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METODOLOGIA DA REVISÃO INTEGRATIVA

Botelho, L. L. R., Cunha, C. C. de A., & Macedo, M. (2011). O Método da


Revisão Integrativa nos Estudos Organizacionais. Gestão e Sociedade, 5(11),
121-136. https://doi.org/10.21171/ges.v5i11.1220

Etapas da revisão integrativa


O processo de revisão integrativa deve seguir uma sucessão de etapas bem
definidas. Estas podem ser visualizadas na figura abaixo e serão apresentadas
detalhadamente em seguida.
Figura: Processo de revisão integrativa.

Fonte: Elaborado pelos autores.

1ª. Etapa: identificação do tema e seleção da questão de pesquisa. A primeira


etapa serve como norte para a construção de uma revisão integrativa. A
construção deve subsidiar um raciocínio teórico e incluir definições aprendidas
de antemão pelos pesquisadores. Assim, a primeira etapa do processo de
elaboração da revisão integrativa se inicia com a definição de um problema e a
formulação de uma pergunta de pesquisa (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO,
2008). A pergunta de pesquisa deve ser clara e específica (SILVEIRA, 2005;
URSI, 2005).
Com a pergunta de pesquisa definida, o próximo passo é a definição dos
descritores ou palavras-chave, da estratégia de busca, bem como dos bancos
de dados a serem utilizados (BROOME, 2006). Cada passo dado na 1ª etapa
da revisão integrativa deve estar relacionado e ser sistemático. Com a pergunta
de pesquisa define-se os descritores e constrói-se a estratégia de busca.
A estratégia de busca é uma técnica ou um conjunto de regras para tornar
possível o encontro entre uma pergunta formulada e a informação armazenada
em uma base de dados. Isto significa que, a partir de um arquivo, um conjunto
de itens que constituem a resposta de uma determinada pergunta será
selecionado (LOPES, 2002). Lopes (2002) coloca que, para o planejamento da
estratégia de busca, a identificação apropriada dos elementos descritivos de
um item e/ou registro de informação contido em uma base de dados é de
fundamental importância. Para o autor, o ato de verificar a documentação da
base a ser consultada, a fim de identificar a codificação definida pelo banco
de dados para cada campo do item de informação, é um primeiro passo
para a eleição de uma estratégia de busca que seja coerente com os bancos
de dados a serem consultados pelo pesquisador.
2ª. Etapa: estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão. Após a escolha
do tema pelo pesquisador e a formulação da pergunta de pesquisa, inicia-se a
busca nas bases de dados, para identificação dos estudos que serão incluídos
na revisão. Essa etapa depende muito dos resultados encontrados ou
delineados na etapa anterior, pois um problema amplamente descrito tenderá a
conduzir a uma amostra diversificada, exigindo maior critério de análise do
pesquisador. Frequentemente, a seleção de artigos inicia-se de forma mais
ampla e afunila-se na medida em que o pesquisador retorna à sua questão
inicial, pois o movimento de busca na literatura nem sempre é linear
(BROOME, 2006). Para Ganong (1987), os critérios de inclusão e exclusão
devem ser identificados no estudo, sendo claros e objetivos, mas podem sofrer
reorganização durante o processo de busca dos artigos e durante a elaboração
da revisão integrativa (URSI, 2005).
3ª. Etapa: Identificação dos estudos pré-selecionados e selecionados Para a
identificação dos estudos, realiza-se a leitura criteriosa dos títulos, resumos e
palavras-chave de todas as publicações completas localizadas pela estratégia
de busca, para posteriormente verificar sua adequação aos critérios de
inclusão do estudo. Nos casos em que o título, o resumo e as palavras-chave
não sejam suficientes para definir sua seleção, busca-se a publicação do artigo
na íntegra. A partir da conclusão desse procedimento, elabora-se uma tabela
com os estudos pré-selecionados para a revisão integrativa.
4ª. Etapa: Categorização dos estudos selecionados A quarta etapa tem por
objetivo sumarizar e documentar as informações extraídas dos artigos
científicos encontrados nas fases anteriores. Essa documentação deve ser
elaborada de forma concisa e fácil (BROOME, 2006). As informações
coletadas dos artigos devem incluir, por exemplo: tamanho da amostra e
quantidade dos sujeitos, metodologia, mensuração de variáveis, métodos de
análise, a teoria ou conceitos embasadores utilizados (GANONG, 1987).
Ursi (2005) lembra que, para extrair as informações dos artigos, o pesquisador
deve fazer uso de um instrumento que permita analisar separadamente cada
artigo, tanto num nível metodológico quanto em relação aos resultados das
pesquisas. Tal instrumento deve possibilitar a síntese dos artigos,
salvaguardando suas diferenças.
Um dos instrumentos utilizados para extrair as informações dos artigos
selecionados é a matriz de síntese (KLOPPER; LUBBE; RUGBEER, 2007). A
matriz de síntese, ou matriz de análise, tem sido utilizada como ferramenta de
extração e organização de dados de revisão da literatura em várias disciplinas,
devido à sua capacidade para resumir aspectos complexos do conhecimento.
Essa ferramenta foi popularizada nas ciências da saúde por Garrard, em 1999.
A matriz de síntese objetiva proteger o pesquisador de erros durante a análise.
Ela se constitui como marco inicial para auxiliar os investigadores no foco de
suas pesquisas. A matriz pode conter informações verbais, conotações,
resumos de texto, extratos de notas, memorandos, respostas padronizadas, e,
em geral, dispor de dados integrados em torno de um ponto ou temas de
pesquisa. Em suma, a matriz deve conter informações sobre aspectos da
investigação e permitir que o pesquisador tenha uma visão geral de dados
relacionados a um desempenho de certos pontos. A matriz serve de ferramenta
de interpretação e construção da redação da revisão integrativa para os
pesquisadores (KLOPPER; LUBBE; RUGBEER, 2007).
Para Klopper, Lubbe e Rugbeer (2007), o processo de contrução da matriz
depende da criatividade pessoal do pesquisador. Miles e Huberman (1994, p.
240-241) afirmam que não há matriz de síntese correta, apenas matrizes
funcionais ou não. Dessa forma, a construção da matriz depende da
interpretação do pesquisador e da maneira como ele organiza seus dados. A
seguir (quadro), é apresentado um exemplo da matriz de síntese utilizada nesta
revisão integrativa.
Quadro 3 - Exemplo de matriz de síntese.
Temas Título da Título da Título da Título da
publicação 1 publicação 2 publicação 3 publicação n
Categoria 1
Categoria 2
Categoria 3
Categoria n
Fonte: Elaborado pelos autores.

Essa etapa é similar à etapa da análise dos dados, realizada em pesquisas


científicas tradicionais (GANONG, 1987). Para analisar as informações
coletadas nos artigos científicos, é necessário que o pesquisador crie
categorias analíticas que facilitem a ordenação e a sumarização de cada
estudo. Essa categorização pode ser realizada de forma descritiva, em que o
pesquisador indica os dados mais relevantes para seu estudo (BROOME,
2006).
Para categorizar e analisar as informações, o pesquisador pode utilizar
diferentes métodos, tais como: análises estatísticas; listagens de fatores que
mostram o efeito das variáveis ao longo do tempo de estudo; escolha ou
exclusão de estudos, entre outros (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). Para
criar categorias, o pesquisador pode proceder de formas diferentes. Um
exemplo é a listagem de variáveis, através da escolha de estudos válidos que
se aproximem do tema de pesquisa, de forma que haja o descarte daqueles
que não se aproximam da questão norteadora definida pelo pesquisador. O
pesquisador deve deixar clara a maneira como ele analisa os dados extraídos
dos artigos científicos (GANONG, 1987).
5ª. Etapa: Análise e interpretação dos resultados. Esta etapa diz respeito à
discussão sobre os textos analisados na revisão integrativa. O pesquisador,
guiado pelos achados, realiza a interpretação dos dados e, com isso, é capaz
de levantar as lacunas de conhecimento existentes e sugerir pautas para
futuras pesquisas (GANONG, 1987; MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008).
Para validar seu estudo, o pesquisador deve deixar claro quais lacunas foram
encontradas na literatura e quais caminhos futuros outros pesquisadores
podem adotar em suas pesquisas científicas (URSI, 2005).
6ª. Etapa: Apresentação da revisão/ síntese do conhecimento A revisão deve
possibilitar a replicação do estudo. Dessa forma, a revisão integrativa deve
permitir informações que possibilitem que os leitores avaliem a pertinência dos
procedimentos empregados na elaboração da revisão. Essa última etapa
consiste na elaboração do documento que deve contemplar a descrição de
todas as fases percorridas pelo pesquisador, de forma criteriosa, e deve
apresentar os principais resultados obtidos. Para Mendes, Silveira e Galvão
(2008, p. 763), essa etapa é “um trabalho de extrema importância, já que
produz impacto devido ao acúmulo do conhecimento existente sobre a temática
pesquisada”. A figura abaixo mostra graficamente a sequência das etapas
numa revisão integrativa, as quais devem ser seguidas por pesquisadores.
Figura: O processo de uma revisão integrativa.
Fontes de Pesquisa

Total de estudos

Leitura do resumo, título e palavras-chave

Reunião Estudos
de pré-selecionados
orientação

Estudos
selecionados

Leitura na íntegra Estudos excluídos

Avaliação de
Estudos incluídos Matriz de síntese
qualidade
metodológica

Fonte: Elaborado pelos autores.

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