrevistas narrativas sobre casos concretos de
produção de documentos (olhando talvez para a
técnica do incidente crítico, cf. Chell 1998). •
Comparações entre diferentes grupos de
produtores de texto (como relatórios psiquiátricos,
psicológicos e sócio-pedagógicos sobre a mesma
pessoa). • Contrastando os textos dos documentos
com
sua apresentação oral.
ANÁLISE DE DOCUMENTOS E REGISTROS 289
A análise qualitativa documental visa a investigação
de problemas estruturais e o conjunto de ferramentas
metodológicas que os produtores de documentos e
seus destinatários têm de enfrentar, e procura
explicitar as implicações de várias formulações e
estratégias de apresentação. Não é apropriado
esperar qualquer orientação para a formulação
'correta' de textos.
NÃO TE
1 Tendo em vista a rápida aproximação dos analistas do
discurso empíricos às ideias e métodos de análise de
conversação (cf. Antaki e Widdicombe 1998; Edwards
e Potter 1992; Potter 1996; ver 5.17), não iremos
realizar, neste capítulo, qualquer apresentação da
análise do discurso.
(Aqui seguimos o conselho de Silverman 1998: 193;
para uma ênfase diferente, veja 5.19.)
LEITURA ADICIONAL
Lepper, G. (2000) Categories in Text and Talk.
Uma Introdução Prática à Análise de Categorização.
Londres: Sage.
Potter, J. (1996) Representando a Realidade –
Discurso, Retórica e Construção Social.
Londres: Sage.
Watson, R. (1997) 'Etnometodologia e Análise
Textual', em D. Silverman (ed.), Pesquisa
Qualitativa. Teoria, Método e Prática.
Londres: Sage. pág. 80-98.
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5.17 Análise de Conversa
Jörg R. Bergmann
1 Objetivo e metas
2 História de seu desenvolvimento e impacto
3 Fundamento teórico
4 Procedimentos metodológicos
5 Escopo e limitações
6 Desenvolvimentos e perspectivas recentes
1 OBJETIVOS E METAS
A análise da conversa (ou CA) denota
investigação dedicada à investigação, em linhas
estritamente empíricas, de
interação como um processo contínuo de produção
e assegurar uma ordem social significativa. CA procede
com base em que em todas as formas de linguística
e comunicação não linguística, direta e indireta, os
atores estão ocupados com o negócio
de analisar a situação e o contexto de
suas ações, interpretando os enunciados de
seus interlocutores, produzindo adequação situacional,
inteligibilidade e eficácia
seus próprios enunciados e coordenando suas
próprias ações com as ações dos outros. O objetivo
desta abordagem é determinar o constitutivo
princípios e mecanismos por meio dos quais
atores, na conclusão situacional de seus
ações e em reação recíproca aos seus interlocutores,
criam as estruturas significativas e
ordem de uma sequência de eventos e das atividades
que constituem esses eventos. Em termos de
método, CA começa com o mais rico possível
documentação – com gravação audiovisual
e posterior transcrição – de reais e
eventos sociais autênticos, e os decompõe,
por um processo comparativo-sistemático de análise,
em princípios estruturais individuais de
interação, bem como as práticas usadas para
gerenciá-los pelos participantes de uma interação.
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2 HISTÓRICO DE DSTs
DESENVOLVIMENTO E IMPACTO
Os primórdios da CA como empresa independente
direção de pesquisa sociológica devem ser encontrados
nas décadas de 1960 e 1970. De crucial importância
nisso estavam os trabalhos de Harvey Sacks (1967), em
particular as Palestras que ele deu em vários
universidades na Califórnia de 1964 até sua
morte em 1974. Estes foram dedicados aos mecanismos
de contação de histórias, troca de turnos nas conversas,
procedimentos para a categorização
de pessoas, sequenciamento de enunciados,
máximas, as funções dos pronomes e uma riqueza
de outros tópicos. Durante décadas essas Palestras
circularam na forma de gravações de transcrições antes
ficaram disponíveis de forma editada (Sacks
1992). Além do paradigma
importante trabalho de Sacks (cf. Silvermann 1998),
foram os estudos de Emanuel Schegloff (1968)
e Gail Jefferson (1972) que deu à CA sua
perfis específicos nos primeiros anos.
Do ponto de vista histórico, a teoria da
A CA está enraizada na etnometodologia de Harold
Garfinkel (ver 2.3) (ver 3.2), e ainda hoje sua
a auto-imagem teórica e metodológica
as marcas essenciais da etnometodologia
(Património 1984). Além disso, Erving Goffmann
trabalho em análise de interação (cf. Bergmann 1991),
a etnografia da fala, a antropologia cognitiva e a filosofia
tardia de Wittgenstein
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(por exemplo, 1958) tiveram uma influência reconhecível
no desenvolvimento e no programa da AC.
Desde o início da década de 1970, quando as primeiras
coleções contendo artigos relevantes foram publicadas
(Sudnow 1972; Turner 1974; Schenkein 1978; Psathas
1979), a CA emergiu de sua esfera de influência
inicialmente bastante estreita. Foi cada vez mais aceito
fora dos Estados Unidos (cf. Kallmeyer e Schütze 1976
sobre seu impacto nos países de língua alemã) e encontrou
considerável ressonância em várias disciplinas relacionadas.
Isto é particularmente verdadeiro para a linguística, que já
havia começado a lidar com questões sociolinguísticas na
década de 1960 e se voltou para métodos de pesquisa
qualitativa sob a influência da etnografia da comunicação
(cf. Gumperz e Hymes 1972). Hoje os conceitos e os
princípios metodológicos da AC têm um lugar fixo em um
ramo da linguística que lida com questões pragmáticas
(Levinson 1983) e se concentra na natureza dialógica da
linguagem (Linell 1998).
Em contraste, o lugar da AC dentro de sua disciplina-
mãe, a sociologia, foi mais controverso desde o início. Por
causa de sua concentração no nível estrutural da interação
e sua orientação decididamente empírica, é frequentemente
criticado como empirista ou formalista, ou então é
considerado sociologicamente irrelevante. No entanto, a
contínua publicação de estudos empíricos de diversas
áreas da sociedade e o efeito cumulativo desses estudos
deixaram claro para quem está de fora o potencial
epistemológico do tema da AC. Hoje a AC é vista, ao lado
dos 'estudos do trabalho' (ver 3.2), como a segunda
direção analítica distinta que emergiu do programa de
pesquisa etnometodológica. Além disso, é reconhecido
como uma importante abordagem microssociológica para
analisar as estruturas da interação simbolicamente mediada.
Trabalhos clássicos e mais recentes resultantes desta
abordagem de pesquisa podem ser encontrados em uma
série de coleções (por exemplo, Atkinson e Heritage 1984;
Button e Lee 1987; Boden e Zimmerman 1991; Have e
Psathas 1995) e em números especiais de periódicos
particulares (por exemplo, Beach 1989; Button e outros
1986; Maynard 1988; Pomerantz 1993). Há também uma
série de monografias introdutórias, com explicações sobre
a metodologia da AC (por exemplo, Bergmann 1988;
Deppermann 1999; Have 1999; Hutchby e Wooffitt 1998),
bem como bibliografias (por exemplo, Fehr et al. 1990).
ANÁLISE DE CONVERSA 297
3 FUNDAMENTO TEÓRICO
A etnometodologia resultou de críticas às teorias
sociológicas com uma visão da realidade excessivamente
normativa e objetivista. Nas décadas de 1950 e 1960,
Harold Garfinkel (1967a), em vários estudos, conseguiu
demonstrar teórica e empiricamente que não se pode fazer
justiça ao caráter específico da sociabilidade humana se
imaginarmos a realidade social como algo concreto que
está por trás ou para além das ações cotidianas,
observáveis e perceptíveis que realmente a determinam.
Garfinkel contrapõe a ideia de que os atores estão
engajados na criação ativa das realidades em que vivem,
e que o que eles percebem e lidam como fatos que existem
objetivamente e independentes de seu envolvimento só
são construídos e produzidos como tal por suas ações. e
percepções. Se assumirmos que os fatos sociais ganham
sua realidade apenas em virtude das interações entre as
pessoas, a investigação das estruturas e propriedades
dessas interações torna-se um tema central das ciências
sociais. É precisamente a isto que a CA dedica a sua
atenção.
Para a etnometodologia, a realidade social apenas se
"realiza" na ação prática cotidiana, e vê a ordem social
como a produção contínua de atribuições e interpretações
de sentido. Essa criação da realidade transmitida pelo
significado não é meramente um processo cognitivo, não
é de natureza pura e arbitrariamente subjetiva. Ela se dá,
antes, de forma perceptível e 'metódica', uma vez que dela
participam todos os membros competentes da sociedade:
é a isso que se relaciona a ideia de
etno-'metodologia' (Weingarten et al. 1976). E porque a
produção da realidade pela ação é de natureza metódica,
também é caracterizada por características formais e
estruturais individuais que podem ser descritas como tal.
Em termos gerais, o interesse da AC está nos princípios
e procedimentos geradores por meio dos quais os
participantes de uma conversa produzem, em e com seus
enunciados e ações, os traços estruturais característicos
e a 'ordenação vivida' (Garfinkel) dos eventos interativos.
em que estão envolvidos. A área em que a CA se concentra
inicialmente, e que também lhe deu o nome, consiste na
conversação do tipo cotidiano, normal e evidente, e não
do tipo determinado por convenções e outras exigências
formais: em outras palavras, simplesmente conversa ou
bate-papo. Esse tipo de conversa pode ser visto como uma
forma básica de
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298 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
interação – não é claro no sentido de uma
forma quase natural de interação social, uma vez que
as formas de conversa cotidiana trivial também têm
características históricas e culturais (Burke 1993). Elas
servir, no entanto, como a base comunicativa de
qual um entra no outro talvez cerimonialmente ou
formas de comunicação institucionalmente marcadas
(serviço religioso, aulas escolares e afins),
e para qual retorna, por exemplo, após
para audiência judicial. Do ponto de vista da CA,
tipos de conversação institucionalmente específicos levam
em seu caráter autêntico em virtude do fato
que a estrutura do tipo de comunicação trivial, cotidiano,
extrainstitucional é transformada de maneiras específicas.
Essas outras formas de
conversa, também, sempre foram de interesse
para CA e, portanto, não é tematicamente
restrito à investigação de 'conversação'.
Por esta razão, Schegloff (1988) sugeriu que
'talk-in-interaction' seria uma forma mais apropriada
descrição de sua área de interesse.
Em comparação com abordagens anteriores de interação
análise (como a de Bales), a CA caracteriza-se por seus
esforços para não subsumir
processos sob categorias externas pré-ordenadas. Não
se contenta em identificar um
expressão como uma repreensão, um elogio e assim por diante,
ou com encontrar um motivo plausível para um enunciado.
Seu objetivo epistemológico é antes capturar as formas
sociais e os processos de sua
lógica interna, e determinar os recursos metodológicos
necessários para fazer uma
enunciado reconhecível em seu conteúdo de significado,
vinculá-lo à sequência de uma conversa,
combiná-lo com uma situação, contextualizar e
observe e responda.
Um ponto crítico sobre o qual a discussão
repetidamente explode (Hopper 1990/91) diz respeito à
relação entre um enunciado linguístico e o
contexto do enunciado. Na opinião do CA é
não é suficiente meramente relacionar essas duas entidades
entre si correlativamente, no sentido de
somando análise de enunciados e etnografia, e então
construir uma conexão plausível. A cada momento de
uma interação,
aquilo que pode ser potencialmente relevante como
contexto de interação contém uma variedade infinita,
e, portanto, é tarefa da análise
mostrar que um fato contextual específico foi relevante
à ação para os próprios atores. CA
portanto, vê os interactantes como sensíveis ao contexto
atores que analisam o contexto de sua ação,
interpretar com a ajuda de seus
conhecimento, combinam seus enunciados com esse contexto
e demonstrar constantemente sua reciprocidade
orientações contextuais (Auer 1986). Mas isso é
geralmente difícil, no entanto, determinar sem
ambiguidade a relevância momentânea de circunstâncias
situacionais ou de circunstâncias pessoais individuais.
características dos interagentes; é sempre um contexto
específico que tem uma importância predominante para
os interagentes no curso de um
interação social – o contexto sequencial.
Cada enunciado produz um ambiente contextual para o
enunciado que segue sequencialmente
isso, e isso é significativo para a interpretação de
este enunciado seguinte e, portanto, é constantemente
referido pelos interagentes no
interpretação e produção de enunciados.
A análise sequencial é, portanto, a forma típica
de análise contextual para AC; é, para um certo
extensão, modelado na 'análise contextual' de
os próprios atores.
Além da análise sequencial, a CA também se preocupa
com outros princípios do contexto
orientação dos interagentes, como o princípio
de 'design de destinatário', o que implica que os atores
esforçar-se para adaptar seus enunciados especificamente
aos seus parceiros de ação específicos – e aos seus
conhecimento prévio. O objetivo desse tipo de análise
contextual é identificar o contexto da
conversa como um contexto dentro da conversa. A AC
tem, portanto, um potencial etnográfico na medida em
que um dos seus temas é como
o contexto de um enunciado é reproduzido no
falas dos participantes.
4 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
É um postulado da pesquisa qualitativa que
métodos devem ser apropriados para o
questão. Mas a adequação de um procedimento
metodológico não pode ser verdadeiramente determinada em
avanço, uma vez que neste momento muito pouco se sabe
sobre o assunto - na verdade, é por isso que está sendo
investigado. Em princípio, só pode ser decidido
retrospectivamente, quando a análise de um determinado
fenômeno levou a algum resultado factual,
se um determinado método era adequado para
a análise desse fenômeno. Considerações
desse tipo foram centrais para a crítica da etnometodologia
na pesquisa social tradicional.
e eles constituem a razão pela qual por um longo
tempo etnometodologia e AC foram muito
relutantes em dar aos seus procedimentos uma formulação
em regras metodológicas gerais. métodos
que pode ser aplicado de forma isolada, generalizada,
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maneira canonizada e mecânica a qualquer tipo de
fenômeno estão sujeitos ao grande perigo de que, na
melhor das hipóteses, possam ser usados para 'descobrir'
características que já são bem conhecidas. Novos
fenômenos requerem novos métodos – mas é claro que
estes não podem ser construídos antecipadamente (ver 5.8).
Com esta advertência em mente, descreveremos, a
seguir, uma série de princípios metodológicos que podem
ser destilados dos estudos disponíveis na AC. Quando
Sacks, Schegloff e seus colegas começaram a se interessar
pelas conversas cotidianas, não tinham à sua disposição
métodos que pudessem ser aplicados facilmente.
À luz de um grande número de considerações teóricas,
eles desenvolveram esses métodos ao lidar com gravações
de som e vídeo de ações cotidianas que foram deixadas
em sua forma bruta; ou seja, ainda não cortada ou
produzida a partir de qualquer ponto de vista didático ou
estético para fins instrucionais ou documentais. Atribuir a
materiais desse tipo o status de 'dados' sociologicamente
relevantes era muito incomum naquela época.
Dados desse tipo eram novos no sentido de que
preservavam, sob a forma de registro, um evento social
que acontecia em um determinado momento, enquanto
um modo de conservação reconstrutivo – como análise
numérica-estatística si, achados de entrevistas ou dados
de um observador protocolos – era característico dos tipos
tradicionais de dados.
Nesse tipo de reconstrução, um evento social passado
irrecuperável é capturado por meio de descrição, narração
ou categorização, mas no processo o evento, em sua
sequência original, é em grande parte perdido: em princípio,
já está enterrado por interpretações subsequentes, em
parte altamente compactado, e agora disponível apenas
em uma versão simbolicamente transformada (Bergmann
1985). É apenas o tipo de conservação de registro, que
fixa um evento social com todos os detalhes de sua
sequência real, que pode permitir ao pesquisador social
investigar a produção 'local' da ordem social, ou analisar
como os interagentes se orientam significativamente para
uns aos outros em seus enunciados, e como eles cooperam
para alcançar, em um tempo e lugar fixos, construções
intersubjetivamente determinadas da realidade.
Como material para as suas análises, a CA não toma
recordações, exemplos imaginados ou comportamentos
induzidos experimentalmente, mas sim registos audiovisuais
ou interações reais, que podem ser vistas como 'naturais'
na medida em que são deixadas no seu habitat original e
ocorreram sem qualquer estímulo do pesquisador social e
ANÁLISE DE CONVERSA 299
equipamento de gravação. Exemplos imaginados muitas
vezes constituem versões idealizadas e – porque são
censuradas por sua plausibilidade – versões empobrecidas
de eventos sociais. Os pesquisadores sociais são, portanto,
obrigados a lidar, em suas observações, com a sequência
factual – e muitas vezes improvável – de eventos, com a
possibilidade de se irritarem com isso.
A tentativa de preservar ao máximo os fenômenos
sociais para análise também é característica da etapa
seguinte no processamento dos dados: a transcrição dos
eventos interativos registrados. Durante a transcrição,
nenhuma tentativa deve ser feita para purgar a matéria-
prima gravada de componentes aparentemente irrelevantes,
nem para normalizar a ortografia. Deve, pelo contrário, ser
preservado em todos os seus detalhes, isto é, com todas
as hesitações, lapsos de língua, pausas, sobreposições de
enunciados, coloração dialetal, contornos de entonação e
assim por diante. Caso contrário, o ganho de informação
que é possível com a gravação de áudio e vídeo seria
imediatamente perdido. (Para uma visão geral dos símbolos
de transcrição normalmente usados na CA inglesa, veja
Atkinson e Heritage 1984. Um novo sistema de transcrição
integrado é proposto em Selting et al. 1998; veja 5.9.)
A tentativa de preservar os eventos originais da forma
mais autêntica possível durante o processamento de dados
é uma das máximas analíticas centrais da CA. De acordo
com suas origens etnometodológicas, o CA se orienta em
seus procedimentos por uma premissa de ordem que diz
que nenhum elemento textual que apareça em uma
transcrição deve ser visto a priori como produto do acaso
e, portanto, excluído como possível objeto de investigação.
Todo elemento textual é observado inicialmente – mesmo
quando o senso comum sugere o contrário – como
componente de uma ordem autorreprodutiva e é incluído
no círculo de fenômenos possíveis e relevantes para
investigação. Essa máxima de 'ordem em todos os
pontos' (Sacks, 1984) é garantir que os pesquisadores
sociais não identifiquem fenômenos possíveis para
investigação de acordo com uma lista de questões
predeterminadas, mas sim lidem abertamente com o
material de investigação e confiem em suas observações.
Resumindo, o procedimento metodológico da AC
consiste em reconstruir para um fenômeno observável e
uniforme os princípios geradores – ou 'a maquinaria' (Sacks).
Em detalhe, isso se dá de tal forma que, como primeiro
passo, na gravação ou transcrição de algum evento
interativo, um objeto é isolado como possível elemento de
ordem. A natureza deste
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300 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
elemento – seja uma determinada sequência de
interação, um enunciado, uma formulação, uma
história, uma interjeição, um pigarro ou um
movimento de cabeça – não é definido
antecipadamente. O procedimento subsequente é
guiado pela suposição de que este é um componente
de alguma ordem que é produzido metodicamente
pelos interagentes. Mais cedo ou mais tarde,
portanto, procurar-se-á outras manifestações desse
elemento e assim montar, a partir do material de
dados, uma coleção de casos em que esse objeto
se revela – em qualquer versão que seja.
Para a próxima etapa é central uma consideração,
que se encontra tanto na interpretação hermenêutica
quanto nas explicações funcionalistas: o objeto
identificado, e sua ordenação, são entendidos como
resultado da solução metódica de um problema
estrutural – neste caso um problema do organização
social da interação. Aqui a natureza deste problema
não pode ser encontrada em um catálogo de
conjuntos, mas sim uma questão de investigação.
Para qual 'problema' o auto-anúncio normal no
início de uma conversa telefônica é uma 'solução'?
A que 'problema' se refere a forma comum de
introdução a uma história, quando o narrador faz
saber que algo engraçado, horrível, etc., aconteceu
com ele ou ela? E que tipo de problema poderia ser
resolvido por um falante interrompendo seu
enunciado e recomeçando do início? Com questões
dessa natureza, a CA busca reconstruir os métodos
práticos que os atores utilizam como soluções para
problemas interativos, cujo uso gera a ordem
observável de um evento interativo.
Em um procedimento desse tipo, os pesquisadores
sociais são inevitavelmente jogados para trás em
sua intuição e competência como membros da
sociedade. Mas eles não devem parar na intuição
ou nunca irão prosseguir na análise. Eles devem
tentar metodologizar esse entendimento intuitivo
(ou seja, elaborar os mecanismos formais) que
torna possível para eles – e os interagentes –
interpretar significativamente a sequência de ação
documentada.
Esses mecanismos formais, cuja reconstrução é
o objetivo da AC, devem conter um princípio
gerador que seja capaz tanto de reproduzir os
dados iniciais da análise quanto de criar novos
casos e fenômenos semelhantes. Não é a descrição
de uniformidades comportamentais que é o objetivo
da AC, mas a identificação de princípios que, em
termos de seu status, representam para os atores
a real
dimensões de orientação. Aqui uma tarefa essencial
da análise consiste em mostrar no material de
dados como os interagentes levam em conta esses
princípios formais em seus enunciados e ações. E
como os interagentes se movem nas mais variadas
condições contextuais, esses princípios também
devem ser vistos como mecanismos transsituacionais
formais, que deixam aos interagentes espaço,
porém, para a produção sensível ao contexto de
seus enunciados. (Os métodos que os atores usam
para alcançar essa particularização de seus
enunciados é em si um tópico de investigação para
CA.)
Finalmente, devemos olhar para a questão da
verificação de validade que geralmente é tão difícil
para a pesquisa qualitativa. Os praticantes de CA
procuram demonstrar a validade de suas análises
reunindo fenômenos funcionalmente semelhantes
de seus dados. O que sustenta isso é a crença de
que esses tipos de co-ocorrência são encontrados
porque os atores têm à disposição não apenas um
único 'método', mas um arsenal de procedimentos
formais que dura para a solução de um problema
interacional e, portanto, eles frequentemente usam
vários desses procedimentos. simultaneamente
(Schegloff e Sacks 1973). Um procedimento mais
rigoroso, mas muitas vezes inaplicável, para
verificar a validade consiste em procurar 'casos
desviantes' nos dados e usá-los para provar que os
próprios atores olham e tratam esses casos como
brechas do padrão de orientação normativo
esperado, na medida em que eles marcá-los como
ações desfavoráveis ou aplicar medidas corretivas
(Pomerantz 1984). Por fim, há a possibilidade de
verificar a validade de uma interpretação referindo-
se a um enunciado posterior de um dos participantes
à interação. Nela se manifestará como um
destinatário compreendeu um enunciado anterior,
e essa demonstração de compreensão pode ser
tomada pelo pesquisador social como evidência da
validade de sua interpretação. Esta é mais uma
expressão do fato de que os princípios metodológicos
da AC estão diretamente relacionados aos métodos
práticos cotidianos, ou seja, ao objeto de sua
investigação.
5 ESCOPO E LIMITAÇÕES
As áreas temáticas com as quais a investigação
da CA se preocupou desde o início, e que ainda
hoje são de interesse, podem ser agrupadas da
seguinte forma.
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1 No centro das atenções estão os mecanismos
constitutivos responsáveis pelo sequenciamento
ordenado e a ordenação regida por regras dos
enunciados em uma conversa.
Isto é especialmente verdadeiro para a organização
de "tomada de turno" em conversas (e aqui o
trabalho de Sacks et al. 1974 é de importância
paradigmática) e a organização sequencial de
trocas de fala que foi determinada para muitos
tipos diferentes de interação - convites, elogios,
recusas, reclamações, repreensões, acusações,
desentendimentos, argumentação, contação de
histórias e assim por diante.
2 Desde os primeiros trabalhos de Sacks sobre os
mecanismos de contar histórias em conversas,
macroformas comunicativas que incluem mais do
que simples sequências de enunciados têm sido
um tópico importante na AC. (Exemplos disso são
o estudo de Jefferson (1988) sobre 'conversa
sobre problemas', ou a investigação de Bergmann
(1993) sobre fofocas.)
3 A CA também se interessa pelos mecanismos que
constituem uma conversa singular como unidade
social, de que são exemplos a organização da
abertura e fechamento conversacional e também
a organização da focalização e continuação
temática.
4 As práticas de descrição e categorização de
indivíduos foram um dos primeiros tópicos da AC
que foi negligenciado por muitos anos e só
recentemente foi retomado (Hester e Eglin 1997)
– por exemplo, na análise das imagens de
estrangeiros e estereótipos sociais (Czyzewski et
al. 1995).
5 Um interesse duradouro da AC tem sido a questão
de como os participantes de uma interação
produzem e asseguram a compreensão – ou pelo
menos uma crença na compreensão – entre si, e
como funciona a 'organização de reparo' que os
interagentes ativam em casos de problemas de
compreensão .
Em sua fase inicial, a AC ainda estava totalmente
restrita a investigar os mecanismos constitutivos da
interação linguística . Uma das justificativas para isso
foi que o material de dados consistia, em sua maioria,
em gravações de conversas telefônicas. Aqui – sem
qualquer intervenção dos pesquisadores – a presença
física da outra parte e toda a comunicação visual são
removidas, e isso traz uma redução essencial na
complexidade do evento comunicativo. isso fez
ANÁLISE DE CONVERSA 301
a tarefa de desenvolver rotinas e métodos para lidar
com esse tipo de material muito mais fácil, mas é claro
que os seres humanos não conduzem suas vidas pelo
telefone – ou pelo menos não continuamente. Por um
lado, houve estudos que, em suas análises dos
aspectos não-verbais da comunicação (Heath 1986;
Streeck e Hartge 1992), superaram as limitações
dessa perspectiva do telefone. E, por outro lado, tem
crescido o número de estudos de AC que levam em
conta o contexto extralinguístico de ação e – mais
particularmente – de trabalho em suas análises (Drew
e Heritage 1992). Estudos desse tipo dominaram a
literatura de AC por vários anos, e agora é quase
impossível obter uma visão geral dos muitos estudos
que tratam da interação em instituições legais, médicas
e psiquiátricas, ou com interrogatórios policiais,
telefonemas de emergência , venda de conselhos,
sessões de psicoterapia, palestras de vendas e
eventos políticos (para exemplos cf. Beach 1996;
Peräkylä 1995; e para contextos de língua alemã
Meier 1997; Wolff e Müller 1997).
6 DESENVOLVIMENTOS RECENTES
E PERSPECTIVAS
A CA aumentou a consciência na pesquisa qualitativa
da constituição linguística da realidade social e dos
fenômenos interativos nos quais as relações estruturais
sociais se reproduzem. Mantendo-se completamente
na tradição sociológica de Georg Simmel, abriu formas
de socialização inimaginavelmente pequenas e
microscopicamente moleculares como um campo de
investigação empírica e tornou possível uma análise
qualitativa estritamente formal. A este respeito é, de
todas as metodologias qualitativas 'soft', em certo
sentido o 'mais difícil'. Seu significado analítico e
metodológico básico deriva, de fato, dessa rigorosa
atenção aos detalhes, mas no futuro também terá que
dedicar maior atenção ao estabelecimento de alguma
relação entre as muitas análises de fenômenos únicos
(por exemplo, cf. Bergmann e Luckmann 1999 ). ;
Kallmeyer 1994).
O potencial e o vigor da abordagem de pesquisa da
AC podem ser encontrados tanto na abertura de novos
campos de pesquisa quanto na promoção de novos
esforços teóricos. Ao longo dos anos muitos autores
têm demonstrado que a AC, que à primeira vista
parece tão empirista, minimalista e purista, também
pode ser utilizada, para
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302 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA

em grande medida, como uma metodologia para
análises objetivas de casos hermenêuticos (Schmitt
1992; ver 5.16) e também para a formação de teorias
sociológicas altamente abstratas de acordo com a
teoria do sistema (Hausendorf 1992; Schneider 1994).
Dentro da linguística, os conceitos de AC facilitaram
uma nova forma de olhar para a relação entre
interação e prosódia (Couper-Kuhlen e Selting 1996)
ou gramática (Ochs et al. 1997), e deram um impulso
importante no campo em expansão da investigação
de comunicação cultural (Günthner 1993). Tentativas
recentes de corrigir a negligência da comunicação
dentro da psicologia e estabelecer uma "psicologia
discursiva" (Antaki e Widdicombe 1998; Edwards e
Potter 1992) são essencialmente dependentes da AC
(ver 5.19). E, finalmente, o CA também desempenhou
um papel influente em trabalhos recentes dedicados
à investigação da comunicação através da mídia: há
estudos que seguem a lógica processual do CA na
análise de textos constituídos no modo escrito (Wolff
1995; ver 5.15) ou produzidos pelos meios de
comunicação de massa (Ayaß 1997). Da mesma
forma, pesquisas recentes sobre interação humano-
computador (HCI) e comunicação mediada por
computador (CMC) estão intimamente relacionadas à
CA em termos de seus conceitos
e metodologia (Button 1993; Suchman 1987). Nesta
área, em particular, pode-se esperar que a combinação
proposta de etnografia e AC conduza a resultados de
grande relevância prática.
LEITURA ADICIONAL
Have, P. ten (1999) Fazendo Análise de Conversação:
Um Guia Prático. Londres: Sage.
Hutchby, I. e Wooffitt, R. (1998) Análise de
Conversação: Princípios, Prática e Aplicações.
Cambridge: Polity Press.
Sacks, H. (1992) Palestras sobre Conversação.
Volumes I e II (editados por G. Jefferson com
introduções de EA Schegloff). Oxford: Blackwell.
Diário
Pesquisa em Linguagem e Interação Social (Mahwah,
NJ: Lawrence Erlbaum).
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5.19 Análise do Discurso
Ian Parker
1 Análise do discurso em psicologia
2 Análise do discurso em psicologia crítica
3 Um exemplo pedagógico
Os analistas do discurso estudam a forma como os
textos são construídos, as funções que desempenham
em diferentes contextos e as contradições que os
atravessam. O termo 'discurso' é usado porque nossa
concepção de linguagem é muito mais ampla do que
uma simples psicolinguística ou sociolinguística.
Alguns dos trabalhos da sociolinguística que explorou
a semântica e a pragmática – o significado e o fazer –
de textos falados e escritos têm sido úteis para chamar
a atenção para as maneiras pelas quais um texto
aparentemente suave pode ser desmembrado e para as
diferentes implicações de diferentes tipos de declaração
dentro dele (Halliday 1978). No entanto, pesquisadores
novos na análise do discurso muitas vezes enfrentam
problemas porque muitas 'introduções à análise do
discurso' descrevem o discurso apenas de um ponto de
vista linguístico ou sociológico. As seções a seguir
descrevem a forma que a análise do discurso assume
na psicologia e na psicologia crítica antes de recorrer a
um exemplo para ilustrar algumas preocupações dos
analistas na vertente crítica dessa nova tradição.
1 ANÁLISE DO DISCURSO EM
PSICOLOGIA
A versão da análise do discurso delineada por
Potter e Wetherell (1987, 1998) foi influente entre os
pesquisadores qualitativos em psicologia na Grã-
Bretanha e foi responsável por definir quantos psicólogos
sociais
308
309
311
aqui entender 'discurso'. Essa versão da análise do
discurso tem sido aceita pelos psicólogos em parte
devido à promessa de um “modelo de ação discursiva”
alternativo para a disciplina (ver Edwards e Potter 1993),
que funciona para relativizar categorias que a psicologia
gosta de ver como essenciais e imutáveis – uma positivo,
mas que (1) contém o trabalho de análise do discurso
dentro de categorias psicológicas tradicionais, (2) foge
da referência à política ou ao poder e (3) restringe sua
análise a um texto particular em vez de localizá-lo em
práticas discursivas mais amplas que regulam e a
compreensão que as pessoas têm de si mesmas.
Perdemos então de vista a contribuição crítica distinta
de uma abordagem discursiva para a psicologia.
Nesta versão da psicologia discursiva, o debate
'quantitativo-qualitativo' tende a marcar o ponto em que
a análise da conversa (ver 5.17) e a etnometodologia
(ver 3.2) se separam. A etnometodologia se opõe
veementemente à abstração de realizações que a
quantificação permite e olha para um modo
fenomenológico de investigação (Smith 1978; ver 3.1). A
análise da conversação, por outro lado, tem sido mais
feliz em jogar pelo que pensa serem as regras do jogo
científico (Antaki e Widdicombe 1998). Ambos os
aspectos da análise do discurso aqui carregam o perigo
do 'essencialismo' da psicologia dominante para
metodologias qualitativas alternativas.
O essencialismo pode ser encontrado em relatos
discursivos contemporâneos de pelo menos quatro maneiras.
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A primeira é quando o usuário do discurso é visto como usando
intencionalmente certos 'repertórios interpretativos' ou
deliberadamente provocando certos efeitos retóricos (ver Edwards
1995).
Dado o foco individualista da psicologia, não devemos nos
surpreender se uma retórica intencionalista se infiltrar em muitas
descrições discursivas e as “funções” do discurso são então
atribuídas ao falante individual. É ainda mais importante estar
ciente do individualismo, então, no trabalho crítico sobre a
linguagem. A segunda é onde a preocupação com a linguagem
determinista de algumas descrições discurso-analíticas leva a
uma tentativa de reintroduzir alguma noção do 'eu' (Burr 1994). A
terceira é onde afirmações sobre as capacidades discursivas dos
seres humanos são transformadas em uma explicação das
características necessárias do pensamento, como sendo
'dilemáticas' por exemplo (Billig 1991). A quarta é onde se tenta
justificar explicações discursivas para uma audição psicológica,
referindo-se a modelos de quase-cognição, ou mesmo à
neurofisiologia (Harré e Gillett 1994).
Essa versão da análise do discurso forneceu um pólo de
atração para escritores da psicologia social do 'novo paradigma'
da década de 1970 (Harré e Secord 1972), e ajudou a legitimar a
pesquisa qualitativa em departamentos de psicologia na década
passada. Isso levou então ao argumento de que é possível
vincular a “virada ao discurso” a uma “segunda revolução
cognitiva” na qual a maior parte da máquina mental será vista
agora como estando na esfera pública o tempo todo. (Harre e
Gillett 1994). Alguns escritores críticos em psicologia social que
foram tentados a recorrer ao estudo da retórica como uma
alternativa à experimentação em laboratório (Billig 1987) e ao
estudo da maneira como as pessoas lidam com dilemas na
conversa cotidiana (Billig et al. 1988) agora vêem seu trabalho
como 'discursivo' e também fariam afirmações, com base nessa
pesquisa, de que agora sabem mais sobre a natureza do
pensamento humano (Billig 1991). Deve-se notar que essas várias
elaborações da análise do discurso também contribuíram para as
perspectivas críticas em psicologia, e a análise do racismo de
Wetherell e Potter (1992; ver também Potter e Wetherell 1998),
por exemplo, se conecta com formas foucaultianas mais radicais
de análise do discurso. pesquisar.
Este capítulo se concentra na contribuição das abordagens
foucaultianas para a análise do discurso.
ANÁLISE DO DISCURSO 309
que foram influenciados por teorias estruturalistas e pós-
estruturalistas. Essas abordagens foram explicitamente alinhadas
recentemente ao desenvolvimento da 'psicologia crítica' (Parker
1997).
2 ANÁLISE DO DISCURSO EM
PSICOLOGIA CRÍTICA
O linguista Ferdinand de Saussure (1974) sugeriu uma nova
ciência chamada 'semiologia', que estudaria a vida dos signos em
sociedade, e a exploração de padrões semiológicos de significado
tem sido realizada ora sob esse título, ora sob o norte-americano)
título de 'semiótica' (Hawkes 1977). Embora os analistas do
discurso em psicologia tendam a se concentrar em textos falados
e escritos, uma “leitura” crítica da psicologia como parte da cultura
deve abranger o estudo de todos os tipos de material simbólico
que usamos para nos representarmos uns aos outros (Parker e
The Bolton Discourse Network 1999). Todo esse material simbólico
é organizado, e é essa organização que possibilita que ele produza
para nós, seus usuários, um senso de comunidade e identidade
humana. A semiologia em geral, e a análise do discurso em
particular, nos leva a questionar o modo como a subjetividade (a
experiência de ser e sentir em contextos discursivos particulares)
se constitui dentro e fora da psicologia.
A psicologia imagina que é 'realista', mas na verdade isso é
muitas vezes o caso apenas no sentido empirista do termo. Os
analistas do discurso, por outro lado, desafiam a forma como a
disciplina estuda o 'real' através do texto. É possível analisar as
qualidades particulares de um texto 'realista' como algo que
constrói um sentido do mundo exterior como dado sem concluir
que afirmações sobre o mundo nunca podem ser exploradas e
avaliadas. Algumas das análises de textos visuais na teoria do
cinema (ver 5.7), por exemplo, têm sido úteis para mostrar como
a ideologia funciona ao reapresentar algo na tela como se fosse
uma janela transparente para o mundo (McCabe 1974). Os
relatórios psicológicos fazem o mesmo tipo de truque quando
pretendem fornecer uma janela transparente sobre a mente, e
uma abordagem discursiva crítica vincula as análises dessas
formas escritas com os textos visuais que nos cercam e fazem
com que os relatórios pareçam razoáveis e sensíveis.
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310 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
A organização do discurso por meio de padrões e
estruturas fixa o significado do material simbólico, e isso
permite que os analistas do discurso peguem esses textos,
os descolem e mostrem como eles funcionam. O processo
de focalizar textos específicos pode nos levar a tratá-los
pragmaticamente como abstraídos da cultura quando
realizamos nossa análise, e por isso temos que estar
atentos às formas como os significados que estudamos
são produzidos em sua relação com outros textos. , a
forma como são 'intertextuais'. Quando tomamos um texto
pronto ou selecionamos algum material para criar um texto,
somos capazes de traçar conexões entre signos e
identificar regularidades que produzem certas posições
circunscritas para os leitores. Podemos então estudar a
força ideológica da linguagem exibindo os padrões e
estruturas de significado. Ou seja, podemos identificar
distintos 'discursos' que definem entidades que vemos no
mundo e nos relacionamentos, e como as coisas que
sentimos são psicologicamente reais em nós mesmos.
Saussure fez uma distinção crucial entre "atos de fala"
individuais (Austin, 1962) por um lado e o "sistema de
linguagem" que determinava como eles podem ser
produzidos e que sentido eles poderiam ter, por outro.
Barthes (1957/1972) estendeu essa análise para olhar
para o modo como os termos na linguagem não apenas
parecem se referir diretamente a coisas fora da linguagem,
por meio da 'denotação', mas também evocam uma rede
de associações, por meio da 'conotação', e operam como
parte de um "sistema de signos de segunda ordem"
ideológico que ele chamou de "mito". O mito naturaliza os
significados culturais e faz parecer que a linguagem não
apenas se refere ao mundo, mas também reflete uma
ordem imutável e universal das coisas. Por não reivindicar
diretamente a representação do modo como o mundo
deveria ser, mas se insinuar em quadros de referência
tidos como certos, o mito é uma das formas efetivas de
funcionamento da ideologia.
Foucault (1980) suspeitava do termo “ideologia” porque
pode levar as pessoas a encontrar uma “verdade” essencial
subjacente que poderia ser contraposta a ele, mas a
análise do discurso foucaultiana na psicologia é agora
mais simpática às maneiras pelas quais os teóricos
literários radicais lutaram com o termo e tentaram guardá-
lo para uma leitura de textos (Eagleton 1991).
Isso não significa que os analistas do discurso gostariam
de assumir a posição de 'teóricos da recepção do leitor' na
teoria literária (por exemplo, Iser 1978). Isso porque a
noção de 'recepção do leitor' nos convida de volta ao
uma noção cognitiva de indivíduos como tendo algum tipo
de parafernália interpretativa dentro de suas cabeças que
os ajuda a decodificar o que está acontecendo ao seu
redor. Também pressupõe que poderia haver uma posição
para um leitor livre de discurso, e que esse leitor
independente pudesse analisar o que estava acontecendo
no texto de um ponto de vista objetivo (Eagleton 1983). Os
analistas do discurso que se voltam para a teoria literária
ficam mais impressionados com algumas das outras
descrições na obra de Barthes de textos 'readerly' e
'writerly', de diferentes tipos de discurso que ou parecem
fechados e só podem ser lidos ou parecem abertos para
serem escritos como bem como lido, aberto a ser alterado
(Barthes 1977). Textos de leitura – livros didáticos de
psicologia, por exemplo – apenas permitem que o leitor os
reproduza. Os textos escritos estão abertos ao leitor para
participar e transformar os significados que são oferecidos.
Há problemas de leitura e interpretação aqui que não
podem ser resolvidos por abordagens quantitativas em
psicologia.
Se conectarmos nosso trabalho com a tradição
foucaultiana dessa forma, a abordagem pode funcionar
como uma ponte para uma compreensão crítica da
contradição, da constituição do sujeito psicológico moderno
e seu lugar nos regimes de saber e poder. É então possível
para o pesquisador romper completamente com a
psicologia dominante e vê-la como uma série de práticas
que podem ser 'desconstruídas'.
Embora os pesquisadores do campo da análise do
discurso alertem contra a sistematização de sua
abordagem, pois ela deve ser pensada mais corretamente
como uma sensibilidade à linguagem do que como um
'método', é possível indicar etapas pelas quais podem ser
utilmente percorridos para identificar contradições,
construção e funções da linguagem. Parker (1992) esboça
uma série de 'passos', por exemplo, dos quais sete serão
mencionados aqui. O pesquisador é encorajado a (1)
transformar o texto em forma escrita, se ainda não estiver;
(2) livre associação a variedades de significados como
forma de acesso a redes culturais e anotação; (3) listar
sistematicamente os objetos, geralmente marcados por
substantivos, no texto ou na parte selecionada do texto;
(4) manter distância do texto, tratando o próprio texto como
objeto de estudo e não como aquilo a que parece 'referir-
se'; (5) relacione sistematicamente os 'assuntos' –
personagens, personas, posições de papéis – especificados
no texto; (6) reconstruir direitos e responsabilidades
pressupostos de 'sujeitos' especificados no texto; (7)
mapear o
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redes de relacionamentos em padrões. Esses padrões na
linguagem são 'discursos', e podem então ser localizados
em relações de ideologia, poder e instituições.
3 UM EXEMPLO PEDAGÓGICO
Tomaremos um exemplo notável de pesquisa crítica para
ilustrar a importância dos debates teóricos e metodológicos
críticos na análise do discurso.
Walkerdine (1991) analisou a interação entre uma
professora e um menino na sala de aula. O contexto
teórico para a análise é elaborado em Henriques et al.
(1998). Na breve transcrição, o professor foi capaz de
controlar o menino até que ele respondeu com uma
torrente de abusos sexistas. Ela se retirou e foi incapaz de
reafirmar sua autoridade.
Os psicólogos que estudam o poder, é claro, geralmente
serão tentados a tratá-lo como o exercício deliberado de
autoridade sobre outro que "se conforma" ou "obedece".
No entanto, o poder no discurso é mais complicado, e as
noções de 'posição de sujeito' e 'interpelação' têm sido
úteis para capturar a maneira pela qual os 'poderosos' e
'sem poder' são abordados e recrutados.
Foucaultianos olhariam então para como a organização
da linguagem em uma cultura fornece lugares para o
fenômeno fazer sentido, e nas 'superfícies de emergência',
para certas representações e práticas do eu.
Walkerdine explorou a maneira como os discursos
concorrentes da sexualidade feminina desvalorizada e a
teoria da educação liberal moldaram a maneira como os
participantes da interação poderiam se relacionar uns com
os outros. O menino conseguiu posicionar a professora
como mulher, e assim silenciá-la, e a mulher que havia
sido treinada para valorizar a livre expressão das crianças
posicionou-se como uma boa professora, não conseguindo
então silenciar o menino.
A história na análise do discurso, então, não deve ser vista
como algo que puxa as cordas dos atores individuais: ao
contrário, ela traça um campo de ação no qual os indivíduos
compreendem a si mesmos e aos outros. Esses discursos
só poderiam funcionar aqui, é claro, por causa dos sistemas
mais amplos de poder nas relações homem-mulher (ver
3.10) e sistemas de ideologia na educação. O poder era
exercido nesta sala de aula de tal forma que a mulher
participava e reproduzia sua própria opressão. Uma análise
das regras do discurso que governam qualquer formação
social particular também deve,
ANÁLISE DO DISCURSO 311
então, seja uma análise de como os indivíduos se engajam
criativamente com essas regras, quais formas de poder
eles reconstroem ao participar delas e quais formas de
resistência é possível para eles exibirem. O nível macro,
então, é algo que permeia, constrói e se sustenta no nível
micro.
Walkerdine não segue um procedimento definido ou
segue seu caminho através de 'passos' na análise, e
aqueles exemplos de análise de discurso que seguem
passos geralmente o fazem para propósitos puramente
pedagógicos (por exemplo, Parker 1994). No entanto, ela
identifica, por exemplo, os 'sujeitos' (o caráter particular da
'mulher', 'menino', 'professor' e 'criança') no texto como
objetos constituídos no discurso e especifica os direitos,
responsabilidades e padrões de poder em que estão
implicados.
A professora do escritório de Walkerdine estava tanto à
mercê da psicologia, por meio de sua formação pedagógica,
quanto do sexismo.
A própria psicologia opera como uma espécie de 'mito' no
senso comum, e corre ao lado de uma série de práticas
excludentes e patologizantes que o senso comum justifica
como naturais e inquestionáveis. É por isso que uma
análise dos fenômenos psicológicos precisa ser
empreendida juntamente com uma análise das práticas da
psicologia na cultura ocidental, e então essa análise deve
estender seu escopo à maneira pela qual a psicologia
transmite imagens do 'eu' por meio de suas próprias
práticas. parte do 'psy-complex' (Rose 1985). É difícil,
então, apelar ao bom senso como um recurso sempre
confiável para desafiar a psicologia.
Aqueles que se sentem à vontade com as posições de
linguagem que lhes são oferecidas na cultura, ou que não
estão confiantes em mobilizar sua consciência crítica do
poder para focalizar o que a psicologia lhes faz, por outro
lado, percorrerão os manuais de análise do discurso e
serão incapazes de para ver o ponto; pois a linguagem
lhes parece não fazer mais do que representar o mundo
como ele é e como eles pensam que deveria ser.
Há uma série de paradoxos aqui, pois tanto a psicologia
conservadora quanto a crítica fazem parte do conhecimento
cotidiano fora das universidades e clínicas. É mais fácil
entender como esse paradoxo se desenrola se nos
concentrarmos na noção de contradição no discurso e na
maneira como os significados contraditórios constituem
objetos que reforçam ou desafiam o poder.
Não existe uma linha simples que possamos traçar
através da análise do discurso usando, por exemplo,
Machine Translated by Google
312 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
a obra de Foucault, que garantiria a montagem de
uma perspectiva crítica confiável. Há sempre uma
luta sobre o significado dos termos e quais os efeitos
que eles têm dentro dos regimes de verdade (Parker
e Burman 1993). Poderíamos, por exemplo, ver a
'psicologia discursiva' como parte de um contra-
discurso que incorpora processos psicológicos na
cultura e na política, mas também poderia ser
tomada e absorvida pela psicologia dominante para
tornar a disciplina ainda mais resiliente e apta a
desviar a crítica. . .
O material da vida mental está no discurso, e
então faz sentido dizer que estamos elaborando uma
“psicologia discursiva” alternativa, mas isso precisa
ser discutido teoricamente mais do que
metodologicamente se a análise do discurso deve
se tornar mais do que apenas outro método e
contribuir para o desenvolvimento da psicologia
crítica (Parker 1999).
LEITURA ADICIONAL
Henriques, J., Hollway, W., Urwin, C., Venn, C. e
Walkerdine, V. (1998) Mudando de Assunto:
Psicologia, Regulação Social e Subjetividade
(edição reeditada). Londres: Routledge.
Parker, I. (1997) 'Psicologia Discursiva', em D. Fox
e I. Prilleltensky (eds), Psicologia Crítica: Uma
Introdução. Londres: Sage. pág. 284-298.
Parker, I. e Burman, E. (1993) 'Contra o imperialismo
discursivo, o empirismo e o construcionismo: trinta
e dois problemas com a análise do discurso', em
E. Burman e I. Parker (eds), Discourse Analytic
Research: Repertoires and Readings of Textos
em Ação. Londres: Routledge. pág. 155-172.
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5.21 A Arte da Interpretação
Heinz Bud
1 Uma experiência de verdade
2 Usando o acaso e tolerando o que não pode ser decidido
3 A 'inferência abdutiva'
4 A entrevista como uma 'chance objetiva'
5 A entrega ao objeto e a inspiração do conceito
6 Uma forma aberta do complexo, o temporário e o instável
7 Singularidade e especificidade
O que Robert Merton (1968), em oposição ao esquema de
Hempel-Oppenheim para explicações científicas, se referiu,
no final da década de 1940, como o 'padrão de serendipidade'
na pesquisa empírica é hoje essencial para a compreensão
da pesquisa social pós-positivista . A pesquisa empírica não
se limita a testar ou verificar hipóteses, mas tem sua própria
prática de teorização experimental, que resulta em modelos
para a explicação e terminologia para a compreensão da
realidade social cotidiana.
'Serendipidade' significa a descoberta de dados imprevistos,
não normais e inespecíficos que requerem uma nova visão
da ação interpessoal e incorporam um conceito diferente do
universo social. O conceito de dissonância cognitiva de Leon
Festinger (1957), o conceito de inconsciente de Sigmund
Freud (1920-22/1955) ou a ideia de Harold Garfinkel (1967a)
de suposições de normalidade têm sua base em tais
descobertas.
1 UMA EXPERIÊNCIA DE VERDADE
Em resposta a um dado notável ou supérfluo, a dialética
hermenêutica da verdade e do método torna-se efetiva,
deixando claro que hábitos de pensamento particulares são
dados como certos e modos particulares de observação
foram esquecidos. A pesquisa empírica contribui para
321
321
322
322
323
324
325
a teorização sociológica quando nos fornece ideias,
categorias e fórmulas para fatos sociais obscuros e relações
sociais não consideradas que podem então ser submetidas
a um processamento teórico adicional e testes conceituais.
Mas esse 'efeito serendipidade' não acontece
automaticamente. Sempre é preciso um investigador para
confrontar os fatos e, assim, superar as rotinas de redução
da complexidade paradigmática e fazer da interpretação uma
arte. O termo arte refere-se aqui a lidar com ambiguidades,
lidar com limitações e misturar componentes separados
(para discussão desta ideia de 'arte na ciência' que é
inspirada na estética do modernismo clássico, cf. Clifford
1988b). Claro que não se trata de um mero jogo ou peça de
comportamento subjetivo, mas sim como a expressão de
uma experiência de verdade que ultrapassa a área de
controle da legitimação metodológica (como formulado por
Gadamer 1975: XXVII).
2 USANDO O CHANCE E TOLERANDO
O QUE NÃO PODE SER DECIDIDO
A questão sobre a relação entre arte e ciência serve
inicialmente para determinar as fronteiras entre as formas da
intuição artística e as do ceticismo científico. Mesmo a ideia
da sociologia como uma 'terceira cultura' entre literatura
Machine Translated by Google
322 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
e a ciência (Lepenies 1988) depende da distinção existente
entre orientações científicas e literárias. A pergunta sobre
a relação entre arte e ciência não é feita apenas
externamente no que diz respeito às separações
institucionais, mas também, para a ciência, de dentro para
fora, se considerarmos a gênese e validade do
conhecimento científico. Aqui não se pode evitar dois
insights fundamentais: por um lado, o fato de que, para
qualquer descoberta, coincidências bastante específicas
devem se unir para abrir o domínio do que é "conhecido"
ao que é "reconhecível"; e, por outro lado, o fato de que a
fundamentação das ideias contém alguma referência a
plausibilidades que não podem mais ser fundamentadas
no contexto do mesmo sistema de ideias. No primeiro
caso, estamos preocupados com o insight histórico-
científico sobre a natureza casual das descobertas e, no
segundo caso, com o insight filosófico sobre a natureza
incompleta das explicações. A ciência é tão pouco capaz
de captar a originalidade do desconhecido quanto os
paradoxos da autoexplicação.
É, portanto, parte da arte da ciência fazer uso do acaso e
tolerar o que não pode ser decidido. Aqueles que esperam
da ciência apenas segurança de método e certeza de
explicação negam-se de antemão a atração da pesquisa,
que começa onde a obediência ao método e o idealismo
sobre a explicação não são mais produtivos.
A arte, portanto, impacta a ciência pela impossibilidade
de metodologizar alguma atitude de pesquisa e pela
circularidade da consciência autorreflexiva. Porque a
natureza de um caso não pode ser derivada de teorias
nem generalizada de casos isolados, requer a experiência
praticada e o envolvimento proposital de um investigador
que se faz instrumento de pesquisa. A interpretação não é
apenas um ato de abnegação, no sentido de que há
sempre alguém que interpreta. É também um ato de auto-
realização, em que há sempre alguma emoção. Onde a
teoria científica pressupõe um sujeito de consciência, na
prática de pesquisa vive um ser humano. A vontade de
saber (Foucault) é, portanto, uma condição indispensável
para a pesquisa da realidade científica.
3 A 'INFERÊNCIA ABDUTIVA'
Charles Sanders Peirce, em sua famosa metodologia de
'inferência abdutiva', viu uma maneira
além da segurança indutiva da generalização e da certeza
dedutiva da derivação: a dedução prova que, por razões
lógicas, algo deve acontecer; a indução demonstra que há
evidência empírica de que algo é realmente assim;
abdução, em contraste, meramente supõe que algo pode
ser o caso. Portanto, abandona a base sólida de previsão
e teste para introduzir uma nova ideia ou compreender um
novo fenômeno (ver 4.3).
Peirce estava preocupado com o procedimento para
formar uma hipótese, e isso para ele era mais do que
meramente um ato cognitivo: era antes uma instância do
desenho de um mundo.
A sugestão abdutiva vem a nós como um flash.
É um ato de insight, embora de insight extremamente falível.
É verdade que os diferentes elementos da hipótese estavam
em nossas mentes antes; mas é a ideia de montar o que
nunca havíamos sonhado em montar que pisca a nova
sugestão diante de nossa contemplação.
(Peirce 1960a: 113)
A 'inferência abdutiva' depende, portanto, de um duplo
movimento: por um lado, deve-se permitir que os diferentes
componentes de uma hipótese girem diante do olho interior
e, por outro, deve-se resumi-los todos no momento certo
em uma interpretação. . Existe, portanto, algo como 'timing'
no processo interpretativo, segundo o qual se pode ser
muito cedo, mas também muito tarde: muito cedo porque
os contextos de referência relevantes ainda não foram
todos rastreados, e muito tarde porque as associações se
dispersam em um infinito inútil (ver 2.1, 4.3).
4 A ENTREVISTA COMO
UMA CHANCE OBJETIVA
Qual é o significado dessas considerações para as várias
etapas do processo de pesquisa interpretativa? Em que
consiste a arte de coletar, analisar e apresentar dados
qualitativos? Em termos da doutrina naturalista na pesquisa
social interpretativa, pode-se estar inclinado a preferir o
instrumento preservador da observação participante (ver
5.5) ao intervencionista da entrevista (ver 5.2). Mas no que
diz respeito ao encontro com a realidade, não há diferença
muito decisiva entre esses dois procedimentos.
Na auto-entrevista introdutória em seu
Conversas de Nova York, Sylvère Lotringer explora
Machine Translated by Google
a diferença entre um trabalho escrito e uma entrevista gravada:
Por escrito, desaparecer nunca é definitivo.
Escrever significa criar uma obra, ou erguer um
monumento. Além disso, a confiança na própria
imortalidade ou sobrevivência está se tornando, na
desenvolver significância a partir da contingência. Estamos
minha opinião, cada vez mais duvidosa em nossa
conversando com alguém e de repente temos um mundo
civilização. A entrevista, ao contrário, é uma forma
mais flutuante, nômade e transitória. Não construímos inteiro em nossas mãos. Para ficar com a imagem de Lotringer
pirâmides, mas ocupamos um canto. Não lançamos citada acima: o entrevistador permite que o entrevistado ocupe
um 21)
alicerces, mas armamos uma tenda para passar a noite. (1983: determinado canto de onde se pode vislumbrar uma
O entrevistador se assemelha a um companheiro de viagem
em uma viagem de trem a quem se conta toda a história de
sua vida. A natureza limitada do contato parece ser uma
condição para a extraordinária veracidade dessa relação.
Como disse Georg Simmel (1984), confiamos no 'estrangeiro
de passagem' – que o entrevistador parece ser – com coisas
que talvez nunca diria a um conhecido próximo. Dessa forma,
a finitude e a distância tornam-se características estruturais de
uma "relação social de um tipo particular" (Scheuch 1973: 66),
na qual o indivíduo emerge por um breve momento da massa
anônima como um rosto inconfundível. Trata-se aqui de um
encontro fortuito, mas extraordinário, no qual o entrevistado
pode se ver como sujeito singular de um enunciado, mas ao
mesmo tempo como representante categórico de alguma
consciência coletiva.
A assimetria da distribuição de papéis entre entrevistador e
entrevistado não deve, contudo, ocultar o que une os dois
parceiros: o trato recíproco com o presente e a busca
permanente de sentido, sobre a qual Cicourel (1964) falou com
muita força. Desde os primeiros momentos de uma entrevista,
quando os parceiros trocam cumprimentos, sentam-se e
dedicam algumas palavras ao que está por vir, negocia-se a
constelação de uma relação entre entrevistador e entrevistado
(ver 5.3) que determina todo o conversa que se seguiu. Ambas
as partes devem desenvolver rapidamente uma imagem de
com quem estão lidando e como se relacionarão nas próximas
uma ou duas horas. Nesse sentido, cada entrevista é um
encontro único e flutuante que é extraído do fluxo infinito,
aberto e multi-voz da comunicação cotidiana.
Onde está a 'localização real' desta palestra? O que esse
fenômeno do acaso nos diz sobre o universo social de sua
ocorrência? A quem interessa e quem fala?
A ARTE DA INTERPRETAÇÃO 323
Do filósofo Georg Simmel temos a imagem de um fio de
prumo que pode ser enviado, de qualquer ponto da superfície
da nossa existência, às profundezas da alma (1984: 195). Os
surrealistas falavam da "chance objetiva" de um encontro
importante. Portanto, é de vital importância para o investigador
social que coleta dados na forma de uma 'entrevista aberta'
totalidade.
Onde nos encontramos, então, é uma questão de suposições
provisórias que sempre permanecem incertas e requerem mais
escrutínio.
5 ENTREGA AO OBJETO E
A INSPIRAÇÃO DO CONCEITO
O problema se repete na análise de material em protocolos e
documentos. Onde se começa e como se lê o que está nas
transcrições? Nenhum processo de pesquisa pode começar
sem a decisão de um intérprete que seleciona um local e
entende o que lê ali. Esses textos casuais e casuais do
cotidiano só podem ser falados a partir do envolvimento de um
leitor que tropeça em alguma formulação ou leva a sério o
conteúdo declarativo de algum enunciado.
Uma condição para esse tipo de leitura é a colocação entre
parênteses das próprias estruturas de julgamento que
fundamentam os motivos de autopreservação. O treinamento
da 'estupidez metodológica' pode transformar um sujeito
atuante e vivenciador do cotidiano em um leitor objetivo que
se abandona ao prazer do texto. Para Roland Barthes (1976:
19), podemos então escolher entre duas formas alternativas
de leitura: uma vai direto para a expressão da narrativa
biográfica, olha para a extensão do texto e ignora os jogos
linguísticos. A outra leitura não omite nada, é pesada e se
prende ao texto; lê, por assim dizer, meticulosa e
obsessivamente. Onde o primeiro avança rapidamente, o outro
não avança. No primeiro caso, o prazer se concentra na
'construção biográfica total' elaborada, enquanto no segundo
são os intervalos reconstruídos da sensualidade. Embora
Barthes seja decididamente da opinião de que apenas este
segundo
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324 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
forma de leitura é apropriada para
textos, seria preciso dizer que o tipo de
a leitura que se escolhe mostrará que tipo de
pessoa um é.
O uso da “estupidez metodológica”
exige que o leitor refreie o afetivo
reações: estas devem ser transformadas em leituras
que podem ser experimentadas e depois rejeitadas.
Mas as reações afetivas não podem ser completamente
desligado, e o teste de leituras não pode ser
perseguido infinitamente. K.H. Wolff (1976)
caracterizou a tensão que leva a uma interpretação
com as duas expressões 'rendição'
e 'pegar'. Deve-se entregar-se ao
material para ser capaz de reconhecer estruturas
dentro dele. Mas como a inspiração de
o conceito surge dessa entrega ao
objeto? Toda interpretação depende do
envolvimento de uma autocompreensão individual.
No ato da interpretação o distanciado
leitor, enterrado no texto, torna-se um
ego engajado preocupado consigo mesmo.
A filosofia hermenêutica fala de um projeto de
qualidade de compreensão em que o futuro
de um ego de autocompreensão pode ser encontrado.
Em última análise, ninguém pode ser isento da
responsabilidade por uma interpretação, e um investigador 'formações' sociais e 'estruturas' históricas
quem não se atreve a dar esse salto nunca
ser capaz de apreender um conceito.
6 UM FORMULÁRIO ABERTO DO COMPLEXO,
O TEMPORAL E O INSTÁVEL
Temos não só a arte da entrevista e
a arte da interpretação, mas também a arte de
apresentação. Para isso, principalmente em decorrência
estímulo da etnologia, uma quantidade crescente
atenção tem sido recentemente dedicada ao
discussão da metodologia sociológica. (Bom
Visões gerais disso podem ser encontradas em Clifford e
Marcus 1986 e em Berg e Fuchs 1993.) Em
princípio, há uma escolha entre a forma de
apresentação sistemática, baseada em derivações
conceituais lineares ou circulares, a forma ensaística
dedicado à iluminação detalhada da essência
(Bude 1989), e a forma narrativa, que
segue uma seqüência histórica (Bude 1993).
Embora na pesquisa qualitativa as apresentações
narrativas sejam preferidas (como
histórias de mistério, ou uma história clínica no sentido de de produção de texto em que o tempo
a Escola de Chicago, ou um retrato sociológico),
toda apresentação requer um autor. Para a escrita,
apesar de uma ou duas tentativas de desenvolver um
poética sociológica (Brown 1977; Edmondson
1984; Nisbet 1976; ou Clifford e Marcus
1986), são poucas as prescrições às quais se
poderia recorrer à orientação. Por isso os escritores
rapidamente refugiar-se no conceito de estilo
(Gumbrecht e Pfeiffer 1986), que,
claro, oblitera completamente a fronteira
entre arte e ciência por causa de suas implicações
de gênio estético. Para pesquisa qualitativa
certa consciência formal da arte de escrever é
importante, pois a plausibilidade da
pesquisa e a generalização de seus resultados
só se manifestam por meio de
apresentação (ver 5.22).
Além disso, deve-se levar em conta os diferentes
propósitos de generalização no
ciências. Em seus estudos de caso único qualitativos
pesquisa está preocupada com fenômenos agregados
de mundos da vida pessoal,
desenvolvimentos ou mudanças sociais, e estes não
podem ser rastreados até aspectos únicos do
comportamento dos indivíduos. Por isso o processo de
generalização está preocupada com a análise de
relações entre indicadores isolados, mas
visa antes a reconstrução lógica do
dinâmica sequencial e a lógica criativa de
(Mayntz 1985). Os resultados da qualidade
pesquisa, portanto, não são teorias gerais com
uma reivindicação de validade universal, aplicabilidade
universal e relevância universal, mas explicações
contextualizadas que são de validade limitada,
aplicabilidade local e relevância focada
(Jahoda 1989 faz esta distinção entre
teorias apodíticas e explicações casuísticas).
O que corresponde a isso, em termos de
apresentação, é uma abertura de forma que trabalha com
interpretações meticulosamente detalhadas, economia
de enunciados e conceitos provisórios. a
autor não é mais um 'outro generalizado'
(Mead 1934) que observa as coisas de uma posição
errante e olha por cima dos ombros das pessoas,
mas sim um 'outro específico' que é tocado por
falhas sociais e movidos por eventos históricos
(cf. Bude 1988 para uma discussão desta mudança de
perspectiva). Porque ele/ela não pode se esconder atrás
uma teoria, cada explicação de sua pesquisa
objeto é também uma autoexplicação que reserva
para o leitor colocar no texto. contextualista
A metodologia se realiza, portanto, em uma estratégia
a fixidez do objeto de pesquisa, a perspectiva
participativa do autor e o
participação na recepção do texto não são meramente
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mencionadas como condições constitutivas, mas
apresentadas como aspectos factuais.
Trata-se de uma forma que dirige a atenção para o
complexo, o temporal e o instável no universo social, e
que se afasta do ideal cartesiano de separação em
direção ao ideal heraclidiano de transformação (para
discussão sobre isso, cf Thompson 1979; ver também
5.11). Freud tinha o seguinte a dizer sobre essa
"mentalidade analítica" (ver 5.20):
A psicanálise não é, como as filosofias, um sistema
que parte de alguns conceitos básicos nitidamente
definidos, procurando apreender todo o universo
com a ajuda deles e, uma vez concluído, não tendo
espaço para novas descobertas ou melhor
compreensão. Pelo contrário, mantém-se próximo
dos fatos em seu campo de estudo, procura resolver
os problemas intermediários da observação, tateia
seu caminho com a ajuda da experiência, está
sempre incompleto e sempre pronto para corrigir ou
modificar suas teorias. Não há incongruência (mais
do que no caso da física ou da química) se seus
conceitos mais gerais carecem de clareza e se seus
postulados são provisórios; deixa sua definição
mais precisa para os resultados de trabalhos
futuros. (1893–95/1955, vol. XVIII: 253–254)
7 SINGULARIDADE E ESPECIFICIDADE
Freud estava tão ciente de que esse processo faz a
ciência se assemelhar à arte que temia que seus
relatos de doença, que poderiam ser lidos como contos,
não tivessem o selo sério de serem científicos. Mas
apenas uma apresentação completa dos eventos
espirituais de casos isolados parecia permitir-lhe
qualquer avanço em nossa compreensão das relações
internas entre uma história de sofrimento e os sintomas
de doença (1920-22/1955, vol. II: 160). -161).
Aqui está a verdadeira diferença entre arte e ciência:
a forma de arte do conto não muda nada na forma
científica de um caso clínico de doença. Isso porque
não se preocupa com o caso em si, mas com a
compreensão do funcionamento do mecanismo
psicopatológico.
Da mesma forma, a pesquisa qualitativa está sempre
preocupada com casos individuais que não ocorrem
duas vezes; mas não está interessada em sua
individualidade como tal, mas procura compreender
A ARTE DA INTERPRETAÇÃO 325
eles. A etapa interpretativa decisiva consiste na
construção de uma categoria que represente a riqueza
concreta de um caso. A sensação de que uma
determinada reconstrução fornece evidências que
definem uma forma ou iluminam uma estrutura deriva
disso (ver 2.1). Paul Veyne (1984) fala de uma transição
da singularidade inexprimível para a especificidade
capturada de um caso.
A ciência não está preocupada com a mera
singularidade de indivíduos e eventos, mas com o que
é simultaneamente geral e particular sobre eles. Seu
objetivo é a exposição de um caso, não a lembrança
de um indivíduo ou de um evento.
Dessa forma, uma pesquisa social com ambições
literárias não é uma rival, mas, em última análise, uma
inimiga da literatura. A arte está, de fato, sujeita à
atração do típico ideal, mas nada é mais prejudicial à
validade estética de uma obra de arte do que a prova
de que ela era inteiramente congruente com a atmosfera
e o espírito de uma época. Deve haver alguma diferença
insolúvel relacionada às características insubstituíveis
da obra. Pois a apresentação literária, diferentemente
da apresentação sociológica, procura expressar não o
que é específico, mas o que é singular em uma pessoa
ou evento. O segredo do não-idêntico está faltando na
ciência. Roland Barthes (1969: 13) viu a particularidade
de uma obra de literatura no fato de ser sempre mais
do que a soma de suas fontes, influências e modelos.
Ela forma um núcleo irredutível na massa indecisa de
eventos, condições e mentalidades.
LEITURA ADICIONAL
Clifford, J. (1988) A Situação da Cultura – Etnografia,
Literatura e Arte do Século XX Cambridge, MA:
Harvard University Press.
Clifford, J. e Marcus, GE (eds) (1986) Cultura da escrita
– A poética e a política da etnografia. Berkeley, CA:
University of California Press.
Wolff, KH (1976) Surrender and Catch: Experience and
Inquiry Today. Dordrecht: D. Reidel.
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5.22 A Apresentação da Pesquisa Qualitativa
Eduardo Matt
1 História da discussão
2 bases teóricas
3 Limitações e alcance do debate
4 maneiras diferentes de apresentar
Uma atividade essencial para um cientista social é a
escrita de textos: propostas são escritas, resultados de
pesquisas e teorias são apresentados, publicações são
preparadas. Para esses dados e propósitos de análise,
eles precisam ser 'traduzidos' para o leitor em uma forma
ou modo de representação apropriado.
Essa (re)construção do sujeito é aceita por meio da
apresentação de resultados (Redfield 1948). Para a
representação textual da realidade não há um procedimento
que possa ser absolutamente canonizado.
É possível distinguir uma série de aspectos inter-
relacionados da escrita e da discussão textual: as
dificuldades concretas de escrita do cientista; a forma
como os sujeitos da pesquisa são colocados em palavras
nos textos do cientista e a questão de como um pode
evitar a objetivação do outro; escrever para um propósito
específico e para um público específico. A escrita mostra-
se como uma interação entre pressupostos teóricos, a
(re)construção do problema de pesquisa, as estratégias
retóricas e os destinatários. Ao mesmo tempo, os próprios
textos científicos podem ser analisados em relação à sua
construção. As apresentações de dados, explicações e
teorias indicam tanto pressupostos epistemológicos quanto
estratégias para a produção de credibilidade e plausibilidade.
1 HISTÓRICO DO DEBATE
Os problemas de apresentação são um tema de discussão
atual em antropologia e etnologia
326
327
328
328
sob o título 'a crise da representação etnográfica'. As obras
de Clifford Geertz em particular (ver 2.6; Fröhlich e Mörth
1998; Wolff 1992) exigem uma reconsideração e
reformulação da relação entre observação, interpretação
e representação textual. A crise surgiu das discussões
sobre a validade dos estudos e sobre o pós-colonialismo.
A revelação de falsificações, plágios, "pura ficção", a
admissão de que resultados muito diferentes foram
alcançados em replicações de estudos, estimulou dúvidas
sobre a autenticidade e confiabilidade de observações
individuais e estudos completos, e sobre a autoridade da
etnografia (cf. Durr 1987 ).
Houve críticas adicionais ao "imperialismo cultural", que
considera os padrões de significado e as formas de vida
do mundo ocidental como válidos, exemplares e padrão
para todo o mundo.
Para os sociólogos, a descrição da própria cultura não
é isenta de problemas (Hollander 1965). Na pesquisa
qualitativa há também uma tentativa não mais de
subordinar a realidade dos outros a categorias derivadas
teoricamente, mas de levar em conta as características
históricas específicas do meio e/ou gênero de situações
particulares. A tentativa de compreender o 'outro', de fazer
jus à estrutura particular de um caso e de (re)apresentá-lo
com construções textuais apropriadas, apresenta às várias
disciplinas, de diferentes maneiras, uma tarefa comum.
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2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS
O que é central para a pesquisa qualitativa é a
conceito de 'realidade como texto'. O resultado da
objetivação do significado, os padrões de representação
fixos da realidade, são eles próprios
caracterizado como texto (latim textus = tecido). a
qualidade particular da interação social, sua fugacidade
acompanhada de produção de sentido,
só pode ser submetido a análise se for primeiro colocado
em forma de texto. O texto escrito é considerado a
inscrição de uma estrutura de sentido que deve ser
reconstruída. Corrigi-lo em
desta forma também o libera da ação específica
contexto. Desta forma, a ação ganha autonomia, e
só então pode ser interpretado além do específico
interpretação individual e intenção do
participantes (Ricoeur 1981b). Para reconstruir o
modos de produzir a realidade, os recursos e
estratégias que são socialmente, culturalmente e
historicamente aplicadas de maneiras variadas, significa que oúnica do campo de pesquisa e da
cientista social tem que abandonar o objetivismo
pressupostos e adotar uma posição hermenêutica
(Geertz 1973b; Soeffner 1989).
É claro que a ação cultural é fixada na forma
de objetivações, mas um texto desse tipo não pode
ser lido facilmente: a realidade não deve ser pensada
como uma estrutura homóloga, mas deve ser
caracterizada com referência à sua ambiguidade,
complexidade e inconsistência (Geertz 1973a,b).
Ler significa 'decodificar, desenvolver uma leitura', ou
seja, a produção e elaboração de um conjunto de
ferramentas de conceitos e categorias com
quais os 'textos' disponíveis adquirem um significado
interpretação. Para criar essa interpretação
estrutura, para construir a relevância de um
evento, é tarefa do pesquisador. A descrição de um
evento ocorre a partir dessa perspectiva e, assim,
determina quais dados e
quanto dos dados, são apresentados. todo
explicação é seletiva e representa uma seleção de um
número infinito de
possibilidades (Sacks 1963). Toda narrativa 'como
realmente era' é uma construção para propósitos específicos
e para um público específico, e nunca um mero
reprodução (Bergmann 1985). Construir
significa nem retratar nem reproduzir uma realidade,
mas descobrir como um significado (e o que
tipo de significado) é estabelecido e criado
a base de quais recursos e como a realidade (e
que tipo de realidade) é produzido em e através
situações, símbolos e objetivações. No
ao mesmo tempo, temos o princípio da reflexividade:
questões de constituição de um objeto e questões
A APRESENTAÇÃO DA PESQUISA QUALITATIVA 327
de captar a constituição de um objeto referem-se
entre si (cf. Pollner 1991).
Isso confronta o investigador com um problema prático
de como analisar dados e apresentar
resultados com ou com base nesses dados. Dentro
esses diferentes focos podem ser distinguidos, como
orientação de caso único, descrição do meio,
ênfase em estruturas típicas ou uma generalização de
estruturas. Cada uma dessas ênfases leva
a uma análise, interpretação e apresentação diferenciada
dos dados; podem ser usados como
documentação de autenticidade, como prova ou
meramente como ilustração. A rota que é
selecionado depende do interesse epistemológico
do investigador, mas igualmente nos dados
eles mesmos: que problemas, características constitutivas
ou estruturas eles documentam? A variabilidade das
análises não é um argumento para
aleatoriedade na pesquisa qualitativa, mas um
expressão de um reconhecimento da natureza estrutural
interesses epistemológicos diferentes.
A apresentação da realidade é sempre uma construção
simultânea da realidade. A maneira de entrar
quais dados, evidências e resultados são organizados
também estabelece uma interpretação correspondente de
o mundo. A idoneidade e autoridade de
as descrições são expressas simultaneamente em
formas textuais específicas. A liberdade de movimento
em uma apresentação, no entanto, não é arbitrária.
A "construção da realidade" pelos sociólogos
seus efeitos e suas limitações na história sócio-histórica.
conhecimento.
Todorov (1989) discute a questão do
sucesso das descrições em relação à 'verdade e
ficção' usando o exemplo de como a América
seu nome. Não foi o descobridor, Colombo,
mas seu navegador, Américo Vespúcio, que
tornou-se o patrono do Novo Mundo. Todorov
relaciona isso com suas diferentes descrições do
descoberta. Colombo preferiu um estilo bastante
científico, documental e factual que foi
característica do pensamento medieval (ênfase
na riqueza descoberta, caráter de paraíso,
presença de espíritos e monstros). O endereço dele
era a casa real espanhola, e seu objetivo
era obter dinheiro para novas expedições.
Américo Vespúcio, por outro lado, cultivou
um estilo literário; ele escreveu para um grande público
quem procurei entreter. Para ele era um
questão de fama em vez de verdade. Correspondentemente
em sua obra há muitos exageros, e o curioso é
destacado. Dele
explicações são uma expressão
Machine Translated by Google
328 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
concepção europeia contemporânea do
outros como selvagens (canibalismo, perversão sexual,
paganismo). Colombo, em suas ilustrações, está
enraizado em desenhos tradicionais.
Vespúcio, em contraste, também tenta reproduzir
em seus desenhos o que é especificamente 'americano',
em outras palavras, para traduzir em suas fotos
imaginações. O sucesso de seu modo de apresentação
contribuiu para vincular seu nome ao
continente recém-descoberto.
3 LIMITAÇÕES E
ESCOPO DO DEBATE
Com o reconhecimento do construtivo
atividade do sujeito, o estilo de realismo
(naturalismo), com sua suposição de um 'real, verdadeiro'
mundo além do nosso reconhecimento e representação,
perde a convicção. Em competição com
disso, dois discursos contínuos se desenvolveram:
pós-modernismo e construtivismo social
(ver 3.4).
De acordo com o 'pós-moderno' (cf. Clifford
e Marcus 1986; Marcus e Fisher 1986;
Clifford 1988a; Kea 4/1992; Berg e Fuchs
1993; Bachmann-Medick 1996) não é mais
possível encontrar qualquer significado geral no
mundo. Os textos não podem mais criar unidade ou ordem;
apenas fragmentos, discursos incompletos ou versões
diferentes podem ser representados. Como tudo é
interpretação, os representantes da
o pós-modernismo contesta a possibilidade de capturar
a realidade. Eles se concentram na análise
de dimensões estéticas, como a análise estilística, que
pode ter sucesso sem referência ao
conteúdo de verdade do que é representado. Não é
mais necessário testar (ou validar) a relação
de um texto à realidade, sua força teórica, seu novo
descobertas sobre o mundo, mas sim seu estilo escrito,
sua produção de autoridade e
autenticidade (ver 3.3).
Em contraste com isso, no construtivismo social
debate (ver 3.4), que é de maior importância na pesquisa
qualitativa, o que interessa são justamente os modos de
construção, a
conhecimento sócio-cultural, as interpretações de
o mundo e as relações de poder que sustentam essa
'realidade de construções' em uma sociedade.
Mas mesmo aqui não se trata da verdade com tenda de
declarações, mas de sua criação social
e localização. A reconstrução e análise
destes é um dos objetivos da qualidade
pesquisar.
4 FORMAS DIFERENTES DE APRESENTAÇÃO
O ato de escrever é problemático para a maioria
dos sociólogos. Aqui todo mundo desenvolveu
rituais, estilos e procedimentos individuais. That
é problemático são as duas considerações básicas:
não ser capaz de estruturar um evento adequadamente
e temer que o que é apresentado possa ser
falso. Nenhum, muitos sociólogos aderem
a uma descrição objetiva dos fatos, e eles
achar difícil aceitar que não existe um único texto correto
e, em última análise, válido, mas que
textos diferentes devem ser produzidos para diferentes
propósitos (Becker 1986b). No caminho da experiência
para a apresentação textual, é até permitido escrever
diferentes versões de um texto plausível.
Van Maanen (1988) distingue três
formas de apresentação textual. A apresentação realista
é factual, escrita na terceira pessoa e
dominado por um estilo documental – o
linguagem dos fatos. O nível de experiência é jogado
baixa. O que é típico está em primeiro plano na
descrição, criando uma realidade objetiva. a
pesquisador como autor não desempenha nenhum papel aqui: ele ou ela
funciona como um observador imparcial. Até mesmo
autointerpretações do que é observado são evitadas.
O que é produzido é um único e inequívoco
descrição por parte do pesquisador.
A descrição confessional tem a ver com uma
estilo pessoal: o investigador está narrando a partir
campo, com experiências práticas de trabalho de campo
no que diz respeito ao acesso, experiências, sentimentos e,
além disso, como ele ou ela foi mudado pelo
campo. Isto está escrito na primeira pessoa, pessoal
suposições e preconceitos são admitidos, e uma
versão possível – a do investigador – é
produzido.
A descrição impressionista também é altamente
pessoal. Aqui o pesquisador tenta transportar
o público para o mundo do que foi investigado e para
contar uma emocionante e extraordinária
história do campo. O que o investigador
lembra como valioso em sua atividade é destacado. O
foco é reviver a história, não
na interpretação ou análise. apenas muito
pequena parte do problema de pesquisa é apresentada. a
A forma textual preferida para isso é o ensaio (Bude
1989). A fronteira com a literatura é rompida
(ver 3.3, 5.21).
Podemos observar o desenvolvimento dessa
insatisfação com a apresentação realista tradicional –
relatando resultados secamente, mas sem
referência ao lado experiencial da pesquisa –
as múltiplas experiências da coleta de dados
Machine Translated by Google
A APRESENTAÇÃO DA PESQUISA QUALITATIVA 329
processo, a vitalidade e o colorido do
questão de pesquisa, os mundos simbólicos, o cotidiano
ação e mundos de significado dos outros, levou a
o desenvolvimento de novos modos de apresentação:
diários (Malinowski 1967), a etnologia
romance (por exemplo, Bowen 1964), poemas (ou
etnopoesia), apresentações literárias da experiência no
situação de trabalho de campo (Barley 1986). Isso tem levado a
uma enorme variedade de tais 'experimentos'
(Hirschauer e Amann 1997; Richardson
1994). O meio tradicional da escrita
texto oferece apenas possibilidades muito limitadas de
descrevendo meios ou culturas que são autoritariamente
definidos em outras formas como a dança
e música. Outros meios e meios de expressão são
procurados, como reprodução de áudio e
apresentação do filme. A documentação de dados ou
de análise é alcançado com a inclusão de um
cassete ou um CD-ROM. Um desenvolvimento mais
recente, a produção de 'hipertextos' sobre o
Internet, também suscita novas questões de escrita:
estas não se caracterizam pelo clássico conteúdo
fechado internamente, mas pelos seus 'links' para outros
textos, ou ao envolvimento em muitas discussões
roscas (ver 5.8).
Os diferentes modos de apresentação também são
uma expressão de uma variedade de metodologias. a
A textualidade dos textos científicos é assim transformada em
um objeto de análise. Tais textos podem ser
analisados, no que diz respeito à sua retórica, por sua
criação de autoridade e credibilidade (por exemplo,
Atkinson 1990; Knauth e Wolff 1990).
Bazerman (1987), por exemplo – usando o exemplo de
regras para escrever estudos psicológicos
para publicação em revistas especializadas – conseguiu
para demonstrar como o behaviorista básico
pressupostos da disciplina ou de uma determinada
escola foram documentados nos modos de apresentação.
A relao entre teoria
conceitos, apresentação textual e argumentação
torna-se, portanto, objeto de análise (por
por exemplo, usando vários autores: Geertz 1988;
usando o trabalho de Goffman: Atkinson 1989; mais longe
exemplos: Teoria Sociológica 1990).
Estratégias de validação
Estratégias textuais essenciais para validação em
pesquisa qualitativa são a divulgação do procedimento e
o processo de interpretação (sua
transparência), a apresentação dos
material de dados, a reprodução de transcrições,
notas de campo e assim por diante (ver 4.7). A ênfase em
transparência é importante, pois a escolha do
dados já constituem uma interpretação do
significado do que é relatado. Em teoria
citações de obras e referências literárias cumprem um
mesma função. Além disso, diagramas, gráficos ou
ilustrações para a visualização de
relacionamentos também transmitem a impressão de
racionalidade e podem ser analisadas como estratégias para
persuasão.
Mesmo que todos esses requisitos sejam atendidos,
há ainda o problema de justificar a adequação das
construções. Reivindicações Geertz (1988:
140) que “o ônus da autoria não pode ser
evadir' (ver 2.6). O cientista é pessoalmente
responsável pela qualidade do seu trabalho
e tem a responsabilidade moral de tomar
Cuidado. O objetivo deste requisito é fazer com que
a própria autoria visível em um texto, e
tornar claras as próprias ideias, perspectivas e
competências. Não se pode escapar desse fardo
referindo-se a divergências metodológicas.
Os textos são escritos para um público que tem que
ser convencido com a ajuda de declarações credíveis
argumentos e análises. A aceitabilidade de um
texto científico depende sobretudo da
regras para pesquisa e produção de texto que são
reconhecido na comunidade científica particular.
Especialmente nas ciências sociais há uma
vínculo claro com um público específico. A relação do
autor com sua comunidade científica funciona, portanto,
como uma produção
fator e como critério de validação para um texto científico
(Reichertz 1992; ver 4.7). E assim o
referência ao contexto do estudo, ao seu
incorporando-se nas circunstâncias práticas específicas
e nos quadros institucionais em que
foi realizado, informa ao leitor por que o texto foi
esta forma particular (análise, apresentação textual). A
validade é medida de acordo com a relevância e
adequação da análise em
respeito ao conhecimento da área de estudo. Dentro
outras palavras, podemos perguntar: Até que ponto
a obra deste autor contribui para uma expansão
a estrutura para a discussão e interpretação da realidade
social?
Se a 'realidade de uma descrição' é constituída
através de um ato interativo, se ambas as partes
pertencem ao processo – a retórica do
autor e a inferência do leitor/ouvinte –
se não for apenas a voz do autor, mas também a
ouvido do destinatário que exigem compreensão e
explicação, então todas as tentativas de justificar ou
garantir a validade, relevância ou força de uma
descrição ou uma análise – pelo uso de expressões
literárias apropriadas, estratégias persuasivas
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330 UM COMPANHEIRO PARA A PESQUISA QUALITATIVA
ou apelando para premissas metodológicas – estão
fadadas ao fracasso. O 'sucesso' de uma obra é
visto como uma conquista do meio em que ela é
recebida e discutida com competência.
Nesse processo o autor – como autor – tem apenas
uma pequena influência.
LEITURA ADICIONAL
Becker, HS (1986) Escrevendo para o cientista
social: como começar e terminar sua tese, livro ou
artigo. Chicago: Chicago University Press.
Clifford, J. e Marcus, GE (eds) (1986) Writing Culture.
A Poética e a Política da Etnografia. Berkeley, CA:
University of California Press.
Van Maanen, J. (ed.) (1995) Representation in
Ethnography. Thousand Oaks, CA: Sage.