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AS ABORDAGENS QUALITATIVAS E

QUANTITATIVAS NA PESQUISA SOCIAL


Autores: Gláucia Santos de Maria e
Izabelle Aline Donato Braz.

Paper apresentado à Unidade Acadêmica de ciências


sociais, como requisito parcial para a aprovação do
componente curricular: Metodologia das ciências sociais,
na Universidade Federal de Campina Grande.

Professor: Jose Maria de Jesus Izquierdo Villota.

Campina Grande, 25 de setembro de 2013.


Resumo:
A realização de estudos sobre tipos e métodos de pesquisa sempre provocaram
divergências e discussões, principalmente no meio acadêmico. Percebe-se a importância
dessa discussão para o meio acadêmico, pois os alunos geralmente possuem problemas
em definir qual o método estão utilizando, como também pesquisadores para a
construção do conhecimento. Neste sentido, este paper se propôs a realizar um ensaio
enfatizando a relevância dos estudos quantitativos e qualitativos na pesquisa social,
demonstrando que ambos têm sua importância e que este uso deve ser definido de
acordo com o enfoque e objetivo da pesquisa. Contudo, espera-se com esse artigo
contribuir para uma melhor definição dos processos de pesquisa.
Palavras-chave: estudos quantitativos; estudos qualitativos; pesquisa social.
Introdução:
Os métodos quantitativos e qualitativos não se excluem. Embora difiram quanto
à forma e a ênfase, ambos os métodos trazem como contribuição ao trabalho de
pesquisa, uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo capazes de
contribuir para melhor compreensão dos fenômenos. Pode-se distinguir o enfoque
qualitativo do quantitativo, mas não seria correto afirmar que aguardam relação de
oposição. Assim, considerando-se que a pesquisa científica exige, entre outras
características, a criatividade, a disciplina, a organização e a modéstia do pesquisador,
deve-se levar em conta que ele lida sempre com confrontos. Nesse sentido, a pesquisa
em Ciências Sociais deve, entre outras coisas, suscitar o qual o melhor método é
adequado para sua pesquisa.
Muitas são as divergências observadas entre a metodologia quantitativa e a
qualitativa. Assim, passaremos a discutir cada uma delas, dando ênfase à cautela do
pesquisador que deve optar por escolher um método, contudo devemos ressaltar que
ambos os métodos podem estar presente em uma mesma pesquisa.

METODOLOGIA QUANTITATIVA

De acordo com Boudon os métodos quantitativos possuem um caráter de


imaginar uma população de objetos de observação e compará-los entre si. Ele afirma
também que eles podem ser grupos, instituições e até mesmo sociedades. Nesses
métodos quantitativos é possível obter informações adequadas e também complexas, já

1
que são bastante flexíveis. Considerando que, ao optar pelo uso de procedimentos
quantitativos, tal escolha dependerá efetivamente dos objetivos da pesquisa que se
decide realizar.
Segundo Fonseca (2002) os resultados obtidos em uma pesquisa cujo método
empregado é de caráter quantitativo, tais dados podem ser quantificados em termos de
um retrato da realidade de uma população alvo de uma determinada pesquisa. Um bom
exemplo de pesquisa quantitativa, que se exige precisão e agilidade dos resultados é a
pesquisa de intenção de voto. Desse modo, a pesquisa quantitativa permite medir, em
termos numéricos, a incidência de determinado fenômeno, o que durante muito tempo a
busca pela isenção e distanciamento do pesquisador através desse tido de método,
garantiria a objetividade, pois “os dados estatísticos parecem mais impessoais aos
cientistas sociais”. Em termos comparativos, na pesquisa qualitativa o pesquisador
procura se debruçar sobre o “universo de significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de
variáveis” (Minayo, 2001). Enquanto que a quantitativa

[...] se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo,


considera que a realidade só pode ser compreendida com base na
análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos
padronizados e neutros. A pesquisa quantitativa recorre à
linguagem matemática para descrever as causas de um fenômeno,
as relações entre variáveis, etc. A utilização conjunta da pesquisa
qualitativa e quantitativa permite recolher mais informações do
que se poderia conseguir isoladamente. (FONSECA, 2002, p.32,
apud CÓRDOVA e SILVEIRA, 2009 )

Por outro lado, Boudon (1971) alerta que no momento em que o pesquisador
escolhe uma população como objeto de estudo, e não apenas indivíduos, ou seja, na
medida em que se decide por contextos mais amplos, a observação de tal será
efetivamente mais custosa, dada sua amplitude.
Dito isso, o autor considera que ao usar do método quantitativo nessas situações,
o pesquisador encontra certa dificuldade, já que “[...] quanto mais os contextos que se

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analisam são complexos, mais difícil é determinar os fatores de semelhança e de
dessemelhança e dar às relações estatísticas observadas uma significação não
equívoca” (p.85).
Tal explicação de Boudon (1971) atenta que ao analisar os dados finais, estes
têm de ser expostos com a devida cautela. Pois as sociedades são caracterizadas por um
complexo de relações sociais, e que nem sempre é possível ter certeza de que as
variáveis utilizadas conseguem abarcar a realidade.
Certamente, o autor acredita que, mesmo que se proponha a abordagem
quantitativa como método importante para a investigação científica na busca de medir a
incidência de determinado fenômeno social, ao mesmo tempo tem que se considerar que
tais observações que foram expostas, demonstram que “os métodos quantitativos têm
seus limites” (p. 86). E acrescenta que, mesmo que tais métodos sejam aplicáveis, em
certas circunstâncias, às sociedades mais amplas, o pesquisador ao se deparar com tais
sistemas complexos encontra muitas dificuldades de análise.
Vale salientar que dependendo do tipo de pesquisa que se decida a fazer, o
pesquisador terá de decidir a metodologia que melhor se aplica às questões que deseja
analisar. Ele deve ter em mente os principais aspectos do tipo da abordagem que irá se
apoiar. Nesse sentido, Fonseca (2002, p.33, apud CÓRDOVA e SILVEIRA, 2009)
ilustra através de um quadro comparativo alguns aspectos da abordagem1 qualitativa e
quantitativa, e que demonstra o seguinte:

Quadro 1. Comparação dos aspectos da pesquisa qualitativa com os da pesquisa


quantitativa

Aspecto Pesquisa quantitativa Pesquisa qualitativa

Enfoque na interpretação Menor Maior


do objeto
Importância do contexto Menor Maior
do objeto pesquisado
Proximidade do Menor Maior
pesquisador em relação
aos fenômenos estudados

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Vale salientar que neste trabalho apenas priorizamos algumas considerações acerca das abordagens
qualitativa e quantitativa, já que existem outros tipos de pesquisa, como a comparativa que não demos
ênfase.

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Alcance do estudo no Instantâneo Intervalo maior
tempo
Quantidade de fontes de Uma Várias
dados
Ponto de vista do Externo à organização Interno à organização
pesquisador
Quadro teórico e Definidas Menos estruturadas
hipóteses rigorosamente

Fonte: Fonseca, 2002

Como pudemos observar no quadro exposto anteriormente, a pesquisa


qualitativa procura enfatizar um enfoque mais aproximado na interpretação do
fenômeno estudado, bem como o contexto de tal objeto é importante; o pesquisador se
encontra muito próximo em relação aos fenômenos sociais etc. Já pesquisa quantitativa
procura dar ênfase ao raciocino dedutivo, em que o foco da interpretação do objeto é
menor, e por outro lado o distanciamento do pesquisador e objeto é maior.
Por fim, podemos perceber que ambas as pesquisas, em termos comparativos,
possuem diferenças, pontos fracos e fortes. Entretanto, os elementos positivos de ambas
complementam os pontos negativos da outra. Desse modo é possível afirmar, a partir
dessas observações que, apesar de suas limitações, essas abordagens são fundamentais
para o desenvolvimento da pesquisa científica.
METODOLOGIA QUALITATIVA
A pesquisa qualitativa se diferencia das outras formas de pesquisa social, (a
quantitativa e a comparativa), essa parece ser menos rigorosa quanto á obediência às
regras científicas. No entanto quando se pensa em ciências sociais, se pensa em
afirmações categóricas do tipo “as pessoas com maior educação tendem a alcançar
melhores empregos”. Essas afirmações oferecem visões panorâmicas da realidade,
esclarecem pouca coisa sobre uma dada sociedade. Nessas visões, um único percentual
ou uma simples estatística pode resumir uma quantidade enorme de informações acerca
de inúmeros casos. Nesse sentido, podemos dizer que as análises quantitativas partem
de perspectivas gerais oferecendo visões panorâmicas sobre os fatos, em detrimento de
uma visão mais aprofundada de fatos como se faz na pesquisa qualitativa (Izquierdo,
2011). Contudo, não queremos afirmar que os métodos quantitativos não possuem uma
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utilidade na pesquisa social, essa por sua vez, é vantajosa quando se quer fazer uma
pesquisa ligeira e rápida de forma a ter aspectos gerais sobre um dado fato ou sociedade.
Segundo Boudon, (1971) a escolha entre a pesquisa qualitativa e a quantitativa, é
em geral guiada por considerações econômicas, assim é útil muitas vezes, chegar
rapidamente a resultados pouco custosos, pelos métodos quantitativos. As pré –
enquetes, que precedem as grandes pesquisas quantitativas se efetuadas com cuidado
podem melhorar a eficácia da pesquisa quantitativa. E ainda acrescenta o autor, podem
também reduzir-lhe o custo de forma significativa (Boudon, 1971:111). Contudo, não
podemos deixar de ressaltar que há também pesquisas qualitativas que se impõe não por
questões econômicas, mas simplesmente porque a população que se deseja estudar é
demasiada restrita para o emprego de métodos quantitativos. Há estudos que exigem
que uma compreensão adequada sobre o caso só pode ser alcançada somente através de
um exame em profundidade de casos específicos (Izquierdo, 2011).
Nesse sentido, alguns estudos como a compreensão do fascínio que algumas
pessoas possuem em utilizar armas é um bom exemplo de pesquisa que só se pode
realizar de forma qualitativa. Assim, nessa pesquisa se deseja compreender como ocorre
esse uso, por corporações militares, caçadores e outros aficionados ao manuseio desses
objetos. Uma analise panorâmica diria que essas pessoas necessitam fazer o uso de
armas, porém essa visão não captaria o sentimento que essas pessoas possuem com uso
das armas. Assim o pesquisador, qualitativo estaria preocupado em compreender
quando surgiu o interesse dessas pessoas pelo uso de armas? Quantas possuem? Com
que frequência usa? Como se sentem quando não tem fácil acesso a uma arma? Quantos
dos seus amigos partilham desse mesmo entusiasmo? Em suma, se teria uma lista
enorme de questionamentos com a intenção de sair de uma visão panorâmica e adentrar
em uma visão pessoal de quem gosta de armas e construir uma imagem relevante dos
entusiastas das armas.
Segundo Izquierdo,( 2011) a ênfase da pesquisa qualitativa em conhecer de
maneira detalhada um fenômeno social pode recair na analise de um único caso, porém
esse fato não é nocivo a pesquisa qualitativa. Contudo, no enfoque qualitativo, os
pesquisadores devem determinar quais são as informações úteis para o andamento de
sua pesquisa. Na medida em que o pesquisador vai conhecendo mais acerca do objeto
de pesquisa, o pesquisador vai aprofundando sua compreensão do caso mediante a
elaboração e o refinamento das imagens do objeto de pesquisa e relacionando essas

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imagens com seus referenciais teóricos. Assim, é preciso selecionar os dados
reveladores dos dados que podem induzir o pesquisador a se perder na pesquisa.
A pesquisa qualitativa é por excelência, o desenvolvimento de um processo de
esclarecimento recíproco entre a imagem que tem o pesquisador do objeto de pesquisa e
os conceitos teóricos. Assim, ao se realizar uma pesquisa se tem uma ideia sobre o seu
objeto de estudo e ao se colher dados confrontando-os com o referencial teórico se
evolui na pesquisa possibilitando refinar os conceitos de maneira criativa.
Em função do conhecimento em profundidade e na depuração de imagens, a
pesquisa qualitativa é a mais adequada para alguns tipos de pesquisa social. Esse tipo de
pesquisa permite dar voz aos grupos excluídos pela sociedade, interpretar a importância
histórica e cultural de alguma comunidade ou sociedade, e além do mais, a pesquisa
qualitativa permite o pesquisador progredir na teoria, no sentido de refletir e inferir
sobre ela quando confronta seus dados colhidos. Assim, a nova formação acerca de um
padrão geral se verifica em muitos casos, onde existe uma forte correlação entre eles,
pode assim, estimular a construção de um novo pensamento teórico. Por outro lado, o
conhecimento em profundidade, que se gera na pesquisa qualitativa, proporciona um
material básico, bastante rico em informações que será a base para construir novas
ideias teóricas, assim quando se sabe muito acerca de um caso é fácil ver como as
diferentes partes ou aspectos de um caso se encaixam entre si.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao fim, dizemos que as distintas finalidades da pesquisa social favorecem estratégias de
pesquisa bastante diferentes. Assim, quando se tem a finalidade de identificar padrões
gerais e se tem uma estratégia para se fazer um estudo de muitos casos, se realia a
pesquisa quantitativa. No entanto, quando se estudam muitos casos é difícil estudar cada
um deles em profundidade como se faz na pesquisa qualitativa. Assim, cada uma dessas
estratégias oferece um enfoque diferente sobre a análise das provas empíricas e cada um
tem procedimentos diferentes em relação aos dados que usam quando constroem
imagens a partir das evidências disponíveis. Os diferentes procedimentos estruturam a
interação entre os pesquisadores e as provas empíricas que coletam, e lhes permitem
processar grandes quantidades de informações, selecionar partes relevantes ou
identificar padrões sutis. Contudo, ambos os métodos, quantitativos e qualitativos,
implicam em um dialogo de ideias e provas empíricas, tendo como principal finalidade

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da pesquisa construir representações sócio- cientificas da vida social (Iziquierdo, 2011:
71).

REFERÊNCIAS

BOUDON, Raymond. Métodos da Sociologia. Petrópolis, 1971.


CÓRDOVA, Fernanda Peixoto; SILVEIRA, Denise Tolfo. A pesquisa científica In:
GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo (Org.) Métodos de pesquisa.
Coordenado pela Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFRGS e pelo Curso de
Graduação Tecnológica – Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural da
SEAD/UFRGS. – Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.
VILLOTA, Jose Maria de Jesus Izquierdo. Métodos e técnicas de pesquisa I, 2011.
Minayo MCS 1992. O Desafio do Conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. Hucitec-Abrasco. São Paulo-Rio de Janeiro.269 pp.

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