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A ESTRUTURA CONVERSACIONAL1
6.0 INTRODUÇÃO
1. Os dados usados como exemplos neste capítulo são extraídos, sempre que possível,
de fontes publicadas, para que os leitores possam recorrer a elas para mais contexto
ou discussão; nesses casos, a fonte encabeça cada citação. Quando isso não foi pos
sível, os dados foram extraídos de transcrições que circularam por iniciativa de estu
diosos envolvidos na análise da conversação, sendo que tais fontes são indicadas por
iniciais identificadoras como de costume (por exemplo, US, DCD); dessas, uma
grande proporção foi transcrita por Gail Jefferson; em outros casos, dados encabe
çados por um número (por exemplo, 176B) são extraídos da coleção do autor e alguns
deles foram transcritos por Marion Owen. Dados sem cabeçalho são construídos
para fins ilustrativos, salvo indicação em contrário no texto. Não foi possível con
frontar as transcrições com as gravações originais, de modo que pode haver apenas
um nível relativamente baixo de coerência no uso das convenções de transcrição (ver
Apêndice deste capítulo).
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you six penee Aposto seis pence com você” não tem sucesso sem a ra
tificação interacional típica da conversação. Na verdade, a dependên
i
cia conversacional da força ilocucionária é tal que, em última análise,
se torna defensável a divisão de substituir esse conceito por conceitos
ligados à função conversacional.
Assim, pode-se dizer que quase todos os conceitos pragmáticos
que examinamos até aqui ligam-se intimamente à conversação como tipo
central ou mais básico do uso linguístico. Ora, se, como argumentare-
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dos; a ênfase é sobre o que se pode realmente descobrir que ocorre, não
sobre o que julgaríamos estranho (ou aceitável) se ocorresse. O enten
dimento é que a intuição simplesmente não é um guia confiável nes
ta área, como, na verdade, pode ser em outras áreas da linguística (ver,
por exemplo, Labov, 1972a). Também há uma tendência de evitar
análises baseadas em um único texto. Em vez disso, são examinados
tantos exemplos quanto for possível de algum fenômeno específico em
diferentes textos, e o objetivo não é, primariamente, esclarecer “o que
realmente está acontecendo ” em certa interação (um objetivo julgado
impossível, já que tais esclarecimentos escapam aos participantes tanto
quanto aos analistas em muitas ocasiões), mas, antes, descobrir as pro
priedades sistemáticas da organização sequencial da conversa e as ma
neiras como as enunciações são concebidas para gerir tais sequências.
Qual é a maneira correta de proceder? A questão está mais viva do
que nunca: os teóricos da AD podem acusar os praticantes da AC de
não serem explícitos ou, pior, de serem simplesmente confusos, quanto
às teorias e categorias conceituais que efetivamente empregam na aná
lise (ver, por exemplo, Labov e Fanshel, 1977, 25; Coulthard e Brazil,
1979); os praticantes da AC podem retrucar que os teóricos da AD es
tão tão ocupados com a formalização prematura que prestam pouca
atenção à natureza dos dados. A principal força da abordagem da AD
é que ela promete integrar as descobertas linguísticas a respeito da or
ganização intra-sentencial e a estrutura do discurso, enquanto a força
da posição da AC é que os procedimentos empregados já provaram ser
capazes de produzir, de longe, os discernimentos mais substanciais da
organização da conversação já obtidos.
Pode muito bem parecer que há espaço para certo tipo de acomo
dação ou mesmo de síntese entre as duas posições; contudo, há algu
mas razões para pensar que a abordagem da AD, tal como foi esboça
da aqui, é fundamentalmente mal concebida. Podemos começar ob
servando que os analistas da AD podem ser divididos em duas catego
rias básicas — os gramáticos do texto e os teóricos dos atos de fala (ou
da interação). Os gramáticos do texto dão a entender, pelo menos em
suas formulações mais simples, que os discursos podem ser concebidos
simplesmente como sentenças ligadas entre si pelo mesmo processo
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Mesmo que (1) possa ser relatada como (3), isto não demonstra
que (1) pode ser reduzida a (3), mas, meramente, que, como todos os
outros tipos de eventos, as conversações são passíveis de ser relatadas
{contra Katz e Fodor, 1964, 491).
Portanto, os teóricos da AD que são de interesse para nós são aque
les que se interessaram especificamente pela conversação como tipo es
pecífico de discurso e o resto desta seção será dedicado a uma crítica
de seus métodos e suposições básicas. Aqui, há uma notável uniformi
dade subjacente de pontos de vista, uma suposição básica (provavel
mente certa) de que o nível em que a coerência ou ordem da conver
sação deve ser encontrada não é o nível das expressões linguísticas, mas
o nível dos atos de fala ou dos “lances” interacionais realizados pela enun
ciação destas expressões. Ou, como dizem Labov e Fanshel (1977,70):
u • •
o seqiienciamento obrigatório não será encontrado entre enuncia
ções, mas entre as ações que estão sendo executadas”. Assim, é possí
vel formular as propriedades gerais de toda a classe de modelos que,
sob uma forma ou outra, a maioria dos teóricos da conversação da AD
adotariam (ver, por exemplo, Labov, 1972b; Sinclair e Coulthard, 1975;
Longacre, 1976b; Labov e Fanshel, 1977; Coulthard e Brazil, 1979;
Edmondson, 1981):
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(4) (i) Existem atos unitários - atos de fala ou lances — que são exe-
cutados no falar, os quais pertencem a um conjunto especifi-
cável, delimitado
(ii) As enunciações2 são segmentáveis em partes unitárias — uni-
dades de enunciação — cada uma das quais corresponde a (pelo
menos) um ato unitário
(iii) Existe uma função especificável e, espera-se, um procedimento*
que estabelecerá correspondências das unidades de enunciação
para os atos de fala e vice-versa
(iv) As sequências conversacionais são reguladas acima de tudo por
um conjunto de regras de seqúenciamento formuladas com base
nos tipos de ato de fala (ou de lances)
4. Não que a relevância desses fatores seja negada a priori, mas simplesmente ela não é
suposta - se for possível demonstrar com rigor que os próprios participantes empre
gam tais categorias na produção da conversação, então, elas terão interesse para a AC.
Ver, por exemplo, Jefferson, 1974, 198.
5. Os pesquisadores da AC às vezes usam uma ortografia aã hoc para representar tra
ços segmentais, para irritação dos linguistas, embora não pareça haver nenhum pro
blema teórico sério envolvido nisso (ver Goodwin, 1977, 120; 1981, 47). Tomei a
considerável liberdade de padronizar a ortografia das transcrições, mas apenas quan
do falantes não nativos poderiam, de outra maneira, ter dificuldade para interpretar
o texto. As marcas de pontuação também são usadas pelos pesquisadores da AC para
fornecer certa indicação da entonação (ver Apêndice) e a pontuação original, por
tanto, foi reproduzida nos exemplos tirados dessas fontes impressas. Esperamos que,
em trabalho futuro, seja adotado um sistema de transcrição prosódica melhor (como
o fizeram, por exemplo, na tradição britânica, Crystal (1969); O’Connor e Arnold
(1973); Brazil, Coulthard e Johns (1980)).
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6.2.1.1 Turnos
são Você fez o quê?, Como disse?, Você quer dizer amanhã?, etc.)
que selecionam o falante anterior como sendo o seguinte.
Operando sobre as unidades de turno, estão as seguintes regras (li
geiramente simplificadas de Sacks, Schegloff e Jefferson, 1978), onde
C é o falante atual, S é o íàlante seguinte e o LRT é o fim reconhecível
de uma unidade construcional de turno:
I
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6. Daqui em diante, o termo silêncio é usado às vezes neste sentido técnico, enquanto
o termo pausa é usado como termo geral abrangendo esses vários tipos de períodos
sem fala. Outros usos ficarão claros pelo contexto.
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Segundo, tão logo um falante fica sozinho “em evidência”, ele, carac-
teristicamente, recicla justamente a parte do turno obscurecida pela so
breposição, como no turno de G de (16). Finalmente, se um falante não
cai fora imediatamente, há disponível um sistema de alocação competi
tiva que funciona, grosso modo, numa base de sílaba por sílaba, pelo qual
o falante que mais “sobe em grau” ganha o direito à palavra, sendo que
subir em grau corresponde a amplitude aumentada, ritmo em desacele-
ração, vogais alongadas e outros traços, como ilustrado em (17):
7. Embora tais fatores realmente influenciem, por exemplo, os detalhes das técnicas
para a seleção do falante seguinte.
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(17) US: 43
J: But dis // person thet DID IT* IS GOT TO BE::
V: If I see the person
J: ..hh raken care of
J: Mas a pessoa que fez isso precisa de...
V: Se eu vir essa pessoa
J: ... cuidados
8. Também vale a pena assinalar que a motivação para a alternância de turnos não é
tão evidente como pode parecer: como Miller observou (1963, 418), a alternância
de turnos não é uma consequência necessária de qualquer incapacidade auditiva ou
fisiológica de falar e ouvir simultaneamente; uma voz é um recurso precário para
mascarar outra” (citado em Goodwin, 1977, 5). A possibilidade dc tradução simul
tânea testemunha isso (ver Goldman-Eisler, 1980).
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(19) Tendo produzido uma primeira parte de certo par, o falante atual
deve parar de folar, e o falante seguinte deve produzir, nesse ponto,
uma segunda parte do mesmo par
(21) 144/6
B: U:hm (.) whats the price now eh with V.A.T.
9. Espera, aceitar, aceitação são termos aã hoc para as partes do par de adjacência que são
usadas para iniciar um interlúdio ou “intervalo” interacional. A interação pode, en
tão, mas não precisa, ser reiniciada por um outro par de adjacência (Hello?\ Hello)-
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(22) 144/6
TI B: ... I ordered some paint from you uh a couple
of weeks ago some vermilion
T2 A: Yuh
T3 B: And I wanted to order some more the names
Boyd ((SD)
T4 A: Yes // how many tubes would you like sir ((PD)
T5 B: An-
T6 B: U:hm (.) whats the price now with V.A.T. do
you know eh ((P2))
T7 A: Er 1’11 just work that out for you = ((PARAR))
T8 B: = Thanks ((ACEITAR))
(10.0)
T9 A: Three pounds nineteen a tube sir ((R2))
TIO B: Three nineteen is it = ((P3))
Til A: = Yeah ((R3))
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(23) (P1(P2(P3(P4-R4)R3)R2)R1)
com alguma justificativa de por que a segunda parte preferida não pode
ser executada. Por ora (mas ver 6.3), um par contrastivo de exemplos
bastará para ilustrar a noção:
10. Nos exemplos de chamadas telefónicas, sempre que os papéis do chamador e do re-
ceptor possam ser importantes para a interpretação, o chamador é identificado por
C e o receptor por R.
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11. As exceções aqui incluem saudações, onde as saudações de retorno são mais ou me
nos o único tipo de segunda pane.
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(28)
TI A: John? ((CHAMADO))
T2 B: Yeah? ((RESPOSTA))
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R: Alo
C: Alo, Rob. Aqui é Laurie. Como vão as coisas?
R: ((funga)) Tudo bem. E você?
C: Bem. Estou telefonando para pedir
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13. Em algumas culturas parece haver uma preferência por adiar o assunto de uma
conversação para depois - contudo, precisamos distinguir aqui uma elaboração das
aberturas que inclua indagações convencionais a respeito da saúde, da família, etc.,
e uma verdadeira diferença no uso do primeiro segmento tópico.
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14. Pode-se objetar que o exemplo indica apenas que o uso das mesmas palavras, por
exemplo, shaving, não acarreta identidade de referência. Contudo, é fácil demons
trar que referentes idênticos podem ser apontados por termos que estão dos dois
lados de uma quebra do tópico, marcada aqui por By the way e amplitude maior
após uma pausa:
Owen 8b
B: Probably is because of that I should think, yes, mm
A: Mm
(1.2)
A: ((louder)) By the way, do you want any lettuces
Aqui, naturalmente, I cyou referem-se ambos à mesma entidade, isto é, B, mas ne
nhum tópico é, em nenhum sentido, “a propósito de B”. Portanto, o argumento
pode ser generalizado: nem a referência idêntica, nem o uso de termos ou conceitos
idênticos (com a referência igual ou idêntica) é suficiente para engendrar a continui
dade de tópicos.
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15. Foi feito relativamente pouco trabalho sobre este assunto, mas ver Sacks, 1967-72
passim, e o resumo em Coulthard, 1977, 78 ss.; Button e Casey, no prelo; Jeffer-
son, no prelo; Owen, 1982.
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(36) 172B(7)
R: Why dont we all have lunch
C: Okay so that would be in St Judes would it?
R: Yes
(0.7)
C: Okay so:::
R: Por que não almoçamos todos
C: está bem então seria no St Judes não?
R: Sim
C: está bem então
(38) DCD: 28
Collins: Now // the be:lt is meh*
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(39) 172B(7)
TI C: So I was wondering would you be in your office on Monday
(.) by any chance?
T2 (2.0)
T3 C: Probably not
T4 R: Hmm yes=
T5 C: - You would?
T6 R: Ya
T7 C: So if we carne by could you give us ten minutes of your time?
C: Estaria?
R. Sim
C: Então, jse nós aparecêssemos, você poderia nos dispensar dez
minutos do seu tempo?
16. Exemplos desse tipo fornecem uma pista para a natureza das normas a que obede
ce a conversação. Os participantes são obrigados a utilizar as processos esperados
não (ou não apenas) porque não o fazer produziria “discursos incoerentes , mas
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porque, se não o fizerem, serão responsabilizados por inferências específicas que seu
comportamento terá gerado. Assim, os réus em julgamentos políticos podem ter a
esperança de que seu silêncio contará como um protesto contra os procedimentos,
e por fim descobrir que é interpretado como admissão de culpa. Ou, em (39), a
desconsideração por R da expectativa de que as respostas preferidas serão imedia
tas não só produz uma inferência não desejada que tem de ser corrigida, mas ainda,
caso se repita, pode produzir uma inferência de relutância geral em cooperar. Os
conversacionalistas, portanto, não estão submetidos a regras ou sanções e sim pre
sos numa teia de inferências.
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(41) A: Have your heard the one about the pink Martian? í
B: No í
A: ((Story))
I
A ESTRUTURA CONVERSACIONAL | 413
(43) A: Okay
B: Okay
A: Bye
B: Bye
Aqui, no turno anterior à pausa, uma mãe pede ao filho que tente
dizer as horas. Portanto, pela Regra l(a) em (10), a pausa é um silêncio,
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C: ((toca))
R: Alô?
C: Alô, Charles
(0.2)
C: Aqui é Yolk
C: ((toca))
R: Alo?
C: Alô
(1,5)
R: Quem é?
Aqui também, como em (45), ocorre uma breve pausa, audível como
um silêncio do outro participante e claramente analisada neste exem-
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B: E então ... estávamos discutindo, isto ... isto se resume, ele diz,
eu, você falou com ... sobre isto muitas vezes. Eu ... disse, resu
mia-se a isto ... nossa principal diferença: Eu acho que um go-
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j
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(a) adiamentos', (i) por pausa antes do proferimento, (ii) pelo uso
de um preâmbulo (ver (b)), (iii) por um deslocamento de vá-
rios turnos conseguido através do uso de iniciadores de reparo'3
ou de sequências de inserção
18. Naturalmente, as apreciações podem ocorrer com aceitações de convites, mas oco
rem tipicamente após as aceitações da passagem antes das recusas.
19. Esse termo é explicado adiante.
428 | PRAGMÁTICA
B: Ela diz que você talvez queira aquele vestido que eu comprei,
eu não sei se você quer
A: Oh, obrigada (bem), deixe-me ver eu realmente tenho um
monte de vestidos
(54) Wootton, no prelo (Ilustrando (tf)(x*n))
Ch: I wan my ow:n tea .hh tnyself
M: (You) want what?=
Ch: =My tea rcvysedf
M: No:w? We are all having tea together
Criança: Eu quero o meu chá ... eu mesmo
Mãe: (Você) quer o quê?
Criança: Meu chá eu mesmo
Mãe: Agora? Estamos todos tomando chá juntos
(55) 176B {Ilustrando (b){í), (c))
R: What about coming here on the way (.) or doesnt that givc
you enough time?
C: Well no I’m supervising here
R: Que tal parar aqui no caminho (.) ou isso não lhe dá tempo su
ficiente?
C: Bem, não, eu vou fazer supervisão aqui
(56) 176B {Ilustrando (bjfvj, (d))
C: Um I wondered if theres any chance of seeing you tomorrow
sometime (0.5) morning or before the seminar (1.0)
R: Ahum (.) I doubt it
C: Hm eu queria saber se há chance de ver você amanhã alguma
hora (0,5) de manhã ou antes do seminário
R: Hm (.) eu duvido
(57) 163 (Ilustrando {b){vi}) (R esteve reclamando de que o fogo de C no
apartamento de baixo encheu de fumaça o apartamento de R)
C: ...is it-its all right now - you dont want me to put it out?
R: E::r (1.5) well on the whole I wouldnt bother because er hu-
huh (2.) well I mean what - what (0.5) would it involve put-
ting it out
(0.5)
C: Hahaha () hahah
C: ...tudo bem agora - você não quer que eu apague?
R: Hm (1,5) Tudo somado, eu não me importaria porque ...(2.)
????, quer dizer o que - o que envolveria apagar
(...)
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PRIMEIRAS PARTES:
Pedido Oferta/ Avaliação Pergunta Culpa
Convite
SEGUNDAS PARTES:
Preferidas: aceitação aceitação concordância resposta negação20
esperada
Despreferidas: recusa recusa discordância resposta admissão
inesperada
ou não-resposta
20. Observe que as atribuições de culpa recebem negativas em formato preferido sim
ples, o que indica mais uma vez que a preferência não pode ser identificada, por
exemplo, com o desejo de quem atribui a culpa; ver Atkinson e Drew, 1979, 80.
A ESTRUTURA CONVERSACIONAL | 431
(59) 144
C: ...I wondered if you could phone the vicar so that we could
((in-breath)) do the final on Saturday (0.8) morning o:r (.) af-
ternoon or
(3.0)
R: Yeah you see 1’11 phone him up and see if theres any time free
(2.0)
C: Yeah
R: Uh theyre normally booked Saturdays but I dont- it might
not be
C: ...Será que você poderia ligar para o vigário de modo que pu
déssemos ((inspiração)) fazer a final no sábado de manhã ou (.)
à tarde ou (...)
R: Sim, vou ligar para ele e ver se tem algum tempo livre (...)
C: Sim
R: Ah, normalmente eles têm reservas feitas aos sábados mas eu
não - pode ser que não
21. Espaço de transição indica “o ritmo que segue potencialmente o possível ponto de
conclusão de um turno” (Schegloff, Jefferson e Sacks, 1977, 366). Uma análise mais
detalhada aqui poderia ser esta: a primeira oportunidade segue-se imediatamente
ao erro, a segunda vem no fim do turno, a terceira após a demora do receptor no fim
do turno, a quarta em T2, a quinta em T3 e a sexta, a uma distância ainda maior
(Schegloff, em preparação a).
A ESTRUTURA CONVERSACIONAL | 437
S: What?
L: Single beds. // They’re-
E: Y mean narrow?
L: Theyre awfully w^rrow yeah.
L: Mas, sabe, camas de solteiro são muito finas para se dormir.
S: O quê?
L: Camas de solteiro. Elas são...
E: Estreitas, você quer dizer?
L: Elas são muito estreitas sim.
(80) 176
C: Hullo I was just ringing up to ask if you were going to Ber-
trands party
R: Yes I thought you might be
C: Heh heh
R: Yes would you like a lift?
C: Oh I’d love one
C: Alo eu só estava ligando para perguntar se você vai à festa do
Bertrand
R: Sim, foi o que eu imaginei
A ESTRUTURA CONVERSACIONAL | 441
C: Heh heh
R: Você gostaria de uma carona?
C: Oh eu adoraria
22. Esse tipo de preferência pode ser inteiramente específico de uma cultura; ver Go-
dard, 1977, sobre as convenções do francês.
442 | PRAGMÁTICA
(85) (i) Hi
(ii) Hello
(iii) Hello. Its me
(iv) Hello. Its Penny
(v) Hello. Its Penny Rankin
444 | PRAGMÁTICA
6.4 PRÉ-SEQUÊNCIAS
Visto que essas razões podem ser variadas, os chamados são “pré-s
generalizados”; a maioria dos pré-s, no entanto, são construídos para pre
figurar o tipo específico de ação que precedem potencialmente. Pré-en
cerramentos, por exemplo, muitas vezes realizados como sinais de Okay
“certo, aprovado”, são reconhecíveis como potenciais inícios de encer
ramentos, do contrário os encerramentos não poderiam ser coordena
dos. Pré-encerramentos ilustram uma motivação importante para os
A ESTRUTURA CONVERSACIONAL | 445
(89) (a) Tj (Posição 1): uma pergunta para verificar se se realiza alguma
pré-condição para a ação a ser realizada em T3
446 | PRAGMÁTICA
R: Hmm yes =
C: = You would
R: Yes yes
(1.0)
C: So if we came by could you give us ten minutes or so?
C: Bem, hã, eu gostaria de saber se, por acaso, você vai estar no
seu escritório na segunda-feira... provavelmente não
R: Huhum sim =
C: = Vai estar
R: Sim, sim.
C: Nesse caso, se passássemos por lá, você poderia nos conceder
dez minutos mais ou menos?
(94) 176B
R: Erm (2.8) what what are you doing today?
C: Er well Fm supervising at quarter past
(1.6)
R: Er yuh why (dont) er (1.5) would you like to come by after that?
C: I cant Fm afraid no
R: Hã, o que...o que você vai fazer hoje?
C: Ah bem vou fazer uma supervisão daqui a quinze minutos
R: Ah por que você (não) ah... gostaria de dar uma passada aqui
depois disso?
C: Não posso, infelizmente não...
tre uma pré-solicitação (em T0, por um lado, e em sua resposta (em
T6) com a solicitação que a segue (em T7), por outro.
(95) 144(3)
T, —> C: ... Por favor, você tem em estoque alguma L.T um oito oito?
((POSIÇÃO 1))
t2 R: Um oito oito ((VERIFICAÇÃO DE ESCUTA))
t3 C: Sim = ((ESCUTA APROVADA))
R: = Pode aguardar um momento, por favor? ((PAUSA))
t5 C: Obrigado ((ACEITAÇÃO))
(L.5)
T6 Rj Sim, tenho uma ((POSIÇÃO 2))
t7 —> C: ótimo. Eu poderia... reserve essa para H.H.Q.G., por favor
((POSIÇÃO 3))
quer que realmente apareça numa sequência de turnos. Isso não é fá
cil de fazer em termos gerais para todas as pré-seqúências, mas certamen
te pode ser feito para subclasses de pré-seqúências, como as que incluem
pré-pedidos, pré-convites, pré-oferecimentos e outras do gênero. De
fato, as glosas sobre o conteúdo de cada turno (ou, agora de preferên
cia, posição) em (89) indicam alguns traços típicos reconhecíveis de
cada um. Vamos tratar desse problema de caracterização de turnos em
posições específicas com relação a um tipo particular de pré-sequência.
6.4.2 PRÉ-ANÚNCIOS
24. Esse exemplo representa uma exceção motivada por outros princípios em relação
ao esquema (99), conforme se explica abaixo em termos de uma preferência pela
adivinhação em vez da narração, no caso de más notícias.
452 | PRAGMÁTICA
25. Aliás, a AC pode também fornecer análises alternastivas de outros traços deste pri-
meiro turno - por exemplo, as hesitações e as oclusões glotais atribuídas; na análi-
se original ao estilo” são também marcações típicas de auto-reparo autto-iniciado,
características da produção de primeiros tópicos (ver Schegloff, 1979b) e também
usadas para pedir a atenção do ouvinte (Goodwin, 1981, capítulo 2).
A ESTRUTURA CONVERSACIONAL | 455
456 | PRAGMÁTICA
surgir incerteza, ou se houver alguma razão para supor que uma ter
ceira pessoa já possa ter comunicado a ‘notícia’, pode-se então recorrer
ao pré-anúncio, que vale por uma oferta de narrar sujeita à condição
de que a ‘notícia’ ainda não seja conhecida. Assim, solicitações de re
lato na posição 2 tenderão a comprometer o receptor com a afirmação
de que não conhecia previamente a notícia (uma obrigação de que al
guém pode se esquivar - mas não sem perder a elegância — com um En
tão é isso?, ou coisa semelhante, na posição 4). Um enigma que então
surge é como, a partir dos turnos razoavelmente não específicos na po
sição 1, os participantes são efetivamente capazes de julgar se o que é
prefigurado já é conhecido, coisa que fazem com absoluta confiança:
26. Os créditos aqui devem ir para diversos autores: Schegloff, em trabalho não publicado;
Goffman, 1976; Merritt, 1976; Coulthard, 1977, 71; Heringer, 1977. O argumento
também se beneficia do trabalho não publicado de Paul Drew e John Hcritage.
A ESTRUTURA CONVERSACIONAL | 459
(109) 164
(Contexto: A pediu troco a uma terceira pessoa B, Calipresente entra
na conversa)
1
460 | PRAGMÁTICA
27. AJém dos outros casos em 6.3.2, vimos também que, no relato de más notícias, pa
rece haver uma preferência pela sequência (a) Tp pré-anúncio, T2: adivinhar, à se
quência (b) Tp- pré-anúncio, T2: ir em frente, T3: anúncio.
462 | PRAGMÁTICA
Pode-se objetar que os turnos iniciais, nesse caso, são apenas solici
tações indiretas - mas note que eles estão no formato de pré-solicitações,
e a diferença entre, por exemplo, (108) e (117) é simplesmente que
faltam neste último os turnos na posição 2 e na posição 3. Uma vez que
(117) poderia muito bem ter sido como (108), seria uma distinção post~
A ESTRUTURA CONVERSACIONAL | 465
(119) 178
(Contexto: R e Sheila deram um curso expositivo em conjunto, mas
não entregaram as questões relativas ao curso a C, a pessoa queficou
de montar a prova pertinente)
((imediatamente após as saudações))
C: Um (1.5) você e Sheila deram algumas conferências para o pri
meiro ano de Microbiologia
R: Certo e, oh meu Deus, é três de março ou coi
sa assim... sim... quatro de março
(1.0)
ah vamos entregá-las a você (1.0) ho:je...
(120) US, 24
M: O que você vai fazer com esse aquário?
Nada.
(0.5)
V: ((tosse)) ah-h-h (1.0) Não estou interessado nem em vendê-lo
nem em dá-lo. É isso aí.
M: Tudo bem
(123) 145B
C: You don t have his number I dont suppose
C: Não creio que vocês tenham o número dele
(124) 151
C: I wonder whether I could possibly have a copy of last years tax
return
C: Eu me pergunto se vou conseguir uma cópia da declaração de
imposto do ano passado
6.5 CONCLUSÕES
Talvez não seja por acaso que as análises produzidas pela AC até
agora têm uma notável (ainda que superficial) semelhança com as teo
rias estruturalistas da linguística predominantes antes dos anos 1960.
Ambos os tipos de abordagem estão interessados em corpora de mate
riais registrados; ambos têm como instrumento metodológico central
o uso de uma eurística de casa vazia e preenchedor — isto é, a investi
gação de como razões sequenciais (ou sintagmáticas) limitam a classe
de itens que se espera que venham em seguida e de como os itens nes
sa classe contrastam entre si (ou mantêm relações paradigmáticas). O
paralelo talvez esteja mais claro nas discussões sobre formulação feitas
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pela AC, onde a questão central é por que se escolhe uma descrição es
pecífica a partir de um conjunto de alternativas paradigmáticas (ver
Schegloff, 1972b; também Sacks, 1972, sobre categorizações de afi
liação). Assim como se mostrou que as análises estruturalistas da es
trutura lingiiística, do ponto de vista teórico, são inadequadas enquan
to modelos de competência humana, também, a longo prazo, talvez se
venha a constatar que as análises da AC, devido à sua excessiva simpli
cidade, são deficientes enquanto reconstruções dos processos cogniti
vos, sem dúvida imensamente complicados, envolvidos na condução
de conversações. Enquanto isso, porém, nenhum outro tipo de inves
tigação de organização conversacional vem produzindo uma safra tão
rica de idéias.
Um possível enigma que foi aqui suscitado é se, apesar das obser
vações feitas na seção 6.1 acima, a AC não é, afinal, um modelo “sintá
tico” da conversação, dado o seu grande interesse pelas exigências que pe
sam sobre as possibilidades sequenciais. Contudo, as diferenças são, de
fato, substanciais. Em primeiro lugar, algumas das regras formuladas
na AC, como as de alternância de turnos descritas na seção 6.2.1.1,
são tão reguladoras quanto constitutivas, para usar a distinção feita
por Searle (1969) entre as regras dos atos de fala (essas, sim, constitu
tivas de cada tipo de ato de fala) e as regras de tráfego (meramente re
guladoras do fluxo de tráfego de existência autónoma). Em segundo
lugar, as regras da AC descrevem expectativas não marcadas, não o con
junto de possíveis sequências ou conversações bem-formadas; assim,
essas regras são muito mais parecidas com as máximas de Grice do que
com regras linguísticas. Considere, por exemplo, a regra pela qual, dada
uma primeira pane de um par de adjacência, deveria seguir uma segunda
pane; conforme a noção de relevância condicional (que introduzimos
em 6.2.1) deixa claro, a ausência de uma segunda parte é, em si mes
ma, um recurso de comunicação que pode ser usado para contribuir
efetivamente para a conversação. Por conseguinte, a adoção da heurís
tica da casa vazia preenchedora não deve ser interpretada como se trou
xesse consigo o sentido especial de regra encontrado na lingiiística.
Um outro enigma que surge é se o uso informal de categorias como
pedido, convite, saudação e outras mais não incorpora uma teoria im-
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plícita dos atos de fala. Não estaria acontecendo que, enquanto a teoria
dos atos de fala vem tentando oferecer uma caracterização interna da
função dos turnos, a AC está preocupada com as relações interturnos,
de modo que uma síntese simples seja possível?
Os pesquisadores da AC rejeitariam essas sugestões. Primeiro, eles
lembrariam que os termos pedido, convite, saudação e outros não são in
venções da teoria dos atos de fala, mas sim parte de uma rica metalin-
guagem (ainda que muito inexplorada) das línguas naturais (ver, por
exemplo, Allwood, 1976; Verschueren, 1980). Não se infere da exis
tência desses termos nem que existe uma ligação íntima entre a meta-
linguagem ‘informal’ e as categorias realmente utilizadas na produção
discursiva, nem que essas categorias sejam propriamente explicadas
pelo estabelecimento de conjuntos de condições necessárias e suficien
tes para enquadrar os atos de fala em categorias (compare Searle, 1969,
e Levinson, 1979a). De qualquer forma, se pressionados, os pesquisa
dores da AC alegariam que o uso intuitivo de categorias como pedido
deve ter por base, pelo menos, (i) uma explicação sequencial comple
ta em termos do leque de respostas que se podem esperar (como recusas,
adiamentos, aquiescências, etc.), (ii) uma explicação do modo como se
formulam tipicamente os pedidos a fim de obter as respostas desejadas
(ver seção 6.4.3 acima). Segundo, é incorreto considerar que o relacio
namento interturnos seja a principal preocupação da AC: a discussão
dos exemplos (59) e (102) acima, assim como o reexame dos atos de
fala indiretos, deverá deixar claro que a AC se interessa especificamente
pela relação entre a estrutura intraturnos e a organização ou sequência
interturnos. Não está claro, portanto, que a AC tenha que dar atenção
à teoria dos atos de fala (ver Turner, 1974b).
Isso levanta um último e fundamental problema. Até que ponto
os aspectos da organização conversacional são universais? Ou, em que
medida os componentes dessa organização que aqui passamos em re
vista estão restritos à língua inglesa (ou mesmo a uma subvariedade
dela)? O problema é fundamental por várias razões: se os aspectos bási
cos da organização conversacional sao universais, então (a) os linguistas
talvez sejam capazes de explicar universais linguísticos significativos apon
tando para pressões funcionais universais impostas pelos padrões bási-
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