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METODOLOGIA

CIENTÍFICA

Karina da Silva Nunes


Análise de dados
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer as fases da análise de dados.


 Selecionar o método de análise de dados.
 Relacionar os dados coletados com a fundamentação e com os ob-
jetivos da pesquisa.

Introdução
Após a coleta dos dados, passa-se à fase seguinte da pesquisa, que é
a análise dos elementos obtidos. Ela deve ser realizada para atingir os
objetivos da pesquisa, confrontando os dados e as informações com as
hipóteses criadas no estudo.
Essa fase é importante pois é ela que constrói os elos para que os
dados sejam finalmente transformados em informações. Tais informações,
por sua vez, geram o conhecimento buscado desde o início da pesquisa.
Em síntese, a análise dos dados guia o pesquisador ao encontro das
respostas que foram o fomento inicial do estudo.
Neste capítulo, você vai estudar a análise dos dados e as suas fases. A
ideia é que você reflita sobre como examinar os dados e que identifique
a melhor forma de estruturar a análise.

Fases da análise de dados


A análise de dados é uma das etapas da construção do estudo. Conforme
Gil (2012, p. 156), “[...] a análise tem como objetivo organizar e sumariar os
dados de forma tal que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema
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proposto para investigação”. Na análise de dados, o pesquisador entra em


contato profundo com os dados coletados, a fi m de conseguir respostas
às suas indagações. A partir disso, ele estabelece as relações necessá-
rias entre as informações obtidas e as hipóteses formuladas previamente.
Tais hipóteses são comprovadas ou não a partir da análise (MARCONI;
LAKATOS, 2017).
Para que a análise atenda às expectativas do pesquisador, ela pode ser
dividida em fases. De acordo com Minayo (1992, p. 69), as fases da análise
podem “Estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou não
os pressupostos da pesquisa e/ou responder às questões formuladas e ampliar o
conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural
do qual faz parte”.
Identificar as fases da análise de dados leva o pesquisador a se orientar
melhor na construção da escrita dos resultados, pois tratar o material coletado
é unir a abordagem teórica com a investigação de campo.
Na etapa da análise, o pesquisador já definiu se o seu estudo é qualitativo
ou quantitativo. Cada tipo de estudo leva a fases distintas de análise de dados.
Além disso, os processos de análise de dados podem variar em função do
planejamento da pesquisa. Veja as fases de uma análise de dados quantitativos
(GIL, 2012):

 estabelecimento de categorias;
 codificação;
 tabulação;
 análise estatística dos dados;
 avaliação das generalizações obtidas com os dados;
 inferência de relações causais;
 interpretação dos dados.

Como os dados quantitativos oferecem a possibilidade de comparação


entre as variáveis, trabalhar com eles siginifica ter uma ampla gama de
possibilidades de agrupamentos e controle, de acordo com os objetivos
da pesquisa.
Quanto à análise de dados na pesquisa qualitativa, Creswell (2010) propõe
o caminho que você pode ver na Figura 1. O autor ressalta que as fases são
interativas. Assim, os estágios são inter-relacionados e nem sempre ocorrem
na ordem apresentada.
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Figura 1. Fases da análise qualitativa.


Fonte: Adaptado de Creswell (2010).

Os passos apresentados por Creswell (2010) podem ser descritos mais


especificamente como:

1. organizar e preparar os dados para a análise, o que envolve transcrever


as informações coletadas dos instrumentos e organizá-las por tipo de
dado, conforme a fonte da informação;
2. ler as informações coletadas e refletir sobre o seu significado global,
verificando que ideias gerais foram obtidas na coleta de dados;
3. codificar os dados, ou seja, organizar as informações para atribuir
significado a elas;
4. gerar, a partir da codificação dos dados, uma descrição geral do local,
das pessoas, dos objetos de análise, etc.;
5. informar como a descrição e o tema serão apresentados na escrita dos
resultados;
6. realizar a interpretação e extrair o significado dos dados.
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Em resumo, os processos que definem a natureza da análise qualitativa


são os seguintes: dar estrutura aos dados; descrever a experiência dos sujeitos
pesquisados; compreender o contexto em que eles estão; interpretar e avaliar
as unidades, categorias e padrões. Além disso, é necessário explicar situações,
fatos e fenômenos; reconstruir perspectivas; vincular os dados à formulação
do problema; e relacionar os resultados da análise com a teoria, ou construir
novas teorias (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013).

Seleção do método de análise de dados


Para analisar os dados provenientes da coleta de dados, o pesquisador tem
de escolher o método que melhor se adequa ao seu propósito de pesquisa
(incluindo tempo e custos financeiros). A partir disso, ele vai construir as
conclusões do estudo.
Lembre-se de que a principal diferença entre os dados quantitativos e os
qualitativos é que os primeiros incluem informações que podem ser comparadas
Tais informações são recolhidas de uma amostra específica de uma população
por meio de questionários, formulários, roteiros de entrevistas, etc. Já os
dados qualitativos são muito mais abertos a diferentes tipos de análise, pois
as informações recolhidas na maioria das vezes não podem ser comparadas,
visto que analisam situações particulares.

Análise de dados quantitativos


Como você viu anteriormente, os primeiros passos para a análise de dados
quantitativos são a categorização e a codificação dos dados. A ideia é deixar os
dados prontos para serem inseridos em um software estatístico que seja capaz
de comparar e fornecer ao pesquisador as análises estatísticas necessárias. As
técnicas estatísticas disponíveis constituem a principal fonte de informação
para a caracterização e o resumo dos dados, assim como para a análise das
relações entre as variáveis e o prolongamento das conclusões para além da
amostra utilizada (GIL, 2012).
Existem diversos programas que fazem a análise dos dados. O seu fun-
cionamento se dá em duas partes: definição de variáveis e matriz de dados.
Uma não existe sem a outra e tudo é definido pelo pesquisador (SAMPIERI;
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COLLADO; LUCIO, 2013). A utilização de softwares estatísticos dá suporte


à construção da abordagem estatística do trabalho e possibilita a criação dos
objetos de apresentação, como tabelas, gráficos e quadros.

Entre os softwares de análise de dados quantitativos mais indicados, estão: SPSS,


Minitab, SAS e STATS.

Análise de dados qualitativos


Os dados qualitativos incluem grande diversidade de elementos. Segundo
Gibbs (2009), qualquer forma de comunicação entre as pessoas — escrita,
auditiva, audiovisual — é passível de análises qualitativas. O importante é
garantir que os dados sejam examinados, descritos e explicados da melhor
maneira possível. Os dois tipos principais de análises qualitativas são a análise
de conteúdo e a análise de discurso. Veja a seguir.

 Análise de conteúdo: esse tipo de análise prima pela descrição e pela


interpretação do conteúdo de uma mensagem. Portanto, a sua utilização
é indicada para a comunicação escrita. A análise de conteúdo é usada
para a análise do significado de palavras, com o objetivo de encon-
trar sentido para o documento (FARIAS FILHO; ARRUDA FILHO,
2015). Ao usar esse tipo de análise, os pesquisadores estabelecem
um conjunto de categorias e depois contam o número de vezes que
os termos aparecem em cada categoria. Segundo Silverman (2009,
p. 149), “[...] a análise de conteúdo presta uma atenção particular à
confiabilidade [...] e à validade de seus achados por meio da contagem
do uso da palavra”.
 Análise do discurso: é uma prática da linguística no campo da comu-
nicação e tem como objeto de análise as construções nas formas de
comunicação escrita. Conforme Farias Filho e Arruda Filho (2015, p.
145), “[...] a análise do discurso é uma técnica de análise das intenções
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e das motivações do autor ao fazer tal discurso, ou ao emitir uma


mensagem”. A análise do discurso se preocupa com o contexto social
do emissor da sentença, pois esta sempre vem carregada dos valores
do indivíduo responsável pelo discurso (FARIAS FILHO; ARRUDA
FILHO, 2015).

Além desses dois tipos de análise, existe a possibilidade de analisar dados


qualitativos por meio de softwares de análise, como acontece no caso da aná-
lise de dados quantitativos. Conforme Gibbs (2009, p. 136), os softwares de
análises de dados qualitativos (SADQ) oferecem muitas formas de tratar um
texto, pois permitem que os pesquisadores mantenham “[...] bons registros de
suas impressões, análises, além de fornecer acesso aos dados para que possam
ser analisados e examinados”.

Os três programas de análise de dados estatísticos qualitativos mais utilizados pelos


pesquisadores são: Atlas.ti, MAXQDA e Nud.ist.

Os dados coletados, a fundamentação


e os objetivos da pesquisa
Após o planejamento da metodologia, a escolha da ferramenta de coleta de
dados e a posterior análise de dados, chega-se à última, mas não menos im-
portante, etapa do estudo: relacionar os dados coletados e analisados com
os fundamentos e com os objetivos da pesquisa. Após a análise dos dados, a
informação tratada deve servir para alcançar os objetivos e a questão norteadora
da pesquisa. Conforme Farias Filho e Arruda Filho (2015, p. 138):

A análise deve ser feita para atender aos objetivos da pesquisa, para comparar
e confrontar dados e informações com as hipóteses e as questões de pesquisa,
ou seja, para confirmar ou rejeitar a(s) hipótese(s) ou os pressupostos da pes-
quisa; para o pesquisador verificar se os resultados da pesquisa conseguiram
responder às questões iniciais.
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Quando se chega a esse ponto da pesquisa, os dados já foram interpretados


e é necessário desmembrá-los para que eles sejam capazes de responder ao
problema de pesquisa. Além disso, é preciso estabelecer conexões entre o
que foi proposto no projeto e o que foi obtido, admitindo-se que os dados
respondem aos questionamentos propostos.
Esse é o momento de afirmar que os resultados foram alcançados satisfa-
toriamente. Se não o foram, a questão da pesquisa não foi respondida e, por
conseguinte, o estudo não teve validade. O pesquisador deve comentar por
que os resultados se apresentaram de tal maneira e se eles foram suficientes
para o alcance dos objetivos do estudo. Além disso, é necessário apontar
quais fatores e variáveis podem ter influenciado os resultados (MARTINS
JÚNIOR, 2009).
Ao escrever esse capítulo do estudo, o pesquisador deve contemplar a
análise dos dados e a apresentação dos resultados, no sentido de responder ao
questionamento central da pesquisa. Conforme Gray (2012), a ideia é ressaltar
os resultados obtidos e as suas consequências. De acordo com Martins Júnior
(2009, p. 142), nessa fase do estudo, é preciso:

Responder às questões formuladas na delimitação do problema; responder


aos objetivos específicos formulados; responder ao objetivo geral; confirmar
ou rejeitar a hipótese do trabalho; citar as limitações (sempre que forem de-
tectadas ao longo do trabalho); propor sugestões para novas pesquisas com
temas semelhantes.

Essas etapas são, na verdade, o resultado de tudo o que foi previsto


no estudo, porém agora já com as respostas encontradas. A conclusão do
trabalho está sempre ligada aos seus objetivos e precisa conter as respostas
para cada objetivo anteriormente proposto. É de suma importância que os
propósitos e o problema da pesquisa sejam respondidos de forma definitiva.
O estudo é um encadeamento de fatos baseado nas respostas encontradas
na análise de dados. Ao se efetivar a análise, fecha-se o ciclo da constru-
ção do estudo, pois as respostas encontradas vão responder aos objetivos
propostos e os questionamentos vão cessar. Para entender melhor, observe
a Figura 2, a seguir.
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Figura 2. Ciclo da pesquisa.

Ao atingir os objetivos propostos, a pesquisa cria um novo conhecimento


para a área em que se insere. Então, o pesquisador pode elucidar o que o seu
estudo agrega à produção de conhecimento da ciência e sugerir que novas
pesquisas sejam feitas a partir de seu trabalho.

CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2010.
FARIAS FILHO, M. C.; ARRUDA FILHO, E. J. M. Planejamento da pesquisa científica. 2. ed.
São Paulo: Atlas, 2015.
GIBBS, G. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: Artmed, 2009.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
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GRAY, D. E. Pesquisa no mundo real. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2012.


MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 8. ed. São
Paulo: Atlas, 2017.
MARTINS JUNIOR, J. Como escrever trabalhos de conclusão de curso: instruções para
planejar e montar, desenvolver, concluir, redigir e apresentar trabalhos monográficos
e artigos. Petrópolis: Vozes, 2008.
MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14. ed.
São Paulo: HUCITEC, 2014.
SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, M. del P. B. Metodologia de pesquisa. 5. ed. Porto
Alegre: Penso, 2013.
SILVERMAN, D. Interpretação de dados qualitativos: métodos para análise de entrevistas,
textos e interações. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
Conteúdo:

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