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Métodos, instrumentos e técnicas de recolha de 

dados
Publicado em 24 de novembro de 2017 por Daniel Vecchio Alves
Fonte: https://cienciaeeducacao.wordpress.com/2017/11/24/metodos-instrumentos-e-tecnicas-de-
recolha-de-dado/

Em sociologia, os passos coleta de dados que o investigador deve seguir incluem recolher
informações através de observações e entrevistas, documentos e materiais visuais, bem como
estabelecer protocolos para registrar e produzir informações.

Os dados são o resultado final dos processos de observação e experimentação. Sendo assim, a
coleta de dados é um  procedimento lógico da investigação empírica que consiste em  selecionar
técnicas de recolha e tratamento da informação adequadas, ponderando a sua utilização para fins
específicos.

No entanto, os métodos de coleta de dados, que tradicionalmente são baseados em observações,


entrevistas e documentos, agora incluem um vasto leque de materiais, como sons, e-mails, álbum
de recortes e outras formas emergentes. Ademais, as técnicas de recolha de dados possuem
conjuntos de procedimentos bem definidos, dos mais gerais aos mais específicos, todos
destinados a produzir certos resultados na coleta e no tratamento da informação.

A tipologia dos dados


Antes de entrar em campo, os sociologos planejam sua coleta de dados. A proposta deve
identificar que tipo de dados o pesquisador vai registrar e os procedimentos para registrá-
los. Mas, o método mais apropriado dependerá da natureza dos dados, em que podemos
distinguir dois tipos fundamentais: os dados qualitativos e os dados quantitativos.

 Dados qualitativos: “Os dados qualitativos representam a informação que identifica


alguma qualidade, categoria ou característica, não susceptível de medida, mas de
classificação, assumindo várias modalidades.” (MORAIS, s/d, p. 8).
 Dados quantitativos: “Os dados quantitativos representam informação resultante de
características susceptíveis de serem medidas, apresentando-se com diferentes
intensidades, podendo ser de natureza descontínua (ou discreta) ou contínua.” (MORAIS,
s/d, p. 9).

Técnicas de recolha de dado


Antes de escolher as técnicas, é importante que o investigador saiba de que há adequações
procedimentais quanto ao tipo de dado, podendo ser qualitativo/quantitativo ou documental/não-
documental, pois essas diferenças implicam processos distintos em uma investigação científica.

4-Técnicas Não-Documentais
A)Observação

“A observação é sistematicamente organizada em fases, aspectos, lugares e pessoas, relaciona-se


com proposições e teorias sociais, perspectivas científicas e explicações profundas e é submetida
ao controle de veracidade, objetividade, fiabilidade e precisão.”(AIRES, 2015, p. 25).

O método de recolha de dados por observação é um método em que o investigador observa os


participantes no seu ambiente natural ou contextos “artificiais” criados para o efeito, como os
laboratórios. É uma estratégia muito valorizada na investigação em educação, já que nem sempre
o que as pessoas dizem que fazem é aquilo que realmente executam. Este método (ou conjunto
de métodos) pode ser utilizado quer em investigação quantitativa, quer em investigação
qualitativa, dependendo do processo utilizado:

Observação Quantitativa: Neste caso, o processo de recolha de dados é completamente


normalizado, tudo é planejadamente regularizado (quem e o que se observa), existindo grelhas
padronizadas de registro, como na utilização de procedimentos de amostragem ou de ocorrência
de determinado comportamento. Tais procedimentos requerem uma observação estruturada, ou
seja, observação em que o observador sabe o que procura e o que considera importante e para
isso utiliza instrumentos técnicos específicos para a recolha de dados ou dos fenômenos a
observar. Estes procedimentos são muito utilizados, por exemplo, na observação de
comportamentos de docentes e aprendizes em sala de aula.

Observação Qualitativa: Este tipo de abordagem tem um carácter mais exploratório e aberto no
ato do investigador efetuar anotações de campo, ou seja, uma observação não-estruturada. Nesse
caso, o investigador pode assumir papeis diferentes, dependendo dos objetivos que ele pretende
atingir, podendo ser mais ou menos participante nesse contexto (participante completo,
participante-como-observador, observador-como-participante ou completamente observador).
Logo, o observador qualitativo também pode se envolver em papéis que variam de não-
participante até integralmente participante.

De qualquer forma, o pesquisador escolhe um cenário de seu interesse, para depois tomar notas
sobre comportamentos e atividades das pessoas do cenário escolhido, fornecendo observações
múltiplas durante a realização do seu estudo qualitativo. Para isso também é utilizado
um protocolo ou formulário para registrar as informações, que pode consistir em “uma única
página com uma linha divisória no meio para separar as notas descritivas […].” (CRESWELL,
2007, p. 193). Depois de executado essas duas fases, há o tratamento dos protocolos recolhidos,
que consiste “na reflexão teórica sobre os aspectos observados, bem como na formulação de
conexões entre as diversas dimensões das realidades observadas.” (AIRES, 2015, p. 25-26).

B)Entrevista

A entrevista compreende o desenvolvimento de uma interação de significados em que as


características pessoais do entrevistador e do entrevistado influenciam decisivamente em seu
curso: “A entrevista nasce da necessidade que o investigador tem de conhecer o sentido que os
sujeitos dão aos seus atos e o acesso a esse conhecimento profundo e complexo é proporcionado
pelos discursos enunciados pelos sujeitos.” (AIRES, 2015, p. 29).
Trata-se de um recurso delicado, em que o entrevistador tem de conseguir criar uma atmosfera de
confiança com o entrevistado, caso contrário, os resultados obtidos vão ter pouca
credibilidade. L. Aires menciona três características básicas que podem diferenciar as
entrevistas: “a) as entrevistas desenvolvidas entre duas pessoas ou com um grupo; b) as
entrevistas que abarcam um amplo conjunto de temas (biográficas) ou que incide em um só tema
(monotemáticas);  c) as entrevistas que se diferenciam consoante o maior ou menor grau de
predeterminação ou de estruturação das questões abordadas.” (AIRES, 2015, p. 28).

Nessa última característica incide o fato de a entrevista poder ser atrelada a um método
quantitativo ou qualitativo:
 
Entrevistas Quantitativas: São entrevistas padronizadas ou estruturadas, que usam questões
fechadas em que o entrevistado tem um protocolo de entrevista que é aplicado a todos os
participantes. Nesse caso, o protocolo de entrevista é muito semelhante a um questionário, sendo
que a principal diferença é que as questões são lidas pelo entrevistador (típico nas entrevistas
presenciais ou telefônicas).
 
Entrevista Qualitativa: São entrevistas baseadas em perguntas abertas, podendo estas
dividirem-se em 3 tipos: conversação informal (mais ou menos estruturada), guia de
entrevista/semi-estruturada (inclui um protocolo, que não tem de ser aplicado de forma
ordenada), aberta padronizada, em que a formulação das questões pode ser alterada, bastando
para tanto que se extraia as visões e as opiniões dos participantes. Ou seja, não se trata de um
simples registro de falas já que “o papel do entrevistador deve ser reflexivo, pois a renegociação
permanente das regras implícitas ao longo da interacção conduz à produção de um discurso
polifónico.” (AIRES, 2015, p. 32).
 

O protocolo de entrevista pode incluir os seguintes componentes  básicos: “cabeçalho,


instruções iniciais para o entrevistador, as principais questões de pesquisa, instruções para
aprofundar as principais perguntas, questões alternativas para o entrevistador, espaço para
registrar os comentários  e espaço no qual o pesquisador registra notas reflexivas.”
(CRESWELL, 2007, p. 194)

C) Questionário
O questionário, um dos métodos mais usados na área dos estudos sociais, é um instrumento de
recolha de dados por meio de um numero limitado de perguntas que são autopreenchidas pelos
participantes. Como muitas questões são mais abstratas e não podem ser respondidas
binariamente, ou seja, por meio de sim e não, usa-se as escalas de Linkert, em que o sujeito
pesquisado pode responder levando em conta os critérios objetivos e subjetivos dos
questionamentos realizados. Normalmente, o que se deseja medir é o nível de concordância ou
não concordância à afirmação.
O formato típico das escalas de Likert é constituído por 5 níveis: 

1. Não concordo totalmente


2. Não concordo parcialmente
3. Indiferente
4. Concordo parcialmente
5. Concordo totalmente

 
D)Testes
Esta técnica de recolha de dados está relacionada com a investigação quantitativa, uma vez que
os objetivos deste tipo de investigação se concentram principalmente com a “testagem” de
hipóteses e de correlações estatísticas e causais entre fatos. É considerada uma técnica poderosa,
visto que existem inúmeros testes validados, de domínio público, que permitem a recolha de
dados numéricos. O recurso a esta técnica incluem testes, cujas características apresentam pontos
em comum, nomeadamente as medidas padronizadas, como nos testes de aptidão e de
personalidade.

E)Estudo de Caso
O estudo de caso é um dos mais relevantes métodos de pesquisa qualitativa. Este recurso consiste
em uma pesquisa sobre um determinado indivíduo, família, grupo ou comunidade que seja
representativo de um determinado espaço e tempo, com o intuito de examinar aspectos variados
da vida. Essa modalidade pode ser dividida em várias etapas como: formulação do problema,
definição da unidade-caso, determinação do número de casos, elaboração do protocolo, coleta de
dados, avaliação e análise dos dados e preparação do relatório. Com relação à coleta de dados, o
método de estudo de caso pode ser considerado o mais completo dentre todos os outros, pois se
vale tanto de dados de pessoas quanto de dados documentais. Assim, são inúmeros os estudos
que podem ser classificados sob essa técnica.

 
5-Técnicas Documentais
Segundo L. Aires, podemos levantar dois tipos de documentos a serem pesquisados para a
recolha de dados: os documentos oficiais e os documentos pessoais. Os documentos oficiais
proporcionam “informação sobre as organizações, a aplicação da autoridade, o poder das
instituições educativas, estilos de liderança, forma de comunicação com os diferentes actores da
comunidade educativa, etc. Já os documentos pessoais integram as narrações produzidas pelos
sujeitos que descrevem as suas próprias acções, experiências, crenças, etc.” (AIRES, 2015, p.
42).

Discussões em grupos focais: Discussões em grupos focais (FGD) são discussões facilitadas,
realizadas com uma pequena grupo de pessoas com conhecimentos especializados ou interesse
em um tópico específico. Eles são usados para descobrir as percepções e atitudes de um grupo
definido de pessoas. Fgds são tipicamente realizadas com cerca de 6-12 pessoas, e são baseados
em uma pequena lista de orientação questões, concebidas para sondar informações aprofundadas.

Os Fgds são frequentemente usados para solicitar as opiniões de quem não estaria disposto ou
capaz de falar em grupo maior reuniões. Podem igualmente ser utilizadas para aceder aos pontos
de vista grupos minoritários ou desfavorecidos, como as mulheres, crianças ou pessoas com
deficiência.

A)História de Vida
A história de vida é um tipo de relato que apresenta um carácter geral e é suscitada pelo
investigador para fazer “uma análise da realidade vivida pelos sujeitos, conhecer a cultura de um
grupo humano ou compreender aspectos básicos do comportamento humano e das instituições.”
(AIRES, 2015, p. 41). As fases mais importantes de análise da informação são: “1) depois de
produzidos e registados, os relatos são transcritos e analisados; 2) através da leitura do
documento, o protagonista corrige, completa e interpreta a sua narrativa sob a orientação do
investigador e a seguir, auto-critica-a.” (AIRES, 2015, p. 41-42).
B)Material Audiovisual

A técnica denominada Photovoice, por exemplo, envolve um processo que utiliza imagens


fotográficas captadas pelos participantes da investigação de pessoas com baixo poder sócio-
econômico, em que se procura avaliar as necessidades de uma comunidade e induzir a mudança
por meio da veiculação da informação aos responsáveis políticos. Por meio da documentação
sobre o próprio mundo dos participantes torna-se possível discutir criticamente com os
responsáveis políticos as imagens produzidas pelos participantes, e estes podem assim lançar
bases para uma mudança social. O método Photovoicetem como premissa teórica os pilares da
fotografia documental baseada na comunidade, sobretudo no que se refere à voz e à participação
dos vulneráveis. Para mais informações sobre esta técnica acesse https://photovoice.org/

C)Análise Documental 
A análise documental, segundo L. Aires, nos remete à conexão interativa de três tipos de
atividades: redução, exposição e extração de conclusões: “A redução de dados implica a
selecção, focalização, abstracção e transformação da informação bruta para a formulação de
hipóteses de trabalho ou conclusões. A redução de dados realiza-se constantemente ao longo de
toda a investigação. Estes dados podem ser reduzidos e transformados, quantitativa ou
qualitativamente, de forma diferente. Neste último caso, utilizam-se códigos, resumos,
memorandos, metáforas, etc” (AIRES, 2015, p. 46). Nesse sentido, a técnica da análise
documental é caracterizada por um processo dinâmico ao permitir representar o conteúdo
documental de uma forma distinta da original, gerando assim um novo documento. Ou seja, essa
técnica permite criar uma informação nova (secundária) fundamentada no estudo das fontes de
informação primária, em um processo que relaciona a descrição bibliográfica, a classificação, a
elaboração de anotações e de resumos, e a transcrição técnico-científica.

Para além dos documentos escritos, esta técnica é também aplicada sobre imagens (fotografias,
pinturas, mapas), sobre áudio (músicas) e sobre documentos audiovisuais (vídeos). Com as
tecnologias da informação e comunicação cada vez mais difundidas na sociedade, os conteúdos
digitais também são documentos utilizados pelos investigadores. O processo de validação dos
dados provenientes desta variada fonte documental engloba, no entanto, o controle da
credibilidade dos documentos e das informações que eles contêm, chamando a atenção
especialmente para as informações contidas na Internet, onde a questão da autoria, credibilidade
e autenticidade é por muitas vezes difícil de ser estabelecida.
Triangulações de métodos: uma necessidade
Segundo Creswell, a investigação hoje “é menos quantitativa versus qualitativa e mais sobre
como as práticas de pesquisa se posicionam em algum lugar em uma linha contínua entre as
duas.” (CRESWELL, 2007, p. 22). Portanto, actualmente, os investigadores, incluindo os
sociologos, são encorajado a empregar seu ‘modelo multimétodo’ para examinar técnicas
múltiplas de coleta de dados em um estudo.

Creswell afirma que “o conceito de reunir diferentes métodos provavelmente teve origem em
1959, quando Campbell e Fiske usaram métodos múltiplos para estudar a validade das
características psicológicas. Eles encorajaram outros a empregar seu ‘modelo multimétodo’ para
examinar técnicas múltiplas de coleta de dados em um estudo. Isso gerou outros métodos mistos,
e logo técnicas associadas a métodos de campo, como observações e entrevistas (dados
qualitativos), que foram combinadas com estudos tradicionais (dados quantitativos)”
(CRESWELL, 2007, p. 31).

Nascia dessa forma a triangulação das fontes de dados como um meio para buscar convergências
entre os métodos qualitativos e quantitativos. A partir dessa triangulação de métodos surgiram
razões adicionais para reunir diferentes tipos de dados, pois os resultados de um método podem
ajudar a desenvolver ou informar outro método: “um método pode ser melhor acomodado dentro
de outro método para gerar informações em diferentes níveis ou unidades de análise. Ou os
métodos podem servir a um objetivo transformador maior, para mudar e defender grupos
marginalizados, como mulheres, minorias étnicas/raciais, membros de comunidades gays e
lésbicas, pessoas com deficiências e os pobres.” (CRESWELL, 2007, p. 32).

Referências
ABEYASEKERA, Savitri. Quantitative analysis approaches to qualitative data: why, when and
how. 2000. Available at http://www.reading.ac.uk/ssc/.
CRESWELL, John W.. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Tradução
Luciana de Oliveira da Rocha.. 2. ed.. Porto Alegre: Artmed, 2007.

MORAIS, Carlos . Descrição, análise e interpretação de informação quantitativa: Escalas de


medida, estatística descritiva e inferência estatística. Bragança: Escola Superior de Educação –
Instituto Politécnico de Bragança, s/d.

AIRES, L. Paradigma qualitativo e práticas de investigação educacional. Lisboa: Universidade


Aberta, 2015.

Sites Consultados
http://wiki.ua.sapo.pt/wiki/T
%C3%A9cnicas_e_Instrumentos_de_Recolha_de_Dados_na_Investigacao_em_Educacao

http://mienlopes.blogspot.com.br/2011/01/metodos-de-recolha-de-dados.html

https://docente.ifrn.edu.br/andreacosta/desenvolvimento-de-pesquisa/metodologia-da-pesquisa

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