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CIENTÍFICA
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contextos públicos e privados. Dito de outro modo, a revisão sistemática de literatura
é uma pesquisa científica composta por seus próprios objetivos, problemas de
pesquisa, metodologia, resultados e conclusão, não se constituindo apenas como
mera introdução de uma pesquisa maior, como pode ser o caso de uma revisão de
literatura de conveniência.
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mais poderosas explicações para o fenômeno sob análise (SIDDAWAY; WOOD;
HEDGES, 2019).
Além da classificação citada, muitos pesquisadores têm buscado mais
intensamente a construção de revisão de literatura sistemática de caráter misto, ou
seja, aquela que identifica, seleciona, avalia e sintetiza simultaneamente estudos
qualitativos, estudos quantitativos e estudos mistos. Esta abordagem deriva do fato
de que muitas vezes os dados quantitativos carecem de complementos para sua
compreensão que podem ser encontrados em relatos presentes em estudos
qualitativos, por exemplo. Já os dados qualitativos nem sempre suportam a
generalização de resultados para uma grande população, necessitando, muitas vezes,
do suporte dos dados quantitativos.
Assim, os adeptos dos métodos mistos de pesquisa e das revisões mistas de
literatura vislumbram que a complexidade do século XXI exige uma visão mais
cooperativa e integrada das diferentes ciências e seus métodos. São expoentes nessa
abordagem Creswell e Clark (2010), assim como Pope, Mays e Popay (2007). Galvão,
Pluye e Ricarte (2017) sintetizam quatro tipos de revisões mistas, resumidos a seguir.
A revisão mista de convergência quantitativa é aquela que transforma os resultados
dos estudos qualitativos, quantitativos e de estudos empregando métodos mistos em
achados quantitativos (sejam variáveis ou valores). Esse tipo de revisão é aplicável
quando os estudos selecionados mencionam grande número de participantes. A
revisão mista de convergência qualitativa é aquela que transforma os resultados dos
estudos qualitativos, estudos quantitativos e de estudos empregando métodos mistos
em achados qualitativos (por exemplo, em temas).
Esse tipo de revisão é aplicável quando os estudos analisados possuem
amostras pequenas e estão voltados para desenvolver, refinar e revisar um quadro
conceitual, por exemplo. A revisão mista sequencial exploratória é composta por duas
etapas. Na etapa 1, os resultados dos estudos qualitativos, quantitativos e dos estudos
empregando métodos mistos são transformados em achados qualitativos usando, por
exemplo, a análise temática.
Na etapa 2, os resultados quantitativos são tabulados e comparados, desde
que haja uma entidade comum entre os estudos quantitativos. A revisão mista
sequencial explanatória é empregada nos casos onde se quer medir os efeitos de
ações, intervenções ou programas (etapa 1) e explicar diferenças em seus efeitos
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(etapa 2). Nessa modalidade de revisão, a integração ocorre entre as etapas
quantitativa e qualitativa, na medida em que a síntese quantitativa (etapa 1) fornece
subsídios para a síntese qualitativa (etapa 2), e na interpretação dos achados das
duas etapas.
Em que pese a explanação apresentada sobre os diferentes tipos de revisão
sistemática de literatura, é fato que a qualidade das revisões publicadas ao redor do
mundo é muito variável, podendo gerar muita confusão para estudantes e
pesquisadores iniciantes. Nesse sentido, ferramentas têm sido desenvolvidas para
auxiliar na verificação dos critérios mínimos de qualidade das revisões de literatura,
antes, durante e após publicação.
Uma delas é o Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-
Analyses, bastante conhecida como PRISMA (2015), que traz uma lista dos itens que
devem estar presentes em uma revisão sistemática (PRISMA checklist), assim como
apresenta o fluxo dos critérios de inclusão e exclusão de artigos de uma revisão
sistemática (PRISMA flow diagram).
Outra ferramenta usualmente utilizada para verificar a adequação de uma
revisão sistemática é o CASP Systematic Review Checklist (CRITICAL, 2018), que
propõe uma lista de questões para verificar uma revisão sistemática, refletindo sobre
os resultados apresentados, a validade desses resultados e sua aplicabilidade local.
No contexto das revisões mistas, uma ferramenta para analisar a qualidade é
a Mixed Methods Appraisal Tool (MMAT), desenvolvida por Hong et al. (2018), que
lista os elementos que devem estar presentes em estudos e revisões mistas.
Referente ainda à qualidade das revisões, a Classificação dos Níveis de Evidência de
Oxford, construída por Howick et al. (2012), entende que as revisões sistemáticas de
estudos transversais, as revisões sistemáticas de estudos de coorte e as revisões
sistemáticas de ensaios clínicos randomizados possuem nível 1 de evidência, em uma
escala de 1 a 5, onde 1 é o nível de maior evidência. Assim, a classificação de Oxford
ressalta a importância das revisões sistemáticas para o avanço científico e para as
diferentes tomadas de decisão.
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1.2 Revisão sistemática de literatura: Produção
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avançadas uma etapa necessária é a consulta a terminologias, tesauros e dicionários
especializados para realizar o mapeamento de sinônimos, assim como para traduzir
adequadamente os conceitos que integram a questão de revisão para a língua inglesa,
visto que as bases de dados bibliográficos internacionais priorizam a língua inglesa
como idioma de busca.
Seleção, sistematização e equipe
Os documentos encontrados nas bases de dados podem ser incluídos em
software específico para a gestão de referências bibliográficas, que facilitará a de
duplicação e gestão dos documentos que serão revistos. Além do software, a seleção
dos documentos que comporão a revisão deve ser realizada independentemente por
dois pesquisadores da equipe que aplicarão os critérios que foram estabelecidos no
início da revisão. Um terceiro pesquisador será o árbitro caso haja uma seleção
discrepante. Assim, sugere-se que as revisões sistemáticas sejam elaboradas por,
pelo menos, 3 pesquisadores. O processo de seleção pode ter várias fases.
Em um primeiro momento, a seleção pode considerar apenas a leitura dos
títulos dos documentos encontrados. Em um segundo momento, pode-se considerar
a leitura dos resumos dos documentos encontrados. E em um terceiro momento,
pode-se realizar uma análise crítica geral dos documentos encontrados, onde serão
observados a coerência do estudo, qualidade metodológica, resultados alcançados,
conclusão, financiamento do estudo, etc. Todo o processo de seleção deve ser
explicitado na forma de fluxo, conforme as diretrizes do PRISMA flow diagram
(PRISMA, 2015).
Após selecionados os textos, a equipe de revisão precisará lê-los e coletar
informações comparáveis como data de realização do estudo, país de realização do
estudo, população estudada, intervenção realizada, metodologia empregada,
desfechos encontrados. Essas informações podem ser registradas em um quadro
para posterior uso no relatório da revisão.
Recomenda-se que, desde o início da revisão, se tenha a preocupação de
sistematizar as fontes de informação consultadas a fim de que não seja necessário
refazer as etapas da revisão e para que os direitos autorais sejam garantidos. Para
pesquisadores que não possuem experiência em revisões de literatura é
recomendável incluir na equipe de revisão um ou mais bibliotecários que sejam
responsáveis pela gestão das terminologias empregadas no estudo, realização das
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estratégias de busca e gestão geral dos documentos que serão empregados na
revisão, conforme destacado por Spencer e Eldredge (2018).
Além do profissional bibliotecário, é recomendável que na equipe da revisão
tenha ao menos um especialista na questão que será tratada na revisão. Logo, se a
revisão, por exemplo, for sobre religiões africanas, sugere-se que os pesquisadores
tenham algum conhecimento prévio no assunto a fim de garantir uma melhor
interpretação dos estudos que foram selecionados. As revisões de literatura
sistemáticas são publicadas em forma de artigos científicos ou relatórios científicos ou
relatórios executivos com foco em tomadores de decisão no campo da saúde. Além
disso, nos últimos anos tem se incentivado que os pesquisadores publiquem uma
versão da revisão sistemática em linguagem simples, com foco no público leigo e
população em geral.
Higgins e Green (2011) explicam no Manual da Cochrane para Revisões
Sistemáticas que o resumo em linguagem simples apresenta a revisão em um estilo
simples que pode ser entendido pelos consumidores, sendo disponibilizados
gratuitamente na Internet. Os resumos de revisões em linguagem simples têm duas
partes: um título em linguagem simples e um texto com não mais que 400 palavras.
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Os resultados das revisões sistemáticas são disseminados tanto em linguagem
simples para a população, no sítio Cochrane Evidence (COCHRANE, 2019b), como
para profissionais da saúde, na Cochrane Library (COCHRANE, 2019c).
Adicionalmente, as revisões são publicadas em um periódico científico, o Cochrane
Database of Systematic Reviews (CDSR), que divulga ainda protocolos, editoriais e
suplementos, como o Cochrane Methods. Em 2018, o CDSR teve fator de impacto
7,755 no índice InCites (COCHRANE, 2019d). Outra organização internacional
voltada à disseminação de resultados de revisões sistemáticas e outras formas de
evidências aplicadas à área da saúde é o Joanna Briggs Institute, estabelecido em
1996 em Adelaide, na Austrália, e que atualmente conta com 70 centros
colaboradores em 34 países, incluindo um centro no Brasil (JOANNA, 2019).
Assim como o Cochrane, também dissemina suas revisões em uma publicação
periódica, o JBI Database of Systematic Reviews and Implementation Reports
(LIPPINCOTT, 2019). No entanto, revisões sistemáticas não são desenvolvidas
apenas na área da saúde. A Campbell Collaboration (2019) é uma organização criada
em Londres, em 1999, que tem por lema a frase “Melhor evidência para um mundo
melhor” e por objetivo promover mudanças sociais e econômicas positivas por meio
da elaboração de revisões sistemáticas que possam ser usadas para apoiar as
decisões de gestores públicos.
São temas contemplados nessas revisões sistemáticas: Educação;
Desenvolvimento internacional; Serviço social; Segurança nutricional; Crime e justiça;
Negócios e administração; além de tópicos transversais como Métodos de pesquisa e
Translação do conhecimento. Assim como as demais organizações voltadas à
disseminação de revisões sistemáticas, a Campbell Collaboration também divulga
seus resultados por meio de uma publicação periódica, a Campbell Systematic
Reviews (WILEY, 2019).
É interessante observar que todas essas publicações trazem, em comum, uma
demanda pelo rigor metodológico na realização das revisões sistemáticas. Por
exemplo, uma revisão sistemática para ser publicada pela Cochrane, deve seguir o
preconizado no Cochrane Handbook of Systematic Review of Interventions (HIGGINS;
GREEN, 2011), além de ser elaborada por uma equipe com pelo menos dois autores,
mas geralmente mais, como forma de reduzir subjetividade e garantir o conhecimento
necessário no tema da pesquisa e nos diversos aspectos metodológicos de uma
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revisão sistemática. Cochrane ainda oferece ferramentas para auxiliar a elaboração
da revisão sistemática segundo suas diretrizes, como o Archie, para a gestão de
documentos e contatos, e o Review Manager, para facilitar a preparação de revisões,
incluindo características e dados dos estudos, bem como tabelas de comparação.
Particularmente no campo da biblioteconomia e ciência da informação, Maden
e Kotas (2016) fizeram uma revisão das revisões sistemáticas publicadas neste
domínio, com foco na avaliação de qualidade reportada pelos próprios autores dos
estudos. Para tanto, foram selecionados 40 artigos publicados entre 2003 e 2014 que
continham “systematic review” no título, no resumo ou na metodologia.
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com
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exploração ou outros riscos. Essas condições, na investigação científica, exigem um
pensamento renovado sobre o controle ético na pesquisa (BLANCHET, 2009).
Como primeiro passo, deve-se perguntar se os Comitês de Ética em Pesquisa
no Brasil estão habilitados para atender aos requisitos do ambiente científico em vigor.
Numa segunda etapa, não se pode evitar questionar o significado da integridade
científica que as instituições proponentes colocam em prática. O aumento constante
de metas administrativas, o tempo escasso do pesquisador por excesso de atividades,
os impasses financeiros, a pressão da concorrência e as mudanças de
comportamento social podem incentivar os investigadores a usarem meios
questionáveis ou impróprios para chamar a atenção para o seu trabalho. A nova
economia do conhecimento e seus requisitos representam grandes riscos para a
ciência. Desse modo, é papel da academia trazer à tona uma reflexão ética,
estabelecendo limites para proteger o investigado e dar credibilidade à atividade
científica (LYET, 2018).
No contexto dessa reflexão, a palavra “ética” refere-se a todos os valores a
respeitar no contexto de uma atividade de investigação envolvendo seres humanos,
bem como as regras e os princípios que fluem deles; “pesquisa” é definida como a
abordagem para o desenvolvimento do conhecimento mediante estudo estruturado ou
investigação sistemática (LIMA, 2009; MALACARNE et al., 2011).
A partir do conceito firmado sobre ética em pesquisa, o seu controle não se
define em um conjunto específico de regras ou normas. Em vez disso, fornece uma
estrutura para avaliar problemas e determinar um curso de ações apropriadas. Desse
modo, a análise ética deve refletir tanto as normas internacionalmente aceitas quanto
o zelo de valores culturais e de costumes das comunidades onde a pesquisa é
aplicada (SANTOS, 2018).
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humanos que os prejudicassem ou que não lhe trouxessem benefícios deu origem às
normas éticas que a comunidade científica hoje utiliza para regular as pesquisas que
envolvem seres humanos (VIEIRA; HOSSNE, 1998).
Pode-se considerar que a normativa que inaugura a regulamentação da ética
em pesquisa foi fruto do julgamento dos criminosos de guerra ocorrido na cidade de
Nuremberg na Alemanha. O denominado Código de Nuremberg foi o primeiro conjunto
de normas visando a ética em pesquisa científica2 (NUREMBERG CODE, 1949).
Posteriormente, essa normativa foi aperfeiçoada para atendimento de novas
demandas éticas das pesquisas científicas.
No período pós-guerra, infelizmente, muitos estudos antiéticos que violavam
direitos humanos continuaram acontecendo. Alguns pesquisadores consideravam que
o código de Nuremberg só teria utilidade em sociedades antidemocráticas, pois nas
democracias, transgressões éticas como as que ocorreram durante o regime nazista
seriam impossíveis de acontecer.
Diversas iniciativas para o respeito à ética em pesquisa e à dignidade e
liberdade dos participantes de pesquisa se sucederam, como a oitava assembleia da
Associação Médica Mundial realizada em 1964 em Helsinque na Finlândia, cujo tema
principal foi “ética em pesquisa”. Desta assembleia originou-se o principal documento
norteador das pesquisas científicas, denominado “Declaração de Helsinque”, que vem
sendo revisada periodicamente para acompanhar as mudanças no mundo científico
(WORLD MEDICAL ASSOCIATION, 1997).
O aperfeiçoamento das normas éticas de pesquisa ao longo do tempo tem se
mostrado necessário para garantir a proteção do indivíduo pesquisado, sua
integridade, liberdade e dignidade, e prevenir qualquer dano que por ventura possa
sofrer ao participar de um estudo científico. A Declaração de Helsinque promoveu um
avanço na ética em pesquisa ao assinalar em sua introdução que o bem-estar dos
participantes deve prevalecer sobre os interesses da ciência e da sociedade. Neste
sentido, vale ressaltar que os princípios éticos para pesquisa vão além do que se
considera como ética profissional.
Espera-se que um pesquisador ético saiba distinguir atuações corretas das
incorretas, como, por exemplo, ter o compromisso de não adulterar nenhuma das
etapas da pesquisa, não manipular resultados nem sua publicação, não plagiar
trabalhos de outros pesquisadores, não se apropriar de bens materiais ou intelectuais,
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entre outros. Esses aspectos dizem respeito à ética e probidade do trabalho científico
e à confiabilidade dos resultados produzidos, mas não necessariamente à ética em
relação à integridade e bem-estar dos investigados. O pesquisador pode ser ético no
sentido da ética profissional e não necessariamente em relação ao pesquisado,
quando, por exemplo, conduz uma pesquisa que beneficiará um coletivo de pessoas,
mas prejudica aquele que está sendo pesquisado (KOTTOW, 2008).
Em 1978, o Relatório Belmont, resultado do trabalho de quatro anos de uma
Comissão Nacional para Proteção de Sujeitos Humanos nas Pesquisas nos EUA, deu
grande impulso na regulação da ética em investigações científicas. Esta comissão foi
criada após várias denúncias de estudos antiéticos desenvolvidos com seres
humanos. O relatório estabelece três princípios éticos fundamentais como diretrizes
norteadoras para a prática de pesquisa: respeito pelas pessoas, ou seja, nenhuma
pesquisa pode ser feita à revelia do sujeito pesquisado, o que foi concretizado no
processo de elaboração e obtenção do termo de consentimento informado para
realização da pesquisa; beneficência, que significa que o benefício ao pesquisado
está acima do interesse da pesquisa, estando em primeiro lugar a garantia do bem-
estar do participante em detrimento de danos que possam acontecer; e justiça, de
forma que todos os interessados possam participar de protocolos que tragam
benefícios diretos aos mesmos com os resultados.
O atendimento aos códigos e normas é essencial para garantir a liberdade e
dignidade do sujeito de pesquisa, porém, não é suficiente, pois imprevistos podem
acontecer e outras medidas têm de ser tomadas durante o desenvolvimento da
investigação diante do inesperado que se apresenta no campo (ZALUAR, 2012;
MINAYO; GUERRIERO, 2014). Além disso, a integridade ética da pesquisa é
indissociável de sua qualidade científica.
Se falta a ética, não há qualidade nos dados e vice-versa (GUERRIERO, 2008).
Um estudo para ser considerado ético deve ter justificativa clara e relevante. As
questões éticas estão presentes em todo seu percurso, desde a escolha do objeto,
suas bases teóricas, objetivos, percurso metodológico, interpretação e divulgação de
resultados, seja aos pesquisados, à comunidade científica, aos gestores ou à
sociedade como um todo (SCHMIDT, 2008; WEBSTER; LEWIS; BROWN, 2014).
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3 ÉTICA EM PESQUISA NO BRASIL
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qualitativas. Essa nova resolução foi fruto de intenso trabalho realizado por grupo de
pesquisadores das CHS da CONEP, cuja composição foi ampliada incluindo
representantes de associações nacionais de pesquisa e pós-graduação das áreas de
CHS. Este grupo de trabalho (GT) se reuniu diversas vezes por três anos, e a minuta
da nova resolução foi disponibilizada para consulta pública à sociedade civil por 45
dias. Após as contribuições recebidas, nova versão foi elaborada e o texto final foi
encaminhada pelo GT à CONEP em janeiro de 2016. Sua aprovação foi confirmada
em abril de 2016 com pequenos ajustes por decisão plenária (GUERRIERO, 2016).
A Resolução nº 510/16 representa um grande avanço no campo científico. Ela
dispõe sobre normas específicas aplicáveis a pesquisas em CHS e outras que utilizam
metodologias próprias dessas áreas e cujos procedimentos metodológicos envolvam
a utilização de dados diretamente obtidos com participantes, ou de informações
identificáveis, ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida
cotidiana (BRASIL, 2016). Esta resolução define pesquisa em ciências humanas e
sociais como:
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O sistema CEP/CONEP, se propõe, em muitos aspectos, a mudar tanto a
preparação quanto a implementação de trabalho de pesquisa que envolve seres
humanos. Com normas orientadoras de proteção aos participantes de pesquisa, os
projetos passam por uma análise preliminar em um dos 826 comitês de ética do Brasil
(até dezembro de 2018), o que de certo modo, tem produzido resultados positivos de
proteção da dignidade humana e um grande número de questões não resolvidas
(BINSFELD, 2018).
Esse sistema, ainda em expansão – com cerca de 60 novos CEP ingressando
a cada ano – defronta-se com barreiras que o desafia. A apresentação dessas
barreiras pode ser uma forma privilegiada de repensar ou mesmo fortalecer
coletivamente o sistema para um modo de governança mais operacional, efetivo e
célere às submissões que o aferem e possibilitar, ao sistema, avançar na
operacionalização de diferentes demandas dos membros dos CEP, das instituições
proponentes de pesquisa, dos pesquisadores e dos participantes de pesquisa.
Em 2021, o sistema CEP/CONEP tem na sua gênese a busca de ações
coordenadas, descentralizadas e sistêmicas para formar uma rede de proteção aos
participantes de pesquisa em todo o território nacional. Desse modo, o sistema
CEP/CONEP é percebido como uma rede interligada por 851 ramificações (CEP) que
alcançam os centros de pesquisas espalhados pelo Brasil, gerenciados por um núcleo
normativo (CONEP).
Essa estrutura requer uma organização funcional capaz de atender a demanda
anual de, aproximadamente, 14 mil membros de CEP (média nacional de 17 membros
por CEP), 90 mil projetos tramitados e 72 mil novos projetos iniciados, 600 mil
pesquisadores cadastrados na Plataforma Brasil (base nacional e unificada de
registros eletrônicos de pesquisas envolvendo seres humanos para todo o sistema
CEP/CONEP) e, aproximadamente, 3 milhões de participantes de pesquisa
(BINSFELD, 2018). A dimensão atual do sistema e o seu crescimento exponencial
não permite outro entendimento que não seja o pensar e o agir sistêmico.
A ação isolada dos CEP’s, além de fragilizar o local, danifica potencialmente o
sistema. O pensar e o agir de mais de 14 mil membros dos CEP deve produzir uma
consonância entre a previsão normativa dos regulamentos legais e a prática existente
na análise dos projetos de pesquisa. A assimetria das decisões, fortemente vinculadas
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às diferenças culturais e pessoais dos membros dos CEP, estabelece, não em ordem
de importância, a primeira barreira a ser ultrapassada pelo sistema CEP/CONEP.
A ética não se concretiza por decreto nem por normas rígidas (LIMA;
MALACARNE, 2009) e não deve se prender às medidas burocráticas e/ou cartoriais
para dificultar a ação do pesquisador (LIMA, 2009). Desse modo, urge o diálogo para
o enfrentamento das necessidades dos CEP. Os cursos de formação inicial e
capacitação continuada constitui pauta obrigatória de ação aliada para harmonizar a
tomada de decisões (SILVA; MACHADO, 2018). Como estratégia, não se pode
desviar a necessidade de focar o treinamento em função do público-alvo, do nível e
do objetivo de cada participante.
A abordagem aos CEPs deve considerar a heterogeneidade dos comitês e de
seus membros. As assimetrias no sistema CEP/CONEP fizeram com que, em 2018,
cerca de 96% dos projetos aprovados pelos CEP apresentassem alguma
inconsistência ética, quando reavaliados pela CONEP (LIMA, 2009). Desse modo, a
assimetria nos CEP necessita constante monitoração pelo sistema e pode ser
atenuada com a formação continuada. Também, analisando o tempo de permanência
de cada membro no CEP Unioeste, não escapou a observação que há forte
rotatividade entre eles e que se postula como um possível mecanismo desencadeador
dessa rotatividade, o desinteresse pelo controle social das questões éticas envolvidas
em pesquisas.
O sucesso da renovação dos membros de um CEP parece fortemente
vinculado à necessidade de treinamento inicial e continuado. Desse modo, o primeiro
passo na organização de um programa de treinamento em ética em pesquisa é decidir
a abrangência. A ampliação das oportunidades baseia-se na elaboração de diferentes
estratégias para atender diferentes CEPs e diferentes públicos (LIMA; MALACARNE,
2009).
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REFERÊNCIAS
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