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Tema 10

Do texto à teoria: Análise e interpretação – a análise de


conteúdo

Análise de conteúdo, segundo Berelson (1952) é “uma técnica de investigação que


permite fazer uma descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo (…)” (Berelson,
citado por Carmo, 2015: 220). Quando se diz objetiva é, porque deve ser feita de acordo com
certas regras, obedece a instruções precisas para que diferentes investigadores trabalhem
sobre o mesmo conteúdo e possam obter os mesmos resultados. É uma análise de conteúdo
sistemática, porque todo o conteúdo deve ser ordenado e colocado em categorias escolhidas
previamente em função dos objetivos que o investigador quer alcançar. E quantitativa, porque
é feito um cálculo sobre os elementos considerados significativos.

Já na visão de Bardin (1977), a análise de conteúdo não deve ser apenas usada para
descrever o conteúdo da mensagem, porque a sua finalidade é a inferência de conhecimento
relativo às condições de produção, com a ajuda dos indicadores quantitativos ou não. Logo, se
a descrição constitui a primeira etapa de realização numa análise de conteúdo, e se a
interpretação é a última etapa, então a inferência é o procedimento intermédio, que permite
a passagem, clara e controlada, de uma à outra. É possível também fazer inferência sobre a
origem da mensagem, e até sobre o próprio destinatário da comunicação. Bardin defende que
esta técnica de pesquisa pode ser considerada como articulação entre o texto (descrito e
analisado em relação a certos elementos característicos), e os fatores que determinam essas
características (constituindo a especificidade da análise de conteúdo).

A análise de conteúdo pode ser aplicada em diversos domínios, como por exemplo em
suportes escritos, como os artigos de jornais e revistas, documentos formais, diários, em
questões abertas de inquéritos por questionário, em imagens de Instagram ou fotografias, e
em sons.

Tipo de análise de conteúdo

Madeleine Grawitz (1993) fez a distinção dos vários tipos de análise de conteúdo, começando
pela análise de exploração e análise de verificação, que corresponde à distinção entre a
análise de documentos e tem a finalidade de verificar uma hipótese, com o objetivo bem
definido que conduz à quantificação dos resultados, e com a finalidade absoluta de explorar.
Uma análise quantitativa que não tem hipóteses previamente definidas não conduz a
resultados apreciáveis. Porém, uma análise fortemente sistematizada apresenta
inconvenientes, pois pode ser deixada fora do campo de estudo elementos essenciais que não
foram previstos.

A distinção entre a análise quantitativa e a análise qualitativa, é que a primeira é o que


aparece com mais frequência, sendo o número de vezes o critério utilizado, enquanto que a
análise qualitativa o que importa é a novidade, isto é, o interesse, o valor de um tema.

Entre uma análise direta e uma análise indireta, dando o exemplo entre dois programas
eleitorais, é que uma análise de conteúdo direta pode incluir unicamente a comparação entre
o número de vezes que determinados temas, símbolos ou palavras-chaves referentes a essa
política apareceram nesses programas, daí a análise quantitativa estar ligada a uma forma
direta. Enquanto que a análise indireta está mais ligada à análise de tipo qualitativo, e por isto
é que por vezes a partir de uma análise quantitativa indireta, por inferência, se pode chegar a
conclusões sobre o que não foi dito ou escrito propositadamente.

Etapas para a prática de análise de conteúdo

Deve começar-se pela definição dos objetivos e do quadro de referência teórico.


Seguidamente, pela constituição de um corpus em que o investigador deve escolher os
documentos que vão ser sujeitos a análise. Esta escolha pode ser feita em duas formas:
determinada a priori ou os documentos podem escolhidos consoante os objetivos da
investigação. Assim, esta escolha também deve seguir algumas regras, como a exaustividade
que considera todos os elementos de um conjunto; a representatividade, devendo a parte
selecionada ser representativa do conjunto dos documentos; a homogeneidade, ou seja, os
documentos não devem apresentar muita singularidade em relação aos critérios de escolha; e
a pertinência, isto é, “os documentos escolhidos devem ser adequados como fontes de
informação para corresponder ao objeto da análise que sobre eles irá recair.” (Bardin, citado
por Carmo, 2015: 224). Depois, deve-se definir as categorias, que podem ser definidas a priori
ou a posteriori, e são, segundo Grawitz, “rubricas significativas, em função das quais o
conteúdo será classificado e eventualmente quantificado”. A priori foram formuladas
hipóteses e o investigador vai verificá-las, tendo já definido as categorias de análise. Uma vez
que a análise de conteúdo deteta as categorias estabelecidas ou não nos documentos que
constituem o corpus. A posteriori as categorias não são definidas antecipadamente, e é
designado por “procedimento exploratório”. A escolha das categorias é bastante importante
para a análise de conteúdo, devem ter as seguintes características: exaustivas, significa que
todo o conteúdo que se classificou deve ser incluído nas categorias consideradas, sendo
possível também não considerar alguns aspetos do conteúdo; exclusivas, ou seja, os mesmos
elementos devem apenas pertencer a uma categoria e não a várias; objetivas, as
características da cada categoria devem ser explicitadas sem ambiguidade e de forma clara;
pertinentes, devendo não estarem muito relacionadas com os objetivos e com o conteúdo que
está a ser classificado. E, portanto, as categorias devem surgir de duas formas, a partir do
documento em análise e de um conhecimento geral do domínio a que diz respeito. A
categorização apresenta também problemas pelos quais os investigadores têm que passar, e o
mais comum incide sobre a possibilidade de definir um conjunto de aspetos da realidade, de
forma a facilitar a análise de conteúdo. Desta forma, enumero alguns aspetos que constituem
objetos de análise: a matéria, a direção da comunicação, os valores (favoráveis, neutros ou
desfavoráveis), os meios, os atores, e a origem.
Outra etapa é a definição das unidades de análise, são elas três tipos de unidades: a
unidade de registo, é o segmento de conteúdo necessário para se poder proceder à análise,
colocando-o numa categoria. Esta escolha depende dos objetivos estabelecidos e do quadro
teórico orientador da investigação, podem dividir-se também em unidades formais sendo
palavras, frases, personagens, etc., e em unidades semânticas em que as mais comuns é o
tema, uma unidade de registo mais utilizada. Outro tipo de unidade é a unidade de contexto,
que constitui o segmento mais longo de conteúdo que o investigador considera ser uma
unidade de registo, e assegura a fidelidade e a validade da análise. E por fim, a unidade de
enumeração é a unidade que procede à quantificação. Estas estão ligadas ao tempo e ou
espaço, devem ser escolhidas com cuidado e indicarem os critérios que a orientaram. A etapa
da quantificação é uma técnica que evolui muito e é aplicada ao campo das Ciências Sociais
como no uso do próprio computador, não sendo obrigatórias. E por fim, a etapa da
interpretação dos resultados, que para além da descrição da análise de conteúdo,
compreende também o objetivo de estudo. Assegura a validade da previsão e permite fazer o
cruzamento com os resultados obtidos por outras técnicas.

Fidelidade e validade

A fidelidade corresponde ao problema de garantir que diferentes codificadores


cheguem a resultados parecidos, e ao mesmo tempo codificados ao longo do trabalho de
forma igual aos critérios de codificação, quer sejam desenvolvidos por um investigador
(fidelidade intra-codificador) ou por uma equipa (fidelidade inter-codificadora). Para isto, é
necessário que o investigador explique ao pormenor os critérios de codificação usados e que
sejam aplicados com muito rigor. Já a validade compreende o que o investigador pretende
medir, pois uma análise de conteúdo só será válida, quando a descrição do conteúdo tem
significado para o problema em questão. E como tal, é importante que todas as etapas que
fizeram parte do processo de análise sejam corretamente executadas.

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